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1 Introdução 3
1.1 Ondas e partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Ondas de Partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.1 Espalhamento de um único elétron . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 Pacotes de ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3.1 Velocidade de grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.4 Incertezas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5 A verdade (pelo menos até agora) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.6 O átomo de Bohr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.7 Quantização de Sommerfeld . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2 Mecânica 34
2.1 Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2 Equações de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2.1 Coordenadas generalizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3 Transformada de Legendre 40
4 Equações de Hamilton 41
4.0.2 Signi…cado físico da Hamiltoniana . . . . . . . . . . . . . 43
4.1 Princípio variacional (opcinal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.1.1 Exemplo: a braquistocrôna. . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.1.2 Equações de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5 Parênteses de Poisson 52
1
6.5 Rigged Hilbert space . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.6 Operadores simétricos, ou hermitianos . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.7 Operadores diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
6.8 Domínio dos operadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
6.9 Operadores auto-adjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
6.10 Operadores lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
9 Ressonância 143
2
1 Introdução
Nesta parte do curso vamos estudar a MQ não relativística. Neste modelo
se considera, por exemplo, uma partícula carregada (um elétron) se movendo
num certo potencial (o núcleo). A estrutura quântica do próprio núcleo não é
muito relevante, mas apenas o potencial (ou o campo) que ele gera. Neste caso,
dizemos que o campo é externo, i.e., o próprio campo não é quantizado. Este
é o setor de uma partícula da mecânica quântica (MQ) não-relativística.
Para a análise de estruturas internas do próprio núcleo esta abordagem é
completamente inadequada. Uma vez que a dinâmica dos processos ocorre em
uma escala relativística e, o que é mais importante, a intensidade dos campos é
su…ciente para criar novas partículas. Destarte, não podemos mais nos limitar
ao setor de uma partícula e precisamos trabalhar no chamado espaço de Fock,
ou, de outra forma, realizarmos a segunda quantização. Onde se considera como
a primeira quantização a quantização canônica (ou de Dirac), ou a associação
de observáveis clássicos com operadores quânticos. Ao estudarmos a segunda
quantização estamos entrando nos domínios da Teoria Quântica de Campos
(TQC). Este será um assunto da última parte deste curso.
Vamos relembrar alguns pontos vistos no curso de quântica e de Física mod-
era.
3
Figure 1: Figura 2 - Retirada de The Feynman Lectures on Physics.
forma bem regular) na superfície da água com uma régua. Isso gerará ondas
planas, com uma certa freqüência (igual ao ritmo da régua), que chegarão até a
parede com os furos. Do outro lado desta parede temos um detector que pode
medir a intensidade da onda que chega, ou seja, ele mede a amplitude (claro que
a amplitude vai variar com o tempo, mas registramos apenas o máximo) que a
água sobe e desce (o que equivale à energia da onda). Estamos interessados, na
verdade, na razão entre a amplitude que sai dos dois furos e a amplitude
que chega até o detector. Imagine também que não há re‡exão nas
paredes do nosso aquário.
Primeiro nós tampamos um dos furos (o 2), movemos o nosso detector em
toda a coordenada x e vemos o que ele registra. Como a onda é circular, para
manter a energia constante, a amplitude deve cair com o raio. Assim, o detector
registrará uma maior intensidade quanto mais próximo ele estiver do furo 1. Um
grá…co desta intensidade teria a forma I1 (x) da …gura 2-b. Se repetirmos agora
o experimento com apenas a fenda 2 aberta, o detector irá registrar a intensidade
I2 mostrada na …gura 2-b.
O que ocorre então quando os dois furos estão abertos? Neste caso a dis-
tribuição da intensidade não é tão simples. Como as duas ondas circulares
são produzidas em pontos diferentes haverá certos pontos onde a crista
de uma onda encontrará a crista da outra, se intensi…cando, e outros onde a
crista de uma encontrará o vale da outra, se anulando. Mais especi…camente,
qualquer ponto cuja diferença da distância entre os furos seja um múlti-
4
plo inteiro do comprimento de onda a combinação, ou a interferência,
será máxima. Para pontos onde esta diferença tenha um valor semi-inteiro
do comprimento de onda esta interferência será completamente destrutiva.
Com isso, a intensidade registrada pelo detector será como a I12 (x) mostrada
na …gura 2-c.
Vamos dar ao processo acima uma descrição mais precisa. Ao tamparmos
o furo 2 e colocarmos o detector num certo ponto x a amplitude da onda varia
com o tempo como a parte real da quantidade
A1 = h1 exp (i!t) ; h1 2 C :
A quantidade h1 é complexa para levar em conta todas as diferentes fases da
oscilação em diferentes pontos do espaço. Toda a dependência na posição
está nesta fase h1 = h1 (x), ou seja, em pontos diferentes a onda oscila com
a mesma freqüência, mas com fase diferente. Pontos a mesma distância do
furo estão em fase. Em especial, para diferentes valores de x a onda terá fase
diferente, pois a onda é circular e estes pontos estão em raios diferentes
h1 = jh1 j exp (i 1 ) ; 1 = 1 (x) :
Nesta descrição, a intensidade da onda registrada pelo detector quando o furo
2 está tampado é proporcional (não é igual, porque estamos dividindo pela
intensidade total dos furos, h1 = h1 (r)) a
2 2
I1 / jA1 j = jh1 j :
O mesmo valendo para o experimento com o furo 1 tampado
A2 = h2 exp (i!t) ; h2 2 C ;
2 2
I2 / jA2 j = jh2 j :
Quando os dois furos estão abertos a intensidade, no mesmo ponto x acima,
será proporcional a
2 2 2
I12 / jA1 + A2 j = jh1 exp (i!t) + h2 exp (i!t)j = j(h1 + h2 )j
2 2
/ jh1 j + jh2 j + 2 jh1 j jh2 j cos
= (x) = 1 (x) 2 (x)
Ou seja, toda a oscilação da amplitude I12 esta na fase das quantidades com-
plexas h1 e h2 .
Se chamarmos de A a intensidade total que sai dos dois furos, podemos
escrever:
1 2 2
I12 (x) = jh1 j + jh2 j + 2 jh1 j jh2 j cos :
A
Remark 1 É importante deixar claro que, nesta descrição, a onda que sai de
um furo interfere com a onda que sai do outro furo. Ou seja, quando falamos
em interferência queremos dizer sempre a interferência entre, no mínimo, duas
coisas.
5
Figure 2: Figura 3 - Retirada de The Feynman Lectures on Physics.
Neste caso, devemos esperar que as balas se espalhem como a soma destas
intensidade
I12 (x) = I1 (x) + I2 (x) :
O que nos dá o valor de I12 mostrado na …gura. Ou seja,
6
Remark 3 para partículas não observamos os efeitos de interferência apresen-
tado pelas ondas.
Temos agora uma questão no mínimo curiosa:
1. É sabido desde tempos remotos que a luz apresenta o fenômeno de interfer-
ência. Quando a luz passa por um experimento de duas fendas observamos
as …guras de interferência descritas na experiência do aquário.
2. A teoria de Einstein dos fótons, bem como os dados experimentais do
espalhamento Compton e do efeito fotoelétrico, nos mostram que a radi-
ação é composta por quantidades bem localizadas no espaço, ou seja, se
comporta como partículas.
Mas, como deve ter …cado claro, ondas e partículas são coisas diferentes e
devem se comportar de forma diferente.
Este comportamento bizarro da luz de, para certos experimentos, se com-
portar como onda e, para outros, se comportar como partícula, foi chamado
de dualidade onda-partícula. Como veremos, este estranho efeito é a chave da
mecânica quântica.
7
Problem 4 O que signi…ca exatamente “ter associado uma onda”?
8
Mais ainda, é possível colocar detectores para saber por qual fenda o elétron
passou. Ao colocarmos estes detectores, podemos garantir que o elétron passou
apenas por uma das fendas (i.e., diferente das ondas, não detectamos uma parte
dos elétrons em cada fenda). Mas, sempre que colocamos estes detectores (e
podemos com isso garantir que o elétron é uma partícula) a …gura de interfer-
ência desaparece e passamos a observar uma intensidade (1) igual a das balas
da metralhadora.
Por que o elétron muda o seu comportamento dependendo da nossa obser-
vação?
Discussões deste tipo estarão presentes em todo o nosso curso.
Uma vez que a hipótese acima uni…ca o comportamento de todas as entidades
na natureza, podemos agora descrever de forma, num certo sentido, equivalente
o nosso experimento com ondas e com balas, i.e., partículas. Ou seja, tanto
as ondas como as partículas possuem uma onda associada que descreve o seu
comportamento. Mas como descrever então as duas …guras de intensidade difer-
ente? Imagine então um emissor (uma metralhadora) que atira partículas (e.g.,
elétrons) ou fótons com comprimento de onda e freqüência
h E
= ; =
p h
Ambos são agora descritos por como uma onda que vamos supor na forma
A = h exp (i!t) ; h 2 C
lembrando que a fase de h, que depende de é diferente em cada ponto do
espaço, = (x). Quando esta onda atinge os dois furos temos o comportamento
peculiar às ondas de gerarem duas novas ondas em cada furo (como descrito no
caso das ondas no aquário)
A1 = h1 exp (i!t) ; h1 2 C
A2 = h2 exp (i!t) ; h2 2 C
onde, por terem a sua fonte em pontos distintos, cada hi possui uma fase i
diferente. Onde chamamos de hi a amplitude da onda i. Separamos a nossa
onda desta forma porque estamos interessados no seu comportamento num de-
terminado ponto x. Isto é um comportamento ondulatório, i.e., ao assumirmos
que uma quantidade se comporta como uma onda, estamos dizendo que este
comportamento existe. Entretanto você não deve pensar que o elétron
se dividiu em dois, cada um representando uma das ondas do furo,
nem que ele passou pelos dois furos. A interpretação do que signi…ca esta
divisão da onda em duas é um problema central em mecânica quântica. Como
veremos, a interpretação deste efeito é o que separa a chamada antiga da nova
mecânica quântica. Mas voltemos para as nossas ondas.
(Soma das intensidades)
A intensidade de cada onda no ponto x, quando um dos furos está tam-
pado, é proporcional a
2
Ii / jhi j
9
(lembre que Ii tinha a mesma forma para ondas e balas). Agora, supondo
que, ao …m da experiência, você observou uma …gura de interferência, i.e., você
observou I12 da …gura 2, isso signi…ca que a intensidade …nal é proporcional à
2
I12 / jh1 + h2 j (3)
Suponha agora que, por alguma razão, você não observou uma …gura de interfer-
ência, i.e., você observou uma intensidade I12 como a da …gura 3, isso signi…ca
que esta intensidade é proporcional a soma das intensidades:
2 2
I12 / jh1 j + jh2 j
Assim, a mesma descrição permite obter os dois tipos de comporta-
mento. Ou seja:
1. quando as entidades se comportam como ondas a intensidade …nal é o
módulo quadrado da soma das amplitudes (quantidades complexas),
2. mas quando se comporta como partículas, a intensidade …nal é a
soma dos módulos quadrados das intensidades.
A razão da nossa entidade se comportar de uma ou outra forma está rela-
cionado com uma série de características do experimento, e.g., o diâmetro e a
separação dos furos em relação ao comprimento de onda. Além das possíveis
interferências que possamos causar no sistema (ou outros mistérios que surgirão
com a interpretação da nova MQ). Os detalhes de quando devemos esperar um
ou outro comportamento serão discutidos nas seções seguintes.
10
Remark 6 Observe que não importa quando cada cientista realize o experi-
mento, tudo que importa é que todos sejam iguais.
Imagine agora que cada cientista colocou um detector para saber, por qual
fenda o elétron passou. Neste caso, como seria de se esperar, não teremos
nenhuma …gura de interferência. Ou seja, a medida interferiu no sistema e
destruiu a …gura de interferência.
Imagine agora que todos …zeram o experimento sem trapacear (sem tentar
detectar o elétron). Mas uma parte deles (digamos uns 60%) não nos enviou os
dados. O que acontece com a …gura neste caso? Neste caso teremos uma menor
intensidade no número de elétrons detectado em cada ponto, mas, mesmo assim,
continuaríamos observando a …gura de interferência. Podemos ainda imaginar
que, depois de digitados os dados no computador, um problema no HD nos fez
perder 60% dos dados. Plotando os dados que não se perderam ainda temos a
nossa …gura.
Remark 7 Ou seja, podemos jogar fora uma boa parte dos nossos dados sem
comprometer em nada a …gura.
11
Figure 3: Figura 4
12
Figure 4: Figura 5
1 1
(x; t) = 2 cos ( !t kx) sin (kx !t) + ( kx !t) :
2 2
1 x ! d
( !t kx) = 0 =) = =2 =g
2 t k dk
usando
2
k= ; !=2 ;
13
usando a hipótese de De Broglie
2 h E
= = ; = :
k p h
temos
d dE
g=2 =
dk dp
Usando agora a relação relativística
2 2
E2 (pc) = mc2 ) 2E dE = c2 2p dp
temos
p
g = c2
:
E
Usando as expressões da energia e do momento relativístico
mc2 m
E = c:p0 = q ; p = pi = m i
=q ui
u2 u2
1 c2 1 c2
g=u
Assim, uma quantidade localizada no espaço (uma partícula) pode ser vista
como um pacote de ondas se movendo com a velocidade de grupo (mas esta
interpretação será alterada no futuro).
Mas se a nossa “partícula” é formada por uma in…nidade de ondas com
freqüências e comprimentos de número de onda diferentes e sabemos que
h h
p= = k ; E=h :
2
Problem 10 Qual é a…nal o momento e a energia da nossa onda (ou
da partícula associada)?
14
1.4 Incertezas
Voltando então ao problema dos nossos pacotes de onda, resta-nos entender
como as várias freqüências e comprimentos de onda presentes no pacote se rela-
cionam com o momento e a energia da partícula. Um resultado muito conhecido
em problemas envolvendo pacotes de onda é que o pacote não possui um
comprimento de onda de…nido, mas sim todo um range de comprimentos
que varia de a + (ou k a k + k). Da mesma forma, usando a relação
de de Broglie
h h
p= = k;
2
podemos a…rmar que a partícula associada ao pacote não possui um momento
determinado, mas que seu momento está dentro do range entre
p e p+ p
15
O mesmo ocorre com a manifestação da posição do comportamento corpus-
cular da entidade. Um pacote de onda, como o da …gura 5, se estende por uma
região do espaço geralmente muito maior que as dimensões da partícula a ele
associada. Dizemos então que, quando este pacote colapsar, o caráter corpuscu-
lar da partícula poderá se manifestar em toda a região x. Ou ainda, a posição
da partícula possui uma incerteza x.
Assim, a toda a entidade está associada um pacote de onda, que, ao ser ob-
servado, irá colapsar numa partícula. Antes deste colapso, a partícula associada
ao pacote possui uma incerteza x em sua posição e p em seu momento.
Se usarmos o exemplo simples do nosso pacote de duas ondas senoidais
1 1
(x; t) = 2 cos ( !t kx) sin (kx !t) + ( kx !t) ;
2 2
x = x2 x1 = =) x k= :
k
Este resultado pode ser generalizado para um conjunto de in…nitas ondas for-
mando um pacote verdadeiramente concentrado. Utilizando resultados obti-
dos com as desigualdades das transformadas de Fourie (uma conseqüência do
chamado teorema de Plancherel ) é possível obter a desigualdade
1
x k
2
Não vamos nos preocupar aqui com este desenvolvimento matemático, pois no
futuro obteremos o mesmo resultado através de argumentos mais simples e, num
certo sentido, mais gerais.
Usando agora a relação de de Broglie
h 2
p= k =) k= p
2 h
temos
1 h ~ h
x p =) x p ; ~=
22 2 2
com ~ (agá-barra) uma constante introduzida por Dirac. Este resultado repre-
senta um caso particular de um desenvolvimento (devido a Dirac) que veremos
no futuro e é conhecido como relação de incerteza de Heisenberg.
16
Em especial, observe que se não há incerteza no número de onda, nossa
partícula é descrita apenas por uma única onda que, conseqüentemente, estará
espalhada em todo o espaço. Ou seja, uma partícula de momento bem de…nido
tem a incerteza na posição in…nita.
Relações semelhantes podem ser derivadas quanto estudamos o range de
freqüências do pacote. Neste caso temos uma relação entre o tempo e a energia
do sistema:
~
E t
2
Exercise 11 Usando
1
t !
2
obtenha a relação acima.
Esta relação é um pouco mais difícil de ser interpretada e, por isso, voltare-
mos a ela apenas quando estudarmos alguns exemplos concretos. Uma analogia
(talvez) útil seria a a…nação de um instrumento musical. A soma de duas fre-
qüências próximas produz o efeito de batimento, ou seja, se duas freqüências
muito próximas são tocadas juntas ouvimos uma variação na intensidade do
som. Quanto mais as freqüências se aproximam maior o intervalo entre os picos
desta variação. Isso é usado para a…nar um instrumento com uma freqüência
padrão. Quando o tempo é longo, o instrumento está a…nado. Entretanto, para
garantir que a freqüência seja exatamente a desejada, precisaríamos garantir que
o tempo do batimento é in…nito. Neste sentido, quanto maior a incerteza
na energia de um sistema, por exemplo entre dois níveis de energia,
maior será a instabilidade do sistema e, para garantirmos que o sistema
está num nível de energia bem de…nido, teríamos de veri…car que jamais haverá
transição entre os dois níveis.
A relação acima representa uma das maiores diferença entre a mecânica
quântica e toda a física anterior. Estes conceitos de incertezas em quantidades
físicas já eram utilizados em várias teorias anteriores, como, por exemplo, a
mecânica estatística. Mas, neste caso, a incapacidade de se observar com pre-
cisão as características do sistema estavam relacionadas com alguma limitação
prática. Por exemplo, em mecânica estatística o grande número de constitu-
intes dos sistemas físicos torna impraticável a aplicação da mecânica clássica
como o desenvolvimento de cada ente. Assim, estas teorias trabalham com mé-
dias sujeitas a desvios. Entretanto, o caráter da incerteza da MQ é inerente a
própria teoria. Ou seja, não é possível se determinar com precisão ab-
soluta a posição e o momento de qualquer entidade física. Conseqüen-
temente, não apenas estes valores, mas toda a evolução temporal da entidade
(que na mecânica é uma conseqüência da posição e momento) possuirá também
uma incerteza. Não sabemos o estado …nal de nenhum sistema, mas apenas
intervalos de valores onde ele pode se encontrar. Este comportamento pode
ter duas interpretações. Na primeira o sistema possui um valor bem de…nido
de posição e momento, mas não nos é permitido conhecer estes valores (como
se estes valores estivessem “escondidos” no sistema). Neste caso é como se a
17
partícula existisse, mas não fossemos capazes de olhar para ela. Na segunda,
estes valores realmente não existem bem de…nidos em nenhuma entidade física,
até o momento em que esta é observada. Neste caso, é como se a partícula
realmente não existisse enquanto não olhamos para ela.
A defesa dos pontos de vista acima (ou de algo parecido com eles) gerou
uma verdadeira ruptura entre os defensores e fundadores da MQ. Einstein, um
grande defensor do primeiro ponto de vista chegou a dizer coisas como “então
a lua não está lá quando eu não estou olhando pra ela”. Um ponto ainda
mais importante sobre estes dois pontos de vista é que, a primeira vista, eles
podem parecer apenas diferenças …losó…cas. Entretanto, em 1964, John Stewart
Bell apresentou meios quantitativos que permitiriam, através de experimentos,
veri…car qual destes pontos de vista correspondia com o comportamento da
natureza. Mas isso é uma outra história...
18
resultados foram obtidos a partir do modelo atômico de Bohr (1913), e do
desenvolvimento de duas formulações independentes de como este novo conceito
de “ondas de matéria” deve ser aplicado. Estas formulações foram propostas
por Schrödinger, em 1926, e a outra por Heisenberg, em 1927. Mas todos
estes resultados e formulações não foram su…cientes para elucidar o mistério do
signi…cado físico da função de onda.
As relações de incerteza de Heisenberg, apresentadas em 1925, per-
mitiram quanti…car quando deveríamos esperar um comportamento ondulatório
ou corpuscular das entidades físicas. Se a incerteza na posição x é pequena, a
entidade estará localizada no espaço e se comportará como um corpúsculo. Já
quando a incerteza no momento p é pequena, a entidade não estará localizada
no espaço e se comportará como uma onda. Entretanto, estas relações não ex-
plicavam porque, por maior que fosse a incerteza na posição, a entidade
sempre era detectada numa região. Ou seja, qual o mecanismo do
colapso da função?
As idéias de Niels Bohr e Heisenberg sobre as incertezas inerentes nos proces-
sos de detecção das partículas (quando falamos partículas, estamos dizendo qual-
quer coisa) remetem naturalmente as idéias de medida de posição e velocidade
da mecânica estatística e, naturalmente, a idéia de probabilidades. Mas foi ape-
nas em 1927 que Max Born apresentou o que é considerado hoje a correta
interpretação da função de onda. O postulado de Born a…rma que:
19
de Copenhague. Só é importante ter em mente que uma boa parte do desen-
volvimento a seguir foi feito antes desta interpretação. Mas, mesmo que seus
criadores não tivessem esta interpretação em mente (ou mesmo não a aceitassem
posteriormente), tudo se torna bem mais fácil de entender se, desde já, seguirmos
as idéias de Born.
20
1.6 O átomo de Bohr
Por que os átomos (em especial o átomo de hidrogênio) emitem radiações apenas
em freqüências com intervalos bem de…nidos? E por que o elétron não colapsa
no núcleo átomico?
O problema acima foi resolvido por um modelo proposto por Bohr em 1913,
através dos seguintes postulados:
2 p = nh ; n 2 N :
Uma boa motivação para estes postulados foi apresentada por de Broglie em
1924??, usando a sua própria hipótese de ondas. O elétron pode ser descrito
por uma onda. Se ele está numa orbita onde a sua energia está bem de…nida
(pois sabemos exatamente a energia que ele emite ao sair desta órbita), então
a sua função de onda deve ser uma onda de freqüência bem de…nida e não um
pacote. Esta onda de comprimento bem de…nido está distribuída por
todo o percurso acessível ao elétron. Com isso, pela hipótese de uma órbita
circular de raio r, no perímetro da circunferência deve caber um número inteiro
do comprimento de onda
2 r=n
Usando a relação
h
= ;
p
temos
2 rp = nh ;
onde rp é o momento angular do elétron
p = rp
Com isso, sendo a força coulombiana uma força central (que preserva o momento
angular), podemos escrever
I I I
2 rp = pr d = prd = p d = nh ;
21
Figure 5: Órbita de Bohr e a onda de de Broglie para n = 4. Figura retirada
do Libo¤.
e2 p2 p2
= =) r = : (4)
r2 mr3 e2 m
Usando a primeira hipótese de Bohr
I
p d = nh =) 2 p = nh =) p = n~
temos
n2 ~ 2 ~2
rn = 2
= n2 a0 ; a0 =
e m me2
22
Onde a0 ( 0,53 Å) é chamado raio de Bohr e corresponde ao primeiro raio
permitido do modelo. A energia do elétron numa dada órbita é a soma de sua
energia cinética e potencial:
1 e2 p2 e2
E= mv 2 =
2 r 2mr2 r
usando (4)
e2 p2 p2 p2 p2
= 2
=) E = 2
=
r mr 2mr mr2 2mr2
Usando agora o valor de rn e a hipótese de Bohr
2
n2 ~ 2 1 ~2 1
En = =
2m n a0 2 2ma20 n2
R1 ~2
= ; R1 =
n2 2ma20
o valor negativo apenas indica que a força é de ligação. Ou seja, o elétron tem
energia zero no in…nito e, quanto mais perto do núcleo, mais ligado (i.e., mais
estável) e menor a sua energia. O rótulo n, que caracteriza o nível de energia,
é chamado de número quântico principal.
O resultado acima nos permite calcular a energia de transição entre dois
níveis de energia
1 1
h n!m = Em En = R1 = En!m :
m2 n2
Tudo que precisamos agora é comprara este resultado com o experimental, i.e.,
com a séries de Balmer e Lyman. Primeiro vamos esquecer a constante e escr-
ever:
1 1
En!m / 2
n m2
com n = 1 para a série de Lyman (??) e n = 2 para a série de Balmer (??). Em
outras palavras, se o modelo de Bohr está correto, a série de Lyman representa
transições dos níveis excitados para o nível de menor energia (nível fundamen-
tal), enquanto a série de Balmer representa as transições dos níveis mais excita-
dos para o primeiro nível excitado. Isso é fácil de entender. Como as medidas
de Balmer se referem a espectro estelar, ou outros corpos em alta temperatura,
o menor nível que o átomo de hidrogênio pode atingir neste ambiente (por estar
em equilíbrio térmico) é o primeiro estado excitado. Caso ele tente ir para o
estado fundamental, o próprio meio fornecerá energia para que ele se excite.
Já os resultados de Lyman se referem a gases a temperatura ambiente, onde o
nível do primeiro estado excitado (como veremos) é muito maior que a energia
térmica do meio, de sorte que os átomos podem perfeitamente se encontrar no
estado fundamental.
O grande sucesso do modelo de Bohr para explicar e prever o comportamento
atômico foi um grande triunfo para a MQ. Uma vez que este modelo estava
23
Figure 6: Figura retirada do Eisberg.
24
1.7 Quantização de Sommerfeld
A teoria quântica estava sendo criada, então a idéia (que não é muito diferente
da de hoje) seria procurar as características peculiares desta teoria para um
caso especí…ca e generalizar para todos os casos. Como fez de Broglie com a
dualidade onda-partícula do fóton.
A solução de Planck para o corpo negro corresponde a uma quantização
nos níveis de energia (ou das amplitudes de oscilações) do oscilador harmônico.
Enquanto a quantização de Bohr do átomo de hidrogênio corresponde a uma
quantização do momento angular (ou das órbitas) do elétron no átomo. Existe
alguma relação entre estes dois processos?
Perceba que para obter os níveis de energia e os raios das órbitas de Bohr,
partimos do modelo clássico, cuja energia é dada por
1 e2 p2 e2
E= mv 2 = :
2 r 2mr2 r
E impusemos que estes níveis são discretizados segundo a regra:
p = n~ :
25
Uma grande vantagem no uso das equações de Hamilton e das coordenadas
generalizadas é que as equações para cada coordenada têm a mesma forma inde-
pendente do sistema de coordenada escolhido. Isso não acontece, por exemplo,
na equação de Newton. Para coordenadas cartesianas, as equações do movi-
mento são:
dxi
Fi = m =) Fx = m• x ; Fy = m•
y
dt
Já se usarmos coordenadas polares
x1 = r cos ; x2 = r sin ;
^ = y^ cos x
^ sin ;
r^ = x cos + y^ sin ;
r + mr _2 ; F = mr • + 2mr_ _ :
Fr = m•
p = rp = rmv = r2 m _
pr = mvr = mr_
podemos escrever
p2 p2r
K= +
2mr2 2m
assim, a energia total do sistema e, conseqüentemente, a hamiltoniana, tem a
forma
p2 p2r
H= + + U (r; )
2mr2 2m
De onde temos as equações de Hamilton:
@H @U @H @U p2
p_ = = ; p_r = =
@ @ @r @r mr3
_ = @H = p ; r_ = @H = pr
@p mr2 @p2 m
Para obter, por exemplo, a equação para r, podemos derivar a última das
equações acima com relação ao tempo
p_r
r• =
m
26
E usar a equação para p_r :
@U p2
m•
r = p_r =
@r mr3
usando a expressão para o momento angular, p = r2 m _, temos
@U
r + rm _2 =
m• = Fr :
@r
e o mesmo procedimento pode ser usado para obter F = @U=@ .
Vejamos como …ca a descrição do oscilador harmônico na mecânica de Hamil-
ton. Para um oscilador harmônico
1 1 p2
E= mv 2 + kx2 =) H (q; p) = + kx2
2 2 2m
Assim, as equações de Hamilton têm a forma
@H
p_ = = kx ;
@x
@H p
x_ = =
@p m
Derivando a segunda equação do relação ao tempo e usando a primeira temos
p_ kx
x
•= =) x
•= =) m•
x + kx = 0 ;
m m
que é conhecida equação do oscilador harmônico.
Como toda a informação esta contida na hamiltoniana e esta depende apenas
das posições e momentos, podemos descrever a evolução do sistema através de
uma curva no plano p q, chamado espaço de fase.
Por exemplo, no caso do OH, para uma dada energia (i.e., um valor …xo de
H) temos
p2 1
E= + m! 2 x2
2m 2
ou seja, as trajetórias formam uma …gura fechada, neste caso, mais es-
peci…camente, uma elipse. Isso acontece porque a coordenada x é periódica.
Assim, para qualquer coordenada periódica, a trajetória no espaço
de fase forma uma …gura fechada. Por ser fechada, esta …gura certamente
encerra uma área.
Classicamente esta área pode assumir qualquer valor, mas, se a energia só
puder assumir valores discretos, conseqüentemente esta área também só poderá
assumir valores discretos. Assim, ao quantizar os níveis de energia do OH,
automaticamente quantizamos as áreas das trajetórias do oscilador no espaço
de fase.
