the tage ip -- ROTEIRO PARA ELABORACAO DE UM PROJETO DE PESQUISA. Elaine Lourenco’ 24:28 27 Fabio Franzini™ Um projeto de pesquisa ¢ algo que precede uma pesquisa. Nele sao apresentados 0 objeto de pesquisa, os objetivos que se quer alcancar, as fontes que se ira utilizar, entre outros itens. Assim, toda pesquisa cientifica deve ser precedida de um projeto que define quais caminhos serao percorridos. A redagao de um projeto envolve uma pesquisa preliminar que seja capaz de apontar os caminhos possfveis e que permita visualizar a disponibilidade de fontes, sem as quais 0 trabalho nao podera se concretizar. A despeito disto, 0 projeto nao deve ser seguido rigorosamente, item por item, a longo da pesquisa. Isto porque esta é muito dinamica, surgem novas fontes, novas inquietacdes, novos recortes. E preciso, entao, redirecionar 0 trabalho. Neste caso, um projeto original bem definido auxiliard, inclusive, a definir novo trajeto que se pretende fazer. Os itens que sao apresentados a seguir sao sugestdes de um roteiro e podem ser utilizados ou nao, em funcao da instituicao a qual se apresentaré 0 projeto. A intencao é apresentar 0 possiveis modelos de projetos a fim de auxiliar a construcao de diferentes esquemas. Observacdes iniciais — Distingao entre tema e objeto de estudo - 0 geral e 0 especifico — Delimitacao espaco-temporal do objeto de estudo ~ é preciso ter clareza sobre 0 recorte que seré estudado: 0 qué, quando e onde. — Notar que um projeto de pesquisa se constitui de topicos auto-referentes, isto 6, tratase de reafirmar, o tempo todo, as mesmas idéias-chave que norteiam/nortearao o trabalho. * Professora do Departamento de Educacdo da Universidade Nove de Julho - Uninove, Sao Paulo. Professor do Curso de Historia da Universidade Federal de Sao Paulo ~ Unifesp, campus Guarulhos.1. Apresentacao (ou Introducdo) Como o proprio nome jé indica, este topico deve apresentar o tema do trabalho e, mais importante, quais as relacdes entre ele, tema, e 0 objeto definido para a pesquisa. Trata~ se, portanto, de estabelecer as conexGes entre o geral e o particular, entre um determinado contexto hist6rico e um de seus recortes possiveis. A apresentacéo deve levar em conta que o leitor do projeto nem sempre é um especialista no assunto e, para tal, deve introduzir o tema, situar 0 contexto no qual ocorrem os eventos e precisar qual é exatamente o recorte que seré feito para o estudo. Sem uma apresentacdo consistente, 0 projeto todo fica comprometido, uma vez que no se pode levantar objetivos, hipéteses e outros itens mais em torno de um objeto mal definido. Assim, a apresentacdo assume um carater primordial no projeto. De maneira geral, pode-se partir de uma natrativa dos eventos ligados ao tema que se pretende estudar e, entio, situar o recorte que sera feito. Outra possibilidade 6 fazer 0 inverso: partir da caracterizacéo do objeto e entio situ-lo em um determinado contexto. O que importa aqui é a clareza na exposicao das idéias. 2. [ustificativa Neste topico, faz-se necessadrio discutir a importdincia, tanto pessoal quanto académica (principalmente esta), do trabalho - ou, em outras palavras, demonstrar a sua relevéncia. Importa, assim, apresentar como a historiografia tem abordado o tema e objeto escolhidos (0 que também pode ser feito na Apresentacdo), para daf elencar as razbes de sua escolha e as perspectioas pensadas para o desenvolvimento do trabalho. E preciso lembrar que os trabalhos académicos nao precisam de justificativas “sociais", n&o sao pesquisas aplicadas que visam a resolver determinadas questdes da vida pratica, cotidiana. Assim, do ponto de vista da pesquisa cientifica, estudar a violencia em Roma no século IV a.C. ow a violéncia das torcidas organizadas na cidade de Sio Paulo na década de 1990 tem 0 mesmo valor. Nao cabe a este tipo de pesquisa buscar soluc6es para a vida contemporanea; se os poderes publicos e os movimentos sociais se apropriarem destes estudos para realizar polfticas pablicas na area, tanto melhor. No entanto, a fungéo das pesquisas académicas na Area de Historia é iluminar certos aspectos da vida dos homens no passado.3. Objetivos Aqui, trata-se de apresentar 0 que se pretende demonstrar com o trabalho, ou seja, quais resultados se deseja alcangar. K uma espécie de “exercicio de suposicéo”, uma vez que sao formulacGes anteriores a realizacao da pesquisa - e que, por isso mesmo, podem vir a sofrer alteraces A medida que ela, pesquisa, se desenvolver; nesse sentido, a formulacio dos objetivos' presta-se a servir como um “guia de rumos” para o trabalho ~ de onde partir, aonde chegar -, ¢ néo como uma “camisa-de- forca” da qual nao se escapara mais. Desta forma, ao se fazer qualquer projeto, a idéia que temos em mente é entender determinado assunto, chegar a um determinado ponto. Os objetivos entao situam este ponto ao qual se quer chegar. Em alguns projetos dividem-se os objetivos em gerais, mais voltados para o tema, € especificos, voltados para 0 objeto. De qualquer forma, todo projeto tem varios objetivos e para elencé-los admite-se a redagdo em forma de itens, embora esta no seja aconselhavel. Por fim, é preciso lembrar que, uma vez que os objetivos indicam uma acdo que se pretende realizar, a todos eles se associa um verbo, tal como analisar, compreender, demonstrar etc. 