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Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
Secretaria de Estado da Educação
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional

UNIDADE DIDÁTICA

Professor PDE: Marilia Silveira de Souza Reginato


Área PDE: Educação Física
NRE: Cascavel
Professor Orientador IES: Profº. Dr. Gustavo André Borges
IES vinculada: UNIOESTE/ Marechal Cândido Rondon

CORBÉLIA
2010
UNIDADE DIDÁTICA

Marilia Silveira de Souza Reginato


UNIDADE DIDÁTICA

Marilia Silveira de Souza Reginato

Dançar é mesmo coisa de menina?

Quando se propõe aulas de Educação Física com o conteúdo


dança, as relações de gênero e a construção de um comportamento
de acordo com as influências sociais e culturais são fortemente
caracterizadas pelo fato de que ainda para os meninos a dança é
coisa de menina. Ouvimos ainda com frequência “homem que
dança é boiola”. Portanto, pouco se sabe ou pouco se trabalha
sobre a história e a intenção da dança. Para Faro (2004, p.15), “é
interessante notar que durante vários séculos a dança era apanágio
do sexo masculino, e só muito mais tarde as mulheres passaram a
participar ativamente das danças folclóricas". Ora, se a dança era
praticada somente por homens de onde vem todo esse preconceito
por parte dos meninos quando o conteúdo dança é proposto?
Se voltarmos na história, podemos ver que os papéis na
dança se dividiram com o passar do tempo. Os homens assumem
dentro da dança uma característica, machista diferenciada em que
o fato de dançar fazia com que o mesmo assumisse o papel
principal em algumas danças, como a dança de salão e nas
diferentes danças folclóricas. É ele quem conduz seu par e que
determina as direções e passos, enquanto as mulheres definem
seus movimentos de 1forma suave,
submissas aos movimentos dos
homens. Mesmo a dança sendo um
conteúdo estru-turante da Educação
Física, percebe-se que é pouco
desenvolvida na Escola dentro de
Figura 1- dança de salão (tango)
uma sequência pedagógica e de
forma co-educativa.
Muitos profissionais deixam de trabalhar esse conteúdo por
pensarem que não sabem ou por acharem difícil de ser ensinado ou
ainda pela rejeição por parte dos meninos. Neste contexto, o foco
principal é desenvolver uma proposta em dança, em especial a
Dança Criativa, para que os professores de Educação Física,
tenham subsídios teóricos e práticos, para construir aulas co-
educativas relacionado ao conteúdo e aplicá-lo no ensino
fundamental, para que meninos e meninas, não tenham nenhum
preconceito em dançar.
O quadro número 1 apresenta sugestões de como iniciar uma
atividade com o conteúdo dança.
Quadro 1. Sugestões de atividades:
Antes de iniciar uma atividade com dança, a sugestão é introduzi-la com um
filme. Desenvolva um seminário com os alunos sobre os papéis de gênero
dos atores e atrizes do filme. Um filme bastante interessante para ser discutido
essas relações sociais em sala de aula, a partir da dança é “Billy Eliot” (dirigido
por Stephen Daldry da Universal Pictures, Inglaterra, 2000)

1
Figura 1- htpp/www. sol.sapo.pt/blogs/sofiapaula/archive/2009/03/..
Diferentes papéis de homens e mulheres na dança.
Nas décadas mais recentes, no final do século XX, muitos
estilos de dança foram criados, valorizando a presença das
mulheres na dança, quando as mesmas, através da dança clássica,
enfatiza seus movimentos de forma leve e delicada. Já os homens
mesmo neste estilo de dança mostram-se fortes e com movimentos
mais vigorosos.
Dentro desta construção histórico-cultural, podemos res-saltar
os diferentes papéis de homens e mulheres na dança.
As questões de precon-
ceitos em relação à dança
existem e de forma bem acen-
tuada, pois dançar em uma so-
ciedade machista é coisa de
mulher, de efeminação e a ela
estão associadas as questões Figura 2- Dança Contemporânea

de graça, delicadeza, leveza e meiguice, características avessas à


virilidade do homem (MARQUES, 2007, p.39).2
Existem hoje inúmeros estilos de música e de dança e a
maioria dos nossos jovens não possuem conhecimento das
diferentes formas de expressão. Desde o século XVII até o século
XXI, vemos os mais variados estilos de dança que foram criados, a
partir da imensa diversidade cultural.
Entre eles podemos citar: a dança clássica e a neoclássica,
dança livre, dança moderna, dança a caráter (folclore), balé
contemporâneo, dança contemporânea, jazz (e outros estilos
criados por minorias ou grupos de movimentos sociais, que incluem