Esta idéia está diretamente relacionada com ás relações de incerteza pois,
enquanto classicamente os estados das partículas são pontos, quanticamente
devem ser áreas com valores
~
q p :
2
27
Ou seja, a relação de incerteza implica que as órbitas de um oscilador, ou
de qualquer outra variável periódica, não pode ter uma área menor que
q p ~=2. Em especial:
28
A regra de quantização de Sommerfeld, ou a regra de quantização da velha
MQ, é uma generalização dos resultados acima. Esta regra impõe que:
p2 1
H (p; x) = + m! 2 x2 = E
2m 2
Como a energia do sistema se conserva, para uma dada energia (amplitude de
oscilação), podemos escrever
s
1
p = 2m E m! 2 x2
2
29
usando
1
cos2 a = (cos (2a) + 1)
2
temos
I Z 2 Z 2
E
p dx = cos (2 ) d + 1d
! 0 0
E E
=2 = :
!
Usando a regra e quantização de Sommerfeld
I
E
p dx = = nh ) En = nh
30
E temos agora dois momentos, um conjugado a variável angular (momento an-
gular)
p
p = rp = rmv = r2 m _ =) _ = 2 ;
r m
e outro conjugado a variável radial (momento linear radial)
pr
pr = mvr = mr_ =) r_ = :
m
Com estes momentos a energia cinética pode ser escrita como
p2 p2
K= 2
+ r
2mr 2m
E, mais uma vez como o sistema é conservativo, a hamiltoniana é a energia total
do sistema:
p2 p2 e2
H (pr ; p ; ; r) = 2
+ r =E (5)
2mr 2m r
Antes de tudo, note que a variável radial também é periódica r 2 [a; b].
Temos agora duas variáveis periódicas e, conseqüentemente, dois números
quânticos
I I
p d = n h ; pr dr = nr h :
a = b =) nr = 0
31
ou seja
nr 2 N ; n 2 N :
De…nindo
n nr + n
podemos escrever
n2 ~ 2 n Z 2 e4 1
a= ; b=a ; En =
Ze2 n 2~2 n2
Nosso problema tem dois números quânticos. Com a energia depende apenas de
n, continuamos usando este número e chamado de número quântico principal.
Além disso, temos agora o número quântico azimutal n .
(Degenerescência)
O ponto novo nesta descrição é o surgimento de estados de energia degener-
ados, i.e., estado diferentes com o mesmo valor de energia. Por exemplo,
para o primeiro estado excitado devemos ter n = 2. Mas isso pode ser obtido
tanto fazendo
nr = 0; n = 2;
numa orbita circular, ou
nr = 1; n = 1:
numa órbita elíptica. Estes dois níveis são diferentes (estados, ou con…gurações,
diferentes para o elétron), mas representam elétrons com a mesma energia. Ou
seja, agora especi…car o estado de energia do elétron não é su…ciente para saber-
mos em que estado ele está. Para isso, devemos dar nr e n , ou n e n .
Da mesma forma, para n = 3 podemos ter
n = 3 =) nr = 0
n = 2 =) nr = 1
n = 1 =) nr = 2
32
De forma geral, para um dado nível de energia n temos n estados degenerados.
Para os químicos, os níveis com nr = 0 (maior n ) é chamado de s (sharp),
o nível nr = 1 é chamado de p (principal ). O procedimento segue este esquema
com a nomenclatura d para nr = 1 (sharp, principal, di¤ use, e fundamental, o
restante sendo nomeado em ordem alfabética). Um nível é nomeado pelo valor
de n e nr , ou seja, o estado fundamental (único) é chamado 1s (n = 1; nr = 0
ou n = 1; n = 1). Já para o primeiro estado excitado, temos dois estados 2s e
2p, e assim segue
1s
2s 2p
3s 3p 3d
..
.
Esta divisão dos níveis (dependendo da excentricidade da órbita) está rela-
cionada com a estrutura …na do átomo de hidrogênio.
Como dissemos acima, todos os níveis com mesmo n possuem a mesma
energia. Mas as linhas espectrais observadas se referem a freqüências diferentes
e, conseqüentemente, a diferentes energias.
Exercise 15 Então como estes estados de mesma energia podem gerar tran-
sições com diferentes energias?
O ponto observado por Sommerfeld é que todo o tratamento usado até aqui
é clássico e não leva em conta os efeitos da Teoria da Relatividade. Ao se mover
no campo puramente elétrico gerado pelo núcleo, o elétron, em seu referencial,
enxerga um campo magnético e este campo faz com que órbitas circulares e elíp-
ticas tenham uma energia diferente. Este efeito pode ser acentuada colocando-se
o átomo num campo magnético externo. O resultado obtido por Sommerfeld
usando a mecânica relativística foi
Z 2 e4 2
1 3
En;n = 2 2
1 + Z2 ;
2~ n n n 4n
onde ' 1=137 é a chamada constante de estrutura …na. Voltaremos a falar
sobre isso (com detalhes) no tratamento do átomo de hidrogênio no …nal deste
curso. Mas agora já sabemos que os níveis de energia do átomo de hidrogênio
possuem a estrutura da …gura abaixo.
O modelo de Sommerfeld, apesar de explicar adequadamente os níveis de
energia tomando em conta a estrutura …na, ainda não é su…ciente para explicar
outras observações. Medidas ainda mais precisas mostram que mesmo os níveis
descritos acima possuem uma separação em outros níveis. Esta nova diferença,
muito menor que a anterior, é chamada de estrutura hiper…na do átomo de
hidrogênio. Esta estrutura não aparece no nosso modelo porque ele ainda é
muito simpli…cado. O elétron, além de massa e carga, possui também uma
característica interna chamada spin. Para dar conta da estrutura hiper…na,
precisamos incluir esta característica no nosso modelo.
33
2 Mecânica
Como vimos no caso da quantização de Sommerfeld, a descrição da Mecânica
Clássica (MC) adequada para se introduzir um processo de quantização não é
a formulação de Newton. Isso é verdade em geral. Tanto para os processos
da velha mecânica quântica, quanto da nova até a sua evolução relativística (a
Teoria Quântica de Campos). Um primeiro ponto que podemos salientar é que,
tendo como base uma descrição ondulatória, as equações envolvidas no processo
de descrição quântica devem, assim como a equação de onda, envolver derivadas
parciais. Enquanto a mecânica de Newton envolve derivadas totais. Além disso,
como veremos a seguir, existe uma semelhança muito grande (notada bem antes
do advento da MQ) entre estas outras descrições da MC (Hamilton, Lagrange
etc) e a descrição das características da luz na óptica geométrica. De uma
forma geral, não só nesta parte do curso como na segunda parte (Moderna II) é
impossível apreciar o processo de surgimento e evolução da MQ sem um conhec-
imento (ainda que enciclopédico) da descrição clássica da Mecânica Analítica.
Destarte, dedicaremos algum tempo para ganharmos uma certa familiaridade
com os termos e expressões envolvidos na Mecânica Analítica.
2.1 Preliminar
Se f = f (a; b) é uma função de duas variáveis a; b então
@f @f
df = da + db
@a @b
e, da mesma forma, se
34
não importando de quais variáveis depende g e h. Pois, independente desta
variáveis, a função f só varia quando alteramos a e b.
Se
@f @f
df = g:da + h:db =) g = ; h=
@a @b
com isso
@L @T @L @U
= ; =
@ x_ i @ x_ i @xi @xi
2 Em coordenadas polares, por exemplo, a energia cinética
1
T = r_ 2 + r_ 2 _2 ;
m
depende da coordenada 6 r.
35
Substituindo em (8) temos
d @L @L
=0
dt @ x_ i @xi
A função L é chamada de lagrangiana do sistema e as (3) equações acima as
equações de Lagrange.
36
ou ainda
• + g sin = 0 :
R
Que é precisamente a equação que seria obtida a partir da equação de Newton
e o laborioso processo descrito acima.
Este resultado pode ser provado de forma geral usando uma transformação
geral de coordenadas.
Para veri…car isso imaginamos uma transformação qualquer (inversível) das
coordenadas (também chamado transformação de ponto)
xi = xi (q; t) ; qi = qi (x; t)
1. Calculando
dqj @qj dxi @qj dx_ i @qj @qj @qj
q_j = = + + = x_ i +
dt @xi dt @ x_ i dt @tj @xi @t
vemos que
dqj @qj @qj
q_j = = x_ i + (9)
dt @xi @t
2. Lembrando agora que
@qj @qj
qi = qi (x; t) =) = fij (x; t) ; = gi (x; t)
@xi @t
podemos escrever4
q_j = fij x_ i + gi
3 Na verdade, a função
L (x; x;
_ t)
não é a mesma função das coordenadas L (q; q;
_ t), ou seja, se formos rigorósos devemos esvrece
~ (q; q;
L _ t). Mas podemos esquecer o til lembrando que estamos usando a de…nição de que a
lagrangiana é uma função escalar das coordenadas. Seu valor num determinado ponto físico
não se altera por uma mudança das coordenadas.
4 Lembre que se
qi = qi (q; t) ;
temos
d
qi = fi (q; q;
_ t) ;
dt
mas
@qi
= fi (q; t) :
@t
37
e calcular
@ q_j @fij @ x_ i @gi
= x_ i + fij +
@ x_ m @ x_ m @ x_ m @ x_ m
onde nem f nem g dependem de x,
_
@ q_j @ x_ i @qj
= fij = fij im = fmj =
@ x_ m @ x_ m @xm
ou seja,
@qj @ q_j
= : (10)
@xi @ x_ i
3. Usando (9) temos
@qj @qj
q_j = x_ i + =)
@xi @t
@ q_m @ 2 qm @qm @ x_ j @ 2 qm @ 2 qm @ 2 qm
= x_ j + + = x_ j + (11)
@xi @xi @xj @xj @xi @xi @t @xi @xj @xi @t
@L @L @qm @L @ 2 qm @ 2 qm
= + x_ j + (12)
@xi @qm @xi @ q_m @xi @xj @xi @t
5. lembrando que
d @f @f
f (x; t) = x_ m +
dt @xm @t
fazendo
@qk
fkj (x; t) =
@xj
temos
d @qk @ 2 qk @ 2 qk
= x_ m + (13)
dt @xj @xm @xj @t@xj
@L @L @qk @L @ q_k
= +
@ x_ j @qk @ x_ j @ q_k @ x_ j
38
Usando (10)
@L @L @qk
=
@ x_ j @ q_k @xj
Derivando em relação ao tempo
d @L d @L @qk @L d @qk
= + (15)
dt @ x_ j dt @ q_k @xj @ q_k dt @xj
Substituindo (13) na relação acima
d @L d @L @qk @L @ 2 qk @ 2 qk
= + x_ m + : (16)
dt @ x_ j dt @ q_k @xj @ q_k @xm @xj @t@xj
Subtraindo (16) e (12) temos
d @L @L d @L @qk @L @ 2 qn @ 2 qm @L @qm @L @ 2 qn @ 2 qn
= + x_ m + x_ j +
dt @ x_ i @xi dt @ q_k @xi @ q_n @xm @xi @t@xi @qm @xi @ q_n @xi @xj @xi @t
d @L @qk @L @ 2 qn @ 2 qn @ 2 qm @ 2 qn @L @qm
= + x_ m +
dt @ q_k @xi @ q_n @xm @xi @xi @xm @t@xi @xi @t @qm @xi
d @L @L @qm
=
dt @ q_m @qm @xi
Como a nossa transformação é geral e L (x; x;
_ t) obedece as EL, podemos
a…rmar que
d @L @L
=0:
dt @ q_m @qm
Ou seja, as EL têm a mesma forma para qualquer sistema de coordenada.
Assim, utilizando as equações de Lagrange temos uma liberdade completa
na escolha das coordenadas do sistema, o que pode ser utilizado explorando as
simetrias do problema. Ou seja, a principal vantagem das equações de Lagrange
é que elas independem do sistema de coordenadas usados. Com isso, se qi é um
conjunto qualquer de coordenadas que descrevem um sistema mecânico, este
sistema deve obedecer as equações de Lagrange
d @L @L
=0: (17)
dt @ q_i @qi
As coordenadas qi são chamadas de coordenadas generalizadas.
Remark 16 Mais uma vez, enquanto a equação de Newton (6) só tem esta
forma em coordenadas cartesianas, as equações de Lagrange (17) têm esta forma
em qualquer sistema de coordenadas.
39
3 Transformada de Legendre
Em uma série de problemas em física é importante mudarmos as variáveis que
usamos num problema. Por exemplo, na termodinâmica uma quantidade muito
importante é a energia interna de um sistema U (S; V ). Um inconveniente
desta quantidade é que ela depende da entropia S, uma quantidade que não
pode ser medida diretamente com nenhum instrumento. Entretanto, pelas leis
da termodinâmica, sabemos que a temperatura T de um corpo é a variação da
sua energia interna com a entropia
@U
T = : (18)
@S
Vamos então de…nir uma nova quantidade F como
F = T:S U (19)
dF = T dS + SdT dU ;
F = F (T; V )
Com isso
@F @F
dF = dT + dV ;
@T @V
comparando com (21) temos
@F @F @U
S= ; = :
@T @V @V
O importante da quantidade F , chamada energia livre de Helmholtz, é que ela
depende da temperatura e do volume, ambas quantidades que, diferente da
entropia, podem ser medidas com instrumentos usuais.
40
Ou seja, podemos determinar F estudando as variações das característica
do sistema com respeito ao seu volume e a sua temperatura.
g = pi y i f
(somatória em i) onde
@f
pi =
@yi
com isso
4 Equações de Hamilton
Nosso objetivo agora é usar a transformada de Legendre nas equações de La-
grange. Primeiramente lembramos que, pela de…nição acima
L = L (qi ; q_i ) ;
H = pi q_i L (22)
onde
@L
pi =
@ q_i
é chamado momento conjugado da variável qi (i.e., para q = x temos um mo-
mento linear, para q = um momento angular e, no caso geral, um momento
41
conjugado). Das equações de Lagrange temos que, se uma determinada coorde-
nada qm não aparece na Lagrangiana (chamada de coordenada cíclica)
@L d @L
= 0 =) = p_i = 0 =) pi = const:
@qm dt @ q_i
@L @L
dL = dqi + dq_i ;
@qi @ q_i
com isso
@L @L
dH = dpi :q_i + pi :dq_i dqi + dq_i ;
@qi @ q_i
@L @L
= pi dq_i + q_i :dpi dqi ;
@ q_i @qi
e pela de…nição de pi
@L
dH = q_i :dpi dqi (23)
@qi
e, como esperávamos, a função H assim obtida é uma função de q e p e não mais
de q,
_ H = H (q; p). A quantidade H assim de…nida é chamada de Hamiltoniana.
Sabendo que H = H (q; p) temos
@H @H
dH = dqi + dpi :
@qi @pi
42
Com o que
@H @H
= q_i ; = p_i : (24)
@pi @qi
Estas são as chamadas equações de Hamilton (EH).
Qual a vantagem destas equações?
Uma vantagem prática destas equações é que elas possuem apenas derivadas
de primeira ordem. Como a equação de Newton, a equação de Lagrange pos-
sui derivadas das velocidades o que resulta em derivadas de segunda ordem na
posição. Obviamente perdemos algo ao ganharmos esta facilidade. O ponto é
que temos dois pares de EH, ou seja, usando a transformada de Legendre con-
seguimos transformar um sistema de n equações diferenciais de segunda ordem
num sistema de 2n equações diferenciais de primeira ordem5 .
@T X @ q_i @ q_j
= aij q_j + aij q_i
@ q_k @ q_k @ q_k
X
= (aij ik q_j + aij q_i jk )
X X
= aij ik q_j + aij q_i jk
ij ij
X X
= akj q_j + aik q_i
j i
X X
= aki q_i + aik q_i
i i
= T + T = 2T
5 Na verdade, esta não é a maior vantagem da EH, mas sim que, além de todo o conjunto de
43
Este resultado é conhecido como teorema de Euler. Se usarmos agora este
resultado na de…nição de H temos
X
H= pi q_i L
i
X @L
= q_i (T U)
i
@ q_i
X @T
= q_i (T U)
i
@ q_i
= 2T T + U
=T +U :
Ou seja, a hamiltoniana é a energia total do sistema.
Observe que, diferente da Lagrangiana (T U ) a energia total do sistema é
uma quantidade que pode ser medida e, além disso, é uma quantidade
conservada para um sistema isolado. Esta é outra vantagem da teoria de
Hamilton. Assim, utilizando a mecânica de Hamilton podemos, a partir da
energia total do sistema e de um sistema de 2n equações de primeira ordem,
estudar a dinâmica dos corpos.
44
Figure 7: Figura retirada do Marion.
I = I [y] :
45
para uma função (x) que, apesar de arbitrária, vamos supor dada, i.e., vamos
variar apenas o valor de ". Como queremos estudar todas as funções que passam
pelo mesmo ponto inicial e …nal devemos ter
y (a) = y (a) ; y (b) = y (b) =) y (a) = y (b) = 0 :
Para a variação acima (onde y e são funções conhecidas) nosso integrando I
passa a ser uma função (pois " é um número) de "
Z b
I [y] ! I (") = F (y + " ; y 0 + " 0 ; x) dx :
a
O ponto é que agora, como é uma função, podemos usar o resultado do cálculo
usual é dizer que para " = 0 a nossa função I é um extremo e, consequentemente,
sua derivada é nula, ou seja,
dI
=0: (25)
d" "=0
Tudo que precisamos agora é de…nir a diferencial dI=d". Fazemos isso da forma
usual
"Z Z b #
b
dI I [y + "] I [y] 1 0 0 0
= lim = lim F (y + " ; y + " ; x) dx F (y; y ; x) dx
d" "!0 " "!0 " a a
Z
1 b
= lim [F (y + " ; y 0 + " 0 ; x) F (y; y 0 ; x)] dx
"!0 " a
Z b
[F (y + " ; y 0 + " 0 ; x) F (y; y 0 ; x)]
= lim dx :
a "!0 "
Agora
@F @F
F (y + " ; y 0 + " 0 ; x) = F (y; y 0 ; x) + " + 0 " 0 + O "2
@y @y
ou seja
F (y + " ; y 0 + " 0 ; x) F (y; y 0 ; x) @F @F 0
lim = + 0
"!0 " @y @y
com isso Z b
dI @F @F 0
= + 0 dx : (26)
d" a @y @y
Lembrando que 0 = d =dx podemos integrar o segundo membro da expressão
acima por partes
Z b b Z b
@F d @F d @F
0 dx
dx = 0
dx : (27)
a @y @y a a dx @y 0
Agora usamos o fato de que a função (x) (apesar de arbitrária) deve se anular
nos extremos (a) = (b) = 0
Z b Z b
@F d d @F
0 dx
dx = dx :
a @y a dx @y 0
46
Substituindo em (26) temos
Z b
dI @F d @F
= dx
d" a @y dx @y 0
Z b
@F d @F
= dx : (28)
a @y dx @y 0
Voltando agora para (25) temos
Z b
dI @F d @F
=0= dx
d" "=0 a @y dx @y 0
Para qualquer função (x). Isso só é possível se o integrando for zero
@F d @F
=0:
@y dx @y 0
Para F uma função de várias variáveis este resultado tem de ser válido inde-
pendentemente para cada variação
@F d @F
=0 (29)
@yi dx @yi0
Esta é a chamada equação de Euler.
Observe que, no …nal, a nossa expressão (28) não depende de ". Além disso,
para lembrar que não estamos falando do cálculo usual, as pessoas inventam um
novo símbolo para a derivada (mas é apenas um símbolo)
Z b
dI
I [y] = F (y; y 0 ; x) dx :
d" a
com funções bem comportadas (e.g., diferenciáveis em todos os pontos), na grande maioria
dos casos podemos encarar apenas como uma notação.
47
Figure 8: Figura retirada do Marion de Mecânica.
48
ponto inicial
Ei = T + U = 0
Seguindo a analogia da força gravitacional temos
@U
F = mg = )U = mgx
@x
1
T = mv 2
2
A conservação de energia nos dá
p
T + U = 0 =) v = 2gx
@F d @F
=0
@y dx @y 0
Como, neste caso, F não depende explicitamente de y
@F d @F @F
=0) =0) =C
@y dx @y 0 @y 0
r
@F @ 1 + y 02 y0
= = p =C
@y 0 @y 0 x x (1 + y 02 )
49
Assim, a curva que a partícula deve seguir y (x) deve ser solução da equação
s
y0 02 2 02 2 0 xC 2
p = C ) y = xC + xy C ) y = ;
x (1 + y 02 ) (1 xC 2 )
ou ainda,
s Z x2
dy xC 2 x
= )y= p dx ;
dx (1 xC 2 ) x1 (2ax x2 )
2a = 1=C 2
Fazendo
x = a (1 cos ) ) dx = a sin d
temos Z
y= a (1 cos ) d =
y = a( sin ) + const.
x = a (1 cos ) ; y = a ( sin )
50
Figure 9: Figura retirada do Marion de Mecânica.
51
os efeitos de refração e re‡exão. Como analogia, imagine que você está de
bicicleta na praia e quer atravessar a avenida da orla para chegar num ponto
a 45o da normal à avenida. Qual caminho você deve seguir para chegar mais
rápido? O menor caminho é, obviamente, uma linha reta. Mas, como a bi-
cicleta se move com maior facilidade no asfalto é conveniente que você passe
menos tempo na areia. Porém, se você se mover na direção normal na praia a
distância percorrida será muito maior. Encontrar o caminho que minimize este
tempo é um problema de cálculo variacional. Assim, a trajetória tanto da
luz como das partículas pode ser obtida por um princípio de mínimo
de um funcional.
5 Parênteses de Poisson
Existe uma forma bastante compacta de se escrever as EH através dos chamados
parênteses de Poisson (PP). Os PP de duas funções f (q; p) e g (q; p) são de…nidos
como
X @g @f @f @g
ff; gg =
i
@q i @p i @q i @pi
temos
dg @g
g_ = = fg; Hg +
dt @t
52
Ou seja, calculando os PP de qualquer função da posição e momento com o
hamiltoniano temos a variação temporal desta função.
Em especial, para as variáveis de posição e momento temos
X @qk @H @H @qk
q_k = fqk ; Hg =
i
@qi @pi @qi @pi
X @qk @H @H
= ik =
i
@q i @p i @p k
X @pk @H @H @pk @H
p_k = fpk ; Hg = =
i
@qi @pi @qi @pi @qk
Observe que
ff; gg = fg; f g
de sorte que
fh; hg = 0
Assim, do resultado acima temos
@H @H
H_ = fH; Hg + =
@t @t
Ou, se o Hamiltonianao (a energia) não depende explicitamente do tempo
H_ = 0 =) H = E = const.
se fh; Hg = 0 =) h = const.
ff; gg = 0
53
Que são chamadas regras canônicas de comutação. E as variáveis são
chamadas de canonicamente conjugadas.
Como vimos anteriormente, as EL mantém a sua forma para qualquer trans-
formação de ponto nas coordenadas. Dos resultados acima vemos que as EH
manterão a mesma forma (e, conseqüentemente, descreverão a mesma dinâmica)
para qualquer transformação inversível
Pk = Pk (p; q) ; Qk = Qk (p; q)
fQk ; Pm g = fqk ; pm g = km :
f_ = ff; Hg :
fqk ; pm g = km :
54
algébricas relaxando uma ou outra característica leva a construção de outras
estruturas matemáticas como monóides, grupos, anéis, espaços vetoriais etc.
Um espaço vetorial V é qualquer conjunto de elementos onde de…nimos uma
regra de composição entre estes elementos, que simbolizamos geralmente pelo
sinal de soma (+ : V ! V ). Ou seja, dado dois elementos quaisquer v1 ; v2 2 V ,
sabemos realizar a composição:
8 v1 ; v2 2 V : v1 + v2 = v3 2 V ; (closure)
8 v1 2 V; a 2 R : a:v1 = av1 = v3 2 V ;
Além disso, esta operação de soma deve respeitar (lembre-se que podemos
de…nir diferentes somas, e.g., soma de setas, de matrizes.):
b Comutativa: v1 + v2 = v2 + v1 .
c Elemento identidade: 9 0 2 V : v + 0 = v; 8 v 2 V .
d Elemento inverso: 8 v 2 V; 9 v 2 V : v + ( v) = 0 :
e Distributiva pelo produto com um escalar: a (v1 + v2 ) = av1 + av2 .
f Distributiva pela soma escalar: (a1 + a2 ) v = a1 v + a2 v
g compatível com a multiplicação escalar do carpo: a1 (a2 v) = (a1 a2 ) v
zi axi + byi :
55
Uma estrutura adicional que podemos incluir no nosso espaço vetorial (mas
que não faz parte da de…nição desta estrutura) é a operação
n
X
hxj yi = x1 y1 + x2 y2 + ::: + xn yn = xi yi ; (31)
i=0
chamada de produto interno dos vetores jxi e jyi. Esta quantidade também é
chamada de projeção de jyi em jxi, ou a componente de jyi na direção jxi (ou
vice-versa).
Fácil ver que o produto interno de…nido acima é:
hxj zi = (hxj) (a jyi + b jwi) = hxj a jyi+hxj b jwi = a hxj jyi+b hxj jwi a hxj yi+b hxj wi
hxj yi = 0 :
56
é chamado de norma do vetor. A raiz positiva da norma
p
hxj xi jxj 0
hxj = x1 x2 xn
Um conjunto de m vetores jx1 i ; jx2 i ; ::: jxm i são ditos linearmente depen-
dentes, se
m
X Xm
9ai (i = 1; ::; m) 2 R ; a2i 6= 0 : ai jxi i = 0
i=1 i=1
57
Ou, de outra forma, num espaço de dimensão n dado o conjunto de n vetor fjwi ig
(não nulos) LI, qualquer outro vetor é LD a este conjunto. Ou ainda, num
espaço de dimensão n qualquer conjunto de n + 1 vetores é LD. As quantidades
ai da expressão acima são chados de componente do vetor jxi na base fjwi ig.
Se o conjunto de n vetores LI jwi i são também ortogonais entre si
hwi j wj i = 0 para i 6= j
hei j ej i = ij ; (32)
he1 j xi = a1 he1 j e1 i = a1
Que é uma expressão idêntica a de…nição anterior do produto interno (31), mas
agora com as componetes do vetor na base fjej ig. Assim, o produto interno
58
entre dois vetores pode ser calculado pelas componentes originais deste vetor ou
pela suas componentes em qualquer base ortonormal.
Lembre que o nosso vetor é a seqüência ordenada x1 ; x2 ; ::: ou seja
0 1
x1
B x2 C
B C
jxi = B . C
@ .. A
xn
Estas são as componentes do vetor e não se referem à base alguma. Já as
quantidades ai acima são as componentes numa determinada base.
Em especial, para o produto interno de um vetor com ele mesmo, i.e., a
norma deste vetor, temos
" n #2 n 3
n X
n
2
X X X
jxj = hxj xi = ai hei j 4 aj jej i5 = ai aj hei j ej i
i=1 j=1 i=1 j=1
X n
n X n
X
= ai aj ij = a2i :
i=1 j=1 i=1
59
(temos de resolver o sistema de equações). Assim, as componentes de jxi na
base fjfi ig valem: c1 = 1, c2 = 1. Fácil ver que
2 2 2 2
(c1 ) + (c2 ) = 1 + 1 = 2 6= 5 = (x1 ) + (x2 ) ;
ou seja, não podemos usar estas componentes para calcular a norma do vetor.
Tomemos agora outros dois vetores
1
jw1 i = jf1 i ; jw2 i = :
1
Facil ver que estes vetores também são LI. Mas, além disso
1
hw1 j w2 i = 1 1 =1 1=0:
1
Assim, fjwi ig é uma base ortogonal. As componentes c0i de jxi nesta base
valem
1 1 1
c01 + c02 =
1 1 2
c01 + c02 = 1 ) c01 = 1 c02
1
c01 c02 = 2 ) c02 =
2
1 3
c01 = 1 + =
2 2
Mais uma ver
2 9 1 2 41
(c01 ) + (c02 ) =
+ = 6= 5 :
5 4 20
Mas, como a nossa nova base fjwi ig é ortogonal, podemos aplicar o processo de
normalização e de…nir uma nova base fjei ig com
jw1 i 1 1
je1 i = =p
jw1 j 2 1
jw2 i 1 1
je2 i = =p
jw2 j 2 1
1 c001 + c002 1
jxi = c001 je1 i + c002 je2 i = p =
2 c001 c002 2
p p
c001 + c002 = 2 ) c001 = 2 c002
p
p 2
c001 c002 = 2 2 ) c002 =
p 2
00
p 2 3p
c1 = 2 + = 2
2 2
60
onde agora podemos usar a projeção
1 1 3
c001 = he1 j xi = p 1 1 =p ;
2 2 2
1 1 1
c001 = he2 j xi = p 1 1 = p ;
2 2 2
(não precisamos resolver o sistema de equações). Além disso, nas componentes
de jxi na base ortonormal fjei ig temos
2 2 1 9 2 2 2
(c001 ) + (c002 ) = + = 5 = (x1 ) + (x2 ) = jxj
2 2
Fácil ver que esta base é ortonormal. Além disso, nesta base as componentes
do vetor são exatamente as componentes do vetor na base
0 1
x1 n
B x2 C X
jxi = @ A= ai jei i ) ai = hei j xi = xi : (33)
.. i=1
.
ou, simbolicamente
^ jxi
jyi = M
61
onde o chapéu indica que M não é um número, mas sim o que chamamos de op-
erador. Ou seja, dado um espaço vetorial, um operador é um mapa entre vetores
^ : V ! V ). Na notação matricial introduzida anteriormente, os
deste espaço (M
operadores podem ser identi…cados como matrizes n n.
