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APELAÇÃO CRIME Nº 9686033-7.

ÓRGÃO JULGADOR: 4ª CÂMARA CRIMINAL.


COMARCA: CIANORTE – VARA CRIMINAL.
APELANTE: XXX.
APELANTE: XXX.
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.
RELATOR: XXX.
REVISOR: XXX.
PARECER N.º

APELAÇÕES CRIME – ROUBO TRIPLAMENTE MAJORADO –


EMPREGO DE ARMA – CONCURSO DE AGENTES –
RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DAS VÍTIMAS – PLEITO DE
ABSOLVIÇÃO, PARA AMBOS OS RÉUS, POR
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS – IMPROCEDÊNCIA –
CONJUNTO PROBATÓRIO COESO NA IMPUTAÇÃO DAS
CONDUTAS – PLEITO DE ABSOLVIÇAO, POR PARTE DO
RÉU XXX, DO DELITO DE CORRUPÇÃO DE MENORES –
PROCEDÊNCIA – PROVA DOCUMENTAL DA MENORIDADE
INEXISTENTE – ARGUIÇÃO DE NULIDADE TÓPICA POR
FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO JUDICIAL – REFORMA DA
SENTENÇA NESTE PONTO.

COLENDA QUARTA CÂMARA CRIMINAL:

Trata-se de recursos de apelações crime interpostos por XXX e


XXX contra sentença do Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de
Cianorte, que os condenou, respectivamente, às sanções previstas nos
artigos 157, § 2º, inc. I, II e V, do Código Penal e artigos 243 e 244-B,

Paulo César Busato


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ambos da Lei nº 8.069/90 à pena de 09 (nove) anos e 06 (seis) meses de
reclusão, 02 (dois) anos de detenção, em regime inicial fechado, e ao
pagamento de 50 (cinquenta) dias-multa (Douglas), e às sanções previstas
nos artigos 157, § 2º, inc. I, II e V, do Código Penal e artigos 243 e 244-B,
ambos da Lei nº 8.069/90 à pena de 07 (sete) anos e 09 (nove) meses de
reclusão, 02 (dois) anos de detenção, em regime inicial fechado, e ao
pagamento de 40 (quarenta) dias-multa (Otávio), das quais requerem a
absolvição.

1. RELATÓRIO

O Ministério Público do Estado do Paraná, no uso de suas


atribuições legais, ofereceu denúncia em 30 de novembro de 2010 (fls.
115-116), em face de XXX e XXX, dando-os como incursos nas sanções do
artigo 157, §2º, inc. I, II e V, do Código Penal e artigos 243 e 244-B, ambos
da Lei nº 8.069/90.
Segundo a inicial, em data de 10 de outubro de 2010, por volta
das 18h00min, os denunciados adentraram na casa onde se encontravam
as vítimas para a comemoração de um aniversário, situada na zona rural
da comarca de origem, e mediante o concurso de agentes com outros dois
adolescentes, grave ameaça exercida pelo emprego ostensivo de arma de
fogo e violência física consistente em socos e pontapés desferidos contra
as vítimas XXX e XXX, renderam e obrigaram as vítimas a adentrar em um
dos cômodos da casa, restringindo assim a sua liberdade. Com a referida
conduta lograram subtrair dois automóveis, diversos utensílios domésticos,
jóias, e aparelho de telefonia móvel, totalizando R$ 61.769,00 (sessenta e
um mil e setecentos e sessenta e nove reais). Consta ainda que os

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denunciados ministraram bebidas alcoólicas às crianças presentes naquele
local, atentando contra a saúde destas. Narra ainda a exordial que,
praticando os referidos crimes mediante o auxílio dos adolescentes, os
réus facilitaram a sua corrupção (fls. 02-07).
A denúncia foi recebida em data de 28 de dezembro de 2010
(fls. 183-184), determinando-se a citação dos réus para apresentarem
respostas à acusação.
Os réus XXX e XXX foram citados no dia 05 de janeiro de 2011
(fl. 205-verso) e deixaram transcorrer in albis o prazo de defesa (fl. 206),
razão pela qual foi nomeado causídico para o cumprimento do ato (fl. 207).
O referido defensor trouxe aos autos a resposta à acusação, porém,
somente em favor do réu XXX, no dia 14 de fevereiro de 2011, negando a
prática dos delitos a ele imputados na denúncia, reservando-se o direito de
combater a tese acusatória durante a instrução criminal, e deixando de
apresentar rol de testemunhas (fls. 218-220).
A agente ministerial de primeira instância pleiteou a nomeação
de advogado diverso para a defesa do corréu Douglas (fl. 222) e no dia 18
de fevereiro de 2011, analisou os termos da defesa apresentada e sugeriu
o prosseguimento do feito (fls. 223-226).
Quanto ao réu XXX, o defensor dativo a ele nomeado (fl. 227)
apresentou resposta à acusação em 18 de março de 2011, pleiteando
tecer considerações durante a instrução criminal e deixando de arrolar
testemunhas (fl. 230).
Entendendo o magistrado não ser caso de absolvição sumária,
designou audiência de instrução e julgamento para o dia 23 de maio de
2011 (fl. 239), ocasião em que foram ouvidas 02 (duas) vítimas, 02 (duas)
testemunhas de acusação e 01 (um) informante (fls. 238-242) e, diante da

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ausência de 02 (duas) testemunhas acusatórias, o juiz determinou a
manifestação do Ministério Público (fl. 237). Diante da insistência da
acusação pela inquirição das testemunhas faltantes (fl. 245), e da posterior
desistência de oitiva de uma delas (fl. 256-verso), foi inquirida a
testemunha de acusação faltante por carta precatória em 01 de setembro
de 2011 (fl. 292), e foram os réus interrogados no dia 07 de novembro de
2011 (fls. 301-302).
O Ministério Público apresentou alegações finais em data de 23
de novembro de 2011 e sugeriu a condenação dos apelantes pela prática
dos delitos descritos nos artigos 157, inc. I, II e V, do Código Penal, e
artigos 243 e 244-B, ambos da lei nº 8.069/90, nos termos da denúncia,
em razão do contundente conjunto probante constante nos autos.
Descreveu ainda os aspectos relevantes quanto à dosimetria das penas e
sugeriu o regime fechado para o início de seus cumprimentos (fls. 305-
331).
A defesa do acusado XXX apresentou memoriais no dia 28 de
novembro de 2011, asseverando a necessidade de sua absolvição, em
razão da negativa de autoria e da presença de provas insuficientes a
embasar a sua condenação, com a aplicação do princípio ‘in dubio pro reo’
; e pugnando pelo arbitramento de honorários advocatícios em favor do
patrono (fls. 333-335).
A defesa do réu XXX reiterou pedido de cumprimento de
diligência tempestivamente requerida em audiência de instrução e
julgamento consistente na juntada de comprovantes de antecedentes
infracionais dos adolescentes envolvidos nos fatos (fl. 337), o que foi
deferido pelo juiz singular (fl. 351), e devidamente atendido às fls. 154-
156.

