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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Curso de Engenharia Civil

Amanda Mariana de Souza


Dalvana Carla Paiva Rocha
Débora Medeiros Estevam de Oliveira Coelho
Gabriel Ferreira da Silva
Halyne Thamara Lopes
Isabella Murça Cardoso
Luísa Rodrigues Guimarães

PROBLEMAS GEÓTECNICOS RELACIONADOS A ÁREAS DE RISCO:


Estabilização de Encosta no Bairro Olinda - Município de Contagem - MG

Belo Horizonte
2017
Amanda Mariana de Souza
Dalvana Carla Paiva Rocha
Débora Medeiros Estevam de Oliveira Coelho
Gabriel Ferreira da Silva
Halyne Thamara Lopes
Isabella Murça Cardoso
Luísa Rodrigues Guimarães

PROBLEMAS GEÓTECNICOS RELACIONADOS A ÁREAS DE RISCO:


Estabilização de Encosta no Bairro Olinda - Município de Contagem - MG

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Engenharia Civil da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de bacharel
em Engenharia Civil.

Orientador: Me. Prof. Walter Duarte Costa Filho


Área de Concentração: Geotecnia

Belo Horizonte
2017
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todas as pessoas que colaboraram para a realização deste trabalho. Em


especial, ao nosso orientador Walter Duarte, que foi atencioso e prestativo durante todo
desenvolvimento. Agradecemos também a equipe da Defesa Civil de Contagem, por todo o
apoio e orientação, e a empresa Maccaferri pelo suporte técnico.
RESUMO

Com a ocupação das encostas, que vem ocorrendo nos últimos tempos, intensificou o
desenvolvimento de situações de risco para a população ali edificada . As obras de
contenções são as mais indicadas para essas situações, sendo que as mais comuns são muros
de arrimo à gravidade e à flexão. A função dos muros é conter o maciço de solo, em um
talude de corte ou aterro. Os gabiões fazem parte dos muros de arrimo à gravidade e são
constituídos por elementos metálicos confeccionados com telas e preenchidos por pedras.
Para aplicabilidade de técnicas e conceitos de contenções foi realizado um estudo no
Município de Contagem, com investigação de áreas de risco para a comunidade do bairro
Olinda, localizado às margens do córrego, conhecido popularmente como “Maracanã”. No
entorno desse córrego existem várias residências sujeitas a risco de “desabamento”. Foram
realizados estudos geotécnicos no local e, com o apoio da Defesa Civil de Contagem, foi
possível chegar à conclusão que o gabião tipo caixa é uma possível alternativa de contenção,
tendo em vista suas características geotécnicas e estruturais. Para realizar o dimensionamento
da estrutura do gabião foi disponibilizado, pela empresa Maccaferri, o acesso ao software
Gawacwin, que, a partir de dados gerais inseridos, apresenta resultados suficientes e
satisfatórios para a estrutura a ser instalada no local.

Palavras-chave: Áreas de risco; Contenção; Dimensionamento. Gabião.


ABSTRACT

With the occupation of the slopes that has been occuring in recent times, intensified the
development of risk situations for the population built there. The containment are the most
suitable for these situations, and the most common are gravity and bending walls, whose
function is to carry out the containment of a mass of soil, whether on a slope or landfill. The
gabions are part of the gravity walls and are made up of metallic elements made of fabrics and
filled with stones. For the applicability of techniques and concepts of contention, a study was
carried ou in the Municipality of Contagem, investigating risk areas for the Olinda
neighborhood community, located on the banks of the stream, popularly known as
“Maracanã”. In the surroundings of this stream there are several residences subject to risk of
“colapse”. Geotechnical studies were carried out at the site and with the support of the Civil
Counting Defense, allowing the conclusion that the box type gabion would be a possible
alternative of containment due to its geotechnical and structural characteristics. In order to
carry out the sizing of the gabion structure, the Gawacwin software was made available by the
company Maccaferri, which through general data entered, obtained satisfactory results for the
structure to be installed in the place.

Key words: Areas of risk; containment; sizing; Gabion.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Construção em encostas acentuadas .................................................................... 16


Figura 2: Escorregamento Circular ou Rotacional ............................................................. 20
Figura 3: Escorregamento Planar ou Translacional ........................................................... 21
Figura 4: Escorregamento em cunha .................................................................................... 21
Figura 5: Estrutura Geral de um Sistema de Informação Geográfica .............................. 23
Figura 6: Modelo Vetorial ..................................................................................................... 25
Figura 7: Modelo Raster ........................................................................................................ 25
Figura 9: Órgãos Públicos x Centros de Pesquisas ............................................................. 27
Figura 10: Muro de gabiões com degraus externos e internos ........................................... 29
Figura 11: Muro de gabião em blocos .................................................................................. 29
Figura 12: Perfil do muro de concreto ciclópico .................................................................. 30
Figura 13: Muro de concreto ciclópico ................................................................................. 31
Figura 14: Muro de arrimo à Flexão .................................................................................... 32
Figura 15: Cortina Ancorada ................................................................................................ 33
Figura 16: Muro de Arrimo com Contrafortes.................................................................... 34
Figura 17: Retangulão ............................................................................................................ 36
Figura 18: Perfil de uma encosta retaludada ....................................................................... 37
Figura 19: Revestimento Cimentado .................................................................................... 41
Figura 20: Revestimento com Geomanta e Gramíneas....................................................... 42
Figura 21: Revestimento com Geomanta e Gramíneas....................................................... 42
Figura 22: Revestimento com Géocelulas............................................................................. 43
Figura 23: Revestimento com Tela Argamassada ............................................................... 44
Figura 24: Revestimento com Pedra de Face ....................................................................... 45
Figura 25: Revestimento com Lajotas .................................................................................. 46
Figura 26: Revestimento com Alvenaria Armada ............................................................... 47
Figura 27: Revestimento com Asfalto ................................................................................... 48
Figura 28: Revestimento com Lonas Sintéticas ................................................................... 48
Figura 29: Estabilização de Blocos ....................................................................................... 49
Figura 30: Retenção com Tela Metálica ............................................................................... 50
Figura 31: Remoção e Desmonte de Rochas Fraturadas .................................................... 51
Figura 32: Bairro Olinda ....................................................................................................... 53
Figura 33: Localização da residência contemplada no estudo de caso .............................. 54
Figura 34: Residência contemplada no estudo de caso ....................................................... 54
Figura 35: Trincas da Casa Analisada ................................................................................. 55
Figura 36: Córrego Maracanã e seus contribuintes ............................................................ 56
Figura 37: Impactos gerados pela ocupação ........................................................................ 57
Figura 38: Assoreamento do córrego .................................................................................... 58
Figura 39: Gabião Tipo Caixa ............................................................................................... 60
Figura 40: Gabião Tipo Saco ................................................................................................. 60
Figura 41: Colchão Reno ....................................................................................................... 61
Figura 42: Embalagem do Gabião ........................................................................................ 64
Figura 43: Montagem Gabião ............................................................................................... 65
Figura 44: Montagem Gabião ............................................................................................... 65
Figura 45: Colocação do Gabião ........................................................................................... 66
Figura 46: Enchimento Gabião ............................................................................................. 67
Figura 47: Atirantamento Gabião ........................................................................................ 68
Figura 48: Fechamento Gabião ............................................................................................. 68
Figura 49: Dados gerais sobre o muro .................................................................................. 69
Figura 50: Dados sobre as camadas do muro ...................................................................... 71
Figura 51: Dimensões do muro de gabião ............................................................................ 71
Figura 52: Resultado da segunda etapa................................................................................ 72
Figura 53: Dados sobre a fundação ...................................................................................... 73
Figura 54: Resultado da terceira etapa ................................................................................ 75
Figura 55: Dados sobre o terrapleno .................................................................................... 75
Figura 56: Resultado da quarta etapa .................................................................................. 76
Figura 57: Cargas sobre o terrapleno ................................................................................... 77
Figura 58: Resultado da quinta etapa .................................................................................. 77
Figura 59: Resultado final ..................................................................................................... 78
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Parâmetros médios do solo.................................................................................. 74


Quadro 2: Coeficientes de Segurança ................................................................................... 78
Quadro 3: Custos muro de gabião ........................................................................................ 80
Quadro 4: Custo com dados fornecidos pela Maccaferri ................................................... 81
Quadro 5: Custo com dados obtidos da tabela de SOUZA ................................................ 82
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classificação dos movimentos de massa .............................................................. 18


Tabela 2: Dimensões padrões dos gabiões tipo caixa .......................................................... 62
Tabela 3: Fatores de Segurança Mínimo.............................................................................. 79
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
1.2 Objetivo Específico ....................................................................................................... 13
1.3 Justificativa.................................................................................................................... 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 15
2.1 Áreas de risco geológico ............................................................................................... 15
2.1.1 Áreas de Risco Geológico no Brasil ....................................................................... 16
2.1.2 Áreas de Risco Geológico em Contagem - MG ...................................................... 17
2.2 Principais Causas das Áreas de Riscos Geológicos .................................................... 17
2.3 Mapeamentos das Áreas de Risco ............................................................................... 22
2.3.1 Sistema de Informação Geográfica (SIG) .............................................................. 23
2.3.2 Órgãos Públicos....................................................................................................... 26
2.4 Estabilização das áreas de risco ................................................................................... 27
2.4.1 Histórico................................................................................................................... 27
2.4.2 Muros de Gravidade ................................................................................................ 28
2.4.3 Muro de Gabião ....................................................................................................... 28
2.4.4 Muros de Concreto Ciclópico ................................................................................. 30
2.4.5 Muro de Arrimo à Flexão ....................................................................................... 31
2.4.6 Muros de arrimo atirantados .................................................................................. 32
2.4.7 Cortinas Ancoradas ................................................................................................. 32
2.4.8 Muros de arrimo com contrafortes ......................................................................... 34
2.4.9 Retangulão ............................................................................................................... 35
2.4.10 Estabilização das Encostas ................................................................................... 36
2.4.11 Relações da moradia com os taludes de corte e aterro ........................................ 37
2.4.12 Drenagem............................................................................................................... 37
2.4.13 Obras de Proteção Superficial .............................................................................. 38
2.4.14 Estabilização de blocos.......................................................................................... 49
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 52
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA .......................................................................... 53
4.1 Contexto Local .............................................................................................................. 53
4.2 Escolha do tipo de Contenção ...................................................................................... 56
4.2.1 Vantagens do Gabião .............................................................................................. 59
4.2.2 Desvantagens do Gabião ......................................................................................... 59
4.2.3 Tipos de Gabião ....................................................................................................... 59
4.2.4 Aspectos de Durabilidade e Vida Útil em Gabião Caixa ....................................... 61
4.2.6 Processo de Execução do Gabião ........................................................................... 64
5 DIMENSIONAMENTO DO GABIÃO ATRAVÉS DO SOFTWARE GAWACWIN . 69
5.1 Primeira etapa: Dados gerais sobre o muro de gabião.............................................. 69
5.2 Segunda etapa: dados sobre as camadas do muro ..................................................... 70
5.3 Terceira etapa: dados sobre o solo de fundação ........................................................ 73
5.4 Quarta etapa: dados sobre o terrapleno ..................................................................... 75
5.5 Quinta etapa: cargas sobre o terrapleno. ................................................................... 76
6 LEVANTAMENTO DE CUSTOS DA ESTRUTURA DE GABIÃO ............................. 80
6.1 Considerações de cálculo .............................................................................................. 80
6.2 Resultados obtidos ........................................................................................................ 81
7 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 85
APÊNDICE A – Entrevista com os moradores do Bairro Olinda – Contagem................ 88
ANEXO A – Resultados do software GawacWin ................................................................ 90
12

1 INTRODUÇÃO

A Revolução Industrial, em meados do século XVIII, provocou a aceleração do


processo de urbanização e a migração da população rural, em busca de melhores condições de
vida, para as áreas urbanas. No entanto, as cidades não foram planejadas para receber o esse
contingente populacional e a carência de infraestrutura necessária fez com que a população
menos favorecida começasse a ocupar regiões propensas a deslizamentos consideradas como
áreas de risco geológico. Atualmente, com o grande número de pessoas nas cidades e a falta
de moradias adequadas, são muitas as famílias que vivem nessas áreas.
O monitoramento dessas áreas é realizado por órgãos públicos que utilizam dados de
institutos de meteorologia, análises de risco, mapeamentos geológico-geotécnicos e
hidrológicos, os quais alertam sobre os riscos. A realização do mapeamento é elaborada
através de sistema de informação geográfica que, alimentado com os devidos dados do local,
é capaz de identificar as áreas mais propicias a desastres.
O presente trabalho, com o auxílio da Defesa Civil de Contagem, que mapeia e
monitora as áreas de risco desse município, identificou a área no entorno do Córrego
Maracanã, localizada no bairro Olinda, como sendo a mais crítica da região e, a partir disso,
realizou um estudo em busca de soluções adequadas para essa área a fim de minimizar os
riscos para as famílias daquela região.
No entanto, é possível afirmar, a partir dos parâmetros técnicos analisados, que a
utilização do gabião, como estrutura de contenção, é uma boa opção para estabilizar a encosta
do bairro Olinda?
13

1.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste estudo é propor a solução mais adequada para conter e
estabilizar uma encosta da área no entorno do Córrego Maracanã, no bairro Olinda, Município
de Contagem/MG.

