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Análise de Sistemas de Potência (ASP)

III – Introdução ao estudo do fluxo de carga

A avaliação do desempenho das redes de energia elétrica em condições de regime permanente senoidal é de
grande importância tanto na operação em tempo real do sistema quanto no planejamento de sua operação
e expansão. Entre as informações a serem determinadas para uma condição definida de carga e geração se
destacam as seguintes:
• o carregamento das linhas de transmissão e transformadores;
• o carregamento dos geradores;
• a magnitude da tensão nas barras;
• as perdas de transmissão;
• o carregamento dos equipamentos de compensação de reativos (síncronos e estáticos)..

A partir destas informações, é possível definir propostas de alterações a serem implementadas no sistema,
com objetivo de tornar a sua operação mais segura e econômica. Entre as alterações possíveis na operação
do sistema se destacam:
• ajuste no despacho dos geradores;
• ajustes nos dispositivos de controle de tensão (injeções de potência reativa, posição dos taps dos
transformadores e status dos bancos de capacitores e reatores);
• ajustes no intercâmbio com os sistemas vizinhos;
• mudanças na topologia (ligar ou desligar alguma linha de transmissão ou transformador).

Por outro lado, entre as alterações possíveis no planejamento da expansão do sistema se destacam:
• instalação de novas plantas de geração;
• instalação de novas linhas de transmissão e transformadores;
• instalação de dispositivos de controle do fluxo de potência (FACTS1);
• interconexão com outros sistemas.

III.1 – Definição do problema do fluxo de carga

O problema do fluxo de carga (load flow em inglês) ou fluxo de potência (power flow em inglês) consiste na
obtenção das condições de operação (magnitude e ângulo de fase dos fasores tensão nodal, a partir dos quais
podem ser determinados os fluxos de potência ativa e reativa) em regime permanente de uma rede de energia
elétrica com topologia e níveis de geração e consumo conhecidos.

Na formulação básica do problema do fluxo de carga em sistemas elétricos são associadas quatro variáveis
a cada barra da rede (que representa um nó do circuito elétrico equivalente):
Vk – magnitude do fasor tensão nodal da barra k;
θ k – ângulo de fase do fasor tensão nodal da barra k;
Pk – injeção líquida (geração menos carga) de potência ativa da barra k;
Qk – injeção líquida de potência reativa da barra k.

Por outro lado, aos ramos da rede (cujas barras extremas são k e m) associam-se as seguintes variáveis:
I km – fasor da corrente que sai da barra k em direção à barra m;
Pkm – fluxo de potência ativa que sai da barra k em direção à barra m;
Qkm – fluxo de potência reativa que sai da barra k em direção à barra m.

No fluxo de carga convencional, definem-se três tipos de barras, em função das variáveis que são
conhecidas (dados do problema) e incógnitas, conforme mostra a Tabela III.1.

1
Flexible AC Transmission System.

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Tabela III.1 – Tipos de barra no fluxo de carga convencional.

Tipo de barra Notação Dados Incógnitas


Barra de carga PQ Pk e Qk Vk e θ k
Tensão controlada PV Pk e Vk θ k e Qk
Referência Vθ Vk e θ k Pk e Qk

De forma geral, as barras de carga aparecem em maior número e representam as subestações de energia
elétrica nas quais estão conectadas as cargas do sistema elétrico; em segundo lugar, as barras de tensão
controlada representam as instalações que possuem geradores que podem realizar o controle da sua tensão
terminal (por intermédio do seu controle de excitação) e também as barras cuja tensão pode ser controlada
por intermédio do ajuste do tap de algum transformador. A barra de referência é única e imprescindível na
formulação do problema em função de dois fatores:
• necessidade matemática de estipular um ângulo de referência (geralmente igualado a zero);
• para fechar o balanço de potência da rede pois as perdas de transmissão não são conhecidas a priori,
ou seja, não é possível definir todas as injeções de potência do sistema antes de conhecer as perdas
que são função dos fluxos de potência na rede.

Exemplo III.1 – Considere o sistema elétrico composto por duas barras e uma linha de transmissão ilustrado
na Figura III.1. Para este sistema, são conhecidos o fasor tensão na Barra 1 (utilizada como referência
angular pois θ1 = 0 ), V 1 , e a demanda de potência da Barra 2 (que constitui uma barra de carga), S 2 .
Deseja-se determinar o fasor tensão na Barra 2, V 2 , e a injeção líquida de potência da Barra 1, S 1 .

