Você está na página 1de 6

DIAGRAMAÇÃO E PROPORCIONALIDADE

Curso de Design Gráfico


Disciplina Produção Gráfica 2

A geração de diagramas consistentes pressupõe o conhecimento


UFSC

a
PG b
e a aplicação de modelos de proporcionalidade. Estes modelos 2
estão baseados em relações geométricas e matemáticas que, mui- a a ab
to mais do que emprestar à peça gráfica valores estéticos, nelas
introduzem padrões de crescimento, propiciando a geração de
formas recorrentes (como nas couves-flor, cuja menor parte
mantém a configuração da hortaliça inteira). b ab b
2

É importante notar que, com a visualização, a fórmula ganha


lógica e facilita enormemente o aprendizado e a memorização.
O mesmo ocorre com o Teorema de Pitágoras, cujo enunciado
normalmente é:
Em qualquer triangulo retângulo, o quadrado da
Entretanto, duas questões contemporâneas se apresentam em re- hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos cate-
lação ao uso dos modelos de proporcionalidade, contribuindo
para o progressivo abandono de seu uso na geração de diagra- tos
mas: Aplicado ao triangulo de lados 3,4 e 5, teremos a seguinte cons-
! A facilidade de manipulação de imagens e textos em softwa- trução:
res de edição, que cria a sensação de inutilidade ou perda de
tempo no seu uso, pois tudo é, de fato, facilmente manipulá-
vel, reformatável e ajustável. A necessidade de planejar, inse-
2
rir uma estrutura gráfica lógica no diagrama aparentemente 5 =25
perde a importância. 2
4 =16
! A superficialidade do ensino da Matemática nos períodos 4 5
Fundamental e Médio, nos quais usualmente (com suas exce- 3
ções) ela é ensinada sem a transmissão dos fundamentos lógi-
cos, reduzida, via de regra, às fórmulas decoradas e aplicações
32=9
fictícias, distantes da realidade.
Comecemos por alguns fundamentos da Matemática omitidos
no seu estudo.
Note que se trata de áreas de quadrados formados pelos lados.
O uso da potencia “2” em fórmulas matemáticas quer dizer
que se trata do cálculo de uma área. Veja por exemplo o Um enunciado alternativo, mais claro, seria:
Binomio de Newton no nível 2:
Em um triangulo retângulo, a soma das áreas dos
2 2 2
(a+b) = a +2ab+b quadrados formados pelos seus lados menores (ca-
tetos) é igual à área do quadrado formado pelo
O ensino da Matemática normalmente se restringe à fórmula seu lado maior (hipotenusa).
para sua solução, sem o relacionar com uma construção geo-
métrica, que, no nível 2, é um quadrado com lado a+b do qual Pelo mesmo procedimento pedagógico, o conceito de Raiz
se busca conhecer a área. No nível 3, é um cubo do qual se bus- Quadrada é estudado de forma abstrata.
ca conhecer o volume. O próprio termo em Português é muito vago, sem sentido. Em
A construção geométrica para o nível 2 do Binômio de Inglês, por exemplo, o termo Square Root quer dizer “origem
Newton é a seguinte: do quadrado”, que se aproxima bem mais da idéia que o termo

01
pretende transmitir, que é de quadrados consecutivos:
Elemento gerador de um quadrado de área X

16=4
Com a construção acima, é fácil ler:
O elemento gerador (raiz quadrada) de um qua-
drado de área 16 é 4!
O que se criou com este procedimento foi um padrão de
Ou
crescimento! Uma forma de gerar conjunto de elementos rela-
A aresta de um quadrado de área 16 unidades qua- cionados entre si.
dradas mede 4 unidades! Esse é um princípio de proporcionalidade: uma cadeia e for-
mas recorrentes. Isso é muito mais que um padrão estético.
Pela mesma lógica, o termo Raiz Cúbica diz respeito a um cu-
bo de volume X: Há uma outra construção que conduz a padrão de crescimento:
construir um retângulo proporcional a partir de um quadrado
e de sua diagonal :
3
64=4 2

2
A aresta de um cubo de volume 64 unidades me- 1
de 4 unidades!
Por falar em Raiz Quadrada, um valor muito utilizado em cál-
culos matemáticos é

Este é o ponto inicial de uma série de chamados retângulos di-


2=1,4142... nâmicos (construção aditiva, crescendo desde um quadrado):

Que normalmente é apresentada como um número fracioná-


rio, pode ser construída a partir de um quadrado de lado 1, da
seguinte forma:
1

5 4 3 2 1
0,5
2

1 Ou construção subtrativa, dividindo um quadrado:


0,5 0,5
1

0,5
2 0,5
2

4
0,5 0,5 5

Note que, com a mesma lógica construtiva, pode-se gerar os

02
É este padrão de crescimento que dá origem à série A de for- Outra construção que resulta em padrão de crescimento mas
matos de papéis gerado pela DIN (Deutsch Industrie Norm) e normalmente é apresentada como padrão (somente) estético é a
adotado pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Proporção Áurea, cuja construção é a seguinte:
Técnicas. Ele começa com um retângulo 1: 2 com 1 metro qua-
drado: Parte-se de um quadrado 1:1 dividido ao meio. Com a diagonal
do retângulo assim obtido, constrói-se o retângulo áureo, cuja
1188 cm proporção é de 1:1,618:
1 1, 618
840

