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INTRODUÇÃO
Este estudo tem por objetivo analisar as influências psicológicas que a
Mitologia –
Mitologia – e e neste caso, a Mitologia Maçônica em questão –
– através da sua prática
ritualística, suas falas, movimentos, símbolos, dramas e alegorias, pode ter sobre seus
praticantes, acompanhando as similaridades da Mitologia Maçônica com as outras
Mitologias da história.
Malgrado muitos talvez possam julgar os rituais maçônicos como ingênuos,
estranhos, primitivos e ultrapassados ou até mesmo supersticiosos. Serão
apresentados neste estudo indícios de que, muito pelo contrário, tanto os rituais como
a mitologia possuem as mesmas fontes de origem — o inconsciente 3, ponto
fundamental para o progresso psicológico.
Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da
humanidade, e todas essas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em
alguma medida, representadas nas alegorias maçônicas 4. Esse sincretismo na
Mitologia Maçônica nos leva a crer que nossos antepassados já tinham noção das
similaridades existentes nas manifestações religiosas e mitológicas. Encontramos um
direcionamento para um estudo comparativo nas palavras ad-referendum do erudito
norte americano Joseph Campbell:
“A esperança que acalento é a de que um esclarecimento
realizado em termos de comparação possa contribuir para a
causa, talvez não tão perdida, das forças que atuam no
mundo de hoje, em favor da unificação, não em nome de
algum império político ou eclesiástico, mas com o objetivo de
promover a mútua compreensão entre os seres humanos.
Como nos dizem os Vedas: "A verdade é uma só, mas os
sábios falam dela sob muitos nomes". 5
A definição mais comum de Maçonaria é a de que Maçonaria
Maçonaria é “um belo
sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos” 6. Isso já diz muito
sobre a instituição e seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de
7
ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected Topic. The English Historical Review, Vol. 84, 331, 1969;
8
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972;
9
Jung dizia que tomou o termo “Arquétipo
“Arquétipo”” é de fontes clássicas como Cícero, Plínio, Platão, Santo Agostinho e
principalmente na obra medieval “O Corpus
“O Corpus Hermeticus”.
Hermeticus”. Foi
Foi nos escritos da tradição hermética – e
– e posteriormente
alquimista –
alquimista – que
que Jung encontrou inúmeras
inúmeras referências antigas sobre os Arquétipos,
Arquétipos, como o citado Corpo Hermético,
Hermético,
onde Deus (Kether) é denominado por “Luz Arquetípica” e em Dionísio Areopagita
Areopagita onde encontramos diversas vezes o
termo “Os Arquétipos Imateriais”;
Imateriais” ;
10
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos., Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972;
11
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião, 11/1, A autonomia do inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
12
O termo “Monomito” é de James Joyce, da obra “Finnegans Wake”;
13
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente (pag.50).RJ, Nova Fronteira;
14
JUNG, C.G. Interpretação psicológica do Dogma da Trindade (pag.21) e (pag.45-46). RJ, Vozes;
15
CAMPBELL, Joseph. Coleção DVD, O Poder do mito com Bill
com Bill Moyers (1987). LogON Editora Multimídia;
16
Idem (1987);
3
PARTE I
ESTUDO E ANÁLISE COMPARATIVA DA
17
PSICOLOGIA JUNGUIANA COM O SIMBOLISMO MAÇÔNICO
O q u e éu m Sím b o lo ? 18
"Os símbolos são para a mente quais são os instrumentos as
mãos. - Uma aplicação alargada dos seus poderes."
Dion Fortune
Podemos definir os símbolos como metáforas e compêndios de um
conhecimento sensivelmente elevado , que em outras palavras são manifestações
19
17
Publicado em: Revista Ciência e Maçonaria, Vol.1, N.1, 2013. Brasília, DF, Loja Maçônica Flor de Lótus, 2013;
18
O conceito de símbolo adotado nesta obra é o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semiótico de símbolo
instituído pelo suíço Ferdinand de Saussure, pai da linguística, bem como também difere parcialmente de certas
análises Psicanalíticas de Freud;
19
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Da Psicologia à metafísica. São Paulo, Pensamento, 2007;
20
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
21
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Parte I, A necessidade de ritos. São Paulo, Editora Ágora, 2008;
22
JUNG, Carl Gustav. Interpretação psicológica do Dogma da Trindade (pag.21). Rio de Janeiro, Vozes;
23
JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012;
24
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, (144-336). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
25
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social, (pag.342). São Paulo, Martins Fontes, 2004;
4
funcionando como um fator equilibrante na mente humana, semelhante aos efeitos dos
sonhos, a qual Jung define como: “são processos naturais que existem em paralelo ao
sistema orgânico e psicológico, a fim de propiciar mecanismos de compensação em
busca do equilíbrio físico e emocional do sujei to sonhador”. Isso também seria, de
forma relativa, uma excelente definição para a Ritualística Maçônica. Destarte, o
avanço instrutivo que a Maçonaria proporciona a seus adeptos é, além de consciente,
moral e esotérico, também um reforço psicológico, nos mostrando claramente a
magnitude e complexidade do processo iniciático desta Sublime Ordem.