V 1 = 1 0 pu V 2 = V2 θ 2

Z LT = (0,01 + j 0,1) pu
1 I 12 2

S1 S 2 = (0,8 + j 0,4) pu
Figura III.1 – Sistema elétrico de potência.

Solução Exemplo III.1: Embora o sistema elétrico da Figura III.1 seja extremamente simples, a
determinação do fasor tensão da Barra 2 não é imediata. De acordo com os tipos de barra definidos na Tabela
III.1, a Barra 1 é a referência, pois seu fasor tensão é conhecido, e a Barra 2 uma barra de carga, pois sua a
injeção de potência é conhecida.
Da análise do circuito elétrico, observa-se que a tensão na Barra 2 está vinculada com a corrente I 12 que
percorre a linha de transmissão pois:
V 2 = V 1 − Z LT I 12
e, por outro lado, a corrente que circula na linha de transmissão I 12 é função da tensão da Barra 2 pois a
grandeza conhecida nesta barra é a potência demandada, assim
*
 S2 
I 12 =  

 V 2 
Substituindo a expressão da corrente I 12 na expressão da tensão na Barra 2 tem-se:
I 12
 
* * *
 S2  ×V 2 * *  S2  *

V 2 = V 1 − Z LT   ⇒ 
V 2 V 2 = V 1V 2 − Z LT  
  V2
V 2  V 2 
* *
V22 = V 1V 2 − Z LT S 2

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Solução Exemplo III.1 (continuação): Substituindo os valores conhecidos, chega-se a:


V22 = 1 0V2 − θ 2 − (0,01 + j 0,1)(0,8 − j 0,4 ) = V2 (cosθ 2 − j senθ 2 ) − 0,048 − j 0,076
V2 cosθ 2 − jV2 senθ 2 = V22 + 0,048 + j 0,076
Esta é uma equação a números complexos que pode ser resolvida separando-se as partes real e imaginária, de
forma a obter duas equações a números reais:
V2 cos θ 2 = V22 + 0,048
V2 sen θ 2 = −0,076
A solução analítica para V2 deste sistema não linear de equações pode ser obtida somando-se o quadrado das
duas expressões2 e eliminando-se, assim, a variável θ 2 .

(V2 cosθ 2 )2 = (V22 + 0,048)2 = V24 + 2 × 0,048V22 + 0,0482 = V24 + 0,096V22 + 0,002304
+ (V2 sen θ 2 )2 = (− 0,076)2 = 0,005776
( V2 cosθ 2 ) (V2 senθ 2 )
2 2
   
= (V2 cos θ 2 ) 2
+ (V2 sen θ 2 )
2
= V2 + 0,096V2 + 0,002304 + 0,005776
4 2

=1 

[ ]

V22 (cos θ 2 ) + (sen θ 2 ) = V24 + 0,096V22 + 0,00808 V24 + (0,096 − 1)V22 + 0,00808 = 0
2 2

V24 − 0,904V22 + 0,00808 = 0
As soluções da equação biquadrada são dadas por:
0,904 ± 0,904 2 − 4 × 1 × 0,00808
V22 = ≈ 0,4520 ± 0,4430
2 ×1
V2 = ± 0,4520 ± 0,4430
Têm-se, assim, 4 soluções para o sistema de equações: V2 = {+ 0,9460; − 0,9460; + 0,0949; − 0,0949}
Os valores negativos não têm significado, pois V2 representa o módulo da tensão. Como o sistema elétrico
não pode operar com valores muito baixos para a tensão (0,0949 pu, por exemplo) a única solução válida é
dada por V2 = 0,9460 pu .

