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Juntas de Argamassa
Analysis of Polypropylene Fibers Reinforcement on the Behavior of Mortar Joints
Cícero Thiago Figueiredo de Araújo (Mestrando) (1); Sebastião Coelho Marinho Falcão (Iniciação
Científica) (2); Aline da Silva Ramos Barboza (Orientadora) (3)
(1) Eng°. Civil, Cícero Thiago Figueiredo de Araújo, Universidade Federal de Alagoas - UFAL
email: ctfaraujo@gmail.com
(2) Graduando, Sebastião Coelho Marinho Falcão, Universidade Federal de Alagoas – UFAL
email:sebastiaofalcao@gmail.com
(3) Doutora, Enga. Civil Aline da Silva Ramos Barboza, Universidade Federal de Alagoas - UFAL
email: alramos@ctec.ufal.br
Resumo
Neste trabalho estuda-se o comportamento da ligação entre elementos pré-moldados através de juntas de
argamassa com adição de fibras de polipropileno, avaliando o desempenho das mesmas quando solicitadas
a cargas de compressão. Tal motivação vem em decorrência de que o comportamento de um sistema
estrutural com elementos pré-moldados está intimamente ligado ao desempenho das suas ligações, que
são responsáveis, entre outros, pela distribuição dos esforços na estrutura. Por sua vez, as ligações são
regiões de comportamento complexo, onde ocorrem concentrações de tensões e, portanto, merecem
atenção especial por parte dos pesquisadores e projetistas. O modelo proposto para análise do
comportamento da ligação é composto de dois blocos de concreto armado com dimensões 10x10x20cm,
unidos entre si por uma argamassa de cimento e areia com adição de resíduo oriundo do beneficiamento de
mármore e granito, desenvolvida em laboratório numa dissertação de mestrado, a qual recebeu adição de
fibras de polipropileno. Fez-se uma avaliação numérica do modelo proposto através do programa de
elementos finitos ANSYS 7.1® considerando argamassas com adição de 0 a 20% de fibras de polipropileno
que será posteriormente validado num programa experimental. Pelos dados obtidos numericamente,
constatou-se que o incremento de fibras até a taxa de 3% não aumentava significativamente o desempenho
da junta e, consequentemente, do modelo. Entretanto, observou-se um ganho na capacidade de
deformação horizontal e vertical da mesma, para teores acima de 4%, prorrogando, com isso, o seu
descolamento do modelo, fazendo com que o sistema mantenha por mais tempo sua capacidade resistente,
o que significa um aumento da ductilidade no comportamento da ligação.
Palavras-Chave: fibras, polipropileno, junta, pré-moldado
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 1
1 Introdução
A Construção Civil tem sido considerada uma indústria atrasada quando comparada
a outros ramos industriais. A razão de assim considerá-la é baseada no fato dela
apresentar, de uma maneira geral, baixa produtividade, desperdícios de materiais,
morosidade e baixo controle de qualidade.
Uma das formas de se buscar a redução desse atraso é com o emprego de técnicas
associadas à utilização de elementos pré-moldados. Para os sistemas estruturais, na
parcela relativa às formas e ao cimbramento, normalmente de maior incidência no custo
do concreto armado, a utilização do concreto pré-moldado pode atuar no sentido de
diminuir os custos. A pré-moldagem estaria ainda melhorando as condições de trabalho
na construção civil, que normalmente é considerado sujo, difícil e perigoso (EL DEBS,
2000).
As ligações possuem importância relevante no projeto das estruturas pré-moldadas.
As mesmas interferem tanto na produção (execução de parte dos elementos adjacentes
às ligações, montagem da estrutura e execução das ligações propriamente dita) quanto
no comportamento da estrutura montada. Em geral, as ligações mais simples
normalmente acarretam estruturas mais pobre do ponto de vista do comportamento
estrutural.
CHEFDEBIEN (1996) afirma que o desenvolvimento de modelos, devidamente
calibrados por meios de resultados experimentais, capazes de simular o comportamento
das ligações pré-moldadas, parece ser uma tendência bastante atrativa. Porém, essa é
uma tarefa difícil devido à multiplicidade de interfaces e materiais utilizados. Uma outra
opção é a realização de simulações numéricas através da utilização de programas de
computador baseados no Método dos Elementos Finitos.