26
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Parte I, A necessidade de ritos. São Paulo, Editora Ágora, 2008;
27
Por Ritos Latinos entende-se: REAA - Rito Escocês Antigo e Aceito; RER – Rito Escocês Retificado; Rito
Adonhiramita e Rito Moderno.
28
O termo “templo maçônico” é comumente usado nos ritos maçônicos de origem latina. Os de origem anglo-saxônica
costumam chamar o local de reuniões de “Sala da Loja”.
29
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Símbolos oníricos do processo de individuação. RJ, Ed. Vozes, 2012;
30
Muitos encontram semelhanças com o Parlamento Inglês (Câmara dos Comuns), mas, neste caso seriam somente
nos Ritos Anglo-saxões – Sala da Loja – e não nos Ritos Latinos que são o foco deste artigo.
31
Essa colocação é melhor observada na Parte II do presente artigo;
32
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo, Universo dos Livros, 2012;
33
A palavra vem do latim Profanum: Pro (diante de; fora do); Fanum (templo; lugar sagrado);
34
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem (pag.23-40). RJ, Editora Vozes, 2011;
35
MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. SP, Madras, 2010;
36
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, O Ciclo Cosmogônico, O giro universal. São Paulo, Pensamento, 2007;
37
Por isso quando um maçom ocupa um cargo, o mesmo deve ser tratado (sempre) pelo título oficial que possui,
sendo sempre abordado pelo cargo que desempenha, pois, como dito, ele personifica a essencial-ritual em questão,
vindo a cumprir sua finalidade psicológica na dramatização mitológica e/ou ritualística;
5
38
Portanto, entendemos porque em passagens ritualísticas específicas é exigido certos sinais e gestos pelo ritual;
39
O termo rito é empregado pelo autor da t eoria “Ritos de Passagem” com significado semelhante a “Ritual”;
40
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem (pag.23-40). RJ, Editora Vozes, 2011;
41
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.97-131). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978
42
Hall, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento da
Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005;
43
Muitos autores o chamam de Consciência objetiva;
42
Idem (2005);
6
simbólicos, salvo detalhes excepcionais (não confundir com o Átrio que é uma
específica sala que antecede o templo).
O significado psicológico de Persona, para Jung, é aquela parte da
personalidade desenvolvida e usada em nossas interações mundanas (profanas),
nossa face externa consciente, nossa máscara social, como veículo não de nossa real
vontade, mas da nossa necessária aceitação 45 46.
Assim que, nas iniciações maçônicas, o gesto dos candidatos serem despidos
de todos os metais, e iniciarem todos exatamente da mesma forma, significa que,
naquele momento, o indivíduo despe-se de suas personas. Esse desprendimento se
faz necessário visto que, conforme Jung, no nível do inconsciente pessoal – que
citaremos logo adiante – não há persona, a qual se manifesta apenas no nível
consciente. Se os irmãos observarem bem, o tratamento igualitário – tanto na iniciação
como nas reuniões ritualísticas – fazem jus a presente comparação simbólica deste
esquema, conforme corroborado abaixo, todavia não ignoramos os outros significados
para com esse detalhe.
O crescimento psicológico ocorre, de acordo com Jung, quando alguém tenta
trazer o conteúdo-conhecimento do Inconsciente, para o nível Consciente, e
estabelecer uma relação entre a vida consciente e o nível arquetípico da existência
humana47 48, o homem que assim o fizer, haverá de reconhecer as origens dos
problemas no próprio inconsciente (em si mesmo), pois a pessoa que não torna
consciente suas limitações e defeitos, acaba por projetar nos outros tais percepções
negativas49. Fazendo o devido paralelo, o crescimento na senda maçônica somente
ocorre quando se aplica no chamado mundo profano o que se estuda e aprende no
mundo maçônico, que é neste quadro comparativo o referido inconsciente pessoal, e
assim tem-se a oportunidade de transformar o conhecimento adquirido em sabedoria.
45
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
46
HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento da
Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005;
47
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo, c) O método
de comprovação. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
48
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.97-131). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
49
HALL, Calvin S. & NORDBY, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento
da Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005;
50
A Psicologia Analítica não trabalha com o conceito de Pré-consciente da Psicanálise. Todavia, visando um caráter
mais amplo, não poderíamos deixar de apresentar tal conceito à comparação que estabelecemos neste artigo, para
perpetrarmos o caráter investigativo, abrangente, didático e principalmente comparativo.
51
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972;
7
52
Outras correntes chamam de “Consciência subjetiva” em contraponto à Consciência Objetiva citada no nível 1;
53
Abordagem ocidental-oeste do Templo Maçônico;
54
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente. RJ, Editora Nova Fronteira;
55
Quando entramos numa crescente concentração decorrente de uma atividade consciente, a ordem natural das
coisas é adentrarmos sutilmente no Pré-consciente ou Inconsciente pessoal, de modo não profundo, mas
estabelecermos um estado intermediário diante da vigília. O que ocorre com isso é esquecermos as horas e dimensões
sensoriais (passam-se minutos e horas, contudo não nos damos conta, ou supomos ter passado poucos minutos).
