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Sabedoria, 9
Oração de Salomão para obter a sabedoria
● No livro dos Reis (1ª dos Reis 3, 5-9) e em 2º das Crónicas 1, 7-10 (cf. vers.10a "Concede-me,
pois, a sabedoria e o conhecimento, a fim de que eu saiba conduzir este povo"), Salomão pede a
Sabedoria ao Senhor.
● O autor do livro da Sabedoria escreve a oração que Salomão teria feito então (Cf Sab 9,1-18).
● O objectivo do autor é duplo: por um lado, dirige-se aos seus compatriotas, mergulhados no
paganismo, na idolatria e na imoralidade, e mostra-lhes as vantagens de perseverar na fé e de viver
na justiça; por outro lado, dirige-se aos pagãos e apresenta-lhes a superioridade da fé e dos valores
israelitas. O autor exprime-se em termos e concepções do mundo helénico (como por exemplo um
certo dualismo corpo/alma), esforçando-se por exprimir a sua fé e as suas convicções numa
linguagem actualizada, erudita, bem ao gosto da cultura grega da época.
O autor coloca na boca de um rei (Salomão, embora o nome nunca seja referido explicitamente) o
elogio da “sabedoria” (Sab 6, 22-25; Sab 7-9). Salomão, filho de David, foi o rei sábio por
excelência, cuja sabedoria não lhe veio por nascimento, mas por tê-la considerado superior a todos
os bens, pediu-a e obteve-a de Deus. Esta sabedoria confunde-se com o conhecimento e com o amor
de Deus, mas distingue-se da ciência humana. O sábio rei Salomão possuía boas qualidades
naturais, mas só isso não bastava, teve de pedir a Sabedoria a Deus (Sab. 8, 19-21).
● A questão fundamental desta oração é esta: só essa sabedoria que é um dom de Deus permite ao
homem compreender tudo, fazer o que agrada a Deus e ser salvo.
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O autor parte da constatação da nossa finitude, das nossas limitações, das nossas dificuldades típicas
de seres humanos, para concluir: por nós, não conseguimos compreender o alcance das coisas, não
conseguimos descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida, apercebermo-nos dos valores que nos
levam, verdadeiramente, pelo caminho da vida e da felicidade. Como chegar, portanto, a “conhecer
os desígnios de Deus”?
O autor só encontra uma resposta: o homem tem de acolher a “sabedoria”, dom de Deus para todos
aqueles que estão interessados em dar um verdadeiro sentido à sua vida. Só a acção de Deus que
derrama sobre os homens a “sabedoria” permite encontrar o sentido da vida e discernir o verdadeiro
do falso, o importante do inútil.
Sabedoria 6-9 é um elogio que o autor faz à sabedoria como meio indispensável para que os reis e
governantes da terra implantem a justiça com equidade. Adquirir sabedoria não é uma tarefa
intelectual ou teórica, mas um dom de Deus para a vida.
● A Sabedoria é pedida ao Deus dos nossos pais, que tem uma aliança connosco, uma história de
Salvação, o Senhor da misericórdia, que é fiel e perdoa ao seu povo, o Deus criador que me chamou
à existência.
Deus chama o homem a governar com santidade e justiça e a exercer o julgamento com rectidão.
Mas o homem é débil, não pode confiar exclusivamente nos seus pensamentos que são mesquinhos,
hesitantes, incertos. O homem precisa de pedir a sabedoria que vem de Deus sem a qual não seria
nada e não poderia realizar a missão que lhe é confiada, para a qual foi escolhido apesar da sua
debilidade. Uma missão de serviço em favor do povo. Uma missão sagrada, de construir um altar na
cidade. O homem só o pode fazer se a sabedoria o assistir nos seus trabalhos e guiar os seus actos.
● Jesus disse "Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando". Toda a oração está
repassada pelo desejo de agradar a Deus e de realizar a Sua vontade. «A verdadeira marca do
espírito de Deus é servi-lo com paz e contentamento. – Fazei todas as coisas, com um espírito livre
na presença de Deus, com o único desejo de lhe agradar». (Stª Margarida Maria)
Ver vers. 9,10,12: "sabe o que é agradável a teus olhos", "eu conheça aquilo que te é agradável", "as
minhas obras te serão agradáveis".
Isto não é fácil, face ao contínuo cruzamento de perspectivas, de desafios, de teorias, ficamos
confusos e sem saber, tantas vezes, como escolher. Por outro lado, as nossas escolhas acabam,
tantas vezes, por ser condicionadas pelos “media”, pelo politicamente correcto, pela ideologia
dominante, pela moda, pelos valores que a televisão ou as redes sociais impõem, pelas ideias das
pessoas que nos rodeiam, pela filosofia da empresa (que nos paga ao fim do mês…). Será que esses
caminhos que nos são mais ou menos impostos nos conduzem no sentido da vida plena, da
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realização total, da felicidade? Conseguimos manter-nos livres para agradar a Deus? Procuramos ter
e agir de acordo com critérios de sabedoria evangélica?
● Sab 7, 22-27: descreve-se a sabedoria como se de uma pessoa se tratasse. Os seus atributos
acentuam de tal maneira a sua natureza divina que podem aplicar-se ao próprio Deus. O livro da
Sabedoria serviu a S. João e a S. Paulo para falarem do Verbo e do Espírito Santo. Para nós a
Sabedoria é Cristo, Caminho, Verdade e Vida. A Sabedoria é Cristo no mistério pascal.
Para os crentes, o critério que serve para julgar a validade ou a não validade das propostas e apelos
a que está sujeito é o Evangelho, a Sabedoria do Pai revelada em Cristo – embora, muitas vezes, ele
se apresente em absoluta contradição com os valores que a sociedade propõe e impõe. Como é que
eu me situo face a isto? O que é que vale mais, quando tenho de decidir: os valores do Evangelho,
ou as propostas dessa máquina impositiva, limitadora das escolhas pessoais que é a opinião pública?
É a Sabedoria que me conduz?
● Os dons do Espírito Santo (Is 11, 1-2) são múltiplas formas de Deus actuar em nós. O Espírito é
permanentemente enviado. É a graça de Deus ao nosso alcance, habitando em nós. Os dons do
Espírito Santo não são meras inspirações ou uma sensibilidade emotiva, são a força de Deus que, em
cada dia, nos divinizam, são meios para atingir e viver mais plenamente o amor de Deus. É preciso
tomar consciência deles e desenvolvê-los, pô-los em prática na nossa vida, com docilidade e
disponibilidade à acção do Espírito.
● A Sabedoria é um dom contemplativo. É a acção de Deus que nos faz entrar na Sua intimidade. É o
dom que dá a capacidade de verdadeiramente fazer a experiência do encontro pessoal com Deus, de
viver e participar na comunhão do amor de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A fé cessa pela visão, a
esperança pela posse, mas a caridade permanece eternamente. Queremos entrar nessa sabedoria do
Amor.
Estamos já inseridos nesta realidade de íntimos de Deus. Podemos falar de uma experiência de Deus
já agora. Este dom dá o impulso e o gosto para a adoração de Deus, numa oração de união pela
contemplação do Amor.
O sábio experimenta o absoluto de Deus. Constrói a Paz, vive a Felicidade e a Comunhão. A sua vida
moral é mais que uma doutrina ou um dogma, nasce e flui deste encontro de comunhão com Deus,
que gera em nós as boas obras.