1.2 Objetivo Específico

a) Contextualizar áreas de riscos geológicos;


b) Identificar as principais causas dos acidentes geológicos em áreas de risco;
c) Identificar os principais programas utilizados para realização do mapeamento das
áreas de risco;
d) Propor soluções para a área no entorno do Córrego Maracanã, através do levantamento
das estabilizações de encostas e contenções mais utilizadas para esse fim.

1.3 Justificativa

A identificação das áreas de riscos geológicos tem se tornado cada vez mais importante,
dado o prejuízo que os acidentes têm gerado ao meio ambiente e à vida humana. Vários
fatores contribuem para a instabilidade de taludes, sendo que o mais frequente ocorre em
períodos chuvosos, ocasião em que o solo fica saturado devido à infiltração de água que
sobrecarrega a encosta, favorecendo os vários tipos de movimentação de solo. Outro fator
importante é a ocupação urbana nas encostas. Pessoas que, por falta de opção, se instalam
nessas áreas, retirando a vegetação e desfavorecendo o solo. Cortes nos taludes sem o devido
acompanhamento comprometem vidas humanas.
O solo possui grande resistência a fatores climáticos, mas quando começa a sofrer
sobrecargas e processos erosivos a sua estrutura tende a romper, desestabilizando o talude
podendo ocorrer diversos movimentos de massa. É necessário fazer mapeamento nessas áreas
de riscos através de softwares, que possuam alta capacidade e qualidade para fazer o devido
acompanhamento e monitoramento.
14

É necessário propor medidas preventivas a fim de minimizar a ocorrência de movimentação


de massa. A forma mais adequada e utilizada para estabilizar a encosta é através de estruturas
de contenção e proteção superficial, natural ou artificial, junto a estruturas de microdrenagem.
Assim, com as informações adquiridas no presente trabalho, pretende-se contribuir
para a comunidade acadêmica, vez que são necessários estudos que norteiem as ações em
locais propensos à movimentação de massa visando à diminuição dos danos causados.
15

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Áreas de risco geológico

No século XVIII a revolução industrial intensificou o processo de urbanização. Um


dos seus efeitos foi o êxodo rural, onde os camponeses, em busca de uma melhor condição de
vida, migraram do campo para a zona urbana. Contudo, as cidades não possuíam
infraestrutura suficiente para atender a demanda populacional, levando as pessoas de baixo
poder aquisitivo a utilizar e a ocupar as áreas ociosas.
O crescimento desordenado das cidades desencadeou a construção de moradias em
áreas impróprias à ocupação. Esse cenário implicou em aumento das situações de riscos a
desastres ambientais que, segundo Paula (2011), podem ser provocados por diversos
fenômenos naturais, tais como inundações, escorregamentos, erosão, terremotos, tempestades,
entre outros.
Quando há a ocorrência de um processo que envolve solo e/ou rocha acarretando
consequências ao homem ou as suas propriedades pode ser considerada como acidente
geológico. Diante desse conceito, pode-se definir que risco geológico corresponde a uma
potencialidade de ocorrência de um acidente, ou seja, situação na qual a possibilidade de
ocorrência de um processo geológico indica a possibilidade de registro de consequência social
e/ou econômica caso o evento perigoso ocorra (PAULA, 2011).
A magnitude dos riscos geológicos é classificada, de acordo com o Ministério do Meio
Ambiente (2004), em função das atividades potencialmente impactantes, do grau de
vulnerabilidade dos sítios, do histórico de ocorrência de acidentes no local e da capacidade de
resposta de atendimento a acidentes ambientais. O grau de risco geológico é considerado alto
quando há possibilidade de comprometimento da vida humana, médio quando há
possibilidade de comprometimento dos ambientes naturais e baixo quando há
comprometimento às atividades econômicas.
Com base nos conceitos citados acima, o Ministério do Meio Ambiente (2004) definiu
as áreas de riscos geológicos como áreas com risco de ocorrência de acidentes ambientais,
cujos potenciais danos diretos ou indiretos à saúde humana, ao meio ambiente ou a outro bem
a proteger estão relacionados com as atividades potencialmente impactantes e com a
vulnerabilidade dos locais frágeis associados.
Portanto, são considerados exemplos de áreas de risco geológico: as construções em
encostas acentuadas, como exemplificado na Figura 1; em margens de cursos d’água, sob
16

cortes e aterros executados de forma inadequada; em lugares onde a movimentação do solo é


acelerada, devido à existência de aterros sanitários que não controlam a infiltração do
chorume e onde esgotos são lançados diretamente na natureza, sem quaisquer tratamentos.

Figura 1: Construção em encostas acentuadas

Fonte: Fórum da Construção (201-).

2.1.1 Áreas de Risco Geológico no Brasil

No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE


(2016), desde 1960 o fenômeno da urbanização se intensificou e assumiu, ao longo dos anos,
formas cada vez mais complexas.
Nas últimas décadas, o forte crescimento da atividade turística no país e da indústria
de construção civil, acelerou o processo de adensamento populacional. A expansão das
cidades e o agravamento da crise econômica têm reduzido as alternativas habitacionais da
população de baixa renda, levando-a a ocupar áreas geologicamente desfavoráveis.
Nesses assentamentos precários, a ausência de planejamento de infraestrutura
(drenagem, pavimentação, saneamento) e de serviços urbanos (coleta de lixo, redes elétricas e
hidráulicas) contribuem para o frequente registro das situações de risco. (FILHO e CORTEZ,
2010).
Um dos principais fenômenos relacionados aos desastres naturais no Brasil, de acordo
com Paula (2011), são os escorregamentos em encostas que, associados aos eventos
pluviométricos intensos e prolongados, geram o maior número de vítimas fatais. As regiões
17

de maior ocorrência desses desastres no país, conforme Filho e Cortez (2010), são as regiões
metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte.

2.1.2 Áreas de Risco Geológico em Contagem - MG

O Município de Contagem está localizado na região metropolitana de Belo Horizonte


e tem suas áreas de risco geológico diagnosticadas pela Defesa Civil Municipal. O
diagnóstico localiza, mapeia e delimita os lugares em cada comunidade que apresenta
situações instáveis.
A fim de se aprimorar o serviço, o órgão divide a cidade de Contagem em regionais e
cada uma se responsabiliza por sua região. Cabe a Coordenadoria da Defesa Civil promover a
criação e a interligação dessas regionais, incrementando as atividades de monitoramento,
alerta e alarme, com o objetivo de otimizar a previsão de desastres.
As famílias identificadas pela Defesa Civil como desabrigadas ou em situação de risco
iminente, que tenham sido removidas de áreas de risco sem condições de retorno, são
direcionadas ao programa Bolsa-Moradia, que procura impedir o retorno das pessoas para as
áreas de risco, através de um auxilio aluguel, permitindo a retomada mais rápida da rotina
familiar do beneficiado.

2.2 Principais Causas das Áreas de Riscos Geológicos

Os movimentos de massa, provocados por fenômenos naturais, podem ser definidos


como movimentos gravitacionais de sedimentos, solos e/ou blocos de rochas. Esses são
oriundos da instabilidade de encostas ou terrenos inclinados.
O processo do movimento de massa pode ser acelerado por ações antrópicas. Áreas já
susceptíveis a esse tipo de movimento têm seu processo natural acelerado e intensificado
devido à sua ocupação. Segundo Paula (2011), as principais modificações originárias das
interferências antrópicas que induzem os movimentos de massa têm relação com: a remoção
de cobertura vegetal; a execução de cortes e aterros inadequados; a saturação do solo por meio
do lançamento e concentração de águas pluviais e servidas; vazamentos na rede de
abastecimento e esgoto; a presença de fossas; o lançamento de lixo nas encostas e talude; e o
cultivo inadequado do solo, entre outros.
Os movimentos de massa foram classificados por Augusto Filho (apud IDE) conforme
Tabela 1.
18

Tabela 1: Classificação dos movimentos de massa


PROCESSOS CARACTERÍSTICA DO MOVIMENTO DE MASSA

RASTEJO  Vários planos de deslocamento (internos);


 Velocidades baixas (cm/ano);
 Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes;
 Solos, depósitos, rocha alterada e/ou fraturada;
 Geometria indefinida.

QUEDAS  Sem planos de deslocamento;


 Queda livre ou rolamento através de plano inclinado;
 Velocidades muito altas (vários m/s);
 Material rochoso;
 Pequenos e médios volumes;
 Geometria variável: lascas, placas, blocos etc.

CORRIDAS  Muitas superfícies de deslocamento;


 Movimento semelhante ao de um líquido viscoso;
 Desenvolvimento ao longo das drenagens;
 Velocidades médias e altas;
 Mobilização de solo, rochas, detritos e água;
 Grandes volumes de material;
 Extenso raio de alcance.

ESCORREGAMENTOS  Poucos planos de deslocamento;


 Velocidades médias (m/h) e altas (m/s);
 Pequenos a grandes volumes de material;
 Geometria e materiais variáveis.

Fonte: Modificado de IDE (2005).

O rastejo é um tipo de movimento de massa, caracterizado por Tominaga, Santoro e


Amaral (2009), que apresenta um movimento contínuo e com baixa velocidade de material de
encostas, sem possuir uma superfície de ruptura definida. Ainda segundo os mesmos autores a
causa para o rastejo é a ação da gravidade em conjunto com efeitos de variações de
temperatura e umidade.
19

As quedas geralmente estão associadas a blocos em queda livre, sem uma superfície de
ruptura definida. Para os mesmos autores, esse tipo de movimento pode ser causado por
saltação, rolamento dos blocos e fragmentação no impacto com o substrato.
As corridas são definidas, segundo os autores citados anteriormente, como “formas
rápidas de escoamento de caráter essencialmente hidrodinâmico, ocasionadas pela perda de
atrito interno das partículas do solo, em virtude da destruição de sua estrutura interna, na
presença de excesso de água”. Possui alta velocidade de deslocamento e sua principal causa é
derivada do aporte de materiais como solo, rocha e árvores.
Os escorregamentos (ou deslizamentos) fazem parte do processo evolutivo natural da
geometria de uma encosta. Ainda, segundo os mesmos autores, “são movimentos rápidos, de
porções de terrenos (solos e rochas), com volumes definidos, deslocando-se sob a ação da
gravidade, para baixo e para fora do talude ou da vertente”. Fiori (2015) diz que “os
escorregamentos ocorrem nos locais em que a pressão de poros reduz a componente normal
do peso do solo a tal ponto que as forças cisalhantes, ou favoráveis ao movimento, igualam ou
superam a resistência ao cisalhamento”. Vale ressaltar que o solo não precisa estar totalmente
saturado para a ocorrência do escorregamento.
Esse tipo de movimento de massa pode ocorrer em diferentes velocidades, desde
centímetros por ano até vários metros por segundo, em decorrência do tipo de ocupação e
solo. Segundo Infanti Jr & Fornasari Filho (apud PAULA), quanto menor o tempo que um
processo pode ser percebido, menos as modificações serão notadas. Tal fato ocorre, pois as
forças envolvidas atuam em um período de tempo muito curto ou não possuem a magnitude
necessária para grandes modificações. No entanto, se a natureza ou a velocidade de atuação
do processo se modificar, é possível que ocorra uma alteração advinda de tais modificações.
A geometria do escorregamento pode ser circular ou rotacional, planar ou translacional
e em cunha.
O escorregamento circular (ou rotacional) possui uma superfície de ruptura circular,
conforme visto na Figura 2. Esse tipo de movimento está relacionado com a existência de
solos espessos e homogêneos e rochas muito fraturadas. Pode ser desencadeado por um corte
em seu pé.
Esse tipo de movimento é frequente nas encostas do sudeste brasileiro, movimentando
geralmente o manto de alteração. Tominaga, Amaral e Santoro (2009) citam que “podem se
tornar processos catastróficos, com o deslizamento súbito do solo residual que recobre a rocha
ao longo de uma superfície qualquer de ruptura, ou ao longo da própria superfície da rocha”.
20

Figura 2: Escorregamento Circular ou Rotacional

Fonte: Blog Avaliação de risco a escorregamento na região do ABC (2013).

O escorregamento planar (ou translacional) apresenta uma superfície de ruptura planar,


como pode ser visto na Figura 3. Está associado a solos pouco espessos, heterogêneos e/ou
com contato direto com a rocha e o sentido do seu movimento é paralelo à superfície de
fraqueza.
São facilmente observados, durante o período de chuva, os casos de escorregamentos
planares de solo. Segundo Paula (2011) os locais em que ocorrem com maior frequência esse
tipo de escorregamento são os que possuem aterros lançados e cortes de pequena altura muito
inclinados. Tais conformações são realizadas para reproduzirem patamares, onde as moradias
serão construídas. Por falta de compactação e limpeza prévia do terreno, o solo torna-se ainda
mais instável devido à sua heterogeneidade e consequente porosidade e permeabilidade
elevada.
21

Figura 3: Escorregamento Planar ou Translacional

Fonte: Blog Avaliação de risco a escorregamento na região do ABC (2013).

