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br - Informativo de Jurisprudência Nº 70 – Março/2015

Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Supremo Tribunal Federal Inst. de Prev. dos Serv. Púb. de C. Grande IPSEM/CG.

Selecionado a partir dos informativos 769 a 771 do STF não cabendo colar a sinonímia às expressões “ação
rescisória” e “uniformização da jurisprudência”. AÇÃO
ADMINISTRATIVO RESCISÓRIA – VERBETE Nº 343 DA SÚMULA DO
SUPREMO. O Verbete nº 343 da Súmula do Supremo deve
01. RE N. 609.381-GO / RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI de ser observado em situação jurídica na qual, inexistente
/ EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TETO controle concentrado de constitucionalidade, haja
DE RETRIBUIÇÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL 41/03. entendimentos diversos sobre o alcance da norma,
EFICÁCIA IMEDIATA DOS LIMITES MÁXIMOS NELA mormente quando o Supremo tenha sinalizado, num
FIXADOS. EXCESSOS. PERCEPÇÃO NÃO RESPALDADA primeiro passo, óptica coincidente com a revelada na
PELA GARANTIA DA IRREDUTIBILIDADE. 1. O teto de decisão rescindenda (i-769).
retribuição estabelecido pela Emenda Constitucional 41/03
possui eficácia imediata, submetendo às referências de valor 02. MS N. 27.021-DF / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI /
máximo nele discriminadas todas as verbas de natureza EMENTA: Mandado de segurança. Distribuição de processo.
remuneratória percebidas pelos servidores públicos da Nulidade. Alegada ofensa ao princípio do juízo natural. Não
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, ainda que ocorrência.  Denegação da segurança. 1. O princípio do
adquiridas de acordo com regime legal juiz natural não apenas veda a
anterior. 2. A observância da norma de Prepare-se para o concurso da Defensoria instituição de tribunais e juízos de
teto de retribuição representa verdadeira Pública da União com exceção, mas também impõe que as
condição de legitimidade para o causas sejam processadas e julgadas

GEDPU
pagamento das remunerações no por órgão jurisdicional previamente
serviço público. Os valores que determinado, a partir de critérios
ultrapassam os limites pré-estabelecidos constitucionais de repartição taxativa
para cada nível federativo na de competência, excluindo-se
Resolução de questões objetivas, peças, qualquer discricionariedade. 2.
Constituição Federal constituem excesso
cujo pagamento não pode ser reclamado pareceres e dissertações Segurança denegada (i-769).
com amparo na garantia da www.ebeji.com.br
irredutibilidade de vencimentos. 3. A
incidência da garantia constitucional CONSTITUCIONAL
da irredutibilidade exige a presença
cumulativa de pelo menos dois 01. Renitente esbulho e terra
requisitos: (a) que o padrão tradicionalmente ocupada por índios: O
remuneratório nominal tenha sido renitente esbulho se caracteriza pelo
obtido conforme o direito, e não de efetivo conflito possessório, iniciado no
maneira ilícita, ainda que por passado e persistente até o marco
equívoco da Administração Pública; e (b) que o padrão demarcatório temporal da data da promulgação da
remuneratório nominal esteja compreendido dentro do Constituição de 1988, materializado por circunstâncias de
limite máximo pré-definido pela Constituição Federal.  O fato ou por controvérsia possessória judicializada. Com base
pagamento de remunerações superiores aos tetos de nessa orientação e por reputar não configurado o referido
retribuição de cada um dos níveis federativos traduz esbulho, a 2ª Turma proveu recurso extraordinário para
exemplo de violação qualificada do texto constitucional. desconsiderar a natureza indígena de área não ocupada por
4. Recurso extraordinário provido (i-771). índios em 5.10.1988, onde localizada determinada fazenda.
No caso, o acórdão recorrido teria reconhecido que a última
ocupação indígena na área objeto da presente demanda
CIVIL E PROCESSO CIVIL deixara de existir desde o ano de 1953, data em que os
últimos índios teriam sido expulsos da região. Entretanto,
01. RE N. 590.809-RS / RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO reputara que, ainda que os índios tivessem perdido a posse
/ AÇÃO RESCISÓRIA VERSUS UNIFORMIZAÇÃO DA por longos anos, teriam indiscutível direito de postular sua
JURISPRUDÊNCIA. O Direito possui princípios, restituição, desde que ela decorresse de tradicional, antiga e
institutos, expressões e vocábulos com sentido próprio, imemorial ocupação. A Turma afirmou que esse

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entendimento, todavia, não se mostraria compatível com a confirmatório e a sentença condenatória; e e) o
pacífica jurisprudência do STF, segundo a qual o conceito recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da
de “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” não sentença condenatória, no caso de crimes não dolosos
abrangeria aquelas que fossem ocupadas pelos nativos contra a vida. Essa modalidade de prescrição seria
no passado, mas apenas aquelas ocupadas em denominada “retroativa” porque contada para trás, da
5.10.1988. Nesse sentido seria o Enunciado 650 da Súmula condenação até a pronúncia ou recebimento da
do STF (“Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal denúncia ou queixa, conforme a espécie de crime. Com
não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que a promulgação da nova lei, a prescrição, depois da sentença
ocupadas por indígenas em passado remoto”). Salientou condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou
que o renitente esbulho não poderia ser confundido com depois de improvido seu recurso, seria regulada pela pena
ocupação passada ou com desocupação forçada, ocorrida aplicada, e não poderia ter por termo inicial data anterior à
no passado. Também não poderia servir como comprovação da denúncia ou queixa. Desse modo, fora vedada a
de esbulho renitente a sustentação desenvolvida no acórdão prescrição retroativa incidente entre a data do fato e o
recorrido de que os índios teriam pleiteado junto a órgãos recebimento da denúncia ou queixa. Nesse contexto, não se
públicos, desde o começo do século XX, a demarcação das operaria a prescrição retroativa durante a fase do inquérito
terras de determinada região, nas quais se incluiria a policial ou da investigação criminal, período em que ocorrida
referida fazenda. Sublinhou que manifestações esparsas a apuração do fato, mas poderia incidir a prescrição da
poderiam representar anseio de uma futura demarcação ou pretensão punitiva pela pena máxima em abstrato. Ademais,
de ocupação da área, mas não a existência de uma efetiva a norma não retroagiria, para não prejudicar autores de
situação de esbulho possessório atual (ARE 803462 crimes cometidos antes de sua entrada em vigor. O Tribunal
AgR/MS / i-771). mencionou a existência de corrente doutrinária defensora da
inconstitucionalidade dessa alteração legislativa, por
supostamente violar a proporcionalidade e os princípios da
PENAL E PROCESSO PENAL dignidade humana, da humanidade da pena, da
culpabilidade, da individualização da pena, da isonomia e da
01. Prescrição penal retroativa e constitucionalidade: É razoável duração do processo. Outra corrente afirmaria a
constitucional o art. 110, § 1º, do CP (“§ 1º A prescrição, extinção da prescrição na modalidade retroativa pela Lei
depois da sentença condenatória com trânsito em 12.234/2010. A Corte aduziu, entretanto, que essa inovação
julgado para a acusação ou depois de improvido seu estaria inserta na liberdade de conformação do legislador,
recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em que teria legitimidade democrática para, ao restringir
nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à direitos, escolher os meios que reputasse adequados para a
da denúncia ou queixa”), na redação dada pela Lei consecução de determinados objetivos, desde que não lhe
12.234/2010. Essa a conclusão do Plenário que, por maioria, fosse vedado pela Constituição e nem violasse a
denegou “habeas corpus” em que se pleiteava o proporcionalidade, a fim de realizar uma tarefa de
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva em concordância prática justificada pela defesa de outros bens
favor do paciente, na modalidade retroativa, entre a data do ou direitos constitucionalmente protegidos. O Plenário
fato e o recebimento da denúncia, diante da pena em ponderou, ainda, que os fluxos do sistema de justiça criminal
concreto aplicada, por decisão transitada em julgado para a no Brasil seriam pouco eficientes, e que a taxa de
acusação. No caso, ele fora condenado à pena de um ano esclarecimento de crimes seria demasiado baixa, a indicar a
de reclusão, como incurso nas sanções do art. 240 do CPM impossibilidade de se investigar, com eficiência, todos os
(furto). Alegava-se que a citada inovação legislativa teria crimes praticados. Isso demonstraria a vinculação da nova
praticamente eliminado as possibilidades de se reconhecer a lei com a realidade. Nesse sentido, dada a impossibilidade
prescrição retroativa, e que o direito à prescrição seria financeira de o Estado atender, em sua plenitude, a todas as
qualificado, implicitamente, como um dos direitos outras demandas sociais, seria irreal pretender que os
fundamentais dos cidadãos pela Constituição. O Colegiado órgãos da persecução devessem ser providos de toda a
realizou retrospectiva histórica a respeito da prescrição estrutura material e humana para investigar, com eficiência e
retroativa na legislação pátria, a culminar na alteração celeridade, todo e qualquer crime praticado. A avassaladora
promovida pela Lei 12.234/2010. O dispositivo do art. 110 do massa de delitos a apurar seria uma das causas da
CP, antes do advento da mencionada lei, tratava da impunidade, dada a demora ou impossibilidade no seu
prescrição calculada pela pena concretamente fixada na esclarecimento, na verificação da responsabilidade penal e
sentença condenatória, desde que houvesse trânsito em na punição do culpado, assim reconhecido definitivamente.
julgado para a acusação ou desde que improvido seu Dessa maneira, o legislador optara por não mais prestigiar
recurso. A Corte consignou que a diferença entre a um sistema de prescrição da pretensão punitiva retroativa
prescrição retroativa e a intercorrente residiria no fato que culminava por esvaziar a efetividade da tutela
de esta ocorrer entre a publicação da sentença jurisdicional penal. Demais disso, essa modalidade de
condenatória e o trânsito em julgado para a defesa; e prescrição, calculada a partir da pena aplicada na sentença,
aquela seria contada da publicação da decisão constituiria peculiaridade da lei brasileira, que não
condenatória para trás. A prescrição seria novamente encontraria similar no direito comparado. Nas legislações
computada, pois, antes, tivera seu prazo calculado em alienígenas, a prescrição da pretensão punitiva seria
função da maior pena possível e, depois, seria verificada regulada pela pena máxima em abstrato, e nunca pela pena
de acordo com a pena aplicada na sentença. Por essa aplicada, a qual regularia apenas a prescrição da pretensão
razão, se o julgador constatasse não ocorrida a executória. Isso demonstraria que, embora a pena justa para
prescrição com base na pena concreta entre a o crime fosse a imposta na sentença, seria questão de
publicação da sentença condenatória e o acórdão, política criminal, a cargo do legislador, estabelecer se a
passaria imediatamente a conferir se o novo prazo prescrição, enquanto não ocorrido o trânsito em julgado,
prescricional, calculado de acordo com a pena concreta, deveria ser regulada pela pena abstrata ou concreta, bem
teria ocorrido entre: a) a data do fato e o recebimento da como, nesta hipótese, definir a expansão dos efeitos “ex
denúncia ou queixa; b) o recebimento da denúncia ou tunc”. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concedia a
queixa e a pronúncia; c) a pronúncia e sua confirmação ordem e assentava a inconstitucionalidade do art. 110, § 1º,
por acórdão; d) a pronúncia ou o seu acórdão do CP. Assinalava que não se poderia chancelar a

