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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE LETRAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS – POSLIT

INTERMIDIALIDADE, INTERTEXTUALIDADE E "REMEDIAÇÃO”

RAJEWSKY, Irina. Intermidialidade, Intertextualidade e "remediação". In : DINIZ, Thaïs F.


N. (org.) Intermidialidade e Estudos Interartes : Desafios da Arte Contemporânea. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2012. p.15-46.

Trata-se de resenha do texto “Intermidialidade, Intertextualidade e ‘remediação’”, da


estudiosa da língua Irina Rajewsky, publicado na coletânea organizada pela professora Thaís
Flores Nogueira Diniz, “Intermidialidade e Estudos Interartes: Desafios da Arte
Contemporânea”, pela Editora da Universidade Federal de Minas Gerais. A autora é
professora associada na Freie Universitat, em Berlim, em Literaturas Francesa e Italiana.

A pesquisadora inicia seu texto com informações sobre a situação dos estudos intermidiáticos,
que se encontra mais avançada na escola alemã, em contraste com o conceito primeiro, que
tratava a intermidialidade como algo de caráter generalizado, dependendo de onde, quando e
por que era necessário. Ela destaca que não é objetivo uma unificação teórica, mas que é
preciso “definir mais precisamente a compreensão particular de intermidialidade adotada” (p.
17), situando- a em uma área mais ampla, como Estudos de Mídia, Cinema e Sociologia.

Assim, Rajewsky resolve apresentar sua abordagem individual do termo, com base nos
Estudos Literários, não se limitando apenas a estes, mas buscando contextualizar sua
concepção, em meio a várias abordagens já existentes. Assim, ela parte do conceito particular
de intermidialidade em sentido amplo e em sentido restrito.

Em sentido amplo, a intermidialidade se refere a tudo o que acontece entre mídias, sendo um
termo genérico. Contudo, segundo a pesquisadora, a amplitude do termo não permite que seja
aplicado a qualquer tema, nem caracterizar precisamente um fenômeno individual. Assim que,

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para esses casos mais específicos, faz-se necessário restringir a concepção do termo
intermidialidade.

Num sentido mais restrito, foram feitas três distinções, de acordo com a abordagem de
Rajewsky, concentrando-se em “configurações midiáticas concretas e em suas qualidades
intermidiáticas específicas'' (p. 23). Então, as três subcategorias de intermidialidade no sentido
mais restrito, propostas pela estudiosa, são:

1. Transposição intermidiática: geralmente conhecidas como “adaptação”, é a


transformação de determinada mídia em outra. A exemplo dos livros que se
tornam filmes, ou vice-versa, a característica desta subcategoria é a produção,
já que o produto, ou nova mídia, é uma criação nova, que traz suas próprias
peculiaridades, uma vez que é praticamente impossível transpor totalmente
uma mídia para outra.
2. Combinação de mídias: neste tipo de intermidialidade, o resultado é a principal
característica, já que se tem uma integração de mídias, cada uma com sua
própria materialidade, para formação de um novo produto, como a combinação
de música e performance, para formação da ópera. Uma mescla de mídias, que
faz surgir uma mídia nova.
3. Referências intermidiáticas: uma fantasia, uma mídia "fingindo" ser outra, sem
deixar de ser ela mesma. Diferente das duas primeiras subcategorias, temos
apenas uma insinuação, uma evocação a outra mídia. São “compreendidas
como estratégias de constituição de sentido que contribuem para a significação
total do produto” (p. 25). Um exemplo são os jogos de videogames que trazem
personagens de desenhos animados, ou uma pintura que é tão realista que mais
parece uma fotografia.

Em seguida, a estudiosa faz uma contextualização dos conceitos de intertextualidade,


intermidialidade e referências intermidiáticas, ressaltando as diferenças inter e intramidiáticas
(mesma mídia). O caráter “como se” das referências intermidiáticas se diferencia das

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intramidiáticas (intertextuais) por essa característica ilusionista, que apenas evoca ou imita
outra mídia, mas que causa, no receptor, a sensação da presença dessa mídia evocada.

Outro fenômeno comentado pela autora é a remediação, que é a remodelação de mídias mais
antigas. No conceito de Bolter e Grusin1, as mídias digitais remediam, homenageiam, mas
também lutam com as mídias mais antigas, cada uma defendendo o seu espaço. Como
exemplo, citam o cinema como mídia mais atual à fotografia e ao teatro. Daí, ela considera a
remediação com um tipo de relação intermidiática particular, mas não conciliável com as
subcategorias que ela propõe em seu ensaio.

A conclusão obtida é que é de extrema relevância que, ao tentar utilizar do recurso da


intermidialidade, chegue-se a uma especificação de seu conceito, de forma particular,
dependendo do objeto ao que se pretende aplicá-la e dos objetivos conceituais e heurísticos
do campo de estudo a que pertence esse objeto.

Luciana Lacerda de Carvalho


Mestra em Ciências Humanas
Aluna da disciplina Poéticas do Iconotexto
Poslit - UFMG

1
J.D. Bolter e R. Grusin, citados pela autora, como estudiosos das novas mídias, ou mídias digitais.
3

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