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Dissertação apresentada ao
Mestrado em História, da
Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da U F B a , como
requisito básico para obtençSo
do titulo de M e s t r e em H i st ó r i a .
1994
M E S T R A D O EM H S T Ô R IA
CH - U. b*
n 1'o t e c a
N ,. rf, T 0 M d Q ^ .fc 5 y :jh .._ ,
Universidade Federal da Bahia - UFBA
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Junho de 2005
Contatos: lab@ufba.br / poshisto@ufba.br
SUMA R I O
AGRADECIMENTOS ............................................................. 01
PREFACIO ...................................................................... 02
c o n c l u s ã o d e s s a d i ssertação.
soc ia is .
2
s o b r evivên cia, a l cançar as nuan c e s do seu tr ab alh o na cidade, quer
Bahia e alhures.
3
p ó s - a b o 1i ç ã o , elas se prestam, com a devida reserva, ao p e ríodo
ga nho de rua (2 ).
importadas, d e s t a c a n d o e s s e n c i a l m e n t e as q u a l i d a d e s e s p e c í f i c a s de
espí r i t o s (4 ) .
4
A p a r t i c i p a ç ã o de e s t u d i o s o s e s t r a n g e i r o s tem nas fi gu ras de
5
s ociedades re lig io sas , t a mbém c o n t r o l a v a m o âm b i t o f a m i l i a r . (6)
co t id ia n o .
9
.'*זי
As po uc as ten tativas de a.bbrdar a s p ecto s como liberdade,
família e eco nom ia, não geraram uma investigação minuciosa dos
6
As últim as três d éca d a s (1960- 199 0) c o r r e s p o n d e m ao terc eiro
João Reis, Mar i a José Andrade e Inês Oli veira, que refletem,
h i s t o r i o g r a f i a da e s c r a v i d ã o baiana.
dos novos tra balhos, post o que r eali zados mai s cedo e com fontes
7
a proteção destes, e tam bem ap onta para as condições e
1850.(10)
8
e n d o g â m i c o das relações, o c a s a m e n t o como a m paro recíp roc o, podendo
9
desempenhassem mui tas tarefas ligadas à produção. Embora as
re la çõ es af e t i v a s en tr e os e s c r a v o s .(13 )
d e s e n v o l v e n d o e s t r a t é g i a s de s o b r e v i v ê n c i a e resist i n d o à opres sã o.
10
discutimos o tr ab a lho executado pela neg ra no ganh o de rua, sua
11
De i x a m o s de tratar de o utros a s pectos de sua inser ção na soc i e d a d e
12
NOT AS
13
interesse: a re laç ão senhor-escravo em carta s de al fo rria", in
dos ma Iês ( 1835). 2a. e d ., São Paulo, Brasi li e n s e , 1987, pp. 216-
14
À GUISA DE INTRODUÇÃO
por p esso as "de cor" livres pob res e ex -escr avos, que
prestí gi o. Ela expl i c a que este a s p ecto d a ria conta, por exempl o,
15
profissionais liberais, o fi c i a i s mil itares , c o m erciantes, m e stre
encontrou 128 ho me ns para ca da 100 mul her es, ou seja, 56% dos
números rev elam ta mbé m que a pre s e n ç a dos africanos escravos era
homens para cada 100 mu lhe res, em cont r a s t e com os 156 ho men s para
p o p u l a ç ã o global de 65.500.
16
p ermit in do , d entre ou tras coisas, v e r i f i c a r a d i s t r i b u i ç ã o por cor
(3)
O ce nso tam bém permi te c o n s t a t a r que ha via áreas mais "n egr as"
principalmente c o mi da pronta.
17
es p e c i f i c a r os períodos de cr is e e re c u p e r a ç ã o econômica na
s e guinte ordem: 1787 à 1821 p ros peridade; 1822 à 1842/45 depres são ;
1842/45 à 1860 recupe raç ão; 1860 à 1887 grande depres sã o; 1887 à
vida e c o n ô m i c a .(5 )
para os engenho s.
18
Po s t e r i o r m e n t e , devido à proibição e pe r s e g u i ç ã o ing le sa ao
19
A p o p u l a ç ã o de Sa l v a d o r tam bé m pagou caro pela sua d e p e n d ê n c i a
20
NOTAS
pass i m .
p p . 181-182.
1951. p .7.
escrava. p . 28.
