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Dez Princípios para a Música da Igreja

Por Kevin DeYoung

Quando se trata dos cânticos de Domingo, as igrejas têm mais opções do que
jamais tiveram. Do hinário, passando pela Hillsong, até as composições locais,
pastores e líderes de louvor têm milhares de músicas para escolher. Um bom
problema para se ter.

Mas ainda é um problema. Nenhum líder de música pode evitar. Nenhuma igreja
pode cantar todos os ótimos hinos e todas as mais novas e melhores canções das
rádios. Nenhum músico consegue ser excelente em todos os estilos musicais que
existem. Nenhum líder pode agradar todas as pessoas o tempo todo.

A proliferação de opções com frequência leva a um conflito. Devemos cantar hinos


(Wesley, Watts or Fanny Crosby?) ou contemporâneos (música popular dos anos
70, música evangelical contemporânea ou punk rock?). Nossa música deve ter um
pouco do ritmo latino ou do sentimento Afro americano? Devemos usar cânticos,
música de coral, salmos, jazz, country ou bluegrass?

Há outras questões também. Que tipo de instrumentos devemos usar? Quanto do


contexto cultural deve ser levado em conta? Há apenas um tipo certo de música
para cantar? Se não, há maneiras erradas?

Eu não posso responder todas essas perguntas. Mas há alguns princípios gerais que
podemos usar para tomar decisões sábias sobre a música de nossa igreja. Deixe-
me sugerir alguns princípios para a música congregacional.

1. Amor é indispensável para cânticos que agradem a


Deus

Há coisas mais importantes que o tipo de música que cantamos. A música não deve
ser a cola que nos mantém unidos – a cruz, a glória de Jesus Cristo, a majestade
de Deus e o amor é que devem ser. Mas mesmo igrejas centradas no evangelho
têm discordâncias sobre música. Então o amor é indispensável quando cantamos e
quando tentamos discernir o que é melhor cantar.

O amor é indispensável quando cantamos e quando tentamos discernir o que é


melhor cantar.

João Calvino:

Mas, porque na disciplina exterior e nas cerimônias não quis ele


prescrever minuciosamente o que devamos seguir (porque isto previne
depender da condição dos tempos, nem julgaria convir a todos os
séculos uma forma única), impõe-se aqui acolher as regras gerais que
deu de modo que, em conformidade com essas regras, sejam aferidas
todas as coisas que, para a ordem e o decoro, a necessidade da Igreja
muito requer que sejam preceituadas. Enfim, porque Deus nada
ensinou expresso nesta área, porquanto essas coisas não são
necessárias à salvação e devem acomodar-se variadamente para a
edificação da Igreja, segundo os costumes de cada povo e do tempo,
convirá, conforme o proveito da Igreja o requerer, tanto mudar e
revogar ordenanças comuns, quanto instituir novas. De fato reconheço
que se deve recorrer à inovação não inconsiderada, nem
seguidamente, nem por causas triviais. O que, porém, prejudica ou
edifica, melhor o julgará a caridade, a qual se permitirmos seja a
moderatriz, tudo estará a salvo. (Inst. 4.10.30)

Antes de sermos rápidos em julgar as músicas ruins de que outros Cristãos gostam,
lembremos do relato de C.S. Lewis. Preste atenção em um dos mais famosos
convertidos aos Cristianismo do século falando sobre sua primeira impressão da
música da igreja:

Não gostei muito dos hinos deles, que considerei poema de quinta
categoria em música de sexta. Mas com o tempo, vi seu grande mérito.
Eu fui confrontado com pessoas de visões e educações diferentes, e
gradualmente meu conceito começou a se desfazer. Eu percebi que os
hinos (que eram apenas música de sexta categoria) estavam, no
entanto, sendo cantados com devoção e benevolência por um santo
idoso calçado em botas simples no banco oposto, então você
compreende que não é digno de limpar essas botas. Isso faz você se
libertar dessa presunção. (God in Dock, 62)

Imagino que o Apóstolo Paulo, se estivesse escrevendo à igreja de hoje, talvez


tivesse algo a dizer sobre o estilo de louvor. “Se eu cantar no estilo musical mais da
moda, mas não tiver amor, estarei apenas tocando bateria e dedilhando uma
guitarra. Se eu tiver o dom de interpretar música e apreciar os mais ricos hinos,
mas não tiver amor, nada serei. Se eu tenho perspicácia para excelente música e
poesia fina, mas não tiver amor, de nada tenho proveito”. O primeiro princípio para
cantar como uma congregação e escolher músicas para a congregação é o amor.

