Você está na página 1de 7

Introdução

O massacre de 15 de Março de 1961 dá a machadada final nos bons costumes


coloniais portugueses. Oitocentos mortos, brancos selvaticamente esquartejados,
serrados e incendiados, mulheres e crianças violadas, bens destruídos e a implosão
definitiva da paz podre com 500 anos exigiam a resposta que Salazar não queria dar
perante a pressão da ONU, dos EUA e de novas nações livres. Foi nessa data que se
deu o ataque da UPA no Norte de Angola, naquele que foi considerado o primeiro acto
para a libertação do país e que marcou o chamado «dia do terror». O vídeo resume bem
os acontecimentos.

1
15 de Março de 1961 | Começo do terrorismo em Angola

Passam hoje 50 anos sobre o dia do começo do terrorismo em Angola, quando


no fatídico 15 de Março de 1961, um bando de facínoras da UPA (mais tarde
denominada FNLA) a soldo dos Norte Americanos e com o entusiasmo e bênção do
então Presidente John Kennedy, chacinaram centenas de portugueses à catanada,
homens, mulheres e crianças, da forma mais vil e cobarde.

Deixaram, os terroristas, o chão do norte de Angola tingido de sangue português,


de gente trabalhadora que tanto ajudou na civilização e desenvolvimento do nosso
Ultramar.

Portugal, que nessa época tinha Honra e Orgulho, tinha decisão e desígnios
nacionais, respondeu prontamente enviando tropas em defesa da Província Ultramarina.

A sanha de cobiça e poder das potências estrangeiras não parou mais, desde aí,
de armar grupos terroristas que atacavam populações indefesas, em Angola,
Moçambique e Guiné.

Portugal, sem quaisquer fundos externos, conseguiu com os seus próprios


recursos, ao longo de 13 anos, sustentar uma guerra em três palcos distintos, o que
representou um gigantesco esforço e espírito de sacrifício para toda a Nação, para os
Jovens mobilizados, suas famílias e populações locais.

O PNR presta homenagem, nesta data, a todo o sangue português derramado no


Ultramar e traído pela geração – essa sim – muito rasca, que fez o 25 de Abril.

Hoje, mais que nunca, lembramos os ex-Combatentes e suas famílias, os mortos


e estropiados em combate, as vítimas civis do terrorismo e mais de um milhão de
Retornados que viram truncadas as suas vidas e desfeitos os seus sonhos.

Guerra é guerra!"

É uma das expressões que mais se ouvem na boca dos ex-combatentes: "Guerra
é guerra." Poderia ser "quem vai à guerra dá e leva", mas não é isso que dizem ainda
hoje, muito pelo contrário, porque o envio de um milhão de militares portugueses para a

2
Guerra Colonial - ou guerra do Ultramar ou em África - parte da premissa de dar muito
e levar pouco.

Tudo começa a sério em 1961 em Angola. Há revolta nas plantações de algodão


no Cassange, ataques aos portugueses e resposta pronta com a reorganização de
companhias militares para executar a repressão. Pouco depois, a 4 de Fevereiro,
verifica-se nova acção. Desta vez mais problemática, pois é contra algumas instituições
portuguesas em Luanda, de que resultam mortos e feridos. A repressão aumenta de nível
e é exigida maior protecção aos colonos portugueses. Mas é o massacre de 15 de Março,
perpetrado por movimentos independentistas, que vão obrigar Salazar a mandar avançar
para aquela colónia "rápido e em força".

Diga-se que foi mais a comoção popular na sede do império, o continente, que
mais obrigou o ditador a agir. Um governante que nunca admitiu que estava perante
uma guerra mas antes numa acção policial, mesmo que ela se estendesse nos anos
seguintes a mais duas frentes: Moçambique e Guiné.

Não foi de um dia para o outro que os movimentos independentistas se


apresentaram ao mundo. Mas, para além de um historial de revoltas, será o 15 de Março
de há cinquenta anos que marcará verdadeiramente a existência de um conflito ao
verificar-se uma acção violenta e determinada.