21
CAPÍTULO I
A maioria das domésticas eram es cr av as, emb ora houvessem neg ras
roças (4%). Nos fal tam dados q u a n t o a o r i g e m des sas m u lhe res, mas
1849.
22
TABELA I
OCUPAÇÃO NÚMERO %
G a n h a d e i ra 367 10,3
Rende i ra 61 1 ,7
F.ngomade i ra 58 1 ,6
Vendedora 35 1,0
Bordade i ra 20 0.6
Doce i ra 06 0.2
Ch a ru te i ra 02 0,5
TO TA L 3560 100%
23
C o m efeito, um ce ns o dos e s c ravos da f r eguesia de Santana, em
p r e f e r ê n c i a por elas ne ss as ocupa çõ es. Mas isso pode ter sido, não
24
TABELA II
Se rv iço
de casa 297 86 264 44 17 34 742
G a nho 13 18 94 11 04 05 145
Vendedo -
ra 01 03 03 02 01 01 11
La va de i ra 01 06 09 01 - 01 18
Lavou ra ־ 06 01 01 - - 08
d e s c r i ç ã o do c o t i d i a n o d e sse tr abalho e s b a r r a - s e na d i f i c u l d a d e de
f ami I ia se nho r ia 1.
26
O ser v i ç o de uma casa re qu eria n u m e r o s a s domést icas, mas
27
pessoal, preenchendo o requisito de bom comp o r t a m e n t o , p odia m
Amas-de-leite
do que eu e até l o u r a " . (5) A loirice talvez seja um exag ero, mas
28
a preferência pelas pardas:
exp 1ic it a ç ã o .
29
TABELA III
DOMÉST. 23 07 03 01 17 01 55
AMAS/
MUC A M A S 06 05 - - 14 - 25
S/ESPE-
Cl FI CAR 02 02 - - 08 - 13
TOT AL 32 14 03 01 41 03 97
Nac iona 1.
30
para m u itos senhore s, pe lo me n o s até crescerem e poderem ser
residên cias senh or iai s. Vale t r a ns crever mais este anúncio, que
que t inh a m f i 1h o s :
31
Situ a ç õ e s semelhantes fo ra m descritas por Giacomini ao
c r i anç a do neg óci o, inc lus iv e no perí o d o imed iat amente poste r i o r ao
pau 1 is t as . ( 13 )
doe nças inf ecc ios as , a exemplo da sífilis, que p o diam a mea ç a r as
32
criança s entr e g u e s a araas-de-Ieite escravas. As amas de aluguel,
dos filhos, para que no fu turo não fos sem desprezadas por
do pequeno senhor. Os d o u t o r e s p a s s a r a m a q u e s t i o n a r a a f e i ç ã o e os
33
e x e c u t a v a m aq u e l a função s i m p l e s m e n t e por obriga ção , no ca so de ser
"para o b r i g a r e m as c rianças a ado rme cer , dão lhes vin ho com assuc ar
34
corada, a pel le de todo c o r p o uma bella e n c a r n a ç ã o e
em p a r t e n e n h u m a rude, n e m coberta de m a n c h a s ,
b o t õ e s ou c i c a t r i z e s suspeita, que não tenha /
g l â n d u l a s e n f artadas, n e m sob a clavícula, n e m sob a
m a x i l a in f e r i o r n e m no pescoço, nem nas mammas, n e m
sob as a x i 11 a s . . . (19)
Mas isso não era tudo. A idade ideal era entre vinte e tr in ta
ser entre seis se man as e três meses após o parto. Isto porq ue era
seus filhos. Os den tes d e v e r i a m es tar todos perfe ito s, sem cárie,
peq ue na pera e fosse um tanto alo nga do, para que o men i n o pu des se
35
Apesar de s s a s r ecomendações, o autor se d a ria co nta da
affec tuo so, mal feitas, irrasc iv éis , mal as sei ad as, od ien tas ,
além dos compromissos hig ien istas, por s e rem de origem afric ana ,
d e v er- se sem pr e preferir a ama livre". Que fosse negra, mas que
36
da ama para com a cr ia n ç a b ranca de via ter existi do, até m e s m o como
e a cria b r a n c a . (24)
regulamentasse a a tiv i d a d e delas, seg undo pad rõe s hig iên ic os.
i ron ias .