2. Nosso canto é para a glória de Deus e edificação do


corpo de Cristo

Deus é o único que devemos querer impressionar, o único a quem mais devemos
querer honrar. Nosso primeiro objetivo não deve ser conquistar a cultura ou apelar
para o não regenerado. Adoração é para o Único Digno.

Seguir rigorosamente essa prioridade é o objetivo da edificação. As músicas


cantadas no domingo de manhã devem ser benéfica ao povo de Deus. Essa é uma
aplicação fiel das preocupações de Paulo em 1 Coríntios 14. Também faz parte
ensinar e admoestar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais (Col.
3:16). Nunca devemos colocar a música apenas como uma divertida introdução ao
sermão. Antes de aplicar música secular como música de fundo no prelúdio, reflita
se uma canção vagamente espiritual do U2 realmente edificará o corpo de Cristo.
Nosso primeiro objetivo não deve ser conquistar a cultura ou apelar para o não
regenerado. Adoração é para o Único Digno.

Cânticos congregacionais fazem parte do ensino ministerial da igreja. Músicos e


pastores de igreja devem perguntar a si mesmos: se nosso povo aprendeu teologia
por meio de nossas músicas, o que vão saber daqui a 20 anos sobre Deus, a cruz, a
ressurreição, os obras de Cristo, o Espírito Santo, a Trindade, criação, justificação,
eleição, regeneração, a igreja, os sacramentos e todas as outras doutrinas
fundamentais da fé?

3. Devemos cantar cânticos novos a Deus.

É uma ordem? Uma ordem que não cumprimos ainda? Há ainda novas músicas a
serem cantadas a Deus. E se a Igreja tivesse parado de cantar cânticos novos no
século XV? Não teríamos “Castelo Forte é Nosso Deus”. E se os cristãos tivessem
parado no século XVI? Sem Charles Wesley. Nem Isaac Watts. E se a Igreja tivesse
parado uma geração atrás? Ninguém cantaria “In Christ Alone” no domingo. Uma
pena.

4. A igreja deveriam nadar em sua própria história de


cânticos

A metáfora é proposital. Devemos nadar no grande oceano da música de igreja, um


oceano que está continuamente recebendo novos fluxos. Eu não estou defendendo
uma porcentagem definida de velho Vs. novo – toda igreja parecerá um pouco
diferente, mas sugiro que devemos entender a nós mesmo como parte desse
oceano profundo da música cristã.

Para mim, é chocante que uma igreja conscientemente (ou inconscientemente, se


for o caso) fuja completamente do oceano dos hinos históricos e entre em na
piscina rasa de música exclusivamente contemporânea. Não estou dizendo que
músicas mais novas são inferiores às mais velhas (veja o ponto anterior). O que
estou dizendo é que é uma expressão de extrema arrogância e insensatez pensar
que não temos nada a ganhar das velhas canções e nada a perder quando
desprezamos músicas cristãs que foram cantadas por milhares de anos.
Pense que no que você ganha com um hinário (seja um hinário de fato ou o
conteúdo do hinário na projeção):

Uma ligação com a história. Nosso povo, sem mencionar o mundo, precisa
saber que o Cristianismo não é uma invenção inédita.Cantamos juntos
com dois milênios de crentes.
Diversidade. Garanto que aquelas igrejas que cantam hinos estão sendo
expostas a uma variedade mais vasta de músicas cristãs que aquelas que
são exclusivamente contemporâneas. O hinário tem 20 séculos de estilos:
cânticos, canções populares e étnicas, cantigas, salmos, baladas galesas,
melodias britânicas, hinos alemães, música gospel (negra ou branca) e
dúzias de outros estilos musicais.
Excelência. Sim, há alguns verdadeiras sucatas na maioria dos hinários. Mas
no geral, as músicas ruins foram descartadas. Se estamos ainda
cantando uma música 500 anos depois, ela provavelmente tem uma letra
forte, boa poesia e uma tonalidade cantável
Todos os conselhos de Deus. Hinos dão a você um amplo leque de temas e
categorias bíblicas. A música contemporânea está melhorando esse
quesito, mas o hinário é ainda o melhor lugar para encontrar uma música
de adoração e exaltação a Cristo ou uma canção de iluminação ou uma
lamentação ou um hino de comunhão. Parabéns a Keith e Kristyn
Getty e Sovereign Grace por tentar preencher esse tipo de lacuna.