Como exemplo, vamos estudar as operações de rotações num plano. Ou seja,
vamos trabalhar num espaço com n = 2. Suponha que um vetor neste espaço
tenha coordenadas (x1 ; x2 ). Se aplicarmos uma rotação de um ângulo no
sentido anti-horário, neste vetor quais as componentes (x01 ; x02 ) do novo vetor
obtido? Fazendo desenhos no plano é fácil ver que
^( )= cos sin
R ;
sin cos
^( )= 1 0
R :
0 1
62
bastante conveniente de implementar o produto tensorial é através da de…nição
0 1 0 1
a11 a1m a11 B a1m B
B .. C B B C
A B = @ ... ..
. . A @
..
.
..
.
..
. A
a1n anm a1n B anm B
0 ! ! 1
B11 B11
B a11 .. .. a1m .. .. C
B . . . . C
B C
B .
.. .. .
.. C
=B . C : (35)
B ! ! C
B B B C
@ 11 11 A
a1n .. .. anm .. ..
. . . .
Pela de…nição acima é fácil ver que esta nova matriz tem componentes
^ ij = xi yj :
M (36)
^ é a matriz
ou seja, neste caso, M
0 1
x1 y1 x1 y2 x1 yn
B x2 y1 x2 y2 x2 yn C
M^ =BB .. .. .. ..
C
C :
@ . . . . A
xn y1 xn y2 xn yn
63
Da de…nição acima é fácil ver que
20 1 3T
x1
T
(jyi hxj) = 4@ x2 A y1 y 2 y3 5
x3
0 1
y1
@ y2 A x1 x2 x3
y3
= jxi hyj :
de forma geral
T
(A B) = B T AT :
Se jxi 2 V e dim V = n a quantidade acima pode ser vista como um vetor
num espaço V 0 de dimensão n2 , ou, por ser uma matriz n n, como um operador
agindo no espaço V . Ou seja, matematicamente um tensor de segunda ordem
pode ser pensado visto como um operador. Para o produto de…nido acima
(entre um tensor e o dual), em MQ estamos interessados apenas em M ^ como
um operador agindo em V .
A aplicação deste operador num vetor jzi é a multiplicação matricial
0 10 1 0 Pn 1
x1 y1 x1 y2 x1 yn z1 Pi=1 zi x1 yi
B x2 y1 x2 y2 C B C B n C
x y z i=1 zi x2 yi
^ jzi = (jxi hyj) jzi = B
2 n CB 2 C B C
M B .. .. . .. . C B . C
.. A @ .. A @
=B .. C
@ . . A
Pn .
xn y1 xn y2 xn yn zn i=1 zi xn yi
0 Pn 1 0 1 0 1
x1 Pi=1 zi yi x1 hyj zi x1
B x2 n zi yi C B x2 hyj zi C B x2 C
B i=1 C B C B C
=B .. C=B .. C = B .. C hzj yi
@ A @ A @ . A
Pn. .
xi i=1 zi yi xn hyj zi xn
= jxi hzj yi (38)
A notação de Dirac possui uma forma muito conveniente de expressar o
^
produto externo acima e, ao mesmo tempo, salientar a interpretação de M
como um operador:
jxi hyj jxi hyj
pois, com isso, a aplicação deste produto externo num vetor jzi pode ser sim-
bolicamente calculado como
(jxi hyj) jzi (jxi hyj) jzi = jxi hyj jzi jxi hyj zi :
Que é exatamente a expressão (38).
A de…nição acima, apesar de ser apenas uma mudança de notação, simpli…ca
absurdamente a nossa vida. Suponha, por exemplo, que você tenha 2 operadores
P^1 = je1 i je2 i ; P^1 = je2 i je2 i
1 1 1 1
je1 i = p ; je2 i = p
2 1 2 1
64
e quer saber qual operador corresponde a composição destes operadores P^ =
P^1 P^2 . Na notação matricial temos:
1 1 1
P^1 = je1 i je2 i = ;
2 1 1
1 1 1
P^2 = je2 i je1 i =
2 1 1
1 1 1 1 1 1 2 2
P^ = P^1 P^2 = =
4 1 1 1 1 4 2 2
1 1 1
=
2 1 1
P^ = P^1 P^2 = (je1 i he2 j) (je2 i he1 j) = je1 i he2 j e2 i he1 j = je1 i he1 j
1 1 1
=
2 1 1
Ou seja, apenas no …nal das contas precisamos usar a forma explicita das ma-
trizes.
Além disso, a notação de Dirac nos permite identi…car uma série de pro-
priedades de certos operadores. Vejamos, por exemplo, o seguinte operador
n
X n
X
^ =
M jei i hei j = jei i hei j
i=1 i=1
65
a matriz unitária). O argumento pode também ser facilmente invertido
n
X n
X n
X
jxi = ck jek i ) ck = hek j xi ) jxi = hek j xi jek i = jek i hek j xi
k=1 k=1 k=1
n
! n
X X
= jek i hek j jxi ) jek i hek j = I :
k=1 k=1
6.1.2 Auto-vetores
Uma relação entre operadores e vetores que é de especial interesse é quando a
aplicação de um operador sobre um vetor resulta num vetor na mesma direção
(i.e., proporcional) ao vetor original. Isso é, quando:
^ jxi = a jxi ; a 2 R ; jxi =
M 6 0:
^ e que a é o autovalor
Neste caso, dizemos que jxi é um autovetor do operador M
do autovetor jxi.
Por exemplo, se aplicarmos o operador P^ (34) no vetor
0
jp1 i =
1
teremos
1 0 0 0
P^ jp1 i = = = jp1 i ;
0 1 1 1
66
Ou seja, o vetor jp1 i é um autovetor de P^ com autovalor 1. Já o vetor
1 1 0 1 1 1
jp2 i = ) P^ jp2 i = = = = jp2 i :
0 0 1 0 0 0
1 1 0 1 1
jp3 i = ) = 6= a jp3 i
1 0 1 1 1
então, jp3 i não é auto vetor de P^ . Da mesma forma, qualquer vetor é au-
tovetor de R ^ ( ) com autovalor 1, pois
^ ( ) jxi = 1 0 x1 x1
R = = jxi :
0 1 x2 x2
o vetor
jx0 i = a jxi ; a 2 R ;
também será autovetor com o mesmo autovalor
^ jx0 i = M
M ^ a jxi = aM
^ jxi = am jxi = m (a jxi) = m jx0 i :
Com isso, dizemos que jxi e jx0 i são os mesmos autovetores. Usualmente estare-
mos interessados em vetores normalizados, assim, teremos apenas um vetor e a
constante multiplicativa é determinada no processo de normalização.
numa outra base fje0i ig este mesmo vetor terá outras componentes
X
jvi = vi0 je0i i
i
Se você escolher uma certa base ortonormal fjei ig, como comparar suas
quantidades com as de algém que ecolheu outra base ortonormal fje0i ig? Ou
seja, como vi se relaciona com vi0 ?
67
Para saber isso basta lembrar que todos estes vetores fomam uma base do
espaço. Assim, podemos escrever
X
jei i = aij e0j ;
j
onde, sendo nossa base ortonormal, os coe…cientes desta expanção tem a forma
X
aij = e0j ei i =) jei i = e0j ei i je0i i
j
Pois
X n
X n
X
jvi = vi jei i = I jvi = e0j e0j vi jei i
i j=1 i=1
n
XXn
= vi e0j e0j ei i :
j=1 i=1
68
6.3 Espaço de Hilbert
Nosso objetivo aqui é obter uma generalização dos resultados da seção anterior.
O primeiro ponto é lembrar que nossos vetores, e os números que multiplicam
estes vetores, são todos reais. Assim, a primeira generalização que podemos
fazer é dizer que um vetor num espaço de dimensão n é qualquer seqüência de
números complexos 1 ; 2 ; :::; n ( i 2 C) e que nossos vetores podem se
multiplicados também por números complexo
j i+ j i=j i ; ; 2C;
com
i = i + i :
Até aqui nada mudou. O ponto agora é que devemos lembrar que se é um
número complexo, podemos ter
2
<0;
: 0; 8 2 C
com
2
j j = 0 =) j i = 0 :
A única diferença neste produto interno é que, no lugar da simetria, temos
agora uma simetria conjugada
n n n
!
X X X
h j i= i i = ( i i) = i i =h j i:
i=0i i=0 i=0
69
Da mesma forma, no que se refere a representação matricial, continuamos
representando nossos vetores por matrizes coluna
0 1
1
B 2 C
B C
j i=B . C
@ .. A
n
mas, para ser compatível com o produto interno (41), devemos de…nir o dual de
j i, não apenas como o transposto, mas como o transposto conjugado
h j= 1 2 n :
Com a de…nição acima vemos que, para o produto externo entre os vetores,
no lugar de
T
jxi hyj = (jyi hxj) :
temos agora
T
j i h j = (j i h j) :
A segunda generalização que vamos fazer é permitir que a dimensão do
espaço assuma qualquer valor, incluindo o in…nito. Ou seja, vamos admitir
espaços com n = 1. Esta é, na verdade, a motivação deste desenvolvimento.
Neste caso, obviamente não podemos mais representar nossos vetores por ma-
trizes. Mas podemos continuar usando todas as expressões anteriores (fazendo
n = 1).A grande diferença é que antes, bastava que cada elemento do nosso ve-
tor estivesse bem de…nido (não fosse in…nito) e, certamente, todas as expressões
de…nidas também estariam bem de…nidas.
Agora, para n = 1, pode acontecer de cada elemento do nosso vetor estar
bem de…nido, e mesmo assim não conseguirmos calcular quantidades como, por
exemplo, o produto interno. Ou seja, agora precisamos exigir que as somatórias
de…nidas anteriormente convirjam.
Por exemplo, podemos de…nir as componentes do nosso “vetor” como
1
xk =; k2N :
k 1=2
Cada componente está bem de…nida. Em especial, para n ! 1
1
x1 = 1=2
=0:
(1)
Entretanto, se desejarmos calcular a norma deste “vetor” teremos7
X1 X1
2 1 1 1
jxj = 1=2 1=2
= !1:
k k k
k=1 k=1
7 Lembre que
X1
1
n=1
ns
diverge para s 1.
70
E não podemos utilizar para estas componentes a noção de norma que é indis-
pensável em todas as nossas análises. Destarte, se quisermos de…nir um espaço
vetorial tratável, devemos exigir que os vetores do nosso espaço respeitem a
restrição
X1
j kj < 1 :
k=1
Ou seja, para nós agora, vetores são todas as seqüência, …nitas e in…nitas, sobre
o corpo dos complexos, tal que a soma do módulo quadrado convirja.
Um espaço vetorial de dimensão arbitrária (incluindo in…nito) sobre o corpo
dos complexos onde (para todo elemento) está de…nido um produto interno,
juntamente com uma condição técnica de completeza8 forma um espaço de
Hilbert.
Todo o desenvolvimento da MQ, é o estudo do espaço de Hilbert.
Todos os conceitos desenvolvidos anteriormente, incluindo a noção de ortog-
onalidade e base, são válidos no EH. A diferença é que agora a nossa base pode
conter in…nitos termos.
Problem 18 Mas será que, como os casos anteriores, este espaço possui uma
base?
Sendo cada jei i uma matriz N 1. Obviamente, qualquer vetor jxi pode ser
escrito como: 0 1
x1
B x2 C XN
B C
jxi = B . C= xk jek i
@ .. A
k=1
xN
Onde, como vimos, as componentes de um vetor qualquer na base canônica
são as próprias componentes do vetor.
Além disso, esta base é ortonormal
hei j ej i = ij :
8 Convergência de todas as seqüências de Cauchy j n lj ! 0.
71
Podemos imaginar uma base do nosso espaço de Hilbert das seqüenciais
in…nitas como uma coleção de in…nitos termos na forma (42). Ou seja,
0 1 0 1 0 1
1 0 0
B 0 C B 1 C B 1 C
B C B C B C
je1 i = B 0 C ; je2 i = B 0 C ; je3 i = B 0 C ; (43)
@ A @ A @ A
.. .. ..
. . .
O ponto aqui é que, para qualquer um destes elementos, temos
hei j ei i = 1 < 1 =) jei i 2 H ; i = 1; 2; 3; :::
Ou seja, todos os (in…nitos) elementos desta seqüência estão em H. Além disso,
qualquer elemento de H pode ser escrito como
1
X
j i= k jek i ; k 2C:
k=1
Com isso, fjek ig forma uma base do nosso espaço H. Esta base possui in…ni-
tos elementos e, conseqüentemente, nosso espaço tem dimensão in…nita.
6.4 O espaço L2
A generalização da dimensão introduzida anteriormente parece a mais geral que
podemos fazer. Isso seria verdade se não existissem vários tipos de in…nito,
também chamado de cardinalidade. Este é um assunto bastante complicado
da teoria dos conjuntos. Na verdade, a cardinalidade mede o “tamanho” de
um conjunto. Mas, como vimos, a dimensão de um espaço está diretamente
relacionada com o tamanho (ou o número de elementos) da base.
Para um conjunto qualquer podemos considerar duas noções: tamanho
do conjunto e o número de elementos deste conjunto. Para qualquer
conjunto com um número …nito de elementos estas noções coincidem. Um con-
junto com três elementos tem um tamanho, ou cardinalidade, três. Além disso,
para conjuntos …nitos, sempre que pegamos uma parte deste conjunto (um sub-
conjunto) este tem um tamanho menor que o original. A comparação entre os
tamanhos dos conjuntos está ligada com a idéia de bijeção entre os elementos
destes conjuntos.
Remark 19 Se podemos criar uma bijeção entre dois conjuntos, então estes
conjuntos tem o mesmo tamanho.
Assim, o conjunto de 3 frutas tem o mesmo tamanho do conjunto de 3
animais. Esta idéia também é válida para conjuntos com in…nitos termos. Mas,
neste caso, a noção de cardinalidade e número de elementos não é mais a mesma.
Por exemplo, tomemos o conjunto dos naturais N e o conjunto dos números
pares P . Certamente estes conjuntos não têm os mesmos elementos. Em especial
o número 1 está no primeiro conjunto e não está no segundo. Mais ainda, qual-
quer elemento do segundo conjunto está no primeiro,mas o contrário
não é verdade.
72
Problem 20 Qual destes conjuntos é maior?
Poderíamos então imaginar que o conjunto dos naturais é maior que o con-
junto dos números pares. Entretanto, é possível estabelecer uma bijeção entre os
naturais e os números pares. Obviamente, dado um número natural n, podemos
fácilmente associar a ele o número par
p = 2n
Mas, além disso, dado um número par p 2 P associamos a ele (de forma
unívoca) o natural
p
n=
2
Ou seja, a cada número inteiro temos um (único) número par associado
e vice-versa. Isto mostra que os dois conjuntos têm o mesmo tamanho,
ou a mesma cardinalidade.
Assim, para conjuntos in…nitos, podemos pegar apenas uma parte deste
conjunto e obter um conjunto com o mesmo tamanho.
Vejamos um exemplo um pouco mais complicado. Recapitulando, um dos
resultados da teoria dos conjuntos é que sempre que for possível estabelecer
uma bijeção entre dois conjuntos estes conjuntos têm a mesma cardinalidade.
Peguemos, por exemplo, o conjunto dos naturais N, i.e., a seqüência
0 1
1
B 2 C
B C
B 3 C
@ A
..
.
73
Figure 10: Figura da Wikipedia
Talvez você imagine com isso que todos os conjuntos in…nitos têm a mesma
cardinalidade, mas isso não é verdade.
Agora, se você considerar o conjunto dos reais, é impossível estabelecer
uma relação um-pra-um entre este conjunto e os naturais. Mais precisamente,
é possível estabelecer a relação
N !R;
74
Com isso, os reais são de uma cardinalidade diferente (maior) que os naturais.
Dizemos que o conjunto dos reais é um in…nito incontável. Também chamado
de @1 (aleph-1).
Remark 23 Assim, se não for possível estabelecer uma bijeção entre os ele-
mentos da base e N, mas for possível estabelecer entre R, os elementos que
formam a base de um conjunto tem uma cardinalidade incontável dizermos que
a dimensão do espaço é incontável.
Do que foi dito acima, vemos que o nosso espaço H, de…nido anteriormente,
tem dimensão in…nita, mas contável. Pois possui uma base com um in…nito
contável de elementos fjek ig. A existência de diferentes tipos de in…nito nos leva
a crer (o que é verdade) que possam existir também espaços com uma dimensão
(e consequentemente uma base) in…nita incontável.
Considere agora uma função f (x) sobre os reais num intervalo x 2 [a; b].
Esta função pode ser considerada uma seqüência
0 1
f (x1 )
B f (x2 ) C
B C
B f (x3 ) C
B C
B .. C
@ . A
f (xn )
75
Com isso, não há nenhuma razão para crer que os resultados desenvolvidos
na seção anterior sejam válidos para funções sobre os reais.
Vamos então tentar construir um espaço vetorial para as nossas funções f .
Como uma extensão natural da notação anterior, se queremos um vetor que
represente a nossa função f (x) ; x 2 [a; b], podemos chamá-lo de jf i. Ou seja,
jf i é a coleção ordenada de todos os valores da função num certo intervalo (a
“seqüência” simbólica (44)). Observe que jf i não é a função calculada num
ponto, mas uma quantidade abstrata que representa uma coleção in…nita de
termos.
A soma destas quantidades pode ser de…nido de forma análoga a anterior.
Ou seja, a “seqüência” simbólica
jwi = jf i + jgi ; ; 2C
hf j f i 0 ; hf j f i = 0 =) jf i = 0 ;
76
onde Z b
1
xj = p f (x) exp ( ikx) dx (47)
2 a
Ou seja, registrar a seqüência contável xj é equivalente a registrar a função
(de…nida num intervalo incontável) f (x).
Assim, apesar do HD hipotético não poder registrar o valor da função em
todos os pontos, ele pode registrar a seqüência fxk g e, com isso, reconstruir a
função (exatamente) em todos os pontos. Ou ainda, mesmo estando a função
de…nida num contínuo de pontos, não precisamos de um conjunto incontável
para especi…car a função. O fato de esta ser de quadrado integrável cria uma
relação entre estes pontos, de sorte que eles possam ser especi…cados pelo con-
junto menor formado por uma seqüência contável de pontos.
Mais ainda, existe uma relação unívoca entre o espaço das funções em
L2 (a; b) e o espaço das seqüências contáveis in…nitas. O que mostra que estes
dois espaços têm a mesma dimensão. Ou seja, se existir uma base contável para
a seqüência fxk g existirá também uma base contável para L2 . Observe que
ainda não falamos nada sobre as sequencias acima (em especial, não sabemos
se estas seqüências pertencem a um espaço de Hilbert).
Ou ainda, existe uma base contável para o espaço L2 (a; b).
Além disso, existe um resultado, devido a Parseval, que a…rma
Z X1
2
jf (x)j dx = x2j
j= 1
77
Observe que
Z
1
hek j ej i = exp ( i (k j) x) dx = kj :
2
78
Mas agora, como tanto k como x são contínuos, podemos também introduzir
os “vetores” fjex ig, cujas componentes são
1
ex (k) = p exp ( ikx) = (ek (x))
2
Da mesma forma que antes temos
Z 1
1
hex0 j ex i = exp [i (x0 x) k] dk = (x0 x)
2 1
com Z 1
(x x0 ) f (x) dx = f (x0 )
1
79
base e dizer que f (x) são as componentes de jf i na base fjxig e f (k) suas
componentes na base fjkig.
Além disso, pela resolução da identidade temos
Z 1 Z 1
0 0 0
jx i hx j dx = jk 0 i hk 0 j dk 0 = I
1 1
temos
Z 1 Z 1
0 0 0
jf i = jx i hx j f i dx = I jx0 i hx0 j f i dx0
1 1
Z 1Z 1
= jk 0 i hk 0 jx0 i hx0 j f i dk 0 dx0
1 1
^ jxi
hyj zi = hyj M ;
80
onde usamos
hy j i = h jyi :
^ acima é dito simétrico, ou hermitiano se
O operador M
^ =M
M ^+ ) j ih j = j ih j :
^ + : hyj M
M ^ + jyi ; 8x; y 2 H :
^ jxi = hxj M
^ =M
M ^ + ) hyj M
^ jxi = hxj M
^ jyi ; (50)
ou seja, para espaços de dimensão …nita são matrizes cuja transposto conjugado
é igual a ela mesma. Por exemplo, qualquer matriz na forma
0 1
a11 a12 a13
B a12 a22 a23 C
B C
B a13 a23 a33 C ; aii 2 R ; i = 1; 2; 3::
@ A
.. .. .. ..
. . . .
observe que estamos usando a mesma letra apenas por conveniência, mas 2C
enquanto j i 2 H.
Com isso, a propriedade acima fornece
^ jxi = hxj M
hyj M ^ jyi =)
h jM^ j i = h j j i = h j i = h jM j i = h j j i = h j i :
Mas
h j i=h j i
com isso
h j i= h j i
como
h j i=
6 0 ; h j i < 1,
81
temos
= ) 2R:
Ou seja, todos os autovalores de um operador hermitiano são reais.
Na mecânica clássica os estados de um sistema são identi…cados como pontos
no chamado espaço de fase. Ou seja, dado um ponto no espaço de fase eu sei tudo
sobre o sistema. Já na mecânica quântica estes estados são identi…cados com
vetores no espaço de Hilbert. Ou seja, saber qual vetor representa o sistema
é saber tudo sobre ele. Além disso, observáveis (quantidade que podem ser
medidas) são associadas a operadores agindo neste espaço. Um dos postulados
da MQ a…rma que os valores possíveis de se obter numa medida deste observável
são (apenas) o autovalor do operador correspondente. Outro postulado a…rma
que este operador é hermitiano. O resultado acima mostra que esta exigência é
necessária para que valores medidos sejam reais.
Exemplo: Num espaço de dimensão 2 o operador
0 i
^2 = :
i 0
^ j i=
M ^
j i) M I j i=0:
T^ = M
^ I
T^ 1
T^ j i = T^ 1
0)j i=0:
det T^ = det M
^ I =0:
82
Logo devemos exigir que
0 i 1 0 i
det (^2 I )= = =0;
i 0 0 1 i
ou seja,
2 2 2
( i:i) = 1 = 0 =) = 1 =) = 1:
Vemos então que ^2 tem dois autovaloes 1 = 1 e 2 = 1 e, como esperado,
ambos são reais.
Suponha agora que temos dois autovetores de um operador hermitiano
^ j i=
M ^ j i=
j i ; M j i
com
6= :
Para estes vetores podemos calcular
^ j i=h j j i=
h jM h j i ;
^ j i=h j j i=
h jM h j i
^ j i = h jM
h jM ^ j i =) h j i= h j i= h j i= h j i
[ ]h j i = 0 :
h j i=0:
0 i
2 =
i 0
Sendo esta matriz hermitiana, devemos esperar que seus auto vetores sejam
ortogonais. Encontremos então estes autovetores. Voltando a equação de auto-
valores,
i 1
( 2 I) j i = 0 ) =0
i 2
83
sabemos que = 1. Para = 1 temos
1 i 1 1 i 2 =0
=0)
i 1 2 i 1 2 =0
i 1 2 =0
i 1 2 =0)i 1 = 2
1 1
j +i = = 1
i 1 i
1
+ = +1 ; j +i = 1 :
i
1 i 1 1 i 2 =0
=0) :
i 1 2 i 1 + 2 =0
Onde já sabemos que podemos usar apenas uma destas equações. Assim, usando
a segunda equação,
i 1+ 2=0) i 1= 2
84
Ou seja, o autovetor associado ao auto-valor = 1 vale
1
= 1 ;j i= 1 :
i
Como vimos, uma vez que + 6= devemos esperar que os vetores j iej +i
sejam ortogonais. De fato
1 2
h +j i= 1 1 i 1 =j 1j (1 1) = 0 :
i
1 1
je i = p :
2 i
1 1
je+ i = p
2 i
he+ j e i = 0 ; he+ j e+ i = he j e i = 1
onde
^j
M ki = k j ki :
85
Os resultados anteriores nos permitem também veri…car diretamente a re-
lação de completeza. Calculando
1 1 1 1 i
je i he j = 1 i = ;
2 i 2 i 1
1 1 1 1 i
je+ i he+ j = 1 i = ;
2 i 2 i 1
temos
1 1 i 1 i 1 0
je i he j + je+ i he+ j = + = :
2 i 1 i 1 0 1
Esta é uma forma bastante prática para construir bases para espaços e é
exatamente o que vamos usar para construir nossas funções ortogonais.
Para qualquer espaço de dimensão …nita o procedimento anterior para encon-
trar os autovetores pode ser aplicado (obviamente com uma di…culdade algébrica
crescente).
Mas e quando N = 1? Como resolver um sistema de in…nitas equações?
Primeiramente, vamos analisar melhor o tipo de operadores que podem surgir
em espaços de dimensão in…nita. Como vimos a correspondência
X Z
1
jf i = ck jek i ; ck = hf j ek i = f (x) exp ( ikx) dx
2
k
para funções L2 permite tratar a função (de…nida num intervalo contínuo), como
a seqüência discreta ck .
Lembre que, uma vez de…nida uma base, podemos pensar nos operadores
como atuando, não diretamente nos vetores, mas nos elementos da base. Ou
seja, para um operador D ^ agindo em H dado pelo produto esterno
^ = j ih j ;
D
86
signi…ca que nosso operador, nesta mesma base, possui a decomposição
X
D^ = Dmn jem i hen j
mn
onde
Dmn = m n :
A ação deste operador num vetor j i pode ser escrito como
X X X X
j i= ^
i jei i ) D j i = Dmn jem i hen j i jei i = Dmn n jem i :
i mn i mn
(51)
^ j i tem componentes
Ou seja, o novo vetor j i = D
X X
j i= i jei i ; i = Din n :
i n
^ em H como a atuação da
Podemos assim pensar na atuação do operador D
matriz Dnm nas componentes do vetor numa determinada base ortonormal e
^ j i como
calcular D X
Din n ;
n
que nada mais é que o produto da matriz quadrada D pela matriz coluna
.
Lembre que, apesar de estarmos usando a mesma letra, j i e são quanti-
dades diferentes. O vetor 0 1
x1
B C
j i = @ x2 A
..
.
representa uma seqüência xk que independe da base, enquanto as componentes
k dependem da base. Assim, se vamos trabalhar com o produto matricial D
devemos lembrar que todas estas quantidades (diferente de xk ) dependem da
base.
O ponto da explicação acima é que operadores atuando em vetores
podem ser vistos, uma vez …xada uma base, como matrizes atuando
nas componentes do vetor nesta base. Isso implica que:
A cada operador D ^ agindo no espaço das funções, existe uma matriz D
(in…nita) agindo no espaço das seqüências in…nitas que de…nem as componentes
do vetor jf i 2 L2 . Assim como podemos tratar tanto as seqüência como as
funções, podemos trabalhar tanto com D ^ : L2 ! L2 quanto com D : C1 ! C1
dependendo da conveniência. Mais ainda, a cada operador agindo em C1 , ou
seja, uma matriz quadrada in…nita, corresponde um operador agindo em L2 .
Voltemos para a nossa base fjek ig com componentes
1
ek (x) = p exp (ikx)
2
87
e, para os coe…cientes ck da nosso função f de…nidos nesta base (i.e., os coe…-
cientes da série de Fourie) X
jf i = ck jek i ; (52)
n
Dmn = i mn n
temos X X
jgi ^ jf i =
D i mn ncn jem i = incn jen i :
mn n
^ jf i valem
Ou seja, as componentes do vetor jgi = D
X
g (x) = incn exp (inx) :
n
88
Assim, as componentes do novo vetor jgi são as derivadas das compo-
nentes de jf i. Podemos então identi…car o operador D ^ associando a matriz D
com o operador diferencial d=dx agindo nas componentes do vetor jf i, ou ainda,
como um operador diferencial
D^ = d
dx
agindo no espaço das funções de quadrado integrável.
Da mesma forma, podemos construir operadores que correspondem à difer-
enciais de ordem mais alta. Assim, um tipo bastante especial de operadores que
agem em L2 são operadores diferenciais.
Cabe aqui uma observação sobre a MQ. O exposto acima nos diz que a
igualdade X
jf i = ck jek i ; jf i 2 L2 (a; b) :
k
^ jgi = hgj M
Usando a igualdade hf j M ^ + jf i
Z b h i Z b h i Z b h i Z b h i
f (x) M^ g (x) dx = g (x) M^ + f (x) dx = g (x) M^ + f (x) dx = ^ + f (x) g (x) dx
M
a a a a
(53)
A relação acima de…ne o adjunto dos operadores agindo em L2 .
Em especial, para operadores hermitianos, temos a relação (47)
^ jgi = hgj M
hf j M ^ jf i :
89
que fornece
Z b h i Z b h i
f (x) M^ g (x) dx = ^ f (x) g (x) dx ;
M
a a
^ = d
D
dx
agindo em L2 (a; b) é hermitiano. Para isso calculamos
Z b h i Z b
^ jgi = ^ (x) dx = dg
hf j D f (x) Dg f dx :
a a dx
df df
=
dx dx
temos Z Z Z
b h i b h i b h i
^ b
f Dg dx = f g ^ g dx 6=
Df ^ g dx
Df
a
a a a
90
2. a derivada das funções também pertençam a L2 (a; b). Isso é necessário
porque nosso operador é uma diferencial e, para que este seja um operador
no nosso espaço, ele deve levar funções do espaço em outras funções do
^ 2 L2 (a; b). Esta exigência deve ser ampliada
mesmo espaço. Ou seja, Df
quando tratamos de operadores diferenciais de ordem mais alta.