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O defensor do réu XXX trouxe os memoriais finais em 30 de
abril de 2012, afirmando ser insuficiente a prova da autoria do crime de
roubo imputado ao réu, a qual se resume no seu equivocado
reconhecimento pelas vítimas, pois somente foi preso por estar na posse
do aparelho celular objeto da subtração; quanto ao crime de corrupção de
menores, pleiteou a sua absolvição em razão da ausência de provas acerca
da menoridade dos ditos adolescentes envolvidos na prática delituosa;
pleiteou a fixação de honorários advocatícios ao seu patrono (fls. 362-368).
O magistrado singular, em 22 de junho de 2012, julgou
procedente a denúncia e, acatando o contido no parecer do Ministério
Público de primeira instância, condenou ambos os réus pela prática dos
crimes de roubo triplamente majorado pelo emprego de arma, concurso de
agentes e restrição de liberdade das vítimas, inserto no art. 157, § 2º, inc.
I, II e V, do Código Penal; de fornecimento de produto com componente
capaz de causar dependência física ou psíquica a crianças, disposto no art.
243, da Lei nº 8.069/90; e de corrupção de menores, inserto no art. 244-B,
da Lei nº 8.069/90. Quanto ao réu XXX, pelo crime de roubo, fixou a pena-
base acima do mínimo legal, em razão da desvaloração das circunstâncias
judiciais dos antecedentes, personalidade e consequências do crime; não
incidira circunstâncias agravantes ou atenuantes na segunda fase da
dosimetria da pena; diante da constatação de três causas majorantes
(emprego de arma, concurso de pessoas e restrição da liberdade das
vítimas), aumentou a pena em 1/2 (metade), restando a pena equivalente
a 07 (sete) anos e 06 (seis) meses de reclusão e pagamento de 30 (trinta)
dias-multa. Pelo delito de fornecimento de produto composto por
substância capaz de causar dependência a crianças, fixou a pena-base
acima do mínimo legal, em razão da desvaloração das circunstâncias

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judiciais dos antecedentes, personalidade e consequências do crime; não
incidira circunstâncias agravantes ou atenuantes na segunda fase da
dosimetria da pena; entendeu não existirem causas especiais de aumento
ou diminuição de pena, resultando em sanção de 02 (dois) anos e 06 (seis)
meses de detenção e pagamento de 20 (vinte) dias-multa. Pela
consumação do crime de corrupção de menores, fixou a pena-base acima
do mínimo legal, em razão da desvaloração das circunstâncias judiciais dos
antecedentes, personalidade e comportamento da vítima; não incidira
circunstâncias agravantes ou atenuantes na segunda fase da dosimetria
da pena; tampouco há causas especiais de diminuição ou aumento,
restando totalizada em 02 (dois) anos de reclusão. Ao reconhecer a prática
do delito em concurso material de crimes (art. 69, do Código Penal), somou
as penas, totalizando 09 (nove) anos e 06 (seis) meses de reclusão,
02 (dois) anos e 06 (seis) meses de detenção e pagamento de 50
(cinquenta) dias-multa, em valor unitário de 1/30 (um trigésimo)
do salário mínimo vigente à época dos fatos. Ao réu XXX, pelo crime
de roubo, fixou a pena-base acima do mínimo legal, em razão da
desvaloração das circunstâncias judiciais da personalidade e das
consequências do crime; na segunda fase do cálculo dosimétrico
reconheceu a incidência da circunstância atenuante da menoridade,
reduzindo a pena; diante da constatação de três causas majorantes
(emprego de arma, concurso de pessoas e restrição da liberdade das
vítimas), aumentou a pena em 1/2 (metade), restando a pena equivalente
a 06 (seis) anos e 09 (nove) meses de reclusão e pagamento de 20 (vinte)
dias-multa. Pelo delito de fornecimento de produto composto por
substância capaz de causar dependência a crianças, fixou a pena-base no
mínimo legal, apesar da desvaloração das circunstâncias judiciais da

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personalidade e das consequências do crime; na segunda fase do cálculo
dosimétrico, equivocadamente, não reconheceu a incidência de qualquer
circunstância agravante ou atenuante; entendeu não existirem causas
especiais de aumento ou diminuição de pena, resultando em sanção de 02
(dois) anos de detenção e pagamento de 20 (vinte) dias-multa. Pela
consumação do crime de corrupção de menores, fixou a pena-base no
mínimo legal, apesar da desvaloração das circunstâncias judiciais da
personalidade e comportamento da vítima; não incidira circunstâncias
agravantes ou atenuantes na segunda fase da dosimetria da pena;
tampouco há causas especiais de diminuição ou aumento, restando
totalizada em 01 (um) ano de reclusão. Ao reconhecer a prática do delito
em concurso material de crimes (art. 69, do Código Penal), somou as
penas, totalizando 07 (sete) anos e 09 (nove) meses de reclusão, 02
(dois) anos de detenção e pagamento de 40 (quarenta) dias-multa,
em valor unitário de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo
vigente à época dos fatos. Por fim, determinou o regime fechado para o
início do cumprimento das sanções impostas e fixou os honorários
advocatícios dos patronos dos acusados em R$ 1.000,00 (um mil reais)
para cada um (fls. 374-396).
O Ministério Público foi intimado da sentença no dia 25 de
junho de 2012 (fl. 397-verso) e interpôs recurso de embargos de
declaração no dia 28 de junho de 2012 (fls. 398-399), intentando o
saneamento de contradição referente à dosimetria da pena do réu XXX,
notadamente com o acréscimo na terceira fase do cálculo da pena
referente ao crime de roubo e no quantum da sanção final do crime de
corrupção de menores.
O magistrado acolheu os embargos interpostos pela acusação