5. Cante os Salmos
Não estou convencido pelos argumentos em favor da salmodia exclusiva. Mas em
95% das igrejas o problema não é que estamos mantendo distância dos bons “não-
Salmos”. É estranho, embora nos seja ordenado que cantemos os Salmos e embora
salmos tenham sido o centro dos cânticos nas Igrejas durante séculos, ainda
ignoramos um trecho imenso no meio de nossas Bíblias (emprestando uma frase de
Terry Johnson). Em uma observação mais alegre, fico feliz por estarmos
começando a ver alguns músicos contemporâneos voltando atenção aos salmos.

6. Devemos nos empenhar pela excelência na


musicalidade e nas letras das canções que cantamos

Não estou, nem de perto, sugerindo elitismo. Uma melodia tem de ser
relativamente simples para que centenas ou milhares de pessoas cantem ao
mesmo tempo. Mas podemos ainda persistir em não nos distrairmos pela falta de
excelência (para usar a frase de John Piper). Queremos que a cruz seja a pedra de
tropeço, não nossa musicalidade pobre ou o Power Point cheio de erros.

Enquanto acredito que uma grande variedade de estilos pode ser usada na
adoração, não sou um relativista musical. Algumas músicas são melhores que
outras. Alguns estilos funcionam melhor que outros. E quando se trata de letra,
evitamos deslizes óbvios como usar tu e você na mesma música ou acumular
clichês banais. Ouvi uma canção no rádio há algumas semanas cujo refrão tinha
algo sobre uma rosa perfumada no início da primavera e uma águia voando alto a
estender suas asas. Se sua igreja canta isso no domingo, ame seu líder de louvor
do mesmo jeito. Mas se você é o líder de louvor escolhendo essa música, tente
algo com um pouco mais de arte, algo que não soe como vindo de uma página
aleatória do seu calendário inspirativo de bolso.

Algumas músicas são simplesmente profundas e algumas são profundamente


simples, mas há uma forma de fazer ambos bem. Com tantas músicas a escolher,
não há razão para as igrejas não fazerem um esforço para cantar músicas com
algum senso de poesia e integridade musical. O refrão de Aleluia é repetitivo, mas
é musicalmente interessante. A maioria das canções, refrões e versos não são
suficientes para serem repetidos por tanto tempo.

Algumas músicas são simplesmente profundas e algumas são profundamente


simples, mas há uma forma de fazer ambos bem.
7. O principal som a ser ouvido no momento de louvor é
o som da congregação cantando

Todos são responsáveis por cantar. A jovem com suas mãos erguidas e o idoso
cantando o baixo. O que as pessoas querem ver na sua adoração é aquilo que você
quer dizer. E não importa quão relaxada ou reverente sua adoração é, se ninguém
está cantando, é ruim.

É cantável? Preste atenção na extensão (muito alta ou muito baixa) e esteja


ciente da síncope e das irregularidades na métrica e no ritmo. Certifique-
se que a melodia é intuitiva, principalmente se você não tem a partitura
para olhar ou se as pessoas não sabem lê-la. Quando seu violão dedilha
entre sol, dó e ré, há muitas notas a serem escolhidas nesses tons.
O instrumental está ajudando ou inibindo a congregação de cantar? Isso
significa checar o volume. A música está muito suave para sustentar as
vozes? Está tão alto que as abafa? Um erro das equipes de música é
pensar que todos os instrumentos devem ser usados em todas as
músicas. Algumas músicas devem ter um instrumental completo, mas só
porque você tem bateria, piano, guitarra, baixo, lira, cítara, flauta,
chocalho, banjo, violoncelo e atabaque, não quer dizer que você tem que
usar todos eles o tempo todo.
É uma canção familiar? As pessoas têm dificuldade com uma música nova
toda semana, quanto mais duas ou três. Mantenha seu som e suas
canções básicas e parta daí. De vez em quando, você pode ter que admitir
“Essa é uma ótima música, mas não acho que podemos tocá-la bem”.