37
C o z inhei ras
As c o z i n h e i r a s o c u p a v a m - s e do p r e p a r o de prat os da c u l i n á r i a
tudo. mas sem g rand es cu i dados no prep a r o dos a lime nto s, p r i m eiro
38
alg uns de nos so s pratos, descrevendo a forma de preparo e o
falem os a nú n c i o s de jornais:
39
"Vende-se du as e s c r a v a s criou 1as m o ç a s sendo uma
p e r f e i t a lavadeira, g o m a deira, cozinheira, outra
p e r f e i ta c u s t u r e i r a e cozinheira, q u e m p r e t e n d e r
d i r i j a - s e á rua dos p r i n c i p e s , casa n ú m e r o 6 no
e s c r i t ó r i o E. C h a m p i o n e Cia que ach a ra quem
tratar". (30)
A m a - s e c c a - N e s t a t y p o g h a f i a se dirá qu e m p r e c i s a de
uma para se e n c a r r e g a r de uma c r i a nça de pouca edade.
P r e f e r e - s e p e s s o a que não seja a c o s t u m a d a a rua (32).
40
Muitos anúncios so bre domésticas salientavam a exigência de
imaginá rio per igo das ruas, descrito por Sa nd ra Graham, talvez
rotina do tr a balho d omést ic o. Era cos tume das fa míl ias mai s
41
entanto, que a la vagem de ro upa na rua, fre q u e n t e m e n t e des c r i t a
viver.
La vade i r a s
vestid as co m pou ca roupa, m ui tas vezes red uzid as a uma tanga, traje
evidentemente a d e q u a d o à t a r e f a . (34)
lavadei ras nos Barris, fa mos a fonte de então. Ali as roupas eram
42
ba l id as co m m u ita força sobre gran des pedras, certamente para
roupas .
incipiente s e rviço de águ a enc ana da, mas a maioria dos hab i t a n t e s
43
po lá ve 1.(38)
dos conf l i t o s que certamente ta mbém ali explodiam vez por outra.
Nas fontes, co m efeito, era c o m u m as bri gas ent re negras. Alí era
e das Ped ras eram onde aconteciam as maio r e s "desor de ns" . Seus
água. Dois anos depois, o mesmo Juiz r e a giria à ret ir ada do co rpo
de po li cia des ses locais. A p r e sença dos pol ic i a i s era fu nda me nta l
44
de d i v e r s o s p r o p riet ários, aproveitavam para a t u a l izarein-se sobre
que viviam, para não falar nos ca sos am o r o s o s que ali tin ham início
a s s i s t ê n c i a mútua de mu 1 he r e s .(4 1 )
45
N O TAS
1. O l iveira , O 1 ib e r i o . p. 14.
6 . C o r r e i o M e rcant i 1 . 1 1.12.1839.
E s c r a v o s , ma ç o 2898.
9. C o r r e i o M e r c a n t i l . 16.04.1840.
11. Johildo Athayd e, ,'Filhos ile gít imo s e crianças exposta s",
12. D i á r i o da B a h i a . 19.07.1836.
1988, pp 51-56
46
15. J o a q u i m T e l e s p h o r o F. Lo pes Vianna, B r e ves c o n s i d e r a ç ões sobre
16. Ibdem, p. 2 0
17. Ibdem, p. 20
18. Ibdem, p. 2 1
19. I b d e m , p . 25
2 0 . I b d e m , p .26
21. 1b d e m , p . 25
22. Ibdem, p. 26
23. Ibdem, p. 24
37. Arqu i v o Mun ici pal de Salvad or, Li vr o de Pos tu r a s . vol. 5, p . 18.
40. Gra ha m, P r o j e ç ã o e o b ed ié n c ia , p. 6 6 .
41. Ibdem. p . 0 6 .
48
CAPITULO II
AS G A N H A U E 1RAS
49
c a p ítulo anteri or , um a n ú n c i o de 1839 oferecia pagar 10 mil réis
adiante.
senhor fosse men or do que nos casos em que este de sse casa e co mida
50
se nhores, que tornava "tristíssima a con d i ç ã o dos que eram
mais livres de seu controle. Alé m disso, o ga nho era uma das
5I
TABELA IV
O C U P A Ç Õ E S DE LI B E R T A S NA F R E G U E S I A DE S A N T A N A - 1849
Ou i t a n d e 1 ra 10 08 1 1 0 2 03 0 1 ־ 35
Me rcande j a 34 45 14 - 0 1 0 2 01 97
T O TAL 8 1 65 40 0 2 05 03 0 2 198
52
As libertas comercializavam pro d u t o s como hortaliç as ,
consideradas exímia s come rcia ntes. K idder informa que para essa
melhor a par ência, de am bos os sexo", e não era raro que esses
pes soas que d e s e j a s s e m uma negra para o serv iço de ganho, com o se
ve r i f i c a no a n ú n c i o abaixo:
54
óbvio, conhecesse o serviço. O suce s s o das g a n h a d e i r a s que se
açúcar ro ubado (1 2 ).