O escorregamento em cunha está associado a maciços rochosos alterados, que


apresentam duas estruturas planares instáveis, cujos planos de fraqueza se interceptam e
deslocam formando um prisma, como mostra a Figura 4. Segundo Infanti Jr. & Fornasari
Filho (apud Tominaga, Amaral e Santoro), esse movimento “ocorre principalmente em talude
de corte ou em encostas que sofreram algum tipo de desconfinamento, natural ou antrópico”.

Figura 4: Escorregamento em cunha

Fonte: Blog Avaliação de risco a escorregamento na região do ABC (2013).


22

A água da chuva é o principal agente que contribui para os escorregamentos. Paula


(2011) cita que esse agente geralmente associa-se com desmatamentos, erosão, variações de
temperatura, oscilações do nível freático e fontes. Segundo ela, a chuva contribui com o
escorregamento à medida que infiltra e encharca o solo, forma fendas, trincas e juntas,
gerando uma superfície de ruptura, atuando na pressão hidráulica, satura o solo e aumenta o
peso específico, o que faz com que o solo perca a coesão e, com isso, tem sua resistência
reduzida.

2.3 Mapeamentos das Áreas de Risco

A paisagem de nosso planeta é dinâmica, sendo caracterizada por uma constante


mudança nas suas formas. Parte dessas mudanças necessita de milhares de anos para
completar seu ciclo, outras ocorrem relativamente rápidas, sendo perceptíveis na escala de
tempo humana. As encostas constituem uma conformação natural do terreno, originadas pela
ação de forças externas e internas, através de agentes geológicos, climáticos, biológicos e
ações humanas que vêm, através dos tempos, esculpindo a superfície da Terra.
No Brasil, os principais processos associados a desastres naturais são os movimentos
de massas e as inundacões. Se as inundações causam elevadas perdas materiais e impactos na
saúde pública, são os movimentos de massas – escorregamentos e processos correlatos – que
têm causado o maior número de vítimas fatais.
Qualquer sistema de gerenciamento de áreas de risco implica, em primeiro lugar, em
conhecimento do problema por meio do mapeamento dos riscos, sendo que essas áreas
poderão ser caracterizadas em seus diferentes níveis de risco, hierarquizadas para o
estabelecimento de medidas preventivas e corretivas e administradas por meio de ações de
controle de uso e de ocupação do solo.
Para que equipes municipais desenvolvam seus trabalhos, com a melhor qualidade
possível, faz-se necessário o seu treinamento, inicialmente contemplando o mapeamento de
riscos. Esse mapeamento pré- ponderará a avaliação de dano potencial à ocupação, expresso
segundo diferentes graus de risco, resultantes da conjunção da probabilidade de ocorrência de
processos geológicos naturais ou induzidos.
23

2.3.1 Sistema de Informação Geográfica (SIG)

É um conjunto de sistema de software e hardwares aptos a produzir, armazenar,


avaliar e processar várias informações sobre o espaço geográfico, como imagens de satélite,
mapas, cartas topográficas entre outros, obtidos através de dados geográficos.
Segundo Câmara e Ortiz (2006, pág. 3) as estruturas gerais de um SIG estão
interligadas pelos seguintes componentes:
a) Interface: interação entre o usuário e a linguagem de comando, quanto mais função conter o
sistema, mais difícil de utilizá-lo, estas funções estão armazenadas no Menu;
b) Entrada e integração de dados: armazenamento de dados;
c) Funções de processamento: prover funções computacionais para que haja um mapa
resultante;
d) Banco de dados geográficos: armazena e recupera dados geográficos.
Os componentes apresentam dados que dependem um do outro para serem realizados,
tendo cada função especificada, conforme a Figura 5 abaixo:

Figura 5: Estrutura Geral de um Sistema de Informação Geográfica

Fonte: GARCIA (2014).

O SIG aplica-se em:

a) Monitoramento de áreas de proteção ambiental;

b) Planejamento da expansão territorial urbana;

c) Controle de áreas de ricos (desabamentos e enchentes);

d) Acompanhamento de variações climáticas.


24

A aplicabilidade desse sistema contribui para reduzir ou minimizar problemas em


áreas de risco, assim como reduz a formação desse tipo de área, a partir de um estudo do local
que é passado para o sistema e assim formando o mapeamento referido, concluído através dos
aplicativos, como o ArcGIS, Slide, Geo Slope, Topograph, Datageosis, Spring, Posição.
Desses aplicativos, apenas três são utilizados com maior fequência por profissionais da área.
Dessa forma, explicaremos apenas os sistemas ArcGIS, Slide e Geo Slope, como elencados
abaixo:

 ArcGIS

O ArcGIS é um conjunto de aplicativos computacionais lançado pela empresa ESRI


(Environmental Systems Research Institute), especializada na produção de soluções para áreas
de informações geográficas, que viabiliza a criação e utilização de mapas, copilar dados
geográficos, análise de informações mapeadas e compartilha informações geográficas.
O desenvolvimento de uma base de dados é estabelecido através dos formatos de
armazenamentos, criação de feições como pontos, linhas e polígonos que acompanham o
contorno da área digitalizada.
Segundo Silva e Machado (2010, pág. 6), “os formatos de armazenamento de dados
espaciais são divididos em dois tipos: Vetorial e Raster que são modelos de representar o
espaço por meio de estruturas geométricas”. Sendo o formato Vetorial:
a) Pontos: Escolas, aeroportos, hospitais entre outros;
b) Linha: Ferrovias, drenagem, rodovias entre outros;
c) Polígonos: Estrutura territorial como Países, Estados e Municípios.
O modelo vetorial facilita associar atributos (tamanho, tipo, comprimento, etc.) a
elementos gráficos e é o formato mais apropriado de representação, como mostrado na Figura
6 a seguir:
25

Figura 6: Modelo Vetorial

Pontos Linhas Polígonos

Fonte: SILVA E MACHADO (2010).

Já no formato Raster, segundo Silva e Machado (2010, pág. 6) “as informações são
armazenadas por matrizes ou grades”. Assim este modelo obtém melhores informações de
satélites, como observado na Figura 7 abaixo:

Figura 7: Modelo Raster

Fonte: Universidade Federal Fluminense (2005).


26

2.3.2 Órgãos Públicos

As áreas de riscos são fiscalizadas por órgãos públicos, que promovem ações
preventivas, de socorro, assistenciais e reconstrutivas destinadas a evitar ou minimizar os
desastres naturais, sendo que cada estado e município tem a sua própria Defesa Civil.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional (2016), “O Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) é constituído por órgãos e entidades da administração
pública federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e por entidade pública e
privada de atuação significativa na área de proteção e defesa civil, sob a centralização da
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil”.
Os órgãos da Defesa Civil (Estaduais, Municipais e União) são coordenados pela
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), onde sua principal função é
coordenar a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) que consequentemente
conduz as Defesas Civis locais, tendo os órgãos públicos da Defesa Civil interligados,
conseguindo abranger assim todo o território nacional.
Os dados de áreas de risco passados a Defesa Civil são feitos por instituições públicas
como a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), que realizam pesquisas de
serviços geológicos que caracterizam as áreas ou setores de uma encosta ou planície de
inundação sujeitas à ocorrência de processos destrutivos de movimentos de massa, enchentes
de alta energia e inundações.
O Sistema Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN),
além de disponibilizar dados, permite o envio antecipado de alertas de desastres para regiões
com áreas de risco, esses alertas são repassados para o Centro Nacional de Gerenciamento de
Riscos e Desastres (CENAD), os quais auxiliam ações para evitar ou minimizar esses
impactos sociais e econômicos resultante dos desastres naturais.
Conforme o CEMADEN (2016), “O Protocolo de Ação entre o Centro Nacional de
Gerenciamento de Riscos e Desastres CENAD/Ministério da Integração (MI) e o
Cemaden regulamentam que todo alerta de risco de desastres naturais emitido deverá ser
enviado ao CENAD, para se constituir em subsídio fundamental na tomada de ações
preventivas de proteção civil, entre outros aspectos legais”.
As interligações entre os órgãos públicos e institutos de pesquisas meteorológicas,
análise de risco, mapeamento geológico-geotécnico e hidrológico, estão abordadas no
fluxograma abaixo de acordo com a Figura 9:
27

Figura 9: Órgãos Públicos x Centros de Pesquisas

Fonte: Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (2016).

As informações e pesquisas das áreas de risco, com maior probabilidade de ocorrência,


principalmente com movimento de massa e inundações, são de grande importância para os
órgãos públicos relacionados a riscos geológicos, pois possibilitam ações objetivas nessas
regiões.

2.4 Estabilização das áreas de risco

2.4.1 Histórico

A habilidade e necessidade do homem em erigir construções em várias partes do


mundo, muitas das vezes alterando sua condição topográfica original, estão presentes em
nossa história desde o início dos tempos. Existem registros de obras de contenção desde o
período de 3.200 a 2.800 a.C. na região sul da Mesopotâmia. Muros de alvenaria de argila
para contenção de aterros são as primeiras ocorrências desse tipo de obra, segundo Kinder e
Hilgemann (1964) apud Ranzini e Negro Jr. (1998). Obras de maior sofisticação, em que
foram aplicados preceitos de engenharia moderna, só foram registradas a partir do início do
século 18, através das mãos de engenheiros franceses. Os primeiros empreendimentos
brasileiros desta modalidade foram executados em meados do século 18 (Ranzini e Negro Jr.,
1998).
28

Entende-se por contenção a estrutura dotada de capacidade para suportar esforços


provenientes de maciços geológicos, a partir da substituição parcial ou total da massa de solo
estabilizadora pela inserção de elementos estruturais, que apresentam rigidez distinta daquela
apresentada pelo perfil a ser contido (Ranzini e Negro Jr., 1998).

2.4.2 Muros de Gravidade

Nos muros de gravidade, a estabilidade depende do seu próprio peso. Não precisam de
tirantes ou contribuição de esforços proveniente do solo.

O dimensionamento do muro de arrimo por gravidade deve atender as seguintes


NBR’s:

 NBR 11682: 2006 – Estabilidades de Encostas


 NBR 6122:2010 – Projeto e Execução de Fundações
 NBR 8044:1983 – Projeto Geotécnico
Os muros por gravidade resistem apenas a esforços de compressão e são
dimensionados como elementos rígidos. Geralmente, são utilizadas para conter desníveis
pequenos ou médios, inferiores a cerca de 5m. Podem ser construídos de pedra ou de concreto
(simples ou armado), gabiões, ou ainda, pneus usados. Essas estruturas podem ser rígidas
(exemplo: de concreto ciclópico e pedras argamassadas) ou flexíveis (exemplo: gabiões e
blocos articulados).

2.4.3 Muro de Gabião

Muros de gabiões são muros de gravidade constituídos por elementos metálicos


confeccionados com telas de malha hexagonal de dupla torção de arame galvanizado,
preenchidos por pedras (MACCAFERRI, 2009). As pedras devem possuir granulometria
adequada, ou seja, diâmetros que sejam no mínimo superiores à abertura da malha das gaiolas
(ver Figura 10), e os degraus do muro podem ser externos ou internos, como mostra a Figura
11. Os gabiões são elementos modulares que podem ser costurados uns aos outros, podendo
admitir formas prismáticas ou cilíndricas.
29

Figura 10: Muro de gabiões com degraus externos e internos

Fonte: Maccaferri (2009).

Figura 11: Muro de gabião em blocos

Fonte: GERSCOVICH (2013).

Segundo CAPUTO (1988), “na construção de um muro, a fim de evitar o acúmulo das
águas pluviais infiltradas no lado da terra, é de boa técnica prever um sistema de drenagem
dessas águas”. Por isto, as estruturas de contenção em gabião são uma boa escolha para
lugares que tem água, devido à sua porosidade (30% de toda estrutura), são permeáveis e
autodrenantes.
O gabião é muito utilizado devido à sua facilidade de montagem e execução,
disponibilidade de materiais e por não utilizar mão de obra especializada, sendo empregada a
própria mão de obra local de onde será executada a contenção.
30

2.4.4 Muros de Concreto Ciclópico

Estes muros são recomendáveis para contenção de taludes com altura máxima entre 4
e 5 metros. O muro de concreto ciclópico é uma estrutura construída com o preenchimento de
uma fôrma com concreto e blocos de rocha (ver Figura 13) de dimensões variadas. É essencial
a execução de um sistema adequado de drenagem neste tipo de contenção (ver Figura 12),
devido à sua baixa permeabilidade. A drenagem do muro pode ser de dois modos: furos de
drenagem ou manta de material geossintético. Os furos de drenagem são posicionados na face
frontal do muro, o que às vezes causa impacto visual negativo, visto que o fluxo de água
provoca manchas no muro quando não são feitos os buzinutes (prolongamento do
tubo/barbacã para servir de pingadeira). Já a manta geotêxtil é colocada na face posterior do
muro. Neste caso, a água é recolhida através de tubos de drenagem adequadamente
posicionados.