Razão mor de necessariamente fazermos um relaxamento antes de adentrarmos ao Templo e dar início aos trabalhos.
56
JUNG, Carl Gustav. Sincronicidade 8/3 (pag.28,29 e 122, 123). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2013;
57
Idem (2013);
58
JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012;
59
Ou seja: Consciente, Sala dos Passos Perdidos, Mundo Profano;
60
Ou seja: Inconsciente, Ritualística/Templo Maçônico, Mundo Real, Símbolos;
61
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Símbolos oníricos do processo de individuação – 2.Os sonhos iniciais
(pag.58). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
62
O casamento entre a parte Inconsciente (Anima ou Animus) com o Indivíduo, ou seja, no reconhecimento interior
destas particularidades da Psique, ocorre o chamado “Casamento Alquímico” dos filósofos alquimistas. Jung sinaliza
essa união nas diversas alegorias alquímicas e outros textos filosóficos. Segundo ele, o casamento ou paixão a
primeira vista, e inúmeras ocorrências mundanas, seriam reflexões que estaríamos encontrando essa nossa
contraparte Inconsciente (Anima ou Animus), podendo os “divórcios” trazerem graves consequências psicológicas. –
Observação complementar na Parte II;
63
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Conceitos de anima (pag.63). RJ, Vozes, 2011;
64
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião, 11/1, A autonomia do inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
8
65
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
66
Na Parte II, Jornada do Herói e a Maçonaria, acresceremos um outro conceito de Anima;
67
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo, Universo dos Livros, 2012;
68
Muitas alegorias de “Dualidade”, nada mais são que representações de Anima/Animus;
69
Encontra-se um complemento na Parte II, em “Provação difícil ou traumática, O encontro com a Deusa.”
70
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Terceira parte, O Self como Herói. São Paulo, Editora Ágora, 2008;
71
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
72
Informação substancial para a interpretação mitológica da Jornada do Herói - Conforme Parte II deste artigo;
73
Não podemos confundir esse direcionamento Psicológico com decisões conscientes, a qual necessitamos para uma
vida consciente (cotidiana);
74
JUNG, Carl G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo. RJ, Vozes, 2011;
9
“Egrégora”, e a principal base científica que sustenta este presente artigo, é sem
sombra de dúvida o conceito de Inconsciente coletivo 75.
Jung acreditava que tanto a experiência quanto a prática religiosa eram
fenômenos que tinham sua fonte, interna e externa, no inconsciente coletivo 76
(conhecido esotericamente por “Egrégora”). O céu, o inferno, a era mitológica, o jardim
do éden, o olimpo, bem como as outras moradas dos deuses, são interpretados pela
psicanálise como símbolos do Inconsciente 77, e se enquadram ao simbolismo do
dossel e do sólio no Oriente, localizado a sete degraus acima do nível onde se
encontram os Aprendizes, Companheiros e Mestres, onde se encontra o chamado
Trono de Salomão e que possui estampado o olho que tudo vê no Rito Escocês Antigo
e Aceito.
Assim como o Inconsciente coletivo dispõe da pré-formação psíquica da
78
psique , o direcionamento ou pré-formação dos trabalhos vem do Oriente da Loja,
além de que as informações históricas da Loja, presentes na carta constitutiva,
também se localizam na região do sólio, bem como os registros de todas as reuniões
ficam junto ao secretário (que normalmente toma assento no oriente).
"O que é real? Como você define o "real"? Se você está falando sobre
o que você pode sentir, o que você pode cheirar, o que você pode
saborear e ver, o real são simplesmente sinais elétricos interpretados
pelo seu cérebro." Morpheus - Matrix
A ritualística se não estudada e compreendida, se torna pura fantasia e
ilusão! Todo aparato do ritual é ilusão! Todas as roupagens simbólicas
nos servem para nortear nossa Vontade, Inspiração e Imaginação.
75
Idem (2011);
76
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião, 11/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
77
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972;
78
JUNG, Carl G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo. RJ, Vozes, 2011;
79
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Introdução. São Paulo, Editora Ágora, 2008;
80
MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. SP, Madras, 2010;
81
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Sobre o Renascimento, 2.f-g-h [231] (Procedimento
e Transformações). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
10
82
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1978;
83
Também podemos admirar os “animais nas nuvens” ou qualquer outro exercício de fantasia, e deles retirarmos
parábolas instrutivas de moral e bons costumes, no caso dos nossos rituais queremos, justamente, dizer que eles
transcendem tais questões morais e éticas, sendo imbuídos de outros valores além dos descritos nos próprios rituais;
84
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Sobre os arquétipos do Inconsciente Coletivo
(pag.14). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
85
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.86-91). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
86
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.
87
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo, Universo dos Livros, 2012;
88
JUNG, Carl Gustav. O símbolo da transformação na missa 11/3, (pag.22). Rio de Janeiro, Vozes, 2011;
11
89
Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom;
90
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente (pag.50). RJ, Editora Nova Fronteira;
91
Ne-varietur;
92
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem, Passagem material – Os ritos de iniciação. RJ, Editora Vozes, 2011;
85
Idem (2011);
94
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Prólogo (pag.27). São Paulo, Pensamento, 2007;
95
A Iniciação Maçônica contém elementos psicológicos imprescindíveis para introduzir o profano no contexto cultural
[psicológico] maçônico. Caso contrário haveria uma dissidência de entendimento inconsciente.