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em 04 de julho de 2012, e fixou a pena total do réu XXX, quanto ao delito
de roubo triplamente majorado, em 11 (onze) anos de reclusão e
pagamento de 30 (trinta) dias-multa, bem como fixou a pena do delito
de corrupção de menores em 02 (dois) anos de reclusão (fls. 400-401).
A representante do Ministério Público foi intimada da referida
decisão em data de 09 de julho de 2012 (fl. 402-verso).
Os réus XXX e XXX e seus respectivos procuradores foram
intimados do teor da sentença no dia 13 de julho de 2012, ocasião em que
ambos os acusados interpuseram recursos de apelação (fls. 421-423).
O patrono do acusado XXX interpôs recurso de embargos de
declaração em 11 de julho de 2012 (fl. 404), buscando a majoração dos
honorários advocatícios arbitrados para o montante de R$ 1.800,00 (um
mil e oitocentos reais), juntando cópia da tabela de honorário da Ordem
dos Advogados do Brasil (fls. 405-420).
O recurso foi parcialmente acolhido, passando a verba
honorária pertencente aos causídicos ao montante individual de R$
1.500,00 (um mil e quinhentos reais) (fl. 427).
A defesa do réu XXX apresentou razões recursais no dia 06 de
agosto de 2012, reiterado a tese trazida em alegações finais consistente
na negativa de autoria e ausência de provas suficientes a embasar a sua
condenação, com a aplicação do princípio ‘in dubio pro reo’; e pugnou pela
fixação da verba honorária a si cabível em montante equivalente a R$
3.000,00 (três mil reais), em razão da interposição do recurso, juntando
novamente a cópia da tabela de honorários da OAB (fls. 430-450).
A defensora do acusado XXX trouxe aos autos suas razões de
irresignação no dia 16 de agosto de 2012, requerendo a absolvição do réu
diante da falta de provas do seu envolvimento com as condutas delitivas

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narradas nos autos, ressaltando a negativa de autoria apresentada pelo
réu em ambas as fases processuais, supostas falhas no procedimento de
reconhecimento pelas vítimas e a presunção de prática do crime de roubo
somente existir em razão de ter sido preso portando parte da res furtiva;
destacou a necessidade de aplicação do princípio ‘in dubio pro reo’; sem
indicar fundamentos específicos, sugeriu a minoração da pena imposta
pelo crime de roubo; requereu a absolvição do crime de corrupção de
menores, visto que não há provas acerca da menoridade dos supostos
envolvidos nos crimes; e requereu a concessão do direito de apelar em
liberdade, mediante a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão,
como antecipação da tutela com fundamento no art. 273, do Código de
Processo Civil (fls. 452-466).
O Ministério Público, no dia 22 de agosto de 2012, trouxe aos
autos as suas contrarrazões de recursos, reiterando a necessidade de
manutenção das condenações extraída da prova produzida nos autos;
analisou pormenorizadamente a prova testemunhal produzida, afirmando
estarem presentes a comprovação tanto de autoria quanto de
materialidade delitiva, notadamente fundamentadas na validade das
palavras das vítimas e no reconhecimento fotográfico realizado; detalhou a
dosimetria individualizada de cada delito e as condutas de cada um dos
réus, pleiteando a manutenção das penas contidas na decisão prolatada;
indicou a presença e a comprovação de cada uma das causas especiais de
aumento do crime de roubo, das circunstâncias atenuantes dos injustos
contidos na legislação especial de proteção à criança e ao adolescente;
quanto à pretensão de liberdade do réu XXX, manifestou-se
contrariamente ao pleito, visto que o réu não atende aos requisitos legais
e o regime inicial imposto para o cumprimento das penas é o fechado,

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sugerindo o desprovimento dos recursos (fls. 468-487).
Foram os autos distribuídos nesta C. Corte em 03 de outubro
de 2012 (fls. 438-439), e remetidos ao setor de degravação por decisão do
Relator (fl. 440).
Com o atendimento da referida providência (fls. 442-481),
foram concedidas vistas destes autos à Procuradoria de Justiça (fl. 483),
vindo à presente apreciação em 21 de novembro de 2012 (fl. 485).

2. DOS FUNDAMENTOS PARA A ADMISSIBILIDADE DA APELAÇÃO.

Trata-se de Apelação criminal fundada na hipótese do artigo


593, inciso I, do CPP, no qual se requer a desconstituição da sentença
julgada pela MM. Juíza da Vara Criminal da Comarca de Cianorte.
O recurso preenche os requisitos de admissibilidade, sejam de
ordem objetiva - cabimento, adequação, tempestividade, regularidade,
inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer –,
sejam de ordem subjetiva - interesse e legitimidade, portanto
comportando conhecimento.

3. DO MÉRITO DO RECURSO DO RÉU XXX.

A defesa do réu XXX requer a absolvição do indiciado por


insuficiência de provas que ensejem a condenação, além da fixação da
verba honorária em R$ 3000,00 (três mil reais). A nosso sentir, os pedidos
devem ser desprovidos.
Primeiramente, a defesa requer a majoração dos honorários
advocatícios que foram fixados em primeiro grau em R$ 1.500,00 reais,

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alegando que auferiu o quantum apenas para atuar em primeiro grau, e
com o interesse em recorrer manifestado pelo réu, o dispêndio do trabalho
fomenta a necessidade de maior remuneração.
Sobre o tema, penso inoportuna qualquer manifestação de
parte do Ministério Público, uma vez que figura constitucionalmente ao
lado da defensoria pública como “Órgãos essenciais ao funcionamento da
Justiça”.
A verdade é que, em obediência à voz constitucional já deveria
ter sido implantada a Defensoria Pública no Estado do Paraná há muito
tempo, inexistindo razão de ordem lógica, jurídica ou política para que a
carreira ainda não tenha sido organizada. A defesa do interesse
constitucional de que isso ocorra conflita, por certo, com o interesse em
que se siga utilizando dinheiro público para o pagamento de honorários
por defesas realizadas sob nomeação dos juízes.
Por outro lado, se alguém atua pro bono, nomeado para defesa
gratuita, não tem sentido a fixação de honorários, por muito que isto
represente a necessidade do pagamento por um serviço. A atuação em
prol dos desvalidos – inclusive no que se refere à assistência jurídica – é
uma atitude moralmente louvável e demonstração de ampla civilidade.
Outrossim, a correspondência a pagamento de honorários, em
casos quejandos, corresponde a uma violação destes mesmos princípios,
sem contar a abertura de uma possibilidade de favorecimento de
profissionais para a prestação de assistência jurídica pública permanente,
sem concurso.
Evidentemente, não se está referindo de modo específico a
este caso, mas sim à abertura de uma senda que há que ser interrompida
em seu nascedouro.

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A nosso sentir, portanto, sequer poderia ter havido a fixação
dos honorários, quanto menos, discutir sua quantificação.
Ademais, o dever de arcar com os honorários advocatícios é do
Estado do Paraná, que poderá eventualmente figurar como parte em ação
civil ajuizada a critério do nobre advogado.
Assim, o pedido não merece sequer manifestação, devendo o
recurso ser integralmente desprovido.
Sobre o pedido de absolvição, fundamentada no princípio in
dubio pro reo, já que não há suficiência de provas que possam sustentar a
condenação, esta, também, não deve vigorar.
O conjunto probatório é sólido e suficiente para comprovar a
participação do réu na ação delituosa.
A materialidade dos fatos foi comprovada através do Auto de
Prisão em Flagrante (fls. 64-65), Auto de Exibição e Apreensão (fls. 12),
Boletim de Ocorrência (fls. 11 e 37-38), Laudo de Exame de Lesão Corporal
(fls. 32-33) e Auto de Entrega (fls. 14, 75, 76 e 151). Já a autoria dos fatos
é fundada através dos reconhecimentos faciais feitos pelas vítimas (fls. 49-
54) e pelos depoimentos dos sujeitos passivos, que são uníssonos em
imputar o réu XXX nas práticas a ele ensejadas.
O depoimento da vítima XXX é basilar em sustentar a autoria
dos fatos ao réu XXX (fl. 239):

“(...) chegou os quatro rapazes, dois já correram para o lado da


caminhoneta e já saíram, e dois ficaram atemorizando as pessoas
que ali estavam, (...), ficaram atemorizando com uma arma,
colocando na boca das pessoas, engatilhando o revólver, em
seguida colocaram a gente em um quarto, amarraram todas as
pessoas. (...) Quando o XXX chegou, após uma hora e meia, já
foram batendo nele, ele apanhou muito, (...) fizeram que os dois

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meninos tomassem bebida alcoólica e que ficassem nus no meio do
povo, enquanto um ficava cuidando da gente com o revólver a todo o
instante, ameaçando matar, o outro ia recolhendo as coisas dentro
de casa, computador, DVD, televisão, algumas jóias da minha
esposa, relógio. (...) Na delegacia, reconheci com certeza absoluta
os dois rapazes mais velhos. No assalto, um estava de cara limpa, o
XXX. O outro estava encapuzado, mas deu para reconhecer sem
sombra de dúvidas. Me bateram, quebraram o meu nariz, o XXX
pegava o bolo de aniversário, passava no rosto do Sr. X, engatilhava
o revólver e colocava na boca dele, mandando comer o bolo de
aniversário”.

O depoimento das vítimas é extremamente relevante como


prova, sendo que nosso tribunal já se manifestou, reiteradamente, sobre a
primazia da prova testemunhal nos processos:

APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBOS MAJORADOS. PEDIDO DE


ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVAS.IMPOSSIBILIDADE.
AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS.RECONHECIMENTO
PELA VÍTIMA E DEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS. - TERCEIRO
FATO. RECONHECIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DE MENOR
IMPORTÂNCIA. INOCORRÊNCIA.COAUTORIA DEMONSTRADA. -
DOSIMETRIA DOS DOIS DELITOS.ADEQUAÇÃO DE OFÍCIO. PENA-
BASE.EXCLUSÃO DA PERSONALIDADE PARA AMBOS OS
DELITOS E DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME PARA O TERCEIRO
DELITO. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS.POSSIBILIDADE. SÃO DEVIDOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS EM SEDE DE APELAÇÃO. APELO CONHECIDO E
DESPROVIDO, COM ALTERAÇÃO DE OFÍCIO DA DOSIMETRIA DA
PENA.- O depoimento seguro da vítima que reconhece o acusado
como autor do crime contra o patrimônio, somado às demais provas
dos autos, é suficiente para a condenação.- A participação de menor
importância (artigo 29, parágrafo 1º, do Código Penal), é aquela
secundária, dispensável, que inexistindo não impediria a realização do
crime, o que não aconteceu no caso.- A prática do crime pelo qual o
agente é julgado no autoriza a constatação de que sua personalidade é
voltada ao delito para o fim de majorar a pena base.

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(TJPR - 5ª C.Criminal - AC 899339-5 - Foro Regional de Colombo da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Rafael V. de V.
Pedroso - Unânime - J. 29.11.2012)

APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO. PEDIDO DE


ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.RECONHECIMENTO DE PESSOA
POR FOTOGRAFIA. ATO QUE NÃO OBSERVA O PROCEDIMENTO
LEGAL. VALOR PROBATÓRIO A SER SOPESADO COM AS DEMAIS
PROVAS. AUTORIA E MATERIALIDADE DEVIDAMENTE
DEMONSTRADAS. PALAVRA DAS VÍTIMAS E DAS TESTEMUNHAS
UNÍSSONAS. PROVAS SUFICIENTES A ENSEJAR O DECRETO
CONDENATÓRIO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.
(TJPR - 5ª C.Criminal - AC 832946-4 - Manoel Ribas - Rel.: Rafael V.
de V. Pedroso - Unânime - J. 29.11.2012)

Diante do exposto, é incabível a alegação de insuficiência de


provas e a consequente absolvição observando o princípio in dubio pro reo.

5. DO MÉRITO DO RECURSO DO RÉU XXX.

O pleito se dirige a diferentes pretensões, comportando análise


em separado.

5.1. DO PLEITO ABSOLUTÓRIO.

A defensora requer a absolvição do réu XXX através do


reconhecimento do princípio in dubio pro reo, já que as provas arroladas
no processo seriam insuficientes para ensejar um pleito condenatório.
Incabível tal tese.
A fundamentação para o não acolhimento do pleito absolutório

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é a mesma utilizada ao réu XXX, pois a materialidade dos fatos foi
comprovada através do Auto de Prisão em Flagrante (fls. 140-141), Auto
de Exibição e Apreensão (fl. 70), Boletim de Ocorrência (fls. 11 e 37-38),
Laudo de Exame de Lesão Corporal (fls. 32-33) e Auto de Entrega (fls. 14,
75, 76 e 151). Já a autoria dos fatos é fundada através dos
reconhecimentos faciais feitos pelas vítimas (fls. 124-125) e pelos
depoimentos dos sujeitos passivos, que são uníssonos em imputar o réu
XXX nas práticas a ele ensejadas.
Segundo fls. 128-129, a vítima XXX reconheceu o réu XXX
como um dos participantes do assalto, e imputou-lhe as agressões
praticadas ao seu marido e XXX.
A jurisprudência reconhece como de extrema valia o
depoimento das testemunhas para imputação dos delitos de roubo:

