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O Produto Audiovisual
Introdução - a realização audiovisual e a globalização – o audiovisual como comunicação - a
produção audiovisual – os gêneros cinematográficos - televisão, vídeo e cinema – definição de ‘obra
cinematográfica’.
Introdução:
O objetivo final do estudo da disciplina é contribuir para que o aluno se constitua como indivíduo e
consiga construir, por meio da atividade cinematográfica, um discurso que dê sentido ao mundo e à
vida.
O cineasta, isto é, o criador audiovisual, necessita ter uma visão realista das condições de produção
do meio socio-econômico em que ele vai atuar. Ser diretor de cinema ou de vídeo era, até a década
de 90, algo perfeitamente claro e definido. Um profissional de cinema ou de vídeo era alguém que
trabalhava com a técnica de cinema e vídeo. Hoje o que vemos é uma interpenetração de recursos
técnicos, fruto da convergência da tecnologia digital e da combinação de técnicas que antes
permaneciam dissociadas. Foi isto que gerou a multimídia ou multimeios e a interatividade. Os
produtos, isto é, os filmes e programas audiovisuais, não são mais feitos a partir de técnicas únicas
que tendem a permanecer iguais por longo tempo. Um filme se fazia sempre a partir de película
cinematográfica por processos óticos e era exibido exclusivamente nas salas de cinema (o chamado
circuito cinematográfico) e, em seguida, nos circuitos da televisão aberta e do videocassete
doméstico (VHS), chamado “home-video”. Hoje, não. Além de variados recursos tecnológicos novos
para se produzirem imagens com som, os filmes ou programas audiovisuais, se veiculam tanto nos
circuitos convencionais (salas, TV aberta, home-vídeo, DVD), quanto em novos veículos de exibição,
como as TVs fechadas (pagas), os canais por satélite e, crescentemente, através da internet, em
escala planetária.
Tudo isso trouxe imensas transformações para a atividade profissional. O primeiro aspecto que se
deve levar em conta é que toda essa transformação só esta sendo possível graças à uniformização
das técnicas de produção pela digitalização. Todas as atividades produtivas estão sendo
uniformizadas pela tecnologia digital, através da convergência tecnológica, fator da mais alta
importância e que está levando a modificações profundas em toda a vida humana.
Dois aspectos são fundamentais nesse processo: a informatização da produção audiovisual tem
provocado uma considerável diminuição dos custos de produção. Primeiro, pelo aumento do nível
de qualidade técnica dos equipamentos de uso amador ou semi-profissionais. Por ex., uma câmera
digital de uso doméstico (mini –DV) rende uma qualidade de imagem e som de padrão praticamente
profissional. Segundo, pela diminuição do tempo para realização de tarefas técnicas, como a edição
(montagem) não-linear (= digital). Ambos os fatores vêm permitindo uma maior democratização de
acesso aos recursos técnicos de produção audiovisual com padrão de alta qualidade. Ao provocar a
redução dos custos de produção, a informatização abre a produção audiovisual a um número
crescente de pessoas. Esta redução de custos se opera tanto em nível de produção, quanto em nível
de exibição, o que já vem acontecendo desde a introdução do vídeo doméstico (VHS) e agora com o
DVD. Ambos, junto com a exibição nas televisões aberta e fechada, se tornaram grandes veículos de
escoamento da produção cinematográfica e audiovisual e constituem o chamado mercado eletrônico,
também chamado ancilar, que deverá ser incrementado numa escala infinita com as possibilidades
de veiculação em futuro próximo do produto audiovisual pela banda-larga da internet. Vale lembrar
que mesmo nas comunidades de baixa renda, como as favelas e bairros de periferia das grandes
cidades, é comum encontrar videoclubes, às vezes mais de um numa mesma comunidade, assim
como, nas residências, equipamentos de boa qualidade de recepção e reprodução de som e imagem
(videocassetes, TV a cabo e por satélite). Finalmente, o chamado Cinema Digital permitirá a criação
de circuitos de salas de exibição de baixo custo de instalação, operação e de distribuição dos filmes
que serão projetados pelos sistemas digitais de DVDs ou mesmo on-line via cabo ou satélite.