3. as funções sejam nulas nas extremidades, f (a) = f (b) = 0. Isso é
necessário (na nossa esperança de simetrizar o operador) para eliminar
o termo de fronteira da integração por partes;
4. Finalmente, as funções devem ser absolutamente contínuas (a:c:). Este
é um detalhe técnico intrincado, mas podemos simpli…cá-lo dizendo que,
grosso-modo, funções absolutamente contínuas são aquelas que podem ser
integradas por partes. Isso certamente é válido para todas as funções
bem comportadas que vamos trabalhar. Ou seja, esta teoria vale também
para funções que não sejam in…nitamente diferenciáveis e que possuem
certas descontinuidades em suas derivadas. Mas isso é muito mais do que
precisamos.
Onde colocamos uma linha no operador para indicar que este age no espaço L0 .
Mas, ainda assim, nosso operador não é hermitiano.
Mais ainda, podemos escrever a relação acima como
Z b h i Z bh i
^ 0
f D g dx = D^ 0 f g dx
a a
Entretanto, tudo isso era de se esperar, pois se olharmos para a matriz rela-
91
vemos que os elementos diagonais desta matriz não são reais. Além disso, se
tirarmos o transposto conjudado desta matriz temos
0 1
.. .. .. .. ..
B . . . . . C
B i2 0 0 C
B C
T
D =B B 0 0 0 C= D
C
B 0 0 i2 C
@ A
.. . . .. ..
. .. .. . .
que pode ser hermitiana ao agir sobre certas seqüência. Observe que
D2 = iD ;
^ =i d :
^ 2 = iD
D
dx
Vamos então calcular novamente
Z b h i Z b
^ ^ dg
hf j D2 jgi = f (x) D2 g (x) dx = f i dx
a a dx
Usando novamente uma integração por partes temos
Z b Z b
dg b df
f i dx = i f g a i g dx
a dx a dx
Observe agora que
df df df
i =i = i ;
dx dx dx
pois { = i. Com isso temos
Z b Z b
dg b df
f i dx = i f g a
+ i g dx
a dx a dx
92
^0
Novamente, para eliminarmos o termo de fronteira, de…nimos o operador D2
02
que atua no espaço L (a; b) de…nido anteriormente, com isso
Z b Z b
d d
f i g dx = i f g dx
a dx a dx
que pode ser escrito como
Z b h i Z b h i
f D^ 20 g dx = ^ 0 f g dx
D 2
a a
Ou seja, o operador ^0
D é hermitiano.
2
Assim:
Remark 26 Em espaços de dimensão in…nita, um operador não é apenas uma
regra de atuação mas também a especi…cação do domínio onde esta atuação é
válida. A mesma regra, para domínios diferentes, especi…ca operadores difer-
entes.
A especi…cação deste domínio não apenas traduz as características físicas do
sistema na descrição quântica, mas também in‡uencia nos resultados teóricos
esperados.
Na prática as características do nosso operador, como ser ou não hermitiano,
depende da …xação das condições de fronteira do problema. Além disso, para o
caso de funções com singularidades, depende da especi…cação do comportamento
destas funções nas fronteiras dos pontos de singularidade.
Além disso, como veremos no futuro, estas condições de fronteira estão di-
retamente ligadas com propriedades físicas do sistema.
93
6.9 Operadores auto-adjuntos
Voltemos nossa atenção agora para o operador adjunto. Ou seja, qual o domínio
do operador adjunto D^ + para que D^ 2 seja hermitiano?
2
Como vimos, o adjunto de um operador M ^ pode ser de…nido pela expressão
(53)
Z bh i Z b h i
^ +
M f (x) g (x) dx f (x) M^ g (x) dx ; 8g 2 D M ^ ;f 2 D M ^+ ;
a a
^ agem em g, i.e., g 2 D M
onde devemos notar que o operador M ^ , enquanto
Para que nosso operador seja simétrico, basta que o último termo se anule.
Então, a nossa pergunta se torna:
quais podem ser as funções f para que o último termo se anule?
Lembrando que, pela de…nição do domínio (55) de D ^0
2
Z b h i Z bh i Z b h i
f D^ 0 g dx = ^ 0 f g dx + i f (b) :0 f (a) :0 =
D ^ 0 f g dx ;
D
2 2 2
a a a
^ +0 = f; f 0 2 L2 (a; b) ; a:c:
D D :
2
94
Vemos explicitamente que
^ +0 6= D D
D D ^ 20 ;
2
^ 20 = i d ; D
D ^ +0 = i d
2
dx dx
^ =D M
D M ^+
se exigirmos que L ^ i 2 L2 .
Obviamente nem todas as funções em L2 possuem sua derivada de ordem m
em L2 , além disso, como vimos no exemplo anterior, condições de contorno (ou
considerações físicas) podem impor certas restrições nas funções nas fronteiras,
i.e., …xar o valor de (a) e (b). Assim, geralmente, um operador não atua em
todo L2 , mas sim num subconjunto D (L) L2 .
95
Remark 27 Para especi…carmos um operador L ^ devemos sempre informar sua
expressão diferencial (56) e seu domínio de atuação.
h ^+
2j L j 1i =h ^
1j L j 2i ;
^ de…nimos o seu conjugado pela expressão
ou seja, dado um operador L
Z b Z b h i
[L+ 1 (x)] 2 (x) dx (x) ^
L 2 (x) dx :
1
a a
Exemplo: Se
L^= d
dx
e D (L) são as funções 2 L2 (a; b) com 0 2 L2 e (a) = (b) = 0 encontre
^ + . Este é o mesmo exemplo que resolvemos acima. Pela de…nição temos
L
Z b h i Z b
^ ^ d
h 1j L j 2i = 1 (x) L 2 (x) dx = 1 (x) 2 (x) dx
a a dx
se nossas funções são absolutamente contínuas, i.e., podem ser integradas por
partes, temos
Z b Z b
d b d
1 (x) 2 (x) dx = [ 1 (x) 2 (x)]a 1 (x) [ 2 (x)] dx
a dx a dx
Z b Z b h i
d ^+
= 1 (x) [ 2 (x)] dx = L 1 (x) 2 (x) dx
a dx a
assim
^+ = d
L
dx
^ + . Para de…nirmos completamente este operador
Esta é a forma diferencial de L
precisamos ainda especi…car D (L+ ).
Exemplo: O operador
^=c; c2C
L
96
Novamente
Z b h i
h ^+
2j L j 1i = ^+
L 1 (x) 2 (x) dx h ^
1j L j 2i
a
Z b
= 1 (x) [c 2 (x)] dx
a
Z b
= [c 1 (x)] 2 (x) dx
a
Z b h i
= ^+
L 1 (x) 2 (x) dx ;
a
assim
^+ = c :
L
^ + pode ser todos o espaço L2 (e, é claro, a restrição
A princípio o domínio de L
^
L + 2
2 L ). Entretanto, podemos impor certas característica no operador L ^
(e.g., hermiticidade) que, para serem mantidas, restringem também o domínio
de L^+.
Exemplo: Como vimos anteriormente, o operador
^=i d ; D L
L ^ = ; 0
2 L2 (a; b) ; (a) = (b) = 0; a:c:
dx
é hermitiano, mas não é auto-adjunto. Pois
^ + = f; f 0 2 L2 (a; b) ; a:c: 6= D L
D L ^ :
^c = i d ; D L
L ^c = ; 0
2 L2 (a; b) ; a:c: ; (a) = c (b) ; c2C
dx
Usando o procedimento usual temos
E D
^ c 2 = [ 1 (x) 2 (x)]b + L
h 1j L ^ 1 2i
a
D
= 1 (b) 2 (b) 1
^
(a)
(a) + L 2 1 2i
D
= [ 1 (b) c 1 (a)] 2 (b) + L ^ 1 2i
D
6= L^c 1 2i
^+
Para tentar simetrizar este operador, vamos tentar de…nir o domínio de D L
como
^+ =
D L ; 0
2 L2 (a; b) ; a:c: ; ^
(a) = c (b) = D L
c
97
com isso,
E D
h 1j
^
L 2 =[ 1 (b) c
(b) + L
1
^ 1 2i
(a)] 2
D
= [ 1 (b) cc 1 (b)] 2 (b) + L ^ 1 2i
D
= [1 cc ] 1 (b) 2 (b) + L ^ 1 2i
h i D
2 ^
= 1 jcj 1 (b) 2 (b) + L 1 2i
^ =i d ; D L
L ^ = ; 0
2 L2 (a; b) ; a:c: ; (a) = ei (b) ; 2R:
dx
^ , diferente de L,
Assim, o novo operador L ^ é um operador auto-adjunto.
oD L ^+
^ ,D L D L ^+
^ , enquanto no segundo caso D L ^ . É
=D L
possível provar que D L ^ D L ^ + , i.e., o domínio de L
^ nunca é maior que
o domínio de L ^ + . O que …zemos no segundo exemplo foi restringir o domínio
^ + , que chamamos de D L
de L ^ + . Obviamente D L+ D (L+ ). Assim,
se D (L+ ) 6= D (L), como no primeiro exemplo, as vezes (mais nem sempre)
é possível reduzir o domínio do adjunto de forma que o novo operador seja
auto-adjunto.
Vemos assim que todo operador auto-adjunto é, por de…nição, hermitiano,
mas o contrário não é verdade. Esta diferença, que a primeira vista parece
uma tecnicalidade, possui importantes conseqüências tanto matemáticas quanto
físicas.
98
Remark 28 O estado de um sistema físico é completamente descrito por um
vetor (normalizado) no espaço de Hilbert
j i2H :
E vetores que di…ram apenas por uma fase representam o mesmo estado físico.
Sabendo-se agora qual vetor representa o sistema, sabemos todas as caracterís-
ticas físicas deste sistema.
Neste momento não podemos falar muito sobre este postulado, mas voltare-
mos a isso no futuro. Contudo, precisamos começar por ele uma vez que todo o
desenvolvimento depende desta associação.
Uma vez preparado um sistema no laboratório, este sistema “será”um vetor
no espaço de Hilbert. Precisamos agora saber como descrever (dentro da teoria)
a manipulação, a evolução temporal e as possíveis medidas que fazemos
neste sistema.
Quando um sistema no estado j i sofre qualquer tipo de modi…cação ele
passa a ser descrito por um novo vetor j 0 i. Ou seja (qualquer) modi…cações
no sistema são transições
j i ! j 0i
Estas transições podem ser descritas por operadores agindo em H,
^j i
j 0i = M
Assim, tudo que acontece com o sistema pode ser representado por
um operador agindo em H.
Um tipo muito especial destes operadores são exatamente as medidas que
podemos fazer no sistema (e.g., sua energia), ou seja, tudo o que podemos
observar do sistema. Estas quantidades são chamadas de observáveis.
Outro postulado da MQ a…rma que :
99
Remark 30 Uma medida do observável M ^ pode fornecer apenas autovalores
deste operador e, logo após uma medida em que se obteve o valor mn o sistema
estará no estado j n i.
^ é o operador que representa a energia do sistema, sabemos que
Assim, se H
este operador possui uma série de auto-vetores e auto-valores.
^j
H ni = En j ni
O que o postulado acima sobre os autovalores nos diz é que, numa medida da
energia do sistema, podemos obter apenas um dos valores En acima.
Problem 32 Mas o que signi…ca o sistema estar num estado e ser encontrado
em outro?
Este é o ponto principal de tudo que …zemos até aqui e a maior diferença
entre a teoria clássica e quântica. Lembre-se que um operador hermitiano H^
possui um conjunto de autovetores e autovalores reais
^j
H ni = En j ni ; En 2 R :
Podemos também fazer a a…rmação inversa e dizer que a todo vetor temos
associado um estado físico. Assim, por exemplo, imagine que o sistema está
num estado j i cuja decomposição é dada por
j i = c1 j 1i + c2 j 2i
100
Problem 33 Qual a energia deste estado?
h 1j i = h 1 j (c1 j 1i + c2 j 2 i)
= c1
ondas) colapsou para uma das ondas do pacote. Este efeito é chamado de colapso da função
de onda.
101
medida da energia e obtém (porque é tudo uma probabilidade) uma energia E2 .
Suponha agora que você seja capaz de produzir com este mesmo equipamento,
exatamente sobre as mesmas condições (o que é possível em teoria), uma
segunda partícula idêntica a primeira (ou você construiu dois equipamentos
exatamente iguais). Neste caso, dentro das condições ideais colocadas, pelo re-
sultado da primeira partícula você sabe que, para esta segunda, P (E1 ) = 0 e
que, numa medida da energia, você obterá certamente o valor E2 . Quantica-
mente isso não é necessariamente verdade. Se você produzir duas partículas
idênticas no estado j i acima (e isso é possível!) e efetuar uma medida da
energia destas duas partículas você poderá obter valores diferentes com probabil-
2 2
idade P (E1 ) = jc1 j e P (E2 ) = jc2 j .
Remark 35 Outro ponto a se notar é que sob certas condições (como vimos
no átomo de Bohr) observáveis como energia podem assumir apenas valores
discretos. Não existe nenhum análogo clássico para este comportamento.
Assim, a quantidade
N
X 2
jcn j ;
i=1
Que, como você deve se lembrar, signi…ca que as própria seqüências cn pos-
síveis formam um espaço de Hilbert.
Outra forma de dizer a mesma coisa acima é exigir que o estado esteja
normalizado
2
jh j ij = 1 :
Que pode ser lida como: se sabemos que o sistema está no estado j i a probabil-
idade dele ser encontrado neste estado é 100%. Observe que, para todo estado
quântico
2
jh j ij < 1 =) j i 2 H :
e além disso
2
jh j ij = 1 (normalizado):
102
Além disso, se de…nirmos uma novo estado
j 0 i = ei j i
j 0 i = ei [a j 1i + bj 2 i] ;
h 3 j 2i =0:
E o fato destes vetores j n i formarem uma base signi…ca que nosso sistema
pode, em princípio assumir qualquer valor do observável, com uma certa prob-
2
abilidade jcn j .
Além disso, o fato de operadores hermitianos terem apenas autovalores reais
está relacionado com medidas nos darem apenas valores reais.
103
de exemplares desta coleção de sistema, efetuamos em cada um a medida de
um certo observável M e tiramos a média deste valor para obter hM i. Esta
quantidade é também chamada de valor esperado do observável.
Classicamente, se cada exemplar do nosso sistema tem uma probabilidade
Pi de que o observável M forneça o valor mi , esta média pode ser calculada
como X
hM i = P i mi
i
onde
^ j i i = mi j i i
M
Substituindo em (58) temos
2 3 " #
X X XX
h jM^ j i=4 h j j cj 5 M
^ ci j i i = cj ci h ^ j ii
jj M
j i j i
XX XX
= cj ci h j j mi j ii = mi cj ci ij
j i j i
X 2
X
= jci j mi = Pi mi ;
i i
2
onde usamos que jci j é a probabilidade de se obter o valor mi numa medida de
M^.
Um ponto importante deste postulado está no fato de geralmente, em exper-
iências, não estamos tratando apenas com uma entidade, mas sim uma coleção
destas entidades. Por exemplo, uma corrente de elétrons, um feixe de laser
(vários fótons), ou um feixe de partículas. Assim, o que nossos aparelhos reg-
istram pode não ser o valor possível do observável, mas sim uma média destes
104
valores. Com isso, o valor esperado de um observável quântico está diretamente
relacionado com o limite clássico no valor deste observável. Ou seja, se temos
um feixe de partículas (e.g., elétron) no estado
j i = c1 j 1i + c2 j 2i
onde
^ j i i = Ei j i i
H
são autoestados da energia, se medirmos a energia do feixe (não de um único
elétron) nosso aparelho clássico mostrará o valor
^ j i = E1 jc1 j2 + E2 jc2 j2 :
E = hHi = h j H
O ponto descrito acima é apenas um exemplo de uma característica mais
geral da teoria quântica de, sob certas circunstâncias, o valor esperado repro-
duz os mesmo resultados da teoria clássica. Por exemplo, para um grande
número de partículas, ou para altas energias. Este é o chamado Princípio
da Correspondência. Este princípio, que na velha MQ foi usado apenas para
testar certas teorias e estabelecer um link entre as previsões da teoria e os fenô-
menos observados em laboratório, será de importância crucial no processo de
quantização de sistemas com in…nitos graus de liberdade.
8 Quantização canônica
O ponto, obviamente crucial, que ainda não foi respondido é: como encontrar o
operador M^ que corresponde à quantidade clássica M . Um procedimento qual-
quer que permite associar quantidades clássicas a operadores (ou quantidades
quânticas) é chamado de quantização.
O procedimento mais geral e e…ciente de quantização foi proposto por Dirac.
Este processo parte da descrição hamiltoniana do sistema clássico e, por isso,
é chamado de quantização canônica. Este processo está relacionado com a
seguinte conseqüência do Princípio da correspondência:
Remark 36 A dinâmica da médias dos operadores (e.g., h j M ^ j i) deve cor-
responder evolução temporal da respectiva quantidade clássica M (t).
De outra forma, a pergunta a ser respondida pelo processo de quantização
é como agem os operadores. Isto é, H^ j i = j?i. Para responder esta pergunta,
voltamos à mecânica clássica. Na mecânica clássica, um elemento crucial para
se descrever a dinâmica dos sistemas são os parênteses de Poisson
@f @g @f @g
ff; gg = :
@x @p @p @x
Dirac mostrou que, para se respeitar a condição acima (o princípio da corre-
spondência), basta exigir que para dois observáveis f e g tenhamos
i h^ i h^ i
ff; gg ! f ; g^ ; f ; g^ = f^g^ g^f^ : (59)
~
105
Em outras palavras, se os operadores f^ e g^ respeitarem a relações acima,
Da mesma forma que a dinâmica dos sistemas eram descritos por trajetórias
no espaço de fase, em MQ esta dinâmica é dada pela mudança do vetor que
descreve o sistema em H. Ou seja, é uma trajetória no espaço de Hilbert.
Assim, a dinâmica do sistema (sua evolução temporal) também é descrita por
um operador. Ou seja, se um sistema está no estado j 0 i no tempo t0 seu estado
num tempo posterior t será
j ti = U (t; t0 ) j 0i :
106
Supondo que U é um operador contínuo com relação ao parâmetro t, podemos
escrever para uma evolução in…nitesimal dt,
U (t + dt; t) = 1 + T^dt :
2
implica que T^ é anti-unitário (até ordem de (dt) ),
T^+ = T^ :
h (t)j A^ j (t)i = h 0j U
+ ^ j
AU 0i ;
Usando a anti-initariedade de T^
d ^ j
h 0j U
+
AU 0i =h 0j U + T^AU
^ + U + A^T^U j 0i
dt
= h T^AU
^
0j U
+
U + A^T^U j 0i
= h 0 j T^U + AU
^ ^ T^ j
U + AU 0i
onde
A^ (t) = U + AU
^
107
(A (t) é um operador na representação de Heisenberg). Ou seja, o valor médio
de qualquer operador A^ evolui no tempo como
d ^ h i
A (t) = A^ (t) ; T^ : (63)
dt
Agora, na mecânica clássica sabemos que a evolução temporal de uma função
A (t) no espaço de fase pode ser escrita como
dA
= fA; Hg :
dt
Assim, usando (63) e (62), invocando novamente a relação (59), temos
dA i h ^ ^ i h ^ ^i i ^
= fA; Hg ! A; H = A; T =) T^ = H ;
dt ~ ~
com isso
dU dU i ^
= T^U =) = HU : (64)
dt dt ~
Diferente do que ocorre para funções ordinárias a solução da equação difer-
encial acima para um operador não é, em geral, uma simples exponencial. Pois
a identi…cação
1
a a N X an
e = lim 1 = ;
N !1 N n=0
n!
depende de uma reorganização dos elementos da somatória que, por sua vez,
depende da comutação destes elementos. Entretanto, para o caso geral, podemos
ter h i
^ (t1 ) ; H
H ^ (t2 ) 6= 0 :
Por exemplo, num sistema com dois níveis de energia, pode ocorrer que
^ (t1 ) = 1 0 ^ (t2 ) = 0 1
H 3 = ; H 1 = :
0 1 1 0
com isso,
h i
^ (t1 ) ; H
^ (t2 ) = 1 0 0 1 0 1 1 0
H
0 1 1 0 1 0 0 1
0 2
=
2 0
108
pois, com isso,
Z t Z t
dU (t; t0 ) d i ^ ( ) U ( ; t0 ) d d i ^ ( ) U ( ; t0 ) d
= 1 H = H
dt dt ~ t0 dt ~ t0
Onde, pela expressão original, …ca claro que na expressão acima t0 n 1 :::
2 1 t.
109
Assim, nosso operador temporal pode ser calculado como
1
X n Z tZ Z
i n 1
^ ( )H
^ ( 1 ) :::H
^(
U (t; t0 ) = ::: H n 1) d n 1 :::d 1 d
n=0
~ t0 t0 t0
(66)
A expressão acima pode ser colocada numa forma mais simples mudando
todos os integrandos para o mesmo limite. Suponha que o hamiltoniano comute
em tempos diferentes. Com isso é fácil ver que
Z tZ Z Z
^ ^ 0 0 1 t t ^ ^ ( 1 ) d 1 d ; (H
^ comuta)
H ( )H ( ) d d = H ( )H
t0 t0 2 t0 t0
110
chamado de operador de ordenamento temporal
Z tZ Z n 1
::: ^ ( )H
H ^ ( 1 ) :::H
^ ( n 1) d n 1 :::d 1 d
t0 t0 t0
Z tZ t Z t h i
1 ^ ( )H
^ ( 1 ) :::H
^(
= ::: T H n 1) d n 1 :::d 1 d
n! t0 t0 t0
Esta simbologia indica que (assim como acontece no lado esquerdo da expressão)
os termos dentro do sinal de integral devem ser colocados em ordem crescente
do tempo.
Com isso, nosso operador de evolução temporal pode ser escrito como
Z
i t ^
U (t; t0 ) = T exp H( ) d
~ t0
X1 nZ tZ t Z t h i
1 i ^ ( )H
^ ( 1 ) :::H
^ ( n 1 ) d n 1 :::d 1 d
::: T H
n=0
n! ~ t0 t0 t0
(67)
Obviamente tanto a expressão (66) quanto (67) podem ser usadas para se
determinar a evolução temporal do sistema.
O cálculo da série acima é, em geral, um problema extremamente compli-
cado que, na verdade, não pode ser resolvido na maior parte dos casos. Mas,
felizmente, nem todos os problemas são tão complicados assim.
Para o caso mais simples em que o hamiltoniano comuta em diferentes in-
stantes h i
^ (t1 ) ; H
H ^ (t2 ) = 0 ;
X1 n Z t n
1 i ^
= H( ) d ;
n=0
n! ~ t0
111
Além disso, para o caso ainda mais simples onde o hamiltoniano não de-
pende do tempo temos
Z Z
i t ^ i ^ t i ^
U (t) = exp H d = exp H d = exp Ht
~ 0 ~ 0 ~
X1 n
i ^n :
= t H
n=0
~
^ independente do tempo,
com isso, para o caso de H
X i ^ X
j ti = exp H t cn j n i = cn (t) j ni ;
n
~ n
i
cn (t) = cn exp En t :
~
Onde a expressão acima envolve apenas números (não mais operadores).
(Unitáriedade dos coe…cientes)
A unitáriedade do operador de evolução temporal garante que para qualquer
^ se
observável A,
X
j 0i = an j n i ; A^ j n i = an j n i ;
n
então X X
2 2
jan (t)j = jan j = 1 ;
n n
2 2
apesar de, em geral, jan (t)j 6= jan j .
Assim, expandindo a nossa função na base de autovetores do hamiltoniano
podemos introduzir toda a evolução temporal do sistema nos coe…cientes da
expanção.
112
8.2 Resumo
As regras do processo de quantização canônica, ou os postulados acima, podem
ser resumidos como:
j i2H: (69)
E vetores que di…ram apenas por uma fase representam o mesmo estado
físico. Sabendo-se agora qual vetor representa o sistema, sabemos todas
as características físicas deste sistema;
2. A todo o observável esta relacionado um operador hermitiano;
3. Uma medida do observável M ^ pode fornecer apenas autovalores deste
operador e, logo após uma medida em que se obteve o valor mn o sistema
^ com autovalor mn ;
estará no estado n , auto-estado de M
4. A dinâmica da médias destes operadores
hM i ^j i ;
h jM
113
Para B = B z^, temos
@B
F = r( z B) ; = z
@z
O momento magnético na presença de um campo magnético gera também
um torque
= B:
Entretanto, como mostrado nos trabalhos de Einstein e de-Hass, o momento
magnético não se curva em direção do campo, mas apenas passa a precessionar
nesta direção. Assim, quando um sistema com momento magnético é colocado
num campo magnético, ele se desloca na direção de variação do campo, sem
variar a projeção do momento na direção do campo. Ou ainda, mantendo
B constante. Além disso, qualquer variação nesta projeção alteraria a energia
U do sistema e esta energia teria de vir do campo.
Concluindo: o momento magnético não se alinha com o campo, mas o
sistema como um todo se desloca na direção da variação do campo.
Pelo comportamento de algumas partículas num campo magnético, sabemos
experimentalmente que estas possuem um momento magnético. Um dispositivo
para medir este momento magnético seria fazer passar um feixe destas partículas
por um campo variável na direção z. Este é o chamado experimento de Stern-
Gerlach.
O feixe é produzido termicamente, de sorte que seus constituintes possuem
todos os valores possíveis de momento magnético. Classicamente, se um tal
feixe passar pelo experimento acima, esperamos que ele sofra uma força
@B
Fz = z ;
@z
que depende da projeção de na direção do campo. Assim, classicamente
esperamos que as partículas sejam de‡etidas continuamente dede o valor z = 0
até um valor máximo z = j j. Entretanto, quando o experimento foi realizado
nos idos de 1922 não foi isso que se observou.
Ao passar pelo aparato o feixe se dividiu em duas componentes com valor
~
B :
2
Assim, fazendo
~
z = B Sz ; Sz =
2
temos que o momento magnético z é proporcional ao spin Sz e este pode
assumir apenas os valores discretos ~=2.
Os constituintes dos átomos, bem como combinações destes constituintes
possuem está característica. O próprio experimento foi realizado com átomos
de prata que dos seus 47 elétrons 46 estão emparelhados e anulam seus spins.
Sobrando apenas o spin do elétron da camada mais externa. Além disso, o
momento magnético de todos os constituintes vale
gs
= S;
2m
114
de sorte que podemos ignorar a in‡uência do momento magnético do núcleo.
Sendo o átomo neutro, apenas o spin do último elétron in‡uência no comporta-
mento de todo o átomo.
Partículas com esta característica são chamada de partículas de spin 12 (pró-
tons, neutrons, elétrons etc).
Assim, no que se refere ao spin na direção z, partículas de spin 12 podem
apresentar apenas dois valores possíveis deste observável. Sendo o spin
um observável, e pelos postulados colocados anteriormente, sabemos que estes
valores são os autovalores do operador de spin. Chamemos seus auto-vetores de
~
S^z j i = j i :
2
Sabemos também que estes autovetores formam uma base do nosso espaço.
Assim, se queremos estudar apenas o spin de um partícula de spin 12 (e.g.,
um elétron), podemos trabalhar com um espaço de Hilbert de duas dimensões.
Como vimos, neste espaço vetores são matrizes coluna de dois elementos e op-
eradores matrizes 2 2.
Observe que se estamos estudando um elétron, estamos ignorando completa-
mente qualquer outra característica desta partículas, como posição e momento.
Queremos saber apenas como o spin deste elétron se comporta num campo
magnético.
Uma vez escolhida a base fj+i ; j ig, temos também uma forma matricial
para os nossos operadores. Lembre-se que, dada uma base fjei ig nosso operador
nesta base atua como X
S^z = Szmn jem i hen j ;
mn
115
Ou seja
~ 1 0
S^z = :
2 0 1
Podemos ver explicitamente que, como supúnhamos,
~ 1 0
S^z+ = = S^z :
2 0 1
Algumas características gerais podem ser tiradas deste exemplo: Sempre que
escolhemos trabalhar na base de autovetores de um operador, a forma matricial
deste operador (nesta base) é diagonal. Com a diagonal formada pelos seus
autovalores.
Uma vez de posse da forma matricial do nosso operador, podemos determinar
a forma dos nossos autovetores
~ ~ 1 0 a ~ a
S^z j+i = j+i ) =
2 2 0 1 b 2 b
a
b= b ) b = 0 ) j+i =
0
Normalizando nosso vetor e …xando (arbitrariamente) a fase global, temos:
1
j+i = :
0
Da mesma forma, podemos determinar:
0
j i= :
1
Onde, por serem autovetores de um operador hermitiano com autovalores dis-
tintos
h+ j i = 0 :
Exercise 39 Use os resultados acima para veri…car a resolução da identidade.
Ou seja, usando as formas matriciais acima mostre que:
X 1 0
jen i hen j = j+i h+j + j i h j = :
0 1
n
116
Classicamente o momento magnético é um vetor (i.e., tem 3 componentes).
No nosso caso também devemos ter 3 operadores para o spin da nossa partícula.
Os dois outros operadores, que podemos chamar de S^x e S^y são obtidos, obvi-
amente, medindo o momento magnético nas demais direções. Ou seja, girando
nosso SG nas direções x e y. Vamos tentar determinar a forma destes oper-
adores.