2
Figura 2-Dança contemporânea Acervo pessoal
o samba, o carimbó, jongo, a dança de rua, o rap, o funk, entre
outras) e dança de salão.
Todos estes estilos de dança possuem
características próprias, movimentos pré-
estabelecidos que os definam e os
diferenciam. Cada dança ao ser desen-
volvida possui uma metodologia específica
Figura 3- Formas variadas que a caracteriza, tais como os deslo-
camentos, as quedas, os saltos, os giros, entre outros.
Quando falamos em dança no ambiente escolar,
normalmente, os jovens relacionam esse conteúdo com a dança
clássica, onde a mesma sempre tem a figura feminina em
evidência. Contudo quando existe a participação dos homens na
dança, esta acontece de forma a sobrepor a figura feminina,
evidenciando o trabalho de força, de modo que a mulher acaba
sendo submissa aos movimentos dos homens.3
Nesse sentido, vencer barreiras não só quanto aos diferentes
tipos de danças mas sobretudo, que meninos e meninas possam
dançar sem nenhum tipo de preconceito, apenas estimulando e des
velando a sua criatividade, poderemos então instigá-los a
explorar os movimentos em sua própria cultura
corporal em um processoco-educativo.
“Desta forma a co-educação pode ser efetivada
levando o aluno e aluna a uma reflexão para a incursão
de uma nova prática e elaboração de uma nova atitude”
(GONZÁLES e FENSTERSEIFER 2008).

3
Figura 3- http/www.absoluta-danca.blogspot.com/2009/03/mover-se-...
No quadro 2 são sugeridas atividades para que meninos e
meninas participem juntos das aulas de educação física de forma
dinâmica e co-educativa.
Quadro 2 - Sugestões de atividades:
Objetivo: Desenvolver sociabilização através da organização de grupos
mistos envolvendo um ritmo.
1- Alunos espalhados, deslocar no ritmo proposto, ao parar a música
organizar grupos, o mais rápido possível, conforme o comando do professor.
Este comando poderá ser: - gestos com as mãos,
- falando e trabalhando a tabuada ex; 2x4
Ao recomeçar a música todos espalham-se e deslocam-se novamente,
repetir a dinâmica várias vezes incentivando a formação de grupos
diferenciados e mistos.
2- Espalhados deslocando no ritmo da música, ao parar a música os
alunos deverão organizar grupos, de acordo com a solicitação do professor,
executar um movimento com os braços, ou com as pernas, ou com o tronco,
sugerido pelo professor.
Ex: desenhar no ar letra A; com o braço esquerdo bem alto, em baixo,
com a perna e ou com a cintura.
Ex: pode-se trabalhar movimentos relacionados a:
- letras do alfabeto
- higiene pessoal
- formas geométricas
- esportes; futebol, voleibol, natação, etc
- animais
- água, vento e outros elementos da natureza,
sempre procurando explorar todas as partes do corpo.
Meninos e meninas podem dançar juntos na escola?

Através da dança criativa na escola, podemos transformar as


relações entre meninos e meninas. Relações estas que foram
sempre construídas socialmente. Sobre este assunto Auad (2006,
p. 20) nos desafia da seguinte forma: “as desigualdades não são
inatas e imutáveis. Uma vez construídas podem ser transformadas!”
As aulas de Educação Física através do conteúdo “dança” em
específico a “dança criativa”, é mais uma possibilidade de atividade
para que professores comecem a perceber seus alunos numa
totalidade, sem preconceitos e separação, para que meninos e
meninas tenham condições de vivenciar juntos uma atividade contra
esses padrões socialmente construídos, além de terem condições
de transformá-los.
Diante destes aspectos educativos, deve-se buscar uma
proposta em que o professor, ao desenvolver o conteúdo de dança,
deverá levar em consideração a criatividade e o conhecimento tanto
dos meninos quanto das meninas, relacionando aspectos de
“tempo, espaço e forma,” para que a dança e a educação possam
estar interligados.
Quando se pensa em “Dança Educação” é necessário
observar a diferença entre a dança produzida na sociedade e a
dança presente nas escolas, enfatizamos que a dança na escola é
diferente, pois não estamos interessados em formar artistas ou
dançarinos, por isso ela deve ser “criativa”, “educativa” e
“expressiva”.
Muitas vezes os professores aca-
bam negando a presença da dança como
conteúdo da educação física, ou seja,
como parte da cultura corporal de
movimento. Ao desenvolver a dança, de
forma criativa, oportuniza-se tanto Figura 4- Pessoas dançando

