Matéria: Ciência Política e Teoria Geral do Estado Professor Abílio
Aluno: Fernando Ferrara da Silva Antonio RA: 03200862572 Atividade: Redação correlacionando o filme Deus e o diabo na terra do Sol com a presente matéria Ciência Política e Teoria Geral do Estado.
O filme “Deus e o Diabo na terra do sol” (1964) de Glauber
Rocha relatou com eloqüência e brilhantismo a realidade de miséria, analfabetismo e abandono social em que viviam, por vezes ainda vivem, os sertanejos no interior do Brasil, em um contexto de abandono pelo Estado, normal e ainda potencializado por um período de ascensão dos militares ao poder no Brasil, onde as atenções estavam todas sobre Brasília e os grandes centros urbanos as populações carentes no interior do Brasil perderam ainda mais visibilidade, este vácuo de poder sintetizou o ambiente propício e terreno fértil para o surgimento de expoentes de autoritarismo, como o do coronel Moraes e subversivos como o de Sebastião e o de Corisco, onde o primeiro pregou a subversão arregimentando fieis com um discurso messiânico e o segundo praticou a subversão com o banditismo.
O silêncio velado por interesses escusos da igreja católica
agravava ainda mais a situação, a travessia de um rebanho e a morte de quatro vacas que estavam sob a responsabilidade de Manuel, que este possuía em conjunto com coronel Moraes, fez com que Manuel matasse o coronel Moraes, foi o estopim para que Manuel iniciasse uma cruzada de fuga, conhecimento, subversão e crimes, essa sociedade apresentada no filme não é utópica, os livros de história brasileira a retratam em todos os seus pormenores, o domínio que o coronelismo, o clero e os latifundiários impunham sobre as populações pobres era algo comum, mas as populações, pelo menos parte delas, estavam conscientes de que algo estava errado, de que esse poder opressor das elites era ilegal e de que existiam leis e normas que os amparassem ou pelo menos os colocassem em igualdade, isso pode ser conformado na fala de Manuel quando interpelava o coronel Moraes ao dizer “que lei é essa que não protege o que é meu?”, o que podemos assimilar dessa realidade retratada no filme “Deus e o Diabo na terra do sol” com a matéria ciência política?
O abandono dado pelo Estado a essa sociedade faz dela uma
realidade paralela, essa sociedade, mesmo integrando um Estado soberano, é como se não estivesse, os dispositivos de regulação e coerção presentes na lei desse Estado não chegam a essa sociedade, mesmo não outorgado o poder estatal pelo Estado à elite local, essa o pratica ao seu bel prazer, é possível então estudá-la como algo novo.
Aristóteles e Platão conceituariam essa sociedade como
organicista, pois não foi formada por um acordo, mas sim cresceu naturalmente com o nascimento ou a adesão de novos indivíduos, segundo Aristóteles e Platão “a natureza fez do homem o ser político, que não pode viver fora da Sociedade”, então mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelos indivíduos dessa sociedade eles permanecem unidos e proliferam, gerando a explosão demográfica.
Já não bastassem os flagelos oriundos da extrema pobreza,
esses indivíduos enfrentam a fome decorrente da seca, a dificuldade em produzir alimentos para alimentar todos os indivíduos dessa população é agravada pelas condições climáticas, podemos então incorrer essa situação na teoria populacional malthusiana, em que a população cresce em um ritmo mais acelerado do que a produção de alimentos necessária para a subsistência dessa população.
Os mandos e desmandos da elite local formada pelo
coronelismo, latifundiários e o clero podem traduzir outra situação, também definida por Platão em suas teorias de formas de governo, caracterizam o prenuncio de uma tirania, mesmo essa população vivendo dentro de um Estado soberano e democrático, a falta da presença deste com as sua políticas publicas nos remetes a um ambiente fictício, se essa sociedade fosse o prenuncio de um Estado soberano, este não seria democrático e sim ditatorial. Tem-se por certo que o filme “Deus e o Diabo na terra do sol” e a sociedade emergente de uma condição de abandono estatal, geram as condições perfeitas para observância in loco das teorias da ciência política, pois essas se confirmam em todas as interações dos indivíduos dessa sociedade, que mesmo fazendo parte de um Estado democrático de direito, a ausência e omissão deste faz com se prospere indivíduos com ambições ditatoriais, pode-se por certo comparar o nascimento de ditaduras africanas e asiáticas a esse pequeno exemplo retratado com perfeição por Glauber Rocha, esta sociedade fictícia, analisada a luz da ciência política, poderia com pouco esforço ganhar contornos de estado revolucionário e transformar-se em um Estado ditatorial, com povo, território e governo soberano.