APELAÇÃO CRIME - ROUBO MAJORADO PELO CONCURSO DE


AGENTES - CONDENAÇÃO - ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE
DEFESA - NÃO CONFIGURADO - PLEITO DE ABSOLVIÇÃO -
NEGATIVA DE AUTORIA - TESE NÃO ACATADA - ALEGAÇÃO DE
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS A JUSTIFICAR O DECRETO
CONDENATÓRIO - IMPROCEDÊNCIA - AUTORIA E
MATERIALIDADE DEVIDAMENTE COMPROVADAS -
DECLARAÇÕES DA VÍTIMA EM HARMONIA COM AS DEMAIS
PROVAS PRODUZIDAS - RECONHECIMENTO DO RÉU POR PARTE
DA VÍTIMA - VALIDADE - AUSÊNCIA DE CONFRONTAÇÃO DO RÉU
COM PESSOAS SEMELHANTES, CONFORME PREVÊ O ART. 226,
II, DO CPP ATO RECOMENDADO, MAS NÃO ESSENCIAL
RECONHECIMENTO RATIFICADO EM JUÍZO E CONVERGENTE
COM OS DEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS - NEGATIVA DE
AUTORIA ISOLADA - CONJUNTO PROBATÓRIO APTO A
JUSTIFICAR A CONDENAÇÃO - PRETENSÃO DE AFASTAMENTO
DA MAJORANTE RELATIVA AO CONCURSO DE PESSOAS -
DEPOIMENTO DA VÍTIMA QUE CONFIRMA A EXISTÊNCIA DE MAIS
DE UM AGENTE NA REALIZAÇÃO DA EMPREITADA CRIMINOSA -

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PLEITO DE ISENÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS - MATÉRIA
AFETA AO JUÍZO DA EXECUÇÃO - NÃO CONHECIMENTO DO
RECURSO NESTA PARTE - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO, E NA PARTE CONHECIDA,
DESPROVIDO-
(TJPR - 3ª C.Criminal - AC 940450-0 - Palmas - Rel.: Clayton Camargo
- Unânime - J. 29.11.2012)

Diante do exposto, é incabível a alegação de insuficiência de


provas e a consequente absolvição observando o princípio in dubio pro reo.

5.2. DA PRETENSÃO DE AFASTAMENTO DA CONDENAÇÃO POR


CORRUPÇÃO DE MENORES.

A defensora do réu ainda clama pela absolvição do acusado


pelo delito de corrupção de menores, pois alega que não há nenhuma
prova documental acostada no processo que permita avaliar a idade dos
co-autores.
Há acórdãos da jurisprudência que revelam a
imprescindibilidade da prova documental para aferição do crime de
corrupção de menores:

Apelação Criminal. Condenação. Furto qualificado (artigo 155, § 4º,


inciso IV, do Código Penal) e corrupção de menores (artigo 244-B, Lei
nº 8.069/90). Recurso. Juízo de prelibação positivo. Apelo conhecido.
Mérito. Crime de furto. Provas de materialidade suficientes e indícios de
autoria que se comprovaram durante a instrução. Conjunto probatório
que aponta, sem sombra de dúvidas, para a pessoa da ré. Palavra da
vítima e policiais militares. Condenação mantida. Crime de corrupção
de menores. Absolvição de ofício, ante a ausência de comprovação de
menoridade da agente supostamente corrompida. Artigo 386, inciso VII,
do CPC. Dosimetria da pena escorreita. Sentença alterada em parte.

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 16
Recurso conhecido ao qual se nega provimento com absolvição de
ofício. 1. A palavra da vítima, por si, é elemento robusto de prova.
Quando aliada aos demais meios probatórios produzidos nos autos, é
mais que suficiente para arrimar o édito condenatório. 2. O mesmo
pode-se dizer a respeito dos depoimentos de policiais que participaram
da prisão da ré. 3. Se fundada dúvida acerca das provas colhidas para
a outra imputação, mister que aquela opere em favor do réu. Impossível
a condenação se o juízo valorativo da certeza não se faça presente. 4.
No caso específico de crime de corrupção de menores, se ausente a
certidão de nascimento e quaisquer outros documentos que possam
atestar a menoridade do agente corrompido, não se mostra plausível a
condenação.
(TJPR - 5ª C.Criminal - AC 724810-2 - Foro Central da Comarca da
Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Rogério Etzel - Unânime - J.
07.07.2011)

ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO CONCURSO DE AGENTES.


NEGATIVA DE AUTORIA ALEGADA POR UM DOS RÉUS.
DEPOIMENTOS DAS VÍTIMAS HARMÔNICOS ENTRE SI.
COERÊNCIA COM AS DECLARAÇÕES PRESTADAS PERANTE A
AUTORIDADE POLICIAL. AUTORIA COMPROVADA.
CIRCUNSTÂNCIA DE ESPECIAL AUMENTO DE PENA DO
CONCURSO DE AGENTES CONFIGURADA. CORRUPÇÃO DE
MENORES. MENORIDADE DA VÍTIMA NÃO DEMONSTRADA POR
MEIO DE PROVA DOCUMENTAL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 155,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO.155PARÁGRAFO ÚNICOCÓDIGO DE PROCESSO PENAL
(68336 SC 2011.006833-6, Relator: Jorge Schaefer Martins, Data de
Julgamento: 10/06/2011, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação:
Apelação Criminal (Réu Preso) n. , de Concórdia)

Portanto, neste particular, não tendo a acusação formulado a


prova necessária da menoridade das vítimas do crime de corrupção, não é
possível o seu reconhecimento
Diante do exposto, pugna-se pelo provimento do recurso do

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 17
réu XXX tão somente quanto a exclusão da condenação por corrupção de
menores.

6. DA REVISÃO DAS DOSIMETRIAS DAS PENAS EX OFFICIO PARA OS


RÉUS XXX E XXX.

A sentença proferida tanto ao réu XXX, quanto ao réu XXX,


está eivada de erros, sendo impreterível a sua reforma, tanto na primeira
fase do método trifásico, quanto na terceira fase da fixação da pena, para
os três crimes cominados aos indiciados.
Sobre os delitos de roubo, fornecimento de substância que
causa dependência à menor, e corrupção de menores, para o réu
XXX, a juíza se posicionou, respectivamente, das seguintes maneiras,
durante a análise das circunstâncias judiciais:

“A culpabilidade do réu restou demonstrada uma vez que agiu com


reprovabilidade, por ter conhecimento do ilícito praticado. O acusado
registra antecedentes criminais (fls. 173/174 – 193/204), sendo
reincidente. A personalidade do acusado é comprometida, voltada para
crimes contra o patrimônio, apresenta comportamento incompatível com o
convívio social. Quanto à conduta social não há nos autos nada para
auferi-la. Os motivos para o crime são os normais à espécie, visando
sempre o lucro fácil. As circunstâncias do delito em nada auxiliam ou
prejudicam o réu. As consequências do crime foram graves, uma vez que
fazendo o uso de arma de fogo, trouxe horror às vitimas ao submetê-las a
situação vexatória, atitudes que trouxeram danos psicológicos relatados
nos autos, além do fato de que não foram recuperados os bens roubados,
restando em prejuízo de grande monta a um dos ofendidos” (fl. 388, grifo
nosso).