8. A congregação também deve ser forçada, de tempo


em tempo, a aprender novas canções e ampliar seu
horizonte musical

Toda igreja terá um núcleo musical. Você não deve reinventá-lo toda semana. Mas
você também não deve ser escravo disso. Precisamos ser forçados de vez em
quando, não apenas com uma música nova, mas com um novo tipo de música –
algo da igreja afro-americana ou algo da África ou América Latina. É bom ser
lembrado que pertencemos a uma igreja antiga e global.

9. As letras de nossas músicas devem ser compatíveis


com a musicalidade e os instrumentos

A música deve sustentar o tema da canção. Letras diferentes têm climas diferentes.
A letra de “Castelo Forte” não funcionariam bem na melodia de “Children of the
Heavenly Father”. A alegre canção “Do Lord” não consegue capturar o sentimento
das palavras finais do ladrão à beira da morte. Por outro lado, é difícil não amar a
música de Keith e Kristyn Getty “See What a Morning”, em que a música triunfante
e de celebração combina perfeitamente com a letra sobre a ressurreição.

O estilo musical não é neutro, mas é flexível. A música transmite algo. Algumas
melodias são doces demais ou demasiado estridentes ou muito românticas. Sempre
achei que “Este é meu respirar” soava sensual demais. E também não estou muito
certo sobre o que essa música quer dizer. Mas estilos não são categorias rígidas.
Não há uma linha definida entre contemporâneo e tradicional, clássico e popular ou
alta e baixa culturas. Não temos que fazer regras absolutas sobre estilo musical,
mas precisamos ser inteligentes.

Deixe-me dar uma palavra sobre órgãos. Nenhuma igreja deve lutar por eles até a
morte. Mas se a sua igreja já tem um órgão, meu conselho é que continue usando.
Órgãos eram originalmente associados ao paganismo. Então não há nada
inerentemente espiritual nele. Quando foram introduzidos na igreja, os cristãos
sabiam tanto sobre órgãos quanto os adolescente de hoje sabem. Eles foram
introduzidos na adoração por causa da capacidade desse instrumento. Como Harold
Best argumenta no seu fantástico livroUnceasing Worship (Louvor incessante), não
há no Ocidente instrumento mais adequado para sustentar o canto congregacional
(p.73). O órgão preenche os vazios, proporciona um som grave e encoraja a igreja
a cantar mais alto e mais livre. Se você não tem um órgão, pode ser caro adquirir
um. Não vamos estabelecer uma regra. Mas se o órgão é uma opção pra você, não
a descarte.

10. Todas as nossas canções devem ter letras


explicitamente bíblicas

Devemos começar perguntando sobre todas as nossas músicas: isso é verdadeiro?


Não apenas verdadeiro, mas em conformidade com o texto bíblico. Por exemplo, eu
gosto da música “Consuming Fire” do Third Day, mas a letra, embora verdadeira,
faz mal uso do texto bíblico. De acordo com a música, Deus é o fogo que consume
porque ele entra e derrete os nossos frios corações de pedra. Isso é verdade, mas o
texto de Hebreus é sobre Deus, nosso juiz.

Semelhantemente, nossas músicas devem ser explicitamente verdadeiras. Isso é,


não devemos ter que forçar uma interpretação para a letra ficar ok. Não queremos
cantar músicas que nos levem a pensar “o que isso quer dizer exatamente?”
Por outro lado, não seja muito duro com canções do tipo “eu”. Cerca de 100 dos
150 salmos têm a palavra “eu”. “Eu” não é o problema. O problema é com as
músicas que são coloquiais demais ou usam o “eu” impensadamente (“eu só quero
te louvar” – bem, então louve), ou nunca passam de como estou me sentindo em
relação a Deus para quem Deus é e o que Ele fez para que eu me sinta desta
forma.

O problema é com as músicas que nunca passam de como estou me sentindo para
o que Ele fez para que eu me sinta desta forma.

Em todas as nossas músicas queremos ensinar as pessoas sobre Deus. Se não


estamos aprendendo boa teologia e verdade bíblica com nossas músicas, então não
temos cuidado com nossas músicas ou não ligamos muito para as verdades
bíblicas, ou ambos.

Traduzido por Carla Ventura

Fonte: http://www.iprodigo.com

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