Conhecido o valor de V2 , o valor de θ 2 pode ser obtido através da expressão:


 − 0,076   − 0,076 
V2 sen θ 2 = −0,076 ⇒ θ 2 = sen −1   = sen −1   ≈ sen −1 (− 0,0803)
 V 2   0,9460 
θ 2 = −0,0804 rad = −4,61

Após a determinação do fasor V 2 , a injeção de potência da Barra 1 pode ser obtida diretamente:
*
 S 2   0,8 + j 0,4 
*

I 12 
=  = = 0,8089 − j 0,4894 = 0,9455 − 31,18 pu
   
 V 2   0,9460 − 4,61 
*
(
S 1 = V 1 I 12 = 1 0 0,9455 − 31,18 )
*

S 1 = 0,8089 + j 0,4894 = 0,9455 31,18 pu 3


Conhecido o valor de todas as injeções, podem-se determinar as perdas no sistema de transmissão:
S perdas = S 1 − S 2 = 0,8089 + j 0,4894 − 0,8 − j 0,4 = 0,0089 + j 0,0894 = 0,0898 84,31 pu

2
Desta forma, aparece a soma dos quadrados de um cosseno e um seno de mesmo argumento que é igual a 1 e que
permite eliminar o ângulo de fase. Lembrar que cos 2 α + sen 2 α = 1 .
3
Observar que como o sistema possui perdas, o valor da injeção da Barra 1 é diferente do valor demandado na Barra 2.

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Solução alternativa Exemplo III.1: A partir das equações da corrente I 12 e da tensão V 2 é possível
construir um procedimento iterativo rudimentar para determinar o valor da tensão na Barra 2. O
procedimento compreende os seguintes passos:

0
i. Fazer ν = 0 e estipular um valor inicial para V 2 , por exemplo: V 2 = V 1 = 1 0  pu .
*
ν ν  S2 
ii. Em função do valor atual de V 2 , calcular o valor da corrente I 12 : I 12 = ν 
 
V 2 
ν ν −1 ν
iii. Se I 12 ≈ I 12 , então o processo convergiu e a solução é dada por V 2 = V 2 . Caso contrário prosseguir.
ν
iv. Calcular o novo valor para V 2 , em função do valor calculado anteriormente:
ν +1 ν
V 2 = V 1 − Z LT I 12
v. Fazer ν = ν + 1 e retornar para o Passo (ii).

Aplicando este procedimento para o problema são obtidos os resultados mostrados na Tabela III.2.

Tabela III.2 – Resultados do procedimento iterativo.


Iteração ν ν
ν V 2 [pu] I 12 [pu]

0 1 0 0,8944 − 26,57

1 0,9550 − 4,56 0, 9365 − 31,13

2 0,9466 − 4,56 0, 9449 − 31,13

3 0,9461 − 4,61 0,9454 − 31,17 

4 0,9460 − 4,61 0,9454 − 31,17 

Os resultados mostrados na Tabela III.2, foram obtidos executando-se a seguinte rotina em MATLAB4.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VI_1.m
clear all
saida=fopen('saida.txt','w');
v1=1+0i;
z=0.01+0.1i;
v2=1+0i;
for k=1:10,
i12=conj((0.8+0.4i)/v2);
y=[k abs(v2) angle(v2)*180/pi abs(i12) angle(i12)*180/pi];
fprintf(saida,'%2.0f %6.4f %6.2f %6.4f %6.2f\n',y);
v2=v1-z*i12;
end
fclose(saida);

Para sistemas elétricos de maior dimensão, a solução analítica se torna impraticável, restando apenas os
métodos numéricos.

Exercício III.1 – Refazer o Exemplo III.1 considerando que a carga na Barra 2 é do tipo:
a) Impedância constante, sendo Z 2 = (1 + j 0,5 ) pu ;
b) Corrente constante, sendo I 2 = ( 0,8 − j 0, 4 ) pu .

Exercício III.2 – Determinar os dados e as incógnitas do problema de fluxo de carga convencional de um


sistema composto por 4 barras (Pi , Qi ,Vi ,θ i , i = 1,⋯,4) , sabendo que a Barra 1 é a referência (Vθ), a Barra 3 é
de tensão controlada (PV) e as demais barras são de carga (PQ).