Mas nós queremos fazer isso trabalhando ainda mesma base de
antes. Ou seja, sabemos que uma medida do spin na direção x deve fornecer
também 2 valores (a…nal não há nada especial com a direção z). Assim devemos
ter
~
S^x jx i = jx i
2
onde
jx+ i = a+ +
1 j+i + a2 j i : (70)
Uma vez escolhida a forma matricial de j i temos a forma matricial de jx+ i.
Tudo que precisamos então e achar os coe…cientes a+
i da expressão acima.
Para isso usamos mais um dos nossos postulados. Sabemos que
2 2
a+
1 = jh+ jx+ ij
117
se pegarmos este feixe e passarmos por um segundo SG orientado na direção x,
2
tudo que precisamos fazer para determinar a+ 1 e medir a intensidade deste
feixe.
Realizado o experimento, veri…ca-se que o feixe se divide, novamente, em
dois feixes de igual intensidade. Ou seja, metade das partículas possuem
Sx = +~=2 e metade Sx = ~=2. Com este resultado, podemos a…rmar que
2 1 2 ei 1 ei 2
a+
1 = = a+
2 ) a+
1 = p ; a+
2 = p ; 1;2 2R:
2 2 2
Assim, lembrando que uma fase global é irrelevante (primeiro postulado), sabe-
mos que o estado (70) possui a forma:
1 ei x
jx+ i = p j+i + p j i ; + 2R: (71)
2 2
Lembre agora que a fase x acima não é uma fase global e, conseqüentemente,
possui signi…cado físico. Ou seja, não podemos escolher arbitrariamente esta
fase.
Este resultado, completamente inesperado, mostra a característica men-
cionada anteriormente que, em MQ, a probabilidade não é uma ignorância do
sistema, mas uma característica intrínseca ao sistema. Observe que o estado
acima é uma superposição de dois estados com spins na direção oposta. Mas,
ao mesmo tempo, é um sistema bem determinado. Ou seja, todas as partículas
que saíram do SG na direção +^ x estão no estado jx+ i. Estes estados são todos
iguais, pois foram preparados exatamente da mesma maneira. Entretanto, uma
medida do spin na direção z deste estado fornece hora o valor +~=2 e hora o
valor +~=2.
Dizemos que o sistema no estado jx+ i acima não possui o valor de sz bem
de…nido e, apenas após a nossa medida, quando o sistema estará no estado j+i ou
j i, este valor foi …xado. Uma medida subseqüente do spin na mesma direção
fornecerá o mesmo valor, mas numa direção ortogonal voltará a apresentar o
resultado estatístico. Esta estatística é inerente ao sistema (é o elétron que está
neste estado) não uma ignorância nossa sobre os efeitos do aparelho de medida
no sistema.
Com argumentos análogos aos anteriores podemos escrever
0
1 ei x 0
jx i = p j+i + p j i ; x 2R: (72)
2 2
Entretanto, temos também que respeitar a condição de ortogonalidade dos ve-
118
tores,
0
!
1 e ix 1 ei x
hx jx+ i = p h+j + p h j p j+i + p j i
2 2 2 2
0
!
1 ei x e i x 1 0
= h+ j+i + h+ j i + h j+i + ei x e i x h j i
2 2 2 2
1 1 ix i 0
= + e e x =0
2 2
com isso, 0 0 0
ei x e i x = 1)e i x = e i x
) ei x = ei x
De sorte que
1 ei x
jx i = p j+i p j i ; + 2 R : (73)
2 2
Da mesma forma que …zemos no caso de Sz , o operador Sx pode ser escrito
como
~
S^x = (jx+ i hx+ j jx i hx j) (74)
2
pois, novamente,
~ ~
S^x jx+ i = (jx+ i hx+ j jx i hx j) jx+ i = jx+ i
2 2
~ ~
S^x jx i = (jx+ i hx+ j jx i hx j) jx i = jx i
2 2
Além disso, como no caso anterior, a forma matricial do operador S^x na base
fj+i ; j ig é dada por:
119
Com isso
~
Sx11 = h+j S^x j+i = h+j (jx+ i hx+ j jx i hx j) j+i
2
~
= h+j j+i h+j + e i x j+i h j + ei x j i h+j + j i h j
4
j+i h+j + e i x j+i h j + ei x j i h+j j i h j j+i
~
= (1 1) = 0
4
Da mesma forma
~ i ~ i
Sx21 = h j S^x j+i = e x
+ ei x
= e x
;
4 2
Sx22 = h j S^x j i = 0 ;
~
Sx12 = h+j S^x j i = h j S^x j+i = e i x
:
2
Ou seja
~ i
0 e x
S^x = i :
2 e x
0
1 ei y
jy+ i = p j+i + p j i ; y 2R;
2 2
1 ei y
jy i = p j+i p j i
2 2
3. Escrevendo
~
S^y = (jy+ i hy+ j jy i hy j)
2
temos
~ i
0 e y
S^y = i :
2 e y
0
120
imaginar que, mais uma vez, o feixe se dividiu em duas partes de intensidades
iguais nas direções +^y e y^. Isso signi…ca que, estado a partícula no estado
jx+ i a probabilidade de encontrar esta partícula no estado jy+ i ou jy i vale
2 1
jhy jx+ ij = :
2
Usando os resultados anteriores temos
1 e iy 1 ei x
hy jx+ i = p h+j p h j p j+i + p j i
2 2 2 2
1
= 1 ei( x y)
:
2
Com isso
2
2 1 1
jhy+ jx+ ij = 1 ei( x y)
=
2 2
2
1 ei( x y)
=2
Lembrando que
2
j1 ij = 11 + 12 = 2 ;
temos
: x y =
2
Isso é tudo que podemos …xar com nossos experimentos de espalhamento.
Obviamente nosso problema apresenta uma fase que pode ser …xada arbitraria-
mente, sem in‡uenciar nos resultados experimentais. Assim, fazendo
x = 0 =) y =
2
Temos a forma explicita de nossos vetores
1 0
jz+ i = j+i = ; jz i = j i = ;
0 1
1 1 1
jx i = p [j+i j i] = p ;
2 2 1
1 1 1
jy i = p [j+i i j i] = p ;
2 2 i
e dos nossos operadores
~ 1 0 ~ 0 1 ~ 0 i
S^z = ; S^x = ; S^y = :
2 0 1 2 1 0 2 i 0
A notação acima pode ser escrita de forma mais compacta se introduzirmos a
notação
0 1 0 i 1 0
1 ; 2 ; 3
1 0 i 0 0 1
121
com isso
~
S^i = ^
i ; S1 S^x ; S^2 S^y ; S^3 S^z
2
ou, numa notação vetorial,
^=~
S
2
com = ( 1 ; 2 ; 3 ). As três matrizes s acima são chamadas como matrizes de
Pauli.
^ = ~S^ ; ~ = gs :
2m
Como vimos, a energia potencial de uma partícula de momento magnético
m sujeita a um campo magnético B vale:
U= B
E=U = B=H :
^ = ^= ~
H ^ B ; ^ = ~S ~
2
122
com isso
^ = ~
H B; = ~:
2
Para o caso do elétron
e~
= B =
2me
é o magneton de Bohr.
Exemplo 1.
Suponha então um elétron num campo magnético B constante na direção z^
(não é mais um SG). Este elétron tem dois estados possíveis de energia
^ =
H BB 3 )H^j i= ( ) BB j i= BB j i
E+ = BB ; E = + BB
B 1
j ti = U (t) j 0i = exp i B 3t p (j+i + j i)
~ 2
1 B B
= p exp i B 3 t j+i + exp i B 3t j i
2 ~ ~
1 B B
= p exp i Bt j+i + exp i Bt j i
2 ~ ~
1
= p (exp (i!t) j+i + exp ( i!t) j i)
2
com
B
!= B
~
123
Podemos então cálcular
1 1
hx j ti = p (h+j h j) p (exp (i!t) j+i + exp ( i!t) j i)
2 2
(exp (i!t) exp (i!t))
=
2
= i sin !t
Com isso
2 B
jhx j t ij = sin2 !t ; ! =
B:
~
Em especial, em t = 0, temos que a probabilidade é nula, pois sabemos que
a partícula está no estado jx+ i.
Problem 45 Suponha que você quer inverter o spin do elétron, por quanto
tempo você deve aplicar o campo?
2 1 0 1 0 1 0
3 = = =I
0 1 0 1 0 1
Além disso
3 2
3 = 3 3 = 3I
124
assim
2n 2n+1
( 3) =I ; ( 3) = 3
125
Remark 46 Sempre que tivermos a sorte de encontrar esta forma matricial do
operador de evolução não precisamos decompor o estado inicial.
Exempo 2:
Uma partícula de spin 12 está sujeita a superposição de dois campos, de
mesma intensidade B, um na direção x^ e outro na direção y^,
B=x
^B + y^B
Neste caso o Hamiltoniano do sistema tem a forma
^ =
H B= B( 1 + 2) :
i ^
U (t) = exp Ht
~
Bt
= exp i ( 1 + 2)
~
= exp [ i!t ( 1 + 2 )]
B
!=
~
Problem 48 Será que podemos escrever
?
exp [ i!t ( 1 + 2 )] = [ i!t 1] [ i!t 2] ?
126
A resposta é não! A igualdade
eA+B = eA eB
1 1 0 1 i
=p ( 1 + 2) =p
2 2 1+i 0
que satisfez
1 2 2 1
=
( 1 + 2 ) = 2I = I :
2 2
Em termos deste operador nosso operador de evolução se torna
p ( 1 + 2) h p i
U (t) = exp i!t 2 p = i!t 2 ;
2
E podemos escrever
h p i p p
U (t) = i!t 2 = cos !t 2 i sin !t 2
p p !
cos !t 2 p1 (i + 1) sin !t 2
= p 2 p
p1 (1 i) sin !t 2 cos !t 2
2
p
Observe que a freqüência e oscilação do campo possui um fator 2.
Como mencionado, nem sempre é possível encontrar uma forma matricial
para o operador de evolução. Entretanto, o método de expansão dos estados
em auto-estados do hamiltoniano sempre funciona. Vamos então aplicar este
método para resolver o problema anterior, i.e., com hamiltoniano
^ =
H B= B( 1 + 2) :
127
Para isso precisamos realizar uma mudança de base no nosso sistema e não mais
trabalhar na base fj+i ; j ig, mas sim na base fj + i ; j ig de autovetores de
H^
^j i=E j i ; H ^ = B 0 1 i
H :
1+i 0
Resolvendo o problema de autovalores temos:
p
1 2 (1 i) p
j +i = p ; E+ = B 2
2 2 2
p
1 2 (i 1) p
j i= p ; E = B 2
2 2 2
j+i ! j i
j+i = c1 j +i + c2 j i
1 p 1 1
c1 = h +j+i = p 2 (1 + i) 2 = (1 + i)
2 2 0 2
1 p 1 1
c2 = h j+i = p 2 ( i 1) 2 = (1 + i)
2 2 0 2
(1 + i)
j+i = (j + i j i)
2
e
j i = d1 j +i + d2 j i
1 p 0 1
d1 = h + j+i = p 2 (1 + i) 2 =p
2 2 1 2
1 p 0 1
d2 = h j+i = p 2( i 1) 2 =p
2 2 1 2
1
j i = p (j +i +j i)
2
Problem 49 Por que as probabilidades de encontrar a partícula com spin pra
cima é tão difernet da de encontrá-la com spin pra baixo?
128
diferem apenas por uma fase e, conseqüentemente, representam a mesma prob-
abilidade. Ou seja, nos dois casos, a probabilidade de, estando a partícula no
estado j i, encontrá-la no estado j i vale 21 .
Concluindo as contas temos
i ^
h j U (t) j+i = d1 h +j + d2 h j exp
Ht (c1 j + i + c2 j i)
~
i i
= d1 h + j + d2 h j c1 exp E+ t j + i + c2 exp E t j i
~ ~
i i
= d1 c1 exp E+ t + d2 c2 exp E t
~ ~
p ! p !!
1 B 2 B 2
= p (1 + i) exp i t exp i t
2 2 ~ ~
p !
i B 2
= p (1 + i) sin t ;
2 ~
129
Neste caso o Hamiltoniano do sistema tem a forma
^ =H
H ^ (t) = B= B( 1 cos !t + 2 sin !t)
Ou seja, mesmo que as matrizes de Pauli não cumutem, estas são fatoradas
em todas as integrais. Assim, todas as integrais envolvidas na expansão em
série do operador de evolução envolvem apenas funções reais (não operadores)
e, conseqüentemente, comutativas. Com isso, neste caso (e, mais uma vez,
este é um caso muito especial) não precisamos levar em conta a ordenação
temporal. Conseqüentemente nossa exponencial toma a mesma forma para o
caso comutativo. Ou seja, nosso operador de evolução tem a forma (68)
Z X1 n Z t n
i t i
U (t) = exp H( ) d = H( ) d :
~ 0 n=0
~ 0
Mais explicitamente
Z t
i
U (t) = exp B( 1 cos ! + 2 sin ! ) d
~ 0
Z t Z t
B
= exp i 1 cos ! d + 2 sin ! d
~ 0 0
B
= exp i ( 1 sin !t 2 (cos !t 1)) :
~!
130
Remark 50 Observe que o termo 1 em (cos !t 1) é indispensável para ter-
mos
B
U (0) = exp i ( 2 (1 1)) = I :
~!
temos
h i
^ 2 = I sin2 !t + (cos !t 2
M 1)
= 2I [1 cos !t] 6= 1 :
M^
^=p
G
2 (1 cos !t)
^
Então escreveríamos U em função de G
Bp ^
U (t) = exp i 2 (1 cos !t)G :
~!
? Bp ^ sin Bp
U (t) = cos 2 (1 cos !t) iG 2 (1 cos !t) :
~! ~!
^
Entretanto, este procedimento não é legítimo pelo fato deste novo operador G
^ (0) = I. Nem
não estar de…nido em t = 0, ou seja, não podemos garantir que U
para qualquer outro instante t = 2n =!. Ou seja, para continuar é necessário
veri…car que G tem um valor …nito em t=0. Para isso expandimos
(!t)2 (!t)2
sin !t (cos !t 1) !t +1 2 2 !t 1 + 2 2
^= 1 2
G p ' r =
2 (1 cos !t) (!t)2 !t
2 2
1
= 1 + 2 (!t) = 1 :
2
131
^
De onde temos, G(0) ^ 2 (0) = I. Com isso podemos continuar
< I e ainda G
usando
Bp ^ sin Bp
U (t) = cos 2 (1 cos !t) iG 2 (1 cos !t) :
~! ~!
Usando a igualdade
!t
cos !t = 2 cos2 1
2
podemos escrever
s
p !t
2 (1 cos !t) = 2 1 2 cos2 1
2
s
!t
=2 1 cos2
2
r
!t
= 2 sin2
2
!t
= 2 sin
2
com isso,
B !t ^ sin B !t
U (t) = cos 2 sin iG 2 sin
~! 2 ~! 2
B !t 1 sin !t 2 (cos !t 1) B !t
= cos 2 sin i sin 2 sin
~! 2 2 sin !t
2
~! 2
132
e escrever
B
U (t) = exp i ( 1 sin !t 2 (cos !t 1))
~!
B ! ^ (t)
= exp i2 sin t N
~! 2
Que, obviamente, concorda com o resultado anterior. Nesse último caso não
precisamos nos preocupar com divergências.
Assim, ainda neste caso mais complicado, podemos encontrar uma forma
matricial para o nosso operador de evolução.
Podemos agora responder perguntas do tipo: neste novo campo qual a prob-
abilidade de uma partícula inicialmente prepara no estado j+i ser encontrada
no estado j i depois de um tempo t?
2
jh j U (t) j+ij =?
^ Ou seja estes estados
Observe que agora j i não é mais auto estado de H.
não são estacionários.
Com o resultado acima calculamos:
B ! ^ sin 2 B sin ! t
h j U j+i = h j cos 2 sin t iG j+i
~! 2 ~! 2
Temos
1 B !
h j U j+i = e 2 it! sin 2 sin t
~! 2
2 B !
jh j U j+ij = sin2 2 sin t
~! 2
133
8.4 Rotações
Como vimos, a dinâmica dos sistemas em MQ pode ser descrita através do
operador de evolução temporal, o qual respeita a equação diferencial
dU ^ :
i~ = HU
dt
Obviamente, ambos os lados desta equação representam operadores. O que
implica que, para qualquer vetor j 0 i num instante inicial t = 0, temos
dU ^ j d ^j
i~ j 0i = HU 0i ) i~ j ti =H ti ; j ti = U (t) j 0i :
dt dt
Encontrar a dinâmica do sistema descrito pelo hamiltoniano H ^ e tendo as
condições iniciais adequadas é encontrar uma coleção de vetores j t i, identi…-
cados pelo parâmetro t, que respeite a equação diferencial acima. No que segue
chamaremos esta coleção de vetores de “um vetor dependente do tempo”.
Suponha então que você encontrou um vetor j t i que respeita a equação
acima. Isso implica que, dado um operador inversível (independente do
tempo) M ^ , o vetor
j ti = M^ j ti ;
respeitará a seguinte equação:
^ d j
i~M ti
^H
=M ^j ti ) i~
d ^
Mj ti
^H
=M ^M
^ 1
Mj ti ) i~
d ^H
j ti = M ^M
^ 1
j ti ;
dt dt dt
com isso
d ^ 0 j ti ; H
^0 = M
^H^M ^ 1:
i~
j ti = H
dt
Com isso, conhecida a solução de uma equação diferencial podemos con-
struir soluções para outras equações diferenciais (diferentes). Esse é um proced-
imento matemático geral. No caso da MQ, gostaríamos que esta nova equação
diferencial também descreva algum sistemas físico (diferente do inicial). Ou
seja, gostaríamos que j t i fosse a evolução temporal de algum sistema físico
descrito pelo hamiltoniano H ^ 0 . Para isso, obviamente, H^ 0 deve ser também
um hamiltoniano, ou seja, deve ser um operador hermitiano
+ +
^0 = H
H ^ 0+ ) M
^H^M
^ 1 ^H
= M ^M
^ 1 ^
= M 1 ^M
H ^+
Assim,
^+ = M
M ^ 1
;
ou seja, M^ deve ser um operador unitário.
Assim, dado um operador unitário qualquer, e a solução de um sistema
físico qualquer, podemos construir soluções de um novo sistema físico. Neste
processo temos a di…culdade em identi…car esta nova descrição quântica com
algum sistema clássico (ou mesmo se este existe). Além, é claro, de saber se
este sistema tem algum interesse.
134
Além disso, usando
1
X n 2
i ^n = I + i ^+ i ^H^ + :::
U (t) = t H t H t H
n=0
~ ~ ~
temos
2
^ U (t) M
^+ = M
^ IM
^+ + i ^H^M
^+ + i ^H^H
^M^ + + :::
M t M t M
~ ~
2
i ^H^M
^+ + i ^H^ M
^ +M H
^M^ + + :::
=I+ t M t M
~ ~
2
i ^0 + i ^ 0H
^ 0 + :::
=I+ t H t H
~ ~
1
X n
i ^ 0 n = U 0 (t) :
= t H
n=0
~
Ou seja,
^ U (t) M
U 0 (t) = M ^+ ;
^ 0.
é o operador de evolução temporal para o sistema com hamiltoniano H
Por exemplo, suponha agora que você encontrou (como feito anteriormente)
a solução do problema de uma partícula de spin 1=2 num campo magnético da
direção z. Neste caso,
^ = 1 0
H 3 :B = B :
0 1
E deseje encontrar a solução para o mesmo problema, mas com um campo (de
mesma intensidade) na direção x, ou seja, como o hamiltoniano
^0 = 0 1
H 1 :B = B :
1 0
Fisicamente isso signi…ca, obviamente, que você girou de 90o o aparelho que
gera o campo.
Agora, usando as propriedades das matrizes é fácil ver que
"p # "p #
2 2 1
(1 i 2 ) 3 (1 + i 2 ) = ( 2i 2 3 ) = 1 :
2 2 2
Além disso,
p p p !
2 2 2 ^ :
(1 i 2 ) = i 2 = cos i 2 sin = exp i 2 =M
2 2 2 4 4 4
135
Assim
^0 =
H 1 :B = ^
M 3M
^ + :B = M
^( 3 :B) M
^+ = M
^H^M
^+
onde
^ = exp
M i 2 :
4
Assim, o operador (unitário) M ^ acima representa uma rotação (no sentido
anti-horário) na direção do eixo y de um ângulo de 90o
^y
R = exp i 2 :
2 4
Isso se aplica a qualquer dispositivo do nosso experimento. Por ex-
emplo, se temos um SG na direção x, i.e., estamos medindo o spin na direção
x
~
S^x = 1
2
e fazemos
^y ~^ ~
R S^x R
^y = Ry 1 Ry
^ = 3 = S^z ;
2 2 2 2 2 2
teremos um SG na direção z e passaremos a medir o spin na direção z.
Da mesma forma, é possível mostrar que uma rotação de um ângulo qualquer
no sentido anti-horário na direção do eixo y vale
^ y ( ) = exp
R i 2 :
2
^ x ( ) = exp
R i 1
^ z ( ) = exp
; R i 3
^ i ( ) = exp
)R i i :
2 2 2
^ n^ ( ) = exp
R i n^: = cos i^
n: sin ;
2 2 2
136
Exemplo 1: p
Suponha que você resolveu o problema para um campo de intensidade 2B
na direção x,
p ! p !
p i p 2B 2B
^ =
H 2B 1 ) U (t) = exp 2B 1 t = cos t i 1 sin t
~ ~ ~
137
Que concorda com o resultado (??) obtido para o mesmo problema anteri-
ormente.
1
Exercise 54 Uma partícula de spin 2 está sujeita ao campo
B = (0; By ; Bz ) :
B0 = (0; 0; Bz0 ) :
8.5 Espinores
Observe que o ângulo presente no operador de rotação é o ângulo (no espaço
físico) que giramos nosso experimento.
Além disso, como vimos anteriormente, é possível orientar o spin da partícula
numa direção qualquer através da aplicação de campos magnéticos. Ou seja, se
uma partícula é preparada no estado j+i e desejamos girar seu spin de 90o na
direção y, de sorte que este …que na direção +x basta aplicar o campo
^ = i
B = B y^ ) H B 2 ) U (t) = exp B 2t
~
para termos
2
jhx+ j U (t) j+ij = 1 :
Calculando explicitamente
i h i
hx+ j exp B 2t j+i = hx+ j cos Bt + i 2 sin Bt j+i
~ ~ ~
h i
= hx+ j cos Bt j+i + i 2 j+i sin Bt
h ~ ~ i
= cos Bt hx+ j+i + ii hx+ j i sin Bt
~ ~
1 1
= p cos Bt p sin Bt
2 ~ 2 ~
1 h i
= p cos Bt sin Bt
2 ~ ~
1 h i
= p cos Bt sin Bt
2 ~ ~
138
temos
2 1h i 1h i
jhx+ j U (t) j+ij = 1 2 cos Bt sin Bt = 1 sin 2 Bt = 1
2 ~ ~ 2 ~
~
sin 2 Bt = 1 ) 2 Bt = )t= :
~ ~ 2 4B
Assim, para levarmos o spin de +z para a direção +x basta aplicar o operador
i
U (T ) = exp B 2T = exp i 2 = Ry ;
~ 4 4
que nada mais é que uma rotação de 90o no eixo y. Ou seja, se o spin estava
na direção +^ z (o que signi…ca que, numa medida de Sz obteremos +h=2 com
certeza), depois de virado 90o ele foi pra direção +^
x (o que signi…ca que, numa
medida de Sx obteremos +h=2 com certeza). O que concorda bastante com a
visão clássica de momento angular.
Remark 55 Aplicar o operador Rn^ ( ) num estado j i gira o spin deste estado
de um ângulo na direção n
^.
Problem 56 O que acontece quando você gira de 360o o spin de uma partícula?
^ n^ (2 ) j i = exp 2
j 0i = R i ^:
n j i = exp ( i n
^: ) j i
2
= (cos i (^
n: ) sin ) j i
= j i
Remark 57 Ou seja, você não vai obtermos o mesmo estado, mas sim com um
sinal invertido!
139
Como na mecânica clássica, este momento magnético pode ser associado ao
momento angular do sistema
C
^:
= L ; ^Q = S
^ n^ (0) = exp 0
R i n^: =I :
2
Além disso, para rotações na mesma direção
^ n^ ( 1 ) R
^ n^ ( 2 ) = exp 1 2 ( 1 + 2) ^ n^ (
R i ^:
n exp i ^:
n = exp i ^:
n =R 1 + 2)
2 2 2
Ou seja, o operador de rotação compartilha todas as características do op-
erador de evolução. Tudo que precisamos fazer e achar um hamiltoniano que
nos dê o operador de evolução desejado. Lembrando agora que
^ = B B
H B =) U (t) = exp i B t = exp i ( ^) t
n ;
~ B ~
onde n
^ é um vetor unitário na direção de B. Basta agora comparar
B ^ n^ ( ) :
U (t) = exp i ( ^) t
n = exp i n^: =R
~ 2
Ou seja, a aplicação de um campo B, por um tempo t é equivalente a girar o
spin da partícula de um ângulo
B
=2 t;
~
na direção do campo (o sinal de indica que o giro é no sentido horário).
Desta forma, através da aplicação de campos magnéticos, podemos manipular
e produzir estados com qualquer valor desejado de spin.
Como vimos acima, diferente de um vetor, por uma rotação de 360o um
espinor se transforma como
360o
j i ! j i :
Entretanto, os dois estados acima diferem apenas por uma fase.
140
Problem 58 Será que esta fase tem algum signi…cado físico?
141
Figure 11: Bernstein, Herbert J.; Phillips, Anthony V., Fiber Bundles and
Quantum Theory, Scienti…c American, vol. 245, issue 1, pp. 122-137 (1981)
142
Assim, é possível detectar experimentalmente uma diferença num sistema girado
de 360o . Nenhuma quantidade clássica apresenta esta característica.
Este experimento foi realizado (entre outras vezes) em 1975 por Helmut
Rauch e Ulrich Bonse no Instituto Laue-Langevin em Genebra.
A descrição acima deixa claro que o spin é um momento angular de natureza
completamente diferente do momento angular orbital. Assim, quando no futuro
obtivermos um operador que represente o momento angular orbital clássico de
um sistema, este terá um comportamento completamente diferente do descrito
para o spin (em especial, ele se comportará com um vetor e não como um
espinor). Com isso, o spin é uma característica (sem análogo clássico) que as
partículas possuem. E não uma característica gerada por algum efeito, como
rotação ou qualquer coisa do gênero.
9 Ressonância
Vamos usar o resultado acima para resolver o seguinte problema (complicado!).
Uma partícula de spin 1=2 está sujeita a um campo de intensidade Bz0 na direção
z^ e um campo, de intensidade B 0 , que gira no plano x; y
Z t
i
U (t) = exp H (t) d
~ 0
^
Problem 59 Mas qual o hamiltoniano H?
143
Sabemos que H^ representa um campo estático no plano x; y combinado com
um campo estático na direção z. Além disso, podemos começar a girar o nosso
sistema no instante em que o campo girante aponta na direção do eixo x (isso
signi…ca apenas escolher adequadamente a fase da nossa rotação). Com isso,
podemos escrever
H^ = (B 1 + Bz 3 ) :
Além disso, também pelo que foi apresentado antes, sabemos que o operador
responsável pela rotação desejada é
(!t + )
Rz (!t + ) = exp i 3
2
Onde é apenas uma fase indicando quando começamos a girar. Escolher esta
fase signi…ca dizer em que direção do plano x; y estamos vendo o campo. Assim,
se j 0 i é a solução do problema com o campo girante, a solução j i com o campo
estático é dada por
j i = Rz j 0 i =) j 0 i = Rz 1 j i :
dRz ! (!t + ) !
= i 3 exp i 3 = i 3 Rz
dt 2 2 2
^ 0 = Rz HR
^ 1 ! ^ !~
H z i~Rz i 3 Rz 1 = Rz HR 1
z + 3
2 2
calculando
^z H
R ^R^z 1 = ^z
BR ^
1 Rz
1 ^z
+ Bz R ^
3 Rz
1
= ^z
BR ^
1 Rz
1
+ Bz 3
onde
144
Podemos agora acertar a nossa fase exigindo que em t = 0 o campo aponte
apenas na direção x
^ z (0)
R ^
1 Rz
1
(0) = 1 cos ( ) + 2 sin ( ) = 1 =) =0;
^ 0 temos
Substituindo agora em H
H ^ z1+ !
^ 0 = Rz HR 3 = [B 1 cos (!t) + B 2 sin (!t) + Bz 3] +
!~
3
2 2
!~
= B 1 cos (!t) + B 2 sin (!t) + Bz + 3
2
Ou seja, o nosso problema girado representa a aplicação do seguinte campo
dependente do tempo
!~
B= B cos (!t) ; B sin (!t) ; Bz +
2
podemos identi…car com o campo desejado
fazendo
! !~
B 0 = B ; Bz0 = Bz + ) Bz = Bz0
2 2
onde lembramos que as quantidades conhecidas (i.e., os campos reais) são aque-
las com linha.
