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A ATUALIDADE

DOS PAIS DA
IGREJA - RESUMO

10/11/2017 BENOIT, André. A Atualidade dos Pais da Igreja. Editora Aste: São Paulo, 1966.

Universidade Presbiteriana Mackenzie


CEFT - Centro de Educação, Filosofia e Teologia
Integralização de Créditos Bacharelado em Teologia
Jouberto Heringer da Silva – Mat. 316.7772-1
Disciplina de ENEX00751 Patrística
Prof. Dr. Wilson Santana
A ATUALIDADE DOS PAIS DA IGREJA - RESUMO

A ATUALIDADE DOS PAIS DA


IGREJA - RESUMO
BENOIT, André. A Atualidade dos Pais da Igreja.
Editora Aste: S ã o Paulo, 1966 .

O autor começa sua obra tratando do uso dos escritos dos Pais da Igreja pela historia de
forma periodizada. Inicia pela Igreja Primitiva e pela busca do significado de “Pai”, que
segundo ele era concedido em geral aos bispos das grandes comunidades cristãs do
século II, reconhecidos como uma peculiar autoridade em matéria de doutrina. Recebiam
este título encontrado no plural (Pais da Igreja), especialmente quando nas controvérsias,
através de reflexões, elaboravam a teologia da Igreja, como pondera Basílio de
Cesareia.
Mostrando a importância deles na teologia da igreja, Vicente de Lérins define os pais
como sendo aqueles a quem deveriam recorrer sobre questões novas, que neste período
comumente chamado de pós-apostólico, ocorreu o intenso desenvolvimento do pensamento
cristão. Os Pais Apostólicos foram os mais antigos escritores cristãos fora do Novo
Testamento. Pertencendo à chamada “era sub-apostólica”, eles tiveram relação mais ou
menos direta com os apóstolos e escreveram para a edificação da Igreja, e seu trabalho
e influência garantiram a unidade da Igreja.
André Benoit destaca que a primeira relação dos autores, cristãos reconhecidos e não
reconhecidos como Pais da Igreja, data do início do século 6, sendo atribuída ao papa
Gelásio em seu decreto “De libris recipiendis et non recipiendis”. Este fato segundo o autor
revela o duplo estágio da patrística: o primeiro, que se dedica ao aspecto doutrinário e,
o segundo estágio que diz respeito a história.
Será Jerônimo no seu “De viris illustribus”, que descrevendo a sua vida obra de 135
escritores cristãos, eleva a um nível concreto e definitivo essa preocupação, e J. Gerhardt
no século XVII chamará de “Patrologia”. Essa tendência “patrológica”, que começou com
Eusébio, continuou durante toda a antiguidade cristã sem grande originalidade, e limitou-
se a retomar e completar a obra chamada por Jerônimo de Patrologia.
Pe. Benoit assinala que a Idade Média se limitou ao uso do que já havia se estabelecido
na Igreja antiga, sem trazer nenhuma inovação, os Pais da Igreja são citados
constantemente até o século 12 quase que como plágio. Os doutores da Igreja antiga
foram objetos de vários trabalhos, dentre eles destacamos os de Pedro Lombardo e
Berengário de Tours. Já o século 13 traz um retrocesso, a exceção de Tomás de Aquino.
No século 14 de forma metódica e atual os Pais da Igreja eram aplicados de forma
isolada, e o uso deles nos livros restringia-se a citações de trechos escolhidos que
passaram a ser usados quase de forma mecânica.

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A tradição patrológica, perpetuou-se com trabalhos que forneciam uma relação dos Pais
e de suas obras como o “De viris illustribus” de Sigeberto de Gembloux, (+1112), ou “De
luminaribus ecclesiae” de Honório de Autun (1122), ou o “De scriptoríbus ecclesiasticis” do
Anônimo de Melk (1135) e reescrita por João Tritêmio (1494). Entretanto, nada de novo
se encontra em todos estes trabalhos, pois publicou-se livros sobre os Pais que na verdade
eram a repetição da obra de Jerônimo e de outros.
O século 16 traz o Humanismo e a Reforma como fatores determinantes no estudo dos
Pais que tomou novo impulso graças às influências combinadas de ambas. Para Benoit a
redescoberta da antiguidade clássica fez surgir como fonte de toda cultura o movimento
que ficou conhecido como Humanismo, e que beneficia diretamente os estudos Patrísticos.
Uma vez que os Pais eram parte da antiguidade e por isso de interesse do Humanismo,
uma onda foi suscitada e estes passaram a ser publicados extensamente pela imprensa
recém inventada. Para Erasmo de Roterdã e os humanistas, a perspectiva que levou ao
crescimento do interesse pelos Pais (patrologia) era essencialmente histórica.
A Reforma, diferentemente, enfatizou os estudos patrísticos no plano teológico, este
interesse fez surgiu a necessidade de reunir as obras dos diferentes Pais em coleções
completas no final do século 16. Isto por sua vez ensejou o surgimento em Paris da
“Bibliotheca Sanetorum Patrum” em 8 volumes (1575).
Para os reformadores, os Pais deveriam ser estudados à luz do critério da Palavra de
Deus, já que para eles, tanto a história da Igreja como os pais da igreja tinham a sua
autoridade advinda deste critério muito simples, mas fundamental aos reformadores.
Lutero teve pouco interesse pelos Pais; mas, tanto ele como Calvino atribuíram grande
importância ao período Patrístico e tinham em alta estima a igreja antiga. Tendo a
Escritura como único juiz e critério da verdade, Calvino sem abrir mão da afirmação da
autoridade da Escritura, atribuiu importância maior ao período Patrístico que Lutero, que
com facilidade critica os Pais da Igreja e as suas exegeses de forma mais especifica. Ele
particularmente tem em alta estima o testemunho que alguns deles deram acerca da fé,
porém será através dos Pais que ele apelará contra a igreja de Roma. No seu ideal de
voltar à Igreja dos Pais, ele foi mais longe ao mostrar que apesar de alguns erros, a
Igreja havia se mantido fiel à Palavra de Deus através dos Pais que celebravam a Ceia
do Senhor os domingos. Calvino ao tratar de outros problemas, usou a mesma
argumentação após recorrer à Escritura usando cânones antigos, decretos conciliares e
passagens extraídas de Agostinho, Crisóstomo e Ambrósio.
A Reforma inicia a crítica teológica no domínio da patrística. Não se trata de uma crítica
puramente histórica, mas no método a ser aplicado aos Pais da Igreja: ao invés de serem
aceitos pela antiguidade, santidade, reconhecidas pela Igreja, ou unanimidade; passam
agora a ser aceitos na medida em que estão de acordo com a Escritura. Assim, no século
16 a tradição patrológica se perpetuou e se desenvolveu com o humanismo, e a patrística
que adquire caráter relativo mediante a afirmação da autoridade exclusiva da Escritura
passa a fazer parte de uma elaboração doutrinária.
Se historiadores protestantes começaram a estudar a patrística com seriedade após o
início das controvérsias no começo do século 16; na segunda metade do século trabalhos
de peso foram consagrado aos doutores da Igreja antiga. Entre diversos escritores, Benoit