4
MATLAB é marca registrada pertencente à The MathWorks, Inc.

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Como conseqüência da imposição da Primeira Lei de Kirchhoff para uma barra qualquer do sistema elétrico
da Figura III.2 tem-se que a potência líquida (geração menos carga) injetada nesta barra é igual à soma dos
fluxos de potência que deixam esta barra, ou seja, têm-se duas equações:
Pk = ∑ P (V ,V
m∈Ω k
km k θ θ
m, k , m ) (III.1)

Qk + Qksh (Vk ) = ∑ Q (V ,Vkm k θ θ


m, k , m ) (III.2)
m∈Ω k

sendo:
k = 1,2, ⋯ , NB – índice de todas as barras do sistema, sendo NB o número de barras do sistema;
Ωk – conjunto de barras vizinhas da barra k;
Vk , Vm – magnitude dos fasores das tensões terminais do ramo k-m;
θ k ,θ m – ângulo de fase dos fasores das tensões terminais do ramo k-m;
Pkm , Qkm – fluxo de potência ativa e reativa no ramo k-m;
Qksh – componente da injeção de potência reativa devido ao elemento em derivação (shunt)
(
da barra k Qksh = bkshVk2 . )
1 2

Pk 2 + jQ k 2
Pk 1 + jQ k 1

Pkm + jQ km

k m

jQ ksh
Pk + jQ k

Figura III.2 – Sistema elétrico de potência.

Nas expressões (III.1) e (III.2), os fluxos de potência ativa e reativa nos ramos (linhas de transmissão,
transformadores em fase, defasadores puros e defasadores), obedecem às seguintes expressões gerais5:
Pkm = (a kmVk ) g km − (a kmVk )Vm [g km cos(θ km + ϕ km ) + bkm sen (θ km + ϕ km )]
2
(III.3)

Qkm = −(a kmVk ) bkm + bkm


sh 2
( )
− (a kmVk )Vm [g km sen (θ km + ϕ km ) − bkm cos(θ km + ϕ km )] (III.4)

De acordo com o tipo de equipamento, os parâmetros a km , ϕ km e bkm


sh
assumem valores particulares,
mostradas na Tabela III.3.

Tabela III.3 – Parâmetros para os diferentes equipamentos nas expressões gerais dos fluxos.

Equipamento a km ϕ km sh
bkm
Linha de transmissão 1 0
Transformador em fase 0 0
Transformador defasador puro 1 0
Transformador defasador 0
Assim, o problema do fluxo de carga consiste em resolver o sistema de equações (III.1) e (III.2) tendo como
dados e incógnitas as variáveis descritas na Tabela III.1.

5
Para mais detalhes, vide Capítulo II, Seção II.7.

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III.2 – As equações das correntes dos nós

Para a barra k do sistema elétrico da Figura III.2, a injeção líquida de corrente pode ser obtida aplicando-se a
Primeira Lei de Kirchhoff,
∑I
sh
Ik + Ik = km para k = 1,2,⋯ , NB (III.5)
m∈Ω k

onde
sh
( )
I k = jbksh 0 − V k = − jbksh V k (III.6)
e


sh * 

 
 
  
( *

 
)
Qksh = Im V k  I k   = Im V k − jbksh V k  = Im V k  jbksh V k   = Im jbkshVk2 = bkshVk2
*
[ ]
 
são a injeção de corrente e de potência reativa correspondentes ao elemento em derivação da barra k.

A expressão para fasor corrente I km depende do tipo de equipamento considerado, ou seja:

Linha de transmissão: (
I km = Y km + jbkm
sh
) ( )
V k + − Y km V m
I mk = (− Y )V + (Y + jb )V
km k km
sh
km m

Transformador em fase: I km = (a Y )V + (− a Y )V
2
km k km m

= (− a Y )V + (Y )V
km km

I mk km km k km m

Defasador puro: I km = (Y )V + (− e
km Y )V k
− jϕ km
km m

I mk = (− e Y )V + (Y )V
jϕ km
km k km m

De forma mais geral, considerando os parâmetros a km , ϕ km e bkm sh


, definidos na Tabela III.3, podem-se
escrever as seguintes expressões gerais para os fluxos de corrente nos ramos:
(
I km = akm
2
Y km + jbkm
sh
) (
V k + − akme − jϕ km Y km V m ) (III.7)

I mk = (− a km e
jϕ km
Y km )V + (Y
k km + jbkm
sh
Vm ) (III.8)

Exemplo III.2 – Para o circuito de 4 barras e 5 ramos (3 linhas e 2 transformadores) da Figura III.3,
determinar as expressões das injeções de corrente obtidas com a aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff.
1 2 3 4

V1 Y 12 V2 I2 Y 23 V3 1: a34 V4

sh
jb12 jb12sh sh
jb23 sh
jb23 Y 34

I3

Y 13
I1 I4

jb3sh
jb13sh jb13sh

1 : e jϕ14

Y 14
Figura III.3 – Sistema exemplo de 4 barras.