Tudo que precisamos fazer agora é encontrar a solução para
^ = i
H (B 1 + Bz 3) ) U (t) = exp (B 1 + Bz 3) t
~
Usando
2
(B 1 + Bz 3) = B 2 + Bz2
temos
!
i p 2 (B 1 + B z 3 )
U (t) = exp B + Bz2 p t
~ B 2 + Bz2
p (B 1 + Bz 3 ) p
= cos B 2 + Bz2 t i p sin B 2 + Bz2 t
~ 2
B + Bz 2 ~
(B 1 + Bz 3 )
= cos ( t) i p sin ( t)
B 2 + Bz2
p
= B 2 + Bz2
~
145
Podemos agora responder qualquer pergunta sobre o comportamento do sistema.
Suponha, por exemplo, que você preparou sistema inicialmente no estado
j+i, ou seja,
j 0 i = j+i
observe que
j 0 ^ z (0) j
0i =R 0i =j 0i ;
ou seja, a condição inicial vale tanto para o nosso sistema com e sem linha.
Problem 60 Ao aplicarmos o campo girante, qual a probabilidade de, depois
de um tempo T , o sistema ser encontrado no estado j i?
Para isso basta calcular
0 0 0
f j ti = f Rz 1 (!t) j ti = 0
f Rz 1 (!t) U (t) j 0i
onde
" #
1 1 1 (B 1 + Bz 3 )
h Rz (!t) U (t) j+i = h Rz (!t) j+i cos ( t) i h j Rz (!t) p j+i sin ( t)
B 2 + Bz2
" #
i! h j Rz 1 (!t) B j i + h j Rz 1 (!t) Bz j+i
= h j+i e cos ( t) i2t p sin ( t)
B 2 + Bz2
" ! !
#
h j i ei 2 t B + h j+i e i 2 t Bz
= i p sin ( t)
B 2 + Bz2
" #
i! t B
= ie 2 p sin ( t)
B 2 + Bz2
com isso
2 B2 B 02
jh Rz (!t) U (t) j+ij = sin2 ( t) = 2 sin2 ( t)
B 2 + Bz2 !
B 02 + Bz0 2
s
2
!
= B 02 + Bz0
~ 2
Do resultado acima vemos que a nossa probabilidade é máxima quando
!~ 2 Bz0
Bz0 =0)!= :
2 ~
Esta é a freqüência de ressonância do sistema. Ou seja, apenas quando o campo
na direção z respeita esta relação com a freqüência de giro do campo no plano
x; y, temos a possibilidade de inversão de todos os spins do nosso sistema. Obvi-
amente, para que esta inversão ocorra, o campo tem de ser aplicado exatamente
por um tempos
~
sin2 ( R t) =1) Rt = mod ( ) = B0t ) t = mod ( ) ;
2 ~ 2 B0
146
onde R é calculado na ressonância
jB 0 j
R = :
~
Observe que o nosso hamiltoniano tem a forma
2 Bz0 E1 E2
!= = ) ~! = E1 E2 :
~ ~
Se usarmos o modelo de que o campo eletromagnético é formado por fótons
com energia ~!, a ressonância ocorre quando a freqüência dos fótons do campo
girante é igual a diferença de energia dos níveis do sistema.
147
Exercise 61 Mostre que,
!
^
dM 1
^ =M
H ^ 1 ^ 0M
H ^ + i~ ^
M
dt
!~
= B0 f 1 cos ( )+ 2 sin ( )g + Bz0 + 3
2
onde
^0 = H
H ^ 0 (t) = (B 0 1 cos !t + B 0 2 sin !t + Bz0 3)
^ = Rz (!t (!t + )
M ) = exp i 3
2
V2
f (!) = 2
(E1 E2 ) ~!
V2+ 2
148
Figure 12: Figura retirada do Sakurai
B = (B cos (!t) ; 0; Bz ) :
Este problema não pode ser resolvido pelo método anterior, mas deve ser ata-
cado por métodos aproximativos. Entretanto, o fato de um campo linearmente
polarizado ser a superposição de dois campos circulares em direções opostas,
faz com que os resultados sejam idênticos aos obtidos acima. Voltaremos a este
problema quando estudarmos métodos aproximativos.
10 Observáveis compatíveis
Uma questão crucial em MQ é quando uma medida perturba o sistema, ou
ainda, quando um observável tem um valor bem de…nido. Como vimos, para
149
que a medida de uma quantidade A^ não perturbe o sistema, este deve estar
^ Assim, A^ não irá perturbar um sistema que esteja num
num auto-estado de A.
auto-estado
A^ j i = a j i :
De outra forma, a medida do observável A^ num estado genérico
X
j i= cn j n i ; A^ j n i = an j n i ;
fará com que, após a medida, o sistema colapse num dos auto-estados j n i de
^
A.
Suponha agora que, depois de efetuada uma medida de A^ desejamos efetuar
uma medida de outro observável B. ^ Isso só será possível, sem perturbar o
sistema, se o vetor obtido após a aplicação de A^ em j a i também for um
^ ou seja, se
autovetor de B,
^ A^ j i = b0 A^ j i = b0 a j i = b j i ; b = b0 a ;
B
A^B ^ j i = ab j i ;
B^ A^ j i = ba j i = ab j i ;
ou ainda, h i
A^B
^ ^ A^ j i = 0
B
temos que
h i h iX X h i
^ B
A; ^ j i = A;
^ B
^ cn j ni = ^ B
cn A; ^ j ni =0
n n
150
h i
^ B
Ou seja, se A; ^ = 0 para qualquer vetor j i do nosso espaço, então A^ e B
^
tem uma base de auto-vetores em comum. Mais ainda, podemos efetuar
medidas de um dos operadores sem alterar o valor do outro.
Ou ainda, os dois observáveis podem ser medidos simultaneamente. Quando
h i
^ B
A; ^ =0
dizemos que A^ e B
^ comutam, ou ainda, que estes observáveis são compatíveis.
Os resultados acima nos dizem quando devemos esperar uma incerteza rela-
cionada a medida de dois observáveis quaisquer.
Por exemplo: Um exemplo é o caso do spin da partícula.
Como vimos, os operadores de spin nas direções x; y; z são dados por:
~ 0 1 0 i 1 0
S^i = i ; 1 = ; 2 = ; 3 = :
2 1 0 i 0 0 1
Vamos então à descrição de uma série de medidas do spin de uma partícula.
Suponha que você alinhou o aparato de SG na direção z, ou seja, efetuou uma
medida de S^3 e obteve o valor +1 (a partícula subiu). Com isso, pelos postulados
vistos, sabemos que a partícula, após a medida, está num auto-estado de S^3 com
valor +1:
1
jz+ i = :
0
Suponha agora que, depois desta medida, você alinha o aparato da direção
x efetua uma nova medida.
Após esta segunda medida o sistema irá colapsar num dos autovetores de S^1
1 1 1 1 1
jx+ i = p = p (j+i + j i) ; jx i = p :
2 1 2 2 1
Exercise 63 Veri…que que estes vetores são autovetores de S^1 com auto valor
+1 e 1.
A questão é a seguinte: você sabe que o seu sistema está no estado jz+ i (pois
você mediu o spin na direção z) e que saber, por exemplo, a probabilidade de,
numa medida do spin na direção x obter o valor +1. Pelos postulados vistos
anteriormente, sabemos que a probabilidade P (x+ ) de encontrar o sistema no
estado jx+ i, sabendo que ele está no estado jz+ i, vale
2
2 1 1 1
P (x+ ) = jhx+ jz+ ij = 1 0 p =
2 1 2
Da mesma forma
2 1
P (x ) = jhx jz+ ij =
2
151
ou seja, você tem uma incerteza total na medida do spin na direção x.
Agora, se você efetuou a medida na direção x (do estado jz+ i) e obteve o
valor +1 (a partícula foi para a direita), você sabe que após a medida a partícula
está no estado
1 1 1
jx+ i = p = p (j+i + j i) :
2 1 2
Se você …zer novamente uma medida do spin na direção z, a probabilidade de
obter novamente +1 vale
2
2 1 1 1
P (z+ ) = jhz+ jx+ ij = p 1 1 =
2 0 2
jSz ; P i ;
jA; Bi :
jSz ; Sx i :
Diferente da MC onde podemos fazer cada vez mais medidas no nosso sistema e,
destarte, melhor caracterizá-lo, na MQ a caracterização do sistema está restrito
a compatibilidade dos observáveis. Quando temos um conjunto de observáveis
compatíveis que são capazes de caracterizar completamente um sistema físico,
dizemos que temos um conjunto completo de observáveis.
152
10.1 Relações de incerteza
Uma quantidade clássica muito usada para caracterizar a incerteza de uma
medida A é o desvio quadrado médio
2 2
A = A2 hAi
se …zemos
A^ = A^ h j A^ j i
podemos escrever
2
A ( ) = h j A^2 j i
nos diz que, para qualquer operador hermitiano A^ e qualquer vetor j i (não
necessariamente normalizado),
2
h j A^2 j i h j B
^2 j i h j A^ B
^ j i
^ j i = 1 h j A^ B
Im h j A^ B ^ j i h j A^ B
^ j i
2i
153
Mas,
+
h j A^ B
^ j i = h j A^ B
^ ^ + A^+ j i = h j B
j i = h jB ^ A^ j i
^ j i = 1 h j A^
Im h j A^ B ^ j i
B ^ A^ j i
h jB
2i
1
= h j A^ ^
B ^ A^
B j i
2i
1 h i
= h j A^ ^
;B j i
2i
usando h i h i h i
A^ ; B
^ = A^ h j A^ j i ; B
^ ^ j i = A;
h jB ^ B
^
temos h i
^ j i = 1 h j A;
Im h j A^ B ^ B
^ j i (77)
2i
Usando (75), (76), (77) temos
2 h i2 1 h i 2
2
A ( ) 2
B ( ) h j A^ B
^ j i Im h j A^ B
^ j i = ^ B
h j A; ^ j i :
2i
Com isso h i
1 ^ B
^ j i
A ( ) h j A;B ( )
2
ou seja, o produto da incerteza de qualquer medida é proporcional ao comutador
dos operadores correspondentes.
j i=j 1i j 2i j 1 2i ; j i 2 H = H1 H2 :
154
Suponha, por exemplo, que você possui duas partículas de spin 12 . Primeiro,
obviamente, precisamos escolher um observável para caracterizar as partículas.
Podemos usar, por exemplo, o spin na direção z para caracterizar a primeira
partícula e na direção x para caracterizar a segunda. Com isso, a forma geral
de um vetor de estado do nosso sistema será
j fi = b+ j+; x+ i + b j+; x i :
Vamos imaginar agora que as partículas estão juntas e vamos realizar exper-
imento com ambas nos mesmos dispositivos. Neste caso, é interessante usarmos
o mesmo observável para caracterizar ambas as partículas. Vamos então usar
Sz para as duas partículas. Neste caso, um estado geral do nosso sistema vale
j i = a+ b+ j+; +i + a+ b j+; i + a b+ j ; +i + b a j ; i
2
Onde agora ja b j é a probabilidade de encontrar a primeira participa no
estado j i e a segunda no estado j i. O conjunto de vetores acima forma uma
base para o nosso espaço. Observe que agora nossos vetores são matrizes coluna
de 4 elementos. Na base canônica, usando o produto de Kronecker podemos
escrever 0 1
1
1 1 B 0 C
j+; +i = =B C
@ 0 A :
0 0
0
Suponha agora que estas duas partículas passam por um campo magnético
B.
H= B I +I B:
H= B1 I +I B2 :
155
Para o caso mais geral de partículas interagentes o hamiltoniano tem a forma
3
X
H= B1 I +I B2 + Vij i j :
ij=1
Exemplo:
Duas partículas não interagente de spin 12 estão sujeitas a um campo de
intensidade B na direção z. Se o sistema foi preparado inicialmente com ambas
no estado j+i, qual a probabilidade de, depois de um tempo t, ambas serem
encontradas no estado jx+ i?
O operador de evolução do sistema será
i
U (t) = exp Ht ; H= 3B I +I 3B
~
iB
U (t) = exp ( 3 I +I 3) t
~
iB iB
= exp ( 3 I) t exp (I 3) t
~ ~
observe agora que
2
( 3 I) = ( 3 3 II) = I I=I
156
Suponha que no exemplo acima a primeira partícula esteja sujeita ao campo
B1 = B1 z^ e a segunda ao campo B2 = B2 x
^,
H= 3 B1 I +I 1 B2
i iB1 iB2
exp (B1 3 I +I B2 1) t = exp ( 3 I) t exp (I 1) t ?
~ ~ ~
[ 3 I; I 1] =( 3 I) (I 1) (I 1) ( 3 I)
=( 3 1) ( 3 1) = 0 :
^ 1 , o sistema 2
De forma geral, se o sistema 1 está sujeito ao hamiltoniano H
^
ao hamiltoniano H2 é os sistema não interagem:
i ^ ^2 t i ^ i ^ 2t
U (t) = exp H1 I +I H = exp H1 It exp I H :
~ ~ ~
Ou seja, um operador que age, simultaneamente, nos dois espaços (e, conse-
qüentemente, nas duas partículas). O hamiltoniano total será
X
^ =H
H ^1 I + I H ^2 + A^i A^i
i
Onde os primeiro dois termos descrevem a interação de cada uma das partículas
com o meio e o último termo a interação de uma partícula com a outra.
157
as matrizes i mais a identidade formam uma base para as matrizes 2 2,
podemos formar com estas matrizes a seguinte base para o espaço das matrizes
4 4
I=I I ; i=I i ; i = i I ; ij = i j
Ou seja, qualquer operador de interação (ou não) pode ser escrito na forma
3
X 3
X 3
X
M= I+ iI i+ i i I+ !ij i j
i=1 i=1 i;j=1
i ^0 t i i ^0
U (t) = exp I +H = exp It exp Ht
~ ~ ~
i i ^0
= I exp t exp Ht
~ ~
i i ^0 i i ^0
h j U j i = h j exp t exp H t j i = exp t h j exp Ht j i
~ ~ ~ ~
ou seja
2
2 i ^0
jh j U j ij = h j exp Ht j i
~
Assim, este termo não in‡uência nas probabilidades e, conseqüentemente,
na física do sistema. Fisicamente este termo está relacionado apenas com uma
escolha no zero da energia do sistema, o que, em geral, é arbitrário. Com isso,
podemos fazer = 0.
Vamos agora analisar o segundo e o terceiro termo
3
X 3
X
iI i ; i i I
i=1 i=1
Como já vimos estes termos descrevem operações que agem em cada um dos
sistemas separadamente e não representam uma interação. Ou seja, podemos,
em geral incorporar estes termos na hamiltoniana de cada sistema independen-
temente:
3
X
^ 10 = H
H ^1 + i i
i=1
3
X
^ 20 = H
H ^1 + i i
i=1
158
O tratamento matemático destes termos é o mesmo analisado anteriormente
para sistemas sem interação. Por isso nós não vamos voltar nossa atenção para
eles. Observe que não estamos fazendo i = i = 0. Pode ocorre que a
presença de um sistema faça o outro “sentir” o campo aplicado de forma difer-
ente. Mas, em muitos casos, isso pode ser descrito como um campo gerado pela
própria partícula e descrito como um campo B0 efetivo. Por exemplo, no caso
do momento elétrico e partículas carregadas este seria o campo elétrico que uma
partícula cria na posição da outra. O importante é que, uma vez conhecido este
campo ele pode ser tratado como um termo de campo externo e não como uma
interação.
Com tudo isso o termo que realmente importa para nossa interação é o
produto tensorial das matrizes e nosso hamiltoniano pode ser escrito como:
3
X
^ =
H B1 I +I B2 + !ij i j :
ij=1
Os valores de !ij (no caso geral !ij = !ij (t)) devem ser determinadas exper-
imentalmente analisando a in‡uência que um sistema tem sobre o outro. Neste
aspecto o exemplo de duas partículas de spin 21 é o melhor e o pior exemplo
possível.
Ele é um exemplo ruim porque a interação que o spin de uma partícula exerce
sobre a outra não é proveniente de nenhuma força conhecida na natureza (i.e.,
não de natureza gravitacional, eletrofraca, forte). Mesmo assim estas quan-
tidades se in‡uenciam, no sentido que o fato do spin de uma partícula estar
num certo valor pode diminuir a probabilidade do spin da outra partícula estar
no mesmo valor. Este é o chamado princípio da exclusão e será visto quando
estudarmos estatísticas quânticas. O ponto é que, por exemplo, quando uma
partícula (e.g., um elétron num ponto quântico) é colocado no estado fundamen-
tal, necessariamente a outra irá para o estado excitado. Mesmo que nenhuma
energia seja trocada entre as partículas. Por isso esta é chamada interação
de troca. Mas o fato desta interação não ser de nenhuma natureza de forças
conhecidas, faz com ela não possa ser medida diretamente por nenhum equipa-
mento conhecido. Tudo que podemos fazer e estudar o comportamento de uma
partícula na presença da outra e ver se houve alguma alteração em relação a
partícula sozinha. Com tudo isso é fácil ver que é extremamente difícil deter-
minar !ij e, em geral, esta quantidade depende não apenas das partículas em
questão, mas das características do sistema como um tudo (se os elétrons estão
num átomo ou num quantum dot). Ao mesmo tempo o caso de dois spins é
um exemplo bom porque deixa explícito o fato que ao analisar a interação entre
sistema não basta levar em conta os campos produzidos pelas partículas.
Felizmente é possível fazer uma aproximação que funciona bem na maioria
dos casos. Devido a simetria do espaço é de esperar que esta interação não
dependa da orientação espacial do sistema (veja que isso não é verdade se um
campo quebrar esta simetria, por isso dizemos que é uma aproximação). Assim,
159
^ procurado deve comutar com as rotações
o operador M
h i
^n; M
R ^ =0:
Observe que agora, no caso geral, nosso hamiltoniano não pode mais ser dividido
em produtos.
Por exemplo, supondo que a primeira partícula está sujeita a um campo na
direção x a segunda esta livre temos:
0 2 3 1
X 3
i4
U (t) = exp @ 1B I +V i
5 A
i t
~ ij=1
Podemos calcular
[ 1 I; 1 1 + 2 2 + 3 3] = [ 1 I; 2 + 3
2 3]
= [ 1 I; 3 3] + [ 1 I; 2 2]
= [ 1; 3] 3 + [ 1; 2] 2
= i 2 3+i 3 2
6= 0 :
Assim, mesmo para o caso mais simples de campos independentes do tempo
não podemos, em geral, encontrar uma forma matricial para o operador de
evolução. Assim, no caso geral, precisamos construir explicitamente a matriz
4 4 H,^ encontrar seus auto-vetores e expandir o estado inicial na base destes
auto-vetores.
Vemos assim a grande di…culdade introduzida quando os sistemas interagem.
Entretanto, para alguns casos especiais este problema pode ser resolvido exata-
mente (exercícios).
160
11.2 Dois spins acoplados
Quando estudamos o caso de partículas de spin 12 , vimos que estas podem ser
caracterizadas pelo valor da projeção, do spin numa certa direção (e.g., S^z ) e o
valor do módulo do spin
pois h i
S^i ; S^2 = 0 :
Naquele momento, como tínhamos apenas um valor para o módulo, este oper-
ador não mereceu muita atenção. Entretanto, quando temos sistemas acoplados
isso muda bastante.
Usando a forma explicita dos operadores temos
~2 ~2 ~2 3 2 3
S^2 = 2
1 + 2
2 + 2
3 = ~ I = ~2
4 4 4 4 4
de onde vemos diretamente a comutação deste operador com todos os demais,
uma vez que ele é proporcional a identidade.
Além disso, um operador que será importante no que segue é o chamado
operador de levantamento + (abaixamento ) que levanta (abaixa) de o spin
da nossa partícula de spin 1=2,
+ = j+i h j ; = j i h+j ;
onde
+ j i = j+i h j i = j+i ;
+ j+i = j+i h j +i = 0 ;
j+i = j i h+j +i = j i ;
j i = j i h+j i = 0 :
161
1 1
jx+ i = p [j+i + j i] ; jx i = p [j+i j i]
2 2
1 1 1
jx+ i hx+ j = p (j+i + j i) p (h+j + h j) = (j+i h+j + j+i h j + j i h+j + j i h j)
2 2 2
1
jx i hx j = (j+i h+j j+i h j j i h+j + j i h j)
2
1
jx+ i hx+ j jx i hx j = [2 j+i h j + 2 j i h+j] = j+i h j + j i h+j
2
temos
~
S^x = (j+i h j + j i h+j) :
2
Da mesma forma, usando
1
jy i = p [j+i i j i] ;
2
temos
~
S^y = i (j i h+j j+i h j) :
2
Com isso
Exercise 67 Veri…que.
ou seja, este operador não muda o valor da norma do momento angular de spin.
162
Exercise 68 Usando a base canônica de S^z construa a forma matricial de S^ .
J z = Sz I +I Sz = S1z + S2z ;
que por sua vez é formada pela base de autovetores de S^1z e S^2z .
Por exemplo
Jz j+ i = (Sz I +I Sz ) j+ i = (I I I I) j+ i = 0
Ou seja, este sistema pode ter valores de Sz igual a (~; 0; ~). Se o sistema é
composto de duas partículas separadas isso signi…ca que a soma dps momentos
angulares de cada uma terá estes valores.Por outro lado, se o sistema é formado
por duas partículas ligadas (por exemplo, um núcleo de deutério) ao passar por
um SG um feixe destas partículas se dividiriam em 3 feixes com estes valores de
spin.
Da mesma forma que antes podemos de…nir um operador de módulo do
momento angular total:
2
^1 + S
J2 = S ^2 ^ 21 + S
=S ^ 22 + 2S
^1 S
^2
Usando os operadores
podemos escrever
^ 2 = 2S^1z S^2z + S^1+ S2 + S^1 S^2+
^1 S
2S
e, consequentemente,
2
J^2 = S
^1 + S
^2 ^ 22 + 2S^1z S^2z + S^1+ S^2 + S^1 S^2+
^ 21 + S
=S
163
observe que, apesar de S^1;2 não ser hermitiano, J^2 é.
Por exemplo
^ 22 j++i + 2S^1z S^2z j++i + S^1+ S^2 j++i + S^1 S^2+ j++i
^ 21 + S
= S
^ 22 j++i + 2S^1z S^2z j++i
^ 21 + S
= S
3 2 3 2 ~~
= ~ + ~ j++i + 2 j++i
4 4 22
= 2~2 j++i
com isso
164
Para construir os demais autovetores você pode construir a forma matri-
cial destes operadores e usar o procedimento usual. Note, entretanto, que os
operadores
Exercise 69 Veri…que.
Assim, da mesma forma que antes, quando aplicado num auto estado de J^z
com auto-valor jz
jjz = 0; j = 1i = j0; 1i ;
basta aplicarmos J^ no estado com autovalor igual a ~ (ou J^+ no estado com
autovalor igual a ~)
165
e exigir que ele seja ortogonal a todos os outros três vetores obtidos
h++ jjz ; ji = 0 ) a = 0
h jjz ; ji = 0 ) b = 0
1
h0; 1 jjz ; ji = 0 ) p (h +j + h+ j) (c j+ i + d j +i) =
2
1
p (c + d) = 0 ) c = d
2
1
jjz ; ji = p (j+ i j +i)
2
Problem 70 Quais os valores de jz e j?
1 1
S21 + S22 + 2S1z S2z p (j+ i j +i) = p S21 + S22 + 2S1z S2z j+ i S21 + S22 + 2S1z S2z j +i
2 2
1 3 2 3 2 ~2 3 2 3 2 ~2
=p ~ + ~ 2 j+ i ~ + ~ 2 j +i
2 4 4 4 4 4 4
1 1
= p ~2 (j+ i j +i) = ~2 p j0; ji
2 2
1 1
(S1+ S2 + S1 S2+ ) p (j+ i j +i) = p ~2 (j+ i j +i)
2 2
1
= ~2 p j0; ji
2
1 1
J^2 j0; ji = ~2 p j0; ji ~2 p j0; ji = 0
2 2
Ou seja, nosso estado tem módulo do momento angular igual a zero:
1
jjz = 0; j = 0i = j0; 0i = p (j+ i j +i)
2
166
Estes quatro estados formam uma base do nosso espaço.
A base J^z ,J^2 é muito conveniente quando queremos tratar o sistema como um
único sistema. O que é especialmente útil quando as partículas tratadas formam
um estado ligado, o que pode ser considerado como uma única partícula. Em
especial, os resultados acima mostram que, apesar do feixe destas partículas se
dividir em 3, no feixe não de‡etido existem dois tipos diferentes de estado
(ou de partículas).
j0; 1i ; j0; 0i :
Estes estados, possuem características físicas completamente diferentes. En-
quanto um feixe de partículas no primeiro estado, quando passadas por um
SG orientado perpendicularmente se dividirão em outros 3 feixes, um feixe com
partículas no segundo continuarão sempre passando direto pelo aparelho. Em
outras palavras, partículas no segundo estado se comportam como partículas
sem spin.
Outra vantagem da base j, jz é que o momento angular total do sistema é
uma quantidade conservada, enquanto o momento angular de cada constituinte
não. Por isso é muito conveniente trabalhar nesta base. Isso exige, é claro,
que escrevamos o hamiltoniano não na base que estamos usando até agora, mas
nesta nova base. Fora a diferença da base o procedimento para o tratamento de
problemas é o mesmo discutido anteriormente.
Assim quando formamos uma nova partícula pela ligação de outras duas
podemos formar dois conjuntos diferentes de estados. Os
j1; 1i = j++i
1
j0; 1i = p (j+ i + j +i)
2
j 1; 1i = j i
todos com módulo do momento angular iglau a 1. Por serem 3 estes são chama-
dos estados tripleto. E o estado
1
j0; 0i = p (j+ i j +i)
2
que possui módulo de momento angular igual a zero. Por ser apenas um este é
chamado estado singleto.
Observe que por aplicação de campos (magnéticos ou elétricos) podemos mu-
dar a projeção do spin das partículas, mas sem alterar o módulo desta quanti-
dade (por isso falamos em “girar”). Assim se nosso sistema formar uma partícula
de um tipo ele permanecerá com este mesmo tipo. Além disso, também por car-
acterísticas relacionadas a estatística quântica (mais precisamente a resultados
da TQC) combinações de partículas formam sempre novas partículas com o
mesmo valor de j. Por exemplo, a combinação de um próton e um nêutron
(deutério) tem spin 1, já uma partícula alfa (núcleo de hélio, formado por 4
partículas de spin 1/2) tem spin 0.
Voltaremos à teoria geral da soma de momento angular quando estudarmos
o momento angular orbital.
167
12 Realização de espaços de dimensão in…nita
Como vimos, todo espaço de Hilbert de dimensão …nita pode ser representado
por matrizes. Vejamos agora como tratar os casos de problemas que envolvam
dimensões in…nitas. Neste caso, uma das opções é usar o espaço das funções de
quadrado integrável L2 discutido na seção 6.4.
Anteriormente estudamos sistemas físicos onde o valor dos observáveis (com-
patíveis) usados para rotular nossos estados, possui apenas um número …nito de
possibilidade (e.g., o spin da partícula). Entretanto certos observáveis, como o
momento de uma partícula que se move, não possui esta limitação. Obviamente,
para tal sistema a representação (e a álgebra) matricial se torna inadequada.
Entretanto, como vimos anteriormente na seção 6.4, neste caso podemos her-
dar os resultados do cálculo diferencial (assim como no caso de dimensão …nita
herdamos a álgebra matricial) se realizarmos o nosso espaço de Hilbert como as
funções de quadrado integrável L2 (a; b). Ou seja, dada uma função f : C ! C
com um (ou mais) parâmetro real t 2 [a; b], podemos indicar o vetor correspon-
dente como
jf i
cujas componentes são todos os valores de f (t). Esta função pertence ao nosso
espaço de Hilbert se
Z b
2
hf jf i = jf (t)j dt < 1 :
a
g (t) tf (f ) :
168
^ + tal que
Exercise 71 Veri…que a a…rmação acima. Ou seja, encontre Q
Z b h i Z b h i
^ (x) dx =
f (x) Qg ^ + f (x) g (x) dx ;
Q
a a
^ é simétrico (Q
veri…que que Q ^=Q
^ + ) em seguida mostre que
^ =D Q
D Q ^+ :
^
Lembre que, para todo operador simétrico, D(Q) D(Q ^ + ). Assim, para mostrar
^ +
que os domínios são iguais, basta mostrar que D(Q ) D(Q). ^
^ jf i =
Q ^
jf i =) Q jf i = 0 :
^
Multiplicando a expressão acima por Q ^ é simétrico e,
jf i, usando que Q
conseqüentemente, 2 R temos:
Z b h ih i
^
hf j Q ^
Q jf i = 0 ) ^ (x)
Qf f (x) ^ (x)
Qf f (x) dx =
a
Z b
= [(xf (x) f (x))] [(xf (x) f (x))] dx
a
Z b
= [(x )] f (x) [(x )] f (x) dx
a
Z b
2 2
= (x ) jf (x)j dx = 0
a
169
12.2 O operador de posição
Como vimos nos exemplos com espaço de dimensão …nita, todo processo de me-
dida é (basicamente) um processo de …ltragem. Assim, se desejamos determinar
a posição de uma partícula, tudo que precisamos fazer é colocar um colimador
e, caso a partícula passe por ele, sabemos que ela está (pelo menos logo após
a medida) dentro de um intervalo x. Mais ainda, se temos uma placa com
vários furos, que podemos nomear de xi , onde esta é a coordenada do centro
do furo e 2dx é a espessura, podemos dizer que: se numa medida da posição
obtivemos o valor xi , sabemos que a partícula está no intervalo xi +dx e xi dx.