meninos como meninas a, vivenciarem, experimentarem e


explorarem as variadas formas de movimento para um determinado
ritmo musical, sem que haja preconceito por parte dos meninos e,
em alguns casos, até mesmo das meninas. 4
A dança criativa não tem regras próprias e os alunos e alunas
não têm que se preocupar com o certo ou o errado. Diante deste
aspecto, romper barreiras quanto à sexualidade, pois o trabalho é
desenvolvido de forma co-educativa, sendo que o mesmo
aprenderá o que o seu corpo pode fazer. Envolver aspectos de
energia e força, tomando conhecimento de seu próprio corpo,
dentro do tempo, espaço, forma e ritmo, com objetivo de se
comunicar através do movimento.
O quadro a seguir sugere atividades voltadas para
compreensão e realização da dança criativa.

4
Figura 4-Pessoas dançando www.blogdicas.com.br/.../
Então vamos
começar!

Quadro-3- Sugestões de atividades:


Objetivo: Desenvolver no aluno noções de tempo, espaço e forma,
, envolvendo conhecimento e criatividade.
3- Deslocar pela sala, quando parar a música, reunir os grupos
conforme determinação do professor, cada grupo irá organizar uma fila e
numerar os alunos em ordem crescente.
Ao iniciar a música o aluno número “1” irá executar movimento
relacionado a um dos temas sugeridos no quadro 2 e todos devem
acompanhar, repetir até que todos passem pelo comando do movimento.
4- Organizados em grupos de 5 alunos, mistos, formar uma palavra de
até cinco letras, utilizando seu corpo como letra. Os demais grupos devem
descobrir qual é a palavra.
5- Levar para sala de aula várias figuras de pessoas nas mais
diferentes posições. Em seguida espalhá-lhas pelo chão, os alunos irão se
deslocar pela sala ao ritmo da música. Quando a música parar, cada aluno
deverá se colocar próximo de uma figura e executar a posição que se encontra
na mesma.
5- Deslocando pela sala, ao som da música, o professor irá direcionar a
atividade para que a turma se organize em quatro grupos: o professor deverá:-
identificar com os alunos os elementos da natureza responsáveis pela nossa
sobrevivência; terra, água, sol, ar e solicitar que os mesmos observem no dia
a dia os movimentos destes elementos ( ou outro tema conforme a
organização do professor).
Cada grupo será um elemento e deverá organizar cinco movimentos,
com uma repetição de oito vezes cada. O professor deve conversar com os
alunos sobre os possíveis movimentos de cada elemento, Ex; terra, giros, sol
raios, água e ar movimentos ondulares, os grupos poderão desenvolver a
atividade, usando ou não deslocamentos.
Durante essa atividade o professor deve atuar como orientador,
lembrando aos alunos de explorar todas as partes do corpo, e ainda aspectos
de equilíbrio, intensidade e níveis.
Escolher uma música que o professor tenha percebido que durante as
outras atividades os alunos mais gostaram.Determinar um tempo para a
organização, após a elaboração do trabalho cada grupo fará a apresentação.

Organização das Atividades: As atividades sugeridas acima


apresentam algumas situações que podem ser desenvolvidas durante as
aulas, de uma forma descontraída, onde os alunos organizam-se em grupos
mistos e sempre apresentando o que criaram, facilitando assim sua
expressividade.

Em uma atividade de dança pode-se ou não ser desenvolvido um

trabalho mais longo para uma avaliação final, que é uma sequência

de movimentos que chamamos de coreografia

.Como elaborar uma coreografia

Diante do que os alunos apresentaram nos pequenos grupos será


organizada uma coreografia, ou seja, uma sequência de movimentos mais
longa envolvendo todos os movimentos criados pelos alunos.
1- Dispor os alunos espalhados pela quadra, cada grupo deve ensinar para
os colegas os movimentos que o grupo criou. Essa primeira parte da atividade
deve ser sem música e ainda com várias repetições, até que aconteça a
memorização da sequência de movimentos. Conforme vai acontecendo a
memorização, deve-se revezar os grupos e as atividades: com e sem música.
2- O professor tem agora a função de organizar o trabalho envolvendo os
aspectos que envolvem a dança criativa, espaço, tempo, forma e todos os
seus elementos, tendo o cuidado para que fique uma coreografia dinâmica que
expresse os elementos trabalhados. O professor ao organizar a coreografia
poderá discutir com os alunos e acrescentar os efeitos que todos os elementos
vêm provocando na natureza (enchentes, furacões, terremotos, aquecimento
global, etc). Desta forma, o aluno estará ampliando seu conhecimento, seu
potencial expressivo e criativo. A dança será abordada em sua dimensão
cultural, social e histórica, de modo a ressignificar valores, sentidos e códigos
sociais.

