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ABSTRACT This article aims to explain historical issues concerning the organization
of basic education in Brazil, especially the latest legislation outlined the current
configuration of this educational level in nine years, with emphasis on aspects related
to the state of Paraná reality. From a historical survey grounded in laws and
documents that guide and direct the elementary school, the text discusses the social
reasons , political and economic changes that may have influenced the decision to
expand this level of education, as well as the registration requirement in the first year
of children aged 6 years old.
Keywords: Elementary Education. History. Legislation.
1 INTRODUÇÃO
Art. 25. O ensino primário tem por fim o desenvolvimento do raciocínio e das
atividades de expressão da criança, e a sua integração no meio físico e
social (BRASIL, 1961).
O ingresso nessa etapa do ensino era obrigatório a partir dos sete anos de
idade completos, como previa o artigo 27 da lei:
Art. 27. O ensino primário é obrigatório a partir dos sete anos e só será
ministrado na língua nacional. Para os que o iniciarem depois dessa idade
poderão ser formadas classes especiais ou cursos supletivos
correspondentes ao seu nível de desenvolvimento (BRASIL, 1961).
Art. 19. Para o ingresso no ensino de 1º grau, deverá o aluno ter a idade
mínima de sete anos (BRASIL, 1971).
que dispõe sobre as diretrizes e bases do nosso sistema educacional até hoje, com
algumas alterações.
A LDB 9394 (BRASIL, 1996), seguindo determinações da Constituição de
1988 em seu artigo 205, prevê a educação como direito de todo cidadão, visando o
desenvolvimento e preparo para a cidadania, incluindo sua qualificação para o
mundo do trabalho. Como dever do Estado e da família, com relação à
obrigatoriedade, tanto a Constituição quanto a LDB estabelecem os mesmos
princípios. A Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu artigo 208 estabelece e
garante o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que não
tiveram acesso na idade própria, como dever do Estado. A LDB 9394 (BRASIL,
1996) dispõe, em seu artigo 4º, Título III, Do Direito à Educação e do Dever de
Educar:
Art. 4º. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele
não tiveram acesso na idade própria; [...] (BRASIL, 1996).
Art. 32º. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório
e gratuito na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão,
mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos
o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (BRASIL,
1996).
Saviani (1997, p. 210) refere-se à LDB 9394 (BRASIL, 1996) como “[...] uma
importante conquista no sentido de se caminhar em direção a um verdadeiro sistema
nacional de educação abrangente e universalizado, isto é, capaz de garantir a plena
escolaridade a toda à população do país”, mas salienta:
Art. 6o. É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a
partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental.
Art. 30.[....]
II – (VETADO)
o
Art. 32 . O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório
e gratuito na escola pública a partir dos seis anos [...].
Art.87.[...]
o
3 [...]
I – matricular todos os educandos a partir dos seis anos de idade, no ensino
fundamental, atendidas as seguintes condições no âmbito de cada sistema de
ensino:
a) plena observância das condições de oferta fixadas por esta Lei, no caso de
todas as redes escolares;
b) atingimento de taxa líquida de escolarização de pelo menos 95% (noventa
e cinco por cento) da faixa etária de sete a catorze anos, no caso das redes
escolares públicas; e
c) não redução média de recursos por aluno do ensino fundamental na
respectiva rede pública, resultante da incorporação dos alunos de seis anos
de idade; [...] (BRASIL, 2005).
Apesar das mudanças no artigo 32, talvez pela rapidez com que tramitou no
congresso, a lei 11.114 (BRASIL, 2005) deixou uma lacuna que causou grandes
conflitos na área educacional. Ao mesmo tempo em que indicava a entrada
obrigatória das crianças aos seis anos de idade no ensino fundamental, foi mantida
a parte do artigo 32 da LDB que definia a duração de 8 anos para o ensino
fundamental obrigatório e gratuito na escola pública. Ou seja, antecipava-se a
entrada da criança, sem com isso assegurar a ela mais um ano de escolarização
obrigatória. Devido a este impasse, logo em seguida o Conselho Nacional de
Educação, em junho de 2005, homologou o Parecer 6/2005, que reexaminou o
Parecer 24/2004, acrescentando a ampliação do ensino fundamental obrigatório
para 9 anos, a partir dos seis anos de idade (BAPTISTA; LIMA, 2013).
Somente com a redação do Parecer 6/2005 é que se esclarece a
obrigatoriedade da matrícula aos seis anos de idade e a duração de 9 anos do
ensino fundamental. Além disso, o Parecer ainda estabelece as condições para que
isso se efetive de forma a garantir uma educação de qualidade para a nova faixa
etária contemplada.
Já no início de 2006, a Lei 11.274 (BRASIL, 2006a), de 6 de fevereiro, fixa em
seu art. 5º, o prazo final para a implementação do ensino fundamental de 9 anos,
aos Municípios, Estados e o Distrito Federal, que teriam até 2010 para efetivar tal
orientação.
