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A figura do agente
CADERNOS DE SEGURO
na atividade de seguro
Diversas são as Na operação de seguro, contudo, entre consumidor de seguro e se-
tal figura tem significado todo pró- guradora, percebendo-se, de logo,
maneiras, sentidos, prio e peculiar, podendo de pronto uma diferença marcante entre um
formas e expressões se afirmar que em nada se con- e outro. O agente, de um lado, é o
funde com a do CORRETOR, cada vendedor representante do segu-
pelas quais pode ser qual com a sua função específi- rador – tanto que a comerciali-
entendida e designada ca. Ambos, no entanto, exercendo zação de seguro realizada por ele
importante papel na atividade de é considerada como venda direta,
a figura do AGENTE. seguros e que, como profissionais a que alude o artigo 18 da Lei nº
tradicionais desse mercado, sem- 4.594/64, por isso não haveria
Multifários podem ser os significa- pre contribuíram, contribuem e dupla intermediação se a venda
dos e denominações desse termo ainda podem contribuir para o seu ocorresse com a intermediação
polissêmico por natureza: agente desenvolvimento, razão pela qual do corretor junto ao agente, posto
comercial, agente consular, agen- podem e devem coexistir e convi- não ser este intermediário e por
te diplomático, de polícia, de cri- ver em perfeita harmonia. estarem em polos distintos. De
me, etc. Quando empregado como outro lado está o corretor, inter-
Com o advento do Código Civil de
“agência”, terá sempre o sentido mediário comprador e represen-
2002, a função do agente de se-
de dependência de estabeleci- tante do segurado, fazendo deste
guros ficou claramente delineada,
mento comercial localizada fora um consumidor diferenciado, eis
reforçando a diferença que o se-
da sede e a esta subordinada. Nos que, por poder contar com um re-
para do corretor de seguros, pelo
primeiros exemplos, aquele que presentante assessor e conhece-
que se depreende da simples leitu-
age como representante ou em dor de seguro, não tem a mesma
ra do seu artigo 775, in literis: “Os
função de determinada atividade, hipossuficiência ou vulnerabilidade
agentes autorizados do segurador
enquanto, no último, no sentido de técnica dos consumidores em ge-
presumem-se seus representan-
direito penal, o autor de um deli- ral, já que sempre contará com a
tes para todos os atos relativos
to. No direito civil costuma-se di-
aos contratos que agenciarem.” assessoria técnica do seu corretor,
zer da pessoa incumbida de cuidar
profissional avaliado, aprovado em
de negócios ou interesses alheios, Pode-se inferir que, enquanto o
cursos especializados e habilitado
ou pessoa que pratica ato jurídico, agente de seguros atua no mer-
pela SUSEP. Por isso, emprega ele
tendo responsabilidade por ele. No cado representando o segurador,
tal conhecimento técnico especia-
direito administrativo, aquele que vendendo seguro, o corretor de
lizado em prol do segurado desde
exerce função pública, ou está en- seguros, sem perder a caracte-
a fase pré-contratual, na conclu-
carregado de uma delegação pú- rística de intermediário, atua no
são do contrato, na sua vigência e
blica. No direito comercial, aquele mercado representando o segura-
na sua execução, auxiliando-o na
que é encarregado da gerência, do, comprando seguro, buscando
regulação e liquidação do sinistro.
direção ou administração de uma entre as diversas seguradoras o
empresa. Em medicina legal, a “produto” que melhor convenha O agente de seguros não é inter-
força ou substância mórbida ou aos interesses de seu cliente – o mediário mesmo, tanto que po-
curativa capaz de agir sobre o or- segurado –, daí se estabelecen- derá recepcionar a proposta de
ganismo humano. Enfim... do uma relação mais equilibrada seguro assinada e encaminhada
pelo próprio corretor (artigo 13
da mesma lei), ambos, portanto,
coexistindo em polos distintos. Se
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a venda é realizada sem corre-
tor, a proposta recepcionada pelo
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agente caracteriza venda direta.
