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Sansao R.

Seth Langa

Codificação jurídica

A palavra Código possui muitos significados paralelos e aceitáveis: pode ser a globalidade ordenada que
contém o núcleo, até a generalidade, das regras jurídicas sobre dada matéria; também pode ser a
seqüencia de instruções que formam um programa, qualquer marcação numérica, alfanumérica, ou um
endereço especial, que identifique a peça enviada ou a lista ou qualquer outra variável, qualquer trecho de
um programa executável, escrito numa linguagem de programação, etc.

A codificação jurídica

Neste tipo de codificação, os códigos estão no mesmo nível das leis que os criam. Um código é uma lei
em sentido material. Traz a disciplina fundamental e completa do ramo do direito de que trata. Contudo a
unidade legislativa é afetada pelas leis acessórias ao código, chamadas de “leis extravagantes”

Diferença entre código, compilação e consolidação

Os códigos antigos eram meras compilações recolhidas de leis:


Compilação: caráter meramente reprodutivo, diploma único;
Consolidação: alteração dos textos existentes e união em um só texto.
Exemplo no Direito Brasileiro: Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei 5.452/43) e consolidação
das regras da previdência social (Decreto 11.011/76).

Tendência à codificação

A codificação é uma tendência antiga. Listam-se alguns códigos historicamente importantes.

Códigos da antiguidade

Código de Hamurabi: 1694 a.C.?, editada por Hamurabi, rei babilônico, uma estela de diorito (basalto
negro) com 282 cláusulas, continha a lei de Talião.
Sansao R. Seth Langa

Código de Teodósio: Teodósio I, o Grande (346-395), imperador romano, tornou o cristianismo ortodoxo
religião oficial romana.

Código de Justiniano: 529, Justiniano I, o Último Imperador Romano (483-565), imperador bizantino,
editou o Corpus Iuris Civilis (Codex Justinianus, Digesta ou Pandectae, eInstitutiones).

Portugal e Brasil Colônia

Ordenações Afonsinas: 1446, compiladas por D. Afonso V, o Africano (1432-1481);


Ordenações Manuelinas: 1512, compiladas por D. Manuel I, o Venturoso (1469-1521);
Ordenações Filipinas: 1603, domínio espanhol, Felipe II de Portugal ou Felipe III de Espanha (1578-
1621).

Toda a pessoa, de qualquer qualidade que seja, que peccado de sodomia per qualquer maneira commetter,
seja queimado, e feito per fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memoria, e
todos seus bens sejam confiscados para a Corôa de nosso Reinos, postoque tenha descendentes;
(Ordenações Filipinas, Livro V, Título XIII).

Período racionalista

Sistematização racionalista influenciou uma nova geração de códigos.

Despotismo esclarecido (Aufklärung): Código Prussiano (1794) e Austríaco (1881).


Ideologia demo-liberal: Código de Napoleão (Código Civil Francês de 1804).

Avanço do liberalismo: códigos em Portugal, Espanha e Itália, influência do código francês.

Surgimento do Código Civil alemão: 1900, Bürgerliches Gesetzbuch (BGB), tomou o lugar do código
francês e influenciou os códigos posteriores, como o suíço e o brasileiro.

Código Civil Italiano (1942) e Português (1966).

Constituições políticas: verdadeiros “Códigos de Direito Constitucional”.


Sansao R. Seth Langa

Códigos civis e códigos posteriores no Brasil

Primeiros códigos no Brasil: Criminal (1830) e de Processo Criminal (1832).

Código Civil Brasileiro: Publicado em 1º de janeiro de 1916, é um grande marco legislativo, o primeiro


código civil criado no Brasil, tendo revogado as Ordenações Filipinas, de 1603.

Iniciado em 1824, em razão de disposição constitucional programática (Constituição de 1824, art. 179,
XVIII: “Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil”).

O processo legislativo foi conduzido primeiramente por Teixeira de Freitas depois por Clóvis Beviláqua.
A oposição de Ruy Barbosa adiou a promulgação do código.

O Código Civil de 1916 é precedido por uma Lei de Introdução, substituída em 1942 pela atual lei
(Decreto-Lei 4.657, de 4 de setembro de 1942).

A codificação espalhou-se para outros ramos do direito (salvo no direito administrativo).

Terceira geração de códigos

Código de Processo Civil (1973).

Novo Código Civil (2002), integração da matéria comercial.

Códigos atuais

Os códigos atuais regulam determinado ramo do Direito, contêm a disciplina fundamental desse ramo e
são sistemáticos e científicos.

Causas e conveniências da codificação


Causas da codificação
Sansao R. Seth Langa

As causas da codificação dividem-se em: ideológicas, políticas, técnico-jurídicas e práticas.


Causas ideológicas
Racionalismo jurídico e ordem racional:
A razão humana podia descobrir a generalidade dos princípios que deveriam regular a vida social – o
Direito natural, dentro da visão da época. O direito codificado prestava-se a refletir fi-elmente esse
Direito natural.(Ascensão)
Causas políticas
No plano interno: impõe uma legislação geral e favorece a unificação política do país por meio da
unificação jurídica.
A Polêmica entre Thibault (pró-codificação) e Savigny (Escola Histórica, Volksgeist) retardou em quase
um século a codificação na Alemanha.

No plano externo: exemplo do mais célebre dos códigos, o Código de Napoleão.


Código napoleônico como arma de guerra, conquista dos espíritos antes da conquista pelas armas.
Causas técnico-jurídicas
Código como instrumento científico e sistemático, ordenação técnica das matérias;
Racionalismo do século XVIII.
Racionalismo e os três “s”: synthétique, scientifique et systématique.
Causas práticas
Resposta à situação caótica das fontes do direito.
Conveniências da codificação 
Vantagens
Permite um conhecimento mais fácil do direito aplicável.
Evita a incompatibilidade entre as fontes e destaca os princípios gerais.
Dá ao intérprete um mapa para a aplicação do direito.
Desvantagens
Um código é uma lei, logo apresenta as mesmas desvantagens da lei.
Códigos são menos alterados, portanto mais rígidos.
Em razão de sua rigidez os códigos podem estar desatualizados em relação à sociedade.

Aspectos complementares
Um código deve reger uma rama da ordem jurídica: porém há dificuldades na demarcação dos ramos.
Sansao R. Seth Langa

Há leis incorretamente denominadas “códigos”, são códigos apenas no sentido formal. Ex. de “falsos”
códigos: Código das Custas Judiciais português e Código Florestal brasileiro.
A fronteira entre código e estatuto é pouco clara. Este regularia certa matéria mais específica, um sub-
ramo do direito. Ex. Estatuto da Terra.

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