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 166
Blumenau, v. 11, n.1, p.159-178, jan./abr. 2016
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p159-178
[...] as crianças são atores sociais que, através das interações sociais,
produzem culturas. As crianças assimilam, mas também interferem no
mundo em que vivem. Para uma criança, tornar-se humana é preciso
tempo, é preciso estar junto, é preciso brincar, e muitas outras coisas que
nosso modelo de escola de ensino fundamental nega, na medida em que
apenas investe nos conteúdos de ensino. Atuamos em nossas escolas com
alunos, não com crianças (BARBOSA et al, 2012, p. 33).
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fundamental poderia estar servindo também a esse propósito. Embora nem todos
declarados, pode-se deduzir que foram muitos os interesses que levaram o
Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Educação Básica a propor e
efetivar a ampliação do ensino fundamental de 9 anos em território nacional.
Craidy e Barbosa (2012) ainda lembram que uma orientação como essa,
assentada na justificativa de melhoria do ensino, precisa ser considerada em seu
contexto. Ou seja, ano pré-eleitoral, em que as medidas rápidas pretenderam
atender às questões estatísticas internacionais, da diminuição do analfabetismo, da
repetência e defasagem entre idade cronológica e ano escolar, sendo um ótimo
marketing de campanha eleitoral, mas uma proposta pouco debatida ou discutida
nos âmbitos competentes para tal.
As razões financeiras também precisam ser consideradas, uma vez que as
crianças de seis anos de idade, antes da ampliação, faziam parte da população sem
fundos financeiros específicos para custear a sua educação, a educação infantil,
pois o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF-
anterior ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
Valorização do Magistério- FUNDEB) era um fundo específico para os alunos até
então matriculados no ensino fundamental. Sendo assim, a ampliação otimizaria os
recursos financeiros de mais uma parte da população, já que o investimento na
matrícula no ensino fundamental das crianças de seis anos resultaria em mais
dinheiro para os municípios, pois os valores destinados estavam relacionados ao
número de alunos atendidos.
Arelaro (2005, p. 1047) comenta sobre essa política e seus desdobramentos:
Uma das maiores dúvidas, que gerou um dos problemas enfrentados pelos
estados na efetivação da ampliação do ensino fundamental de 9 anos, foi com
relação à definição da data de corte para a matrícula das crianças, já que a lei prevê
“[...] matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos de idade no ensino
fundamental” (BRASIL, 2005).
Os Pareceres CNE/CEB n.º 6/2005, n.º 18/2005, n.º 5/2007 e n.º 4/2008
regulamentam a data corte para o ingresso no ensino fundamental como o início do
ano letivo: “Compreenda-se “início do ano letivo” como o primeiro dia de aula do
ano, previsto no calendário escolar do respectivo sistema de ensino” (CNE/CEB nº
22/2009). Segundo Baptista e Lima (2013), o relator do Parecer 5/2007, ao
mencionar a dificuldade de compreensão dessa regulamentação, questiona sobre as
possíveis indefinições referentes à data de corte, insistindo que o texto é claro e não
pode alimentar dúvidas sobre o que significa seis anos completos ou a completar até
o início do ano letivo.
Todos os documentos oficiais expedidos pelo Conselho Nacional de
Educação afirmam e reafirmam que a entrada da criança no ensino fundamental de
9 anos deverá ser feita aos seis anos de idade. Contudo, a flexibilidade, por parte
desse mesmo Conselho, permitindo que nos anos de 2010 e 2011 os sistemas de
ensino matriculassem as crianças com cinco anos de idade no primeiro ano do
ensino fundamental para evitar rupturas no processo educacional das crianças que
porventura já estavam inseridas no nível fundamental, permitiu exceções que
levaram às ações civis públicas, com vistas a tornar legal a matrícula das crianças
no primeiro ano aos cinco anos de idade, independentemente da condição acima
mencionada.
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 170
Blumenau, v. 11, n.1, p.159-178, jan./abr. 2016
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p159-178
1
Mestre em educação e pedagoga formada pela Unicamp. Diretora de Estudos e Pesquisas
do Centro de Estudos Prospectivos de Educação e Cultura. http://www.soniaranha.com.br/
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 171
Blumenau, v. 11, n.1, p.159-178, jan./abr. 2016
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Mesmo sabendo que possuía amparo legal suficiente para fazer valer a
entrada das crianças apenas com seis anos completos ou seis anos a completar no
início do ano letivo como prevê a LDB 9394 (BRASIL, 1996), o Estado do Paraná
cedeu à pressão imposta pelas escolas, como fica claro no depoimento emitido, pelo
Presidente do CEE (PARANÁ, 2008), Romeu Gomes de Miranda, em nota de
esclarecimento de 12 de novembro de 2008:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS