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Uma publicação do Círculo de Mulheres da Teia de Thea

Lua Cheia .:. Maio de 2016 .:. nº 205

eusa tríplice irlandesa, Maeve era Rainha simples rainha mortal, o que não era pouco, mas
das fadas e cultuada em Tara, o centro mágico certamente aquém de seu esplendor como
da Irlanda. Esta deusa celta presidia a guerra, a deusa.
sexualidade e a soberania da terra, e fornecia
Maeve, segundo a lenda, era uma das seis filhas
proteção, liderança e sabedoria, conforme com
de Eochardh Feidhleach, rei de Connacht, uma
os pedidos humanos.
mulher muito bela, sedutora e forte, dotada de
Celebrada no Festival das Fadas, realizado a 4 de uma mente brilhante, estrategista hábil,
maio, e também no dia 21 de maio, Maeve era talhada para enfrentar qualquer tipo de
uma deusa guerreira, que cavalgava cavalos batalha. A rainha Maeve, do reino irlandês de
selvagens e vivia rodeada de animais, sendo Connacht, podia correr mais do que os cavalos,
representada cercada por pássaros dourados conversar com os pássaros e levar os homens ao
que, pousados em seus ardor do desejo com um
ombros, sussurram simples olhar.
conhecimentos mágicos,
Seu nome celta era Medb
de acordo com Mirella
ou Medhbh, “aquela que
Faur, escritora,
intoxica”, no sentido de
pesquisadora e
ser uma mulher
Sacerdotisa da Grande
“embriagante”, sedutora,
Mãe. Com o passar do
fascinante e dotada de
tempo e sob a influência
intensa sexualidade. Ela
cristã, a cultura irlandesa
escolhia à vontade os seus
mudou e Maeve foi
amantes e nenhum
reduzida à condição de
homem a olhava sem se
apaixonar por ela. Era muito segura de sua sombra de um homem, embora saibam que
feminilidade e sexualidade. Diziam que possuía precisam do equilíbrio masculino/feminino. Elas
um apetite sexual voraz, mas é um erro vê-la são lutadoras, trabalhadoras, muito seguras de
como inconveniente e lasciva, que utilizava a si e da sua sexualidade. Procuram um homem
satisfação sexual com a finalidade de ganho que as trate de igual para igual, nem mais nem
egoístico. menos, e amam como ninguém! São mães leoas
e defensoras da justiça e daqueles que lhes
Maeve simboliza o poder feminino e é a
parecem mais fracos.
personificação da própria Terra e sua
prosperidade. Uma mulher corajosa, ardente, Quando esta deusa surge nas nossas vidas, ela
selvagem, e um pouco vingativa também. É uma nos convida a entrar em contato com o nosso
representação da Deusa Mãe em idade fértil, lado mais guerreiro. Ela não nos incentiva a
embora possa alcançar um passividade. Pelo contrário,
pouco da face Anciã, já que nos ensina a sermos ativas,
também preside a morte. corajosas e lutadoras para
alcançarmos os nossos
Ela rege o amor e a guerra, a
objetivos.
morte e o nascimento e os
ciclos, tanto da vida como os Maeve nos aconselha a
menstruais. Aos seus r e s p e i t o d a s
amantes, ofertava uma taça responsabilidades que temos
de vinho vermelho como seu sobre nós mesmas e nos traz a
sangue. O vinho de Maeve consciência de que somos as
representava o sangue únicas responsáveis sobre
menstrual que era nossas vidas. Esta deusa
considerado como “o vinho da sugere que deixemos de
sabedoria das mulheres”. atribuir aos outros a
responsabilidade dos
Na Irlanda o Festival Pagão de
acontecimentos de nossas
Mabon era comemorado em
vidas, incluindo os fatos positivos, que por
sua honra. Durante essa festividade, quem
modéstia ou educação equivocada, deixamos
almejasse ser rei aguardava que Maeve os
de reconhecer como mérito próprio e,
convidasse a beber de seu vinho. Isto
igualmente, os fatos que resultaram em
assegurava que o homem, para ser rei,
frustração e desapontamento.
necessitava ser versado no feminismo e nos
mistérios das mulheres. Shakespeare a trouxe à Temos imensa dificuldade de identificar em nós
vida como Mab, a Rainha das Fadas. Em uma a nossa contribuição para a ação do destino em
versão mais moderna, os ecologistas a nossas vidas e identificar como nossas as ações
converteram em Gaia, o espírito da Terra. e reações que contribuem para o desfecho de
determinada situação. Porém, é imprescindível
As mulheres que se encontram sobre a
assumirmos as consequências dos nossos atos e
influência deste arquétipo são corajosas,
escolhas, pois jamais seremos autônomas e
temperamentais e indomáveis, donas das suas
independentes se colocarmos as nossas vidas
vidas, das suas escolhas e se negam a viver à
nas mãos de outra pessoa.
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A BATALHA DAS RESES DE COOLEY devidas correções e inevitáveis distorções,
(“Tain Bo Cualngé”) introduzindo elementos e conceitos cristãos.
No épico irlandês Tain Bo Cuillaigne, Maeve Mesmo assim, boa parte do legado ancestral foi
discute com o seu rei sobre quem é o mais rico, preservada e o substrato original pode ser
uma vez que, segundo o costume celta, o mais percebido se olharmos além das incongruências
rico numa parceria é o soberano. Ele venceu por conceituais e sobreposições cristãs.
ter um touro mágico branco. Ela, então, decidiu A cultura cristã e a mentalidade atual dificultam
roubar para si um touro vermelho mágico. compreender e aceitar um dos conceitos celtas,
Entretanto, quando os dois touros se a associação dos arquétipos sagrados
enfrentaram, estraçalharam-se um ao outro em femininos com a guerra. Para transpormos
pedaços. barreiras conceituais devemos conhecer o
Vamos entender este mito, passando pela princípio celta da soberania da terra, sempre
antiga sociedade celta, que era dividida em clãs representado por uma Deusa Mãe com
e onde os laços familiares eram muito características protetoras e defensoras. A vida e
valorizados. As mulheres celtas se equiparavam a sobrevivência dependiam da terra e por isso
aos homens: possuíam propriedades e ela devia ser preservada e protegida, pois
ocupavam posições de prestígio dentro da desrespeitar a terra e a soberania de um povo
sociedade. Também não existia a monogamia significava ofender e ameaçar a própria
nas uniões. Eram igualadas aos homens não natureza criadora da vida.
apenas pela sua estatura e altivez, mas também A soberania, o verdadeiro poder de quem
por sua coragem e participação ativa nas governava e conduzia os destinos de um povo,
batalhas, conforme comprovam centenas de pertencia a um arquétipo feminino, a própria
relatos de mulheres poderosas e rainhas Deusa da Terra, com a qual o rei ou governante
deificadas como Maeve. devia se casar simbolicamente para garantir a
Os celtas respeitavam profundamente a prosperidade e paz. O casamento do rei com a
Natureza, honrando a Terra e suas criaturas Deusa da terra representava as condições
como elos sagrados na teia da criação e na indispensáveis para que a soberania se
magia da vida. Esta reverência e o culto de manifestasse: respeito, igualdade, confiança,
inúmeras divindades ligadas às forças da parceria e solidariedade.
natureza mantiveram-se intactos mesmo A representante da Deusa soberana era uma
depois da romanização das terras celtas e do sacerdotisa ou rainha imbuída de poderes
sincretismo com os deuses romanos. Porém, a especiais, que até mesmo podia ser divinizada,
erradicação e perseguição agressiva e opressiva como se conclui da lenda de Maeve. Nos mitos,
da religião pagã aconteceram com a chegada do aparece de forma metafórica o alerta sobre as
cristianismo, que conseguiu impor seus dogmas consequências da opressão, violência e
e proibições, apesar da resistência dos druidas e exploração da natureza e da mulher com os
do povo, principalmente o irlandês. inerentes desequilíbrios, falta de prosperidade
Para erradicar a religião pagã e suas tradições, e convívio pacífico.
os monges cristãos começaram a registrar Em várias lendas, Maeve representa o espírito
lendas, mitos, crenças e costumes com as feminino arcaico, existente em cada mulher e
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que é expresso em grau maior ou menor como Maeve estava casada com seu terceiro marido,
comportamento instintivo, impulsivo, corajoso, o rei Ailill, quando discute com ele para saber
combativo, sedutor e fértil. Famosa por sua quem tem maior fortuna. Ela faz alarde de
beleza e possessão sexual, Maeve teve muitos possuir mais que Ailill, e em virtude da legislação
amantes, a maioria oficiais de seu exército, o celta, quem possuir mais bens pode mandar nos
que de algum modo assegurou a lealdade de assuntos de casa. Quando lhe contam que lhe
suas tropas. falta um touro para vencer Ailill, ela se dispõe a
fazer qualquer coisa para obter um animal
O primeiro marido de Maeve foi
extraordinário, cujo posse faria
justamente o seu rival mais
inclinar a balança a seu favor.
constante, o rei Conchobor
Mac Nessa. Maeve foi-lhe Ailill tinha um touro a mais,
dada em casamento como c h a m a d o d e
compensação pela morte “Finnbelmach” (touro
de seu pai, mas, para branco). Maeve pede
p r o v a r s u a então para Daré, filho de
independência, ela o Fiachna, que lhe ceda
abandona. Conchobor, seu touro, o famoso
insatisfeito, encontra Dona de Cuahlgé, que
Maeve banhando-se no vivia em Ulster, nas
rio Boyne e a estupra. Em terras de seu rival
decorrência do fato, os Conchobar. Em troca ela
reis da Irlanda se unem para lhe daria terras, um carro de
vingar o ultraje. Nesta guerra e, sobretudo, o
batalha, perde a vida Tinne, o receberia em sua cama.
então marido de Maeve.
Filha do rei supremo da Irlanda, a
A rainha de Connacht está sem rei, e por isso os rainha Maeve possui soberania, ou seja, ela é a
nobres se reúnem e indicam Eochaid Dala para soberania, o poder. Do mesmo modo, segundo
ser seu novo marido. Ela consente, desde que o a mitologia grega, que os mortais adquiriam
marido não seja nem ciumento, nem covarde, poderes divinos ao se converterem amantes de
nem avarento. uma Deusa, também um homem que se
tornasse amante de Maeve poderia obter os
Certo dia, Maeve adota um garoto, que passa a
poderes que ela representa. Mas a alegria da
integrar a sua corte. Com o tempo o garoto
rainha pelo valor de sua recente aquisição não
cresce, torna-se um hábil guerreiro e seu
durou muito. O touro sobrevivente subiu em
amante. Eochaid não aceita bem a situação,
uma colina para mugir para todos os reinos
assim como os nobres de Connacht, que tentam
irlandeses e morreu devido ao esforço
expulsar o rapaz da corte. Maeve consegue
despendido no ato. Desde então, a colina
impedir e o jovem desafia o rei para um
passou a chamar-se Druim Tairb, a Colina dos
combate. Por ser um grande guerreiro, acaba
Touros.
matando o rei e assume o trono ao lado de
Maeve. Esse é Ailill, seu marido mais Como podemos observar, o objetivo principal
importante. de Maeve era o touro, que desde a mais remota
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Antiguidade é um símbolo feminino,
encontrado nas culturas ancestrais de Creta do
Egito e da Anatólia.

