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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE


CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

WADRAMYS BEZERRA DA SILVA

ATIVIDADE SOBRE O CASO HIPOTÉTICO PROPOSTO

MACEIÓ, AL
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

ATIVIDADE SOBRE O CASO HIPOTÉTICO PROPOSTO

Trabalho apresentado à disciplina de Direito


e Economia, do Curso de Ciências
Econômicas, da Universidade Federal de
Alagoas, como requisito parcial para
obtenção de notas.
Prof.º Helder Gonçalves Lima

MACEIÓ, AL

2019
Considerando o seguinte caso hipotético:
O município de Rio Largo tem um orçamento anual total para 2020, destinado à saúde,
de R$ 20 milhões para cobrir despesa com médicos, enfermeiros, postos de saúde etc., dos
quais R$ 10 milhões são despesas com construção de postos de saúde, R$ 5 milhões com folha
de funcionários da saúde e R$ 4 milhões com compra de medicamentos. O R$ 1 milhão restante
é destinado a cobrir as despesas com as dezenas de decisões judiciais que determinam que o
município custeie tratamentos e remédios raros.
Pergunta-se: se você fosse o juiz e chegasse o caso de uma doente grave de câncer de
18 anos de idade pedindo um tratamento com uma droga experimental que custa R$ 1,6 milhões
e que pode eventualmente lhe curar, você daria a decisão obrigando o município a custear o
tratamento? Justifique sua resposta do ponto de vista ético e econômico.