Atualmente, existem programas computacionais acadêmicos e comerciais capazes
de simular fenômenos complexos em determinadas circunstâncias, tais como: atrito,
escorregamento, contato, interação, aderência, entre outros. Entretanto ainda existem
dificuldades na elaboração de um modelo capaz de representar de maneira precisa o
comportamento real da ligação entre elementos de concreto pré-moldado pela diversidade
de esforços envolvidos e pelo particular comportamento do concreto (não-linearidade
física), que tem sido motivo de muita pesquisa.
A partir de uma revisão da literatura apresentam observou-se que dentre os diversos
tipos de ligações, a ligação entre elementos pré-moldados intercalando uma junta de
argamassa aparece entre aduelas pré-moldadas de pontes e de torres e ainda como
componente em partes comprimidas de ligações sujeitas à flexão. Um estudo inicial de
juntas de argamassa procurou avaliar os parâmetros de influência desse tipo de ligação e
verificou que a deformabilidade relativa dos dois materiais representava o principal fator
de perda da capacidade resistente do conjunto. Nesse aspecto, este trabalho tem como
objetivo principal avaliar numericamente o comportamento de juntas de elementos pré-
moldados preenchidos com argamassa com adição de fibras de polipropileno, obtendo
informações que possam caracterizar maior ductilidade para a junta pela maior
deformabilidade da argamassa propiciada pela adição das fibras e assim subsidiar um
programa experimental a ser desenvolvido posteriormente visando obter recomendações
práticas de projeto. Trata-se de um trabalho desenvolvido como parte de um programa de
pesquisa em novos materiais, com ênfase também no desenvolvimento sustentável pela
utilização de resíduos na industria da construção civil, uma vez que considera para
preenchimento da junta uma argamassa de cimento e areia com adição de resíduos
oriendos do beneficiamento de rochas ornamentais, e posteriormente será também
analisado o comportamento de fibras obtidas a partir da reciclagem de pneus.
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 2
2 Revisão Bibliográfica
2.1 Juntas de argamassa
a – tensões de cisalhamento devido ao b – distribuição de tensões na junta c – distribuição das tensões nos
módulo de elasticidade ser menor que do devido a ineficiência da argamassa junto elementos pré-moldados mostrado a
concreto as faces externas ocorrência de tensões de tração
poliméricas, uma vez que são baratos, mas apresentam problemas relativos à
ductibilidade, resistência ao impacto e capacidade de absorção de energia por
deformação.
Segundo JOHNSTON (1994), as fibras em uma matriz cimentada podem, em geral,
ter dois efeitos importantes. Primeiro, elas tendem a reforçar o compósito sobre todos os
modos de carregamento que induzem tensões de tração, isto é, retração restringida,
tração direta ou na flexão e cisalhamento, e, secundariamente, elas melhoram a
ductibilidade e a tenacidade de uma matriz frágil.
O desempenho dos compósitos reforçados com fibras é controlado principalmente
pelo teor e pelo comprimento da fibra, pelas propriedades físicas da fibra e da matriz e
pela aderência entre as duas fases (HANNANT, 1994).
JOHNSTON (1994) acrescenta o efeito da orientação e distribuição da fibra na
matriz. A orientação de uma fibra relativa ao plano de ruptura, ou fissura, influencia
fortemente sua habilidade de transmitir cargas. Uma fibra que se posiciona paralela ao
plano de ruptura não tem efeito, enquanto que uma perpendicular tem efeito máximo.
TAYLOR (1994) apresenta os principais parâmetros relacionados com o
desempenho dos materiais compósitos cimentados, assumindo que as variações das
propriedades descritas abaixo são atingidas independentemente:
a – COMPATIBILIDADE b– INCOMPATIBILIDADE
g. Comprimento da Fibra – Quanto menor for o comprimento das fibras, maior será
a possibilidade de elas serem arrancadas. Para uma dada tensão de cisalhamento
superficial aplicada à fibra, esta será mais bem utilizada se o seu comprimento for
suficientemente capaz de permitir que a tensão cisalhante desenvolva uma tensão
de tração igual a sua resistência à tração, conforme visto na Figura 3. Na verdade,
não basta raciocinar tão-somente em cima do comprimento da fibra. Há de se
considerar o seu diâmetro, pois depende dele a capacidade da fibra em
desenvolver as resistências ao cisalhamento e à tração.
