Você está na página 1de 5

Pontifícia Universidade Católica

Aluno: Luciano Morais


Professor: Eduardo Sugizaki
Nome da Disciplina: Sem.: Met., Leitura E Prod. De Text. Filos.

O estádios: estético, ético e religioso em Kierkegaard

Há um lugar importante na história do pensamento ocidental ocupado por Søren Aabye


Kierkegaard. Nasceu em 5 de maio de 1813 na cidade Copenhague na Dinamarca,
conhecido como o pai do existencialismo, Kierkegaard, é conhecido por seus diferentes
modos de expressar sua filosofia. Especialistas discutem para o definir como um filosofo,
um teólogo ou um psicólogo. Por fim, é possível observar um pouco disso tudo em sua
vasta literatura. Kierkegaard, certamente é um daqueles pensadores que são
caracterizados por estarem à frente no seu tempo. Mesmo vivendo no século XIX, foi
capaz de observar a dinâmica do mundo à sua volta, compreender e criticar pontos crucias
do pensamento moderno, de maneira que, depois de dois séculos, as suas obras nos
auxiliam a entender a realidade à nossa volta. Conhecido por ser um sujeito enigmático,
muitos estudiosos de Kierkegaard apontam que seu pensamento é indissociável das
circunstâncias vividas por ele, suas reflexões têm como base as possibilidades que a
existência lhe oferece, e é nesse existir que Kierkegaard constitui uma filosofia nova, que
tem mais conexão com a realidade vivida do que os sistemas filosóficos anteriores.

O estádio estético

Aos trinta anos (1843), Kierkegaard publica a obra intitulada Ou-Ou: um fragmento de
vida, que se divide em duas partes, A e B. A primeira é composta de oito ensaios de
natureza estética. Utilizando o pseudônimo de Victor Eremita, narra na parte A, alguns
modos distintos de ser estético.

Assim como sua filosofia, este estádio é inspirado na própria vivência de Kierkegaard,
quando ainda na flor da juventude, se entregava a uma vida desregrada, de boemia, pelos
bares e teatros de Copenhague. O modo de ser estético mais conhecido na filosofia
kierkegaardiana é caracterizado pelo indivíduo que está em uma relação contraditória
com o mundo, que é bastante influenciado por uma visão de mundo desenvolvida pela
filosofia romântica. O esteta mantém uma relação suspensa da realidade, vive uma vida
pautada pela realização dos desejos, movida na busca pelos prazeres, a ópera e o teatro
ancoram seu ideal de vida, se revelam mais real do que o próprio quotidiano e suas
responsabilidades e deveres.

O indivíduo singular deixa-se guiar pelos momentos aleatórios que se apresentam, é


incapaz de um projeto ou de escolha, que requer compromisso e responsabilidade, antes
pauta a sua vida no e com o efêmero, o acidental, passa-se o tempo que lhe foi destinado,
inebriado e escravo das vaidades proporcionadas pela “eterna juventude”, com vistas para
o prazer, que é o telos do estádio estético.

Uma das figuras de referência e que revela esse modo de ser estético (já que em sua obra
Ou/Ou, ele reconhece oito modos distintos de ser estético), é Don Juan, o sedutor
espanhol de inúmeras conquistas, que celebrava o desejo erótico e que após ter usufruído
uma mulher, é levado implacavelmente a conquistar uma outra e depois outra.

O estádio ético

A vida estética é um fracasso aos olhos do ético, pois o esteta limita a sua vida ao
momento presente e pelo instante que lhe satisfaz.

Assim como a vida estética é expressada pela figura do sedutor, a vida ética, que o autor
narra através do juiz Guilherme, pseudônimo usado na réplica ao sedutor na parte B de
Ou-Ou, é centrada pela figura do esposo, que se mostra idôneo diante dos compromissos.
Essa segunda parte tem como símbolo, o matrimônio.

O Ético nasce da escolha por uma estabilidade, uma continuidade que o estádio estético
em seu incessante desejo, exclui na busca da variedade e alternância dos prazeres. A vida
ética implica uma continuidade que a vida estética, em sua constante busca pela novidade,
exclui. Constrói a sua personalidade em bases sólidas, nas escolhas que faz, sua
interioridade é forjada pelo compromisso que leva em conta o outro. Busca viver de
maneira íntegra, conciliar a sua vida interior com a moral, tal como se apresenta na
sociedade, pois ele ver que tal realização é também reconhecer que as obrigações morais
representam alguns valores profundos do Individuo. O matrimônio é naturalmente uma
expressão dessa moral, é movido pelo amor e pelo dever, é uma busca de realização
interior e também um cumprimento da norma social. O casamento é um principio básico
da vida social e civil, mas também uma interiorização de alguns valores estéticos, como
por exemplo, (o erotismo). O ético não renuncia o prazer, mas ao contrário do esteta,
coloca limites, não se aniquila diante dos desejos, mas tais desejos são realizados de
maneira responsável e é sempre levado em conta o outro e as normas.

O estádio religioso

Esse estádio é narrado à luz da passagem bíblica em Gn 22, em que Abraão é submetido
a uma prova de obediência e fé, ao oferecer seu filho Isaac como sacrifício a pedido de
Deus.

Kierkegaard usa essa história como modelo para confrontar o sistema filosófico de seu
tempo. A atitude do personagem bíblico confronta diretamente os valores objetivos,
expõe um paradoxo entre obedecer o mandamento de “não matar”, que está no cerne da
vida ética e obedecer uma ordem de Deus de “matar ou sacrificar seu filho”, que o coloca
diretamente em conflito com um valor universal inegociável. Há portanto, uma suspensão
teleológica da moralidade de seu tempo.

Esse estádio é incompatível com os outros anteriores, pois para o filósofo, o cristianismo
não é apenas um conjunto de preceitos morais (ético) aos quais se deve adequar, como
entendia a igreja de seu tempo e nem tampouco pela negação de um conjunto de preceitos
e regras (estético). O homem que se reconhece fraco, imperfeito e tem consciência da
vida no pecado, encontra em seu coração um desejo pelo perfeito e absoluto e quer elevar-
se até ele. Essa condição está para além das normas sociais, não se resume à obediência
ou desobediência. O viver no pecado pode também vir a ser uma vida em descumprimento
moral, mas em essência, é viver em ruptura com o Deus. As normas sociais e civis não
podem intermediar o nosso relacionamento com Deus, por isso a necessidade de um salto
da fé, um salto do ético para o religioso.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Jorge M de/VALLS, Álvaro. Kierkegaard. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

FARAGO, France. Compreender Kierkegaard. Petrópolis: Vozes, 2006.


LE BLANC, Charles. Kierkegaard. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.

KIERKEGAARD, Søren A.Ou-ou:Um fragmento de vida. Lisboa: Relógio d’água,


2013.

KIERKEGAARD, Søren A. Temor e Tremor. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Você também pode gostar