Outro aspecto importante resultante da revolução que vem acontecendo nos meios de comunicação
audiovisual por força da informatização é o surgimento de novos produtos audiovisuais. São novos
produtos que utilizam a imagem em movimento e o som, como CD-Roms e videogames.
Além disso, a diminuição dos custos e a crescente rapidez na realização de produtos audiovisuais
têm contribuído para ampliar o número de usuários do produto audiovisual, que, longe de servir
apenas como veículo de lazer, é cada vez mais utilizado por um número crescente de setores, como
indústria, serviços, comércio, religiões, profissões liberais, governos e partidos políticos, ONGs, sem
falar na Educação, onde reside o grande desafio das sociedades modernas e que tem na produção
audiovisual seu mais poderoso instrumento de disseminação. Para todos esses produtos
audiovisuais consumidos pela sociedade é necessário a criação audiovisual, que surgiu com o
cinema e a indústria cinematográfica há um século atrás, razão pela qual a familiarização com as
técnicas, os recursos e a linguagem do cinema é fundamental para o profissional de qualquer setor
audiovisual.
Ocorre assim uma transformação da natureza das funções do cineasta, do criador audiovisual.
As fronteiras entre as especializações profissionais estão cada vez mais difusas. O cineasta hoje, em
tese, tanto pode trabalhar num filme tradicional para exibição num circuito de salas em 35mm.,
quanto realizar um filme para ser exibido exclusivamente na internet ou até mesmo participar da
realização de um cd-rom ou de um videogame. Para isso, é necessário preparar uma nova
mentalidade profissional, o que implica rever conceitos estabelecidos. Só assim ele poderá extrair o
máximo proveito tanto em termos econômicos quanto criativos da atividade que escolheu para se
dedicar profissionalmente.
Nesse contexto de conceitos que se superpõem e transformam a cada dia, é necessário não se
perder o enfoque de que a atividade audiovisual é basicamente comunicação na qual um
Emissor (fonte) transmite uma Mensagem (som + imagem em movimento) para um Receptor
(destinatário). Transmitem-se dados (informações) e emoção. Faz-se o receptor pensar e sentir e
com isso procura-se influenciar o pensamento e o sentimento daqueles aos quais a mensagem se
dirige. O cinema inaugura os meios de comunicação de massa audiovisuais que são uma
característica por excelência do século 20. A organização social do presente e do futuro tende
crescentemente a depender da comunicação social exercida pelos meios de comunicação de massa
audiovisuais.
Por isso, o controle da comunicação é (e sempre foi) sinônimo de poder e de todas as formas de
comunicação a mais poderosa é a audiovisual. A comunicação é um dos principais instrumentos
pelos quais determinados grupos humanos influenciam e consequentemente exercem poder sobre
outros grupos humanos. Assim, para suprir o papel de fator veiculador e de registro de mensagens,
fatos, dados e emoções, com economia de meios e tempo e com força persuasória desenvolveram-
se linguagens, que são formas pelas quais a comunicação se realiza e propaga. A história da
comunicação humana, e de certa forma da própria humanidade, é a história do desenvolvimento das
linguagens. Podemos falar na linguagem da prosa, da poesia, da pintura, da música, da dança, da
fotografia, da arquitetura, do cinema.