12
PARTE II
A JORNADA ARQUETÍPICA DO HERÓI NA MITOLOGIA MAÇÔNICA
Jornada do herói X Iniciação Maçônica
96
“Em muitos povos o sol representa a experiência de vida do homem” C.G. Jung
Havendo demonstrado a estrutura psicológica da Mitologia Maçônica na parte I
– por associação e equiparação, veremos a seguir os princípios da jornada arquetípica
do Herói, bem como projetaremos uma análise dos conceitos científicos da Ciência
das Religiões e da matéria de Religiões, Mitologias e Culturas Comparadas. E com
isso adaptaremos então, a Jornada à Iniciação Maçônica, de forma que o artigo não
tire a interpretação pessoal do grau de Companheiro e Mestre Maçom que
complementam o roteiro da Jornada do Herói.
O intitulado “Herói” 97 na análise psicológica da sua manifestação, pode ser
compreendido como um arquétipo dentro da psique coletiva 98. Para reforçar tal teoria,
Jung indica sua representação nas mais conhecidas culturas e religiões ao redor da
terra99, e nós também poderemos encontra-lo em filosofias como a Maçonaria.
O encontramos essencialmente nas histórias de Atum, Osíris e Hórus do
Antigo Egito; de Marduk, dos Mistérios Sumerianos; de Apolo, Febo, Héracles,
Dionísio e Orfeu, da Mitologia Greco-Romana; de Krishna, da Religião Hinduísta; de
Baldur, dos Mistérios Nórdicos; de Amaterasu, na religião Xintoísta; de Oxalá, Oxalufã,
e Oxaguiã, das Religiões Afro-brasileiras; do Rei Arthur, Galahad e Persival, na
história do Santo Graal; na verídica história de Jacques DeMolay, nos Medievais
Cavaleiros Templários; em Cristian Rosenkreuz, nas Núpcias Alquímicas da Tradição
Rosacruz (Manifestos); em outros contos como Branca de Neve e o Mágico de Oz; em
vários heróis cinematográficos, como Luke Skywalker, Indiana Jones, James Bond,
Superman, Harry Potter, Frodo Bolseiro, e além é claro, de Jesus o Cristo, da Religião
Cristã100. Em todas estas histórias, encontram-se exatas e nítidas similaridades que
podem ser compreendidas pelo conceito do Inconsciente Coletivo. Por fim, na
Mitologia Maçônica tem-se a lenda de Hiram Abiff, mito esse exclusivo da
Maçonaria 101.
Embora a Mitologia Maçônica utilize do contexto contido no Antigo Testamento,
pouco se tem no mito de conteúdo especificamente bíblico, haja vista que o enredo
principal é composto por mitos elaborados. Malgrado, muitos são os maçons que
insistem em fundamentar a maçonaria na bíblia, ou, pior ainda, fundamentar a história
pela Maçonaria 102. O maior exemplo de elaboração mítica na Maçonaria é a de Hiram
Abiff. Não há, logicamente, registros históricos de tais eventos, e interpretá-los no
sentido literal é um erro crasso, pois mitos devem ser interpretados, como já dito, de
forma simbólica e não literal . 103 104
NR.: Publicado em: Revista Fraternitas in Praxis, Vol.01, N.01, Rio de Janeiro, RJ, 2013;
96
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira;
97
Quando empregarmos o termo “Herói” estaremos nos referindo ao Herói Mitológico;
98
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
99
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011;
100
DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo, Daemon Editora, 2008;
101
STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. SP, Pensamento, 2011;
102
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012;
103
CAMPBELL, Joseph. Isto és Tu, Metáfora e mistério religioso (pag.15-25). SP, Landy Editora, 2002;
104
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Segunda parte, O mito pessoal. SP, Ed. Ágora, 2008;
105
WAITE, A. E., A New Encyclopaedia of Freemasonry, 2 vols. (London: William Rider and Son Limited, 1921;
13
Iniciação Maçônica, essa pode perfeitamente ser enquadrada neste postulado ternário,
como o estudo demonstrará abaixo, sendo a última fase – 3. O retorno – devidamente
completada no grau de Mestre Maçom e Maçom do Real Arco.
Como já esclarecemos a teoria da Jornada do Herói teve por base a ideia do
Monomito difundida por James Joyce, vindo a ser aperfeiçoada por Campbell pela
associação com o conceito freudiano de forças do Inconsciente, e alcançando seu
pleno embasamento científico com a psicologia analítica ou arquetípica de Carl Gustav
Jung, que propõe o conceito psicológico de Arquétipos e Inconsciente Coletivo. A
estruturação dos Ritos de Passagem pelo antropólogo Arnold Van Guennep
possibilitou a análise das diferentes fases da aventura do herói, bem como as diversas
manifestações do mesmo nas sociedades tribais 112.
Para tanto, será apresentada a constituição básica da Jornada do Herói, seus
significados psicológicos e antropológicos, que estão presentes em formas disfarçadas
nos contos e mitos, além é claro, de exemplificar o contexto maçônico da mitologia,
ideia central deste artigo.
Os principais objetivos da missão do Herói são, atingir a liberdade plena,
compaixão pela humanidade, ou ainda um casamento místico e espiritual. O processo
que leva a tais consecuções, e que suscintamente, retrata a repetida Jornada
Arquetípica, foi chamado por Jung de “processo de Individuação”. Quando há uma
harmonia entre o consciente e o inconsciente, havendo uma contínua relação
106
STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. SP, Pensamento, 2011;
107
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, A necessidade de ritos. SP, Ed. Ágora, 2008;
108
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, As chaves (pág.241-247). São Paulo, Pensamento, 2007;
109
Parte I - Análise comparativa da estrutura da Personalidade e suas correspondências simbólicas com o Templo;
110
Idem, Prólogo, (2007);
111
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Classificação dos Ritos. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
112
Idem (2011);
14
1. Partida ou Separação
O chamado da aventura
“... Eu o proponho, na devida forma, um candidato apropriado para os
mistérios da Maçonaria. Eu o recomendo, como digno de compartilhar
privilégios da Fraternidade, e, em consequência de uma declaração de
suas intenções, feita de forma voluntária e devidamente atestada, eu
acredito que ele seguirá estritamente em conformidade com as regras
da Ordem.” Illustrations of Masonry, WILLIAM PRESTON, 1867, p.26.
A primeira tarefa do herói é retirar-se da cena mundana, do mundo profano nas
alegorias e contos, e iniciar uma jornada – que desmistificada trata-se de uma imersão
nas regiões causais da psique onde residem efetivamente as reais dificuldades 115 – a
fim de transpor os obstáculos, tornar consciente as dificuldades, e por fim superá-los
em benefício próprio ou coletivo 116.
Normalmente um problema se apresenta diante do herói mitológico, a fim de
convocá-lo a cumprir seu destino, mas também poderá ocorrer outros fatores para o
seu próprio crescimento, como curiosidade, sonhos, desejos e etc. Deste modo,
conforme o procedimento maçônico padrão 117, o candidato é geralmente convidado a
iniciar na Sublime Ordem. O convite parte do chamado no meio maçônico de padrinho,
o qual figura a função de arauto.
113
A palavra vem do latim Profanum: Pro (diante de; fora do); Fanum (templo; lugar sagrado);
114
Tal afirmação de Jung é apenas uma adaptação da sentença grega: “Conheça-te a ti mesmo...”.
115
Como demonstrado na parte I, o único lugar onde de fato existem problemas e sofrimentos é no inconsciente, a
qual devemos reconhecer e erradica-los em favor de nós mesmos. Eis a eterna e difícil tarefa que temos.
116
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, O Monomito (pág.27). São Paulo, Pensamento, 2007;
117
PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867;
15
em outras palavras, o padrinho figura como um sinal enviado pelo inconsciente (a qual
já falamos é o Templo Maçônico – Reunião Ritualística). O candidato que recebe o
convite-chamado é a consciência objetiva (simbolicamente o exterior do Templo
Maçônico – Mundo Profano). Em termos reais, isso nada mais é que, um sonho, a qual
como demonstramos, é um fator equilibrante do nosso Inconsciente, para,
devidamente direcionar o Consciente, a fim de alcançarmos o equilíbrio. Com o devido
paralelo que fizemos na parte I, acha-se dramatizado tal comunicação Inconsciente
Pessoal X Consciente, nesta referida passagem na Mitologia Maçônica.
A associação dos estágios da Jornada do Herói para com os mitos não devem
ser literais, pois, cada mito possuí um conotação cultural que lhe é peculiar, obtendo
variações de um lugar para o outro. Desta forma, o que devemos observar é o
simbolismo essencial e arquetípico de cada estágio da jornada, como forma de
adaptação e posterior compreensão do contexto. Assim é evidente que a história de
um Herói (Buda, Jesus e Hiram) são literalmente diferentes – apesar das coincidências
significativas – mas o simbolismo arquetípico de suas manifestações no desenrolar da
história são notoriamente semelhantes.
A recusa do chamado
“...Tente! E não diga que a vitória está perdida, Se é de batalhas que
se vive a vida, Vá, Tente outra vez!” Raul Seixas
Sempre encontramos tanto na vida real como nos contos mitológicos, o
dramático caso do chamado que não obtém resposta, havendo, pois, o desvio da
atenção para outros vis interesses. A recusa à convocação acaba por aprisionar o
herói mitológico, seja pelo tédio, pelo trabalho duro ou pela ignorância. A recusa é uma
negação à atitude de renunciar àquilo que a pessoa – o inconsciente – considera
interesse próprio 119, mesmo que sua mente consciente ainda não saiba, e tal recusa
caracteriza-se, cumulativamente, pela identificação da persona 120 com seu ego121 o
que acarretaria no conceito psicológico de Inflação 122. Por essa e outras razões
sempre encontramos uma manifestação de egoísmo no estágio da “recusa do
chamado”. Há casos onde não aceitam convites e iniciações por egoísmo, ou mesmo
largam e abandonam a maçonaria também por egoísmo.
A esposa de Ló, tornou-se uma estátua de sal por ter olhado para trás e
desobedecido a instrução, e devido a forte emoção que caiu diretamente em Ló, tal
evento tornar-se-ia uma “recusa do chamado”, pois poderia diretamente ter rompido
com a jornada. 123
A recusa do chamado na maioria das vezes é representada pelo medo em
suas várias manifestações, sendo que tal evento promove um olhar ou mesmo um
voltar-se para trás de forma a não prosseguir. Ocorre de modo semelhante como
“recusa do chamado” na jornada maçônica, qu ando por algumas vezes o medo do
desconhecido ou oculto impede os candidatos de iniciarem, outras vezes a própria
cultura de certas sociedades tratam de cumprir esta f unção.
118
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, A Aventura do Herói (pág.66). São Paulo, Pensamento, 2007;
119
Idem, Prólogo (pág.72). 2007;
120
Em grego significa “máscara”. A psicologia analítica define Persona como parte da personalidade desenvolvida e
usada em nossas interações, ela é nossa face externa consciente, uma máscara social que usamos para dar forma ou
força à imagem exterior que as pessoas tem ou a qual achamos que possuímos. Jung enxergava a Persona como um
mediador entre o mundo externo e o eu, voltando-se para a materialidade da vida consciente, enquanto Anima-Animus
também é um mediador, mas do eu para o inconsciente, voltado para a subjetividade da vida inconsciente;
121
Na visão de Jung, Ego é o nome dado à organização da mente consciente, constituindo-se de percepções
conscientes, de recordações, pensamentos e sentimentos. A menos que o Ego reconheça tais percepções elas não
chegariam a nossa consciência. Tais reconhecimentos do Ego são estabelecidos pela função dominante de cada
pessoa (sensibilidade, objetividade e etc). Uma forte experiência pode forçar entrada pelo ego ocasionando graves
consequências (traumas). O Ego passa a falsa ideia de que ele é, essencialmente, nossa inteira consciência, ou
melhor, nossa Psique como um todo. (HALL; NORDBY, 2010)
122
HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo. Editora Cultrix, 2005;
123
AT. Gênesis 19:26: “E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal.”
16
Para muitos, talvez, esse estágio seja o mais difícil de todos, garantindo as
devidas proporções. Todo início (na vida) é conturbado, é repleto de dúvidas e
dificuldades. Dar o primeiro passo, eis à chave para o chamado!
O auxilio sobrenatural
“...Quando os tempos se tornarem tempestuosos, E os amigos
simplesmente não puderem ser encontrados, Como uma ponte sobre
águas turbulentas, Eu surgirei...” – Bridge Over Troubled Water, by
Elvis Presley.
Para aqueles que não recusaram o chamado – convite para iniciar –, o primeiro
encontro da jornada do herói se dá com uma figura protetora, que fornece ao iniciando
ajuda para lhe proteger na jornada que estará prestes a deparar-se.
As mitologias desenvolvem o papel na figura do guia e do mestre. No mito
grego esse guia é Hermes-Mercúrio, e no mito egípcio a sua contraparte egípcia,
Thoth. Nas tradições judaicas, Noé contou com uma pomba. Na mitologia cristã
encontramos como guia o Espírito Santo ou mesmo com a protetora, a Virgem
Maria . 124
devido a tamanhas coincidências, até mesmo em detalhes, que foram por ora
apresentados neste artigo. Todavia cabe uma observação que o trabalho de Joseph
Campbell foi analisado cientificamente sobre a estrutura de todas as religiões até
então conhecidas, principalmente as religiões de cunho ocidental. Como já salientado,
a teoria da “Jornada do Herói” teve por base pesquisas antropológicas, históricas e
sobretudo psicológicas, tendo foco no estudo de Religiões, Culturas e Mitologias
comparadas. Em verdade, não teríamos dificuldade nenhuma em fazer este estudo,
visto a herança cultural que a Sublime Ordem recebeu. Estas reflexões, que chegam
ao vulgo cunho de “coincidências”, são a causa deste artigo se chamar Mitologia
Maçônica.
126
Idem, pág.92, 2007;
127
Devido este estágio se encontrar logo após a “passagem do primeiro limiar ” não citamos a Câmera de Reflexões,
mas, também seria possível a associarmos à este estágio, por possuir características ideais a este nível. Contudo
haveria uma ambiguidade devido a ordem dos fatos. Ressalta-se, porém, que esta associação é verossímil de
associação;
128
AT. Jonas 1:17: “O Senhor fez que ali se encontrasse um grande peixe para engolir Jonas, e este esteve três dias e
três noites no ventre do peixe.”
129
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Os Ritos de Iniciação (pag.87). Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011;
130
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Aventura do Herói (pág.102). São Paulo, Pensamento, 2007;
131
DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo, Daemon Editora, 2008;
18
ritualisticamente praticado na antiguidade pelas Prostitutas Sagradas 132 133, que foi
profanado e hoje é conhecido como strip-tease em a “Dança dos Sete Véus” 134.