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possibilidade de o Ministério Público ou o titular de ação estariam a adotar a teoria da proteção extrema, no sentido
penal privada não ter prazo para atuar, ainda que houvesse de que, ainda que o EPI fosse efetivamente utilizado e hábil
dados suficientes para a propositura de ação penal, a eliminar a insalubridade, não estaria descaracterizado o
independentemente de investigação (HC 122694/SP / i-771). tempo de serviço especial prestado (Enunciado 9 da Súmula
da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados
Especiais Federais). Destacou, entretanto, que o uso de EPI
com o intuito de evitar danos sonoros — como no caso —
PREVIDENCIÁRIO não seria capaz de inibir os efeitos do ruído. Salientou que a
controvérsia interpretativa a respeito da concessão de
01. Aposentadoria especial e uso de equipamento de aposentadoria especial encerraria situações diversas: a)
proteção: O direito à aposentadoria especial pressupõe a para o INSS, se o EPI fosse comprovadamente utilizado e
efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua eficaz na neutralização da insalubridade, a aposentadoria
saúde, de modo que, se o Equipamento de Proteção especial não deveria ser concedida; b) para a justiça de 1ª
Individual (EPI) for realmente capaz de neutralizar a instância, o benefício seria devido; e c) para a Receita
nocividade, não haverá respaldo constitucional à Federal, a contribuição não seria devida e a concessão do
concessão de aposentadoria especial. Ademais — no que benefício, sem fonte de custeio, afrontaria a Constituição
se refere a EPI destinado a proteção contra ruído —, na (art. 195, § 5º). Realçou que a melhor interpretação
hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos constitucional a ser dada ao instituto seria aquela que
limites legais de tolerância, a declaração do empregador, privilegiasse, de um lado, o trabalhador e, de outro, o
no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), preceito do art. 201 da CF. Ponderou que, apesar de constar
no sentido da eficácia do EPI, não descaracteriza o tempo expressamente na Constituição (art. 201, § 1º) a
de serviço especial para a aposentadoria. Esse o necessidade de lei complementar para regulamentar a
entendimento do Plenário que, em conclusão de julgamento, aposentadoria especial, a EC 20/1998 fixa, expressamente,
desproveu recurso extraordinário com agravo em que em seu art. 15, como norma de transição, que “até que a lei
discutida eventual descaracterização do tempo de serviço complementar a que se refere o art. 201, § 1º, da
especial, para fins de aposentadoria, em Constituição Federal, seja publicada, permanece em vigor o
decorrência do uso de EPI — informado disposto nos artigos 57 e 58 da Lei nº
no PPP ou documento equivalente — Estudando para a AGU? Não deixe de 8.213, de 24 de julho de 1991, na
capaz de eliminar a insalubridade. conhecer o redação vigente à data da publicação
Questionava-se, ainda, a fonte de custeio desta Emenda”. A concessão de
para essa aposentadoria especial — v. aposentadoria especial dependeria, em
Informativo 757. O Colegiado afirmou que todos os casos, de comprovação, pelo
o denominado PPP poderia ser
Curso Preparatório para as carreiras segurado, perante o INSS, do tempo de
conceituado como documento histórico- da Advocacia-Geral da União (AGU) trabalho permanente, não ocasional nem
laboral do trabalhador, que reuniria, dentre intermitente, exercido em condições
outras informações, dados especiais que prejudicassem a saúde ou
administrativos, registros ambientais e Totalmente online e com todos os pontos a integridade física, durante o período
resultados de monitoração biológica mínimo de 15, 20 ou 25 anos, a
do edital! depender do agente nocivo. Não se
durante todo o período em que ele
exercera suas atividades, referências www.ebeji.com.br poderia exigir dos trabalhadores
sobre as condições e medidas de controle expostos a agentes prejudiciais à saúde
da saúde ocupacional de todos os e com maior desgaste, o cumprimento
trabalhadores, além da comprovação da do mesmo tempo de contribuição
efetiva exposição dos empregados a daqueles empregados que não
agentes nocivos, e eventual neutralização pela utilização de estivessem expostos a qualquer agente nocivo. Outrossim,
EPI. Seria necessário indicar a atividade exercida pelo não seria possível considerar que todos os agentes
trabalhador, o agente nocivo ao qual estaria ele exposto, a químicos, físicos e biológicos seriam capazes de prejudicar
intensidade e a concentração do agente, além de exames os trabalhadores de igual forma e grau, do que resultaria a
médicos clínicos. Não obstante, aos trabalhadores seria necessidade de se determinar diferentes tempos de serviço
assegurado o exercício de suas funções em ambiente mínimo para aposentadoria, de acordo com cada espécie de
saudável e seguro (CF, artigos 193 e 225). A respeito, o agente nocivo. A verificação da nocividade laboral para
anexo IV do Decreto 3.048/1999 (Regulamento da caracterizar o direito à aposentadoria especial conferiria
Previdência Social) traz a classificação dos agentes nocivos maior eficácia ao instituto à luz da Constituição. O Plenário
e, por sua vez, a Lei 9.528/1997, ao modificar a Lei de discordou do entendimento segundo o qual o benefício
Benefícios da Previdência Social, fixa a obrigatoriedade de as previdenciário seria devido em qualquer hipótese, desde que
empresas manterem laudo técnico atualizado, sob pena de o ambiente fosse insalubre (risco potencial do dano). A
multa, bem como de elaborarem e manterem PPP, a abranger autoridade competente poderia, no exercício da fiscalização,
as atividades desenvolvidas pelo trabalhador. A referida Lei aferir as informações prestadas pela empresa e constantes
9.528/1997 seria norma de aplicabilidade contida, ante a no laudo técnico de condições ambientais do trabalho, sem
exigência de regulamentação administrativa, que ocorrera por prejuízo do controle judicial. As atividades laborais nocivas e
meio da Instrução Normativa 95/2003, cujo marco temporal de sua respectiva eliminação deveriam ser meta da sociedade,
eficácia fora fixado para 1º.1.2004. Ademais, a Instrução do Estado, do empresariado e dos trabalhadores como
Normativa 971/2009, da Receita Federal, ao dispor sobre princípios basilares da Constituição. O Ministro Marco
normas gerais de tributação previdenciária e de arrecadação Aurélio, ao acompanhar o dispositivo da decisão colegiada,
das contribuições sociais destinadas à previdência social e às limitou-se a desprover o recurso, sem acompanhar as teses
outras entidades ou fundos, assenta que referida contribuição fixadas. O Ministro Teori Zavascki, por sua vez, endossou
não é devida se houver a efetiva utilização, comprovada pela apenas a primeira tese, tendo em vista reputar que a
empresa, de equipamentos de proteção individual que segunda — alusiva a ruído acima dos limites de tolerância
neutralizem ou reduzam o grau de exposição a níveis legais — não teria conteúdo constitucional. O Ministro Luiz Fux
de tolerância. O Colegiado reconheceu que os tribunais

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(relator) reajustou seu voto relativamente ao EPI destinado à da jornada extraordinária de trabalho à mulher. Embora, com
proteção contra ruído (ARE 664335/SC / i-770). o tempo, tivesse ocorrido a supressão de alguns dispositivos
a cuidar da jornada de trabalho feminina na CLT, o
legislador teria mantido a regra do art. 384, a fim de garantir
à mulher diferenciada proteção, dada sua identidade
TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO biossocial peculiar. Por sua vez, não existiria fundamento
sociológico ou comprovação por dados estatísticos a
01. Art. 384 da CLT e recepção pela CF/1988: O art. 384 da amparar a tese de que essa norma dificultaria ainda mais a
CLT [“Em caso de prorrogação do horário normal, será inserção da mulher no mercado de trabalho. O discrímen
obrigatório um descanso de quinze (15) minutos no não violaria a universalidade dos direitos do homem, na
mínimo, antes do início do período extraordinário do medida em que o legislador vislumbrara a necessidade de
trabalho”] foi recepcionado pela CF/1988 e se aplica a maior proteção a um grupo de trabalhadores, de forma
todas as mulheres trabalhadoras. Essa a conclusão do justificada e proporcional. Inexistiria, outrossim, violação da
Plenário que, por maioria, desproveu recurso extraordinário Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
em que discutida a compatibilidade do referido dispositivo Discriminação contra a Mulher, recepcionada pela
com a Constituição vigente, à luz do princípio da isonomia, Constituição, que proclamara, inclusive, outros direitos
para fins de pagamento, pela empresa empregadora, de específicos das mulheres: a) nas relações familiares, ao
indenização referente ao intervalo de 15 minutos, com coibir a violência doméstica; e b) no mercado de trabalho, ao
adicional de 50% previsto em lei. Preliminarmente, o proibir a discriminação e garantir proteção especial mediante
Colegiado, por decisão majoritária, rejeitou questão de incentivos específicos. Dessa forma, tanto as disposições
ordem, suscitada pelo Ministro Marco Aurélio, no sentido de constitucionais como as infraconstitucionais não impediriam
não haver quórum para julgamento, tendo em conta se tratar tratamentos diferenciados, desde que existentes elementos
de conflito de norma com a Constituição, e a sessão contar legítimos para o discrímen e que as garantias fossem
com menos de oito integrantes. No ponto, o Ministro Celso proporcionais às diferenças existentes entre os gêneros ou,
de Mello frisou que não se cuidaria de juízo de ainda, definidas por conjunturas sociais. Na espécie, não
constitucionalidade, mas de discussão em torno de direito houvera tratamento arbitrário em detrimento do homem. A
pré-constitucional. Assim, o juízo da Corte seria positivo ou respeito, o Colegiado anotou outras espécies normativas em
negativo de recepção. Vencido o suscitante. No mérito, o que concebida a igualdade não a partir de sua formal
Colegiado ressaltou que a cláusula geral da igualdade teria acepção, mas como um fim necessário em situações de
sido expressa em todas as Constituições brasileiras, desde desigualdade: direitos trabalhistas extensivos aos
1824. Entretanto, somente com a CF/1934 teria sido trabalhadores não incluídos no setor formal; licença
destacado, pela primeira vez, o tratamento igualitário entre maternidade com prazo superior à licença paternidade;
homens e mulheres. Ocorre que a essa realidade jurídica prazo menor para a mulher adquirir direito à aposentadoria
não teria garantido a plena igualdade entre os sexos no por tempo de serviço e contribuição; obrigação de partidos
mundo dos fatos. Por isso, a CF/1988 teria explicitado, em políticos reservarem o mínimo de 30% e o máximo de 70%
três mandamentos, a garantia da igualdade. Assim: a) para candidaturas de cada sexo; proteção especial para
fixara a cláusula geral de igualdade, ao prescrever que mulheres vítimas de violência doméstica; entre outras. Além
todos são iguais perante a lei, sem distinção de disso, a jurisprudência da Corte entenderia possível, em
qualquer natureza; b) estabelecera cláusula específica etapa de concurso público, exigir-se teste físico diferenciado
de igualdade de gênero, ao declarar que homens e para homens e mulheres quando preenchidos os requisitos
mulheres são iguais em direitos e obrigações; e c) da necessidade e da adequação para o discrímen. Não
excepcionara a possibilidade de tratamento obstante, o Colegiado concluiu que, no futuro, poderia haver
diferenciado, que seria dado nos termos efetivas e reais razões fáticas e políticas para a revogação
constitucionais. Por sua vez, as situações expressas de da norma, ou mesmo para ampliação do direito a todos os
tratamento desigual teriam sido dispostas formalmente na trabalhadores. O Ministro Gilmar Mendes sublinhou que a
própria Constituição, a exemplo dos artigos 7º, XX; e 40, § Corte só poderia invalidar a discriminação feita pelo
1º, III, a e b. Desse modo, a Constituição se utilizara de legislador se ela fosse arbitrária, o que não seria o caso. O
alguns critérios para o tratamento diferenciado. Em primeiro Ministro Celso de Mello frisou que o juízo negativo de
lugar, considerara a histórica exclusão da mulher do recepção do art. 384 da CLT implicaria transgressão ao
mercado regular de trabalho e impusera ao Estado a princípio que veda o retrocesso social, que cuidaria de
obrigação de implantar políticas públicas, administrativas e impedir que os níveis de concretização de prerrogativas
legislativas de natureza protetora no âmbito do direito do inerentes aos direitos sociais, uma vez atingidos,
trabalho. Além disso, o texto constitucional reputara existir viessem a ser reduzidos ou suprimidos, exceto nas
componente biológico a justificar o tratamento diferenciado, hipóteses em que políticas compensatórias viessem a
tendo em vista a menor resistência física da mulher. ser implementadas. A Ministra Cármen Lúcia acrescentou
Ademais, levara em conta a existência de componente que a Constituição atual teria inovado no sentido de
social, pelo fato de ser comum o acúmulo de atividades pela estabelecer um sistema jurídico capaz de possibilitar novos
mulher no lar e no ambiente de trabalho. No caso, o espaços de concretização de direitos que sempre existiram
dispositivo legal em comento não retrataria mecanismo de — notadamente o princípio da igualdade. Vencidos os
compensação histórica por discriminações socioculturais, Ministros Luiz Fux e Marco Aurélio, que proviam o recurso,
mas levara em conta os outros dois critérios (componentes para assentar a não-recepção do art. 384 da CLT pela
biológico e social). O Plenário assinalou que esses CF/1988. O Ministro Luiz Fux ponderava que, em
parâmetros constitucionais legitimariam tratamento atendimento à isonomia, o dispositivo deveria ser aplicável
diferenciado, desde que a norma instituidora ampliasse somente em relação às atividades que demandassem
direitos fundamentais das mulheres e atendesse ao princípio esforço físico. O Ministro Marco Aurélio considerava que o
da proporcionalidade na compensação das diferenças. O preceito trabalhista não seria norma protetiva, mas criaria
Colegiado reputou que, ao se analisar o teor da norma discriminação injustificada no mercado de trabalho, em
discutida, seria possível inferir que ela trataria de forma detrimento da mulher (RE 658312/SC / i-769).
proporcional de aspectos de evidente desigualdade, ao
garantir período mínimo de descanso de 15 minutos antes