Foi a partir da invenção da tipografia com Gutemberg no século 15 (1450) que se ampliou a
capacidade da informação atingir um número cada vez maior de pessoas. Informação significa
esclarecimento, aumento da consciência e da capacidade de pensar e das pessoas ganharem um
domínio maior sobre seus destinos e suas vidas. Por isso a informação é associada à luz, porque ela
ilumina com o conhecimento a visão mental das pessoas como um facho de luz na escuridão. "E a
luz se fez" lê-se no monumento a Gutemberg em Estrasburgo, na Alemanha. A invenção da
tipografia trouxe uma revolução na disseminação do conhecimento. Inicialmente a expansão da
informação se fez exclusivamente por meio da palavra escrita (manuscritos) e das imagens fixas
(pintura, gravura, desenho, escultura, baixos e altos relevos). Com o advento da imprensa escrita e a
disseminação de livros, a alfabetização tornou-se universalmente um pressuposto para o
desenvolvimento da humanidade por ela dar acesso a um nível de informação quantitativa e
qualitativamente crescente e consequentemente a um maior poder de decisão sobre a realidade e o
próprio destino dos seres humanos.
É importante notar que, na Antiguidade, os reis e as religiões sempre exerceram intenso controle
sobre a produção das imagens. O Judaísmo e o Islamismo chegaram a proibi-la como pecado de
idolatria. Vide os Talibãs no Afeganistão destruindo ainda hoje imagens budistas milenares. Mas os
Estados modernos, mesmo democráticos, não são diferentes na ânsia de controlar a produção das
imagens ou de deixá-las serem criadas livremente pelo risco de contestação aos sistemas políticos
que representam. De variadas formas, indiretas e dissimuladas, os Estados continuam exercendo
controle sobre a produção e a circulação das imagens, como a história do cinema e da televisão
demonstram.
No século 18, com o surgimento dos regimes liberais e da democracia, a imprensa escrita ganha um
impulso muito grande e representa um momento importante no processo de esclarecimento das
massas.
Mas o sonho da retratação da realidade física por meio das imagens em movimento com sons
sincronizados sempre povoou a imaginação dos seres humanos, como provam a arte das
marionetes e a dos teatros de sombra que encontramos na cultura de muitos povos de todas as
épocas. Seria porém apenas no final do século 19, com a invenção do cinema, que a reprodução
fotográfica do mundo exterior, em movimento, com absoluta verossimilhança, se torna uma realidade
que passará a fazer parte do cotidiano da cultura ocidental difundindo-se por todo o mundo.
Já nas suas primeiras décadas, percebe-se que o século 20 representaria a era da comunicação
de massa. Lazer e informação, entretenimento e educação passam a ser condicionados pela
tecnologia audiovisual. Em 1914, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, ao assistir na
Casa Branca o filme “O Nascimento de uma Nação” de D.W.Griffith – considerado o pai do cinema -
exclama: “é como escrever a história com relâmpagos”. Nos anos 30, o cinema tornando-se sonoro
passa a reproduzir a fala humana e se consolida como o mais poderoso meio de comunicação de
massa jamais inventado. Nos anos 50, com o advento da televisão, a imagem sonora em movimento
penetra sem custo no interior da casa das pessoas. Hoje a televisão é uma presença constante nos
lares das pessoas, influenciando poderosamente opiniões, sentimentos, desejos e comportamentos.
Quando falamos em cinema como comunicação e do ponto-de-vista estético, devemos atentar para
as influências que ele recebeu das e exerceu sobre as outras mídias, particularmente as que se
desenvolveram no século 20, como o rádio, o jornalismo, as histórias em quadrinho, as artes
gráficas. Estudar essas influências recíprocas permite que a gente adquira um conhecimento mais
apurado das particularidades da multiplicidade das linguagens audiovisuais.
Por aí, pode-se ter uma idéia do papel social, político e histórico do produtor e do criador do
audiovisual hoje em dia. Quanto mais consciência tiver desse papel, mais o profissional poderá
contribuir para o progresso social de seu tempo assim como melhor se situar profissionalmente num
mercado em que novos desafios e oportunidades surgem a cada dia.
Outro aspecto a ressaltar é que por ser o cinema essencialmente uma atividade de comunicação,
como dissemos, o cineasta necessita em primeiro lugar saber comunicar-se, conhecer as técnicas
de comunicação (o que antigamente se chamava de Retórica) começando por saber escrever e falar.