Figura 12: Perfil do muro de concreto ciclópico

Fonte: GERSCOVICH (2013).


31

Figura 13: Muro de concreto ciclópico

Fonte: GERSCOVICH (2013).

2.4.5 Muro de Arrimo à Flexão

Os muros de arrimo à flexão são estruturas em concreto armado, cuja função é realizar
a contenção de um maciço de solo, seja em um talude de corte ou aterro. Ele é bastante
utilizado, principalmente em edificações, para contenção de taludes provenientes de cortes em
subsolos. Possui a vantagem de diminuir o volume da estrutura de arrimo, em relação ao muro
à gravidade, devido à sua pouca espessura. Outra vantagem é o retroaterro na base do muro,
que favorece a sua estabilidade. É importante ressaltar que um adequado sistema de drenagem
é imprescindível (ver Figura 14) para a obtenção de uma estrutura econômica e segura. Já que,
desta forma, elimina-se o empuxo hidrostático sobre a estrutura. Segundo MOLITERNO
(1994), tais estruturas são viáveis economicamente para alturas de até 4 metros, sem o uso de
contrafortes ou atirantamento, que podem aumentar esta altura. Não há limitações do ponto de
vista técnico para seu uso em alturas superiores a esta.

Para executar esse sistema é preciso escavar uma base que será preenchida com a armação da
base do muro e concreto; a armação ficará toda ancorada na base, permitindo que a parede do
muro seja executada com a amarração nessa armadura. É um sistema de fácil execução, não
necessitando de equipamentos sofisticados, o que o torna um método rápido e barato de ser
utilizado.
32

Figura 14: Muro de arrimo à Flexão

Fonte: Obras de Terra (2016).

2.4.6 Muros de arrimo atirantados

Normalmente o muro atirantado é construído para alturas de 4m a 6m. Tirantes fixados


a uma placa de ancoragem prendem o topo do muro, esta placa é rigidamente fixada em uma
rocha ou solo resistente, evitando assim seu deslocamento. Cortinas atirantadas atualmente
estão substituindo o muro, por apresentarem maior facilidade e rapidez na construção.

”A cortina atirantada, é composta por uma parede bastante rígida de concreto armado, que é fixado ao terreno
por meio de cordoalhas de aço protendidas, recoberta por calda de cimento aplicada sobre pressão. 13 A cortina
atirantada é uma técnica de contenção que consiste na execução de uma “cortina” de contenção, seja ela de
concreto armado, projetado, parede diafragma ou perfis metálicos cravados, concomitantemente com a
perfuração, aplicação, injeção e proteção dos tirantes. Este tipo de contenção, cortina atirantada, pode ser de
caráter provisório (subsolos) ou definitivo”. (solofort/cortina).

2.4.7 Cortinas Ancoradas

Cortinas ancoradas são contenções que, através dos tirantes, se ligam a estruturas
mais rígidas e apresentam ancoragem ativa. São compostas por tirantes injetados no solo e
solicitados a esforços axiais de protensão, presos na outra extremidade em um muro de
concreto armado, projetado para resistir aos esforços gerados pela reação entre o solo e o
sistema muro-tirantes (ver Figura 15). Possuem grande destaque dentre as estruturas de
contenção devido à sua eficácia e versatilidade, podendo ser usadas em quaisquer situações
geométricas, porém possuem um custo elevado.
33

Segundo More (2003), a utilização de cortinas ancoradas se constitui na solução


técnica mais adequada, quando se procura conter os elevados esforços horizontais advindos de
escavações de grandes alturas, com um mínimo de deslocamentos do maciço de solo e das
estruturas localizadas nas vizinhanças.
As cortinas ancoradas tiveram um grande desenvolvimento no Brasil devido ao
trabalho de Antônio José da Costa Nunes, professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, que desenvolveu o método a partir de 1957 na empresa que trabalhava.
Um grande avanço ocorreu também na década de 1970, na implantação das obras do
metrô de São Paulo, com a introdução de ancoragens reinjetáveis com calda de cimento sob
altas pressões (MORE, 2003).
De acordo com Massad (2003), a determinação da carga necessária nos tirantes pode
ser feita por equilíbrio limite através dos métodos de Culmann e Bishop simplificado, por
exemplo. Porém é condição necessária que, na composição do comprimento dos tirantes, os
bulbos estejam além do plano (ou superfície) de escorregamento crítico.

Figura 15: Cortina Ancorada

Fonte: Blog do Pet Civil (2010).


34

2.4.8 Muros de arrimo com contrafortes

No caso dos muros de flexão com alturas superiores a cerca de 5 m, é conveniente a


utilização de contrafortes (ou nervuras), para aumentar a estabilidade contra o tombamento.
Tratando-se de laje de base interna, ou seja, sob o retroaterro, os contrafortes devem ser
adequadamente armados para resistir a esforços de tração. No caso de laje externa ao
retroaterro, os contrafortes trabalham à compressão. Os contrafortes são em geral espaçados
de cerca de 70% da altura do muro.
O tipo estrutural é diferente dos outros muros. Sua parede vertical é apoiada por dois
contrafortes adjacentes e pelas vigas deitadas, superior e inferior (ver Figura 16). “É uma laje
retangular, comum, recebendo carga triangular, que cresce com a altura. Em nível do terreno
acima, a carga é nula.” (Adão e Hermely, 2010, p. 141). Assim, como as vigas, os contrafortes
servem de apoio para a laje, e recebem a carga distribuída das paredes verticais e as cargas
concentradas das vigas deitadas. É importante destacar que:
“A fundação se fará para cada contraforte. Normalmente, esta fundação é sapata, podendo eventualmente ser em
estacas. Duas considerações importantes teremos para as sapatas: a capacidade de resistir às cargas verticais e
aos momentos 11 provenientes do empuxo. A carga que o terreno irá suportar é distribuída, mas com forma
trapezoidal. É muito importante que o terreno absorva esses esforços, sem comprometer a segurança do muro.”
(Adão e Hermely, 2010, p. 141).

Figura 16: Muro de Arrimo com Contrafortes

Fonte: Ideias de Projetos (2015).


35

2.4.9 Retangulão

O “retangulão” é um método criado em meados de 1981, pelo Eng. Sergio Maurício


Pimenta Velloso, para conter taludes e encostas. É muito conhecido na cidade de Belo
Horizonte – MG, e vem se difundindo a cada dia no país. Pode ser utilizado para contenções
em obras de terra, por exemplo, para escavação de um subsolo, e pode ser utilizada para
contenções de talude que esteja sofrendo um deslizamento (ver Figura 17) ou um abatimento,
e para contenções de taludes dentro de uma obra. (Luiz Fernando, 2007)
Esse método está sendo muito utilizado como um sistema de reforço de obras já
prontas, que estejam sofrendo com problemas de solo. A utilização desse método, para obras
periféricas e para contenção de taludes dentro da própria obra, vem crescendo muito
rapidamente. Esse método já foi aplicado em 300 obras espalhadas por todo o Brasil e mais de
3.000 “retangulões” foram escavados. (Luiz Fernando, 2007)
É um processo mais barato quando comparado a outras contenções. Sua função é de
reforço e seu princípio de funcionamento é o de balanço/ficha. A peça se estabiliza a partir de
sua ficha, diferente do muro de arrimo que precisa de uma base para se estabilizar. É
semelhante a uma estaca utilizada para contenção, em que a estaca sofre ações de outras
forças. Só é necessário tirante quando diminui o tamanho da ficha por causa do NA ou por
economia. A execução do sistema de contenção utilizando “retangulão” é muito simples. Não
são necessários equipamentos de grande porte nem mão de obra especializada. Não utiliza
formas e é escavado manualmente, o que pode aumentar os riscos para os operários.
36

Figura 17: Retangulão

Fonte: Psac Engenharia (2017).

2.4.10 Estabilização das Encostas

Aqui abordamos alguns dos procedimentos de estabilização mais adotados em taludes


ou encostas naturais, que podem ser executados sem a criação de uma estrutura de contenção.
As obras sem estrutura de contenção são compostas por retaludamento, drenagem e
proteção superficial. Nestes modelos de intervenção a estabilização das encostas é garantida
através da diminuição das forças causadoras de movimentos de massa ou pelo aumento das
forças que inibem este movimento. Na maioria dos casos de estabilização, são adotados mais
de um procedimento, executando-se assim, vários tipos de obras combinadas (COUTINHO,
2008).
Certas características das obras de estabilização sem estrutura de contenção serão
expostas a seguir:
a) Retaludamento
O retaludamento consiste em um processo de terraplenagem, na realização de cortes
e/ou aterros em taludes, buscando estabilizá-los. As áreas retaludadas ficam frágeis, em
virtude da exposição do solo cortado, razão pela qual, deve-se incluir um projeto de proteção
utilizando revestimentos naturais ou artificiais associados a um eficiente sistema de
drenagem.
Segundo Massad (2003), para que haja um aumento da estabilidade através desse
método, deve-se alterar a geometria do talude reduzindo a carga na crista e agregando ao pé
37

do talude. Assim, fazendo-se um corte próximo à crista, diminuirá parcela do momento


atuante e o acréscimo de uma sobrecarga no pé proporcionará um poder estabilizante
considerável.
Na Figura 18 é apresentando o perfil de uma encosta que sofreu o processo de
retaludamento.
Figura 18: Perfil de uma encosta retaludada

Fonte: Infraestrutura Urbana (2017).

2.4.11 Relações da moradia com os taludes de corte e aterro

As moradias de topo correm sério risco de desabamento, seja por deslizamentos ou por
erosão, aquelas construídas na base ficam muito próximas aos depósitos de colúvio, portanto,
sujeitas ao soterramento por ocasiões de movimentos de massa ou corridas de lama/areia
durante tempestades.
Segundo Alheiros et al., 2003 as recomendações para construção de moradias em
taludes são:
 Remover as moradias a menos de 5 metros da linha de crista e a menos de 10 metros
da massa de colúvio, definindo oficialmente esta faixa como área não edificável.
 Construir barreiras vegetais e/ou muros de espera, para reduzir o assoreamento e
proteger vias públicas ou moradias a jusante das corridas de terra e dos deslizamentos.

2.4.12 Drenagem
38

Em todas as obras de contenção é necessária a existência de drenagem (profunda ou


superficial), como medida complementar, pois ela garante a redução do empuxo e
poropressão a serem suportados pela estrutura. Além disso, uma obra sem sistema de
drenagem pode ter um custo final aproximadamente três vezes maior devido à estrutura
robusta que será necessária para combater os efeitos citados anteriormente.
A drenagem profunda pode ser realizada com o rebaixamento do lençol freático abaixo
da massa de solo que será estabilizada. Para executar o rebaixamento a uma determinada cota
é necessário posicionar, abaixo desta, um sistema de drenagem. A água penetra na superfície
por percolação, sendo escoada pelos coletores (poços, galerias, trincheiras ou drenos), sendo
removida pela força da gravidade, por bombas, ou outros meios favoráveis (Terzagui e Peck,
1967). Este tipo de drenagem caracteriza-se pela utilização de DHP (Dreno Horizontal
Profundo), constituído por um tubo de PVC rígido com furos de 8 mm de diâmetro a cada 5
cm. Além deste, pode-se utilizar o barbacã com destinação para estruturas de menor porte.