3 Análise Numérica
3.1 Modelo numérico
Com o auxílio do software de elementos finitos ANSYS 7.1®, foi modelado todo o
sistema em estudo, que consiste em dois blocos de concreto unidos por uma junta de
argamassa contendo fibras de polipropileno, submetidos a uma carga de compressão.
Procura-se, com isso, simular o comportamento das ligações entre os elementos pré-
moldados e estudar seu desempenho.
Para considerar a não-linearidade dos materiais na simulação, torna-se necessário
adotar critérios de resistência no programa que melhor representem tal fenômeno.
Segundo PROENÇA (1988), o comportamento complexo do concreto e a não
linearidade decorrente da fissuração dificulta uma simulação numérica que reproduza o
desempenho do mesmo ao longo de todo o processo de carregamento. A modelagem
através da Teoria da Plasticidade utilizando hipóteses simplificadoras tem sido um bom
meio para a simulação, levando à resultados satisfatórios.
No programa ANSYS 7.1®, foram definidos o comportamento linear e os não lineares
para o concreto e a argamassa. São eles:
• Linear Isotropic – simula o comportamento elástico dos materiais.
• Drucker-Prager – critério de plastificação independente do tempo
• Concrete – introduz no material capacidade de fissuração e esmagamento.
Restrições no plano
horizontal
Concreto armado
Restrições no plano
horizontal e vertical
10cm
20cm
10cm
2cm
4φ5mm
6cm
20cm
6cm
3φ5mm c. 6cm
No modelo numérico, os nós dos elementos dos blocos foram ligados diretamente
aos da junta. A utilização de elementos de ligação tornaria o modelo demasiado
complexo, uma vez que modelos constitutivos que simulam o atrito entre o bloco de
concreto e a argamassa da junta ainda precisam ser melhor avaliados.
Como a tendência das fibras na junta é de se alinharem na horizontal, devido à
espessura reduzida das mesmas, para simplificação na análise, foi desconsiderada a
disposição vertical das fibras e foi suposto apenas a disposição horizontal. Sendo assim,
no modelo numérico, adotou-se uma decomposição da resultante da direção das fibras
em dois eixos perpendiculares entre si, contidos no plano da junta, cada qual com 50% da
taxa total de fibras.
A argamassa considerada para preenchimento da junta foi produzida em uma
dissertação de mestrado, fazendo uma substituição parcial do agregado miúdo pelo
resíduo oriundo do beneficiamento de rochas ornamentais. O trabalho tinha como objetivo
estudar a viabilidade do uso de tal resíduo como material componente de argamassa
altamente fluida, considerando que o uso de alta dosagem de finos é uma prática para
esses tipos de argamassas. Tal argamassa foi escolhida para que não houvesse grandes
pesrdas de trabalhabilidade com a adição das fibras. Entretanto, os primeiros ensaios
para reprodução da mistura em laboratório, com fibras curtas de polipropileno, indicaram
que para taxas acima de 3% em relação ao volume da argamassa, a produção do
compósito tornou-se bastante difícil. Entretanto, no modelo numérico, as fibras foram
aplicadas à argamassa da junta em taxas que variaram de 0% a 20%, em relação ao
volume da argamassa, para com isso buscar uma extrapolação do desempenho do
sistema e assim obter uma estimativa caso tais índices possam ser alcançados na prática.
Para cada modelo constitutivo aplicado nas simulações, são necessários diversos
parâmetros físicos de entrada. Foi considerada para o concreto uma resistência fc de
35MPa aos 28 dias. Para a argamassa foi adotada uma resistência fm de 25MPa, baseada
nos resultados experimentais obtidos com argamassa de propriedades autoadensáveis
com adição de resíduo de granito. Com isso, chega-se aos valores da Tabela 1, que são
adotados na simulação numérica.