55
Al é m de c i r c u l a r e m c om tab uleiros, g amelas e ces tas hab i l m e n t e
Novo de São Francis co , a pr aça das Por tas de São Bento, largo de
e a rua das Ped re iras, em frente aos Arcos de Sa nta Bá rbara(l ò).
ve nd edor as. Vestiam trajes do mesmo mod elo, mas de faz en das de
56
na África, seus filhos a tado s às cost as co m "pano da Co st a" ou
dos filhos ali perto pare ce indicar que essas mul h e r e s labutavam
Ha via nes ses gru pos ne gras de todos os tipos e idades. Vestiam
57
TODOS
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iM O A t . 50L tty \ C ,E
A fc H J A ©JL&.. 1)0 •>tl_OU«.MH£> ' © caevKíwba»•«
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® CA1WO M ÍDLVOSA Q)lo 1 >0 CASEgA ״
5 ה.. ננ,? ® ) CÍHÚ.RU 0 v . <H>* 0 C .nt. STA tAi'.iyvuj.
colocavam tam bém suas esc r a v a s no ganho. V i l h e n a notou que:
quit andas, realizavam impo rt ant e função de " h a r moni zar as du ras
comi da nas ruas, tinham ao lado f ogareiros sem pre a cesos "para
de cachaça.
58
b aru l h o pela cid ad e (25). Em c o n t r a p a r t i d a às medi d a s repress iva s,
carne mal ass ada a que dào o nome de mo que ca, toucinho, ba leia no
mulheres era tanta que não im p ortava o vo lum e dos objeto s: "Uma
59
As ati v i d a d e s r e a l izadas pelas ga n hadeiras, a pesar de
pelas elites. Este fator polít ico , som ado ao e s f o r ç o do Kst ado para
Co n t r o l e e n e g o c i a ç ã o
qu i t a n d a s d e pois da A v e - M a r i a ( 32 ) .
60
municip ais, especialmente fiscais que exigiam o cumprimento de
med i d a s .
afr ic ana s, porq ue elas controlavam este setor do com ér cio . Pelo
aquel les, que t iverem tão diminuto negócio, que não p o ssam
s u p o r t a r " (33 ) .
61
trabalho, particularmente pe sos e me di das , de ac o r d o com a
pode, seg u n d o Luiz Mott, ser vist a por dois prismas: como uma
multas, a cada aferimento cobrava-se uma taxa que era uma parte
destinada aos funcio ná ri os, o u tra parte aos cofr es pub Iic o s .(34>
atividade com erc ial tinha que passar pelo foro da Tesouraria
62
tolerado. S e g u n d o Mott, "sem as ne gra s ve n d e d e i r a s das ruas, seria
ilumina das por lampiões à base de o 1 éo de baleia, emb ora estes nem
se mp re e s t i v e s s e m acesos, d e i x a n d o a ci da de às e s c u r a s . (37)
63
aquilombados. Em 1835, ganhadeiras íor am ac u s a d a s de forne ce r
e s c r a v o s .(39 )
ser mãe de três filhos que dependiam do seu trabalho, e por não
64
de ming au" (40). For sua vez, em 1869, a c r i o u l a Ma ria das Mercês,
havia ins talado em sua p rópria resi dê nci a, sem a dev id a licença,
sua barraca, sita à rua de San ta Bárba ra, na C id ade Baixa (42). Em
65
obrigação de le galizar o negó c i o ficava a cargo do senhor. Eles
pe d i a m e r e n o v a v a m licenças, s u b m e t e n d o - s e às a v e r i g u a ç õ e s fiscais.
com a lei nada adia nt ou, o fiscal arr a s t o u os seus gêneros" (46),
66
ex t or çõe s, nào só por parte dos fiscais, mas de sabi c h õ e s e
resp os ta lhe foi dada pela Tesoura ria. Ri tta reclamava que o prazo
67
Havia q u e m a c r e d i t a s s e que a vida no ganho era me l h o r e mais
liberta, moradora na rua dos Barris, 73, fre guesi a de São Pedro.