Sugestões de temas para todas as séries

- Natureza
- Meio ambiente; destruição e preservação.
- Corpo Humano
- Figuras geométricas
- Animais
- Dança de Salão (criar figuras)
- Ritmos musicais dos anos de 1960 e 1970
- Lendas Folclóricas
- Esportes
- Ritmos afro-brasileiros
- Materiais; bola, arco, corda, fitas, etc

- Se Ela Dança eu Danço- Direção: Anne Fletcher -Produção: Erik Feig,


Jennifer Gibgot, Adam Shankman, Patrick Wachsberger- Distribuição:Europa
Filmes- 2006
- Honey - Direção: Bille Woodruff - Edição: Mark Helfrich - Produção: Billy
Higgins - Estúdio: Marc Platt Productions - Distribuição: Universal Pictures –
2003
- Vem Dançar – Direção: Liz Friedlander - Edição: Robert Ivison
Produção: Christopher Godsick, Michelle Grace e Diane
Nabatoff - Distribuição: PlayArte - 2006

Número de aulas: O professor deverá definir o número de aulas


para desenvolver as atividades, ou apenas usar as mesmas em
forma de aquecimento para outras atividades.

Materiais: Aparelho de som e músicas nos diversos estilos.

Ao desenvolver uma atividade em dança criativa o professor


deve estar atento ao tema proposto, sempre buscar temas
interdisciplinares e ou relacionados ao cotidiano do aluno, evitar que
os mesmos desenvolvam movimentos de repertórios prontos.
Outro fator importante é a música. A diversificação musical
torna-se importante devendo evitar os modismos impostas pela
mídia. Tem-se, portanto, na música, uma diversidade e variações
de ritmos que devem ser explorados, para que os movimentos
criativos possam fluir num aspecto dinâmico.
Diante da proposta apresentada, meninos e meninas
poderão ser estimulados a dançar, de forma criativa e espontânea
em que os preconceitos sobre a dança, principalmente pelos
meninos, sejam desfeitos no momento em que os mesmos
construam seus movimentos dentro de um espírito espontâneo e
lúdico, de acordo com sua cultura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AUAD,DANIELA. Educar Meninos e Meninas: relações de
gênero na escola: São Paulo. Contexto, 2006.
BREGOLATO, ROSELI APARECIDA. Cultura Corporal da
Dança: v. 1. São Paulo. Ícone, 2000.
COLETIVO DE AUTORES: Metodologia do Ensino da
Educação Física. São Paulo. Cortez,1992.
CUNHA, MORGADA. Danςe Aprendendo Aprenda
Dançado: 2ª edição: Porto Alegre. Sagra-DC Luzzato, 1992.
Dicionário Crítico de Educação Física. Org/ Fernando
Jaime González, Paulo Evaldo Fensterseifer. Ed. Unijui, 2005
FARO, ANTONIO JOSÉ. Pequena História da Dança: 6ª
edição: Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., 2004.
GONCALVES JUNIOR, LUIS ...et al. A Educação Física
escolar e a questão de gênero no Brasil e em Portugal: São
Carlos: EdFSCar, 2005.
LABAN, RUDOLF, Dança Educativa Moderna (tradução
Maria da Conceição Parayba Campos). São Paulo, Ícone, 1990.
LOURO, GUACIRA LOPES. Gênero, Sexualidade e
Educação: uma perspectiva pós-estruturalista: 10ª edição:
Petrópolis, Vozes, 2008.
MARQUES, ISABEL A. Dançando na Escola: 4ª edição: São
Paulo.Cortez, 2007.
NANNI, DIONISIA. Dança Educação – Princípios Métodos e
Técnicas: 4ª edição: Rio de Janeiro. Sprint, 2002.
OSSONA, PAULINA. A Educação pela Dança: tradução de
Norberto Abreu e Silva Neto: São Paulo Summus, 1998.

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