À União das Populações de Angola (UPA) foi atribuída muita da autoria do


massacre, se bem que já existissem outras organizações como a FNLA e o Partido
Democrático de Angola (PDA) no terreno e, a partir de 1961, também o MPLA e a
UNITA.

A Salazar, foi exigida uma resposta que salvasse o Império português espalhado
pelo mundo. Numa época em que a própria organização das Nações Unidas criticava a
política colonial portuguesa e que o presidente norte-americano, o recém-eleito J. F.
Kennedy, boicotava abertamente o apoio a Portugal, partilhando o coro de duas dezenas
de novos países surgidos após a derrocada dos impérios coloniais francês, belga e
inglês.

Para além do cenário internacional negativo, a situação interna de contestação ao


regime aumentava e teria em 1961 um ano de grandes actos políticos que abalavam o
regime. O desvio do paquete Santa Maria e de um avião da TAP, o golpe de Botelho
Moniz e de Beja, a queda de Goa, entre outros casos, infernizaram Salazar no ano de
1961. A guerra em Angola foi a gota de água, uma situação grave que, no entanto, o
governante viu voltar-se a seu favor. O povo português uniu-se em sua volta na defesa
do Império.

Américo Tomás, e outros duros do regime, não partilharam dessa opinião.


Milhares de jovens continuaram a embarcar para África enquanto os militares se
cansavam de uma guerra sem fim à vista. Por África, a guerrilha fervilhava em todas as
frentes.

3
O massacre

A chacina que vitimou 800 portugueses e africanos de várias etnias determinou o


desvio de militares em massa para Angola e uma reorganização mínima das Forças
Armadas. No entanto, afirmam sempre os responsáveis militares, para além de um
maior recrutamento não se verificou o necessário investimento financeiro no
apetrechamento da máquina de guerra. Tal como não aconteceu um fortalecimento da
solidariedade, também necessária, entre colonos e militares que deveriam defender as
suas vidas e a economia colonial.

A investigação definitiva sobre o que se passou exactamente nesses dias ainda


está por fazer, se bem que alguns a tentem realizar. Para o historiador Rui Ramos, houve
uma "vietnamização desta guerra" e a visão dos acontecimentos é distorcida por um
conflito bastante diferente do nosso.

Para o então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, a atitude de Salazar face à


guerra não poderia ser outra porque "nasce, vive e é educado num período em que a
supremacia ocidental e europeia era absolutamente indiscutível em relação a todas as
partes do mundo. Ele é surpreendido pela evolução do mundo".

Recentemente, o casal Dalila Cabrita e Álvaro Mateus publicou um volume -


Angola 61 - em que dedica grande parte da sua investigação ao massacre de 15 de
Março. Entre as teorias apresentadas está a de que esta chacina "não foi surpresa".
Justificam com as conclusões nos documentos e alertas reportados pela polícia, militares
e civis algum tempo antes. Assim, apontam, a PIDE já informara através um
colaborador enviado a Leopoldville que "dentro em breve, explodirá na nossa terra de
Luanda uma grande revolta, pois todos os naturais de Angola estão preparados para o
assalto". Dois meses antes, um responsável desta polícia política, dizem os
investigadores, informaram o "administrador da circunscrição e o comandante militar de
que as actividades da UPA se tinham intensificado junto à fronteira". E indicavam a
data de 15 de Fevereiro de 1961 como provável.

Também os colonos aguardavam, explicam os autores, por esta situação


anunciada: "Demonstra--o a compra maciça de armas." Angola importara, em 1960, 953
toneladas", seis vezes mais do que em 1959. Quanto aos militares, acrescentam, a
desconfiança também existia: "Os militares tinham previsto o que iria acontecer. E
Costa Gomes fez questão de assinalar que, 'entre 1958 e 1961, não se tomaram medidas
importantes para prevenir uma guerra no Ultramar, antes pelo contrário." E fazem notar
que "finalmente, em 15 de Dezembro de 1960, o Comando Militar de Angola,
pressentindo que algo grave poderia vir a acontecer, considerou necessário 'intensificar
missões de vigilância e de soberania'".