Senão, vejamos: “Art. 18. As so-
ciedades de seguros, por suas ma-
trizes, filiais, sucursais, agências
ou representantes, só poderão
receber proposta de contrato de
seguros: a) por intermédio de
corretor de seguros devidamen-
te habilitado; b) diretamente dos
proponentes ou seus legítimos
representantes” (o grifo não é do
original, por isso intencional).
É claro que anomalias existem,
como em toda atividade, não sen-
do demasiado lembrar que o cor-
retor de seguros que acaso exerça
a sua atividade sem autonomia,
com subordinação e exclusividade
(alguns chegando a usar a mesma
logomarca, o mesmo endereço e
telefone da seguradora), não será Código Civil, mas que, ao contrário Vale insistir, em reforço da de-
em verdade um corretor de se- dos corretores de seguros, agem monstração das diferenças entre
guros da maneira como concebido em nome das seguradoras. agente e corretor e da possibilida-
pela legislação que o criou, mas de de convivência harmônica entre
Consoante a regulamentação em
sim um agente da seguradora e, essas duas entidades. Guardadas
vigor, denomina-se representante
como tal, seu representante. suas devidas características, o se-
ou representação, ou agente, como
Quanto aos erros e omissões do gurado é como que comitente do
queiram, geralmente pessoa jurídi-
corretor, este que se torna co-
agente de seguros, responderá por ca para escapar da vinculação em-
missário daquele, na medida em
eles, ainda que solidariamente, o pregatícia com a seguradora, a cujo
que a comissão de corretagem é
segurador. Já os erros e omissões responsável são outorgados certos
o preço não só da intermediação
do corretor de seguros propiciarão poderes ditados pela norma.
como também da assessoria téc-
ao segurado prejudicado o devido
Escreveu Pedro Alvim, ao comentar nica e comercial que o corretor lhe
direito de reparação, com a prote-
o citado artigo 775 do Código Civil, presta na representação de seus
ção, inclusive, do Código de Defesa
ainda na sua forma embrionária de interesses perante o segurador,
do Consumidor – CDC.
projeto de lei, que “agente autori- eis que a comissão de corretagem
O Sistema de Seguros Privados zado não é o corretor de seguros integra a tarifa do prêmio devido
Brasileiro conhece de há muito as que faz a intermediação entre as pelo segurado. A legislação que re-
figuras do agente e do represen- partes contratantes, pois não é gula a atividade do corretor de se-
tante, que são produtores externos funcionário do segurador. Exerce guros é clara ao estabelecer essa
das seguradoras regulamentados uma profissão independente dos relação, tanto que dá ao corretor
pelo CNP e pela SUSEP, com dese- interessados. Agentes autorizados o poder de assinar a proposta de
nhos semelhantes aos do agente de são as agências externas, sucursais seguro, não havendo nada mais
que tratam os artigos 710 a 721 do ou dependências do segurador”. eloquente para demonstrar essa
Ponto e contraponto
representação, já que é na propos- pode ser explicada: a uma, pelo conforme artigo 1º da Lei 4.594/64
ta que constarão as informações fato de o termo agenciador guar- (“[...] Intermediário autorizado a
e declarações necessárias para a dar relação semântica com a pala- angariar e a promover contrato de
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aceitação do risco pelo segurador, vra agente, passando a impressão seguro entre...”).
inclusive para os efeitos do art. de que agenciador é o mesmo que
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pensar o corretor, só para não se
rantia (CC art. 757). Na segunda, o ção, ou seja, venda de produtos ou
onerar com o custo da intermedia-
serviço consumido, multifacetado, prestação de serviços diretamente
ção, deve ser advertido de que des-
é o de intermediação, angariação entre consumidor e fornecedor,
se custo não se livrará totalmen-
e promoção do seguro, e mais o sem intermediários, como, ali-
te, considerando que, conquanto
de assessoramento técnico e de ás, admite a lei que regula a ati-
não obrigatória a intermediação,
representação fornecido pelo cor- vidade de corretagem de seguro
obrigatória será a corretagem, re-
retor ao segurado, cuja remune- (Lei 4.594/64, arts. 18/19).