Con c l u i u alertando "para que se não veja dep ois forçada a pagar
afri canos. Uma rede e c o n ó m i c a que era ta mbé m social e até política.
68
C o n s t r u i r cstc uni v e r s o d e p e n d e u das o p o r t u n i d a d e s o f e r e c i d a s pelo
69
NOTAS
(p ar á g r a f o s 1 e 2 ).
4. 1 b d e m . p . 133
5. We ther e l l , Brasil, p. 29
70
11. Vilhena, A B a h ia no s é c ulo X V I 1 1 . vol I, 1969, pp. 93,12 7-130.
14. Kidder, R e m i n i c é n c i a s , p . 36
18. Jo rn a 1 da B a h i a . 2 0 . 0 1.1869
22. Luciano Figueredo e An a Ma ria Magaldi, "Q uitandas e qui tut es:
71
33 . Collecão de Leis er e s o l u ções da_A s s e m b léia__ L eg is lat iva
35. Ibdem, p. 99
pp. 7 7-78.
44. Ibdem
5 1. Ibdem.
72
V er flucU : D u js e*cravas taijna« (entre 1808 c 1810)
R u g rtu fjc Ncp.n• e ncjtia da Dahia (entre 1821 e 1825)
DA ESCRAVIDÃO À LIBERDADE
ser gra tui tas , onerosas ou. ainda, c o n d i cionais . Aliás, est a
tornar- se 1 iv r e .( 1 )
73
alforria , po rq ue eles facilm e n t e p o d i a m ir até o m e r c a d o escr a v o do
alfo rr ia, e ein pa rtic u l a r das mul h e r e s esc rav as . Com efe ito, os
74
Ap es ar dos a s p ectos polêm i c o s d e ss a lei, res sa l t a d o s pelos
75
proilu t ivas . ( L5 ) Ou como es c r e v e u Mattoso:
"De q u a l q u e r maneira, a p r e s e n ç a de um n ú m e r o m a i o r de
m u l h e r e s a l f o r r i a d a s p r e n d e - s e ao fato de que elas têm,
s o b r e o m e r c a d o de trabalho, um valor um p o uco inferior
ao valor do e s c r a v o homem. De fato, desde o inicio, a
m u l h e r era c o n s i d e r a d a m e n o s p r o d u t i v a e com m e n o r força
física, o que, c o m o seu e n v e 1h e c i m e n t o , devia se
c o n s t i t u i r cm um handifcap ainda maior. "(lb)
a l f o r r i a s g r a t u i t a s .(17)
estudando o biê nio 1815-1816, encontrou 677 car tas de alf orr ias .
Destas, 314 fo ram pagas e 363 gratuit as. Dos e s cravos que pagaram
76
que se observa é que as mulheres nesse perí o d o predominaram nos
h o m e n s .(18)
Ha vi a d i f e r e n ç a s q u a n t o à forma de e n c a m i n h a m e n t o da liberd ad e
o benef íc io , como, por exemp lo , o fato de ter cri ado o sen hor e
seus filhos, por ter m uitos anos de serviço, por ser a mãe dos
filhos do seu senhor, por ter serv ido bem a sua senhora, pelo amor
77
"Acção l o u v á v e l . Há dias f a z i a - s e na c i d ade da B a h i a um
leilão de e s c r a v o s de p e s s o a que se havia m u d a d o pa r a
P o r t u g a I ; n e s s e leilão havia uma c r i a n c i n h a de 17 meses,
m a i s alva do que m u i t a s p e s s o a s brancas. Um dos
c o n c o r r e n t e s , s e n h o r M a t h e u s dos Sanctos, c o m m o v i d o ,
a g e n c i o u a¡li m e s m o a q u a n t i a s u f f i c i c n t c para d a r - l h e a
lib e r d a d e e a carta foi i m m e d i a t a m e n t e passada. A c ç õ e s como
essa não d e v e m ficar d e s a p e r c e b i d a s . (J.B., 0 7 / 0 2 / 5 9 ) "
a l f o r r i a . (2 1 )
b a t a l h a v a m sozinhos.