Muitas mitologias retratam neste momento uma descida ao submundo, quando na
verdade, tal descida retrata a imersão aos domínios da psique aos quais você não
está dando a devida atenção 135, e disto viria à análise clínica da Psicologia Analítica 136.
O auxílio indireto de Guias e Mestres é uma perfeita associação às opiniões
dadas quando o Venerável Mestre faz sucessivas perguntas ao candidato. Estas
novas provas, cada vez maiores em níveis, representam no processo iniciático
maçônico, a passagem pelos quatro elementos, onde o iniciando vivencia e supera
simbolicamente os elementos. No passado, relatos indicam que os candidatos de fato
se colocavam à provas, seja de um incêndio, a nado, ou de tempestades,
diferentemente de nossos tempos, antigamente os grupos – e tribos – realizavam
literalmente tais testes 137.
132
VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Os Ritos de Iniciação (pag. 95). Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 2011;
133
Na antiga Suméria o nome “Prostituta” significava originalmente “Aquelas que se prostram” , neste caso em
homenagem a Deusa, A Sacerdotisa Inanna ou Ishtar. Contudo com o advento das sociedades patriarcais o termo se
profanou juntamente com os rituais desta antiga forma religiosa, passando a possuir outras significações na Roma
Antiga;
134
O número 7 em questão se refere aos Sete Portais a qual a Deusa tinha que atravessar, onde a cada portal ela
retirava um véu. A dança dos Sete Véus na verdade retrata um ritual iniciático;
135
CAMPBELL, Joseph. Isto és Tu, Metáfora e mistério religioso (pag.15-25). SP, Landy Editora, 2002;
136
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.126-132). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
137
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia e História da Magia. Editora Pensamento;
138
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Aventura do Herói. São Paulo, Pensamento, 2007;
139
Significa “Casamento Sagrado", é a cópula de um deus ou homem com uma deusa ou mulher. Trata-se de um
antigo ritual que proporcionava uma intensa experiência espiritual ou intercâmbio de conhecimentos através do sexo;
140
Manifestos Rosacruzes publicados na Alemanha em 1614, 1615 e 1616, versados em alquimia, magia e cabala.
141
O referido Casamento, conforme explicado, não encerra a Jornada, que ainda encontra-se na metade do caminho;
142
JUNG, Carl Gustav. Estudos alquímicos, 13,Anima e Animus (45-62). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
19
143
HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento
da Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005;
144
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Simbolismo da mandala. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012;
145
Na equação da Tétrada dos Pitagóricos: 10: 1+0 = 1. 10 = 1;
146
DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo, Daemon Editora, 2008;
147
Já falamos na parte I sobre os significados por trás deste e outros “lugares sagrados”;
148
RIBEIRO, João Guilherme C. O Nosso Lado da Escada. Rio de Janeiro, Ed., 2012;
20
149
Devido a continuação da Jornada do Herói, dentro da Mitologia Maçônica, ir além do âmbito dos estudos do grau de
Aprendiz Maçom, não vamos adentrar adiante na terceira fase da Jornada do Herói - 3.O Retorno”. Em anexo
encontra-se um trabalho complementar contando o final “dessa aventura iniciática”;
150
Muitos religiões antigas possuem a crença da mulher como aspecto negativo da humanidade, sendo que suas
maiores divindades são sempre Homens, ao passo que a Mulher é associada com a “Queda”;
151
MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo, Pensamento, 2007;
152
Vide Parte I, “O que é um Símbolo?”;
153
Representa o medo profano sobre a Maçonaria, que no início da aventura tendia a impedir o início da jornada;
154
A Liberdade pregada em todas as mitologias só pode ser adquirida e consolidada com o Casamento Alquímico,
também chamado de Consecução;
155
O casamento comum na vida cotidiana é apenas uma demonstração, em menor nível, do real casamento interior.
Jung indica essa união inconsciente nas diversas obras alquímicas e filosóficos, e nos mostra que tal dedução
psicológica já era compreendida desde a antiguidade. O amor e felicidade resultante s do casamento interior jamais
poderia ser comparado com qualquer outro casamento, pois se trata de um “desejo da alma” (do inconsciente), e
segundo o próprio Jung este é o nosso objetivo enquanto seres viventes.
156
NT. João 8:32: "E Jesus disse: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
157
Em termos iniciáticos: Na união do I niciando com a Egrégora. Este contexto de “Sintonia com o Pai” também
encontra suas associações com tal estágio maçônico, por tratarem de conceitos específicos desta passagem, mas sua
definição necessária dependeria de outras características;
158
NT. João 10:30: “Eu e o Pai somos apenas um.”
21
cultura para outra, pode ser um filósofo, mestre pedreiro, líder político ou religioso e
etc., mas a sua referência – como demonstramos – transcende a estes exemplos.