passada para a Fundação Escola
ração se denomina comissão de Todavia, consta do dispositivo do Nacional de Seguros – Funenseg,
corretagem, por isso o corretor CDC a ressalva da regulação por nos termos da lei especial (Lei
que der causa a prejuízos ao segu- leis especiais (e a corretagem de 4.594/64, art. 19), admitida na
rado como consumidor responderá seguro é regulada por lei especial), ressalva do indicado inciso IX do
autônoma e independentemente sabido mais que a intermediação é art. 39 do CDC. Para o consumidor,
da responsabilidade da seguradora praxe na comercialização de segu- melhor seria pagar para ter o cor-
(DL 73/66, arts. 126 e 127), cuja ros, embora se admita a contra- retor do que pagar para não tê-lo,
independência das relações de tação direta. Portanto, não veria considerando que poderá usufruir
consumo afasta a responsabilida- como abusiva a prática, mais que dos serviços que o mesmo está
de solidária de um para com o ou- consagrada pelo costume e pelas obrigado a prestar ao segurado,
tro. Se o corretor for pessoa física, leis especiais, de recusa de oferta desde a pré-contratação (propos-
a sua responsabilidade dependerá pelo segurador em face da nature- ta) até a execução do contrato de
da apuração de culpa (responsabi- za própria do contrato de seguro, seguro (liquidação de sinistro).
lidade civil subjetiva), mas se for considerando, ademais, que o cor-
O dispositivo citado do CDC, por
pessoa jurídica, sua responsabi- retor de seguros supre a suposta
certo, não alcança o agente, pos-
lidade será objetiva, embora não vulnerabilidade técnica do segura-
to não ser este, como dito, inter-
se trate de uma responsabilidade do como consumidor, representan-
mediário, nos termos, inclusive,
objetiva pura. Em outro giro, o se- do-o e assessorando-o perante o
do artigo 18 da Lei nº 4.594/64
gurador responderá pelos danos segurador nessa complexa opera-
alhures transcrito.
ao segurado a que o agente de se- ção chamada seguro.
guros der causa. Só resta finalizar lembrando que
Não seria abusa também porque
se encontra para debate em audi-
Cabe daí indagar se haveria abu- o segurador não estaria obrigado
ência pública minuta de Resolução
sividade na prática de se realizar a aceitar a proposta sem o cor-
do CNSP, a esta altura de todos
contrato de seguro sem a inter- retor, considerando que na dicção
conhecida, com vistas a regula-
mediação do corretor. Para res- do artigo 18 da Lei 4.594/64 duas
mentar a atuação do AGENTE DE
ponder, vale transcrever o citado opções são estabelecidas, a juí- SEGUROS, esperando que o bom
art. 39, inciso IX: “Art. 39 - É ve- zo do segurador (como gestor da senso ilumine o “legislador infra-
dado ao fornecedor de produtos mutualidade e sujeito da oração) legal”, de modo que, ouvindo am-
ou serviços, dentre outras práti- para aceitação de uma proposta plamente os setores interessados,
cas abusivas: [...] IX - recusar a de seguro, com ou sem corretor, possa editar uma norma de van-
venda de bens ou prestação de tratando-se, portanto, de uma guarda e que concilie o interesse
serviços, diretamente a quem se faculdade segundo a sua políti- do mercado como um todo.
disponha a adquiri-los median- ca de aceitação. O tema, porém,
te pronto pagamento, ressalva- não estaria livre de interpretação
dos os casos de intermediação oposta, considerando-se a ideia Ricardo Bechara Santos
regulados em leis específicas...” de ser o corretor um represen- Advogado e consultor especializado
(os grifos não são do original). tante do segurado e, daí, não ser em direito de seguro.