2.4.13 Obras de Proteção Superficial

As obras de proteção superficial evitam a formação de processos erosivos e diminuem


a infiltração de água no maciço através da superfície exposta. Vimos que este processo é de
grande importância para a estabilização de taludes de corte e/ou aterro.

a) Proteção superficial com materiais naturais

Segundo Mattos (2009), "em situações onde a vegetação natural tenha sido removida
e, portanto, há risco de escorregamento, a implantação de uma cobertura vegetal similar a
natural é de grande valia, de modo que a cobertura vegetal aumenta a resistência das camadas
superficiais de solos através das raízes, protege contra a erosão superficial e reduz a
infiltração de água no solo através dos galhos, troncos e folhas."
A cobertura vegetal com materiais naturais destaca-se pela:

 Hidrossemeadura: segundo o Manual de Recuperação de Áreas Degradadas pela


Mineração (IBAMA,1990), “é recobrir por via aquo-pastosa, uma área descoberta com
sementes de espécies herbáceas e outros materiais que induzem a fixação e crescimento das
sementes”. Possibilita cobrir grandes áreas em um curto espaço de tempo;
 Plantio de mudas: Revestimento da superfície do talude com o plantio de espécies de
pequeno porte, com objetivo de tornar o solo fértil para posterior plantio de gramíneas;
39

 Revestimento com grama: é o mais utilizado quando se quer uma rápida cobertura
com máxima eficiência, sendo organizadas de forma a cobrir uniformemente toda a superfície
do talude. Dependendo da inclinação, é recomendável a utilização de estacas de madeira para
promover a fixação das placas;
 Revestimento com vegetação arbórea: no caso de árvores de grande porte, o efeito
mecânico é o de alavanca, como resultado da ação da gravidade, combinado à ação dos ventos
mais fortes. Logo, árvores inclinadas podem ser um sinal de movimentação da encosta,
devendo ser imediatamente erradicadas. As bananeiras pertencentes à família das herbáceas
têm efeito negativo se plantadas em encostas e também devem ser evitadas. Isto porque,
acumula-se grande quantidade de água em suas raízes propiciando maior peso e condições
favoráveis ao escorregamento.

b) Proteção superficial com materiais artificiais

Os revestimentos artificiais para impermeabilização de encostas mostram melhor


rendimento e vida útil quando executados juntamente com retaludamento e microdrenagem,
tratando o talude de modo completo (Alheiros et al., 2003).
Para se obter um melhor resultado, o retaludamento associado com as obras de
drenagem e os materiais artificiais eliminam o processo erosivo, reduzindo a infiltração da
água pluvial no terreno, conduzindo-as ao dispositivo de deságue seguro.
Segundo Alheiros et al. (2003), é importante que o revestimento seja parte de um
tratamento estruturador para a encosta, onde a drenagem, os acessos e a contenção sejam
solucionados em conjunto. Em grande parte dos casos, o tratamento dispensa a construção de
muros de arrimo, sendo a solução baseada na impermeabilização e no sistema de
microdrenagem e vias de acesso.
Alheiros et al. (2003) explica que a escolha do tipo de revestimento depende da
natureza do material (rocha, solo ou sedimento) e da declividade do talude, solos mais
argilosos respondem melhor à fixação das telas devido à sua plasticidade e baixa
permeabilidade. Lajotas em taludes verticalizados podem provocar acidentes, quando ocorre o
seu deslocamento.
Dependendo de suas características e de sua composição, alguns materiais artificiais
servem de suporte como revestimento para proteção superficial, dentre estes:
 Revestimento com cimentado;
40

 Revestimento com geomanta e gramíneas;


 Revestimento com geocélulas e solo compactado;
 Revestimento com tela argamassada;
 Revestimento com pano de pedra ou lajota;
 Revestimento com muro de alvenaria armada;
 Revestimento com asfalto ou polietileno;
 Revestimento com lonas sintéticas.

c) Revestimento com cimentado

O cimentado para revestimento de taludes é constituído por uma mistura de cimento


Portland, areia e água, usando o traço 1:3. Poderá ser utilizado o próprio solo do talude, desde
que não contenha matéria orgânica, ou material retido na peneira de 4,8 mm, sendo, nesse
caso, também denominado de solo-cimento (Cunha, 1991). Sendo assim, os materiais serão
misturados atingindo a cor uniforme, aplicando-se e compactando imediatamente, não
ultrapassando 3 horas entre o momento de incorporação do cimento e o acabamento do
revestimento. A mistura deve ser aplicada sobre o talude, a partir do pé para a sua crista,
obtendo a seção projetada. No caso de execução de revestimento em degraus ou bermas, serão
utilizadas formas de madeira, nas quais será lançada a mistura.
As superfícies dos taludes deverão ser preparadas, limpas e aplainadas, removendo os
ressaltos terrosos. Quando forem rochosos, não precisam ser removidos. Os sulcos de erosão,
provocados pelas águas pluviais, deverão ser preenchidos com solo-cimento, na umidade
ótima, com um teor variável até 10% em peso de cimento Portland comum e compactado com
soquete, antes de executar o revestimento (FIDEM, 2001 a).
É de essencial importância a execução da compactação e do acabamento,
regularizando o revestimento. Deve-se ter cuidado com o tempo necessário para a operação,
antes que se inicie a pega do cimento. A compactação será executada a partir do pé do talude,
em direção à crista, por meio de soquetes manuais ou mecânicos.
O revestimento executado deverá ser mantido úmido, durante sete dias, para a cura. A
aplicação de emulsão asfáltica do tipo RR-2K, diluída em partes iguais em água, poderá ser
recomendada para a cura do solo- cimento (Alheiros et al., 2003).
Cunha (1991) sugere a aplicação de uma mistura amplamente utilizada em Hong
Kong, de solo-cal-cimento na proporção 20:3:1, aplicada em duas camadas com espessura
41

mínima de 2 cm cada, sendo a primeira rugosa, e a segunda, lisa. Destaca que, embora frágil,
esse revestimento, quando monitorado (para a execução de reparos) pelo próprio morador,
pode ter alta durabilidade. Eles devem contar com drenos (barbacãs) para reduzir as poro-
pressões da água bloqueada pelo revestimento.
A Figura 19 apresenta um talude sendo revestido com cimentado, sendo executado por
drenos subterrâneos (barbacãs) para permitir a drenagem.

Figura 19: Revestimento Cimentado

Fonte: Prolazer (2017).

d) Revestimento com geomanta e gramíneas

A geomanta atua como proteção contra erosões superficiais provocadas pelo impacto
das chuvas e fluxos superficiais durante o período de desenvolvimento e fixação dos vegetais
(Alheiros et al., 2003).
Alheiros et al. (2003) explica que este tipo de revestimento constitui materiais
sintéticos que não degradam, tem aparência de uma manta extremamente porosa oferecendo
ancoragem adequada para as raízes após o crescimento da vegetação.
Essa solução é indicada para utilização em talude que possui inclinação desvantajosa
para o plantio de gramíneas, e quando não se dispõe de tempo suficiente para implantação de
cobertura vegetal (Figuras 20 e 21).
42

Figura 20: Revestimento com Geomanta e Gramíneas

Fonte: Manual de Ocupação de Morros (2003).

Figura 21: Revestimento com Geomanta e Gramíneas

Fonte: Manual de Ocupação de Morros (2003).

e) Revestimento com geocélulas e solo compactado

Constituído por células de materiais geossintéticos, de estrutura semiflexível, é um


revestimento indicado para aplicação em talude em solo árido, onde não se consegue um bom
desenvolvimento de vegetação (Alheiros et al., 2003).
Segundo Alheiros et al. (2003), este tipo de revestimento é de construção simples e
rápida, promovendo a formação de uma cobertura que protege o solo natural, favorecendo a
retenção de material de “terra vegetal” que permite a fixação do revestimento vegetal. Em
alguns casos, os espaços das geocélulas podem ser preenchidos com concreto para
revestimentos, coberturas e proteções de superfícies.
43

Alheiros et al. (2003) diz que, como o revestimento com geomanta, as geocélulas
apresentam vantagem de utilização quando não se dispõe de tempo suficiente para
implantação da cobertura vegetal e/ou quando a inclinação do talude dificulta a plantação de
gramíneas.
A Figura 22 mostra o revestimento com geocélulas em um talude, onde a vegetação
não consegue se desenvolver.

Figura 22: Revestimento com Géocelulas

Fonte: Manual de Ocupação de Morro (2003).

f) Revestimento com tela argamassada

A tela argamassada para revestimento de taludes consiste no preenchimento e


revestimento de uma tela galvanizada por uma argamassa de cimento Portland e areia no traço
1:3 (Alheiros et al., 2003).
A água deverá ser isenta de teores nocivos de sais, ácidos, álcalis, matéria orgânica e
outras substâncias prejudiciais; a tela é de aço galvanizado, em arranjo hexagonal com malha
2 - E em fio 18; o agregado miúdo é formado por areia natural, com diâmetro máximo de 4,8
mm, sem matéria orgânica e outras substâncias prejudiciais (FIDEM, 2001 a).
Segundo Alheiros et al. (2003), a ancoragem das telas de aço galvanizado é feita sobre
a superfície do talude regularizado, com traspasse, em todas as extremidades, de 20 cm, e
44

fixadas ao terreno com ganchos de ferro de 3/8", instalados a cada 1,00 m, em todas as
direções. Devem ser instalados drenos em tubos de PVC de 4", com filtro de geotêxtil (ou
bidim com 20cm x 30cm x 20cm) na parte interna e fixados com profundidade de 20 cm.
Alheiros et al (2003) explica que sobre a tela, fixada ao talude regularizado por
ganchos, inicia-se a execução de chapisco com argamassa de cimento e areia no traço 1:3.
Esta operação deverá prosseguir até a completa cobertura da malha de telas galvanizadas, que
deve ficar completamente envolvida. A argamassa deve ser aplicada sobre o talude na
espessura de 4 cm, a partir do pé para a sua crista, de forma a se obter a seção projetada
(Figura 23).
Figura 23: Revestimento com Tela Argamassada

Fonte: Manual de Ocupação de Morros (2003).

g) Revestimento com pano pedra ou lajota

O revestimento com pedra rachão é feito com blocos de rocha, talhados em forma
regular e tamanho conveniente (entre 20 e 40 cm), sobre o talude previamente limpo e
regularizado. Os blocos são arrumados sobre o talude e rejuntados com argamassa
(cimento/areia no traço 1:3), criando uma superfície impermeável estável, que protege o
talude da erosão (Alheiros et al., 2003).

Para o maior travamento possível na interface pedra/solo natural, deve-se cravar a face
mais aguda do bloco na superfície a ser protegida. Caso a inclinação do talude seja muito
45

elevada ou a área muito extensa, o revestimento deve ser precedido de uma fundação corrida
simples (Cunha, 1991).
Segundo Alheiros et al (2003), esse tipo de impermeabilização pode também utilizar
pedra de face ou lajotas pré-moldadas (40x40 cm), aplicadas com argamassa sobre o talude
previamente preparado. Como esse material apresenta menor condição de travamento no solo,
recomenda-se o retaludamento para a redução da declividade, ou sua aplicação em encostas
menos inclinadas. É comum o descolamento de lajotas em taludes úmidos, oferecendo risco
de acidentes para as pessoas que utilizam com frequência os espaços próximos à base da
barreira. Independentemente do material usado para o revestimento, devem ser executados os
drenos subterrâneos (barbacãs) e o sistema de microdrenagem superficial, indispensáveis para
a durabilidade e a segurança da obra.
A Figura 24 mostra o revestimento com pedra de face, aplicado em um talude,
enquanto a Figura 25 está sendo aplicado o revestimento lajotas, devendo ter o cuidado para
não haver o deslocamento e oferecer riscos de acidentes.

Figura 24: Revestimento com Pedra de Face

Fonte: Manual de Ocupação de Morros (2003).


46

Figura 25: Revestimento com Lajotas

Fonte: Manual de Ocupação de Morros (2003).

h) Revestimento de alvenaria armada

O muro de alvenaria armada é um muro de flexão com funcionamento similar ao de


concreto armado, formado por uma parede de alvenaria armada assentada com argamassa de
cimento e areia (1:3), apoiada em uma base de concreto enterrada. A sua utilização é
recomendada para alturas inferiores a 2,00 m. A alvenaria deve ser executada com blocos
vazados de concreto simples para alvenaria com função estrutural e a armação deve ser feita
com CA 50 ou CA 60, com bitolas e espaçamentos definidos em projeto específico. O
preenchimento das células da alvenaria em que estão posicionadas as armações deve ser
executado com concreto, e a base (sapata) deve ser executada em concreto armado com
dimensões e armações de acordo com projeto específico (FIDEM, 2001a).
Alheiros et al. (2003) explica que devem ser previstos dispositivos de drenagem
constituídos por drenos de areia ou barbacãs, para reduzir a pressão da água sobre o muro,
aumentando a vida útil da obra. O projeto deverá indicar juntas estruturais com espaçamento
máximo de 10 m, as quais devem receber tiras de geotêxtil sintético com 0,20 m de largura,
de forma a evitar a fuga de material do reaterro, que deve ser executado em camadas com
espessuras de 0,20 m, compactadas manualmente com cepos ou através de equipamento
mecânico leve, para evitar danos na estrutura.
Na Figura 26 é apresentado um talude sendo impermeabilizado e revestido com
alvenaria armada.
47

Figura 26: Revestimento com Alvenaria Armada

Fonte: Manual de Ocupação de Morros (2003).

i) Revestimento com asfalto ou polietileno

Revestimento com asfalto tem caráter temporário e emergencial e consiste na


aplicação, por rega ou aspersão, de uma delgada camada de asfalto diluído a quente, ou em
emulsão, com a finalidade de proteger os taludes da erosão e da infiltração. Para uma maior
durabilidade, o revestimento deve ser aplicado sobre a encosta previamente limpa e
destocada, exigindo manutenção constante, já que a película sofre deterioração pela ação do
calor solar e não resiste a impactos ou carga. Seu emprego em áreas habitadas é considerado
inconveniente, seja pela aparência escura, pela ausência de vegetação, ou pelo aumento da
temperatura local (Cunha, 1991).
Este tipo de revestimento pode ser compreendido através da Figura 27, onde está
sendo aplicado asfalto no talude regularizado. O uso de polietileno não é muito difundido,
exige limpeza prévia da encosta e mostra boa aderência a solos areno-argilosos, suportando
cargas de até 1,8 kg/m². Sua aplicação é feita através de jatos, com uma produção de 1000
m²/dia/ 3 pessoas e o tempo de cura é de 2 horas (Alheiros et al., 2003).
48

Figura 27: Revestimento com Asfalto

Fonte: Slide Proteção de Taludes (2013).

j) Revestimento com lonas sintéticas (PVC e outros materiais)

Segundo Alheiros et al. (2003), o revestimento com lonas sintéticas é utilizado


largamente nos períodos de inverno. Tem uma vida útil curta (semanas a poucos meses),
apresentando melhores resultados quando corretamente colocadas. Devem ser aplicadas antes
da saturação da encosta, tendo um importante efeito na redução do volume da água infiltrada,
reduzindo a ocorrência de acidentes. A permanência da lona após as chuvas impede a
retomada do crescimento da vegetação sobre a encosta e a evaporação da água, devendo ser
removida quando as condições de segurança permitirem (Figura 28).