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Solução Exemplo III.2: Considerando as expressões (III.7) e (III.8), as injeções de corrente nas barras do
sistema da Figura III.3 são dadas por:
I 12 I 13 I 14

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
     
I 1 = Y 12 + jb12 V 1 + − Y 12 V 2 + Y 13 + jb13 V 1 + − Y 13 V 3 + Y 14 V 1 + − e − jϕ14 Y 14 V 4
sh sh

I 21 I 23

( ) ( ) ( ) ( )
   
I 2 = − Y 12 V 1 + Y 12 + jb12 V 2 + Y 23 + jb23 V 2 + − Y 23 V 3
sh sh

sh
I3 I 31 I 32 I 34

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
       
I 3 + − jb3 V 3 = − Y 13 V 1 + Y 13 + jb13 V 3 + − Y 23 V 2 + Y 23 + jb23 V 3 + a34 Y 34 V 3 + − a34 Y 34 V 4
sh sh sh 2

I 41 I 43

( ) ( ) ( ) ( )
      
jϕ14
I 4 = − e Y 14 V 1 + Y 14 V 4 + − a34 Y 34 V 3 + Y 34 V 4

Agrupando os termos, chega-se a:


( ) ( ) ( ) ( )
I 1 = Y 12 + Y 13 + Y 14 + jb12sh + jb13sh V 1 + − Y 12 V 2 + − Y 13 V 3 + − e − jϕ14 Y 14 V 4

I2 = (− Y )V + (Y + Y + jb + jb )V + (− Y )V
12 1 12 23
sh
12
sh
23 2 23 3

I3 = (− Y )V + (− Y )V + (Y + Y + a Y + jb + jb + jb )V + (− a
13 1 23 2 13 23
2
34 34
sh
13
sh
23
sh
3 3 34 Y 34 )V 4

I4 = (− e Y )V + (− a Y )V + (Y + Y )V
jϕ14
14 1 34 34 3 14 34 4

Reescrevendo o sistema na forma matricial, tem-se:


 I 1  Y 12 + Y 13 + Y 14 + jb12sh + jb13sh − Y 12 − Y 13 − e − jϕ14 Y 14  V 1 
     
I 2  =  − Y 12 Y 12 + Y 23 + jb12 + jb23
sh sh
− Y 23 0  ⋅ V 2 
I 3   − Y 13 − Y 23 Y 13 + Y 23 + a34 Y 34 + jb13 + jb23 + jb3 − a34 Y 34  V 3 
2 sh sh sh
     
 I 4   − e jϕ14 Y 14 0 − a34 Y 34 Y 14 + Y 34  V 4 

Exemplo III.3 (alternativo, sem transformador defasador) – Para o circuito de 4 barras e 5 ramos (3
linhas e 2 transformadores) da Figura III.4, determinar as expressões das injeções de corrente obtidas com a
aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff.
1 2 3 4

V1 Y 12 V2 I2 Y 23 V3 1 : a 34 V4

sh
jb12 jb12sh sh
jb 23 sh
jb23 Y 34

I3

Y 13
I1 I4

jb3sh
jb13sh jb13sh

a41 : 1

Y 41
Figura III.4 – Sistema exemplo de 4 barras (alternativo).

