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“Eça de Queirós e os Maias – no espaço e no tempo”

O período dos anos 40-50 foi sem dú vida um período de recuo do romantismo em
Portugal, em relaçã o à evoluçã o do romantismo europeu. Ou melhor, para evitarmos o
termo de “recuo” oposto a “progresso”: um período de estagnação. A revoluçã o
româ ntica tivera o mesmo destino que a revoluçã o liberal: estagnara.

Essa imobilidade é em mú ltiplos sentidos e antes de mais no sentido de uma vasta e


mais ou menos profunda recepçã o do romantismo europeu em geral, combatida pela
geração de 70. Desde o inicio, em 1865 da polémica de Antero contra Castilho, que,
como se sabe, ficou conhecida por “Questã o Coimbrã ”, nã o se trata apenas de contestar
uma escola poética. Trata-se de recuperar uma cultura filosófica romântica
europeia que fora quase totalmente ignorada. Eça de Queiró s foi um re-criador
duma totalidade do romantismo europeu, entre outros jovens intelectuais: Antero
Quental, Oliveira Martins, Ramalho Ortigã o.

Mas... Geraçã o de 70? O que é em literatura uma geraçã o?

Geraçã o literá ria é essencialmente um momento num período literá rio integrado por
sua vez na histó ria geral da cultura de um povo em que a criaçã o de obras literá rias se
relaciona directamente com ideias filosó ficas, politicas e sociais.

O tema d’os Maias é como que um exemplo de fraqueza moral ou incapacidade de


acçã o, sobre o fundo de uma sociedade degradada e rídicula.

O grupo que convive no palá cio do Ramalhete é provavelmente um auto-retrato da


geraçã o de 70 na fase da desilusã o. E na efabulaçã o do romance há um momento
trá gico (pró prio da tragédia grega): dois irmã os que nã o se conhecem, filhos de uma
paixã o româ ntica e fatal, acabam por encontrar-se em Lisboa e ter amores incestuosos.
Isto, apesar dos cuidados preventivos do avô , que, amargurado pela paixã o e morte do
filho, procurou pela educaçã o, imunizar o neto contra o resquício de romantismo. É
uma variante da histó ria de É dipo.

Eça de Queiró s retrata e dá corpo a figuras que têm uma vivência europeia: Fradique
Mendes, Carlos da Maia, Jacinto, sã o entre outros, reflexo de uma nova classe que vê em
Paris o centro do Universo.

Podemos dizer que Eça de Queiró s é reconhecido pela original vitalidade de uma escrita
consciente de ter criado “uma prosa como ainda nã o há ”.

É neste contexto - de pluralidade de referencias estéticas e de revisã o de crenças


literá rias – que Eça publica um romance: Os Maias, cujo subtítulo submete para o
romantismo “Episó dios da vida româ ntica”.

Eça vem entã o fechar o ciclo iniciado na primeira metade do século, com Garrett,
quando este olhou para a terra portuguesa e descobriu, surpreendido, uma dimensã o
desconhecida do ser nacional. O romance de Eça vai portanto constituir uma proposta
de saída do impasse româ ntico, revelando horizontes para alem do acanhado muro da
tradiçã o, que poderiam funcionar como os pontos de fuga de um modelo de sociedade
esgotado e esterelizante da vontade e da inteligência nacionais.

Bibliografia

Iniciaçã o na Literatura Portuguesa. Antó nio José Saraiva (Gradiva 1995)

Do Romantismo aos Romantismos em Portugal. Á lvaro Manuel Machado (editorial


Presença 1996)

Eça e os Maias. Actas do 1º Encontro Internacional de Queirosianos. (ediçõ es ASA


1988)

Estatuto e perspectivas do narrador na ficçã o de Eça de Queiró s. Carlos Reis (livraria


Almedina 1984)

Estudos Queirosianos. Ensaios sobre Eça de Queiró s e a sua Obra. Carlos Reis (editorial
Presença 1999)

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