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GEAGU ObjetivaTRIBUTÁRIO
01. ECT: imunidade tributária recíproca e IPVA: São imunes
à incidência do IPVA os veículos automotores
pertencentes à Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos - ECT (CF, art. 150, VI, a). Esse o entendimento
do Plenário, que, por maioria, julgou procedente pleito
formulado em ação cível originária na qual a referida
empresa pública buscava o afastamento da exigibilidade do
IPVA cobrado por Estado-membro, bem como das sanções
decorrentes do não pagamento do tributo, tendo em conta o
alegado desempenho de atividades típicas de serviço
público obrigatório e exclusivo. A Corte reafirmou sua
jurisprudência no sentido de ser aplicável a imunidade
tributária recíproca em favor da ECT, inclusive em
relação ao IPVA, reiterado o quanto decidido no RE
601.392/PR (DJe de 5.6.2013), na ACO 819 AgR/SE (DJe
de 5.12.2011) e na ACO 803 AgR/SP (acórdão pendente de
publicação). Vencido o Ministro Marco Aurélio (relator), que
julgava improcedente o pedido. Destacava que só se
poderia cogitar de imunidade recíproca quando houvesse
possibilidade jurídica de ser, a um só tempo, sujeito passivo
e sujeito ativo tributário, o que não ocorreria com as pessoas
jurídicas de direito privado, como a ECT (ACO 879/PB / i-
769).

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Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Superior Tribunal de Justiça Inst. de Prev. dos Serv. Púb. de C. Grande IPSEM/CG.

Selecionado a partir do informativo 553 e 554 do STJ alternativa decorrente de atividades vinculadas à
exploração de faixas marginais. O caput do art. 11 da Lei
ADMINISTRATIVO 8.987/1995 (Lei de Concessões e Permissões) prescreve
que, No atendimento às peculiaridades de cada serviço
01. 01. Direito Administrativo. Competência para fiscalizar público, poderá o poder concedente prever, em favor da
presença de farmacêutico Em drogarias e farmácias. concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de
Recurso Repetitivo (Art. 543-C do CPC e Res. 8/2008-STJ). outras fontes provenientes de receitas alternativas,
Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem complementares, acessórias ou de projetos associados, com
competência para fiscalização e autuação das farmácias ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade
e drogarias, quanto ao cumprimento da exigência de das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.
manterem profissional legalmente habilitado Ressalte-se que, como a minuta do contrato de concessão
(farmacêutico) durante todo o período de funcionamento deve constar no edital conforme dispõe o art. 18, XIV, da Lei
dos respectivos estabelecimentos, sob pena de esses 8.987/1995, o mencionado art. 11, ao citar no edital, não
incorrerem em infração passível de multa, nos termos inviabiliza que a possibilidade de aferição de outras receitas
do art. 24 da Lei 3.820/1960, c/c o art. 15 da Lei figure apenas no contrato, haja vista se tratar de parte
5.991/1973. A interpretação dos integrante do edital. Sendo assim, desde que haja previsão
dispositivos legais atinentes à matéria em Prepare-se para os concursos da no contrato de concessão da rodovia,
apreço (arts. 10, c, e 24 da Lei Advocacia-Geral da União com permite-se a cobrança, a título de
3.820/1960 e art. 15 da Lei 5.991/1973) receita alternativa, pelo uso de faixa de
conduz ao entendimento de que os domínio, ainda que a cobrança recaia
Conselhos Regionais de Farmácia são
competentes para promover
fiscalização das farmácias e drogarias
a GEAGU sobre concessionária de serviços de
distribuição de energia elétrica.
Ademais, havendo previsão contratual,
em relação à permanência de Resolução de questões objetivas, peças, não há como prevalecer o teor do art. 2º
profissionais legalmente habilitados pareceres e dissertações do Decreto 84.398/1980 em detrimento
durante o período integral de www.ebeji.com.br do referido art. 11 da Lei 8.987/1995.
funcionamento das empresas Precedente citado: REsp 975.097-SP,
farmacêuticas. Já a atuação da Vigilância Primeira Seção, DJe 14/5/2010. (EREsp
Sanitária está circunscrita ao 985.695-RJ/ Informativo 554). Inteiro
licenciamento do estabelecimento e à teor aqui.
sua fiscalização no que tange ao
cumprimento de padrões sanitários
relativos ao comércio exercido, CIVIL E PROCESSO CIVIL
convivendo, portanto, com as atribuições
a cargo dos Conselhos. É o que se depreende, claramente, 01. Direito Civil. Limites à aplicabilidade do art. 50 do CC. O
do disposto no art. 21 da Lei 5.991/1973. Precedentes encerramento das atividades da sociedade ou sua
citados: EREsp 380.254-PR, Primeira Seção, DJ 8/8/2005; dissolução, ainda que irregulares, não são causas, por
REsp 1.085.436-SP, Segunda Turma, DJe 3/2/2011; AgRg si sós, para a desconsideração da personalidade
no REsp 975.172-SP, Primeira Turma, DJe 17/12/2008. jurídica a que se refere o art. 50 do CC. Para a aplicação
(REsp 1.382.751-MG/ Informativo 554). Inteiro teor aqui. da teoria maior da desconsideração da personalidade social
adotada pelo CC, exige-se o dolo das pessoas naturais que
02. Direito Administrativo. Obtenção de receita alternativa estão por trás da sociedade, desvirtuando-lhe os fins
em contrato de concessão de rodovia. Concessionária de institucionais e servindo-se os sócios ou administradores
rodovia pode cobrar de concessionária de energia desta para lesar credores ou terceiros. É a intenção ilícita e
elétrica pelo uso de faixa de domínio de rodovia para a fraudulenta, portanto, que autoriza, nos termos da teoria
instalação de postes e passagem de cabos aéreos adotada pelo CC, a aplicação do instituto em comento.
efetivadas com o intuito de ampliar a rede de energia, na Especificamente em relação à hipótese a que se refere o
hipótese em que o contrato de concessão da rodovia art. 50 do CC, tratando-se de regra de exceção, de
preveja a possibilidade de obtenção de receita restrição ao princípio da autonomia patrimonial da

