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Algumas coisas nas nossas vidas parecem que nunca fazem sentido por mais que insistamos

em entendê-las e as vezes até mesmo em nos colocar no lugar do outro na tentativa de viver tal
momento. O que eu vou lhe contar aqui, eu confesso que até o momento não faz sentido aos meus
bacentos e enlutados olhos.
Lentamente ao longos das minhas, até aquele momento, desconhecidas e convizinhas
existências, eu vivia em um complexo de inconsciência e egocentrismo, que eu mal imaginava que
estava prestes a se ruir por minhas próprias escolhas.
Tudo se começou naquela pequena e isolada aldeia, hoje perdida e esquecida pelo tempo.
Meus olhos brilhavam enquanto eu admirava a mixórdia dos preparativos para o grande ritual que
se iniciaria dentro de alguns dias. Era o rito de iniciação do futuro sucessor do sacerdote ancião da
aldeia. Eu estava muito empolgado, apesar de não ter nenhuma chance de assumir aquele título que
exigia conhecimento e experiência, características que até então eu estava longe de possuir.
Sonhava acordado até que ouvi alguém me chamar:
— Vahir, vamos se apresse para os preparativos. — Era meu irmão, que apesar de mais novo
tinha a palavra na maioria das situações. Ele possuía sensatez e inteligência muito a frente da sua
idade, algo que eu nunca consegui compreender e que me causava um sentimento que eu não sabia
identificar, mas que me corroía aos poucos despertando um desejo que eu não compartilhara com
ninguém até então. — Novamente sonhando de olhos abertos? Não vai acordar pra realidade?
Eu estava prestes a responder quando ouvimos um barulho ensurdecedor vindo do alto da
colina, onde ficava o centro da aldeia e onde também aconteciam todos os rituais e reuniões
coletivas. Antes que pudéssemos pensar muito veio aos nossos ouvidos também o som de passadas
apressadas vindas das ruelas em direção as saídas mais próximas que levavam ao meio da floresta.
Eu e o Joe — meu irmão — corremos então em direção oposta, a origem de toda aquela
balbúrdia. A locomoção estava dificultada pois por onde as pessoas passavam as pressas elas
deixavam destroços que impediam a passagem. Carruagens, barris, jarros e os mais diversos cacos
de objetos encontrávamos pelo caminho. Pelo percurso ficávamos cada vez mais preocupados ao
vermos pessoas caídas pelos cantos, o que não fazia nenhum sentido, pois minutos antes estavam
todos ansiosos se preparando para o grande ritual que se aproximava.
Ao chegarmos ao topo da colina nos deparamos com uma fumaça de cegar os olhos. Estava
difícil de ver o que ocorrera, quando comecei a perder a noção do espaço. Tudo começou a ficar
escuro e eu já não sentia mais o meu corpo nem conseguia me sustentar de pé.
Aquela cena se repetia na minha mente e eu não entendia do que se tratava, eu estava numa
cama em uma sala ampla e iluminada. Do meu lado estava uma mesa cheia de objetos espalhados
sobre a mesma, e de um lado da mesma havia uma jarra de água e algumas frutas frescas que
recendiam seu cheiro pelo ambiente.
Eu ainda estava confuso, mas com um sentimento de tranquilidade. Sentia que havia
esquecido alguma coisa, mas não me lembrava do que se tratava, somente pensava que pudesse ser
algo importante. Senti então um cheiro forte vindo da janela.
Eu estava fraco, deitado ainda sobre a cama fiz um esforço para me levantar e olhar através
da ampla janela que se encontrava do lado da minha cama. Só então reparei nela. Era diferente de
todas as outras que eu já havia visto. Parecia uma espécie de portal

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