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Além disso, essas pessoas que passam a ter acesso à pós-graduação por meio de
ações afirmativas se tornam intelectuais reconhecidos no espaço público quando se
formam, sendo chamados para falar em seminários dentro e fora do país, como nosso ex-
colega Guarani, doutor em antropologia, Tonico Benites. Assim, estão contribuindo para
a divulgação da ciência feita por brasileiros ou no Brasil.
Ademais, essa iniciativa gerou uma organização maior de discentes. Foi criado
o Coletivo Negro Marlene Cunha e estudantes indígenas fazem demandas coletivamente
para aprimorarmos as políticas de ações afirmativas, de modo que todas e todos possam
permanecer no Programa e dar prosseguimento a suas pesquisas.
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O Coletivo Marlene Cunha foi formado em 2017, sendo o primeiro coletivo negro
de pós-graduação no país. Tendo sua inspiração em Marlene Cunha, que foi uma
antropóloga negra e militante pioneira no movimento negro dentro da universidade
pública ao lado de Beatriz Nascimento na UFF, ele existe como uma forma dos
pesquisadores e pesquisadoras negras do PPGAS se reunirem e colocarem para frente um
projeto de Ciência, de Antropologia anti-racista, comprometido com a democratização do
conhecimento. Ele serve também como um apoio e uma forma de unir estudantes negros
engajados no anti-racismo.
Esse Coletivo foi pioneiro em criar em 2017, o ano de sua fundação, um curso
preparatório para o processo seletivo do PPGAS voltado à pessoas negras. No mesmo
ano, prepararam logo de saída 60 pessoas para a prova, no Rio de Janeiro e à distância,
em todo o Brasil. Dessas 60 pessoas, ingressaram no PPGAS/UFRJ 12 pessoas, sendo
que todas as participantes da turma do doutorado entraram no PPGAS ou no PPGSA do
IFCS/UFRJ. Em 2018, se inscreveram 180 pessoas para o curso e foram preparados 120
para o mestrado e doutorado. Desses, 60 ficaram na lista de espera e 8 pessoas foram
aprovadas. Então, em dois anos, conseguiram fazer ingressar 20 estudantes negras e
negros, muito acima do reservado pela ação afirmativa. Este ano teve a terceira edição,
trabalhando com 120 pessoas de novo.
O maior sucesso talvez não seja nem esses números, porque essa iniciativa se
espalhou por todo o país e agora vários programas de pós-graduação tem cursos
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preparatórios para negros. Como por exemplo o do Instituto de Estudos Sociais e Políticos
(IESP/UERJ), por meio do Coletivo Negro Marielle Franco. Dessa forma, contribuem
para a formação acadêmica de muitas pessoas que buscam ingressar na pós-graduação.
E, além disso tudo, esses estudantes ainda realizam de forma bem-sucedida as suas
pesquisas. A antropóloga Maíra Samara de Lima Freire, que integra o mencionado
Comitê da ABA, foi a primeira doutora optante negra a se formar no PPGAS/UFRJ, em
2018.
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NOTA
[1] A foto da capa está disponível nesse link.