Você está na página 1de 5

BANIR (JÁ) A LUZ INCANDESCENTE?

NÃO, OBRIGADO!

As preocupações ambientais com a correspondente sensibilização para as alterações


climatéricas no planeta, incentivam ao recurso por equipamentos, sistemas e técnicas
amigas da natureza.

É de louvar esse sentimento que a todos deve envolver.

Sendo a iluminação um factor de peso na factura energética, naturalmente assiste--se a


campanhas visando a substituição das lâmpadas incandescentes, pelas fluorescentes
compactas (ditas economizadoras), na generalidade das habitações.

Só que, infelizmente, a ideia de banir pura e simplesmente as tradicionais lâmpadas


incandescentes, assenta num conjunto de oportunismos, interesses políticos e fiscais e de
meias verdades que, um pouco por todo o lado, vêm sendo desmascaradas por
profissionais, associações e publicações luminotécnicas, desde a Europa aos EUA.

Aquelas campanhas, algumas envolvendo personagens públicas que nada sabem do


assunto, mas que se fazem entendidas, em acções de porta a porta suportadas pelos
poderosos média, patenteiam um misto de ignorância, desinformação e populismo, como
convém aos fins nem sempre aparentes de alguns interessados.

A verdade é que a deficiente informação veiculada, vai conduzir a que os consumidores,


após experimentarem indiscriminadamente a “maravilha” das lâmpadas economizadoras,
na maior parte das vezes se sintam enganados, por constatarem que as virtudes
associadas não se concretizam, não justificando pagar-se mais por esse produto.
Consequentemente, tenderão a rejeitar essa opção em futuras aquisições, mesmo
naqueles casos em que muito beneficiariam recorrendo às lâmpadas economizadoras.

Esse será, certamente, o negativo resultado da campanha ser conduzida pela nova casta
de especialistas de geração espontânea: a dos políticos luminotécnicos e afins!

DA VERDADE À MENTIRA CONVENIENTE

É absolutamente certo, que a utilização de lâmpadas economizadoras pode proporcionar


significativas reduções energéticas, compensando facilmente o investimento nessas
lâmpadas, de custo muito mais elevado do que o das vulgares lâmpadas incandescentes.

Mas, para isso, é essencial que sejam utilizadas adequadamente, onde as suas
potencialidades se harmonizem com as necessidades de funcionamento num dado local. E
nisso reside o busílis da questão, que faz toda a diferença e ficará mais perceptível se
conhecermos as principais características técnicas das lâmpadas economizadoras:

1. FUNCIONAMENTO
É idêntico ao de qualquer lâmpada fluorescente, e, por ser de descarga em
vapor de mercúrio, necessita de um balastro para criar o impulso de tensão
indispensável ao arranque (durante o qual o consumo é mais elevado) e, após
este, para ir regulando a tensão à lâmpada até lhe conferir estabilidade térmica.

Nas lâmpadas economizadoras, o balastro está alojado no interior do casquilho.


A manutenção da pressão do vapor de mercúrio dentro da lâmpada é essencial
para o seu bom funcionamento, estando dependente de factores como a
temperatura na envolvente da lâmpada, a frequência das acções de
ligar/desligar e até à posição da própria lâmpada.

2. TEMPO DE ARRANQUE
Enquanto o arranque de uma lâmpada incandescente é instantâneo, o de uma
economizadora, até à máxima emissão de luz e estabilidade térmica, é bastante
significativo: atinge 80% do fluxo entre 23 segundos (valor de laboratório) e 2
minutos, sendo alcançada a plenitude da emissão ao fim de 20 a 23 minutos.

3. FREQUÊNCIA DE COMUTAÇÕES
A quantidade de vezes que uma lâmpada é ligada/desligada e a maior ou
menor duração dos períodos de funcionamento afectam significativamente a
eficiência e a vida útil.

Logicamente, uma vez que leva bastante tempo até estabilizar, o ligar/desligar
em curtos períodos, afecta a quantidade de luz emitida, ao mesmo tempo que
os picos de tensão durante o arranque danificam os eléctrodos, reduzindo a sua
duração.

4. AQUECIMENTO
As lâmpadas economizadoras são sensíveis à temperatura no interior do
candeeiro, sendo esta outra das causas da sua prematura falha. As suas
características são baseadas na temperatura de funcionamento a 25º, o que
raramente se verifica, principalmente em períodos mais dilatados de
funcionamento. Se essa temperatura for da ordem dos 40º (o que é frequente),
a lâmpada emite menos 20% de luz.

A conjunção destes factores adversos, pode conduzir a que a lâmpada em vez


das 10.000/15.000 horas apregoadas, dure alguns meses ou até só, algumas
semanas.

5. POSIÇÃO DE FUNCIONAMENTO
Algumas lâmpadas economizadoras têm posições de funcionamento
privilegiadas, embora este dado não seja referido na etiquetagem.

A diminuição do fluxo induzida por este factor pode atingir 25%.

6. PÓS VIDA
As lâmpadas economizadoras são consideradas como lixo perigoso. Cada
lâmpada possui cerca de 5mg de mercúrio, elemento tóxico para pessoas e
animais.

O cenário mais optimista aponta para a reciclagem, mas, na verdade, a maior


parte das lâmpadas vai para o lixo não selectivo. Mesmo no processamento por
incineração, 90% do mercúrio é lançado na atmosfera.
Lâmpadas em aterros é o fim mais corrente, onde decerto muitas delas se
partirão, derramando mercúrio no solo, que irá transformar-se em metil-
mercúrio, substância muito mais perigosa que o mercúrio.

