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Inovacao em Pauta 11 Seguranca
Inovacao em Pauta 11 Seguranca
Segurança
na ordem do dia
Depois de financiar quase R$ 80 milhões em projetos voltados para
a área de segurança pública, a FINEP quer que tecnologia e inovação
entrem definitivamente na agenda do combate ao crime nas grandes
em pauta – Abr/Mai/Jun 2011
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Fábio Torres
E
m novembro do ano passado, o Brasil acompanhou
pela televisão imagens que lembravam uma nova
continuação do filme “Tropa de Elite”: a retomada
da Vila Cruzeiro e do Conjunto de Favelas do Alemão, áreas
cariocas então dominadas pelo tráfico de drogas. Foi uma
aliança jamais vista no Rio, que reuniu as polícias Civil,
Militar e Federal, o BOPE (Batalhão de Operações Especiais
da Polícia Militar), a Marinha, o Exército e a Aeronáutica.
A entrada nas favelas representou a resposta do Estado
à série de incêndios em veículos promovida por bandidos
descontentes com a instalação das chamadas UPPs (Unida-
des de Polícia Pacificadora) nos territórios que mantinham
sob domínio. Nos últimos anos, a FINEP aprovou cerca de
R$ 77 milhões em financiamentos para projetos ligados
à área de segurança pública. O pensamento, como não
poderia deixar de ser, reside na volta da tranquilidade aos
passeios públicos brasileiros e em dois grandes eventos: a
Copa do Mundo de 2014 – a segunda em solo canarinho – e
também as Olimpíadas do Rio, em 2016.
Sentado à mesa de trabalho, Edson Calil assistia pela
tevê à migração dos bandidos que rumavam da Vila Cruzei-
ro para o Complexo Alemão, numa tentativa desesperada
de fuga entre as favelas que funcionavam como bunker
do comércio ilegal de entorpecentes. A cena, de longe, re-
montava o estourar de um formigueiro. Ao mesmo tempo,
a todo instante, chegavam às suas mãos novas denúncias
sobre a guerra civil que acontecia na telinha. Responsável Desenvolvimento
pelo setor de relações institucionais do Disque-Denúncia de novas tecnologias
do Rio de Janeiro, Calil conta que em meio ao histórico visa facilitar o trabalho
conflito foi atingido o número recorde de ligações em da polícia no combate
um único dia: 1.136 denúncias. O total naquele mês de ao crime
novembro chegou a quase 13 mil ligações. “Foi uma prova
de fogo para o nosso sistema” conta.
O Disque-Denúnicia é a forma mais eficiente de o
cidadão comum ajudar a polícia no combate a crimes de
naturezas diversas. Basta uma ligação telefônica. O sigilo deste investimento: a direção já contabiliza, ao todo, mais
é absoluto. Depois de um primeiro aporte financeiro no de um milhão e meio de denúncias desde 1995.
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valor de R$ 335 mil, em 2006, para a modernização e com- “O que é sofisticado hoje se torna obsoleto em pou-
pra de equipamentos, FINEP e Disque-Denúncia voltam quíssimo tempo. Precisamos processar e trabalhar com
a conversar agora. Serão quase R$ 950 mil para o projeto objetividade as denúncias que chegam todos os dias”,
“Sala de Situação de Estudos, Vigilância e Inteligência de explica Calil. São cerca de 400 ligações por dia, 12 mil por
Natureza Criminal e Informações Analíticas de Segurança mês. O Disque-Denúncia apresentou ao Rio de Janeiro um
Pública”. A ideia é ampliar a capacidade de armazenamen- modelo inovador de parceria, unindo o setor privado, o
inovação
to e cruzamento de dados que preenchem o banco do governo e a sociedade civil organizada. A central de ser-
serviço, além de dinamizar o fluxo de informações junto às viços é vinculada à Secretaria de Segurança do Estado do
delegacias do estado do Rio. Para entender a importância Rio de Janeiro em forma de parceria entre o governo e
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denúncias, respondendo por 31,61%. Outro tema que vem
sendo acompanhado com olhar atento pela organização,
em razão da crescente quantidade de denúncias, é a vio-
lência doméstica. Só no ano passado, o Disque-Denúncia
registrou 1.432 cadastros de violência contra a mulher.
No topo da lista estão as agressões domésticas, que to-
talizaram 902 denúncias. Os estupros representam 482
cadastros, seguidos de atentado violento ao pudor (30) e
até tráfico de mulheres (18). “São crimes silenciosos, pouco
denunciados, o que dificulta nossa ação”, explica Calil.
a gestão, compras, manutenção, difusão de campanhas, nição disparada: o sistema Lepus. Foram quase R$ 400 mil da
pagamento de recompensas (aos denunciantes e a poli- FINEP para o desenvolvimento do protótipo. A identificação
ciais) e até de parte dos salários. Já a Secretaria gerencia o balística a que se propõe este sistema baseia-se no exame
local de funcionamento e paga o salário dos atendentes. microcomparativo dos elementos de munição disparada.
Só na capital, foram 67.350 denúncias em 2010, todas Por exemplo, quando uma arma é apreendida, os peritos
enquadradas em algum dos cerca de 180 temas elencados podem comparar as marcas que ela produz com as marcas
pelo serviço, tais como furto, estelionato e até cupro- encontradas nos elementos de munição de vários outros
inovação
tráfico, que é o roubo de cobre, bastante rentável para crimes, descobrindo se ela foi utilizada. A solução pode ser
os seus “praticantes”. No estado do Rio, foram 106.298 usada com precisão, em caso de conflitos armados, para
denúncias. O tráfico de drogas lidera as estatísticas de reconhecer de qual objeto de fogo partiu um disparo que
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tenha provocado vítimas, como no caso da escola no Rio. O O robô DIANE foi desenvolvido para
equipamento é aplicado na aquisição e no armazenamento manuseio e desativação de bombas ou
de fotos tanto de projéteis, como de estojos deflagrados, e materiais tóxicos
oferece uma visão única de 360°.
Com agilidade, disponibiliza ferramentas gráficas
para confrontos de imagens digitais, o reconheci-
mento automatizado de munições se-
identificar a região de refino de alguma carga de cocaína mal entendidos, o que leva a uma ação cirúrgica por par-
apreendida, a tecnologia no combate ao crime chega a te dos policiais na hora de explodirem ou neutralizarem
níveis impensáveis até pouco tempo atrás. um artefato. Pensando nisso, a empresa desenvolveu o
projeto DIANE, um robô desenvolvido para manuseio e
Robô que neutraliza explosivos desativação de bombas ou materiais tóxicos, com aplicação
em atividades de segurança pública ou industriais. “Este
inovação
A Montreal Informática também recebeu R$ 2,4 mi- é o primeiro robô de neutralização de explosivos com
lhões da FINEP para desenvolver um sofisticado sistema de tecnologia nacional”, conta Maurício Campello, um dos
reconhecimento facial para identificação civil, criminal e responsáveis pela engenhoca. n
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