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pessoa jurídica, deve-se restringir a aplicação desse ao(s) qual/quais o autor da ação cautelar de exibição deseja
disposto legal a casos extremos, em que a pessoa ter acesso, a fim de verificar a pertinência ou não de
jurídica tenha sido instrumento para fins fraudulentos, propositura da ação principal. É aqui que entra o interesse
configurado mediante o desvio da finalidade de agir: há interesse processual para a ação cautelar de
institucional ou a confusão patrimonial. Dessa forma, a exibição de documentos quando o autor pretende avaliar a
ausência de intuito fraudulento afasta o cabimento da pertinência ou não do ajuizamento de ação judicial relativa a
desconsideração da personalidade jurídica, ao menos documentos que não se encontram consigo. A propósito, o
quando se tem o CC como o microssistema legislativo conhecimento proporcionado pela exibição do documento
norteador do instituto, a afastar a simples hipótese de não raras vezes desestimula o autor ou mesmo o convence
encerramento ou dissolução irregular da sociedade da existência de qualquer outro direito passível de tutela
como causa bastante para a aplicação do disregard jurisdicional. De fato, o que caracteriza mesmo o interesse
doctrine. Ressalte-se que não se quer dizer com isso que o de agir é o binômio necessidade-adequação. Assim, é
encerramento da sociedade jamais será causa de preciso que, a partir do acionamento do Poder Judiciário, se
desconsideração de sua personalidade, mas que somente o possa extrair algum resultado útil e, ainda, que em cada
será quando sua dissolução ou inatividade irregulares caso concreto a prestação jurisdicional solicitada seja
tenham o fim de fraudar a lei, com o desvirtuamento da necessária e adequada. Nesse diapasão, conclui-se que o
finalidade institucional ou confusão patrimonial. Assim é que interesse de agir deve ser verificado em tese e de acordo
o enunciado 146, da III Jornada de Direito Civil, orienta o com as alegações do autor no pedido, sendo imperioso
intérprete a adotar exegese restritiva no exame do artigo 50 verificar apenas a necessidade da intervenção judicial e a
do CC, haja vista que o instituto da desconsideração, adequação da medida jurisdicional requerida de acordo com
embora não determine a despersonalização da sociedade os fatos narrados na inicial. Nesse passo, verifica-se que a
visto que aplicável a certo ou determinado negócio e que jurisprudência do STJ é tranquila no sentido de que há
impõe apenas a ineficácia da pessoa jurídica frente ao interesse de agir na propositura de ação de exibição de
lesado, constitui restrição ao princípio da autonomia documentos objetivando a obtenção de extrato para discutir
patrimonial. Ademais, evidenciando a interpretação restritiva a relação jurídica deles originada (AgRg no REsp 1.326.450-
que se deve dar ao dispositivo em exame, a IV Jornada de DF, Terceira Turma, DJe 21/10/2014; e AgRg no AREsp
Direito Civil firmou o enunciado 282, que expressamente 234.638-MS, Quarta Turma, DJe 20/2/2014). Assim, é certo
afasta o encerramento irregular da pessoa jurídica como que, reconhecida a existência de relação obrigacional entre
causa para desconsideração de sua personalidade: O as partes e o dever legal que tem a instituição financeira de
encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, manter a escrituração correspondente, revela-se cabível
por si só, não basta para caracterizar abuso da determinar à instituição financeira que apresente o
personalidade jurídica. Entendimento diverso conduziria, no documento. Contudo, exige-se do autor/correntista a
limite, em termos práticos, ao fim da autonomia patrimonial demonstração da plausibilidade da relação jurídica alegada,
da pessoa jurídica, ou seja, regresso histórico incompatível pelo menos, com indícios mínimos capazes de comprovar a
com a segurança jurídica e com o vigor da atividade própria existência da contratação da conta-poupança,
econômica. Precedentes citados: AgRg no REsp 762.555- devendo o correntista, ainda, especificar, de modo preciso,
SC, Quarta Turma, DJe 25/10/2012; e AgRg no REsp os períodos em que pretenda ver exibidos os extratos, tendo
1.173.067/RS, Terceira Turma, DJe 19/6/2012. (EREsp em conta que, nos termos do art. 333, I, do CPC, incumbe
1.306.553-SC/ Informativo 554). Inteiro teor aqui. ao autor provar o fato constitutivo de seu direito. Quanto à
necessidade de pedido prévio à instituição financeira e
02. Direito Processual Civil. Requisitos para configuração do pagamento de tarifas administrativas, é necessária a
interesse de agir nas ações cautelares de exibição de comprovação de prévio pedido à instituição financeira não
documentos bancários. Recurso Repetitivo (art. 543-c do atendido em prazo razoável e o pagamento do custo do
CPC e Res. 8/2008-STJ). A propositura de ação cautelar serviço conforme previsão contratual e a normatização da
de exibição de documentos bancários (cópias e autoridade monetária. Por fim, não se pode olvidar que o
segunda via de documentos) é cabível como medida dever de exibição de documentos por parte da instituição
preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando bancária decorre do direito de informação ao consumidor
a demonstração da existência de relação jurídica entre (art. 6º, III, do CDC). De fato, dentre os princípios
as partes, a comprovação de prévio pedido à instituição consagrados na lei consumerista, encontra-se a
financeira não atendido em prazo razoável e o necessidade de transparência, ou seja, o dever de prestar
pagamento do custo do serviço conforme previsão informações adequadas, claras e precisas acerca do produto
contratual e normatização da autoridade monetária. É ou serviço fornecido (arts. 6º, III, 20, 31, 35 e 54, § 5º).
por meio da ação cautelar de exibição que, segundo a (REsp 1.349.453-MS/ Informativo 553). Inteiro Teor aqui.
doutrina, se descobre “o véu, o segredo, da coisa ou do
documento, com vistas a assegurar o seu conteúdo e,
assim, a prova em futura demanda”, sendo que o pedido de 03. Direito Processual Civil. Prorrogação do termo final do
exibição pode advir de uma ação cautelar autônoma (arts. prazo para ajuizamento da ação rescisória. Recurso
844 e 845 do CPC) ou de um incidente no curso da lide Repetitivo (art. 543-c do CPC e Res. 8/2008-STJ). O termo
principal (arts. 355 a 363 do CPC). No tocante às ações final do prazo decadencial para propositura de ação
autônomas, essas poderão ter natureza verdadeiramente rescisória deve ser prorrogado para o primeiro dia útil
cautelar, demanda antecedente, cuja finalidade é proteger, subsequente quando recair em data em que não haja
garantir ou assegurar o resultado útil do provimento funcionamento da secretaria do juízo competente.
jurisdicional; ou satisfativa, demanda principal, visando Preliminarmente, tendo em vista que o art. 495 do CPC
apenas à exibição do documento ou coisa, apresentando dispõe que “o direito de propor ação rescisória se extingue
cunho definitivo e podendo vir a ser preparatória de uma em dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão”,
ação principal – a depender dos dados informados. De mais cabe examinar a data do trânsito em julgado da decisão, a
a mais, da leitura do inciso II do art. 844 do CPC, percebe-se partir da qual se dá o termo inicial do prazo para a
que a expressão “documento comum” refere-se a uma proposição da ação rescisória. Essa análise se faz
relação jurídica que envolve ambas as partes, em que uma necessária, pois se observa a existência de divergência
delas (instituição financeira) detém o(s) extrato(s) bancários acerca da definição do termo inicial do biênio decadencial

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GEAGU
(se do dia Objetiva
do trânsito em julgado ou do dia seguinte ao vias administrativas. 3. A exigência de prévio requerimento
trânsito em julgado), que ocorre, principalmente, em razão administrativo não deve prevalecer quando o entendimento
da imprecisão ao se definir o exato dia do trânsito em da Administração for notória e reiteradamente contrário à
julgado. A teor do disposto no § 3.º do art. 6.º da Lei de postulação do segurado. 4. Na hipótese de pretensão de
Introdução às normas do Direito Brasileiro, “chama-se coisa revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício
julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não anteriormente concedido, considerando que o INSS tem o
caiba mais recurso”, bem assim no art. 467 do CPC: dever legal de conceder a prestação mais vantajosa
“denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em
imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a juízo – salvo se depender da análise de matéria de fato
recurso ordinário ou extraordinário”. Em uma linha: só há ainda não levada ao conhecimento da Administração –, uma
trânsito em julgado quando não mais couber recurso, ou vez que, nesses casos, a conduta do INSS já configura o
seja, há trânsito em julgado no dia imediatamente não acolhimento ao menos tácito da pretensão. 5. Tendo em
subsequente ao último dia do prazo para o recurso em tese vista a prolongada oscilação jurisprudencial na matéria,
cabível contra a última decisão proferida na causa. Assim, inclusive no Supremo Tribunal Federal, deve-se estabelecer
em que pese a existência de precedentes em sentido uma fórmula de transição para lidar com as ações em curso,
contrário, o termo inicial para o ajuizamento da ação nos termos a seguir expostos. 6. Quanto às ações ajuizadas
rescisória coincide com a data do trânsito em julgado da até a conclusão do presente julgamento (03.09.2014), sem
decisão rescindenda (STF, AR 1.412-SC, Tribunal Pleno, que tenha havido prévio requerimento administrativo nas
DJe 26/6/2009; AR 1.472-DF, Tribunal Pleno, DJe hipóteses em que exigível, será observado o seguinte: (i)
7/12/2007; e STJ, AR 4.374-MA, Segunda Seção, DJe caso a ação tenha sido ajuizada no âmbito de Juizado
5/6/2012). A regra para contagem do prazo bienal é a Itinerante, a ausência de anterior pedido administrativo não
estabelecida no art. 1.º da Lei 810/1949, qual seja, deverá implicar a extinção do feito; (ii) caso o INSS já tenha
“considera-se ano o período de doze meses contados do dia apresentado contestação de mérito, está caracterizado o
do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte”, interesse em agir pela resistência à pretensão; (iii) as
fórmula que está em consonância com aquela estabelecida demais ações que não se enquadrem nos itens (i) e (ii)
também no art. 132, § 2.º, do CC, onde se lê: “os prazos de ficarão sobrestadas, observando-se a sistemática a seguir.
meses e anos expiram no dia de igual número do de início, 7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar
ou no imediato, se faltar exata correspondência”. entrada no pedido administrativo em 30 dias, sob pena de
Consoante adverte amplo magistério doutrinário, o extinção do processo. Comprovada a postulação
prazo para a propositura da ação rescisória é administrativa, o INSS será intimado a se manifestar acerca
decadencial, e, dessa forma, não estaria sujeito à do pedido em até 90 dias, prazo dentro do qual a Autarquia
suspensão ou interrupção. Não obstante, a deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e
jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que, se o proferir decisão. Se o pedido for acolhido
termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória administrativamente ou não puder ter o seu mérito analisado
recair em dia não útil prorroga-se para o primeiro dia útil devido a razões imputáveis ao próprio requerente, extingue-
subsequente. Ressalte-se que não se está a afirmar que se a ação. Do contrário, estará caracterizado o interesse em
não se trata de prazo decadencial, pois esta é a natureza do agir e o feito deverá prosseguir. 8. Em todos os casos acima
prazo para o ajuizamento da ação rescisória. A solução – itens (i), (ii) e (iii) –, tanto a análise administrativa quanto a
apresentada pela jurisprudência do STJ, que aplica ao prazo judicial deverão levar em conta a data do início da ação
de ajuizamento da ação rescisória a regra geral do art. 184, como data de entrada do requerimento, para todos os
§ 1.º, do CPC, visa a atender ao princípio da razoabilidade, efeitos legais”. (REsp 1.369.834-SP/ Informativo 553).
evitando que se subtraia da parte a plenitude do prazo a ela Inteiro teor aqui.
legalmente concedido. E, conforme já assentado pelo STJ,
“Em se tratando de prazos, o intérprete, sempre que 05. Direito Processual Civil e Tributário. Dispensabilidade da
possível, deve orientar-se pela exegese mais liberal, atento indicação do CPF e/ou RG do devedor (pessoa física) nas
às tendências do processo civil contemporâneo - calcado ações de execução fiscal. Recurso Repetitivo (art. 543-c do
nos princípios da efetividade e da instrumentalidade - e à CPC e Res. 8/2008 do STJ). Em ações de execução fiscal,
advertência da doutrina de que as sutilezas da lei nunca descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da
devem servir para impedir o exercício de um direito” (REsp falta de indicação do CPF e/ou RG da parte executada,
11.834-PB, Quarta Turma, DJ 30/3/1992). Precedentes visto tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei
citados: AgRg no REsp 1.231.666-BA, Primeira Turma, DJe 6.830/1980 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade,
24/4/2012; REsp 1.210.186-RS, Segunda Turma, DJe ostenta primazia sobre a legislação de cunho geral,
31/3/2011; AgRg no REsp 966.017-RO, Quinta Turma, DJe como ocorre em relação à exigência contida no art. 15
9/3/2009; e EREsp 667.672-SP, Corte Especial, DJe da Lei 11.419/2006. A Lei 6.830/1980, ao elencar no art. 6º
26/6/2008. (REsp 1.112.864-MG/ Informativo 553). Inteiro os requisitos da petição inicial, não previu o fornecimento do
teor aqui. CPF da parte executada, providência, diga-se, também não
contemplada no art. 282, II, do CPC. A previsão de que a
04. Direito Previdenciário e Processual Civil. Prévio petição inicial de qualquer ação judicial contenha o CPF ou o
requerimento administrativo para obtenção de benefício CNPJ do réu encontra suporte, unicamente, no art. 15 da Lei
previdenciário. Recurso Repetitivo (art. 543-c do CPC e Res. 11.419/2006, que disciplina a informatização dos processos
8/2008-STJ). A Primeira Seção do STJ adere ao judiciais, cuidando-se, nessa perspectiva, de norma de
entendimento do STF firmado no RE 631.240-MG, caráter geral. Portanto, não se pode cogitar do indeferimento
julgado em 3/9/2014, sob o regime da repercussão geral, da petição inicial com base em exigência não consignada na
o qual decidiu: “[...] 2. A concessão de benefícios legislação específica (Lei 6.830/1980-LEF), tanto mais
previdenciários depende de requerimento do quando o nome e endereço da parte executada, trazidos
interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a com a inicial, possibilitem, em tese, a efetivação do ato
direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo citatório. A Primeira Seção do STJ concluiu, em sede de
INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É repetitivo, por afastar a exigência de que a exordial da
bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio execução se fizesse acompanhar, também, da planilha
requerimento não se confunde com o exaurimento das discriminativa de cálculos; isso porque “A petição