Podemos iniciar o problema em questão pelo fator econômico, tendo em vista seu
impacto frontal com as forças econômicas que, no entendimento de vários intelectuais em
diferentes momentos da história, como Adam Smith e Friedrich Hayek, determinam as bases
pelas quais as relações sociais em sociedade se sustentam, pois, sem essa infraestrutura
econômica, as nossas instituições, as Leis e até mesmo o próprio Estado e tudo mais, não se
subsistem.
Miguel Reale, ao discorrer sobre a relação entre Direito e Economia, considera que,
“entre os fins motivadores da conduta humana destacam-se os relativos à nossa própria
subsistência e conservação, tendo as exigências vitais evidente caráter prioritário”. E continua
ainda: “O primo vivere, deinde philosophari, antes viver e depois filosofar, a bem ver, um
enunciado de Filosofia existencial, reconhecendo a ordem de urgência com que devem ser
atendidas as necessidades ligadas à nossa estrutura corpórea”. Desse modo, conforme Branco
(2011), a existência humana é o pressuposto elementar de todos os demais direitos e liberdades
dispostos na Constituição. Não obstante, é crucial ressaltar que tal existência só se subsiste,
quando as condições econômicas favorecem o seu surgimento no espaço e no tempo, de acordo
com Smith.
Ainda sobre a problemática econômica do caso hipotético, cabe aqui invocar, mesmo
de modo superficial, uma visão de conjunto sobre os processos econômicos e as questões-chave
da Economia, que, apesar de apresentar quatro questões, fortemente correlacionadas à forma
como esses processos se realizam, iremos apenas citar duas, que são as seguintes: o conceito
de Eficácia Alocativa e o de Justiça Distributiva. O primeiro está relacionado à escassez de
recursos e às ilimitáveis necessidades manifestadas pela sociedade. Desse modo, dado o
conflito entre a escassa disponibilidade de meios e a multiplicidade crescente de necessidades
a atender, é conceitualmente impossível produzir todos os bens e serviços requeridos para
satisfazer a todas as necessidades sociais efetivamente existentes e a todos os desejos
individuais latentes, por isso, coloca-se a questão da eficácia alocativa, que está relacionada à
escolha dos bens e serviços finais, de consumo e de acumulação, que a economia produzirá.
No contexto da eficácia alocativa, sabemos até aqui, que a escassez implica em fazer
escolhas, e que estas, por sua vez, também irão implicar naquilo que os economistas
denominam de custos de oportunidade, isto é, os desejos e as necessidades que deixam de ser
atendidos sempre que outros são priorizados. Por exemplo, pode-se se perguntar: “Que serviços
devem ser priorizados: saúde e saneamento, educação e cultura, defesa e segurança? Quanto
de recursos orçamentários será alocado a cada um desses serviços?” E por vai. Portanto, o
processo de alocação de recursos tende a uma escala de prioridades que satisfaça às exigências
mínimas manifestadas pelos diferentes grupos sociais da nação.
Paralelo a isso, temos uma segunda questão, que é o conceito de Justiça Distributiva,
que, basicamente, diz respeito à estrutura de repartição da renda agregada, uma das mais
controversas áreas de reflexão econômica. O ponto crucial aqui, é definir qual a estrutura de
repartição da renda e da riqueza, socialmente produzida, que melhor reflete as capacidades e
os esforços individuais. E aí que surge o problema, sabemos que nem todos os indivíduos na
sociedade são iguais em habilidades e competências, que permitem não somente o sucesso
pessoal e profissional de cada um, mas também o da Nação em geral. Subsequentemente, como
consequência natural, surge o problema da desigualdade social, com uma justiça distributiva
favorável às diferenças individuais de capacitação e esforço. No entanto, pode-se questionar:
“quais os limites toleráveis para esta desigualdade?” Por outro lado, na busca de uma justiça
distributiva em favor da igualdade social, vista como um objetivo distributivo inquestionável,
os ideais da perfeita igualdade ou da construção de uma sociedade sem classes encontram
atraentes apelos éticos, muito embora a abordagem liberal econômica alerta para o fato de que
tal igualdade poderia significar o desestímulo ao esforço individual e acarretar o rebaixamento
dos níveis de produção, que, ao longo prazo, poderia convergir para generalização do estado
de empobrecimento.
No geral, a justiça distributiva nos coloca diante de um problema ético central na
economia: “entre uma estrutura caracterizada pelos extremos da abundância ostentatória e da
privação humana, qual a que melhor reproduz as contribuições individuais dos diferentes
grupos e estratos sociais para a geração do produto e da renda agregada?” Somado a isso, é
possível uma estrutura de repartição econômica que aspire pela igualdade e justiça social, e que
garanta, sobretudo, a plena Existência Humana como um valor supremo, o direito à vida, com
respeito à dignidade da pessoa humana? Porque, do contrário, se não conseguirmos pensar
numa justiça distributiva com os valores expressos , não seremos um animal político (em
referência à Aristóteles), com capacidade de manter as complexas relações intersubjetivas entre
os indivíduos em sociedade, por meio de um sofisticado cenário de negociação e de acordos
que visam não somente à nossa própria existência coletiva, mas também confere um certo grau
de civilidade ao nosso povo. Portanto, existem países com grau de civilidade diferentes, alguns
são mais civilizados e outros nem tanto. Além disso, no âmbito econômico, existe uma
distinção entre crescimento e desenvolvimento, enquanto este se preocupa com os indicadores
que favorecem a qualidade de vida na sociedade, o primeiro refere-se apenas à ascensão dos
fatores produtivos da economia, podendo não se refletir no bem-estar social.
Com essas considerações e retomando o problema hipotético proposto aqui, o Brasil é
um país difícil de se tomar decisões, principalmente na esfera econômica e jurídica, visto a
extrema desigualdade social e o déficit civilizatório que o país ainda apresenta. É o segundo,
conforme a OCDE, com a maior concentração de renda do planeta. E nas palavras do atual
Ministro da Economia, Paulo Guedes, é uma fábrica de privilégios, seja no setor privado na
relação com o Governo, através das taxas de juros e amortizações da dívida pública – que,
segundo o ministro, reconstrói uma Europa todos anos sem sair da pobreza –, seja no setor
público, o que se reflete nos super-salários, especialmente os da classe política e os do poder
judiciário, são muitos os privilégios. Desse modo, o desafio é maior que qualquer esforço
teórico da Economia para nos arrancar do atraso existencial e civilizatório que o país está
imerso. Só depois de superado esses e outros problemas de ordem social, poderemos falar em
Eficácia Alocativa e Justiça Distributiva na nossa economia, sem desconforto ético. Em
conclusão, tendo em vista às limitações orçamentárias de um município como Rio Largo, é
inviável uma decisão judicial, no âmbito econômico, favorável para o caso em questão, sendo
assim, decidiria à obrigatoriedade de custeio do tratamento para a União.

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