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Às minhas ancestrais, minha bisavó, mãe Maria, minha avó que também
era chamada mãe Damásia e à minha mãe Francisca, mulheres guerreiras
SEDUC - Secretaria da Educação do Estado do Ceará que possibilitaram que eu crescesse amando minha história e minha
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cultura, respeitando as diversas tradições populares.
“Mãe Maria, mãe Maria,
Lavadeira de YáYá, vai lavar saia de renda,
Não é dela é de Yemanjá.”
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Mãe Maria era minha bisavó. Ela guardava Eu, muito curiosa, querendo saber por demais
tantos segredos de um tempo que eu nem imagino. sobre os mistérios que estavam guardados no baú,
Guardava dentro de um baú e só ela sabia o perguntava, perguntava e mãe Maria respondia: “São
que tinha lá. Dizia “que eram histórias trazidas no segredos que só as avós e bisavós podem contar.”
tempo e no vento, tempo muito antigo de quem
atravessou o mar.”
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A cada semana, minha bisa revelava seus
segredos, contando histórias de aventuras, amor e
também de medo e dor.
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Mulheres que sempre protegeram seus ideais, seus Cada vez que ela abria o baú das memórias
familiares, seu povo... Ah, como eu tenho orgulho de ancestrais saíam rendas de bilros, cobras da lagoa, tutu-
cada palavra que a bisa nos contava. maramba, peixes na rede de arrasto que os pescadores
jogavam no mar, farinha na farinhada, mel de cana
caiana no melaço. Quantas lembranças de um tempo
que não vivi, mas que até hoje fazem parte de mim.
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Depois de ouvir as histórias, brincávamos, pois
história que se preza sempre traz uma bela cantiga
para nos embalar. E assim, nos reuníamos embaixo da
árvore mais alta do quintal, do terreiro ou da praça e
começávamos a cirandar um coco:
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Mas mãe Maria morreu. Partiu e foi morar no
céu de anil.
O baú de contos, cantos, de brincadeiras e
encantos passou para os cuidados de minha avó
Damásia. Afinal, dizia ela, “só as avós podem abrir
e revelar os segredos dele.”
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Vovó tinha um jeito muito especial de contar
histórias na ginga dos bilros, na almofada de renda
que só ela sabia fazer.
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Quando estava sentada a rendar, rendava, rendava
por horas tecendo sem fim. Depois cirandávamos para
as rendeiras com suas almofadas e seus bilros. Que
linda homenagem cantar e dançar:
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Eita, que era tanta felicidade a girar entre cantos
e bailados...
O baú ancestral de Mãe Maria guarda histórias
envolventes tecidas com um fio de renda sagrado
que encantava a gente.
“Você acredita que com tutus-marambás e cucas,
vovó nos colocava pra ninar?”
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“Tutu-Marambá, não venha mais cá que
a mãe da criança de te manda pegar.
Durma, neném, que a Cuca logo vem.
Papai tá na roça e a mamãezinha em Belém.”
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Mesmo quando vovó lavava roupa na beira do
rio, nós ficávamos ao seu redor e, enquanto a roupa
quarava no sol, a gente cirandava:
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E assim , eu fui crescendo, aprendendo os
valores da vida por meio das histórias que eu ouvia.
Cantando e dançando em grandes cirandas, nossos
brinquedos cantados.
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Minha bisa, assim como minha avó Damásia,
sempre nos disseram que a tradição e a cultura são
passadas de geração a geração.
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Não devemos deixar nos faltar esse baú com seus
mistérios, o canto e o conto que encantarão àqueles que
virão depois, que chegarão mais tarde e manterão vivas
e pulsantes as histórias, levando-as para o mundo.
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Patrícia Matos
Olá, crianças. Meu nome é Patrícia Matos. Gosto
de contar história e cantar cirandas, cocos, afoxé,
maracatus. Escrevi essa história pensando em tantas
avós e bisavós que têm suas histórias para nos contar e
que, algumas vezes, nós não temos tempo para escutar.
Desde muito pequena gosto de ouvir os mais velhos e
as mais velhas. Como é bom e precioso o que elas têm
a nos ensinar. Espero que gostem de abrir esse lindo
baú de cantos e encantos ancestrais.
Sara Nina
Olá! Eu sou a Sara Nina. Nasci em Fortaleza, pertinho
do mar. Hoje eu moro no Crato, olhando para a
Chapada do Araripe. Me formei em Artes Visuais no
IFCE e fiz mestrado em Arte na UFPB. Participei de
várias exposições com trabalhos de gravura, que é uma
das coisas que mais gosto de fazer além de desenhar.
O desenho para crianças está entre as minhas paixões
e a oportunidade de ilustrar livros infantis me trouxe
um mundo mágico, onde eu posso soltar a imaginação
e experimentar muitas técnicas diferentes. Além da
ilustração, trabalho como professora na Universidade
Regional do Cariri e faço parte do coletivo Aparecidos
Políticos, onde trabalho com intervenções urbanas.
Gosto de ouvir música enquanto desenho, passear de
bicicleta pela cidade e brincar com meus gatinhos.
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