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inicial da Objetiva
execução fiscal apresenta seus requisitos 07. Direito Processual Civil. Publicação de intimação com
essenciais próprios e especiais que não podem ser erro na grafia do sobrenome do advogado. Não há nulidade
exacerbados a pretexto da aplicação do Código de na publicação de ato processual em razão do acréscimo
Processo Civil, o qual, por conviver com a lex specialis, de uma letra ao sobrenome do advogado no caso em
somente se aplica subsidiariamente” (REsp 1.138.202- que o seu prenome, o nome das partes e o número do
ES, Primeira Seção, DJe 1º/2/2010). Em tal perspectiva, processo foram cadastrados corretamente, sobretudo
deve-se reconhecer que, por seu caráter geral, o art. 15 da se, mesmo com a existência de erro idêntico nas
Lei 11.419/2006, no que impõe à parte o dever de informar, intimações anteriores, houve observância aos prazos
ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o CPF processuais passados, de modo a demonstrar que o
ou CNPJ de pessoas físicas e jurídicas, encerra comando erro gráfico não impediu a exata identificação do
que cede frente aos enxutos requisitos contidos na processo. À luz do § 1º do art. 236 do CPC, devem constar
legislação de regência da execução fiscal (Lei 6.830/1980), nas publicações de ato processual em órgão oficial “os
notadamente em seu artigo 6º. Embora o questionado nomes das partes e dos seus advogados, suficientes para
fornecimento do CPF ou CNPJ não chegue a revelar sua identificação”. Nesse contexto, a Corte Especial do
incompatibilidade maior com o procedimento fiscal em STJ firmou entendimento no sentido de que o erro
juízo, a falta de apresentação desses dados pelo fisco, insignificante na grafia do nome do advogado, aliado à
por não se erigir em requisito expressamente reclamado possibilidade de se identificar o processo por outros
na lei especial de regência, não poderá obstruir o curso elementos, como o seu número e o nome da parte, não
da execução, sem prejuízo de que esses dados possam enseja a nulidade da publicação do ato processual
aportar ao feito em momento ulterior. (REsp 1.450.819- (AgRg nos EDcl nos EAREsp 140.898-SP, DJe 10/10/2013).
AM/ Informativo 553). Inteiro teor aqui. Além disso, diversas Turmas do STJ comungam do mesmo
entendimento (AgRg no AREsp 109.463-SP, Primeira
06. Direito Processual Civil e Tributário. Dispensabilidade da Turma, DJe 8/3/2013; RCD no REsp 1.294.546-RS,
indicação do CNPJ do devedor (pessoa jurídica) nas ações Segunda Turma, DJe 12/6/2013; AgRg no AREsp 375.744-
de execução fiscal. Recurso Repetitivo (art. 543-c do CPC e PE, Terceira Turma, DJe 12/11/2013; AgRg no AREsp
Res. 8/2008 do STJ). Em ações de execução fiscal, 27.988-PA, Quarta Turma, DJe 7/12/2012; e HC 206.686-
descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da SC, Quinta Turma, DJe 11/2/2014). (EREsp 1.356.168-RS/
falta de indicação do CNPJ da parte executada, visto Informativo 553). Inteiro teor aqui.
tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei
6.830/1980 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade, 08. Direito Processual Civil. Necessidade de nova intimação
ostenta primazia sobre a legislação de cunho geral, na hipótese de adiamento de julgamento de processo
como ocorre em relação à exigência contida no art. 15 incluído em pauta. No âmbito do STJ, na hipótese em que
da Lei 11.419/2006. A Lei 6.830/1980, ao elencar no art. 6º o julgamento do processo tenha sido adiado por mais
os requisitos da petição inicial, não previu o fornecimento do de três sessões, faz-se necessária nova intimação das
CNPJ da parte executada, providência, diga-se, também não partes por meio de publicação de pauta de julgamento.
contemplada no art. 282, II, do CPC. A previsão de que a De fato, a sistemática anteriormente seguida no âmbito da
petição inicial de qualquer ação judicial contenha o CPF ou o Corte Especial do STJ era no sentido de que, uma vez
CNPJ do réu encontra suporte, unicamente, no art. 15 da Lei incluído em pauta o processo, não se fazia necessária nova
11.419/2006, que disciplina a informatização dos processos publicação e intimação das partes, independentemente do
judiciais, cuidando-se, nessa perspectiva, de norma de número de sessões pendentes do respectivo julgamento. No
caráter geral. Portanto, não se pode cogitar do indeferimento entanto, esse quadro deve ser revisto, uma vez que se trata
da petição inicial com base em exigência não consignada na de uma daquelas situações em que o STJ não se deve guiar
legislação específica (Lei 6.830/1980), tanto mais quando o pelo procedimento de outros tribunais. Ao contrário, deve
nome e endereço da parte executada, trazidos com a inicial, dar o bom exemplo. Há que se fazer o certo. E o certo é
possibilitem, em tese, a efetivação do ato citatório. A assegurar a ampla defesa, o contraditório e a segurança
Primeira Seção do STJ concluiu, em sede de repetitivo, por jurídica. E mais, não se pode desconsiderar que este é um
afastar a exigência de que a exordial da execução se fizesse Tribunal nacional, um Tribunal de superposição, onde atuam
acompanhar, também, da planilha discriminativa de cálculos, advogados que vêm dos extremos mais remotos do nosso
isso porque “A petição inicial da execução fiscal apresenta País. Nesse sentido, causa intensa preocupação a situação
seus requisitos essenciais próprios e especiais que não dos advogados que se deslocam a Brasília, com despesas
podem ser exacerbados a pretexto da aplicação do Código custeadas por seus clientes, que, frequentemente, são
de Processo Civil, o qual, por conviver com a lex specialis, pessoas humildes e somente podem arcar com a passagem
somente se aplica subsidiariamente” (REsp 1.138.202-ES, de seus procuradores uma única vez, sem conseguir
Primeira Seção, DJe 1º/2/2010). Em tal perspectiva, deve-se suportar com os custos da segunda, terceira e, muito
reconhecer que, por seu caráter geral, o art. 15 da Lei menos, quarta e quinta viagens. Ademais, no processo civil
11.419/2006, no que impõe à parte o dever de informar, ao brasileiro, a surpresa e o ônus financeiro excessivo são
distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o CPF ou incompatíveis com o due process e com os pressupostos do
CNPJ de pessoas físicas e jurídicas, encerra comando que Estado de Direito que é, antes de tudo, Social. Dessa forma,
cede frente aos enxutos requisitos contidos na legislação de o estabelecimento de um limite de 3 (três) sessões para
regência da execução fiscal (Lei 6.830/1980), notadamente dispensa de nova publicação é um início, um limiar para a
em seu artigo 6º. Embora o questionado fornecimento do retificação da omissão até hoje verificada, sem prejuízo de a
CPF ou CNPJ não chegue a revelar incompatibilidade maior questão ser deliberada oportunamente mediante reforma do
com o procedimento fiscal em juízo, a falta de apresentação Regimento Interno. (EDcl no REsp 1.340.444-RS/
desses dados pelo fisco, por não se erigir em requisito Informativo 553). Inteiro teor aqui.
expressamente reclamado na lei especial de regência, não
poderá obstruir o curso da execução, sem prejuízo de que 09. Direito Civil e Processual Civil. Utilização da tabela price
esses dados possam aportar ao feito em momento ulterior. nos contratos do SFH. Recurso Repetitivo (art. 543-c do
REsp 1.455.091-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira CPC e Res. 8/2008-STJ). A análise acerca da legalidade
Seção, julgado em 12/11/2014, DJe 2/2/2015. (Informativo da utilização da Tabela Price mesmo que em abstrato
553). Inteiro teor aqui. passa, necessariamente, pela constatação da eventual