Figura 28: Revestimento com Lonas Sintéticas

Fonte: Prefeitura Municipal de Cariacica (2015).


49

2.4.14 Estabilização de blocos

A estabilidade dos maciços rochosos é função de uma complexa combinação entre as


propriedades da rocha, das descontinuidades e das condições em que o talude se encontra
(Nunes, 2008).
Os movimentos são geralmente iniciados por algum evento climático ou biológico que
provoca uma mudança nas forças atuantes sobre a rocha. Estes processos podem incluir o
aumento de poropressão pela infiltração de águas pluviais, a erosão de materiais circundantes,
mudanças de temperaturas, intemperismo físico ou químico e crescimento de raízes (Spang,
2004).
Portanto, é de suma importância fazer estudos geológicos e geotécnicos em regiões
com predominância de maciços rochosos, levantando informações sobre a área de risco para
propor medidas de prevenção evitando a ocorrência de desastres ambientais (Figura 29).

Figura 29: Estabilização de Blocos

Fonte: Blog CPRM (2016).

a) Retenção com tela metálica e tirante

Alheiros et al. (2003) diz que a retenção com tela metálica deve ser adotada em taludes
de maciços rochosos, passíveis de queda de blocos pequenos, que causem, em consequência,
o descalçamento e a instabilização de partes mais altas da encosta.
50

As telas são fixadas no topo da crista e na parede da encosta, com grampos de fixação
distribuídos em intervalos regulares, como se vê na Figura 30 (a) e (b). A tela deve ser
protegida da corrosão para garantir sua eficácia de proteção e aumentar sua vida útil.

Figura 30: Retenção com Tela Metálica

(a) (b)
Fonte: Faculdades Kennedy (2010).

b) Remoção e desmonte

Encostas em áreas de rochas cristalinas podem estar sujeitas à instabilização de blocos


fraturados ou ao rolamento de matacões. O clima quente e úmido favorece a decomposição
química gradual da rocha, de fora para dentro, e, com maior intensidade, ao longo das
fraturas. Desse modo, é pouco provável a ocorrência de encostas naturais em rochas
cristalinas, que preservem blocos angulosos: a tendência final é o seu arredondamento,
formando os matacões que posicionam nas camadas mais superficiais dos solos (Alheiros et
al., 2003).
Quando esses blocos ameaçam moradias ou rodovias próximas, é recomendável sua
remoção, utilizando equipamentos adequados para evitar a ocorrência de acidentes (Figura
31).
51

Figura 31: Remoção e Desmonte de Rochas Fraturadas

Fonte: Alibaba (2015).


52

3 METODOLOGIA

Para a elaboração do presente trabalho foram realizadas revisões bibliográficas de


artigos acadêmicos, manuais técnicos, livros didáticos, visitas de campo e entrevistas com
moradores e profissionais da área. Esse método se justifica por fornecer clareza ao estudo das
áreas de riscos geológicos, dos tipos de movimento de massa, dos métodos de estabilização de
encostas e da análise dos softwares utilizados como apoio para mapeamento e
dimensionamento, além de objetivar um entendimento mais amplo do assunto.
Na pesquisa de campo contamos com o apoio da Defesa Civil do município de
Contagem para vistoria da área e coleta de informações. Nas visitas técnicas, entrevistamos
alguns moradores (ver anexo I), a fim de coletar relatos sobre incidentes que ocorreram em
épocas de chuva e, com o auxílio de um técnico especializado, obtivemos os parâmetros do
solo necessários para o dimensionamento da contenção escolhida, que, no caso foi o de
gabião.
O cálculo da estrutura foi possibilitado com o apoio técnico da empresa Maccaferri,
especializada em dimensionamento de gabião, que disponibilizou o acesso ao software
Gawacwin e seu respectivo manual de instrução. Com a coleta dos parâmetros do solo, foi
possível obter dados de entrada do software, visando o dimensionamento e cálculo da
estabilidade da estrutura.
No entanto, cabe ressaltar que a falta de dados do local, como o nome dos córregos e
suas respectivas vazões e a ausência de registros de ocorrência de eventos foram limitações
encontradas para o desenvolvimento da pesquisa.
53

4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

4.1 Contexto Local

O Município de Contagem enfrenta muitos problemas em épocas de chuva devido às


construções irregulares nas margens dos córregos e a falta de dimensionamento de drenagem
em algumas regiões, o que favorece a ocorrência de enchentes. A Defesa Civil controla essas
áreas e solicita à Prefeitura as intervenções necessárias. Porém, muitas delas são
negligenciadas pelo poder público, condenando a população local a conviver com a situação
de risco.
O bairro Olinda, localizado às margens do córrego, conhecido popularmente como
Maracanã, possui várias residências sujeitas a risco de desabamento, conforme se pode ver na
Figura 32, seus moradores não são contemplados com os recursos da prefeitura.

Figura 32: Bairro Olinda

Fonte: Acervo dos Autores (2017).

Com objetivo de contribuir para melhorar a qualidade de vida dessa população


ribeirinha que, devido ao baixo poder aquisitivo, não apresenta condições de contratar
profissionais da área para auxiliar na elaboração de projetos de contenção de suas residências,
faremos o dimensionamento do gabião para a situação mais crítica, norteando o restante da
vizinhança quanto à estrutura mais adequada para a situação.
A residência contemplada no presente trabalho está localizada na Avenida Dois,
número 412, bairro Olinda, conforme Figura 33, obtida por meio do aplicativo Google Maps.
Contudo, a imagem aérea é do ano de 2013, o que possibilita observar como era o terreno
antes de perder cerca de 40% da sua área devido à erosão, demonstrado na Figura 34,
conforme relatos da Defesa Civil de Contagem e da proprietária do terreno, Sra. Fátima.
54

Figura 33: Localização da residência contemplada no estudo de caso

Fonte: Google Maps (2014).

Figura 34: Residência contemplada no estudo de caso

Fonte: Acervo dos Autores (2017).

A escolha desta residência se deve ao fato de uma grande parcela do terreno ter sido
perdida em decorrência das enchentes no córrego Maracanã, provocando uma intensa erosão
nas margens, e também por apresentar diversas patologias (fissuras, trincas, aberturas,
recalques etc.) na casa, conforme se pode observar na Figura 35. Esses dados evidenciam a
necessidade, em caráter emergencial, de intervenção no terreno, evitando a perda total do lote
e possíveis acidentes que comprometam a vida dos moradores.
55

Figura 35: Trincas da Casa Analisada

Fonte: Acervo dos Autores (2017).

A erosão das margens dos cursos d’água é uma das manifestações mais visíveis do
complexo reajustamento da morfologia do canal em busca de um novo equilíbrio e das
alterações na dinâmica do sistema fluvial, ocorrendo um trabalho contínuo de escavação na
base da margem côncava, onde a velocidade é maior, e de deposição na parte convexa
(CHRISTOFOLETTI, 1981; GUERRA; CUNHA, 2003). Os processos erosivos ocorrem
quando a resultante de todas as forças atuantes sobre o material erodível excede o resultado
efetivo de todas as forças que tendem a conservar o material no próprio local (SIMONS,
1982).
O avanço dos processos erosivos tem levado à adoção de práticas de controle seja a
partir do empirismo da população ribeirinha ou pelo uso de soluções de engenharia, ou
mesmo a bioengenharia de solos. Seja naturalmente ou pela mão do homem, os rios estão
sujeitos a desequilíbrios que podem ser mitigados ou evitados por meio de obras adequadas
(BRANDÃO, 2001).
As margens do curso d’água e encostas estão sujeitas a ação de um processo erosivo
cada vez mais elevado, tanto pela falta de vegetação, quanto pelo aumento da vazão do
córrego em períodos chuvosos, o que consequentemente agrava a situação dos moradores
nessa área de risco, pois o processo de desgaste e sedimentação do solo, acaba chegando até
as residências, que se localizam a beira do córrego, causando problemas estruturais nas
edificações.
56

Com isso, é necessária a construção de uma obra de engenharia para minimizar este
processo erosivo e estabilizar os trechos de margens comprometidas pelo curso d'água e
propiciar segurança aos moradores deste local.

4.2 Escolha do tipo de Contenção

O córrego objeto de estudo deste trabalho é conhecido regionalmente como Maracanã,


por estar localizado em um bairro de mesmo nome, na cidade de Contagem-MG. Outros dois
córregos menores contribuem para a vazão do Maracanã, sendo um afluente direito,
localizado no bairro Funcionários e o afluente esquerdo, localizado no bairro Arcádia. A
Figura 36 traz um mapa com a localização do córrego Maracanã e seus contribuintes.

Figura 36: Córrego Maracanã e seus contribuintes

CÓRREGO MARACANÃ

AFLUENTE ESQUERDO

AFLUENTE DIREITO

Fonte: Acervo dos autores (2017).

A área no entorno do córrego foi urbanizada sem planejamento e de forma irregular, o


que colabora para uma ocupação geradora de impactos ambientais, tais como prejuízo à
vegetação nativa e poluição das águas do córrego, como se pode ver na Figura 37.
57

Figura 37: Impactos gerados pela ocupação

Fonte: Acervo dos autores (2017).

Além disso, a antropização desta área, com os seus consequentes impactos, favorece
um cenário de erosão que traz riscos relativos à estrutura das residências em seu entorno,
como esboçado anteriormente na Figura 32, que mostra uma casa com a fundação exposta.
Outro processo que pode ser observado no entorno do córrego é o assoreamento, conforme
Figura 38 a seguir:
58

Figura 38: Assoreamento do córrego

Fonte: Acervo dos autores (2017).

Uma das possíveis soluções para estabilizar o talude da área em estudo seria o
retaludamento, citado anteriormente neste trabalho. No entanto, esse recurso requer grande
espaço para atingir a inclinação desejada, tornando-o inviável. No local, não seria possível
realizar o corte e o aterro no talude, pois as casas encontram-se muito próximas das margens.
Outra medida de estabilidade seria o solo-cimento ensacado (também conhecido
popularmente como rip-rap), que estabelece o equilíbrio da encosta com seu peso próprio,
tendo como vantagens o seu baixo custo e o fato de não demandar mão de obra ou
equipamentos especializados.
Acatando o desenvolvimento de um trabalho mais técnico com a parceria de empresa
especializada, para o estudo de caso, optou-se pelo muro gabião, pois, possui flexibilidade,
durabilidade e a permeabilidade do sistema permite a drenagem do fluxo de água que percola
pelo maciço que está sendo contido. Para o local estudado é necessário estrutura para proteção
das margens, que pode diminuir a erosão, atuando como uma obra de contenção.
59

4.2.1 Vantagens do Gabião

 Flexibilidade - devido a sua flexibilidade, os gabiões, podem acompanhar recalques


ou acomodações sem perder a sua eficiência e função estrutural;
 Permeabilidade - sendo altamente permeáveis e drenantes, possibilitam o fluxo das
águas de percolação, aliviando empuxos hidrostáticos e otimizando as seções de tais
estruturas;
 Monoliticidade e durabilidade - devido à presença de malha de aço, ao peso próprio
e ao caráter monolítico, os gabiões possuem estruturas que resistem a esforços de
tração e empuxos gerados pelo terreno e cargas adjacentes;
 Resistência - sua resistência é maior que a de proteção feita somente de pedras
marroadas ou talhadas na medida em que a tela e o travamento entre as grades
aumenta a coesão do conjunto;
 Simples e rápida execução - sua execução é simples, utilizando apenas tela e pedra
permitem rapidez de execução e possibilidade de trabalho em locais de difícil acesso;
 Economia - comparada a outras técnicas construtivas, como a cortina atirantada, por
exemplo, os gabiões apresentam custos mais baixos que influenciaram em sua escolha.

4.2.2 Desvantagens do Gabião

 Disponibilidade de espaço - tornando-se inviável em grandes centros urbanos ou em


locais que necessitem de um bom aproveitamento do espaço;
 Possibilidade de corrosão das malhas das gaiolas - sendo necessária a compra com
fornecedores confiáveis;
 Mão de obra especializada - tem-se a necessidade de um bom projeto estrutural e
habilidade técnica para o posicionamento das pedras para melhor embricamento.