Seguindo também o procedimento das seções anteriores, isso nos permite especi-
…car este estado com o valor medido. Ou seja, jxi i é o estado do nosso sistema
quando sabemos que ele está na posição xi + dx e xi dx. Mais ainda, sedo esta
quantidade um observável (uma medida) quanticamente a ela está associada um
operador auto-adjunto
x
^ jxi i = xi jxi i :
Ademais, sabemos que a coleção de todos os vetores (contáveis) fjxi ig formam
uma base do nosso espaço. Ou seja, todo vetor pode ser escrito como
X
jf i = ai jxi i
i
ai = hxi jf i
2
e jai j é a probabilidade de encontra a partícula no intervalo xi dx.
O que queremos fazer agora é melhorar a precisão da nossa medida de
posição, fazendo a espessura do colimado dx cada vez menor. Ou seja, queremos
tomar o limite dx ! 0. A tomada direta deste limite possui (no mínimo) dois
problemas tecno-conceituais:
1. Neste limite, como a partícula pode estar no estado x 2 [a; b], devemos
ter um conjunto contínuo de autovetores jxi correspondente a estes auto-
valores. Entretanto, sabemos que nosso espaço de Hilbert possui uma base
contável (vimos isso pela série de Fourier da seção 6.4) e toda base deve
ter o mesmo tamanho (no caso in…nito, como vimos na seção 6.4,a mesma
cardinalidade). Assim, este conjunto contínuo de vetores obrigatoriamente
deve possuir mais elemento que qualquer base. Ou seja, não é uma base e
não pode ser ortonormalizada.
2. Voltemos a decomposição de um vetor jf i na base fjxi ig e calculemos o
produto deste vetor com um vetor jgi qualquer
X X
hg x
^ jf i = ai hg x
^ j ii = ai xi hg j i i
i i
X X
= ai xi hg j i i = xi bi ai
i i
170
onde bi = hxi jgi são as componentes de jgi na base fjxi ig. Podemos agora
escolher uma representação matricial (in…nita) para os nossos vetores de
base fjxi ig. Em especial, podemos escolher a representação canônica (33)
para estas matrizes. Tomemos agora o limite dx ! 0, neste caso a nossa
decomposição se torna
X Z b
jf i = ai jxi i ! a (x) jxi dx ; a (x) = hx jf i
i a
Com isso Z b
hg x
^ jf i = xb (x) a (x) dx ;
a
Ou seja, para dois vetores quais que jf i e jgi do nosso espaço, quanto vale a
diferença
X Z b
hg x ^
^ jf i hg Q jf i = xi bi ai xg (x) f (x) dx
i a
onde, de (78),
ai = f (xi ) ; bi = f (xi ) :
171
Para responder esta pergunta, observe que (para funções contínuas por partes),
podemos quebrar a integral em cada uma das regiões xi ,
Z b X Z xi +dx
xg (x) f (x) dx = xg (x) f (x) dx :
a i xi dx
Com isso,
" Z #
X xi +dx
hg x
^ jf i ^ jf i =
hg Q xi g (xi ) f (xi ) xg (x) f (x) dx
i xi dx
onde
En = h n
não está no fato não podemos fazer En En+1 ! 0. Pois não existe nenhuma
restrição na freqüência do oscilados. Ou seja, devemos considerar o fato de
En En+1 poder ser tão pequeno quanto se queira, mas não podemos tomar o
limite desta quantidade tendendo a zero (pois, se pudéssemos, a integral acima
seria igual a somatória). Este problema está diretamente ligado ao conceito de
um conjunto denso em matemática. Qualquer número real pode ser aproximado,
com a precisão que se queira, por um número racional. Mas um racional não
é igual a um irracional. Como os reais são formados por todos estes números,
dizemos que o conjunto dos racionais é denso nos reais. Observe que, apesar
de podemos fazer a aproximação com a precisão que se queira, o conjunto dos
172
reais é completamente diferente do dos racionais, em especial a cardinalidade é
maior. Assim, no exemplo acima da energia, nós podemos fazer a diferença de
energia tão pequena quanto se desejar, isso signi…ca que este espectro discreto
é tão próximo quanto se queira de um conjunto contínuo, mas ele nunca será
igual a este conjunto. É sempre neste sentido que devemos entender o termo
“espectro contínuo de energia” que aparece nos livros de MQ.
Resumindo, no caso da energia nós não podemos substituir a somatória por
uma integral. Mas e no caso do operador de posição? Podemos substituir
x
^ por Q?^ O fato de não podermos substituir a somatória por uma integral
no caso da energia, está relacionado com o fato de que a energia do oscilador
depende do conhecimento simultâneo de sua posição (energia potencial) e do seu
momento (energia cinética). Como vimos na seção 1.7, existe um limite na área
mínima do espaço de fase (o que está relacionado com a incerteza momento-
posição). Isso nos impede de tomarmos o limite desta área como um ponto e,
conseqüentemente, fazermos a somatória virar uma integral.
E no caso do operador de posição, existe alguma relação de incerteza que
nos impeça de tomar este limite? Neste caso, tudo que queremos medir é a
posição. Entretanto, para medirmos a posição na direção x precisamos ter
alguma informação da partícula na direção y e z. Pois, de outra forma, não
saberemos se a partícula não passou pelo colimador porque foi bloqueada, ou
simplesmente porque ainda não chegou ao furo. Assim, uma conjectura do
autor destas notas, é que podermos ou não tomar o limite depende do fato da
medida das coordenadas em direções diferentes comutarem, ou não. Segundo os
prícipios da MQ esta comutação deve ser proporcional aos parênteses de Poisson
(veja (59))
fx; yg = fx; zg = 0 ;
e, conseqüentemente, comutam. Assim, o limite pode ser tomado. Entre-
tanto, existem teoria atuais que especulam sobre a geometria do universo poder
ser não comutativa. Se isso for verdade devemos ter
[^
x; y^] = i ;
com uma nova constante universal. Obviamente, o fato de nunca termos detec-
tado esta não-comutação garante que este , se existir, é muito pequeno (muito
menor mesmo, nas unidades adequadas, que a constante de Planck). Assim, se a
geometria do universo for não-comutativa, a MQ não é mais uma teoria correta,
2
mas uma aproximação correta até, provavelmente, ordem de ( =h) (assim como
2
a mecânica clássica é correta até ordem de (v=c) em relação à relativística).
Entretanto, como nosso objetivo aqui é fazer MQ (usual) vamos admitir que
^ no
podemos substituir a somatória pela integral, ou, o que é equivalente, usar Q
lugar de x
^. Mas é sempre bom lembrar que estes dois operadores são diferentes:
um é um observável, o outro não. Esta aproximação signi…ca dizer que
x ^ jxi = x jxi ;
^ jxi = Q
mesmo para x 6= xi . Observe que estes dois operadores são iguais quando atuam
nos auto-vetores de jxi i, mas, estes auto-vetores formam um conjunto discreto.
173
Desta forma Q^ é uma extensão contínua do operador x
^ e o conjunto discreto xi
é denso no intervalo [a; b].
Assim, no que segue, vamos de…nir
x
^ jxi x jxi ; x 2 [a; b] : (79)
2
e a quantidade ja (x)j é a probabilidade da partícula ser encontrada o intervalo
x dx. Usando a igualdade (78),
Z b
a (x) = f (x) ) jf i = dx f (x) jxi ; f (x) = hx jf i
a
2
e jf (x)j é a probabilidade da partícula ser encontrada o intervalo x dx.
Observe ainda que
Z Z "Z #
b b b
hg jf i = dx g (x) f (x) = dx hg jxi hx jf i = hgj dx jxi hxj jf i
a a a
ou seja, o operador
Z b
dx jxi hxj = I ;
a
é a resolução da identidade do nosso espaço.
174
Onde usamos o chapéu invertido para lembrar que p não é mais um operador
num espaço abstrato, mas sim a realização deste operador em algum espaço
concreto. Ou seja, enquanto p^ é um operador qualquer que respeita (80), p é
especi…camente um operador diferencial (81) agindo no espaço das funções de
quadrado integrável.
Para ver que (81) realiza a álgebra (80) basta calcular
d d
hxj x
^p^ p^x
^ j i = hxj x
^p^ j i hxj p^x
^j i = xi~ hxj j i + i~ [x hxj j i]
dx dx
d d d d
= i~ x (x) [x (x)] = i~ x (x) x
dx dx dx dx
hxj [^
x; p^] j i = i~ (x) :
Neste nosso espaço concreto, a equação (62) para o operador de evolução tem-
poral pode ser escrita como
dU i ^ dU i ^ j 0i
= HU =) hxj j 0i = hxj HU
dt ~ dt ~
d d i ^ j 0i
hxj U j 0 i = hxj U j 0 i = hxj HU
dt dt ~
d i
hx j t i = H hx j t i
dt ~
d
i~ (x; t) = H (x; t) ;
dt
^ x d
(x; t) = hxj U (t) j 0i ; H=H ^ x; p^ i~ :
dx
p2
H (x; p) = + V (x)
2m
Assim, o operador correspondente deste problema na MQ vale
~2 d 2
H= + V (x) :
2m dx2
Os estados estacionários desta partícula são os autovetores deste operador e,
numa medida da energia desta partícula, podemos obter apenas um de seus
auto-valores.
175
ordenamento. Dado um observável clássico que envolva o produto (o momento
angular é um exemplo)
xp ;
quanticamente podemos associar a este observável os operadores
^ =x
M ^ 0 = p^x
^p^ ; M ^
onde
^0 d d
M = p^x
^ = i~ x = i~ i~x = i~ + x
^p^
dx dx
^
=M i~ = M ^ i~
ou ainda
^0 = M
M ^ i~
Ou seja, os dois operadores acima dizem respeito a mesma quantidade clássica
xp. Assim, para um observável clássico pode estar relacionado mais de um
operador quântico.
Um ponto a se observar é que, assim como no exemplo acima, no problema
de ordenamento os operadores sempre diferem por uma quantidade proporcional
a ~n . Lembrando que uma das formas de tomarmos o limite clássico do nosso
^ eM
sistema é fazer ~ ! 0, vemos que os dois operadores M ^ 0 possuem o mesmo
limite clássico. Assim, teorias quânticas que di…ram por um problema
de ordenamento possuem o mesmo limite clássico. Ou de outra forma,
para o mesmo sistema clássico podemos ter várias teorias quânticas
diferentes. Entretanto, apesar de todas terem o mesmo limite clássico, estas
teorias podem gerar resultados puramente quânticos (e.g., supercondutividade)
bastante diferentes.
No caso especí…co acima, xp, o problemas do ordenamento pode ser resolvido
usando os postulados da MQ. Observe que
+
xp^) = p^+ x
(^ ^+ = p^x
^ 6= x
^p^ ;
ou seja, apesar de x
^ e p^ serem hermitianos, o operador x^p^ não é hermitiano.
Assim, se existe o observável xp o operador a ele associado deve ser hermitiano
(não deve ser nem M ^ nem M ^ 0 ). Com isso, podemos construir um operador
hermitiano através de uma combinação simétrica dos operadores
^ = 1 (^
M xp^ + p^x ^ + = 1 (^
^) ) M xp^ + p^x
+
^) =
1 + +
p^ x ^+ p^+
^ +x
2 2 2
como x
^ e p^ são hermitianos
^ + = 1 p^+ x
M ^+ + x
1
^+ p^+ = (^
px
^+x ^ :
^p^) = M
2 2
Uma prescrição, chamado ordenamento de Weyl, é usar sempre a ordenação
simétrica dos operadores. Entretanto, nem sempre esta opção é única possível.
176
Por exemplo, no caso p2 x temos
^ =x
M ^p^x
^
^0 = 1
M p^2 x
^+x ^p^2
2
^ 00 = 1 p^2 x
M ^ + p^x ^p^2
^p^ + x
2
todos hermitianos. Usar a prescrição de Weyl é escolher o último operador.
Entretanto, apenas uma medida extremamente precisa de efeitos puramente
quânticos pode nos dizer quais destes é o operador correto.
^ = 1 p^2 :
H
2m
E no nosso espaço concreto em L2 :
~2 d 2
H= :
2m dx2
Dizer que a partícula está na caixa signi…ca dizer que esta pode ser encon-
trado apenas dentro de um certo intervalo [a; b]. Ou, de outra forma, que ela
não pode ser encontrada fora deste intervalo. Quanticamente isso signi…ca que
Pela continuidade da função devemos ter (lembre que H exige que as nossas
funções sejam, pelo menos, duas vezes diferenciáveis)
(a) = (b) = 0 :
177
Exercise 74 Veri…que que o operador H acima é hermitiano. Qual o domínio
do adjunto H + .
onde
H n (x) = En n (x) :
Observe que os estados j n i tem energia bem de…nida e tomamos o produto
interno deste vetor com jxi. Não estamos falando de um estado que seja, si-
multaneamente, autovetor de x ^ ou seja, que tenha posição e energia bem
^ e H,
de…nida. Isso não é possível uma vez que estes observáveis não são compatíveis.
Assim, nosso problema é encontrar soluções para a equação de Schroedinger
independente do tempo
~2 •
H =E =) = E :
2m
Onde E (autovalores de H) são as possíveis energia que o sistema pode assumir.
Observe que, para um valor …xo de E, por ser uma equação de segunda ordem
a equação acima possui apenas duas soluções linearmente independentes
(sempre). A solução geral da equação dependerá de duas constantes que serão
…xadas pelas condições iniciais do problema. Entretanto, não é neste sentido
que queremos “encontrar as soluções da equação acima”. Queremos encon-
trar todos os valores de E para que a equação acima tenha solução e
178
respeite as condições de contorno. Ou seja, nosso problema não é apenas
o problema de resolver uma equação diferencial. Na verdade, no tratamento de
problemas quânticos, acreditamos que as soluções das equações diferenciais já
são conhecidas.
Como mencionado acima, para um valor …xo de E a equação acima possui
duas soluções LI
2m
eikx ; e ikx ; k 2 = 2 E ;
~
de sorte que uma solução geral pode ser escrita como uma combinação linear
destas soluções
2m
(x) = Aeikx + Be ikx
; k2 = E:
~2
Observe que, por ser hermitiano, E 2 R. Entretanto, nada impede que este
assuma qualquer valor real e, em especial, valores negativos. Neste caso (E < 0)
temos
~2 • 2m
H = jEj =) = jEj =) (x) = Aekx + Be kx
; k2 = jEj ;
2m ~2
Entretanto, para ser solução do nosso problema, a função não deve apenas
ser solução da ES, mas pertencer ao nosso espaço de Hilbert, ou seja, pertencer
ao domínio de H. Com isso:
A+B =0)A= B;
k k
Ae Ae = 0 ) A ek e k
=0)A=0:
E, para o caso geral, é fácil ver que não existem A e B diferentes de zero que
respeitem as condições de fronteira (para k = 0, = A A = 0). Assim, os
estados com E < 0 são descartados por não pertencerem ao nosso espaço
de Hilbert. Ou ainda, o fato de H ^ ser hermitiano implica que o sistema
só pode ter energias positivas. Este resultado é completamente compatível
com a física clássica. Porém, como veremos a seguir, os demais resultados são
bastante distintos dos esperados classicamente.
179
Como vimos nos exemplos anteriores, em geral, as constantes A e B (na
verdade, apenas uma delas) serão …xadas pelo processo de normalização. Resta-
nos então …xar k. Esta constante está relacionada com as condições de contorno
do problema. Para facilitar as contas, no que segue façamos a = L e b = L,
^ =
D H ; 0
2 L2 ( L; L) ; ( L) = (L) = 0; a:c: :
(L) = ( L) = 0 ;
temos
sin kL = 0 =) kL = n ; n 2 N
1
cos kL = 0 =) kL = n+ ; n2N;
2
180
Pela simetria do problema estes estados automaticamente satisfazem a condição
( L). Mas, no caso geral, precisamos aplicar ambas as condições de fronteira.
Remark 80 Observe como a limitação da partícula no intervalo tornou os
níveis de energia discretos. Este é o fenômeno por trás da maioria das pecu-
liaridades do comportamento quântico dos sistemas, em especial, dos chamados
pontos quânticos (QD).
As soluções acima mostram que o con…namento da partícula num intervalo
tornou os níveis de energia discretos. Ou seja, numa medida da energia da
partícula con…nada numa caixa de tamanho 2L, podemos obter apenas os valores
En e En+ . Isso é, obviamente, um comportamento completamente diferente do
esperado classicamente, onde a partícula pode ter qualquer valor de energia.
Além disso, o menor valor possível da energia para a partícula na caixa vale
(observe que E0 = 0 implica 0 (x) = 0 e a partícula não está mais na caixa)
~ 2 h i2
E0+ = :
2m 2L
Ou seja, este é o menor valor de energia cinética que a partícula pode ter. Mais
ainda, se esta partícula interagir com alguma coisa (e.g., fótons) ela só poderá
absorver e emitir energias que sejam proporcionais a diferença entre dois níveis
En !n = En+ Em
Esta é a chamada energia de transição de n para m.
Suponha que você prendeu um elétron numa caixa e baixou a temperatura
do sistema de forma a garantir que este elétron está no estado fundamental E0+
(é mais natural imaginarmos que temos vários elétrons não interagentes nesta
caixa). Primeiramente veja que existe uma energia do sistema que você
não pode retirar, ou seja, esta energia não se dissipa em forma de calor.
Em segundo lugar, se você tentar aquecer o sistema, por exemplo o iluminando
com um laser, se este laser tiver uma energia menor que E0 !1 o sistema
não irá interagir com seu laser (ou seja, ele será transparente). Se você for
aumentando a freqüência deste laser, quando a sua energia chegar a E1 E0+ o
sistema passa a absorver o laser (se torna opaco) e os elétrons passam para um
nível de energia mais alto. Na prática, se a temperatura for baixa o su…ciente,
o sistema irá emitir estes fótons tornando-se reluzente na cor do laser. Este
“salto”de um nível de energia para o outro, sem que o sistema possa existir em
níveis intermediários (o que classicamente é um contínuo) é chamado de salto
quântico. Este efeito de absorção de apenas alguns comprimentos de onda pode
ser observado em pontos quânticos. Este é também o mecanismo porque os
elétrons em torno do núcleo só absorvem e emitem radiações com determinada
freqüência (e.g., a série de Balmer).
O fato de nosso operador ser auto-adjunto signi…ca que suas autofunções
formam uma base (agora ortonormal) do espaço. Assim, qualquer função
do nosso espaço pode ser escrita como
1
1 X + 1 1 X
1 h i
(x) = p cn cos n+ x +p cn sin nx :
L n=0 L 2 L n=1 L
181
Onde o módulo quadrado de cada coe…ciente cn = h n j i representa a prob-
abilidade de, numa medida da energia, a partícula ser encontrada com energia
En . Assim, o fato de qualquer estado poder ser expandido na decomposição
acima, tem o signi…cado físico de que todo sistema pode ser encontrado (com
uma certa probabilidade) em algum valor de energia.
Usando a notação de Dirac temos a base composta pelos dois pares de funções
e+
fj^n i ; j^
en ig com componentes
1 1 1 h i
e^+
n (x) = p cos n+ x ; e^n (x) = p sin nx :
L L 2 L L
Exercise 81 Veri…que que esta base é ortonormal
e^n e^+ ^+
m =0 ; e ^+
n e ^n e^m =
m = e nm :
Com isso
1
X 1
X
j i= c+ ^+
n en + cn e^n
n=0 n=1
Lembrando que estes estados j n i têm energia bem de…nida (são auto-estados
do operador Hamiltoniano), podemos determinar a evolução temporal de j 0 i
fazendo
i i X
j t i = U (t) j 0 i = exp Ht j 0 i = exp Ht c+n
+
n + cn n
~ ~ n
X i + i
= c+
n exp En t +
n + cn exp E t :
n
~ ~ n n
X i + i
(x; t) = c+
n exp E t +
(x) + cn exp E t (x) :
n
~ n n
~ n n
182
Aqui é interessante ver como a realização do nosso espaço depende muito de
qual parte do sistema nos interessa. De forma geral,
2
~
E :
L
Assim, se no exemplo acima a distância L for muito pequena, os níveis de
energia vão estar tão espaçados que para sofrer uma transição de nível precis-
aríamos fornecer uma quantidade muito grande de energia. Podemos garantir
assim que o sistema não sofra nenhuma transição indesejada (e.g., térmica) e as
únicas transições possíveis são aquelas que nós provocamos. Neste caso, apenas
alguns níveis de energia são relevantes e podemos tratar o sistema como um
problema de n níveis. Ao fazemos isso nosso sistema passa a ter um número
…nito de estados e passa a ser descrito por uma matriz. É por isso que um
QD pode ser tratado como um sistema de dois níveis da mesma forma como no
exemplo de uma partícula de spin 12 .
Além disso, se o tamanho da caixa vai para in…nito (partícula livre) a difer-
ença dos níveis de energia vão a zero e, conseqüentemente, a partícula pode
assumir “qualquer” (mas sempre contável) valor de energia.
183
Entretanto, podemos tornar nosso operador p^ auto-adjunto se mudarmos
as nossas condições de fronteira. Como vimos anteriormente na seção ??, este
operador se trona auto-adjunto se adotarmos condições periódicas de contorno
( L) = ei (L) :
é auto-adjunto.
logo
n
sin (kL) = 0 ) kL = n ) kn = :
L
Para =
ou seja
1
sin kL = cos (kL) ) kn = +n :
L 4
Ou seja, neste caso o momento da nossa partícula é um observável e pode
assumir apenas os valores acima. E seus auto-estados são
n
=0 (x) = A cos (kn x) ; kn = ;
L
1
= (x) = A exp ( ikn x) ; kn = +n ;
L 4
onde A é determinado por normalização.
O ponto é que a condição de fronteira (L) = ( L) = 0 signi…ca (…sica-
mente) que a partícula não pode penetrar na parede e, como esta partícula
184
não pode desaparecer, ela tem de ser re‡etida. Assim, para esta condição
de fronteira temos a visão clássica de uma partícula indo e voltando na caixa.
Tal partícula tem seu momento mudando constantemente e, certamente, não
está num auto-estado do momento. Já para a condição periódica de fronteira
=0 (L) = =0 ( L) é como se, ao chegar no ponto x = L a partícula rea-
parecesse no ponto x = L (ou vice-versa). O melhor modelo clássico para
isso não seria uma partícula numa caixa, mas sim presa num anel. Neste caso,
obviamente, a partícula pode “girar” sempre numa determinada direção e ter
um momento bem de…nido.
Assim, a escolha das condições de fronteira para um problema depende do
sistema físico em consideração. Mas os resultados matemáticos nos dizem muita
coisa. Por exemplo, as autofunções de p^ são da forma
(L) = ( L) = 0 :
O que nos diz que o momento não é uma quantidade bem de…nida da nossa
partícula numa caixa. Neste caso a interpretação é óbvia, mas, em casos mais
complicados, a incapacidade de …xar certas condições de fronteira, ou alguma
outra peculiaridade matemática, pode nos dar uma in…nidade de informações
físicas novas sobre o sistema.
185
2. Veri…car que o espectro pontual de energia tende a um contínuo para
sistemas livres (estados não ligados).
3. A relação entre o problema com in…nitos graus de liberdade e com um
número …nito de graus de liberdade para con…namentos em regiões muito
estreita (e.g., QD),
4. Veri…car algumas minudências matemáticas referente a sistemas com in-
…nitos graus de liberdade (continuidade, extensões auto-adjuntas etc.)
5. Veri…car como as imposições matemáticas (e.g., condições de fronteira)
estão relacionadas com as características físicas do sistema.
186
12.7 O oscilador harmônico
São incontáveis os sistemas e aplicações em física que podem ser modelados
pelo problema do oscilador harmônico (OH). Uma das razões para isso é que
um potencial V (x) qualquer (dado por uma função analítica) sempre pode ser
expandido em sua série de Taylor
dV 1 d2 V 1 d3 V
V (x) = V0 + x+ x2 + x3 + ::::
dx x0 2 dx2 x0 3! dx3 x0
dV
=0
dx x0
p2 1
H= + m! 2 x :
2m 2
Assim, para tratar o problema atual, vamos introduzir os seguintes oper-
adores diferenciais lineares
~2 d 2 1
L H= + m! 2 x
^2 ;
2m dx2 2
d
p= i~
dx
0 00
D (p) = D H = ; ; 2 L2 ; ( 1) ! 0; a:c:
~2 d 2 1
H =E =) + m! 2 x
^2 =E
2m dx2 2
Esta equação não é nada simples de se resolver.
187
Vamos então fazer uso de alguns artifícios. Lembrando a relação de comu-
tação
[x; p^] = i~ ; (84)
ou seja, sempre que aparecer o comutador entre x e p^ podemos sub-
stituir por i~. Lembre que a quantidade acima é um operador enquanto a
quantidade à direita da igualdade é um número.
Remark 87 Assim, esta igualdade só faz sentido quando ambos os lados atuam
numa função qualquer.
i^
p i^
p
^= p
a x+ ^+ = p
; a x
2 m! 2 m!
1
x= p a ^+
^+a ; p^ = i~ p ^+
a a
^ (85)
2 2
r
m!
=
~
Com estes novos operadores o Hamiltoniano pode ser escrito como (veri…que):
2
^ = p^ + 1 m! 2 x
H
1
^2 = !~ a
^a+ + a+ a
^ : (86)
2m 2 2
Exercise 88 Veri…que a igualdade acima.
ou seja,
[x; p^] = i~ =) a ^+ = 1 :
^; a (87)
com isso
^ = 1 !~ a
H ^a+ + a+ a
^ = ~! a+ a
^+
1
:
2 2
188
Além disso, é fácil ver que
h i
^ a
H; ^+ ; a
^ = ~! a ^ a^ = ~!^
a (88)
h i
^ a
H; ^+ = ~!a+ a ^+ = ~!a+
^; a (89)
^a
H^ n = a+a
~!^ ^H^ n =a
^ (En ~!) n
En
= ~! 1 a
^ n :
~!
fazendo
En ^
= n =) H n = ~! n n
~!
temos
^a
H^ n = ~! ( n 1) a
^ n :
^ com autovalor ~! n , então a
Ou seja, se n é autovetor de H ^ n é outro
^
autovetor de H, mas com autovalor ~! ( n 1) diminuindo de uma unidade.
Simbolicamente podemos chamar este vetor de n 1 ;
a
^ n n 1
^
; H n 1 = ~! n 1 n 1 ; n 1 n 1:
^ a+
H^ n a+ + a
= ~!^ ^
^+ H n ^+ (~! + En )
=a n
^+ ~! (1 +
=a n) n
+
= ~! (1 + n) a
^ n
^+
a n n+1
^
; H n+1 = ~! n+1 n+1 ; n+1 n +1 : (90)
189
Vamos usar agora que a energia do sistema é uma quantidade positiva10
^j i
h jH 0
h ^j
nj H ni =h n j ~! n j ni = ~! n h nj ni = ~! n 0: (91)
i^
p
a
^ 0 = 0 =) p x
^+ 0 =0
2 m!
~ d 0
x 0 + =0
m! dx
fazendo
~
k=
m!
temos
d 0 1 1 d 0 d x
= x 0 =) = ln 0 = ;
dx k 0 dx dx k
Fácil ver que a equação acima é bem mais fácil de resolver que a nossa
equação original (??). Sua solução vale
x2 x2
ln 0 = + C =) 0 (x) = N exp :
2k 2k
190
A exigência a
^ 0 = 0, nos permite ainda determinar a energia deste estado
fundamental. Partido da eq. (86)
^
H n = ~! n n
1
^+ a
~! a ^+ 0 = ~! 0 0
2
1
^+ (^
~! a a 0) + 0 = ~! 0 0
2
1
~! 0 = ~! 0 0
2
1
0 =
2
Então já temos o estado fundamentas e a sua energia (auto-valor).
Observe que a descrição quântica do OH implica na existência de uma energia
mínima (o oscilador nunca para de oscilar).
i^
p
^+
a n = n+1 ^+
=) a 0 = 1 =) p x
^ 0 = 1
2 m!
1
E1 = ~! ( 0 + 1) = ~! +1
2
explicitamente
~ d
p x 0 0 = 1
2 m! dx
!
~
1 (x) = p x 1 + ~ 0
2 m! m!
2 x2
1 (x) = 2 p x 0 = N1 p x exp
2 2 2k
Com autovalor
1
En = ~! n + :
2
191
12.7.1 Normalização
^+
As funções n (x) não estão normalizadas, i.e., após a aplicação do operador a
n vezes, precisamos calcular Nn . Isso pode ser simpli…cado supondo que, se n
é um vetor normalizado, queremos obter N e N + para que
a
^ n N n 1
+
a
^ n N+ n+1
a
^ n ^+
ea n também já estejam normalizados.
^j
H ni = En j ni
1 1
^+ a
~! a ^+ j ni = ~! n + j ni
2 2
^+ a
a ^j ni = nj ni
h ^+ a
nj a ^ j ni = nh n j ni =n: (92)
h j A^ j i = h j A^+ j i
temos Z Z Z
A^ dx = (A+ ) dx = (A+ ) dx
se …zemos
j ni =a
^j ni
usando (92)
2
2 a
^ n
j^
a nj = n ) p =1
n
ou seja, se quisermos um vetor normalizado não devemos de…nir a
^ n = n 1,
mas sim
a
^ n p
p n 1 )a ^ n= n n 1:
n
192
Da mesma forma
2
h nj a
^a^+ j ni ^+ a
= h nj 1 + a ^j ni =1+h ^+ a
nj a ^ j ni = 1 + n = N+
p
^+
a n = n + 1 n+1
Ou, fazendo m = n + 1, p
^+
a m 1 = m m
com isso
^+ m 1
a ^+
a ^+
a ^+
a
m = p =p p p m 3
m m m 1 m 2
^+
a ^+
a ^+
a ^+
a
=p p p ::: p m m
m m 1 m 2 m m
+ m
(^
a )
= p 0 :
m!