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GEAGU Objetiva
capitalização de juros (ou incidência de juros vedando, em abstrato, o uso da Tabela Price. É que, se a
compostos, juros sobre juros ou anatocismo), que é análise acerca da legalidade da utilização do Sistema
questão de fato e não de direito, motivo pelo qual não Francês de Amortização passa, necessariamente, pela
cabe ao STJ tal apreciação, em razão dos óbices averiguação da forma pela qual incidiram os juros, a
contidos nas Súmulas 5 e 7 do STJ; é exatamente por legalidade ou a ilegalidade do uso da Tabela Price não pode
isso que, em contratos cuja capitalização de juros seja ser reconhecida em abstrato, sem apreciação dos contornos
vedada, é necessária a interpretação de cláusulas do caso concreto. Desse modo, em atenção à segurança
contratuais e a produção de prova técnica para aferir a jurídica, o procedimento adotado nas instâncias ordinárias
existência da cobrança de juros não lineares, deve ser ajustado, a fim de corrigir as hipóteses de
incompatíveis, portanto, com financiamentos celebrados deliberações arbitrárias ou divorciadas do exame probatório
no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) do caso concreto. Isto é, quando o juiz ou o tribunal, ad
antes da vigência da Lei 11.977/2009, que acrescentou o nutum, afirmar a legalidade ou ilegalidade da Tabela Price,
art. 15-A à Lei 4.380/1964; em se verificando que sem antes verificar, no caso concreto, a ocorrência ou não
matérias de fato ou eminentemente técnicas foram de juros capitalizados (compostos ou anatocismo), haverá
tratadas como exclusivamente de direito, reconhece-se ofensa aos arts. 131, 333, 335, 420, 458 ou 535 do CPC,
o cerceamento, para que seja realizada a prova pericial. ensejando, assim, novo julgamento com base nas provas ou
No âmbito do SFH, a Lei 4.380/1964, em sua redação nas consequências de sua não produção, levando-se em
original, não previa a possibilidade de cobrança de juros conta, ainda, o ônus probatório de cada litigante. Assim, por
capitalizados, vindo à luz essa permissão apenas com a ser a capitalização de juros na Tabela Price questão de fato,
edição da Lei 11.977/2009, que acrescentou ao diploma de deve-se franquear às partes a produção da prova necessária
1964 o art. 15-A. Daí o porquê de a jurisprudência do STJ à demonstração dos fatos constitutivos do direito alegado,
ser tranquila em afirmar que, antes da vigência da Lei sob pena de cerceamento de defesa e invasão do
11.977/2009, era vedada a cobrança de juros capitalizados magistrado em seara técnica com a qual não é afeito.
em qualquer periodicidade nos contratos de mútuo Ressalte-se que a afirmação em abstrato acerca da
celebrados no âmbito do SFH. Esse entendimento foi, ocorrência de capitalização de juros quando da utilização da
inclusive, sufragado em sede de julgamento de recurso Tabela Price, como reiteradamente se constata, tem dado
especial repetitivo, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, azo a insurgências tanto dos consumidores quanto das
nos seguintes termos: Nos contratos celebrados no âmbito instituições financeiras, haja vista que uma ou outra
do Sistema Financeiro da Habitação, é vedada a conclusão dependerá unicamente do ponto de vista do
capitalização de juros em qualquer periodicidade. Não cabe julgador, manifestado quase que de forma ideológica, por
ao STJ, todavia, aferir se há capitalização de juros com a vez às cegas e desprendida da prova dos autos, a qual, em
utilização da Tabela Price, por força das Súmulas 5 e 7” não raros casos, simplesmente inexiste. Por isso, reservar à
(REsp 1.070.297-PR, Segunda Seção, DJe 18/9/2009). No prova pericial essa análise, de acordo com as
referido precedente, a Segunda Seção decidiu ser matéria particularidades do caso concreto, beneficiará tanto os
de fato e não de direito a possível capitalização de juros na mutuários como as instituições financeiras, porquanto
utilização da Tabela Price, sendo exatamente por isso que nenhuma das partes ficará ao alvedrio de valorações
as insurgências relativas a essa temática dirigidas ao STJ superficiais do julgador acerca de questão técnica.
esbarram nos óbices das Súmulas 5 e 7 do STJ. A despeito Precedentes citados: AgRg no AREsp 219.959-SP, Terceira
disso, nota-se, ainda, a existência de divergência sobre a Turma, DJe 28/2/2014; AgRg no AREsp 420.450-DF, Quarta
capitalização de juros na Tabela Price nas instâncias Turma, DJe 7/4/2014; AgRg no REsp 952.569-SC, Quarta
ordinárias, uma vez que os diversos tribunais de justiça das Turma, DJe 19/8/2010; e REsp 894.682-RS, DJe
unidades federativas, somados aos regionais federais, 29/10/2009. (REsp 1.124.552-RS/ Informativo 554). Inteiro
manifestam, cada qual, entendimentos diversos sobre a teor aqui.
utilização do Sistema Francês de amortização de
financiamentos. Nessa linha intelectiva, não é possível que 10. Direito Processual Civil. Possibilidade de se conhecer de
uma mesma tese jurídica saber se a Tabela Price, por si só, agravo de instrumento não instruído com a certidão de
representa capitalização de juros possa receber tratamento intimação da decisão agravada. O termo de abertura de
absolutamente distinto, a depender da unidade da vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional substitui,
Federação ou se a jurisdição é federal ou estadual. A par para efeito de demonstração da tempestividade do
disso, para solucionar a controvérsia, as regras de agravo de instrumento (art. 522 do CPC) por ela
experiência comum e as regras da experiência técnica interposto, a apresentação de certidão de intimação da
devem ceder à necessidade de exame pericial”(art. 335 do decisão agravada (art. 525, I, do CPC). De fato, o art. 525,
CPC), cabível sempre que a prova do fato depender do I, do CPC determina que o agravo de instrumento deve ser
conhecimento especial de técnico (art. 420, I, do CPC). instruído, obrigatoriamente, com cópias da decisão
Realmente, há diversos trabalhos publicados no sentido de agravada, da certidão da respectiva intimação e das
não haver anatocismo na utilização da Tabela Price, porém procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
há diversos outros em direção exatamente oposta. As agravado. A simples interpretação literal do referido
contradições, os estudos técnicos dissonantes e as diversas dispositivo poderia levar à rápida conclusão de que a
teorizações demonstram o que já se afirmou no REsp referida certidão seria requisito extrínseco, sem o qual o
1.070.297-PR, Segunda Seção, DJe 18/9/2009: em matéria recurso não ultrapassaria, sequer, a barreira da
de Tabela Price, nem sequer os matemáticos chegam a um admissibilidade. Entretanto, a interpretação literal não é, em
consenso. Nessa seara de incertezas, cabe ao Judiciário algumas ocasiões, a mais adequada, especialmente em se
conferir a solução ao caso concreto, mas não lhe cabe tratando de leis processuais, as quais têm a finalidade
imiscuir-se em terreno movediço nos quais os próprios precípua de resguardar o regular exercício do direito das
experts tropeçam. Isso porque os juízes não têm partes litigantes. Assim, na linha do pensamento da
conhecimentos técnicos para escolher entre uma teoria moderna doutrina processual a respeito da necessidade de
matemática e outra, mormente porque não há perfeito primazia da finalidade das normas de procedimento, na
consenso neste campo. Dessa maneira, o dissídio busca por uma prestação jurisdicional mais breve e efetiva,
jurisprudencial quanto à utilização ou à vedação da Tabela a interpretação das regras processuais deve levar em conta
Price decorre, por vezes, dessa invasão do magistrado ou não apenas o cumprimento da norma em si mesma, mas
do tribunal em questões técnicas, estabelecendo, a seu

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seu escopo, seu objetivo, sob pena de se privilegiar o
formalismo em detrimento do próprio direito material 01. Direito do Consumidor. Reprodução de registro oriundo
buscado pelo jurisdicionado. Nessa linha intelectiva, se for de cartório de protesto em banco de dados de órgão de
possível verificar a tempestividade do agravo de instrumento proteção ao crédito. Recurso Repetitivo (art. 543-c do CPC e
por outro meio, atingindo-se, assim, a finalidade da Res. 8/2008-STJ). Diante da presunção legal de
exigência formal, deve-se, em atenção ao princípio da veracidade e publicidade inerente aos registros de
instrumentalidade das formas, considerar atendido o cartório de protesto, a reprodução objetiva, fiel,
pressuposto e conhecer-se do recurso. Com efeito, a atualizada e clara desses dados na base de órgão de
Fazenda Nacional tem a prerrogativa de ser intimada das proteção ao crédito – ainda que sem a ciência do
decisões, por meio da concessão de vista pessoal dos autos consumidor – não tem o condão de ensejar obrigação
(arts. 38 da LC 73/1993, 6º, § 1º e § 2º, da Lei 9.028/1995, de reparação de danos. Nos termos da CF, o direito de
20 da Lei 11.033/2004 e 25 da Lei 6.830/1980), razão pela acesso à informação encontra-se consagrado no art. 5º,
qual o prazo para a apresentação de recurso por essa tem XXXIII, que preceitua que todos têm direito a receber dos
início a partir da data em que há concessão da referida vista órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
pessoal a ela. Dessa forma, a certidão de concessão de de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
vistas dos autos pode ser considerada como elemento da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
suficiente da demonstração da tempestividade do agravo de cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
instrumento, substituindo a certidão de intimação legalmente do Estado. Além disso, o art. 37, caput, da CF estabelece
prevista. Importa ressaltar que esse tratamento não ser a publicidade princípio que informa a administração
pode, via de regra, ser automaticamente conferido aos pública, e o cartório de protesto exerce serviço público.
litigantes que não possuem a prerrogativa de intimação Nesse passo, observa-se que o art. 43, § 4°, do CDC
pessoal, sob pena de se admitir que o início do prazo disciplina as atividades dos cadastros de inadimplentes,
seja determinado pelo próprio recorrente, a partir da estabelecendo que os bancos de dados e cadastros
data de vista dos autos, a qual pode ser posterior ao relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito
efetivo termo inicial do prazo recursal, que, via de regra, e congêneres são considerados entidades de caráter
é a data da publicação da mesma decisão (EREsp público. Nessa linha de intelecção, consagrando o princípio
683.504-SC, Corte Especial, DJe 1/7/2013). Precedentes da publicidade imanente, o art. 1º, c/c art. 5º, III, ambos da
citados: REsp 1.259.896-PE, Segunda Turma, DJe Lei 8.935/1994 (Lei dos Cartórios), estabelecem que os
17/9/2013; e REsp 1.278.731-DF, Segunda Turma, DJe serviços de protesto são destinados a assegurar a
22/9/2011. (REsp 1.376.656-SP/ Informativo 554). Inteiro publicidade, autenticidade e eficácia dos atos jurídicos.
teor aqui. Ademais, por um lado, a teor do art. 1º, caput, da Lei
9.492/1997 (Lei do Protesto) e das demais disposições
11. Direito Processual Civil. Limites da impenhorabilidade de legais, o protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova
quantia transferida para aplicação financeira. É a inadimplência e o descumprimento de obrigação (ou a
impenhorável a quantia oriunda do recebimento, pelo recusa do aceite) originada em títulos e outros documentos
devedor, de verba rescisória trabalhista posteriormente de dívida. Por outro lado, o art. 2º do mesmo diploma
poupada em mais de um fundo de investimento, desde esclarece que os serviços concernentes ao protesto são
que a soma dos valores não seja superior a quarenta garantidores da autenticidade, publicidade, segurança e
salários mínimos. De fato, a jurisprudência do STJ vem eficácia dos atos jurídicos. Com efeito, o registro do
interpretando a expressão salário, prevista no inciso IV protesto de título de crédito ou outro documento de
do art. 649 do CPC, de forma ampla, de modo que todos dívida é de domínio público, gerando presunção de
os créditos decorrentes da atividade profissional estão veracidade do ato jurídico, dado que deriva do poder
abrangidos pela impenhorabilidade. Cabe registrar, certificante que é conferido ao oficial registrador e ao
entretanto, que a Segunda Seção do STJ definiu que a tabelião. A par disso, registre-se que não constitui ato ilícito
remuneração protegida é apenas a última percebida – a o praticado no exercício regular de um direito reconhecido,
do último mês vencido – e, mesmo assim, sem poder nos termos do art. 188, I, do CC. Dessa forma, como os
ultrapassar o teto constitucional referente à órgãos de sistema de proteção ao crédito exercem
remuneração de ministro do STF (REsp 1.230.060-PR, atividade lícita e relevante ao divulgar informação que
DJe 29/8/2014). Após esse período, eventuais sobras goza de fé pública e domínio público, não há falar em
perdem a proteção. Todavia, conforme esse mesmo dever de reparar danos, tampouco em obrigatoriedade
precedente do STJ, a norma do inciso X do art. 649 do de prévia notificação ao consumidor (art. 43, § 2º, do
CPC merece interpretação extensiva, de modo a permitir CDC), sob pena de violação ao princípio da publicidade
a impenhorabilidade, até o limite de quarenta salários e mitigação da eficácia do art. 1º da Lei 8.935/1994, que
mínimos, de quantia depositada não só em caderneta de estabelece que os cartórios extrajudiciais se destinam a
poupança, mas também em conta corrente ou em conferir publicidade aos atos jurídicos praticados por
fundos de investimento, ou guardada em papel-moeda. seus serviços. Ademais, é bem de ver que as informações
Dessa maneira, a Segunda Seção admitiu que é possível prestadas pelo cartório de protesto não incluem o endereço
ao devedor poupar, nesses referidos meios, valores que do devedor, de modo que a exigência de notificação
correspondam a até quarenta salários mínimos sob a resultaria em inviabilização da divulgação dessas anotações.
regra da impenhorabilidade. Por fim, cumpre esclarecer Igualmente, significaria negar vigência ou, no mínimo, esvair
que, de acordo com a Terceira Turma do STJ (REsp a eficácia do disposto no art. 29, caput, da Lei 9.492/1997
1.231.123-SP, DJe 30/8/2012), deve-se admitir, para que, a toda evidência, deixa nítida a vontade do legislador
alcançar esse patamar de valor, que esse limite incida de que os órgãos de sistema de proteção ao crédito tenham
em mais de uma aplicação financeira, na medida em acesso aos registros atualizados dos protestos tirados e
que, de qualquer modo, o que se deve proteger é a cancelados. Outrossim, é bem de ver que os cadastros e
quantia equivalente a, no máximo, quarenta salários dados de consumidores devem ser objetivos, claros e
mínimos. (EREsp 1.330.567-RS/ Informativo 554). Inteiro verdadeiros (art. 43, § 1º, do CDC). Assim, caso fosse
teor aqui. suprimida a informação sobre a existência do protesto –
ainda que com posterior pagamento ou cancelamento –, os
CONSUMIDOR bancos de dados deixariam de ser objetivos e verdadeiros.