As representações do esquema psicológico do mito acham-se representados
em vários níveis e formas, seja nas diretrizes do Templo (do macrocosmo) ou na
jornada e realização da ritualística (do microcosmo). Conceitos como arquétipos,
símbolos, individuação, sincronicidade, sombra, anima-animus, herói e todos os outros
objetos de estudo da Psicologia Analítica, acham-se representados, de uma forma ou
de outra, nos enredos e contextos da mitologia 159. Razão de tantas vezes termos
encontrado representações de Anima e Inconsciente Pessoal neste artigo, bem como
de descoincidências e variações, mas abordamos essa temática de uma forma
pioneira e geral dentro da Mitologia Maçônica.
Desmistificando a mitologia, percebemos que o mistério do universo é retratado
como Deus. Se para o religioso o infinito é Deus Onipotente, Onisciente e
Onipresente, para o atéu ou agnóstico, o infinito é o Universo, e seus infinitos espaços
siderais. O ego torna-se a figura do herói, por isso quando ele se encontra com a
Deusa-Deus (Inconsciente 160 e infinito), toma-se conhecimento de todo o universo e a
vida. Por isso o axioma: “Conhece -te a ti mesmo, e conhecerás todo o Universo” , em
outras palavras, “Conheça o seu próprio ego, e sua mente se expandirá” 161. Em
algumas passagens colocam o “Eu Inconsciente” como o Velho Sábio, que tudo sabe
e ensina, pois conhece as fraquezas e desejos reprimidos pelo o herói 162 163 (ego). .
159
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, As chaves (pág.241-247). São Paulo, Pensamento, 2007;
160
O inconsciente é retratado como Infinito, pois no seu nível de manifestação não há uma dimensão de tempo e
espaço, como de outro modo ocorre com o Consciente – já falamos sobre isso na parte I;
161
Jung deixou claro, como já citado neste trabalho, que o processo de elevação dar-se-á por tornar consciente as
nossas limitações e fraquezas que são, também, ocasionadas pelo Ego em questão.
162
Idem, 2007;
163
JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012;
164
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, O ciclo cosmogônico (pág.249-268). São Paulo, Pensamento, 2007;
165
Idem, 2007;
22
166
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos (pag.102). Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira;
167
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Epílogo, Mito e sociedade. São Paulo, Pensamento, 2007;
168
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Jan eiro, Editora Vozes Ltda, 1978;
169
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Ciclo cosmogônico. São Paulo, Pensamento, 2007;
170
JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012;
171
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, A função da mitologia (pag.31-37). São Paulo, Editora Ágora, 2008;
23
qual com suas pertinentes alegorias e contextos culturais, todavia, seus princípios e
mensagens são sempre os mesmos, que é o equilíbrio psicológico e a devida conexão
entre o consciente (vida profana) com o inconsciente (vida maçônica), e desta relação,
resultar no conhecimento do Si-mesmo, ou melhor, no transcendente e espiritual
Mestre Maçom. Todas as mitologias retratam uma estória relativa à relação entre
Consciente x Inconsciente, seja por “mundo profano e Maçonaria”, “mundo real e
mundo da fantasia”, ou mesmo por “céu e inferno”, e etc.
Em termos de interpretação psicológica da Mitologia, sempre vamos encontrar
como chave essencial, a questão: Inconsciente = Reino metafísico, em outras
palavras, ''Porque eis que o reino de Deus está dentro de vós" . Assim, a análise 172
costumes como forma de instrução aos seus membros, sendo portanto, herdeira
histórica dessas antigas culturas . 175
172
NT. Lucas 17:21;
173
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, As chaves. São Paulo, Pensamento, 2007;
174
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, (pag.104-157). Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira;
175
BLAVATSKY, HELENA P.; O ocultismo prático e as origens do ritual na Igreja e Maçonaria. SP, Pensamento, 2009;
176
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012.
177
Se olharmos a ritualística a nível objetivo, talvez achamos de fato um forçoso exercício (de moralidade). Por outro
lado numa visão subjetiva ela passa longe de ser algo incomum. Ritualística = Inconsciente;
24
não em maior escala – uma boa parte do potencial transformador da Augusta,
Respeitável e Sublime Ordem Maçônica.
JOSEPH CAMPBELL
Herói de mil faces. São Paulo: Editora Pensamento, 2007.
As máscaras de Deus, Mitologia Ocidental. São Paulo: Palas Athena, 1994.
As máscaras de Deus, Mitologia Oriental. São Paulo: Palas Athena, 1994.
Isto és Tu. São Paulo: Landy Editora, 2002.
Mito e Transformação. São Paulo: Ed. Ágora, 2008.
O AUTOR
Rafhael Guimarães é Mestre Maçom da A.R.L.S. “Jacques DeMolay” nº33, jurisdicionada à Grande
Loja Maçônica do Estado do Espírito Santo. No Rito de York é Cavaleiro Templário (KT), filiado ao
Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil. No Rito Escocês Antigo e Aceito possui
o grau 14º - Grande Eleito ou Perfeito e Sublime Maçom, filiado ao Supremo Conselho do Grau 33 do
Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil. Além de pertencer
a outros Corpos Maçônicos, Ordens Iniciáticas, Rosacruzes, Martinistas e Grupos de Estudo.
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