7. SUSTENTABILIDADE
A abordagem correcta para aferir da idoneidade de um produto, relativamente
ao impacto ambiental, não se pode restringir ao consumo de energia que o seu
funcionamento acarreta.

Tem que se ponderar, a totalidade de energia a ele inerente, desde o seu


fabrico, embalagem, distribuição e funcionamento.

Pode questionar-se sobre o que é mais vantajoso em termos ambientais: um


secador eléctrico de mãos ou um vulgar dispensador de toalhas de papel?
Obviamente, cada um tem diferentes tipos de impacto ambiental, que têm que
ser ponderados embora o segundo não consuma qualquer energia para
funcionamento.

Que dizer do facto de o fabrico de uma lâmpada economizadora consumir 15


vezes mais energia do que o de uma lâmpada incandescente?

8. QUALIDADE DE LUZ
Entre as características ímpares das lâmpadas incandescentes, podemos citar:
- a temperatura de cor
- a fidelidade na reprodução de cores num espectro contínuo
- a estabilidade de funcionamento
- a possibilidade de regulação contínua do fluxo
- o brilho
- o seu baixo custo
parâmetros estes, sem correspondência nas lâmpadas economizadoras e que
são fundamentais para onde se deseja criar conforto ambiental, objectivo
preponderante numa habitação.

COINCIDÊNCIAS…OU TALVEZ NÃO!

Será interessante ter em conta que os grandes fabricantes de lâmpadas, constituindo a


European Lamp Companies Federation (ELC), vêm actuando em lobby, propondo
directrizes europeias, para se banirem as lâmpadas incandescentes mas… só as de uso
geral.

Será que esses esforços advêm da actual rentabilidade com a produção dessas lâmpadas
tão banalizadas, ser muito escassa, não havendo por isso, qualquer interesse na sua
comercialização?

É óbvio que, com a massificação do consumo das lâmpadas economizadoras os lucros


serão muito mais relevantes, tanto mais que a pressa na sua generalização irá provocar
uma procura que ultrapassa a actual capacidade de produção, levando a que os seus
preços não baixem tanto quanto seria de esperar, resultando uma maior rentabilidade com
a sua produção e comercialização.
Outro pormenor que dá que pensar, são as directrizes do programa delineado pela ELC,
para acabar com a comercialização de lâmpadas de uso geral:
Por exemplo, até 2015 deverão ser eliminadas as lâmpadas que tenham eficácia luminosa
inferior a 15lm/W (as incandescentes mais vulgares têm até 14 lm/W). Ora, se as
lâmpadas economizadoras têm eficácias superiores a 50lm/W, porque será aquele limite
tão baixo? Não seria lógico aproximá-lo deste valor?

Pois é, mas aí a sorte dos fabricantes que dominam o mercado vem ao cima: então não é
que, por esse facto, as lâmpadas de halogéneo para a tensão da rede (230V), apesar de
terem eficácias luminosas muito baixas (da ordem dos 16 lm/W) não são abrangidas?!
Mesmo à tangente…

Será por estas serem um produto altamente rentável, com preços de venda muito mais
elevados (custam cerca de 10 vezes mais) em relação ao preço das incandescentes que
querem banir?

Ou será coincidência?...

O QUE FAZER

Não optar pelas lâmpadas economizadoras?

Certamente que não, mas será fundamental esclarecer os consumidores sobre as


aplicações em que tais lâmpadas serão extremamente vantajosas. E seria tão simples,
pois bastava que nas embalagens, nos media e nas campanhas se citasse não serem
próprias para frequentes acções de ligar/desligar e curtos períodos de funcionamento. Esta
sim, seria uma informação credível.

Não admira que tais características levem a que se assuma entre os profissionais
luminotécnicos da Europa e dos EUA, que as lâmpadas economizadoras só tenham boa
aplicação em cerca de 1/3 dos pontos de luz existentes numa habitação média.

Para as restantes situações, os próprios fabricantes, por reconhecerem as limitações das


lâmpadas economizadoras, estão a desenvolver novas fontes de luz alternativas.

Nomeadamente já foram (ou vão ser) lançadas algumas opções, como:

- os leds, embora a sua utilização para iluminação geral apenas perspective para lá
de 2012, dados os presentes problemas com a qualidade de luz;

- as lâmpadas de halogéneo com transformador incorporado (ligam-se


directamente à rede mas a cápsula funciona a 12V), que apresentam eficácias da
ordem dos 22lm/W;

- as lâmpadas IRC (infra-red conserving), de halogéneo que já proporcionam a


eficácia de 30lm/W, perspectivando-se chegar aos 60lm/W.

O inconveniente principal destas e outras novas fontes de luz, reside no seu elevado
preço, o que as torna por agora mais vocacionadas para aplicações técnicas específicas.
Na realidade, como convencer alguém a aplicar, por exemplo, numa despensa ou numa
casa de banho, uma lâmpada inovadora que custa, não 50 cêntimos mas sim 9 a 12 euros,
mesmo durando 3 vezes mais?

Acreditamos que a actual aposta tecnológica dos fabricantes conduza ao aparecimento


das tais lâmpadas que constituam uma real alternativa às velhinhas, mas ainda muito
respeitáveis, lâmpadas incandescentes tradicionais.

Até lá, mesmo com taxas políticas no preço, só poderemos dizer

BANIR AS LÂMPADAS INCANDESCENTES?


NÃO, OBRIGADO!

Vitor Vajão
Presidente do CPI – Centro Português de Iluminação
Janeiro/2008

Você também pode gostar