78
d u rou a e s c ravid ão, eles reagiram com atos de r e b eld ia e
c o n t r i b u í r a m para o d e s g a s t e do s i s t e m a e d e m o n s t r a m que o so nh o de
1 ib e r d a d e .
79
Eni ju nho de 1872, em Sal vad or , as c r i oulas S e v erina e Maria do
e n t e n d e s s e m . (24)
mas sem trab al har , m u ito men os para q u e m in si sti a em " o b r i gá-las à
bem pr ov áve l que se trate da s egu n d a sit ua ção . Nes te caso, elas
81
e s t a r i a m se a p r o v e i t a n d o do clim a ema ne ipac i o n ista p r e v a l e c e n t e na
e s t a v a m s a t i s f e i t a s em p e r m a n e c e r e m na si t u a ç ã o a m b í g u a de liberta
poder de d i v i d i r a todos.
vida das três. Co m o senh o r a de suas "irmã s de cative iro ", Afra
82
escravizar os outros, e ser sen hor era ler po der de infligir
Ignaci o dos Santos, marceneiro e José dos Reis, sapat eir o, tudo
Decerto. Maria Luiza, se ndo mãe de uma das criou las , a j udou na
83
Tendo sido depositadas em segurança enq u a n t o dura s s e o
mas rejeitavam s e rem tra ta das corno m e ras es cravas. Veja m o s o que
84
liberdade independent e das condi ç õ e s estabelecidas pelo testador.
a r g u m e n lando:
85
Jo aquina, pois tendo desafiado publicamente a "s enhora negra", o
Os e s c r a v o s a c o m p a n h a v a m a e v o l u ç á o da cri se da e s c r a v i d ã o e
liberdade, não mediam esfo rç os. A partir dos anos 50. e mai s
seu sen hor era obrigado a n e gociar seu valor. Baseando-se nesse
do d i n h e i r o em troca da liberdade.
86
onde ser ia julgado o caso. Ao tomar es sa atitude, o proprietário
to rn arem libertos.
una nim ent e. a quan t i a de 700 mil réis, "a seu ver mui just o e
ser d e p o s i t a d a junto co m seu pec úlio (60 mil réis) até que h o u vesse
87
p reciso c o nvocar mais um aval iado r, que r a t ificaria os 150. 00 0 réis
583 mil réis, e o de um idoso. 375 mil réis. Nota-s e e n tão que os
150 mil réis pe didos pelo se nho r era um valor baixo, e m u i t o mais
de seis meses, pela fab ul osa quantia de 500 mil réis e ser a
88
Eis um ca so doloro so : 60 anos, mãe de 15 crias para o senhor,
réis, em vi rtude da sua pouca saúde. Não podemo s informar que tipo
de tarefa executava Ge rma na, p o rém ela sa bia que sua liberda de
pedindo a d e v o l u ç ã o do e x c e d e n t e d e p o s i t a d o .(30 )
89
p a drinhos da cria nça e ou t r o s ami gos dela.
sua filha. Con s e g u i u , emb ora p a s sas se d epois pelo su sto de não
de a f r i c a n a esc ra va, d i r i g i u - s e ao P r e s i d e n t e da p r o v í n c i a p e d i n d o
90
fira". O pe d i d o foi d e f e r i d o <34).
e, sen do afr ica na , ficava provado que vier a para o Brasil após
1831.(35)
r espo ns áve l por seu des tin o. Permitia-se que eles servissem em
91
dos africanos import ad os de po is de 1831, "tiran d o - a assim do
explicitamente de n t r o do e s p í r i t o a b o l i c i o n i s t a da época:
Que s e n d o a lib e r d a d e D i r e i t o n u t u r a i . . . e a e s c r a v i d ã o
c o n t r á r i a u lei Natural, n e n h u m p o der h umano p o s s u e
c o m p e t ê n c i a legitima para d e c r e t a r a última ou d e s t u i r
a pr ime ira...