A comunicação verbal, a fala e a escrita, são a base da comunicação humana. Saber escrever é
saber organizar os pensamentos e saber expô-los. Toda linguagem, a começar com a verbal, é,
como dizem os linguistas, um sistema de signos. Os estudos de linguística levaram modernamente à
descoberta de que não apenas a língua falada e escrita constitui um sistema de signos mas todas as
manifestações humanas tendem a estruturar-se em termos de linguagem. A linguagem audiovisual,
como veremos, é um veículo de comunicação extremamente rico e flexível que oferece infinitas
possibilidades expressivas e artísticas. Mas para dar-lhe o máximo de eficácia é necessário
conhecer-lhe os segredos com rigor e precisão. É necessário porém, em primeiro lugar, que o
emissor tenha com clareza o que dizer e a quem (o receptor) dizer.
Finalmente, cumpre lembrar que todo projeto audiovisual começa no papel. Por maiores que sejam
os avanços da tecnologia, a linguagem verbal escrita continua sendo e é cada vez mais a base de
todo projeto audiovisual, seja ele cinema ou vídeo. Dificilmente o que é mal expresso verbalmente
rende eficazmente ao ser transposto para a linguagem audiovisual. A linguagem audiovisual
pressupõe a verbal.
A produção audiovisual:
Atualmente, num ano como entre 1999 e 2000, se produzem no Brasil em média 40 filmes de longa-
metragem, 20 curtas-metragens, uma grande quantidade de documentários, vídeos de todo gênero,
filmes de publicidade, propaganda política, programas institucionais, educativos, científicos,
anualmente, ou seja, uma grande quantidade e variedade de produtos audiovisuais de todo gênero.
A produção audiovisual, particularmente o cinema, reflete um aspecto que envolve a dicotomia arte
versus indústria. Ao mesmo tempo em que ele gera um produto artístico, artesanal, autoral, de
maneira geral, se destina necessariamente a um público, seja um público específico, no caso dos
filmes de encomenda, seja o grande público do mercado comercial. O princípio geral é que em razão
dos altos custos da produção (principalmente cinematográfica) o filme precisa necessariamente
destinar-se a um mercado determinado de forma a amortizar seus custos de produção. Fazer um
filme não é igual a escrever um livro ou pintar um quadro, embora esta verdade tenda a perder
validade absoluta, na medida em que a tecnologia de produção audiovisual se democratiza, caindo
de custo, como vem se verificando. Nesta questão, reside o ponto central em torno do qual giram
todas as demais questões relativas à produção audiovisual e à indústria cinematográfica, inclusive
estéticas.
Os Gêneros Cinematográficos:
São os seguintes: Ficção, que pode ser Drama, Comédia ou Musical. Ficção vem do latim fictione
que significa fingimento. A ficção cinematográfica é basicamente dramática no sentido amplo. O
escritor russo Maxim Gorki dizia que “o drama exige rigorosamente ação; somente cumprindo essa
exigência, o drama se transforma num veículo de emoções”. Cinema é arte do movimento e
movimento é sinônimo de ação. Mas não falamos apenas de um conceito exterior de ação (como é o
cinema da escola americana de violência). No drama de importância positiva, a ação está sempre
entrelaçada ao conflito, devendo ser o resultado natural e lógico do choque de personalidades.
Podem-se expressar cenas dramáticas violentíssimas com imagens estáticas e personagens
imóveis.