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Precedentes citados: AgRg no AgRg no AREsp 56.336-SP, 02. Direito Empresarial. Recuperação judicial de devedor
Quarta Turma, DJe 1/9/2014; AgRg no AREsp 305.765-RJ, principal e terceiros devedores solidários ou coobrigados em
Terceira Turma, DJe 12/6/2013; HC 149.812-SP, Quinta geral. Recurso Repetitivo (art. 543-c do CPC e Res. 8/2008-
Turma, DJe 21/11/2011; e Rcl 6.173-SP, Segunda Seção, STJ). A recuperação judicial do devedor principal não
DJe 15/3/2012. (REsp 1.344.352-SP/ Informativo 554). impede o prosseguimento das execuções nem induz
Inteiro teor aqui. suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra
terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral,
02. Direito do Consumidor. Inocorrência de dano moral pela por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se
simples presença de corpo estranho em alimento. A lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e
simples aquisição de refrigerante contendo inseto no 52, III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por
interior da embalagem, sem que haja a ingestão do força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei
produto, não é circunstância apta, por si só, a provocar 11.101/2005. De fato, a recuperação judicial divide-se,
dano moral indenizável. Com efeito, a fim de evitar o essencialmente, em duas fases: (a) a primeira inicia-se com
enriquecimento sem causa, prevalece no STJ o o deferimento de seu processamento (arts. 6º, caput, e 52,
entendimento de que “a simples aquisição do produto III, da Lei 11.101/2005); e (b) a segunda, com a aprovação
danificado, uma garrafa de refrigerante contendo um do plano pelos credores reunidos em assembleia, seguida
objeto estranho no seu interior, sem que se tenha da concessão da recuperação por sentença (arts. 57 e 58,
ingerido o seu conteúdo, não revela o sofrimento [...] caput) ou, excepcionalmente, pela concessão forçada da
capaz de ensejar indenização por danos morais” (AgRg recuperação pelo juiz, nas hipóteses previstas nos incisos
no Ag 276.671-SP, Terceira Turma, DJ 8/5/2000), em que do § 1º do art. 58 (Cram Down). No que diz respeito à
pese a existência de precedente em sentido contrário (REsp primeira fase (a), uma vez deferido o processamento da
1.424.304-SP, Terceira Turma, DJe 19/5/2014). Ademais, recuperação, entre outras providências a serem adotadas
não se pode esquecer do aspecto tecnológico das pelo magistrado, determina-se a suspensão de todas as
embalagens alimentícias. No caso específico dos ações e execuções. É o que prescreve o art. 6º, caput, da
refrigerantes, verifica-se que os recipientes que recebem a Lei 11.101/2005: “A decretação da falência ou o deferimento
bebida são padronizados e guardam, na essência, os do processamento da recuperação judicial suspende o curso
mesmos atributos e qualidades no mundo inteiro. São da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
invólucros que possuem bastante resistência mecânica, devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do
suportam razoável pressão e carga, mostrando-se sócio solidário”. No mesmo sentido, o art. 52, III, do mesmo
adequados para o armazenamento e transporte da bebida diploma legal: “Estando em termos a documentação exigida
em condições normais, essas consideradas até muito além no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da
das ideais. Desse modo, inexiste um sistemático defeito de recuperação judicial e, no mesmo ato: [...] III – ordenará a
segurança capaz de colocar em risco a incolumidade da suspensão de todas as ações ou execuções contra o
sociedade de consumo, a culminar no desrespeito à devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os
dignidade da pessoa humana, no desprezo à saúde pública respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas
e no descaso com a segurança alimentar. Precedentes as ações previstas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as
citados: AgRg no AREsp 445.386-SP, Quarta Turma, DJe relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do
26/8/2014; AgRg no REsp 1.305.512-SP, Quarta Turma, art. 49 desta Lei [...]”. A par disso, ressalte-se ainda que, em
DJe 28/6/2013; e AgRg no AREsp 170.396-RJ, Terceira não raras vezes, o devedor solidário é, também, sócio da
Turma, DJe 5/9/2013. (REsp 1.395.647-SC/ Informativo pessoa jurídica em recuperação. Contudo, os devedores
553). Inteiro teor aqui. solidários da obrigação – que tem como devedor principal a
empresa recuperanda – não podem alegar em seu favor a
parte final do caput do referido art. 6º como fundamento do
EMPRESARIAL pedido de suspensão das ações individuais ajuizadas contra
eles, invocando, assim, a redação que determina a
01. Direito Empresarial. Abusividade da vigência por prazo suspensão das ações não apenas contra o devedor
indeterminado de “cláusula de não concorrência”. É abusiva principal, mas também “aquelas dos credores particulares do
a vigência, por prazo indeterminado, da cláusula de sócio solidário”. Isso porque o caput do art. 6º da Lei
“não restabelecimento” (art. 1.147 do CC), também 11.101/2005, no que concerne à suspensão das ações por
denominada “cláusula de não concorrência”. O art. 1.147 ocasião do deferimento da recuperação, alcança os sócios
do CC estabelece que “não havendo autorização expressa, solidários, figuras presentes naqueles tipos societários em
o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência que a responsabilidade pessoal dos consorciados não é
ao adquirente, nos cinco anos subsequentes à subsidiária ou limitada às suas respectivas quotas/ações,
transferência”. Relativamente ao referido artigo, foi aprovado como é o caso, por exemplo, da sociedade em nome
o Enunciado 490 do CJF, segundo o qual “A ampliação coletivo (art. 1.039 do CC/2002) e da sociedade em
do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de concorrência comandita simples, no que concerne aos sócios
pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda comanditados (art. 1.045 do CC/2002). Diferentemente, é a
que convencionada no exercício da autonomia da situação dos devedores solidários ou coobrigados, haja vista
vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva”. que para eles a disciplina é exatamente inversa, prevendo o
Posto isso, cabe registrar que se mostra abusiva a vigência § 1º do art. 49, expressamente, a preservação de suas
por prazo indeterminado da cláusula de “não obrigações na eventualidade de ser deferida a recuperação
restabelecimento”, pois o ordenamento jurídico pátrio, salvo judicial do devedor principal: “Os credores do devedor em
expressas exceções, não se coaduna com a ausência de recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios
limitações temporais em cláusulas restritivas ou de vedação contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.
do exercício de direitos. Assim, deve-se afastar a limitação Portanto, não há falar em suspensão da execução
por tempo indeterminado, fixando-se o limite temporal de direcionada a codevedores ou a devedores solidários
vigência por cinco anos contados da data do contrato, pelo só fato de o devedor principal ser sociedade cuja
critério razoável adotado no art. 1.147 do CC/2002. (REsp recuperação foi deferida, pouco importando se o
680.815-PR/ Informativo 554). Inteiro teor aqui. executado é também sócio da recuperanda ou não, uma
vez não se tratar de sócio solidário. Nesse sentido, aliás,

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o Enunciado 43 da I Jornada de Direito Comercial 1.333.349-SP/ Informativo 554). Inteiro teor aqui.
realizada pelo CJF/STJ determina que a “suspensão das
ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 03. Direito Civil. Dissolução de sociedade em conta de
11.101/2005 não se estende aos coobrigados do participação. Aplica-se subsidiariamente às sociedades
devedor”. Sob outro enfoque, no tocante à segunda fase em conta de participação o art. 1.034 do CC, o qual
(b), a aprovação do plano opera – diferentemente da define de forma taxativa as hipóteses pelas quais se
primeira fase – novação dos créditos, e a decisão admite a dissolução judicial das sociedades. Apesar de
homologatória constitui, ela própria, novo título executivo despersonificadas e de os seus sócios possuírem graus de
judicial. É o que dispõe o art. 59, caput e § 1º, da Lei responsabilidade distintos, as sociedades em conta de
11.101/2005: “O plano de recuperação judicial implica participação decorrem da união de esforços, com
novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o compartilhamento de responsabilidades, comunhão de
devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das finalidade econômica e existência de um patrimônio especial
garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei garantidor das obrigações assumidas no exercício da
[...] § 1º A decisão judicial que conceder a recuperação empresa. Não há diferença ontológica entre as
judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. sociedades em conta de participação e os demais tipos
584, inciso III, do caput da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de societários personificados, distinguindo-se quanto aos
1973 - Código de Processo Civil”. Antes de prosseguir, a efeitos jurídicos unicamente em razão da dispensa de
respeito da novação comum, destaque-se que os arts. 364 e formalidades legais para sua constituição. Sendo assim,
365 do CC prescrevem, respectivamente, que “A novação admitindo-se a natureza societária dessa espécie
extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que empresarial, deve-se reconhecer a aplicação subsidiária do
não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, art. 1.034 do CC – o qual define de forma taxativa as
contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a hipóteses pelas quais se admite a dissolução judicial das
anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a sociedades – às sociedades em conta de participação, nos
terceiro que não foi parte na novação” e que “Operada a termos do art. 996 do CC, enquanto ato inicial que rompe o
novação entre o credor e um dos devedores solidários, vínculo jurídico entre os sócios. Ora, as sociedades não
somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação personificadas, diversamente das universalidades
subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os despersonalizadas, decorrem de um vínculo jurídico
outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados”. negocial e, no mais das vezes, plurissubjetivo. São contratos
A despeito disso, as execuções intentadas contra a empresa relacionais multilaterais de longa duração, os quais podem
recuperanda e seus garantes não podem ser extintas nos ser rompidos pela vontade das partes, em consenso ou não,
termos dos referidos arts. 364 e 365 do CC. De igual sorte, porquanto não se pode exigir a eternização do vínculo
as garantias concedidas não podem ser restabelecidas em contratual. E é essa a finalidade do instituto jurídico
caso de futura decretação de falência, apesar do disposto no denominado dissolução. Por fim, ressalte-se que, somente
art. 61, § 2º, da Lei 11.101/2005, segundo o qual “Decretada após esse ato inicial, que dissolve as amarras contratuais
a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e entre os sócios, inicia-se o procedimento de liquidação. E,
garantias nas condições originalmente contratadas, nesta fase, sim, a ausência de personalidade jurídica terá
deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os clara relevância, impondo às sociedades em conta de
atos validamente praticados no âmbito da recuperação participação um regime distinto dos demais tipos societários.
judicial”. Tudo isso porque a novação prevista na lei civil é Isso porque a especialização patrimonial das sociedades em
bem diversa daquela disciplinada na Lei 11.101/2005. Se a conta de participação só tem efeitos entre os sócios, nos
novação civil faz, como regra, extinguir as garantias da termos do § 1º do art. 994 do CC, de forma a existir, perante
dívida, inclusive as reais prestadas por terceiros estranhos terceiros, verdadeira confusão patrimonial entre o sócio
ao pacto (art. 364 do CC), a novação decorrente do plano de ostensivo e a sociedade. Assim, inexistindo possibilidade
recuperação traz, como regra, ao reverso, a manutenção material de apuração de haveres, disciplinou o art. 996 do
das garantias (art. 59, caput, da Lei 11.101/2005), as quais mesmo diploma legal que a liquidação dessas sociedades
só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação deveriam seguir o procedimento relativo às prestações de
expressa do credor titular da respectiva garantia”, por contas, solução que era adotada mesmo antes da vigência
ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º). Além do novo Código Civil. Dessa forma, o procedimento especial
disso, a novação específica da recuperação desfaz-se na de prestação de contas refere-se tão somente à forma de
hipótese de falência, quando então os “credores terão sua liquidação, momento posterior à dissolução do vínculo
reconstituídos seus direitos e garantias nas condições entre os sócios ostensivo e oculto. Contudo, essa disciplina
originalmente contratadas” (art. 61, § 2º). Daí se conclui da liquidação não afasta nem poderia atingir o ato inicial,
que o plano de recuperação judicial opera uma novação antecedente lógico e necessário, qual seja, a extinção do
sui generis e sempre sujeita a condição resolutiva – que vínculo contratual de natureza societária por meio da
é o eventual descumprimento do que ficou acertado no dissolução. (REsp 1.230.981-RJ/ Informativo 554). Inteiro
plano –, circunstância que a diferencia, sobremaneira, teor aqui.
daquela outra, comum, prevista na lei civil. Dessa forma,
muito embora o plano de recuperação judicial opere
novação das dívidas a ele submetidas, as garantias PENAL E PROCESSO PENAL
reais ou fidejussórias são preservadas, circunstância
que possibilita ao credor exercer seus direitos contra 01. Direito Penal. Inaplicabilidade do arrependimento
terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações posterior ao crime de moeda falsa. Não se aplica o
e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou instituto do arrependimento posterior ao crime de
coobrigados em geral. Importa ressaltar que não haveria moeda falsa. No crime de moeda falsa – cuja consumação
lógica no sistema se a conservação dos direitos e privilégios se dá com a falsificação da moeda, sendo irrelevante
dos credores contra coobrigados, fiadores e obrigados de eventual dano patrimonial imposto a terceiros –, a vítima é a
regresso (art. 49, § 1º, da Lei 11.101/2005) dissesse coletividade como um todo, e o bem jurídico tutelado é a fé
respeito apenas ao interregno temporal que medeia o pública, que não é passível de reparação. Desse modo, os
deferimento da recuperação e a aprovação do plano, crimes contra a fé pública, semelhantes aos demais
cessando tais direitos após a concessão definitiva com a crimes não patrimoniais em geral, são incompatíveis
decisão judicial. Precedentes citados: REsp 1.326.888-RS,