“A culpabilidade do réu restou demonstrada uma vez que agiu com

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 18
reprovabilidade, por ter conhecimento do ilícito praticado. O acusado
registra antecedentes criminais (fls. 173/174 – 193/204), sendo
reincidente. A personalidade do acusado é comprometida, voltada para
crimes contra o patrimônio, apresenta comportamento incompatível com o
convívio social. Quanto à conduta social não há nos autos nada para
auferi-la. Os motivos para o crime foram banais, mero deleite em prejuízo
da saúde dos outros. As circunstâncias do delito em nada auxiliam ou
prejudicam o réu. As consequências do crime foram graves, uma vez que
mediante ameaça obrigaram os menores a ingerir bebida alcoólica,
deixando-os completamente embriagados a ponto de não gerir seus
próprios atos” (fl. 389, grifo nosso).

“A culpabilidade do réu restou demonstrada uma vez que agiu com


reprovabilidade, por ter conhecimento do ilícito, incorrendo em crime na
companhia de menores de idade. O acusado registra antecedentes
criminais. A personalidade do acusado é voltada a delitos contra
patrimônio (fls. 173/174 – 193/204). Quanto à conduta social não há nos
autos nada para auferi-la. Os motivos para o crime foram normais à
espécie, valer-se do concurso com menor para garantia do intento
criminoso. As circunstâncias do delito foram normais à espécie. As
consequências do crime, foi o ativo subsídio para a corrupção de
adolescente em formação. O comportamento da vítima influiu para o feito
criminoso, pois se não houve a convenção entre eles, estes ao menos
assentiram para o delito” (fl. 390, grifo nosso).

A mesma falta de técnica na análise das circunstâncias


judiciais dos crimes de roubo, fornecimento de substância que causa
dependência à menor, e corrupção de menores, para o réu XXX, foi
constatada nos mesmos pontos, como bem se observa nos seguintes
trechos, respectivamente:

“A culpabilidade do réu restou demonstrada uma vez que agiu com


reprovabilidade, por ter conhecimento do ilícito praticado. O acusado tem
passagens por roubo pela justiça. A personalidade do acusado é
comprometida. Quanto a conduta social não há nos autos nada para

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 19
auferi-la. Os motivos para o crime são os normais à espécie, visando
sempre o lucro fácil. As circunstâncias do delito em nada auxiliam ou
prejudicam o réu. As consequências do crime foram graves, uma vez que
fazendo o uso de arma de fogo, trouxe horror às vitimas ao submetê-las a
situação vexatória, atitudes que trouxeram danos psicológicos relatados
nos autos, além do fato de que não foram recuperados os bens roubados,
restando em prejuízo de grande monta a um dos ofendidos” (fl. 392, grifo
nosso)

“A culpabilidade do réu restou demonstrada uma vez que agiu com


reprovabilidade, por ter conhecimento do ilícito praticado. O acusado não
registra antecedentes. A personalidade do acusado é comprometida,
suscetível ao cometimento de delitos. Quanto à conduta social não há nos
autos nada consistente para apreciá-la. Os motivos para o crime foram
banais, mero deleite em prejuízo da saúde dos outros. As circunstâncias
do delito em nada auxiliam ou prejudicam o réu. As consequências do
crime foram graves, uma vez que mediante ameaça obrigaram os
menores a ingerir bebida alcoólica, deixando-os completamente
embriagados a ponto de não gerir seus próprios atos” (fl.392-393, grifo
nosso)

“A culpabilidade do réu restou demonstrada uma vez que agiu com


reprovabilidade, por ter conhecimento do ilícito, incorrendo em crime na
companhia de menores de idade. O acusado não registra antecedentes
criminais. A personalidade do acusado é suscetível ao cometimento de
delitos. Não registra antecedentes. Quanto à conduta social não há nos
autos nada para auferi-la. Os motivos para o crime foram normais à
espécie, valer-se do concurso com menor para garantia do intento
criminoso. As circunstâncias do delito foram normais à espécie. As
consequências do crime, foi o ativo subsídio para a corrupção de
adolescente em formação. O comportamento da vítima influiu para o feito
criminoso, pois se não houve a convenção entre eles, estes ao menos
assentiram para o delito”. (fls. 393-394, grifo nosso).

Como se percebe nos trechos destacados, a magistrada


valorou negativamente, ou erroneamente, ou sem a devida

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 20
fundamentação, para ambos os réus, duas circunstâncias judiciais, no caso
a culpabilidade e a personalidade, ensejando na necessária revisão das
circunstâncias judiciais e a consequente reforma da pena-base em um
patamar inferior ao que foi imputado anteriormente aos réus.
Primeiramente, a culpabilidade, termo polissêmico na
dogmática penal, pode assumir quatro funções distintas: elemento do
crime, princípio penal, limite ao ius puniendi e circunstância judicial.

A expressão culpabilidade é empregada pela doutrina


penal em vários sentidos. Primeiramente, se identifica a
culpabilidade como uma categoria dogmática que, para
a maioria, faz parte do próprio conceito de delito
enquanto que para alguns constitui o pressuposto de
aplicação da pena. Neste sentido, trata-se de um
conceito meramente dogmático cujos elementos
constituem a capacidade de culpabilidade,
conhecimento da antijuridicidade e exigibilidade de
conduta diversa. Num segundo sentido, a culpabilidade
também costuma ser compreendida como um elemento
de graduação da pena, onde se estabelece, sob o
princípio da proporcionalidade, uma relação entre culpa
e castigo. Também, como conceito político criminal e
limite do “ius puniendi”, que inclui ou pressupõe, por
sua vez, os princípios de responsabilidade pessoal ou
responsabilidade subjetiva, de responsabilidade pelo
fato, da presunção de inocência e da individualização da
pena. Finalmente, por culpabilidade se pode entender a
fixação da necessária comprovação da presença de dolo
ou culpa para a admissão da responsabilidade penal, em
oposição à responsabilidade objetiva1.

Como observado, o conceito de culpabilidade pode influir em


diversos aspectos no Direito Penal, podendo levar o intérprete à confusão.
1
BUSATO, Paulo César. Fundamentos do direito penal brasileiro. 3.ed. Curitiba: Paulo César Busato,
2012, p. 260.