No desenvolvimento da narrativa dramática, verifica-se tradicionalmente a seguinte estrutura: (1)
Exposição: o trabalho de familiarização do espectador com os personagens mais importantes, com
o lugar da ação e a época. Conhecem-se os conflitos preliminares que conduzirão aos principais. É a
apresentação das circunstâncias que determinam o conflito. (2) Intriga: é o ponto de partida dado
pela violação das circunstâncias conhecidas na exposição e que provoca o conflito principal. Nesta
etapa se desenrola a ação que consiste numa série de momentos integrantes do conflito que se
complicam crescentemente. (3) – Clímax: é o momento de mais alta tensão na obra e precede
imediatamente ao desenlace. Coincide com a Catástrofe em que desemboca o desenvolvimento do
conflito vivido pelo personagem ou grupos de personagens principais. A Catástrofe (= reviravolta em
Grego) na tragédia clássica é o acontecimento principal decisivo e culminante da narrativa, no qual a
ação se esclarece inteiramente e se estabelece o equilíbrio moral. Aqui a solução final é preparada
sem ser anunciada. (4) – Desenlace: é a solução e o momento final do conflito ao fim do qual a obra
chega a seu fim. Atenção: na dramaturgia moderna esta estrutura não é considerada indispensável,
isto é, não é errado desconsiderá-la, embora sua eficácia em termos de envolvimento do grande
público seja incontestável. “Tudo bem que o filme tenha um começo, um meio e um fim, mas não
necessariamente nessa ordem”, já disseram.
Atente-se que até aqui falamos do filme Documentário exclusivamente realizado para as telas do
circuito cinematográfico. Com a entrada porém em cena da televisão a cabo, abriu-se um divisor de
águas na história desse gênero cinematográfico que, até então, ocupou o papel do primo pobre da
indústria cinematográfica. A televisão a cabo, por suas características mais culturais e educativas
que a televisão aberta, abriu mundialmente um horizonte ideal para a veiculação do filme
documentário. A diversidade de canais voltados para uma grande variedade de segmentos de
público criou perspectivas infinitas para a realização de documentários dando origem a uma
indústria, com características próprias, próspera e dinâmica. Infelizmente, porém, no Brasil, as
políticas cinematográficas públicas, responsáveis pelo fomento do cinema no país, ainda não
dedicam a mesma prioridade ao documentário para televisão que ao cinema de longa-metragem. E
assim ficamos restritos a assistir nas tvs a cabo quase que exclusivamente aos documentários
estrangeiros.
Nos anos 30, a chamada Escola do Documentário Inglês do GPO (General Post Office), liderada por
John Grierson, foi responsável pela formulação das principais teses sobre Cinema Documentário e
pela consolidação do gênero. Uma das principais figuras desse movimento foi o brasileiro Alberto
Cavalcanti, que se tornou um dos grandes cineastas europeus da primeira metade do século 20.
Cavalcanti elaborou uma série de regras a serem seguidas na realização de um documentário. São
elas:
1. Não generalize; faça um filme sobre uma carta, não sobre os Correios.
4. Não confie no comentário: irrita; comentário engraçado irrita mais; são imagens e sons que
contam a história.
5. Não se esqueça de que cada tomada é parte de um todo; a mais bela sequência fora do lugar
torna-se banal.
7. Não abuse da montagem rápida; pode ser tão monótona quanto a arrastada.
10. Não abuse de efeitos óticos; fusões e fades são só a pontuação do filme.
14. Não perca a oportunidade de experimentar; sem experiência o documentário não existe.
Uma distinção bastante útil é a que os anglo-saxões fazem entre cinema ficcional (fiction) e não-
ficcional (non-fiction). Nesta última acepção se incluem todos os tipos de filmes que não sejam
apenas de entretenimento e finalidades comerciais e que contenham uma mensagem, um
ensinamento explícito ou implícito a ser difundido, propagado e que se destinam a influenciar o
comportamento e as atitudes do público, desde os filmes publicitários, até os filmes educativos, de
treinamento, científicos, de propaganda política, telejornais, cinejornais, inclusive o Filme
Documentário, que, por ser interpretativo, crítico e criativo, é o produto exponencial do gênero, quer
para cinema, quer para tv ou home-video.
