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A6 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA SALVADOR DOMINGO 6/9/2015

Fotos Fernando Amorim / Ag. A TARDE

Três faces da avenida Sete de Setembro: o movimento na região do Mosteiro de São Bento, a beleza arborizada do Corredor da Vitória e o charme do Porto da Barra

PIONEIRISMO CENTENÁRIO
HISTÓRIA Com extensão que vai das imediações de São Bento ao Farol da Barra, avenida Sete de Setembro faz 100 anos

CLEIDIANA RAMOS direção à rua, foi demolido”, gues Alves, realizado de da avenida. De residencial, denominado Território Em- forma das praças da Piedade
completa Senna. 1902 a 1906, e ocupou o Mi- chegou à década de 1970 co- preendedor. A iniciativa tem a e Rio Branco e melhoria da
Pouca gente percebe ou sa- Mas o professor destaca nistério da Viação e Obras mo o principal endereço co- parceria da Câmara de Diri- iluminação também vêm
be, mas a avenida Sete de que a criação da avenida foi Públicas de 1910 a 1912, na mercial da cidade, faceta gentes Lojistas (CDL), Sebrae e sendo realizadas.
Setembro começa na base da necessária para ligar o cen- gestão de Hermes da Fon- que perdeu força quando Federação das Câmaras de Di- Já em outros trechos a ave-
ladeira onde fica o Mosteiro tro antigo ao bairro então seca. Foi quando viabilizou o os grandes shoppings se rigentes Lojistas (FCDL). nida nem parece a mesma,
de São Bento e vai até a la- efervescente da cidade: a Vi- porto da capital baiana. consolidaram. A ideia do projeto é ofe- pois de tão extensa ganhou
teral em frente ao Farol da tória. “Salvador possuía tra- Seabra governou a Bahia A avenida também se tor- recer capacitação em áreas outras identidades, como o
Barra que faz limite com a çados irregulares e ruas em dois períodos: de 1912 a nou o principal endereço do como empreendedorismo. ainda arborizado Corredor
rua Marques de Leão. Pio- muito estreitas. A única par- 1916 e de 1920 a 1924. Além da comércio ambulante de Sal- Segundo a Semop, no entor- da Vitória, denominação
neira no grupo das grandes te planejada foi o trecho er- avenida Sete, viabilizou ou- vador. Reorganizá-lo, por no da avenida Sete atuam mais conhecida do trecho,
avenidas da capital baiana, guido por Thomé de Souza, tras obras como os palácios exemplo, tem sido uma das aproximadamente mil ven- ou o charme da região do
ela festeja 100 anos. que vai da Praça Castro Alves Rio Branco e da Aclamação. O principais intervenções dedores ambulantes. Porto da Barra.
Inaugurada em 7 de se- até o Largo do Pelourinho”. nome da avenida foi escolhi- adotadas pela atual admi- Atualmente, eles estão Ter várias faces é privilé-
tembro de 1915, a via con- As grandes obras eram o do por conta do dia da inau- nistração municipal. concentrados em 13 áreas gio de uma avenida pioneira
tinua um bom espelho dos trunfo de Seabra. Deputado guração – 7 de setembro. Sob a responsabilidade da que são transversais da ave- que nos próximos cem anos
dilemas típicos de uma federal, rapidamente ga- Secretaria Municipal de Or- nida, como rua do Cabeça, 21 pode ainda ser conhecida
grande cidade brasileira co- nhou projeção na política Mudanças dem Pública (Semop), está de Abril, rua da Forca, dentre como um lugar especial no
mo Salvador: embate entre nacional. Foi ministro da O tempo e sua importância sendo realizado desde julho outras. imaginário da Salvador de
antigo e moderno; mobili- Justiça no governo de Rodri- mudaram as características do ano passado um projeto Intervenções como a re- tantas histórias.
dade e preservação de pa-
trimônio simbólico e co-
mércio formal em contra- 1 Cedoc/ A TARDE 2 Cedoc / A TARDE
ponto ao informal.
Cada uma dessas questões
é capaz de despertar debates Sanear, embelezar
acalorados, compreensíveis e circular
para uma via que surgiu em
meio a forte polêmica. Cons-
truída no governo de J. J. Elisângela Silva
Seabra (1855-1942), em lin- dos Santos
guagem de hoje, a obra
“causou”. Socióloga, mestra em ciências
sociais e doutoranda em
Projetada para inserir Sal- ciências sociais pela Ufba