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 21
No caso, durante a análise das circunstâncias judiciais, a juíza empregou o
conceito de culpabilidade como elemento do crime, já que a valoração
negativa dessa espécie deu-se porque os réus possuíam conhecimento da
ilicitude do fato, não como uma circunstância judicial, valorando
equivocadamente esse pressuposto.
A culpabilidade a ser examinada pelo magistrado no art. 59 é a
que se refere à individualização da pena, pois se detém sobre a
reprovabilidade da conduta delituosa do agente. Adotando essa posição,
os ensinamentos de Paganella Boschi são elucidativos:

Figurando em primeiro lugar no corpo do art. 59, a


culpabilidade, com o sentido de reprovação ou censura,
não é outra, e sim, a mesma culpabilidade que
fundamenta o juízo de condenação. Dizendo em outras
palavras, em toda a declaração sentencial de
procedência da denúncia ou queixa há necessariamente
uma declaração afirmativa de culpabilidade, que, nos
termos do art. 59, precisará ser graduada, em ato
contínuo, para poder projetar o quantum de pena
correspondente a essa graduação, como é inerente a
todo o juízo de censura ou de reprovação2.

Feita a devida exposição do conceito, percebe-se que não


houve a necessária graduação da culpabilidade do réu na conduta, pois
esta foi analisada como elemento do crime, que dispensa uma valoração
escalonada da culpabilidade. Essa situação por si só requer a revisão da
primeira etapa do método trifásico na sentença, pois pode ensejar numa
redução da pena-base, além de ferir o princípio penal da individualização
das penas.
2
BOSCHI, José Antonio Paganella. Das penas e seus critérios de aplicação. 4.ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2006, pgs. 190-191.

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 22
Contudo, como foi destacado, a magistrada se olvidou em
discorrer sobre as causas que a levaram a desvalorar a personalidade dos
réus na ação, consequentemente, não explicou porque os indiciados têm
uma vida voltada para o crime, o que revela outro prejuízo à
individualização da penas para os acusados.
Como se não bastassem os equívocos presentes na fixação da
pena-base, a magistrada não fundamentou adequadamente a aplicação
das majorantes na terceira fase do método trifásico, no delito de roubo
para o réu XXX, como bem se compreende (fls. 388-389):

“Ainda milita em desfavor do acusado as causas de aumento tipificadas


nos incisos I, II e V do §2º do art. 157 do Código Penal, pelo concurso de
pessoas e emprego de arma de fogo e restrição de liberdade da vítima,
razão pela qual, aumento a pena em metade, fixando-a em 07 (sete) anos
e 06 (seis) meses de reclusão e 30 (trinta) dias-multa.”

Mesmo equívoco ocorreu na fixação da pena definitiva ao réu


XXX, no delito de roubo (fl. 392):

“Ainda milita em desfavor do acusado as causas de aumento tipificadas


nos incisos I, II e V do §2º do art. 157 do Código Penal, pelo concurso de
pessoas e emprego de arma de fogo e restrição de liberdade da vítima,
razão pela qual, aumento a pena em metade, fixando-a em 06 (seis) anos
e 09 (nove) meses de reclusão e 20 dias-multa.”

Outras situações que ensejam numa agressão ao princípio da


individualização das penas e o dever de fundamentação das decisões
judiciais.
A individualização da pena só consegue se materializar no
processo através da fundamentação das circunstâncias que levaram à

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 23
estipulação da pena concreta, ou seja, a exposição minuciosa e precisa de
cada elemento constitutivo do delito, e como estes foram valorados na
elaboração da sentença. Esse processo de cognição é que garante a
legitimidade, eficácia e validade da sentença, como bem destaca Aury
Lopes Jr. :

Para o controle da eficácia do contraditório e do direito


de defesa, bem como de que existe prova suficiente
para sepultar a presunção de inocência, é fundamental
que as decisões judiciais (sentenças e decisões
interlocutórias) estejam suficientemente motivadas. Só
a fundamentação permite avaliar se a racionalidade da
decisão predominou sobre o poder, premissa fundante
de um processo penal democrático. Nesta linha, está
expressamente consagrada no art. 93, IX, da CB. (...)
Nesse contexto, a motivação serve para o controle da
racionalidade da decisão judicial. Não se trata de gastar
folhas e folhas para demonstrar a erudição jurídica (e
jurisprudencial) ou discutir obviedades. O mais
importante é explicar o porquê da decisão, o que o
levou a tal conclusão sobre a autoria e materialidade. A
motivação sobre a matéria fática demonstra o saber que
legitima o poder, pois a pena somente pode ser imposta
a quem – racionalmente – pode ser considerado autor do
fato criminoso imputado. (...)
Em síntese, o poder judicial somente está legitimado
enquanto amparado por argumentos cognoscitivos
seguros e válidos (não basta apenas boa
argumentação), submetidos ao contraditório e
refutáveis. A fundamentação das decisões é
instrumento de controle da racionalidade e,
principalmente, de limite ao poder, e nisso reside o
núcleo da garantia.3

3
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, pgs. 1060-1063

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 24
Todo o processo de cognição só possui legitimidade quando
tem como alicerce o livre convencimento judicial e a devida
fundamentação da pena.
Sobre a nulidade da sentença judicial por falta de
fundamentação, a doutrina é pródiga. Com destaque, a lição de Eugênio
Zaffaroni é precisa a respeito dessa circunstância:

Um importantíssimo capítulo do direito penal é o da


quantificação ou individualização da pena, que se
encontra bastante descuidado pela doutrina, pelo
menos nestes últimos anos, resultado que é do
exagerado desenvolvimento que envolveu a teoria do
delito, em detrimento deste capítulo, e que,
lamentavelmente, compromete tanto as garantias
individuais, como a segurança jurídica. Um deficiente
desenvolvimento do mesmo, sem princípios claros, leva
invariavelmente ao campo da arbitrariedade, quando as
“margens penais” apresentam exagerada amplitude e
convertem o arbítrio judicial em verdadeira
arbitrariedade. Na medida em que o legislador se omite
de sua função específica de determinar, de forma
adequada, um mínimo e um máximo de pena, e, por
comodismo ou por não querer assumir
responsabilidades, estabelece margens extremamente
largas, em meio às quais atua o juiz, estará em jogo a
segurança dos cidadãos.
Ao não se deixar clara a função da pena, toda a
discussão ao seu respeito reflete-se, invariavelmente,
sobre os critérios para a sua determinação e
quantificação, o que, também invariavelmente, se
traduz numa anarquia interpretativa que não tinha sido
objeto de uma sistemática análise, especialmente à luz
dos princípios gerais do direito penal constitucional.
(...)
O nosso Código atual adota um sistema combinado, que
veremos em seguida, e que deixa uma considerável