0% 4%
10% 20%
Figura 8 – Deformações horizontais para diferentes teores de fibras obtidos na análise numérica
0% 4%
10% 20%
Figura 9 – Tensões horizontais para diferentes teores de fibras obtidos na análise numérica
A variação do teor de fibras ocasionou uma redução das tensões de tração na
interface da argamassa com os blocos do modelo, o que favorece o desempenho do
sistema, aumentando sua capacidade de absorção de esforços de compressão, pela
redução de fissuras na região da interface argamassa/bloco. Para 0% de fibras, as
tensões de tração obtiveram um valor de 2,17 MPa na interface, contra 0,73 MPa para
20% de fibras, gerando uma redução de 66,05%.
Com o aumento do teor de fibras verifica-se o aumento na capacidade de
deformação horizontal da argamassa, como mostra a Figura 10. Consideando o estado de
confinamento que a mesma está sendo submetida, isso proporciona uma melhoria na sua
rigidez e consequentemente na sua ductibilidade.
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 11
4,40E-04
4,00E-04
3,60E-04
3,20E-04
2,80E-04
Deformação
2,40E-04
2,00E-04
1,60E-04
1,20E-04
8,00E-05
4,00E-05
0,00E+00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
Altura (cm)
Figura 10– Gráfico das deformações horizontais ao longo da altura do modelo, para diferentes taxas
de fibras de polipropileno, na iteração antecessora à ruptura do modelo
4 Conclusões
O modelo numérico comportou-se conforme o descrito na literatura. Tensões de
tração foram observadas na interface, devido à diferença entre os módulos de
elasticidade do concreto dos blocos e a argamassa da junta e o colapso do sistema
ocorreu nesta mesma região, ressaltando a importância deste estudo.
O modelo aponta um ganho de desempenho do sistema com a aplicação gradativa
das fibras. Tal fato torna-se visível devido ao acréscimo da resistência de ruptura, tanto da
argamassa usada na junta quanto do modelo. Além disso, as fibras de polipropileno
proporcionaram um aumento na capacidade de deformação dos elementos, melhorando a
rigidez, retardando o colapso do sistema.
As fibras também foram responsáveis por uma melhor distribuição dos esforços
internos de compressão e tração concentrados na interface do bloco / junta.
Com os resultados obtidos, concluímos que a adição de fibras de polipropileno à
argamassa da junta promove uma melhoria em suas propriedades mecânicas iniciais,
como resistência a compressão e tração, deformabilidade e distribuição de esforços,
trazendo com isso benefícios ao sistema estrutural empregado.
Estudos experimentais estão sendo desenvolvidos em laboratório com o propósito
de validar o comportamento obtido com a utilização do compósito na junta entretanto,
mesmo com o uso de uma argamassa fluida já foi observada uma alta perda de
trabalhabilidade do material. Essa constatação não descarta entretanto o uso do
compósito, pois ainda de caracteriza como uma argamassa de assentamento.
5 Referências Bibliográficas
BUDINSKI, K.G. – Engineering Materials – Properties and Selection. New Jersey: Prentice Hall
International., 5ed, 1996. 653p.
CHEFDEBIEN, A. (1996) – Promotion of the Mechanical Performance of Precast Concrete Skeletal Frames.
In: INTERNATIONAL CONGRESS OF THE PRECAST CONCRETE INDUSTRY, 15. 1996. BIBM:
Proceedings. Paris. France. p.IIIa.7- IIIa.12
EL DEBS, M. K. (2000). Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações. EESC-USP, São Carlos, 2000.
465p.
ILLSTON, J.M. (1994) – Construction Materials – Their Nature and Behaviour – London, 2ed. 518p
TAYLOR, G. D. (1994) – Materials in Construction – London: Longman Scientific and Technical, 2ed, 284p.
6 Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio recebido da FAPEAL, através de financiamento de
projeto de pesquisa, bem como aos técnicos do Laboratório de Estruturas e Materiais nos
ensaios experimentais.