Sobre o Filme Documentário vale citar a definição de John Grierson, para quem o método do
documentário seria o “tratamento criativo da atualidade” (creative treatment of actuality). Não
confundir documentário com material documental. Material documental é o registro de fatos que
aconteceram na realidade. É o que o jornalismo televisivo gera. Filme Documentário é sempre
aquele que contém uma interpretação criativa da realidade, tenham os fatos retratados acontecido ou
não, com personagens reais ou atores.
O “Euroimage”, que é um programa de apoio ao cinema da União Européia, em seus editais define o
“documentário criativo” como sendo aquele:
“1 – baseado num tema tratado pelos próprios autores, de preferência num roteiro, cuja forma e
estilo estampem de forma inegável a visão pessoal do diretor;
2 – que simplesmente não se limite a transmitir informação e que não seja feito para um programa
de atualidades;
3 – cujo assunto e meios pelos quais ganhará a forma de um documentário apresentem um certo
elemento de “eterno” e prevejam qualquer perda de interesse quando o evento com o qual está
relacionado não mais existir;
O terceiro gênero cinematográfico clássico, que, como a ficção e o documentário, vigora na produção
audiovisual, é o Cinema Experimental que se caracteriza por apresentar formas e linguagens que
se aproximam da pintura, da música e da poesia e que, por se distanciar do cinema de estrutura
narrativa de conteúdo dramático, representa um gênero de particular importância na evolução das
linguagens cinematográficas de conteúdo mais audiovisual que dramático. O exemplo clássico do
filme experimental no cinema brasileiro é o filme Limite de Mário Peixoto.
Logicamente, a distinção clássica entre filme de longa, curta e média-metragem varia em função
dos gêneros acima referidos definidos em função da natureza cultural e estética de cada um.
Televisão se distingue de Cinema na medida em que ambos são apenas dois modos distintos de
distribuição do produto audiovisual assim como o vídeo também o é.
Tecnicamente, Cinema é registro de imagem e som sobre película fotográfica para posterior
reprodução por exibição ótica.
Vídeo é registro de impulso eletrônico de imagem e som sobre suporte magnético para exibição por
reprodução magnética.
Televisão é impulso eletromagnético para difusão por via hertziana, ou cabo ou satélite.
Todas estas distinções sobre gêneros, formatos e veículos de produtos audiovisuais são importantes
atualmente, em virtude da existência de outros produtos audiovisuais, além do filme, que surgiram
com a televisão e o vídeotape, como seriados de televisão, novelas, programas educativos,
videoclips e novos produtos audiovisuais, como os DVDs, CD-Roms e Videogames, frutos da
digitalização. As políticas cinematográficas e do audiovisual oficiais precisam estar atentas para
estas distinções e transformações da natureza e do conteúdo dos produtos audiovisuais a fim de que
a sua economia e regulamentação legal se façam segundo a efetiva significação social, cultural,
política e econômica de cada produto, de cada mercado e de cada indústria.
Vejamos como a lei define o que é um filme, chamado "obra cinematográfica", de acordo com o
Convênio de Integração Cinematográfica Ibero-Americana, assinado em Caracas, em 1989:
"Considera-se obra cinematográfica aquela de caráter audiovisual registrada, produzida e difundida
por qualquer sistema, processo ou tecnologia." Por aí se vê que por essa definição CD-Rom e
Videogame seriam considerados obra cinematográfica.
Propomos a seguinte definição para filme ou obra cinematográfica: seria aquela de caráter
audiovisual, registrada, produzida e difundida por qualquer sistema, processo ou tecnologia, nos
gêneros ficção, documentário ou experimental. Como se vê, aplicamos não mais um critério
meramente técnico para definir o que seja filme ou cinema, mas introduzimos um dado cultural. Isto
é, o conceito de cinema hoje em dia, a nosso ver, deve referir-se a produtos audiovisuais
específicos, que se destaquem dos demais pela natureza cultural das três vertentes históricas de
expressão cinematográfica.