Assim, a formula para a n-ésima autofunção do hamiltoniano do OH se torna
n
N0 ~ d
n (x) = p p x 0 (x)
n! 2 m! dx
e ache a normalização N0 .
O fato do nosso operador ser auto-adjunto implica que a base formada pelas
funções de Hermite também são completas e qualquer função pode ser decom-
posta como
1
X
(x) = cn n (x) ; cn = h n j i :
n=0
h n j mi = nm :
193
1. O operador de momento
d
p^ = i~
dx
com condições periódicas de contorno, fornece as funções ortogonais
1 n
e (x) = p exp (ikn x) ; kn =
2L L
2. O operador
^ = ~2 d 2 1
H + m! 2 x
^2
2m dx2 2
no espaço das funções L2 ( 1; 1) cujas autofunções são
n
N0 ~ d
n (x) = p p x 0 (x)
n! 2 m! dx
^= 1 d2 d
L x2 2x + n (n + 1)
dx2 dx
Cujas soluções são os polinômios de Legendre
1 dn n
Pn (x) = N x2 1 :
2n n! dxn
Esta equação esta relacionada, por exemplo, com o problema quântico do
átomo de hidrogênio.
2. Equação diferencial generalizada de Legendre
^= 1 d2 d m2
L x2 2x + l (l + 1)
dx2 dx 1 x2
m m=2 dm
Plm (x) = N ( 1) 1 x2 (Pj ) :
dxm
194
3. A equação de Laplace em coordenadas esféricas
2
^=2 @ + @ + 1 @ @2 1 @2
L 2 2
cos + sin + 2 @'2
r @r @r r sin @ @ 2 r2 sin
cujas autofunções são os harmônicos esféricos
13 Potenciais centrais
Até aqui tratamos praticamente todos os exemplo em 1D e argumentamos que a
extensão destes resultados para 3D não envolvia nenhuma di…culdade conceitual
mais profunda.
Vamos agora considerar o momento angular orbital de um sistema, ou seja,
uma característica que exige que nosso sistema tenha mais de 1D. O momento
angular que vamos tratar aqui é chamado de momento angular orbital. Este
representa a quantização, nos moldes introduzidos anteriormente, do observável
clássico momento angular
L=x ^=
p!L i~x r:
Exercise 92 Se x
^ep
^ são hermitianos, o operador acima é hermitiano?
195
Entretanto, apesar de não podemos medir simultaneamente as 3 compo-
nentes do momento angular, podemos de…nir um operador relacionado com o
módulo (ou o valor total do momento angular)
^2 = L
L ^2 + L
^2 + L
^ 23 ;
1 2
h i
Exercise 94 Veri…que explicitamente que L^3; L
^ 2 = 0.
Uma visão clássica para o nosso sistema (que ajuda a desenvolver alguns
raciocínios) é que, após uma medida de L3 e L2 o vetor momento angular está
precessionando em torno do eixo z. Mas este imagem não deve ser levada
tão à sério. O resultado mais preciso, mas que é difícil de visualizar, é que,
após a medida de L3 , nosso sistema está numa superposição de todos os valores
possíveis de Lx e Ly , compatíveis com o valor de L2 .
196
para resolver o problema do oscilador harmônico. Neste caso, introduzamos os
operadores
^+ = L
L ^ 1 + iL
^2 ;
+
^ =L
L ^1 ^2 = L
iL ^+ :
[L+ ; L ] = 2~L3
h i
^2; L
L ^ =0
^ aja em L
calculadas no caso do osculador harmônico. Isso faz com que L ^ 3 de
forma semelhante a a ^
^ em H do OH.
Assim como …zemos no caso do OH, imagine que você encontrou um autove-
tor K;m do operador L ^3
^3
L = ~m
K;m K;m :
h i
^3; L
Usando as regras de comutação L ^ = ^
~L é possível mostrar que
^3 L
L ^+ K;m
^+
= ~ (m + 1) L K;m
^3 L
L ^ K;m = ~ (m ^
1) L K;m
^ + (L
Ou seja, o operador L ^ ) permite construir um novo autovetor com o auto-
valor aumentado (diminuído) de uma unidade. Por isso este operador é chamado
de operador de levantamento (abaixamento).
Uma vez que L^ 2 comuta com L ^ 3 , podemos esperar que o autovetor K;m
^
acima seja também autovetor de L2
^2
L K;m = ~2 K 2 K;m : (93)
197
h i
Além disso, como L^ ;L
^ 2 = 0 temos
^ 2 (L
L K;m )
^2
=L L K;m = L ~2 K 2 K;m = ~2 K 2 (L K;m ) ;
^ 2 como
Ou seja, os autovetores construídos acima são também autovetores de L
^
o mesmo autovalor. Assim, os operadores L abaixam e levantam a projeção
do momento angular no eixo z sem mudar o valor do módulo do vetor.
Fazer desenho
^ do OH, o operador (quadrático) L
Assim como H ^ 2 é positivo de…nido, com
isso, D E
^2
L 0 ) K2 0 :
K;m
^ é hermitiano e K 2 R).
(isso é obviamente verdade porque L
Além disso, temos
D E D E D E D E D E D E
^2
L = L ^ 21 + L^ 22 + L^ 23 = L ^ 21 + L^ 22 +~2 m2 ;
K;m K;m K;m K;m K;m K;m
ou seja
K 2 = m2 + C ; C > 0
ou ainda
jKj jmj ) jKj < m < jKj :
Que obviamente signi…ca apenas que o módulo de um vetor é maior ou igual
qualquer uma de suas componentes.
Entretanto, o fato de podermos sempre aumentar o valor da projeção com
^ + (ou diminuir com L
o operador L ^ ) leva a uma contradição com a igualdade
acima (assim como no caso da energia mínima do OH). Por isso, se mmax jKj
é o maior valor possível para a projeção do momento angular na direção z,
devemos exigir que
^ + K;m
L =0: (94)
max
198
Usando a relação acima e (94) podemos escrever (93) como
^2
L K;mmax = ~2 K 2 mmax
^ L
= L ^+ + L
^ 23 + ~L
^3 mmax
^ 23 + ~L
= L ^3 mmax = ~2 m2max + ~2 mmax mmax
ou seja
K 2 = mmax (mmax + 1)
Da mesma forma
K 2 = mmin (mmin 1)
Com isso
que implica
mmax = mmin
Ou seja, os valores possíveis de m variam de uma em uma unidade
(porque L^ os faz varia de uma unidade) e se distribuem simetricamente
em torno de 0.
A simetria da distribuição acima, nos mostra que temos apenas duas possi-
bilidades para os valores de mmax
K 2 = mmax (mmax + 1) = l (l + 1)
1 1 Não estamos a…rmando que m
max inteiro não pode ser um valor de spin, mas apenas que
o momento angular orbital tem, obrigatoriamente, um valor inteiro de mmax .
199
^ 2 são
Ou seja, os autovalores de L3 e L
^2 0; 1; 3:::
L l;m = ~2 l (l + 1) l;m ; l= 1 3
2 ; 2 ; :::
^3
L l;m = ~m l;m ; m= l; l + 1; :::; 0; :::; l
Da mesma forma como no caso do OH, temos agora uma equação diferencial
mais simples pra resolver
L^ + l;l = 0 :
Uma vez obtida esta solução, podemos construir as demais soluções baixando o
auto-valor de m
^ l;l
l;l 1 = L
e suas inversas
z y
r2 = x2 + y 2 + z 2 ; cos = ; tan = :
r x
200
Nestas coordenadas temos
^ =L
^1 ^ 2 = ~e i @ @
L iL i cot ;
@ @
2
^2 = 1 @ @ 1 @
L sin + : (96)
sin @ @ sin2 @ 2
^ 3 assume uma forma bem simples
Em especial, o operador L
^3 = @
L i~ :
@
Observe que a coordenada r não participa dos nossos operadores.
Assim, as funções procuradas obedecem a equação (fazendo Ylm l;m )
^ 3 Y m = imY m ;
L l l
Ylm = Ylm ( ; )
Ylm ( ; ) = m ( ) m
l ( )
temos
^ 3 Ylm = imYlm )
L m ( ) = N exp (im ) :
Onde N é, obviamente, a normalização (no parâmetro livre ).
Lembrando que a o produto interno das nossas funções originais são dadas
por
Z Z Z Z Z Z
hgj f i = g (x; y; z) f (x; y; z) dxdydz = g (x; y; z) f (x; y; z) dV
d = sin d d ;
201
No caso do momento angular orbital estamos (diferente do spin) efetivamente
quantizando um sistema clássico que descreve um movimento circular. As
características físicas (clássicas) deste sistema exigem que o estado da partícula
no ponto (r; ; ) sejam os mesmos que nos pontos (r; + 2 ; + 2 ) (pois são
os mesmos pontos do espaço). Assim, a condição de unicidade da solução (que
usamos em problemas de mecânica clássica) exige que
m ( )= m ( + 2 ) ) eim2 = 1 ) m = 0; 1; 2; ::
^ + Yll = 0 ) ~ei @ @ 1 l
L i cot + p l ( ) exp (il ) = 0 ;
@ @ 2
ou seja
@ l l
l ( ) = l cot l ( )
@
observando que
d cos
sinl = l sinl 1
cos = l sinl = l cot sinl
d sin
temos a solução
Nl
l
l ( ) = Nl sinl ) Yll ( ; ) = p exp (il ) sinl
2
onde Nl é uma normalização.
202
^2,
Se usarmos ainda a primeira expressão acima e forma diferencial de L
temos que as nossas soluções obedecem também a equação:
m2 1 d d m
sin l = ~2 l (l + 1) m
l
sin2 sin d d
fazendo
cos ; 1 1
2
~ l (l + 1)
1 d d
=
sin d d
2
= cos2 = 1 sin2
1 2
= sin2
temos
m
d 2 d l m2 m m
1 2) l + l =0
d d (1
Para m = 0 esta é a equação de Legendre, cujas soluções são os polinômios de
Legendre
1 dl l
Pl (cos ) = l l
cos2 1
2 l! d (cos )
para o caso geral, as soluções são dadas pela formula de Rodrigues
Ylm ( ; ) = Nl m Pl
m
(cos ) eim
m m=2 dm
Plm (cos ) = ( 1) 1 cos2 m Pl (cos )
d (cos )
m m=2 1 dl+m l
= ( 1) 1 cos2 cos2 1
2 l! d (cos )l+m
l
203
13.2 O átomo de hidrogênio
Recapitular principais resultados do átomo de Bohr-Sommerfeld.
Como vimos, o modelo de Bohr-Sommerfeld do átomo de hidrogênio consiste
na quantização de duas variáveis clássicas: X
E cada estado do elétron é determinado pelos números n e NT.
I I
p d = n h ; pr dr = nr h :
com
nr 2 N ; n 2 N :
A energia de cada um destes estados é dado por
RH
Enr ;n = ; n = n + nr :
n2
Assim, para cada valor de n temos vários diferentes de n e nr que resultam
na mesma energia. Esta degenerescência explica a estrutura …na observada nas
linhas espectrais do átomo de hidrogênio.
Na notação usada em química um nível é nomeado pelo valor de n e nr , onde
os níveis com nr = 0 (maior n ) é chamado de s, o nível nr = 1 é chamado de
p etc.
n = 1 ) n = 0; n = 1 1s
n = 2 ) nr = 0; n = 2 2s; nr = 1; n = 1 2p
n = 3 ) nr = 0; n = 3 3s; nr = 1; n = 2 3p ; nr = 2; n = 1 3d
..
.
Vejamos agora como estes resultados podem ser obtidos na teoria de Schroedinger.
Veremos, além disso, que esta teoria não só fornece os resultados anteriores
como permite uma descrição mais …na dos níveis acima (e.g., a degenerescência
do nível 2p). Além disso, e o que é mais importante, a teoria de Schroedinger
permite re…nar a descrição do átomo de hidrogênio acrescentando outras car-
acterísticas além da atração coulombiana. Por exemplo, o spin do elétron e do
núcleo.
Uma vez que a teoria de Schroedinger parte da quantização do hamiltoniano
clássico, precisamos primeiro montar este hamiltoniano.
Partindo do hamiltoniano da partícula livre
~2 2
H= r
2m
e escrevendo o laplaciano em coordenadas esféricas temos
p^2r ^2
L
H= +
2m 2mr2
204
com
1 @
p^r = r
r @r
2
^ 2 = 1 @ sin @ + 1 @
L 2
sin @ @ sin @ 2
onde L^ 2 é o operador de momento angular introduzido anteriormente (96) e p^r é
chamado de momento radial. Assim, para o caso de um potencial que dependa
apenas da coordenada radial, i.e., um potencial central, temos que o operador
hamiltoniano se torna
2 ^2
^ = p^r + L + V (r)
H
2m 2mr2
Para o caso de um sistema ligado de um próton e um elétron (i.e., um átomo
de hidrogênio) temos que o potencial do elétron devido ao próton vale
e2
V (r) =
r
com o que nosso hamiltoniano …ca
2 ^2 e2
^ = p^r + L
H
2m 2mr2 r
Remark 100 Lembre que, na verdade, sendo um sistema de dois corpos, deve-
mos usar a massa reduzida
me mp
= ' me ;
me + mp
reveja o capítulo sobre o átomo de Bohr.
Assim, na teoria de Schroedinger, o problema dos estados estacionário (es-
tados com energia de…nida) do átomo de hidrogênio, consiste em encontrar os
autoestados do operador acima
^
H = jEj :
Além disso, como estamos interessados em estados ligados, estamos interessados
no caso E < 0 (pois, como no problema usual do potencial acima, estamos
colocando o zero de energia no in…nito).
O problema acima pode ser facilitado usando, novamente, uma separação de
variáveis. Entretanto, observe que
h i h i
^ L
H; ^ 2 = H;
^ L
^3 = 0 ;
^ L
ou seja, podemos procurar por autofunções simultâneas de H; ^ 3 (ou ainda,
^2 e L
^ ^ 2 ^
podemos medir simultaneamente H; L e L3 ). Com isso, vamos procurar as
nossas soluções na forma
= R (r) Ylm ( ; ) :
205
Substituindo a solução na forma acima na ES temos:
~2 1 d2 ~2 l (l + 1) e2
2
r + + jEj R (r) = 0
2m r dr 2mr2 r
Esta equação pode ser simpli…cada fazendo
u rR
com o que
d2 l (l + 1) 2me2 2m jEj
2
r + + u (r) = 0
dr r2 2
~ r ~2
que pode ser colocada numa forma ainda mais simples através das variáveis
~2 2 RH
2 r; = jEj ; =
2m jEj
~2 ~2
RH = 2 ; a0 =
2ma0 me2
onde RH é a constante de Rydberg e a0 o raio de Bohr introduzidos na seção
sobre o átomo de Bohr. Nestas novas variáveis temos
d2 u l (l + 1) 1
u+ u=0
d 2 2 4
Nosso trabalho se resume, obviamente, em resolver a equação diferencial acima.
Assim como nos casos anterior existem técnicas especí…cas para encontrar a
solução desta equação. Após a aplicação destas técnicas, as soluções do prob-
lema acima podem ser escritos como:
l+1
un;l ( ) = exp Fnl ( )
2 2
onde
nX
l 1 i 2
( 1) [(n + l)!] i
Fnl ( ) = ; n2N
i=0
i! (n l 1 i)! (2l + 1 + i)!
são os polinômios associados de Laguerre. Para que estas funções sejam de
quadrado integrável, devemos ter13
n l 1 0)l n 1)l<n
Assim, a solução do problema do átomo de hidrogênio pode ser escrito como
206
com os autovalores
RH
En =
n2
que são exatamente os mesmos obtidos pela quantização de Bohr.
A solução da parte radial do problema (como era de se esperar) introduziu
o novo número quântico n nas nossas soluções. Chamado de número quântico
principal.
jmj < l :
1s1
2s1 2p3
3s1 3p3 3d5
..
.
1s2
2s2 2p6
3s2 3p6 3d10
..
.
207
13.2.1 Acoplamento spin-órbita
Podemos melhorar um pouco o nosso modelo se tomarmos em conta os efeitos
causados pelo spin dos elétron. Como sabemos, além de carga e massa o elétron
possui ainda outra característica intrínseca chamada spin. Esta quantidade
interage apenas com campos magnéticos. Assim, se colocarmos nosso átomo
imerso num campo magnético B, teremos de acrescentar ao hamiltoniano H ^o
um termo da forma
^ =H
^o + ^ ~
H s:B ; ^
s=
2
s é o operador de spin. Este operados comuta com os introduzidos anteriormente
^
h i h i h i
^ ^
H; s = ^ ^2 = ^
s; L ^z = 0 :
s; L
Assim, como vimos, nosso sistema adquire mais um grau de liberdade e, es-
colhendo nossa base de spin nossas j i na direção z, soluções passam a ter a
forma
~ ~
jn; l; mi j i ; s^z j i = 3 j i=j i
2 2
1
jn; l; m; ms i = jn; l; mi jms i ; ms =
2
s^z jn; l; m; ms i = ~ms jn; l; m; ms i (97)
208
as energias envolvidas em Ho . Assim, o que efetivamente é feito, é se tratar
este novo temo do Hamiltoniano como uma perturbação. Ou seja, utiliza-se as
mesmas soluções obtidas para Ho e se estima as alterações destas quantidades
na presença do novo termo.
Um problema ainda é que este novo termo no Hamiltoniano não mais comuta
nem Lz nem com s^z . Portanto, estas quantidades não podem mais ser usadas
^ L
para rotular nossos soluções (existe agora relações de incerteza entre H; ^ z ; s^z ).
Mais especi…camente, não podemos mais usar o número quântico m nem a
projeção do spin ms . Contudo, o Hamiltoniano acima pode ser escrito como
H ^ o + f (r) ^
^ =H |2 ^2
L s2
^ (98)
2
onde h i
^ ^ +^
|=L s ; H;^ ^
| =0
é o momento angular total do sistema. Além disso, é fácil ver que jz comuta
^ Assim, no lugar de m (autovalores de L
com H. ^ z ) usamos jz , os autovalores do
operador |^z . Lembre-se que tínhamos dois números (m; ms ) e agora só temos
um (jz ). Pela forma do Hamiltoniano (98) é fácil ver que
h i
^ ^
H; |2 = |^z ; ^
|2 = 0
jn; l; j; jz i
onde
Observe que, para o novo Hamiltoniano, não existe nenhuma razão para se
supor que os auto-valores de H ^ não dependam dos demais números quânticos.
Mais uma vez: para construir efetivamente as funções de onda n;l;j;jz (r; ; ) =
hr; ; j jn; l; j; jz i precisamos resolver a equação de Schroedinger. Mas o que
fazemos é continuar usando as funções R (r) e Ylm ( ; ), obtidas anteriormente,
e tratamos o novo Hamiltoniano como uma perturbação do anterior.
209
14 Teoria das perturbações
Como vimos, o problema do átomo de hidrogênio (mesmo com um único elétron)
tomando em conta os efeitos do spin, não pode ser resolvido exatamente (isso
acontece com a maioria dos problemas em MQ). Vamos então ver como este
tipo de problema pode ser atacado. A idéia é queremos encontrar os estados
estacionários (auto-funções) j n i para um Hamiltoniano na forma
^ =H
H ^ 0 + V^ ; H
^j ni = "n j ni ; 2R; << 1 : (100)
P^n = j ni h nj
P^n j ni =j ni h nj j ni =j ni (102)
ou ainda
j ni =j ni + I P^n j ni
=j ni
^n j
+Q ni
^n = I
; Q P^n : (103)
Se você não se sentir tão confortável no espaço abstrato, lembre-se que tudo
isso pode ser traduzindo num espaço concreto. Por exemplo, usando funções de
onda,
Z
hxj P^n j n i = hxj j n i h n j j i = hxj j n i h n j jxi hxj j n i dx
Z
= n (x) n (x) n (x) dx
210
onde n (x) é a solução da equação de Schrödinger com hamiltoniano H ^ 0 . Ob-
viamente, para efetuarmos o cálculo acima, precisamos antes encontrar n (x),
que é o nosso objetivo adora.
Voltando agora para a nossa notação abstrata em (100) temos
n
^0 j
H ni = Vj ni =) V^ j ni = "n ^0 j
H ni
1
j ni = V^ j ni
"n ^0
H
1
onde, até aqui, "n H ^0 é apenas um símbolo para um operador que com
a seguinte propriedade
1 ^0 = I
"n H
"n ^0
H
mas que nós ainda não conhecemos.
Voltando agora para (103) temos
^n j ^n 1
j ni =j ni +Q ni =) j ni =j ni + Q V^ j ni
"n ^0
H
^n j ^n = Q
^n 1
j ni =j ni + M ni ; M V^
"n ^0
H
O grande truque agora é aplicar este processo recursivamente, ou seja, na ex-
pressão acima (que possui j n i dos dois lados da igualdade) substituímos toda
a igualdade no j n i do lado direito. Com isso
j ni =j ni
^n j
+ M ni
^n j
+ M ni
=j ni
^n j
+ M ni + 2 ^ n2 j
M ni (104)
Observe agora que o terceiro termo depende de 2 e sendo muito pequeno,
é obrigatoriamente muito menor que o segundo. Assim, uma primeira aproxi-
mação para j n i, i.e., ignorando os termos da ordem de 2 , vale
E 1
n
(1) ^n
= j ni + Q V^ j n i
"n H0 ^
onde, mais uma vez, lembramos que conhecemos o vetor j Para efetuarmos n i.
1
a conta acima, precisamos ainda saber como age o operador E H ^0 . Para
isso, basta usarmos a propriedade
X E X 1
j k i h k j = I =) n(1) = j n i + ^n
Q j k i h k j V^ j n i
k k "n H0^
X 1
=j ni + ^n
Q j k i Vkn
("n Ek )
k
211
onde sabemos calcular cada elemento da matriz Vkn
Z
Vkn = h k j V^ j n i = h k j jxi hxj V^ jx0 i hx0 j j ni dx dx0
Z
0 0 0
= k (x) V (x; x ) n (x ) dx dx
^n j
Q ki =j ki = I P^n j ki = (I j n i h n j) j k i
0; n=k
= (j ki nk j n i) =
j k i ; n 6= k
Com isso E X
(1) 1
n =j ni + j k i Vkn
("n Ek )
k6=n
Mas ainda resta um problema: quanto vale "n ? Para resolver este problema,
voltamos a nossa equação original (100) e fazemos o produto interno com j n i,
h nj
^ 0 + V^ j
H ni =h n j "n j ni
h ^ j
n j H0 ni + h nj V
^j ni = "n h nj j ni
" n = En + h ^ j ni
nj V
"n En n = h n j V^ j n i (106)
212
1
Se supusermos que n << !nk podemos expandir (1 n =!nk ) em série de
Taylor em torno da origem
1
X n 2
1 n n n
= =1+ + + :::
1 n
n=0
!nk !nk !nk
!nk
(1)
Precisamos agora lembrar que na nossa primeira aproximação n (x) estamos
interessados apenas em termos da ordem de , i.e., se mantivermos o segundo
da expressão acima em (75) teremos um termo da ordem de 2 . Então, para
obtermos a aproximação de ordem 1 (ignorar termos de 2 ) na função de onda,
usamos a aproximação de ordem zero (ignorar temos de ) na energia. Assim,
em primeira ordem em , temos
E X Vkn
(1)
n = j ni j ki
Ek En
k6=n
X Vkn
(1)
(x) = 1 (x) k (x) (108)
E k En
k6=n
O que signi…ca a expressão acima? Ela nos diz que o vetor perturbado j n i
é quase igual ao vetor não perturbado j n i, mas com uma pequena componente
(pois << 1) na direção ortogonal. Além disso, a suposição n << !nk nos
diz que a perturbação tem de ser muito menor que a diferença nos níveis de
energia do hamiltoniano não perturbado.
Para se saber o valor da primeira aproximação na energia, quanto V^ alterou
a energia do sistema, basta usar o resultado acima em (106)
E
n = h n j ^
V (1)
= h n j V^ j n i + O 2 ; (109)
n
j ni =j ni + M ^ n j ni + 2M
^2j ni
n
E
(1) 2 ^2
= n + Mn j n i
213
usamos nossa primeira aproximação
E E
j n i = n(1) + 2 M^ n2 (1)
n + 4 ^ n4 M
M ^ n2 j ni
2
ignorando termos de ordem mais alta que ,
E E E
(2)
n = n(1) + 2 ^ n2
M (1)
n
E
(1)
onde n foi obtido no passo anterior. Explicitamente
E 1 1 E
^ n2
M (1)
n
^n
=Q V^ Q
^n V^ (1)
n
"n ^0
H "n ^0
H
X 1 1
= ^n
Q j ki h kj V
^j j i Qn
^ h jj V
^
("n Ek ) ("n Ej )
k;j
X 1 1 E
= j ki h kj V
^j ji h jj V
^ (1)
n :
("n Ek ) ("n Ej )
k6=n;j6=n
Mas agora, para "n precisamos manter termos até a primeira ordem em
em
" #
1 1 h n j V^ j n i 2
= 1+ +O
"n Ek !nk !nk
" !#
1 h n j V^ j n i ^ j 2
= 1+ + h n j Mn ni +O
!nk !nk
" #
1 h n j V^ j n i 2
= 1+ +O
!nk !nk
214
perturbativa. O procedimento é aplicado com tanta freqüência que um método
sistemático foi desenvolvido para se somar os termos das séries em QFT chamado
de diagramas de Feynman.
Obviamente, se a perturbação não é pequena, o método não pode ser usado.
Por exemplo, várias interações (e.g., quark-gluon) da QCD a baixas energias não
podem ser tratadas com este procedimento. Esta é uma das razões destas teorias
não fornecerem tantos resultados experimentáveis quanto a QED. Processos
de transição de fase (e.g., supercondutividade e condensados) não podem ser
descritos por este método, pois os novos vetores no espaço de Hilbert são muito
distintos dos originas (a imposição (102) não pode ser feita). Para todos estes
sistemas existem outros métodos aproximativos, como, por exemplo, os métodos
variacionais e a aproximação WKB e ainda métodos puramente numéricos como
density functional theory.
O procedimento descrito acima se torna consideravelmente mais complicado
quando a perturbação depende do tempo e quando o sistema possui de-
generescências (neste caso, veja a divergência em (108)).
^ j i = h jH
^o + f (r) 2 ^2
E = h jH |
^ L s2 j i
^
2
^o j i + 1 ^2
= h jH |2
hf (r)i h j ^ L s2 j i
^
2
^ o com autovalor En (soluções (??)) e
Lembrando que j i são autovetores de H
que usando as regras (99) temos
3 ~2
En;l;j = En + j (j + 1) l (l + 1) hf (r)inlm (110)
4 2
Mais uma vez: este resultado é só uma aproximação que somente será
válida se o segundo termo for muito menor primeiro . Mas já em primeira
ordem de aproximação vemos que os níveis de energia do novo Hamiltoniano
dependem, não só de n, mas de n; l e j. Ou seja, o termo spin-órbita quebra
uma parte da degenerescência do sistema. Além disso, como estamos usando
ainda as funções originais, as seguintes regras continuam válidas
n 2 N ; l; m 2 N
1
l < n ; jmj 6 l =) jz 6l:
2
Para avaliar o valor de hf (r)i basta usar também os estados não perturbados
215
(??) e calcular as integrais, com isso
2
Z 2 En
hf (r)inlm = hf (r)inl
~ l (2l + 1) (l + 1) n
~2 hf (r)inl 2 5
/ = 5; 33 10 :
En
O que mostra que, efetivamente, o segundo termo de (110) é muito menor que
o primeiro termo (se isso não fosse verdade teríamos de abandonar a nossa
teoria14 ). Com isso nossa expressão de energia se torna
( )
2
3 (Z ) 1
En;l;j = jEn j 1 j (j + 1) l (l + 1)
4 l (2l + 1) (l + 1) n
1
Para l = 0 temos j = 0 + 2 e a expressão acima se torna
1 (0)
j =0+ =) En;l = jEn j
2
ou seja, não há acoplamento spin-órbita neste caso (os orbitais s são
esfericamente simétricos).
Para o caso de um único elétron (esta conta deve ser refeita para mais
elétrons, pois para n elétrons temos n contribuições do spin), lembrando que
j = l 1=2, para um dado l > 0 temos
!
2
1 (+) 1 (Z )
j = l + =) En;l = jEn j 1
2 (2l + 1) (l + 1) n
!
2
1 ( ) 1 (Z )
j=l =) En;l = jEn j 1 +
2 l (2l + 1) n
1. Para l = 0 =) j = 1=2
(0)
E2;0; 12 = E2;0 = jE2 j (1 0) = jE2 j
2. Para l = 1 =) j = 1 1=2
1 4 Nem sempre temos esta sorte. Teorias onde os termos de aproximação sucessivas não
216
" #
2
+ 1 (Z )
E2;1; 12 = E21 = jE2 j 1
6 n
" #
2
1 (Z )
En1 32 = E21 = jE2 j 1 +
3 n
217