2
1m 1 1

As relações dessa forma estabelecidas são as seguintes:


Ao ser dividido sempre ao meio em área (ou seja: um de seus la-
dos reduzido à metade), gera novo retângulo proporcional ao 5
que o gerou: 36
= 18
2,2 0,6
1188 cm
18
594 1, 6 1
1
½ m2 18
0,6
840

297 297
210

1/8 m2
420

14,85 1
1/4 m2
210

1/16 m2

Assim, a série recebe a codificação (A0, A1, A2, etc.) de retân- 1 1


gulos proporcionais, sempre com área reduzida à metade entre O número 1,618 é um número muito especial, único, de gran-
os elementos subsequentes. de importância para o estabelecimento de cânones dinâmicos:
é o chamado Número de Ouro. Veja as relações:
1 = 0,618
A2
A0 A1
A7
= 1,618
A5
A6 2
A3 = 2,618
A4
3 2
= +
Note que, ao se partir de um quadrado de 1m2, não haveria n n-1 n-2
proporcionalidade entre as figuras quando reduzida a área à me- = +
tade (quadrados e retângulos se alternariam):
São muitas as relações de proporcionalidade que podem ser ob-
tidas pelo seu uso. A mais primária delas é:
A2
1
A0 A1 A B C D
A4
1 1/
A3
A7
2

A5
A6

03
Apenas a título de exemplo, veja uma relação de proporcionali-
dade baseada no Número de Ouro em um pentagrama:

Na Natureza, o pentagrama é um dos muitos padrões de cresci-


mento verificáveis. Alguns exemplos de formas naturais que o Concluindo: proporção não é (só) uma questão estética.
tem como base: estrela do mar, flor da macieira, carambola (no- Essa é somente uma das qualidades que a adoção de um siste-
te a disposição interna dos caroços) e, quem diria, a banana ma de proporções empresta a uma composição.
Este lado da proporcionalidade tem sido muito estudado e di-
fundido. Um exemplo é o estudo abaixo, realizado pelo arqui-
teto György Doczi, apresentado em seu livro O Poder dos
Limites, publicado pela Editora Mercurio, de São Paulo. É uma
análise das proporções verificáveis na construção do Arco do
Triunfo de Constatino, em Roma.
Note que em todos os elementos o Número de Ouro está pre-
sente.

04
Fossem somente uma questão estética, o uso das proporções se-
“ Como mostra a figura, o projeto integral (C) dessa ae-
ria verificável somente naquelas construções de arte, arquitetu- ronave cabe em dois retângulos áureos recíprocos, que
ra, etc., projetadas pelo ser humano de forma planejada e inten- se juntam ao longo da linha central da fuselagem; o
cional para que sejam percebidas pelas suas qualidades formais. comprimento dos maiores corresponde à frente do avião
(do nariz às pontas das asas), enquanto que os menores
No Arco de Constantino e em outras construções antigas, obje-
contêm a cauda.
to de constante estudo, isso é possível.
O corte lateral B mostra que o corpo está contido intei-
Entretanto, o mesmo autor, Doczi, estudou a fuselagem de um ramente em cinco retângulos áureos somados a um recí-
Boeing 747 em relação às suas proporções. proco, enquanto que o nariz cabe no menor deles.
Quatro dos retãngulos maiores envolvem o resto da fu-
Se partirmos da premissa que uma aeronave desse porte tem co- selagem, incluindo asas e cauda, enquanto que o quinto
mo prioridade de projeto sua viabilidade aerodinâmica, não de- contém o leme.
veríamos aí encontrar critérios de índole estética como as rela- A vista frontal A é contida em dois retângulos áureos.
ções de proporção. A base do trem de aterrissagem está em proporção áu-
Afinal, antes de parecer bela, uma aeronave tem que voar. rea com a altura do avião (do chão até o topo do leme).
(...)
A figura abaixo, publicada no mesmo livro de Doczi, é o resul- As proporções de cada asa (D) lembram as sementes
tado de seu estudo. O texto ao lado foi reproduzido do livro, aladas do bordo e as asas das moscas: cada uma delas
com algumas das conclusões do autor. está contida dentro de um par de retângulos áureos igua-
is, assim como a projeção frontal. (...)”

Da mesma forma que estes elementos tridimensionais aqui seu projeto, podem resultar, simultaneamente, na inserção de
apresentados, peças e elementos gráficos também precisam es- padrões de crescimento e de qualidade estética.
tar apoiados em algum tipo de estrutura. Os exemplos apresentados na página seguinte são do livro
Utilizar cânones, sistemas e relações de proporcionalidade no Design Visual 50 Anos, de Alexandre Wollner.

05
A primeira figura apresenta a estrutura da diagramação do li- A terceira figura o esquema de diagramação da família de emba-
vro. Note que as referencias de margens, colunas, entrelinha- lagens do Laboratório Aché. Neste projeto, as tarjas vermelha e
mento e localização de elementos adicionais estão especificadas preta obrigatórias nas embalagens de medicamentos controla-
a partir das relações internas da página. dos fazem parte da diagramação. Note que ela é aplicável a em-
A segunda figura mostra a diagramação da marca original do balagens com proporções diferentes sem perda de suas caracte-
Banco Itaú, intocada nas diversas modificações, inclusive cro- rísticas formais e da noção de “família de produtos” (unidade).
máticas que foram feitas na marca.

06

Você também pode gostar