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Solução Exemplo III.3: Considerando as expressões (III.7) e (III.8), as injeções de corrente nas barras do
sistema da Figura III.3 são dadas por:
I 12 I 13 I 14

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
       
I 1 = Y 12 + jb12 V 1 + − Y 12 V 2 + Y 13 + jb13 V 1 + − Y 13 V 3 + − a41 Y 41 V 4 + Y 41 V 1
sh sh

I 21 I 23

( ) ( ) ( ) ( )
   
I 2 = − Y 12 V 1 + Y 12 + jb12 V 2 + Y 23 + jb23 V 2 + − Y 23 V 3
sh sh

sh
I3 I 31 I 32 I 34

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
       
I 3 + − jb3 V 3 = − Y 13 V 1 + Y 13 + jb13 V 3 + − Y 23 V 2 + Y 23 + jb23 V 3 + a34 Y 34 V 3 + − a34 Y 34 V 4
sh sh sh 2

I 41 I 43

( ) ( ) ( ) ( )
     
I 4 = a41 Y 41 V 4 + − a 41 Y 41 V 1 + − a34 Y 34 V 3 + Y 34 V 4
2

Agrupando os termos, chega-se a:


( ) ( ) ( ) ( )
I 1 = Y 12 + Y 13 + Y 41 + jb12sh + jb13sh V 1 + − Y 12 V 2 + − Y 13 V 3 + − a41Y 41 V 4

I2 = (− Y )V + (Y + Y + jb + jb )V + (− Y )V
12 1 12 23
sh
12
sh
23 2 23 3

I3 = (− Y )V + (− Y )V + (Y + Y + a Y + jb + jb + jb )V + (− a
13 1 23 2 13 23
2
34 34
sh
13
sh
23
sh
3 3 34 Y 34 )V 4

I4 = (− a Y )V + (− a Y )V + (a Y + Y )V
41 41 1 34 34 3
2
41 41 34 4

Reescrevendo o sistema na forma matricial, tem-se:


 I 1  Y 12 + Y 13 + Y 41 + jb12sh + jb13sh − Y 12 − Y 13 − a 41 Y 41  V 1 
     
I 2  =  − Y 12 Y 12 + Y 23 + jb12sh + jb23
sh
− Y 23 0  ⋅ V 2 
I 3   − Y 13 − Y 23 Y 13 + Y 23 + a34 Y 34 + jb13sh + jb23
2 sh
+ jb3sh − a34 Y 34  V 3 
     
 I 4   − a 41 Y 41 0 − a34 Y 34 2
a 41 Y 41 + Y 34  V 4 

III.3 – Formulação matricial


sh
Considerando I k dado por (III.6) e I km dado pela expressão (III.7), a expressão (III.5) pode ser reescrita
como:

I k − jbksh V k = ∑ [(a
m∈Ω k
2
km Y km + jbkm
sh
) (
V k + − a km e − jϕ km Y km V m ) ]
Isolando-se I k , chega-se a:
 
I k =  jbksh +
 m∈Ω k
2
akm ∑(
Y km + jbkm
sh
)V

k + ∑ (− a
m∈Ω k
km e
− jϕ km
Y km V m ) (III.9)

Fazendo k = 1,2,⋯ , NB , e escrevendo na forma matricial, a expressão (III.9) se resume a:

I = YV (III.10)

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Análise de Sistemas de Potência (ASP)

sendo:
I – vetor das injeções de corrente, cujas componentes são os fasores Ik ,
k = 1,2,⋯ , NB ;
V – vetor das tensões nodais, cujas componentes são os fasores V k = Vk θ k ,
k = 1,2,⋯ , NB ;
Y = G + jB – matriz admitância nodal, cujos elementos são:
Ykm = −akm e − jϕ km Y km
Ymk = −akm e − jϕ mk Y km = −akm e jϕ km Y km
Ykk = jbksh + ∑ ( jb
m∈Ω k
sh
km + akm
2
Y km )

As principais características da matriz admitância, que relaciona as injeções líquidas de corrente com as
tensões nodais são as seguintes:
• é uma matriz quadrada de ordem NB;
• é uma matriz esparsa para redes de grande porte ( Ykm = 0 sempre que não existir ligação entre os nós
k e m);
• é uma matriz simétrica se a rede for constituída apenas por linhas de transmissão e transformadores
em fase, pois para uma linha de transmissão Ykm = Ymk = −Y km e para um transformador em fase
Ykm = Ymk = − akm Y km . A presença de defasadores torna a matriz assimétrica pois Ykm = −e − jϕ km Y km e
Ymk = −e jϕ km Y km (vide Exemplo III.2).

A k-ésima componente da expressão matricial (III.10) é dada por:


I k = Ykk V k + Ykm V m =∑ Ykm V m
m∈Ω k

m∈K

onde K é o conjunto de todas as barras adjacentes à barra k , incluindo a própria barra k (K = {k } ∪ Ω k ) .