4.2.3 Tipos de Gabião

São três os tipos de gabiões existentes no mercado. Todos são constituídos por tela
metálica e pedras, mas apresentam diferentes formatos, o que lhes confere funções diversas.
Podem ser em formato de caixa, de saco ou de colchão.
Os gabiões tipo caixa, Figura 39, são os mais conhecidos e utilizados nas obras de
engenharia.
60

Segundo a empresa Maccaferri, eles são elementos estruturais em forma de prisma


retangular fabricados em malha hexagonal de dupla torção, subdivididos em celas por
diafragmas que reforçam e facilitam sua montagem e enchimento. São mais indicados para
obras de contenção de encostas.

Figura 39: Gabião Tipo Caixa

Fonte: COMEP (2017).

Os gabiões tipo saco, representados na Figura 40, apresentam um único pano de tela
que envolve as pedras e é amarrado em suas extremidades. Por possuir uma geometria
cilíndrica e ser de fácil execução é indicado para obras em locais de difícil acesso ou quando
apoiadas sobre solos de baixa capacidade de suporte, conforme Manual da Maccaferri.

Figura 40: Gabião Tipo Saco

Fonte: COMEP (2017).

Por sua vez, os colchões reno são os gabiões desenvolvidos para atuarem como
revestimentos, apresentam geometria semelhante ao gabião caixa, porém, sua espessura é
menor, conforme demonstrado na Figura 41.
61

Figura 41: Colchão Reno

Fonte: COMEP (2017).

Todos os tipos de gabiões, quando em contato direto com a água, são revestidos de
zincagem pesada e recobrimento adicional de material plástico, evitando corrosão da malha
metálica.
Ante as três opções apresentadas, para a área analisada, projetou-se a utilização de
gabiões tipo caixa, uma vez que são os mais indicados para obras de contenção de encostas.
Também previmos a necessidade de um recobrimento plástico, já que a contenção estará em
contato direto com o córrego “Maracanã”.

4.2.4 Aspectos de Durabilidade e Vida Útil em Gabião Caixa

Gabiões podem ser utilizados em vários ambientes construtivos, dependendo do local


e o tipo de solo predominante na região. Segundo Silva et al. (2016), a vida útil e durabilidade
do gabião está diretamente ligada à manutenção preventiva e corretiva da obra, pois, as pedras
naturais empregadas neste tipo de obra apresentam um grau de degradação muitíssimo baixo.
Assim, não há restrições à durabilidade das estruturas de gabiões.
A manutenção preventiva e corretiva é de grande importância. Fazendo as correções
necessárias como limpeza de insetos, de vegetação e reforçamento da tela da estrutura,
quando necessário, garante-se a durabilidade da estrutura.
62

Para garantir adequada vida útil ao gabião, deve-se atentar para a tela que envolve a
estrutura, que será determinada através da taxa de corrosão e o ambiente em que o mesmo se
encontra. Algumas variáveis podem influenciar na vida útil da estrutura, como o contato com
o solo, o grau de cobertura vegetal, a ação do vento e a perda de permeabilidade da estrutura
pela sedimentação de partículas do solo transportadas para os vazios, promovendo o
desfiamento das telas.

4.2.5 Dimensionamento do Gabião

Existem dimensões padronizadas para os gabiões caixa. O comprimento, sempre


múltiplo de 1 m, varia de 1 m a 4 m, com exceção do gabião de 1,5 m, a largura é sempre de 1
m, e a altura pode ser de 0,50 m ou 1,00 m. Assim como apresentado na Tabela 2.

Tabela 2: Dimensões padrões dos gabiões tipo caixa

Fonte: Maccaferri (2012).

Uma das formas de dimensionamento do gabião é através de softwares. No o estudo


de caso em tela, como já mencionado, contamos com o apoio da empresa Maccaferri,
especializada em estruturas de gabião, que nos orientou quanto ao dimensionamento e nos
disponibilizou o acesso ao software GawacWin.
Nesse software são solicitados dados relativos a características e geometria do muro,
por meio da inserção de alguns parâmetros do solo, como o comprimento, a inclinação, o peso
específico, a coesão e o ângulo de atrito. Considera-se, também, possíveis sobrecargas no
terrapleno e presença de água no solo. A partir dos dados inseridos, o software verifica a
63

segurança ao escorregamento, ao deslizamento e ao tombamento, a capacidade de carga da


fundação e a estabilidade global do talude.
64

4.2.6 Processo de Execução do Gabião

a) Embalagem para manuseio e transporte

Para facilitar o manuseio e o transporte, os gabiões são fornecidos dobrados e reunidos em


fardos, como se pode ver na Figura 42.

Figura 42: Embalagem do Gabião

Fonte: Maccaferri: Gabiões e Outras Soluções (2010).

b) Processo de montagem do gabião:

Para realizar a montagem dos fardos, cada unidade deve ser aberta e
desdobrada. No caso de gabiões Caixa, levantam-se as laterais e os diafragmas
na posição vertical, e costuram-se as arestas em contato e os diafragmas com
as laterais. A costura deve ser executada com o arame que é enviado junto com
os gabiões e é feita de forma contínua passando-se por todas as malhas,
alternadamente, com voltas simples e duplas.
Pode-se ver como é feita a montagem do gabião nas Figuras 43 e 44 a seguir:
65

Figura 43: Montagem Gabião

Fonte: Maccaferri:Gabiões e Outras Soluções (2010).

Figura 44: Montagem Gabião

Fonte: Gabiões AWA


66

c) Colocação do gabião:

Para colocar os gabiões, primeiramente nivela-se a base onde serão colocados até
obter um terreno regular. Antes do processo de enchimento, costuram-se os
gabiões em contato ao longo de todas suas arestas, tanto horizontais como
verticais. No caso de gabiões Caixa, para obter um melhor alinhamento e
acabamento, estes podem ser tracionados antes de ser enchidos ou, em alternativa,
pode-se utilizar um gabarito de madeira na face externa, Figura 45. O uso da
costura não é necessário entre os gabiões saco.

Figura 45: Colocação do Gabião

Fonte: Maccaferri:Gabiões e Outras Soluções (2010).

d) Enchimento dos gabiões:

O enchimento pode ser efetuado manualmente ou com auxílio de equipamento


mecânico. Deverá ser usada pedra limpa, não friável e de bom peso específico. O
tamanho deve ser, na medida do possível, regular e tal que as dimensões estejam
compreendidas entre a maior medida da malha e seu dobro. É aceitável no máximo 5%
de pedras com dimensões superiores às indicadas. O enchimento deve permitir
máxima deformabilidade da estrutura, obtendo a mínima porcentagem de vazios,
assegurando assim o maior peso específico. A Figura 46 mostra como é feita a
execução do enchimento.
67

Figura 46: Enchimento Gabião

Fonte: LOKMAX Logistica e Acabamentos (2017).

e) Forma de Atirantamento

Para cada cela do gabião deve-se encher de 1,00 m de altura até um terço de sua
capacidade, colocam-se dois tirantes unindo paredes opostas, amarrando duas malhas
de cada parede. Essa operação deve ser repetida quando o gabião estiver cheio até dois
terços. Em casos particulares, os tirantes podem unir paredes adjacentes. Para gabiões
de 0,50 m de altura, devem-se colocar os tirantes apenas quando as caixas estão
preenchidas até a metade. Eventualmente em obras de revestimento ou plataformas, os
tirantes podem ser colocados verticalmente.
Pode-se observar, na Figura 47, o detalhamento do atirantamento.
68

Figura 47: Atirantamento Gabião

Fonte: Maccaferri: Gabiões e Outras Soluções (2010).

f) Finalização e Fechamento:

No caso dos gabiões caixa, deve se dobrar a tampa. Os gabiões caixa,


colocados acima de uma camada já executada, devem ser costurados ao longo
de todas as arestas em contato com a camada dos gabiões já preenchidos. O
gabião finalizado pode ser visto na Figura 48.

Figura 48: Fechamento Gabião

Fonte: Acervo Maccaferri (2010).


69

5 DIMENSIONAMENTO DO GABIÃO ATRAVÉS DO SOFTWARE GAWACWIN

Conforme mencionado no item 4.2.5, para realizar o dimensionamento da estrutura de


gabião, contamos com o suporte da empresa Maccaferri, que nos disponibilizou o acesso ao
software GawacWin e nos orientou como utilizá-lo. Dessa forma, o objetivo deste tópico é
demonstrar, passo a passo, como foi realizado o dimensionamento dessa contenção.

5.1 Primeira etapa: Dados gerais sobre o muro de gabião

A primeira etapa para o dimensionamento através do software GawacWin é a inserção


dos dados relacionados ao muro de gabião, conforme Figura 49.

Figura 49: Dados gerais sobre o muro

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


70

A inclinação adotada foi de 6°, pois é o valor considerado seguro pela Maccaferri.
Essa inclinação auxilia na estabilidade da estrutura quanto ao deslizamento. Para a obtenção
do peso específico do muro é necessário o peso específico da rocha, que pode ser obtido
através da NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações, que fornece uma
tabela com os valores relativos a alguns tipos de rochas. No entanto, o valor utilizado foi
fornecido pela Maccaferri, que adota uma rocha com 24 kN/m³. Desse valor é necessário
descontar os espaços vazios entre os blocos de rocha que, segundo a Maccaferri, é de
aproximadamente 30%. Assim, o dado inserido foi 70% de 24 kN/m³, obtendo um peso
específico de 16,8 kN/m³.
A porosidade está diretamente ligada com a porcentagem de espaços vazios, sendo ela
o quociente do volume de espaços vazios pelo volume total da rocha. Para fins de
programação o dado a ser inserido será 100% - 30%, obtendo 70%.
O geotêxtil funciona como um filtro, retendo partículas de solo fino na percolação da
água. Para a estrutura foi considerado geotêxtil no terrapleno, pois é necessário reter o solo,
evitando que as partículas entrem na estrutura, desgastando as rochas e aumentando o número
de espaços vazios (diminuindo seu tamanho). Porém, o geotêxtil também reduz o atrito da
estrutura com solo. Para a empresa, a redução de atrito é cerca de 5%. Dessa forma, não será
colocado geotêxtil sob a base, pois ao diminuir o atrito com o solo, aumenta a possibilidade
de deslizamento da estrutura.
O programa já fornece os valores padrões de malha e diâmetro. Para o
dimensionamento foi adotada uma malha hexagonal de 8 cm x 10 cm e um diâmetro de 2,7
mm de dupla torção.

5.2 Segunda etapa: dados sobre as camadas do muro

A segunda etapa consiste em informar as dimensões das camadas do gabião, como


exemplificado na Figura 50.
71

Figura 50: Dados sobre as camadas do muro

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

Os parâmetros de deslocamento, de altura e de largura podem ser identificados através


da Figura 51.

Figura 51: Dimensões do muro de gabião

Fonte: Acervo dos autores (2017).


72

Na visita de campo foi possível medir, por meio de uma trena, a distância do talude ao
leito do rio, 2,3 m, e a sua altura, 3,1 m. Como os blocos apresentam tamanhos padrões,
variando de 0,5 m a 1,0 m, foi definido como largura do muro o valor de 2,0 m e como altura
3,0 m.
Devido à presença de construções no talude a ser contido, o muro de gabião foi
dimensionado com os degraus externos, de forma a não interferir no solo à montante. O
deslocamento de 0,5 m varia em função da altura a cada metro, pois a contenção de arrimo à
gravidade (gabião) necessita que sua estrutura tenha uma forma piramidal, ou seja, que a
largura das camadas cresça em função da altura. Isso se deve ao empuxo que cresce
proporcionalmente ao crescimento da altura, necessitando então de maior peso para contrapor
o empuxo ativo do solo.
O valor de 0,5 m é referente ao tamanho padrão das peças de gabião que, também,
poderia ser feito de 1,0 m, porém, seria um superdimensionamento e elevaria o custo da obra.
O escalonamento de 0,5 m seria uma otimização. Após a inserção desses dados, o programa
fornece o primeiro esboço da estrutura, conforme Figura 52.

Figura 52: Resultado da segunda etapa.

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


73

5.3 Terceira etapa: dados sobre o solo de fundação

A terceira etapa do dimensionamento foi as informações sobre o solo no qual a


estrutura de contenção estará apoiada, Figura 53.
Figura 53: Dados sobre a fundação

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

Para a altura inicial será considerado um engastamento mínimo de 0,5 m, fator de


segurança determinado em norma, com objetivo de aumentar a segurança quanto ao
tombamento.
Na visita de campo mediu-se, também, através de trena, o comprimento do solo de
fundação, obtendo-se 13,0 m, e realizando a identificação tátil visual classificou-se o tipo de
solo como areia pouco siltosa/pouco argilosa. Com essa classificação foi possível obter os
parâmetros geotécnicos do solo por meio do Quadro 1. A faixa de SPT adotada refere-se à
profundidade do terreno.
74

Quadro 1: Parâmetros médios do solo

Fonte: Livro fundações e contenções de edifícios (2007)

A máxima pressão admissível e a altura do nível d’água, dados adicionais solicitados


pelo programa, não foram preenchidos, pois são obtidos através do relatório de sondagem,
que não foi realizada.
Após o fornecimento dos dados da terceira etapa, foi inserido o solo de fundação no
esboço da estrutura, conforme Figura 54.
75

Figura 54: Resultado da terceira etapa

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

5.4 Quarta etapa: dados sobre o terrapleno

A quarta etapa consiste no fornecimento de dados sobre o solo do talude a ser contido
pela estrutura, conforme Figura 55.