4, Hipéteses de Trabalho Como no item anterior, este também abarca um “exercicio de suposico”, porém com outra caracteristica: aqui se trata de apresentar respostas possiveis & problematizagiio do tema, que igualmente servirao como orientagiio para o desenvolvimento do trabalho. As hipéteses, entio, sao os pressupostos que se tem, as idéias que nos parecem plausiveis antes do inicio do trabalho. Somente a realizacio da pesquisa é que poder nos mostrar se estévamos ou nao corretos em relagio as hipéteses. O fato € que, uma vez concluido 0 trabalho, as hipoteses, ou viram afirmagées, ou viram hipéteses néo comprovadas. Nao ha nenhum demérito neste segundo evento, porque o papel das hipdteses, juntamente com os objetivos, é justamente indicar um caminho inicial para a pesquisa e nao ser um modelo prévio que deve ser comprovado a qualquer custo.‘Uma boa solugio para pensar as hipéteses é imaginar um comeco semelhante a: “Este trabalho parte do pressuposto que...”. Assim, desde o inicio se coloca que as idéias iniciais sdo apenas hipoteses e nao afirmacées, que s6 podem surgir da pesquisa cientfica. . _Discussio metodolégica A metodologia, como o nome indica, diz respeito ao como fazer; no caso da pesquisa historica, ao como se pretende abordar o material que fundamenta a pesquisa. “Abordar”, aqui, deve ser entendido em sentido amplo: coletar, analisar, articular, relacionar os dados pesquisados, tanto no que se refere as fontes quanto a bibliografia. Por isso, nao existe um “modelo” definido a priori que possa ser indistintamente aplicado a pesquisa em Historia: cada trabalho, cada tema, cada objeto requer um tipo de metodologia, construida a partir de otrios aspectos - em funcao das peculiaridades do proprio objeto; em func&o das hipéteses e dos objetivos do trabalho; em funco da documentagio que se pretende utilizar. O que se deve ter em mente é que 0 métado € o caminho que se pretende percorrer para chegar ao objetivo. Pode-se pensar, entao, em etapas que sero cumpridas ao longo do trabalho. Mais uma vez é preciso repetir que a metodologia nao ¢ fixa, no deve ser cumprida rigorosamente, uma vez. que o processo de pesquisa € muito dinamico e ao longo dela encontramos novas fontes, redirecionamos 0 objeto etc. ._Cronograma de desenvolvimento Trata-se, em geral, de um quadro no qual se expe as atividades a serem realizadas durante 0 periodo previsto para o cumprimento do trabalho - um ano, no caso do Trabalho de Conclusdo de Curso e da Iniciagao Cientifica. E uma espécie de quadro construfdo a partir da metodologia. exemplo a seguir tem como parametro um trabalho de um ano, realizado por meio de fontes escritas e depoimentos de Hist6ria Oral, e tem a pretensio de servir como um parametro que deve ser aumentado ou diminufdo em funcdo da pesquisa que se pretende realizar.‘Atividade/ [JAN | FEV | MAR | ABR ] MAT] JUN | JUL | AGO | SET | OUT | NOV] DEZ Mes Levantamento e antic |X |X |x |X bibliogréfica Tevaniamento e anause de|X |x |x |x |x fontes de Historia xX |X [xX |x Oral Retomada revistio x |x [x bibliogratica Discussbes orientador Entrega de capftulos Redagio do texto final Entrega do ‘trabalho Recursos Este item s6 é previsto para projetos apresentados em instituicdes que tenham verbae previstas para pesquisa. Nestcs casos, faz-sc um Ievantamento dos recursos humanos que serdo necessérios (auxiliares, estagiarios etc.), bem como dos materiais que serdo utilizados e a respectiva verba necesséria para isto. Pode-se elencar gastos com livros, material de consumo (papel, tinta para impressora etc.), transportes e didrias etc. Tudo isto varia em funcao do que é possivel solicitar e, principalmente, em funcao do que é posstvel obter, 8. Plano de Capitulos Neste item deverd ser informada o ntimero de capitilas que se pretende escrever, 0 titulo provisbrio de cada um deles e um breve comentario de quais os assuntos que serao tratados. Se houver subtitulos nos capitulos € importante jé indicé-los. O quese pretende é construir uma estrutura prévia para o trabalho, a fim de facilitar a redacdo. 9. Caracterizacio das fontes Neste topico, deve-se relacionar e descrever quais as fontes a serem utilizadas (tipo, série, perfodo coberto etc.) e onde elas se encontram, especificando © material a ser sutilizado para dar uma visio geral do conjunto que se iré abordar. Este é mais um t6pico do projeto que pode ser apresentado em forma de itens nos quais se podem classificar as fontes de acordo com sua natureza: material impresso, iconografia, periédicos, depoimentos e assim por diante. E preciso lembrar que as fontes so 0 material de pesquisa por exceléncia do historiador, sem elas nao ha pesquisa. Assim, tudo que vestfgio do passado utilizado para construir 0 fato histrico deve aqui ser elencado. Em relacao a internet, € preciso lembrar que s6 deverdo ser relacionados sites que possuam os documentos digitalizados como forma de consulta, 0 que é bastante raro nas instituigdes de pesquisa. 10. Bibliografia Sem segredos: relagao dos titulos de livros e artigos que servem de referéncia (direta e indireta) para o trabalho, apresentada de acordo com as normas técnicas oficiais (ABNT). ‘A bibliografia citada deve contemplar tanto obras gerais referentes ao tema estudado, como obras voltadas para o recorte especifico, caso estas existam.