92
F inaliza v a - s e . corn êxito, esta ação de liberdade. P oderia
podia ser f avor ecida pela Lei dos S e x a g e nários, de 1885, que p revia
tudo leva a crer que, ind epe ndent e do que pos sui ss e, Constantina
D e f e s a e p r o m o t o r i a se un i r a m na c o n t e s t a ç ã o da nulidade da lei de
a titude da esc rav a, que demorara longo tempo para e x igir seu
direito . O a p elo à Lei de 1831 pode ria ter sido feito mui t o antes.
e s c rav izada. Deve ter sido uma descoberta c h o cante para ela,
93
co m p r e e n s ã o do m u n d o em que est a v a inserida. Não tendo o p t a d o m u ito
antes por o utra s formas de re sist ênc ia , como a fuga, res tav a
de la s ao a v a l i a r e m o m o m e n t o em que d e v e r i a m co nte s t a r u a u t o r i d a d e
cati ve ir o.
As neg ra s fo r ç a v a m a liberdade, q u e r i a m o d i r e i t o de ir e v i í ,
94
NOTAS
M a t t o s o , ״A propósito de car tas de alf orr ia", pp. 23-52; MAT TOS O,
32. Ver t a mbém Verger, F l uxo e r e f l uxo, p. 486; Algra nti , O fe itor
9. Ibdem, p. 55.
95
10. Anteriormente à lei de 1871, foi promul ga da, em 1850, a lei
1987 .
R e b e l i ã o e s c r a v a, pp. 17-19.
une identité: jeux so ci aux des Africains de Ba hia (vers 1750 -v ers
1890), d i s s e r t a ç ã o ap r e s e n t a d a a U n i v e r s i t e de P a r i s - S o r b o n n e (Par is
IV), O c t o b r e - 1992.
23. Agradeço à Professora M a ria Inês Oliveira por ter ced ido
96
S abino e Afra Joaquina.
pp. 208-211.
25. P e r d i g ã o M alheiros , A e s c r a v i d ã o no B r a s i l : en sa io h i s t ó r i c o-
2b. Ver por exemplo Jocé l i o Teles dos Santos, " Ex-e s c r a v a
pp. 5 - )י
27 . APEBA, Sé r ie P r o c e s s o s -Crime. mu ço 0 9 / 2 9 8 / 1 3
97
CAPÍTULO IV
pess oas de outros gru pos marginalizados, ne ste sent ido seus
c a p i t u 1o .
princip al pal co da vida na cidade( 1). fcste enf o que pode ser
98
e na tenta ti va de preservarem sua auto n o m i a nos espaços onde
vítimas, ora como a g e nte s das ch amadas "de so rdens" públi cas ,
Pati ob a, nome que sug ere ser gente humilde também. Fic ou de t i d a
igu alm ent e a pre ta De lf ina , por q u e brar a cab eç a de uma o u tra
Salvad or , por rou bar a uma preta. Já em 1837, Lui s X a v i e r foi pr eso
99
por ter a r r e m e s s a d o uma pe dra em uma preta, que caiu de imediato,
o ten ente coronel Ignacio Ac ci oli , au tor das famosas Mem ór ias
100
In vá li dos (pelo vis to não era tão inválido), que a espancava e
que ar m a d o com uma faca perseguia a parda Umbel ina, "a qu e m não
pode ndo ofende r, por fugi r- lhe das mãos, d era na porta var ia s
Felippe San ti ago , por ser encontrado dentro de uma casa à rua do
amo r o s a .(12)
negras po d i a m ser protegidas por ne gro s con tra poli c i a i s e out ros
101
qu a d r o po dia sofr er alterações quando a mu lh er neg ra conseguia
uma preta, foi r e crutad o pela M a r i nha em 1839. O fato de ser chefe
c o m p a n h i a do murido.
levar as neg ras a atos de des espero. Por fim à vi da pa re cia para
102
Não raro, a opressão social e as dificuldades de
103
fre guesia da P e nh a e s c r e v e r i a in dignado ao Pre s i d e n t e da P r o v í n c i a
argola de ouro por João à Maria, sem que fos sem pa gos todas as
104
p rest aç ões . O crioulo con segu iu, a p a r e n t e m e n t e à força, reaver as
nas fam íli as dit as "l eg iti ma s", a mãe permanecia a re fe rênci a
princ ip al, pelo m e nos ne sse meio social que tratam os aqui. Mar ia
105
Manoel c om i t i u ter este insu lt ado sua mãe. S u s p e i t a n d o da negra,
algumas a m e aças e ter minou por tomar- lhe de vol ta as argolas, o que
ladeira de São Be nto á noite. Maria Jo ana viu um vul to que pareci a
106
evi d e n c i a r a visão de justiç a do grupo. Ve ja mos os depoime n t o s .
m orador nas im edi aç ões do local fatídico. Dis s e que na noi te do dia
a l gum tempo ouviu da rúa ura baque e urna voz que diz ia - " est á
morto". Saiu e aju dou a efetuar a p risã o da acusa da. Ou viu di zer
sang ue na mão.
e que sa bia da ve nda das a rgolas pela quantia de seis mil réis.
