O conceito de utopia como um “não-lugar” traduz, em partes, o atual
momento em que vivemos, tendo em vista que a situação vivida na maior parte do planeta o cotidiano já não é mais o mesmo. Em partes, pois, há uma ruptura nas relações sociais, porém ainda é cedo para afirmar se haverá uma ruptura nas organizações como um todo. Em partes, também, pois, ao mesmo tempo que vemos cada vez mais solidariedade – mesmo que forçada pelo individualismo – é jogada na nossa cara as desigualdades presentes em nossa sociedade. Em alguns casos, podemos imaginar uma evolução social mais pautada na ciência e debate acadêmico, porém, em outros casos vemos o negacionismo da ciência e o moralismo religioso tomando conta de lugares que já não condiz com a sua finalidade. Seja a utopia um discurso ou um pensamento, seja ela a fase final da organização social, a busca da felicidade, igualdade e equidade dos cidadãos nunca tiveram tanto espaço para debate. De fato, o mundo está mudando, essa pandemia marca o fim do século XX – se levarmos em conta a premissa de Hobsbawn que diz o longo século XIX só termina depois do fim da Primeira Guerra Mundial – mudanças que talvez levariam décadas para serem sentidas, estão acontecendo em meses. O trabalho remoto, educação a distância, e até mesmo o debate sobre sustentabilidade, ainda que sob a tutela do questionamento sobre o modelo de sociedade baseada em hábitos de consumo, ganharam mais força. Porém, há quem diga que sairemos dessa crise de um modo pior do que entramos, com distorções e desigualdades ainda mais acentuadas. Devemos nos perguntar, estamos prontos para fazer mudanças significativas para o futuro, ou manteremos as coisas do mesmo jeito? Nos tornaremos melhores como coletivo, ou nos afundaremos em nossa individualidade.