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A Ética Protestante e o Espírito Capitalista

Quais as diferenças comparando a Marx?

Marx analisa o capitalismo através dos meios de produção e a relação entre classes
dominadas, os trabalhadores, e classes dominantes, os detentores do capital e dos meios de
produção. Resumindo, Marx estuda o capitalismo a partir do âmbito econômico.

Weber, por outro lado, acreditava que havia outros aspectos além da riqueza e poder que
diferenciavam as duas classes, em especial os aspectos imateriais. Sua tese era a de que a
sociedade é muito mais complexa e não pode ser resumida em apenas duas camadas. Por
isso ele criou a teoria das ações sociais e, ao contrário de Marx, escolheu estudar as relações
entre diferentes classes sociais através de muitos ângulos distintos; entre eles, a relação entre
as religiões (em especial as protestantes, com destaque para o Calvinismo) e os diversos
níveis de classes trabalhadoras (principalmente as que atingiram o maior prestígio social.)
Portanto, ele faz seu estudo a partir do âmbito cultural.

Fonte: http://cec.vcn.bc.ca/mpfc/modules/cla-mwp.htm
Livro "Sociologia em Movimento" - Editora Moderna

Como ele analisa o capitalismo?

Weber o analisa através de seu livro: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo -,


publicado entre 1904 e 1905.

Ele o estuda da forma mais imparcial possível, lembrando que, de acordo com o próprio Weber,
a imparcialidade é algo inexistente. Weber aplicou aqui a sua teoria das ações sociais para
entender o significado das ações dos protestantes e de que forma elas os faziam trabalhar
mais, e, consequentemente, torná-los economicamente mais prósperos.

Weber analisou tal fenômeno através principalmente das "ações sociais racionais com relação
aos valores" e das "ações sociais racionais com relação a fins." As perguntas que ele fez
foram: "Qual é o sentido (ética) das ações protestantes?", "Que valores faz com que eles
tenham essas ações?", "Quais são as finalidades delas?", as quais Weber responde em seu
livro.

Fonte: https://www.cafecomsociologia.com/etica-protestante-e-o-espirito-capitalismo/

Qual o interesse de Weber nas religiões, quais os princípios do calvinismo que respingam no
modo de vida (e economia) e no que resulta essa mudança de pensamento?

"O homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu." - Max Weber
Weber notou que, no geral, os países do ocidente que adotaram religiões protestantes eram
aqueles que obtiveram o maior sucesso no sistema econômico capitalista. Para entender tal
fenômeno, ele estudou os valores e o surgimento dessas seitas.

Weber descobriu que, no catolicismo medieval, o trabalho (do latim, tripalium, que significa
"instrumento de tortura") era visto como algo sujo, sendo deixado como responsabilidade dos
servos, e toda a riqueza adquirida por eles deveria ir para a Igreja, já que havia a consciência
de que esse era o desejo de Deus.

Porém, na Baixa Idade Média, o clero vinha perdendo forças por conta das rivalidades entre
grupos nobres na Europa e, para tentar reuní-los e reconquistar seu prestígio, ela incentivou as
cruzadas. Esse evento, contudo, estabeleceu novas rotas de comércio entre o oriente e o
ocidente, o que fez surgir uma nova classe de comerciantes mais prósperos, aqueles que
viriam a ser chamados de burgueses. Ao mesmo tempo, Lutero, insatisfeito com as ações
"mercenárias" da Igreja, prega suas 95 teses e funda o Luteranismo, a primeira religião
protestante.

Trecho de um conto luterano: "Um sapateiro, recém convertido ao protestantismo, questiona


Martinho Lutero sobre o que fazer com sua profissão (acreditava-se que até mesmo Deus via o
artesanato como inferior ao trabalho intelectual) e a suposta resposta do reformador foi esta:
'Faça um bom sapato e venda por um preço justo'." - Mesmo que essa não tenha sido a
intenção de Lutero, aqui encontra-se uma semente para a consolidação da ética capitalista, ao
afirmar que o trabalho agrada ao Senhor.

Na época, vários nobres resolveram se converter para o Luteranismo a fim de fugir do


comprometimento com a Igreja Católica e assim ter mais liberdade financeira. João Calvino,
entretanto, foi além. Ele criou sua própria religião, a qual tem a famosa teoria da predestinação.
Ela dizia que, se a pessoa enriquece, é porque Deus a teve como escolhida e a permitiu
acumular capital; ou seja, era o destino dela ter aquele dinheiro, não sendo mais então
necessário dá-lo à Igreja, tal ato podendo às vezes até mesmo ser interpretado como ir contra
a própria vontade divina. Afinal, a riqueza seria sua recompensa por todo seu trabalho árduo,
que teria sido feito em nome de Deus, e devolvê-la a ele seria como rejeitá-la. Essas eram
perspectivas que interessavam aquela nova classe de comerciantes mais prósperos que
nasceu na época das cruzadas, a qual acabou por adotar tais conceitos. Mais tarde, ela foi uma
das maiores responsáveis pela revolução industrial e, portanto, do capitalismo em si.

Assim, Weber chegou a conclusão de que essa concepção calvinista, em conjunto com certos
pensamentos luteranos, foram dois aspectos que contribuíram bastante para o nascimento do
capitalismo. Além, é claro, da concepção de preguiça e luxúria como pecados capitais, como se
evidência no trecho de seu livro;

"Ócio e prazer, não; só serve a ação, agir conforme a vontade de Deus inequivocamente
revelada a fim de aumentar sua glória. A perda de tempo é, assim, primeiro e em princípio o
mais grave de todos os pecados. Nosso tempo de vida é infinitamente curto e precioso para
"consolidar" a propria vocação. Perder tempo com sociabilidade, com "conversa mole", com
luxo, mesmo com sono além do necessário à saude - seis, no maximo oito horas- é
absolutamente condenável em termos morais." - A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, pág. 143. Ou seja, apenas aqueles que dedicassem suas vidas ao trabalho
constante seriam salvos.

Dessa forma, Weber explicou porque países que tiveram uma ligação mais forte com o
protestantismo, tais quais Alemanha (terra natal de Lutero), Inglaterra (cujo rei Henrique VIII
criou o anglicanismo) e Estados Unidos (para onde muitos protestantes perseguidos migraram)
deram-se melhor com a revolução industrial e o surgimento do capitalismo propriamente dito,
enquanto países mais ligados ao catolicismo (como Portugal, Espanha e Itália) demoraram
mais para passar por essa fase e, consequentemente, tiveram menos destaque na economia
global.

Essa relação entre o trabalho e a "salvação espiritual" também explicaria a existência de ricos e
pobres: os ricos eram aqueles que não caiam em pecado e eram totalmente dedicados a
prestar serviço em nome de Deus, pois eles eram os escolhidos para ter uma visão
empreendedora. Enquanto isso, os pobres seriam os preguiçosos que viviam no ócio, e por
isso não seriam salvos. Tanto é que é comum em nossa sociedade chamar de "vagabundos"
aqueles que não estão trabalhando e estar desempregado é motivo de constrangimento para
muitas pessoas.

É importante ressaltar que Weber em momento algum teve como objetivo focar o estudo em
tais religiões, mas sim na influência delas no desenvolvimento do capitalismo.

Fontes:
Livro "A Ética Protestante e o Espírito Capitalista" - de Max Weber.
Material "Bernoulli"
Livro "Sociologia em Movimento" - Editora Moderna

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