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com o instituto do arrependimento posterior, dada a meio de prova da condição de desempregado do
impossibilidade material de haver reparação do dano segurado, admitindo-se outras provas, inclusive
causado ou a restituição da coisa subtraída. (REsp testemunhal. Entretanto, a mera ausência de anotação na
1.242.294-PR/ Informativo 554). Inteiro teor aqui. CTPS não se revela capaz de demonstrar, inequivocamente,
a situação de desemprego (Pet 7.115-PR, Terceira Seção,
02. Direito Penal. Competência para processar e julgar crime DJe 6/4/2010). Precedente citado: AgRg no 115 Ag
previsto no art. 297, § 4º, do CP. Compete à Justiça 1.182.277-SP, Quinta Turma, DJe 6/12/2010). (REsp
Federal – e não à Justiça Estadual – processar e julgar o 1.338.295-RS/ Informativo 553). Inteiro teor aqui.
crime caracterizado pela omissão de anotação de
vínculo empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP). A
Terceira Seção do STJ modificou o entendimento a DIREITO TRIBUTÁRIO
respeito da matéria, posicionando-se no sentido de que,
no delito tipificado no art. 297, § 4º, do CP – figura típica 01. Direito Tributário. Correção monetária do valor do IR
equiparada à falsificação de documento público –, o incidente sobre verbas recebidas acumuladamente em ação
sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, de forma trabalhista. Recurso Repetitivo (art. 543-c do CPC e Res.
secundária, o particular – terceiro prejudicado com a 8/2008-STJ). Até a data da retenção na fonte, a correção
omissão das informações –, circunstância que atrai a do IR apurado e em valores originais deve ser feita
competência da Justiça Federal, conforme o disposto no sobre a totalidade da verba acumulada e pelo mesmo
art. 109, IV, da CF (CC 127.706-RS, Terceira Seção, DJe fator de atualização monetária dos valores recebidos
3/9/2014). Precedente citado: AgRg no CC 131.442-RS, acumuladamente, sendo que, em ação trabalhista, o
Terceira Seção, DJe 19/12/2014. (CC 135.200-SP/ critério utilizado para tanto é o Fator de Atualização e
Informativo 554). Inteiro teor aqui. Conversão dos Débitos Trabalhistas (FACDT). Essa
sistemática não implica violação do art. 13 da Lei
03. Direito Processual Penal. Progressão de regime do 9.065/1995, do art. 61, § 3º, da Lei 9.430/1996, dos arts. 8º,
reincidente condenado pelo crime de tráfico de drogas. A I, e 39, § 4º, da Lei 9.250/1995, uma vez que se refere à
progressão de regime para os condenados por tráfico equalização das bases de cálculo do imposto de renda
de entorpecentes e drogas afins dar- apuradas pelo regime de competência e
se-á, se o sentenciado for reincidente, Estudando para a DPU? Não deixe de pelo regime de caixa e não à mora, seja
após o cumprimento de 3/5 da pena, conhecer o do contribuinte, seja do Fisco. Ressalte-
ainda que a reincidência não seja se que a taxa SELIC, como índice único
específica em crime hediondo ou Curso Preparatório para o concurso de correção monetária do indébito,
equiparado. O § 2º do art. 2º da Lei incidirá somente após a data da
8.072/1990 determina que a transferência de Defensor Público Federal retenção indevida. REsp 1.470.720-RS,
de regime para os condenados por delito Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
hediondo ou equiparado dar-se-á após o Totalmente online e baseado no último Primeira Seção, julgado em 10/12/2014,
resgate de 2/5 da pena, se o sentenciado edital! DJe 18/12/2014. (Informativo 553).
for primário, e 3/5, se reincidente. O STJ, www.ebeji.com.br Inteiro teor aqui.
interpretando especificamente esse
dispositivo legal, firmou o 02. Direito Tributário. Fato gerador do
entendimento de que o legislador não ipi nas operações de comercialização,
fez menção à necessidade de a no mercado interno, de produtos de
reincidência que impõe o cumprimento procedência estrangeira. Havendo
de prazo maior da pena ser específica incidência do IPI no desembaraço
em crime hediondo ou equiparado aduaneiro de produto de procedência
para que incida o prazo de 3/5 para estrangeira (art. 46, I, do CTN), não é
fins de progressão de regime. Em outras palavras, ao possível nova cobrança do tributo na saída do produto
exigir que os condenados por delitos hediondos ou do estabelecimento do importador (arts. 46, II, e 51,
assemelhados, se reincidentes, cumpram lapso maior para parágrafo único, do CTN), salvo se, entre o
serem progredidos de regime, a lei não diferenciou as desembaraço aduaneiro e a saída do estabelecimento
modalidades de reincidência, de modo que deve ser exigido do importador, o produto tiver sido objeto de uma das
do apenado reincidente, em qualquer caso, formas de industrialização (art. 46, parágrafo único, do
independentemente da natureza do delitos antes cometido, CTN). A norma do parágrafo único do art. 46 do CTN
o lapso de 3/5. Precedentes citados: HC 273.774-RS, Quinta constitui a essência do fato gerador do IPI. A teor dela, o
Turma, DJe 10/10/2014; e HC 238.592-RJ, Sexta Turma, tributo não incide sobre o acréscimo embutido em cada um
DJe 18/2/2014. (REsp 1.491.421-RS/ Infomativo 554). dos estágios da circulação de produtos industrializados. O
Inteiro teor aqui. IPI incide apenas sobre o montante que, na operação
tributada, tenha resultado da industrialização, assim
considerada qualquer operação que importe na
PREVIDENCIÁRIO alteração da natureza, funcionamento, utilização,
acabamento ou apresentação do produto, ressalvadas
01. Direito Previdenciário e Processual Civil. Demonstração as exceções legais. De outro modo, coincidiriam os fatos
de desemprego para prorrogação de período de graça. geradores do IPI e do ICMS. Consequentemente, os incisos
Ainda que o registro no órgão próprio do MTE não seja I e II do caput do art. 46 do CTN são excludentes, salvo se,
o único meio de prova admissível para que o segurado entre o desembaraço aduaneiro e a saída do
desempregado comprove a situação de desemprego estabelecimento do importador, o produto tiver sido objeto
para a prorrogação do período de graça – conforme o de uma das formas de industrialização. (EREsp 1.411.749-
exigido pelo § 2º do art. 15 da Lei 8.213/1990 –, a falta de PR/ Informativo 553). Inteiro teor aqui.
anotação na CTPS, por si só, não é suficiente para tanto.
A Terceira Seção do STJ já firmou o entendimento de 03. Direito Tributário. Desconto de créditos do valor apurado
que o registro no Ministério do Trabalho não é o único a título de contribuição ao PIS e da COFINS. É cabível o

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www.ebeji.com.br - Informativo de Jurisprudência Nº 70 – Março/2015

GEAGU Objetiva
aproveitamento, na verificação do crédito dedutível da
base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS,
das despesas e custos inerentes à aquisição de
combustíveis, lubrificantes e peças de reposição
utilizados em veículos próprios dos quais faz uso a
empresa para entregar as mercadorias que comercializa.
Isso porque o creditamento pelos insumos previsto nos arts.
3º, II, da Lei 10.833/2003 e da Lei 10.637/2002 abrange os
custos com peças, combustíveis e lubrificantes utilizados por
empresa que, conjugada com a venda de mercadorias,
exerce também a atividade de prestação de serviços de
transporte da própria mercadoria que revende. De fato, o art.
3º, II, da Lei 10.833/2003 registra expressamente que a
pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em
relação aos bens e serviços utilizados como insumo na
prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens
ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e
lubrificantes. Dessa forma, importante ressaltar que é o
próprio dispositivo legal que dá, expressamente, à pessoa
jurídica o direito ao creditamento pelos bens utilizados como
insumo na prestação de serviços, incluindo no conceito
desses bens os combustíveis e lubrificantes. Ademais, fato
incontroverso é o de que o valor do transporte da
mercadoria vendida está embutido no preço de venda
(faturamento), como custo que é da empresa, ingressando
assim na base de cálculo das contribuições ao PIS/COFINS
(receita bruta). Com o custo do transporte e o
correspondente aumento do preço de venda, há evidente
agregação de valor, pressuposto da tributação e também da
aplicação da não cumulatividade. Por certo, a vedação do
creditamento em casos como o presente teria por únicos
efeitos (a) forçar a empresa vendedora/transportadora a
registrar em cláusula contratual que as despesas da tradição
(frete) estariam a cargo do comprador, fornecendo a ele o
serviço, ou (b) terceirizar a atividade de transporte de suas
mercadorias para uma outra empresa que possivelmente
seria criada dentro de um mesmo grupo econômico apenas
para se fazer planejamento tributário, com renovados custos
burocráticos (custos de conformidade à legislação tributária,
empresarial e trabalhista para a criação de uma nova
empresa). Em suma, caracterizada a prestação de
serviços de transporte, ainda que associada à venda de
mercadorias que comercializa, há de ser reconhecido o
direito ao creditamento pelo valor pago na aquisição das
peças, combustíveis e lubrificantes necessários a esse
serviço, tendo em vista que são insumos para a
prestação do serviço. (REsp 1.235.979-RS/ Informativo
554). Inteiro teor aqui.

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