Os generais Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, que têm estado a fazer a
história desta guerra de três frentes e que publicaram um espesso volume intitulado Os
Anos da Guerra, não hesitam em retratar Salazar como "um homem cansado", incapaz
de enfrentar a situação com uma política de defesa e com "respostas à acção militar (...)
sempre insatisfatórias". No livro reproduzem o comunicado publicado dois dias depois
do massacre nos jornais de Angola onde se pode confirmar o distanciamento da situação
real: "Verificaram--se na zona fronteiriça do Norte de Angola alguns incidentes a que
deve atribuir-se gravidade por demonstrarem a veracidade de um plano destinado a

4
promover actos de terrorismo que assegurem, a países bem conhecidos, um pretexto
para continuarem a atacar Portugal perante a opinião pública internacional." Da
violência do massacre escreve-se apenas: "Sabe-se que há a lamentar a perda de
algumas vidas, mas não se conhecem pormenores. As autoridades que procederem a
uma rigorosa investigação fornecerão à imprensa mais elementos logo que sejam
obtidos. A situação encontra-se inteiramente sob o domínio das autoridades."

Os generais consideram, no entanto, que o ataque foi "uma surpresa completa


para os fazendeiros e para os administrativos que viviam na região". Quanto à resposta
das autoridades, reportam que "de Lisboa não chega sequer uma palavra de esperança"
enquanto "em Luanda foram apressadamente organizados serviços de socorro e de
evacuação" a várias regiões do Norte de Angola que "em meia dúzia de dias se
transformaram num mar revolto de sangue". As primeiras contas apontavam para a
morte, dizem nesta introdução do livro, de "mais de 300 europeus na área de
Nambuangongo, outros tantos do Dange ao Quitexe, talvez uns 200 junto à fronteira, no
distrito do Congo".

Filhos ignoram

O massacre de 15 de Março de 1961 raramente é comentado pelos militares que


contam algumas das suas histórias de vida nas páginas que se seguem. Basta-lhes as
suas próprias vivências para justificar esses anos de uma vida; o que fizeram lá e o que
o Estado português deveria ter feito cá por eles.

Há quem diga que houve três gerações diferentes que foram vingar o massacre
original ao longo dos 13 anos de Guerra Colonial. A primeira, entre 1961 e 1965 partiu
num contexto de resposta racista. A segunda, de 1965 a 1970, deixou Lisboa preparada
para combater com técnica e determinação. A terceira, até à Revolução do 25 de Abril,
fez a guerra por obrigação, de forma muitas vezes descuidada e a cumprir uma
obrigação que lhes cortava a vida pessoal ao meio, porque estavam já empregados,
saíam da universidade ou tinham filhos.

5
Conclusão

Conclui-se que relativamente à dimensão dos massacres portugueses Pires


Nunes reconhece que se podem ter cometido alguns excessos sobre populações que não
fugiram, porquanto estas “eram altamente suspeitas de terem cometido ou apoiado os
massacres de 15 de Março, o que, em parte, se sabia ser verdade porque as unidades iam
recolhendo documentos abandonados e os indícios eram muito comprometedores ,
embora diga sobre as chacinas sem precedentes das nossas tropas, tantas vezes grafadas,
serem simplesmente falsas e fáceis de desmontar “pela simples razão de que, em todo o
Norte, os massacres eram impossíveis porque, além de muitas outras razões, não haver
gente para massacrar”

6
Bibliografia

John Marcum, The Angolan Revolution, vol. I, The anatomy of an explosion (1950-1962), vol.
II, Exile politics and guerrilla warfare (1962-1976), Cambridge/Mass. & Londres: MIT Press,
1969 e 1978, respectivamente.

Edmundo Rocha, Angola: Contribuição ao estudo do nacionalismo moderno angolano (Período


de 1950-1964). Testemunho e Estudo Documental, 2 volumes, Luanda: Kilombelombe &
Lisboa: Edição do autor, 2002 e 2003.

Jean Martial Arsène Mbah, As rivalidades políticas entre a FNLA e o MPLA (1961-1975),
Luanda: Mayamba, 2012.

Adriano Araujo "Angola no período das independências", Luanda 1999.

Você também pode gostar