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Celso Furtado

Economia escravista de agricultura tropical SÉCULOS XVI E XVII e transição do eixo para
o sudeste.
Neste texto, Celso Furtado, faz uma historiografia da economia brasileira,
desde os primeiros anos de colonização até meados do século XX, passando pelo
período imperial até, enfim chegar no período republicano. Nos apresentando, com
um grande nível de detalhamento, os períodos marcantes da nossa economia.
Mostrando a transição de uma economia escravista de agricultara, para uma mineira e
depois para uma economia de trabalho assalariado.
Na segunda parte do livro, nos é apresentado os esforços do governo português
para o desenvolvimento da indústria açucareira, os favores concedidos àqueles que
instalassem engenhos, como títulos de honraria, isenções de tributos, terras e outros.
O aproveitamento do indígena num primeiro momento, responsável para o
surgimento da indústria açucareira, que logo após seria desenvolvida através do
trabalho escravo de negros capturados e trazidos do continente africano. No caso
brasileiro a renda gerada na colônia era fortemente concentrada nas mãos dos donos
de engenho, numa economia voltada para a Europa sem a preocupação de
desenvolver o mercado interno. A venda de gados para a tração e lenha para a
fornalha era o principal vínculo entre a faixa que se concentrava a economia açucareira
com as demais comunidades existentes no país.
Os gastos para a importação de equipamentos, materiais de construção e mão
de obra escrava, além de artigos de consumo para os colonos eram realizados no
exterior, “tirando” a grande parte da renda do país, renda essa que, em grande parte,
se dava pelas exportações do açúcar. O desenvolvimento dessa indústria açucareira
não se traduzia em desenvolvimento nacional, já que o crescimento era pela ocupação
de novas terras, aumentando a concentração de renda nas mãos de poucos colonos.
Esse sistema resistiu por mais de três séculos sem sofrer nenhuma modificação
estrutural significativa, mesmo com os preços diminuindo e a concorrência antilhana
reduzindo o lucro do engenho.
A abundância de terras brasileiras causou a criação, no próprio Nordeste um
segundo sistema econômico, dependente da economia açucareira: a criação de gado,
como meio de transporte ou para o consumo da carne e exportação do couro. E era
vista como uma oportunidade para os colonos que não dispunham de capital inicial.
Quem trabalhasse na criação por um certo período tinha o direito a uma participação
no rebanho em formação, podendo iniciar assim a sua própria criação. Do lado da
oferta, não tinha uma imposição à expansão dessa atividade. Que ficava dependente
da economia açucareira. Consequentemente a rápida expansão do setor açucareiro
até a metade do século XVII está relacionada com a penetração nos sertões. Mas a
expansão dessa atividade diminuía a renda média dessa população, pois quanto mais
distante do litoral, maior os custos para o transporte
A população do nordeste não deixou de crescer durante a estagnação da
produção açucareira, pois havia uma diferença entre as duas economias: a açucareira
dependia fortemente do exterior e havendo uma crise, a produção diminuía, levando
algumas pessoas a irem para o interior em busca de sobrevivência e encontraram na
pecuária um excelente meio, mesmo que não houvesse comércio com os produtos da
pecuária, os alimentos ainda estavam garantidos. Isso explica a redução da renda
média, e a involução econômica, pois era basicamente uma economia de subsistência.
O século XVII trouxe grandes dificuldades para a política na colônia devido às
invasões holandesas. Os gastos militares elevaram os custos, os preções caíram devido
a perda do monopólio, a pobreza do estado do Maranhão, obrigando os colonos a
caçar os índios para escravizá-los. Esses fatores contribuíam para o aumento do que o
autor chama de “economia de subsistência”, com atrofiamento da divisão do trabalho,
redução da produtividade, desaparição das formas mais complexas de convivência
social, substituição da lei geral pela norma local, etc.
Até o século XVIII, nossa economia estava ligada a um pequeno número de
engenhos, fazendo com que migrar para o Brasil só tinha sentido para quem tinha
capital para financiar um engenho. Com a descoberta do ouro na região de Minas
Gerais, a imigração se torna mais atrativa. Por conta da característica da exploração,
que não era em grandes minas, pessoas com recursos limitados tinham a possibilidade
de tentar ganhar a vida. As possibilidades de ascensão social de um homem livre nessa
época eram muito maiores que na economia açucareira. Os preços dos alimentos e dos
animais de transporte nas regiões vizinhas transforma a pecuária brasileira. O gado do
sul se valoriza e os que estavam no Nordeste se deslocam em busca da possibilidade
de negócios na crescente região mineira. O sistema de transporte também sofreu uma
revolução, longe do litoral e em regiões montanhosas, a população dependia de um
complexo sistema de transporte, por conta disso cria-se assim um grande mercado de
animais de carga, com sistemas marginais de abastecimentos da economia mineira,
que se beneficiavam mais que o sertão nordestino no auge da economia açucareira. As
regiões do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, e outras provavelmente se desenvolveriam
independentemente e tenderiam a se tornar um regime de subsistência sem vínculos
umas com as outras, se não fosse a “era do ouro” que elevou substancialmente a
rentabilidade da atividade pecuária. A exportação de ouro cresceu em toda a primeira
metade do século XVIII. A renda estava muito menos concentrada, o consumo era
diferente, procurava-se mais bens do dia a dia que artigos de luxo, a população, por
mais que ainda houvesse dispersão, estava reunida em grupos urbanos e semiurbanos.
A falta de técnica dos imigrantes pode explicar o fato da indústria
manufatureira não ter tido sucesso no Brasil. O ouro retirado da colônia se transferiu
automaticamente para a Inglaterra devido ao acordo de Methuen que tirava as
barreiras protecionistas de Portugal em relação aos tecidos manufaturados ingleses,
em troca de uma baixa taxação dos vinhos portugueses. A Inglaterra encontrou no
Brasil um mercado em rápida expansão, recebia em ouro em troca dos artigos
manufaturados. Como não se criou formas permanentes de atividades econômicas,
com o declínio da produção de ouro, era natural que houvesse uma decadência
generalizada. Muitos empresários antigos faliram e em nenhuma parte do continente
americano houve um caso de involução tão rápida e completa de um sistema
econômico, pois diferentemente a economia açucareira, a mineira tendia a zero se não
houvesse a matéria prima naquela região.
E é no meio dessas grandes dificuldades que o café começa a surgir como a
salvação do país. Se aproveitando da mão de obra em abundância pela degradação da
mineração e pela alta dos preços causada pela desorganização do grande produtor da
época, novamente a principal fonte de renda do país se torna a exportação de
produtos em que o principal fator de produção é a terra praticamente sem fim. “Ao
observador de hoje, (...) para superar a etapa de estagnação, o Brasil necessitava
reintegrar-se nas linhas em expansão do comércio internacional. Num país sem técnica
própria e no qual praticamente não se formavam capitais que pudessem ser desviados
para novas atividades, a única saída que oferecia o século xix para o desenvolvimento
era o comércio internacional”.

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