O touro antes de tudo evoca a ideia de poder e


de ímpeto irresistíveis. Para os celtas ele pode
ser também símbolo da morte violenta dos
guerreiros. Na Dália são conhecidas
representações de um touro com três chifres, Mãe,
antigo símbolo guerreiro (o terceiro chifre. seria Ensina-me a calar para melhor poder te ouvir;
o equivalente ao que, na Irlanda, é chamado Torna-me sensível a tudo o que o silêncio é
“lonlaith” ou “lua do herói”, uma espécie de capaz de me dizer;
aura sangrenta, jorrando do alto da cabeça do
Revela-me, pelo meu silenciar, o que os outros
herói em estado de excitação guerreira). O
têm a me mostrar;
touro é, ainda, representação da força
temporal, sexual, a fecundidade da natureza.
Abre o meu coração para que eu possa, a cada
Não por acaso, o segundo signo do zodíaco,
instante, te sentir;
Touro, é governado por Vênus e simboliza a
Amplia a minha capacidade de ouvir e que a
força de trabalho e encarna os instintos,
especialmente os da conservação, da tua verdade reverbere no meu ser;
sexualidade e de um gosto pronunciado pelos Faz-me capaz de escutar as mensagens que a
prazeres em geral, particularmente os da carne. tua sabedoria queira me enviar;

Mais te digo mais de mim quanto menos falo


e mais me expresso no que posso agir,
Então, atenta aos meus desejos e aspirações e
ao que eu talvez não consiga te dizer,
Pois a minha alma te fala em silêncio e o meu
coração te escuta se eu não falar.

A Teia de Thea realizará o Workshop Deusas Celtas no dia 4 de junho próximo, das 9h
às 18h, em sua sede localizada na Unipaz. Este é um convite exclusivo para mulheres e
será uma viagem mágica ao mundo das brumas de Avalon. Sinta o chamado da Deusa,
Daquela que é o início e o fim de tudo, que está em nossos sonhos e guia os nossos
caminhos. Acolha o convite para reconhecer o poder que habita em nós e honrar
nossa sacralidade feminina.
As inscrições serão até 25 de maio e a energia de troca será de R$ 120,00 (almoço
incluído). O depósito deve ser feito no Banco do Brasil, Agência 5197-7, Conta
Corrente 9512-5, em nome de Maria Socorro Maia Silva, enviando o comprovante para
o e-mail workshop@teiadethea.org, pelo qual podem ser obtidas mais informações,
bem como no site www.teiadethea.org.
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Expediente Jornal Deusa Viva
deusaviva@teiadethea.org

Edição e Diagramação:
Stella Matta Machado e Cristiane Madeira Ximenes
Textos: Vera Pinheiro e Maria Amaziles
Imagens: Rede mundial de computadores
Informações: www.teiadethea.org
Contatos: Telefone (61) 8233.7949
E-mail: teiadethea@teiadethea.org

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