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 25
margem de atuação do magistrado. Muito embora não
contenha uma amplitude similar a outras existentes em
outros textos, não se pode deixar de reconhecer ser
bastante ampla a apreciação judicial, o que o obriga a
fundamentar, necessariamente, a individualização que
faz da pena na sentença, não sendo, em absoluto,
suficiente uma menção genérica aos artigos do Código
Penal, assim decidir, no caso concreto. Uma sentença
assim elaborada é nula, porque não permite a sua
crítica, posto que, não sendo possível reconhecer a
fundamentação que leva à imposição de uma
determinada pena, não é suscetível de comprovação a
sua adequação ou inadequação às normas legais. Pode-
se ampliá-las, mediante a interpretação dessas normas
e com a aplicação concreta que delas faça o juiz, mas
para isso é necessário saber quais foram elas, e, as
omissões, neste sentido, isso impedem, o que torna
incompreensível, a individualização da pena realizada.4
(grifo nosso)

A exposição doutrinária de Zaffaroni revela que a falta de


justificação na estipulação da pena leva à nulidade da sentença. Mesmo
entendimento possui o legislador pátrio quando formulou o art. 93, IX da
Constituição Federal, art. 381, III do Código de Processo Penal, em que
reconhece a nulidade da sentença quando haja falta de devida
fundamentação das decisões no processo:

CPP- Art. 381. A sentença conterá:


III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se
fundar a decisão.

CF- Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo


4
ZAFFARONI, Eugenio Raúl, PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro:
parte geral. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, pgs. 78-782.

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 26
Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observando os seguintes princípios:
IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação. (grifo nosso)

Como conseqüência direta da incidência desses dois artigos,


deve-se observar o que dispõe a regra do art. 573 do Código de Processo
Penal:

Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma
dos artigos anteriores, serão renovados ou retificados.

Os dispositivos legais corroboram a nulidade do processo


quando houver falta de fundamentação judicial nas decisões proferidas
pelo magistrado. O STJ, aplicando esses artigos, solidifica a procedência da
nulidade nesses casos:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO. CRIME DE
RESPONSABILIDADE. PECULATO. TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL. NULIDADE DO ACÓRDÃO. ATIPICIDADE DA CONDUTA.
MEDIDA EXCEPCIONAL. NECESSÁRIA INCURSÃO
PROBATÓRIA. VIA ELEITA INADEQUADA.
USURPAÇÃO DA ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO. INOCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO AO
CONTRADITÓRIO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. INOCORRÊNCIA.
DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
FUNDAMENTAÇÃO INADEQUADA. CULPABILIDADE, MOTIVOS E

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 27
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. REFERÊNCIAS GENÉRICAS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. OCORRÊNCIA. ORDEM
DENEGADA. REFORMA DO ACÓRDÃO E NOVA DOSIMETRIA DA
PENA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO.
I. O habeas corpus é medida excepcional para o trancamento de
investigações e instruções criminais, somente utilizado como meio
hábil para tanto quando restar demonstrada, inequivocamente, a
absoluta falta de provas, a atipicidade da conduta ou a ocorrência de
causa extintiva da punibilidade.
II. A descrição dos fatos e o julgamento demonstram, em tese,
adequação ao tipo descrito no art. 1º, inciso I do Decreto-Lei 201/67,
não cabendo, nesta sede, discutir-se se existiu dolo na conduta ou se
dela decorreu vantagem pessoal ou alheia.
III. O entendimento consolidado desta Corte é no sentido de que são
válidos, em princípio, os atos investigatórios realizados pelo
Ministério Público, o qual pode, inclusive, requisitar informações e
documentos a fim de instruir os seus procedimentos administrativos,
visando ao oferecimento da denúncia, independentemente da
investigação policial.
IV. Os acusados foram interrogados em juízo, apresentaram defesa
prévia por meio de seus defensores, foram ouvidas 18 testemunhas
e realizada perícia contábil a requerimento da defesa, não havendo
falar em violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
V. Os votos condutores da condenação dos pacientes
fundamentaram objetivamente as respectivas decisões com base na
prova produzida nos autos.
VI. A viabilidade do exame da dosimetria da pena, por meio de
habeas corpus, somente se faz possível caso evidenciado eventual
desacerto na consideração de circunstância judicial ou errônea
aplicação do método trifásico, se daí resultar flagrante ilegalidade e
prejuízo ao réu - hipótese dos autos.
VII. A traição da confiança dos eleitores é elemento vago e abstrato,
inidôneo a considerar desfavorável a culpabilidade do agente, assim
como a possibilidade de aplicação do dinheiro desviado em áreas
sensíveis da sociedade local, como saúde, educação, moradia,
saneamento básico, é elemento genérico inábil à demonstração das
consequências do crime. Igualmente, a qualificação dos motivos
como péssimos e egoísticos, reveladores da busca pelo
enriquecimento ilícito em detrimento do sacrifício do povo, não é
suficiente para justificar a majoração da pena.

Paulo César Busato


Procurador de Justiça 28
VIII. Apesar de terem sido desfavoravelmente sopesadas, a
culpabilidade, os motivos e as consequências do crime se encontram
desvinculadas de fatores concretos que os conectem à hipótese dos
autos, tendo sido indevidamente citados de modo genérico.
IX. Denego a ordem, face à impetração, mas concedo habeas corpus
de ofício para que seja reformado o acórdão recorrido no tocante à
dosimetria da pena imposta aos pacientes, a fim de que outra seja
procedida, mantendo-se a condenação, nos termos do voto do
Relator.
(HC 202.632/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA,
julgado em 28/08/2012, DJe 04/09/2012).

Diante de todo o exposto, alvitra o presente parecer que


sejam os recursos desprovidos. Contudo, é imperativo o reconhecimento
da nulidade tópica da sentença proferida, especificamente no que
tange às fixações das penas no caso em questão, devido à falta de
fundamentação da pena-base e da terceira fase do método trifásico pela
magistrada, o que aflige o princípio da individualização da pena.
Pugna-se, assim, pelo desprovimento integral do recurso do
réu XXX; pelo provimento parcial do recurso do réu XXX, para o
afastamento de todas as imputações pelo crime de corrupção de menores
em face da carência probatória a respeito da idade destes. Finalmente,
pugna-se pelo reconhecimento de ofício da nulidade tópica da
sentença de primeiro grau, por carência de fundamentação quanto à
fixação das penas de para ambos os réus.
É o parecer!

Curitiba, 21 de novembro de 2012.

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Procurador de Justiça.

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