Figura 55: Dados sobre o terrapleno

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


76

A superfície a ser contida é dividida em trechos para casos em que haja diferença na
inclinação do talude. Na situação dimensionada, a contenção será construída “rente” ao solo
que já está nivelado, dessa forma, a inclinação considerada foi de 0°.
Para o comprimento do 1° trecho, mediu-se, com auxílio de uma trena, a distância do
muro de divisa do lote até o talude, obtendo-se 15,0 m.
Após a inserção dos dados, é adicionado ao esboço da contenção o solo à montante da
estrutura, Figura 56.

Figura 56: Resultado da quarta etapa

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

5.5 Quinta etapa: cargas sobre o terrapleno.

A quinta etapa é a determinação das cargas atuantes no solo a ser contido. De acordo
com a NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações, para edifícios
residenciais as cargas verticais são de 1,5 kN/m² para dormitórios, sala, copa, cozinha e
banheiro e de 2,0 kN/m² para despensa, área de serviço e lavanderia.
77

Figura 57: Cargas sobre o terrapleno

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

Como a casa analisada possui todos os cômodos citados na Norma, foi adotada a
média entre as cargas verticais, no valor de 1,7 kN/m², conforme Figura 58.

Figura 58: Resultado da quinta etapa

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


78

5.6 Resultado Final

Após a inserção das cargas, foi possível gerar o relatório final, ver Anexo 1, com os
empuxos ativos e passivos atuantes e com os coeficientes de segurança contra o deslizamento,
contra o tombamento e contra a ruptura global.
O resultado final, constando a linha de ruptura, pode ser visto na Figura 59.

Figura 59: Resultado final

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

Os coeficientes de segurança do gabião dimensionado podem ser vistos no Quadro 2.

Quadro 2: Coeficientes de Segurança

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

O valor de 98,93 kN/m² referente à máxima tensão admissível do solo foi fornecido
pelo programa a partir dos dados inseridos. Para verificar se os valores encontrados eram
adequados foi necessário comparar com os valores determinados pela NBR 11682 –
Estabilidade de taludes, apresentados na Tabela 3.
79

Tabela 3: Fatores de Segurança Mínimo

Fonte: NBR 11682 (1991)

Considerando que é necessário um grau de segurança alto no local em estudo, em


função do nível de risco anteriormente descrito, o fator de segurança mínimo é de 1,50.
Conforme os valores apresentados no Quadro 2, o muro dimensionado atende às exigências
da Norma, uma vez que os seus coeficientes de segurança, 1,50 para deslizamento, 2,98 para
tombamento e 1,61 para ruptura global, foram iguais ou superiores ao estabelecido pela
norma.
Quanto à máxima tensão admissível, é possível identificar, no Quadro 2, que os
valores de tensão provocados pelo muro de 18,86 kN/m² na base esquerda e de 14,69 kN/m²
na base direita, são inferiores à tensão admissível do solo de 98,93 kN/m².
Portanto, o muro dimensionado está dentro dos parâmetros estabelecidos por norma,
estando apto para sua execução.
80

6 LEVANTAMENTO DE CUSTOS DA ESTRUTURA DE GABIÃO

Para o levantamento de custos foram realizados dois cálculos, sendo o primeiro


composto por informações fornecidas pela empresa Maccaferri e o segundo, a partir de dados
retirados da dissertação “Muro de Contenção utilizando pneus: Análise e alguns comparativos
de custo” de Antonio Nerton de Souza.
A Maccaferri forneceu os seguintes valores:
 Gabião caixa = R$ 180,00 / m³
 Pedra de mão = R$ 70,00 / m³
 Manta de bidim = R$ 3,00 / m²
 Mão de obra = R$ 70,00 / m³
Já o Quadro 3 mostra os dados utilizados no segundo cálculo.

Quadro 3: Custos muro de gabião

Fonte: SOUZA (2002).

Nos dados do Quadro 3 não foi considerada a manta de geotêxtil (bidim), por isso,
para o cálculo, foi considerado o mesmo valor fornecido pela Maccaferri.

6.1 Considerações de cálculo

 Obtenção da quantidade necessária em m³ de gabião


Largura base = 2,0 m
Largura base intermediaria = 1,5 m
Largura base superior = 1,0 m
Comprimento = 13,0 m
Altura = 3,0 m
81

Gabião caixa (tela) = (2,0 x 13,0 x 1,0) + (1,5 x 13,0 x 1,0) + (1,0 x 13,0 x 1,0) =
58,5 m³

 A quantidade de pedra será a mesma quantidade obtida de gabião caixa, portanto:


Pedra de mão = 58,5 m³

 A manta geotêxtil é colocada entre o gabião e o aterro, tendo como função a drenagem
e a filtração. Desta forma, ela impede a passagem de material de aterro por percolação
e evita a colmatação do gabião, que é autodrenante.
Comprimento = 15,0 m
Altura = 5,0 m
Manta geotêxtil = 15,0 x 5,0 = 75 m²

Observação: Foi utilizado para cálculo 1 m a mais de cada lado do comprimento e o mesmo
para a altura, para melhor distribuição do geotêxtil entre o solo arrimado e a estrutura de
gabião.

 A mão de obra é disponibilizada em m³, logo:


Mão de obra = 58,5 m

6.2 Resultados obtidos

Os resultados obtidos foram apresentados nos Quadros 4 e 5, referentes ao cálculo


com os dados fornecidos pela Maccaferri e obtidos pela tabela de SOUZA (2002),
respectivamente.

Quadro 4: Custo com dados fornecidos pela Maccaferri


Descrição: Quantidade Unidade Preço Médio Subtotal
Gabião caixa (tela) 58,5 m³ R$ 180,00 R$ 10.530,00
Pedra de mão 58,5 m³ R$ 70,00 R$ 4.095,00
Manta geotextil (bidim) 75 m² R$ 3,00 R$ 225,00
Mão de obra 58,5 m³ R$ 70,00 R$ 4.095,00
Total obra = R$ 18.945,00
Fonte: Acervo dos autores (2017)
82

Quadro 5: Custo com dados obtidos da tabela de SOUZA


Descrição: Quantidade Unidade Preço Médio Subtotal
Gabião caixa (tela) 58,5 m³ R$ 189,00 R$ 11.056,50
Pedra de mão 58,5 m³ R$ 116,00 R$ 6.786,00
Manta geotextil (bidim) 75 m² R$ 3,00 R$ 225,00
Mão de obra 58,5 m³ R$ 90,00 R$ 5.265,00
Total obra = R$ 23.332,50
Fonte: Acervo dos autores (2017)

Assim, tem-se uma diferença de 23% entre os resultados dos cálculos realizados, o que
indica que os valores podem ser considerados razoáveis. Com isso, o custo total para a
execução da estrutura de gabião aproxima-se dos valores R$ 18.945,00 e R$ 23.332,50.
83

7 CONCLUSÃO

A ocupação habitacional em áreas geologicamente desfavoráveis é um dos grandes


problemas enfrentados em nosso país. Com o objetivo de minimizar essa situação, nosso
trabalho se propõe a apresentar soluções que possam melhorar a qualidade de vida das
pessoas que estão sujeitas a essa situação, especialmente daqueles moradores do local que nos
serviu de objeto de estudo.
O estudo de caso do presente trabalho foi realizado no Município de Contagem, região
metropolitana de Belo Horizonte, que é considerada uma das áreas de maior incidência de
acidentes geológicos do País. Para tanto, foi fundamental o apoio da Defesa Civil de
Contagem que, por meio do mapeamento das áreas de risco, identificou o bairro Olinda,
localizado às margens do córrego Maracanã, como uma das regiões mais críticas.
O bairro possui várias residências sujeitas a risco de desabamento, em especial, a
residência da Sra. Fátima, que já perdeu cerca de 40 % do terreno e tem em sua casa a
presença de diversas patologias (fissuras, trincas, aberturas, recalques etc.), o que evidencia a
necessidade, em caráter emergencial, de intervenção no terreno.
São diversos os tipos de estruturas de contenção para áreas de risco, porém,
considerando-se a falta de recursos financeiros, a proximidade com o curso d’água, a presença
de construção no solo a ser contido e a instabilidade do terreno, acredita-se que as estruturas
mais indicadas para o caso são os muros à gravidade. A escolha da contenção em gabião se
justifica por apresentar vantagens ambientais, geotécnicas e executivas.
Para o dimensionamento da estrutura, contou-se com o apoio da empresa Maccafferi,
especializada em gabião, que auxiliou no dimensionamento da estrutura, através do software
GawacWin. No presente trabalho demonstra-se, passo a passo, como é realizado o
dimensionamento com o objetivo de auxiliar outras pessoas que necessitem dessa ferramenta.
Após o dimensionamento, realizou-se uma estimativa de custo para a construção dessa
estrutura, cujo valor está entre R$ 18.945,00 e R$ 23.332,50. Considerando-se que a
capacidade financeira da região é baixa, a construção da contenção demanda um alto
investimento. Contudo, pode ser considerada uma boa alternativa, visto que, caso não haja
uma intervenção no terreno, com as próximas chuvas, a família corre o risco de perder o
restante da casa e até mesmo suas vidas, que são prejuízos imensráveis.
84

7.1 Sugestões para futuros trabalhos

 Elaborar o dimensionamento da estrutura de gabião através de outros softwares


disponíveis no mercado e comparar com o resultado do presente trabalho;
 Fazer um comparativo técnico do gabião com outras possibilidades de contenções;
 Fazer um comparativo econômico do gabião com outras possibilidades de contenções.
85

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88

APÊNDICE A – Entrevista com os moradores do Bairro Olinda – Contagem

Entrevista com o morador 1: Taioba, 46 anos.

Grupo: O problema das enchentes do córrego Maracanã é antigo?

Morador: Não. Quando chovia a água tinha para onde escoar, pois era menos cimentado.
Antigamente o córrego era limpo, nós brincávamos nele.

Grupo: E há quanto tempo começaram essas enchentes?

Morador: Há uns 30 anos. Aqui não tinha uma vazão adequada, eram manilhas. A prefeitura
veio e colocou uma ponte bem alta e melhorou a situação. Mas os moradores não colaboram
e jogam lixo no córrego, represando a água e causando assoreamento. Vai sofrendo
assoreamento e já até desviou o leito do córrego.

Grupo: Quais as principais consequências que o córrego acarreta para os moradores daqui?

Morador: As inundações. O pessoal de baixo sofre com as inundações. Eu moro na rua de


cima e a gente está tendo problema também com o afluente do córrego. E o problema é o
mesmo daqui, falta de estrutura e de educação do povo, trazendo transtornos para todo
mundo.

Grupo: Houve algum evento que acarretou perdas humanas?

Morador: Não. Nunca ninguém morreu aqui nas inundações. As famílias perdem seus móveis
e tem a casa alagada.

Grupo: Mas após as inundações as casas são recuperadas? Ou alguma família já perdeu a
casa?

Morador: A casa inteira não, mas a garagem da dona Terezinha que mora ali na esquina
desabou. A casa dela está interditada.
Fonte: Elaborado pelos autores.
89

Entrevista com a moradora 2: Dona Fátima, 62 anos.

Grupo: O que aconteceu com a sua casa?

Moradora: A minha área de serviço desabou com a chuva. Eu fiquei até sem lavar roupa, eu
coloquei um tanquinho lá e agora falei para os meus irmãos como que eu faço? Como que eu
vou lavar roupa? Mas não tem jeito, até resolver a situação não tem como eu fazer outras
coisas aqui.

Grupo: E vocês tomaram alguma providência?

Moradora: Antes eu mandava foto para a prefeitura, a defesa civil vinha aqui, olhava e não
fazia nada. Agora que as coisas pioraram eu quero entrar na justiça.

Grupo: Mas quando vocês perceberam as trincas na casa?

Moradora: Foi do ano passado para cá, depois que minha área de serviço desabou. Porque
tem cinco anos que fizemos uma reforma nessa casa, minha mãe era viva ainda. Então ela
deu uma reforma toda na casa, tampou todas as trincas. Agora a gente fica sem saber como
resolve a situação.

Grupo: Ano a ano a situação vem piorando?

Moradora: É. Vem piorando né? Igual agora, a chuva vem aí como é que vai ficar? Vem a
chuva e a gente está arriscado a perder tudo né?
Fonte: Elaborado pelos autores.
90

ANEXO A – Resultados do software GawacWin

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


91

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


92

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


93

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.


94

Fonte: Maccaferri, Software GawacWin versão 2003.

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