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O SIGNIFICADO MÍSTICO DAS VELAS

O uso de velas, em nossas sessões ritualísticas, às vezes, não é bem compreendido


pelo novo Aprendiz, cuidando que possa haver aí qualquer conotação religiosa ou
mágica.

Tal prática, aliás, não é exclusiva da Maçonaria, verificando-se em outras ordens


iniciáticas.

Devemos entender que a vela e sua chama têm um significado místico, esotérico, que
precede e transcende ao encontrado na liturgia dos vários credos confessionais, por
sua natureza exotéricos.

Sabemos que o fogo é um dos quatro grandes princípios ou manifestações da


Natureza. Se, até hoje, nos impressiona, imagine-se a forte impressão que, em um
passado remoto, causou à mente do homem.

Talvez, a primeira manifestação do fogo vista pelo homem tenha sido causada por um
relâmpago. A fulgurante crepitação no céu, as chamas decorrentes da inflamação das
folhas e galhos secos e, depois, o incêndio, realçado pela escuridão da noite,
constituíram, sem dúvida, uma experiência impactante. Pode ser que uma erupção
vulcânica tenha sido outro modo pelo qual o homem primitivo se deu conta da
existência do fogo, com maior impacto de terror em seu coração e sua mente.

Pouco a pouco, já familiarizado com o fogo, o homem fez deste um instrumento de


poder, passando a cultuá-lo, a fim de preservar seu domínio sobre ele e de ter a
possibilidade de acendê-lo, quando o que possuía era extinto.

O culto do fogo, em nossos dias, é substituído por uma espécie de fascínio que todos
nós por ele temos. Quem não gosta das velas acesas para criar uma atmosfera de
aconchego, de intimidade, quietude e abertura afetiva, em um momento a dois? Quem
não se extasia ao contemplar sua chama, que em sua constante oscilação e mudança
de cor, parece viva?

Quem de nós já não se sentou diante de uma lareira acesa, profundamente imersos
em pensamentos, deslumbrados com as chamas cintilantes? Graças a tal
concentração, nada mais prende nossa atenção, fazendo com que entremos, mais
facilmente, em meditação e paz espiritual.

Tal vivência diante do fogo é, verdadeiramente, arquetípica; faz parte, a bem dizer,
do inconsciente coletivo, tão arcaica e comum a todas as épocas e culturas que é.

Assim, o fogo não tem para nós, hoje em dia, só um valor utilitário, em termos de
energia que possa ser útil às nossas necessidades materiais.
Sob o aspecto místico, o fogo representa o processo de purgação, purificação e
regeneração. O Espírito Santo, a Voz de Deus, a Mente Cósmica, revelaram grandes
princípios ou importantes conhecimentos através do fogo, conduzindo o homem a uma
forma de existência melhor e mais elevada.

Todo trabalho de construção de nosso Templo Interno, objetivo da Maçonaria


Simbólica, a partir do desbaste da Pedra Bruta, visa a alcançar a regeneração
espiritual, moral, mental e física em todos nós.

Para que possamos ser regenerados, devemos ser purificados da ganga bruta, da
animalidade primitiva, que pesa sobre nós como verdadeiro pecado original. Esse é o
significado simbólico do fogo da purificação.

Por isso, o fogo, concentrado na luz das velas, é usado em nossos altares, aceso com
considerável cerimônia. Igualmente, o fogo é usado com parte das provas de
Iniciação, dentro do mesmo propósito purificador.

Outra simbologia tem, também, o uso de velas em nossos trabalhos. A luz propiciada
pela chama significa a sabedoria, especialmente a compreensão esotérica, ou seja, a
Iluminação pessoal. O conhecimento, à semelhança da luz, dissipa as trevas da
ignorância e da indiferença. Como obreiros sociais, cabe-nos, igualmente, esse
trabalho e aí estão as velas acesas dele a nos lembrar.

A chama, ainda mais, tem representado o fogo da energia divina, que deve arder em
nossas almas, para que não sejamos frios de afeto, sem sentimentos, destituídos de
compaixão.

O acendimento e o apagamento das velas

Em termos cósmicos, a luz existe em todo o Universo. Ela é ubíqua.

Várias condições, inclusive a posição relativa dos corpos no espaço, tornam sua
manifestação mais intensa em certos lugares do que em outros.

A luz não pode ser, portanto, dissipada, no sentido de se extinguir do Universo.


Mesmo em um quarto escuro, a luz não deixa de existir, embora em um grau de
intensidade que não chega a impressionar nossa retina. É uma característica positiva
do Universo, fazendo parte da existência de toda a matéria. A escuridão é, apenas, um
grau infinitamente menor de luz.

Quando acendemos uma vela, misticamente, isso significa que certa intensidade da
luz maior, que permeia todo o Universo, concentrou-se naquele objeto, em forma de
chama, para um propósito específico, ou seja, nos ensinar algo, no caso da sessão
ritualística.
Terminada a cerimônia, ao apagarmos a vela, isso não significa que a luz se fez
extinta. O mesmo se dá quando alguém morre. Sua alma não se extingue, mas é
integrada ao Cósmico, de onde veio.

Por isso, do ponto de vista místico, devemos apagar a vela com um abafador ou com
os dedos umedecidos, para simbolizar que, simplesmente, mudamos a manifestação
da luz concentrada, reintegrando-a ao Cósmico. Apagá-la com um sopro é um
procedimento profano em Maçonaria, pois isso é interpretado como a intenção de
desintegrar a chama, como a tentativa de fazer com que ela não exista mais enquanto
luz, embora isso seja impossível, já que sempre existirá em sua forma invisível,
intrínseca, vibratória.

O acendimento, também, no sentido simbólico, é feito a partir da chama de outra vela,


de uma tocha ou lamparina, e não, diretamente, da chama de um isqueiro ou palito de
fósforo. A vela que acende as demais representa a luz que está difusa em todo o
Universo.

O material da fabricação das velas.

No passado, até mesmo a substância de que as velas eram feitas tinham uma leitura
simbólica.

A primitiva igreja cristã – e mesmo as ordens fraternais – usavam velas feitas


exclusivamente de cera de abelha, representando a cera o produto final do trabalho
dessa obreira, cujo sentido de vida era o do fabrico do mel, mesmo com o sacrifício da
própria vida.

José Cássio Simões Vieira

Mestre Instalado da ARLS Theobaldo Varoli Filho

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