107
sobre o morto. Conhecia João Man oel, crioulo, pedreiro, 20 anos,
com eça a r e v e lar-se que pret o e b ranco não er a m a s sim tão iguais.
d aqu e l a prestação não paga. Para ele 6 mil réis não cru ninha ria .
e ntr a d a na transação.
108
Ba s i l i o E l ízio da C o n c eiçã o, 18 anos, soltei ro. ta mbé m
partir para cima de João. Te n t o u se apro xi mar , mas foi ame a ç a d o por
109
ac id en tal , ime dia ta mente, viz i n h o s e a migos dos e n v o l v i d o s p a r t i r a m
com uma que stã o, levan ta da pelo advogado da crioula, sobre sua
1 10
culpa, a d e fesa s u r p r e e n d e n t e m e n t e c o n s e g u i u sua absolvição, mas a
A crio u l a Ma ri a Joana foi pun ida por ter rom pid o as regras de
promot or ia, que ba se ada nos testemunh os e xigia sua punição, acab ou
no ganho, que não partiram para sua d efesa? Maria revelou sua
sido ludi bri ada ou ins ult ad a pelo crioulo, o fato é que nã o era
11 1
O u t r o ca so de con f l i t o pessoal, d e sta vez entre duas mu lh eres,
Be 1 l o s - O 1hos (21).
e s tava ven de ndo , sent a d a a rua d i r e i t a do Col égi o, e nada viu, mas
1 12
Clemente Ramos, 24, caixei ro, soltei ro , mora d o r na rua d i r e i t a do
atir ou um o b j e t o que ele não pôde distingui r. Não lhe in ter essando
a dis cus são, seg uiu seu caminho, vi ndo mais tarde a saber do
bloco dos int err ogat órios. Di sse ape nas que encontrou a o f e ndida
Fer nandes Gal lisa, 41, barbei ro, viúvo, morador na f r eguesia de
1 13
comentários de boca en! boca e permitindo d i v e rsas conc lusõ es,
vít1 m a .
s e x u a 1 indev id a .
1 14
que pagar as cu sta s do processo. Ap e s a r desse resultado, sem que se
Henr ique ta. Ju s ti 1 icou-se dizendo ser por con sider ação. Ta l v e z
ocorrido com Mar i a Joana, quando a comunidade se uniu para exi gir
1 15
NOTAS
1973 .
5. APEBA, Sér
APfcBA, , maço
S é riiee Po 1í c ia , m a ç o 3059 ( 1837 ) .
3059 (1837).
6. APfcBA, Sér
APfcBA, S érie 1i c ia ,
ie Po 1í . maço 68411..
m a ç o 684
7. APEBA, Série
Sé rie Po 1ic ia , maço
Policia, m a ç o 6191.
a. APEBA,
APEBA, Série
Série Policia.
Policia, maço 6184 .
ma ço 6184.
9. APEBA, Série
APEBA, S é r ie_Pp a . maço
ia,
Po 1 i c i 6265 .
ma ço 6265.
11. 1b d e m .
I 16
CONCLUSÀO
cotidiano das ruas. Foi impo rt ant e perceber quai s ocupações que
atuavam.
117
as m u l heres n e gras papéis b a s tante pró x i m o s às tr adições da África,
eram mais l ucrat iv as que outras, comi) vi mos em pági na s a nter ior es .
possível tecer redes de rel aç ões com pess oas dos div e r s o s gr upos
1ibe r d a d e .
liberdade par ec eu mais per to para m uitas midieres. Com base na lei
118
r e v elu m o seu lado rebelde. Ne ste tr abalho não procurei cria r e
119
FON T E S E R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
ARQ U I V O S E BIBLIOTECAS
A R Q U I V O P Ú B L I C O DO E STADO DA BA HIA
AR Q U I V O M U N I C I P A L DE SAL V A D O R
- Li vro de O f í c i o s Recebid os .
- Li vr o de L i c enças du Camara.
JORNAIS
- D i á r i o da Bah i a (1870-1881).
120
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126