Sabendo que Ykm = Gkm + jBkm e V m = Vm θ m ,

Ik = ∑ (G
m∈K
km + jBkm )Vm θ m

e a injeção líquida de potência S k é dada por:


*
 
= Pk + jQk = V k I k = Vk θ k  (Gkm + jBkm )Vm θ m  =

*
Sk
 m∈K 
= Vk θ k (Gkm − jBkm )Vm − θ m = Vk Vm (Gkm − jBkm ) θ k − θ m
∑ ∑
m∈K m∈K

Sk = Vk ∑V (G
m∈K
m km − jBkm )(cosθ km + j sen θ km ) (III.11)

Separando as partes real e imaginária de (III.11), tem-se:


Pk = Vk ∑V (G
m∈K
m km cosθ km + Bkm senθ km ) (III.12)

Qk = Vk ∑V (G
m∈K
m km sen km θ − Bkm cosθ km ) (III.13)

Exercício III.3 – Para o sistema de 4 barras da Figura III.2, escrever as expressões das injeções de potência
de cada barra, considerando que a Barra 1 é a referência (Vθ), a Barra 3 é de tensão controlada (PV) e as
demais são barras de carga (PQ). Considerar a matriz admitância conhecida e dada por:

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Análise de Sistemas de Potência (ASP)

 G11 G12 G13 G14   B11 B12 B13 B14 


G G 22 G23 0  B B22 B23 0 
Y = G + jB G= B=
21 21
G31 G32 G33 G34   B31 B32 B33 B34 
   
G41 0 G43 G44   B41 0 B43 B44 

Exemplo III.4 (Provão 1998) – Questão relativa às matérias de Formação profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).

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Análise de Sistemas de Potência (ASP)

Média (escala de 0 a 100) % escolha


Brasil Região Sul Instituição Brasil Região Sul Instituição
20,8 Não disponível 15,5 Não disponível

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Exercício III.4 – Sabendo que os dados do circuito de 4 barras e 4 ramos (3 linhas e 1 transformador
defasador com relação não nominal) da Figura III.4 estão em grandezas normalizadas (pu), determinar o
solicitado:
1 2 3 4

V1 0, 02 + j 0,2 V 2 I2 0,5 − j 5,0 V3 1 : 0,95 10  V 4

I4
j 0,01 j 0,01 10%
− j 0,5
I1

0,05 + j 0,12
I3
j 0,02 j 0, 02

Figura III.4 – Sistema exemplo de 4 barras.

a) as expressões das injeções de corrente obtidas com a aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff;
b) a matriz admitância a partir das equações anteriores;
c) a matriz admitância a partir das expressões da Seção III.3;
d) sabendo que os fasores tensão das barras são dados por V 1 = 1 0 , V 2 = 0,95 − 5 , V 3 = 0,97 − 5
e V 4 = 1,0 5 , determinar as injeções de corrente nas barras;
e) para as mesmas tensões do item anterior, determinar as injeções de potência nas barras e as perdas
totais na rede de transmissão.

Exercício III.5 (alternativo, sem transformador defasador) – Sabendo que os dados do circuito de 4
barras e 4 ramos (3 linhas e 1 transformador com relação não nominal) da Figura III.4 estão em grandezas
normalizadas (pu), determinar o solicitado:
1 2 3 4

V1 0, 02 + j 0,2 V 2 I2 0,5 − j 5,0 V3 1 : 0,95 V 4

I4
j 0,01 j 0,01 10%
− j 0,5
I1

0,05 + j 0,12
I3
j 0,02 j 0, 02

Figura III.4 – Sistema exemplo de 4 barras.

a) as expressões das injeções de corrente obtidas com a aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff;
b) a matriz admitância a partir das equações anteriores;
c) a matriz admitância a partir das expressões da Seção III.3;
d) sabendo que os fasores tensão das barras são dados por V 1 = 1 0 , V 2 = 0,95 − 5 , V 3 = 0,97 − 5
e V 4 = 1,0 5 , determinar as injeções de corrente nas barras;
e) para as mesmas tensões do item anterior, determinar as injeções de potência nas barras e as perdas
totais na rede de transmissão.

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