vador na era da “moderni-
zação e higienização” ado- A primeira gestão de J. J. Sea-
tada no Rio e em São Paulo, bra, ocorrida entre 1912-1916,
a avenida surgiu alargando foi um período de acentuado
ruas e demolindo prédios desenvolvimento do espaço
antigos, como o da Igreja de urbano em Salvador. O go-
São Pedro, ou cortando ou- vernador tinha como um dos
tros. Um desses foi a sede do objetivos transformar rapi-
Senado, hoje espaço onde damente a imagem da capital
funciona um curso pré-ves- baiana, tornando-a mais mo-
tibular localizado em frente 3 Reprodução 4 Antônio Saturnino/ Ag. A TARDE/ 21.12.1996 derna e contribuindo para a
à Praça da Piedade. 1. Na década de 1980, atração de recursos e inves-
“A Sete de Setembro foi a a avenida Sete de timentos que favoreciam o
primeira grande avenida de Setembro consolidou-se estado.
Salvador. Surgiu arborizada como centro comercial e Dentre os conceitos di-
e com pista dupla, em dois abrigou grandes lojas fundidos no contexto nacio-
sentidos, iluminação cen- nal, e importantes para ba-
tral e calçada em pedra por- 2. Uma cena da aparência lizar a tessitura de uma ci-
tuguesa”, conta o arquiteto e da avenida nos anos 1960 dade com uma nova dinâ-
professor aposentado da Uf- mica, destacaram-se a “hi-
ba Francisco Senna. 3. Nas edições de 6/9/1915 giene, circulação e estética”.
e 7/9/1915 A TARDE fez Esse trinômio seria seguido
Polêmica críticas à obra de forma drástica, delinean-
A beleza e a ousadia do pro- do novos caminhos na con-
jeto escolhido por Seabra 4. O comércio no trecho figuração de Salvador na 1ª
não intimidaram as críticas. que vai das Mercês até o década do século XX.
A TARDE, na véspera da inau- Largo de São Bento A saúde pública passou a
guração, colocou como sub- tornou-se intenso ser uma justificativa para as
título de chamada em sua intervenções sobre o tecido
primeira página: “A Avenida 5. A nova Igreja de São urbano, os médicos propuse-
7 de Setembro custou-nos os Pedro, em registro dos ram-se a encontrar soluções
olhos da cara”. anos 1940, substituiu paraproblemascomosalubri-
O texto é ainda mais duro, a que foi demolida dade e qualidade de vida. Os
como mostra o seguinte tre- 5 Cedoc /A TARDE outros dois conceitos – circu-
cho: “A TARDE recusa a sua lação e estética – relaciona-
solidariedade à política de ram-se à busca de supressão
aventuras financeiras e pi- de deficiências vividas na Sal-
rotecnia de que resulta a fol- vador do Império, como ruas
gança oficial de amanhã estreitas, desalinhadas e mal
porque o que festeja é uma ventiladas, habitações insalu-
loucura de parte do Sr. Sea- bres e feias. O novo espaço
bra e da cupidez industrial urbano deveria proporcionar
de membros espertos de seu uma melhor circulação de
governo num tripúdio revol- pessoas e mercadorias, resul-
tante sobre os sofrimentos tando, inclusive, no alarga-
de fome da grande maioria mento de ruas e abertura de
dos bahianos”. avenidas. A avenida Sete de
A postura de A TARDE não Setembro foi um grande
era isolada, pois, para fazer exemplo, símbolo da nova ci-
a avenida, Seabra, pode-se dade em construção, fazendo
dizer, mexeu com fogo ca- a ligação entre a Praça Castro
paz de causar incêndios de Alves até o Farol da Barra.
grandes proporções. Para o Como ponto negativo,
financiamento, recorreu à dentreoutrasquestões,opro-
iniciativa privada, inclusive jeto renovador causou uma
do capital estrangeiro. demolidora transformação,
Além disso, apenas a mi- particularmente no centro,
litância calorosa do abade de onde a população mais po-
Majollo de Caigny impediu bre que ali habitava foi ex-
que o belo complexo de pré- pulsa para outras regiões
dios do Mosteiro de São Ben- mais afastadas. As interven-
to fosse posto abaixo para ções urbanas delimitaram di-
dar passagem às obras. ferenciadas formas de vida e
“Ainda assim um alpen- novos contornos foram tra-
dre do complexo do mos- çados, resultando em novas
teiro, que ficava recuado em formas de sociabilidade.

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