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destaca o trabalho Flácio Ilírico (1520-1575) que, entretanto, limitou-se apenas ao


conhecimento do passado da Igreja que era objeto de seu interesse.
Os historiadores protestantes a partir da controvérsia iniciada no começo do século 16 a
respeito dos Pais da Igreja, e dos resultados evidentes do renovado impulso atribuído aos
estudos patrísticos, na segunda metade do século produziram em pouco tempo um estudo
feito com seriedade, consagrando inúmeros trabalhos importantes aos doutores da Igreja
antiga. No fim do século, no entanto, a intenção polêmica que orientou os estudos
patrísticos foram prejudiciais, e estes se tornaram armas apologéticas em um combate
onde cada um as brandia em favor de suas posições doutrinárias.
Ao lado desse trabalho, os católicos iniciaram um trabalho incansável e magnífico de
edição e publicação de textos que reúnem os conhecimentos adquiridos até então. Por ser
o século 19 um período considerado como o de fazer a história, os estudos da Patrística
foram muito favorecidos. Foi a época das grandes edições como a obra de Louis Ellies
Dupin, Nouvelle bibliotheque des auteurs ecclesiastiques e a de Remi Cellier Histoire
générale des auteurs sacrés et ecclésiastiques.
Empregada no seu sentido lato, a expressão “Pais da Igreja” historicamente falando,
surgiu devido à reverência e amor que muitos cristãos tinham pelos seus líderes religiosos
dos primeiros séculos, ao amor e zelo que tinham pela igreja, e por serem reconhecidas
testemunhas em assuntos de doutrina. Andrè Benoit propõe lugares para estes grandes
teólogos da Igreja antiga, que são vistos pelo Catolicismo Romano como testemunhas
autorizadas da tradição eclesiástica, e como autoridades teológicas proveniente do
passado cristão. Pelos historiadores eles são vistos como parte da história da literatura
cristã que trata dos autores da Antiguidade, tanto ortodoxos como heterodoxos, e que
escreveram sobre temas de teologia. A visão moderna os vê como interpretes ou exegetas
que reconheceram a autoridade da Escritura como norma da verdade e da doutrina.
A história da exegese remonta aos Pais da Igreja. O entendimento que tinham acerca da
mensagem geral das Escrituras nos fornece diretrizes exegéticas fora das quais não
ousamos nos aventurar. Eles foram os primeiros exegetas da Escritura, e de algum modo,
os primeiros marcos que nos unem à Bíblia. Querendo ou não existe entre nós e a Escritura
uma dimensão histórica, e eles são e assinalam a continuidade de sua interpretação no
correr dos primeiros séculos. Nem os reformadores contestaram seu lugar; entretanto, os
Pais da Igreja jamais conseguirão nos fornecer soluções prontas e definitivas.
Entre nós e os autores neotestamentários existe um período de quase vinte séculos.
Entretanto eles estavam muito mais próximos deles no tempo, e portanto mais habilitados
a captar o espírito próprio da Escritura. Costuma-se criticar a forma alegórica com que
os Pais da Igreja falavam, e os críticos até entendem ser exageradas; mas existem
aspectos positivos que nos permite compreender a possibilidade de empreender uma
exegese cristológica do Antigo Testamento feita pelos Pais.
Para os Pais da Igreja a única autoridade escrita a disposição eram as Escrituras judaicas
herdadas do povo de Israel, os primeiros cristãos não dispunham ainda do Novo
Testamento; portanto, era natural que o Antigo Testamento fosse interpretado à luz da
revelação cristã, fato muito bem expressos no livro teologia-histórica. As respostas à
indagação sobre o cumprimento das promessas feitas a Israel eram buscadas nesses livros,

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em cada uma de suas páginas. A verdade fundamental de que nos advertem Os Pais da
Igreja é a de que Jesus Cristo era a chave que abre o Antigo Testamento, Ele é o objetivo
próprio da Escritura, e quem possibilita uma leitura fiel da escritura.
O Antigo Testamento tem caráter positivo, pois descerram e delimitam os grandes
mistérios da fé, as decisões dogmáticas dos Pais da Igreja. Estas adquirem importância
ao apontar os problemas essenciais da fé cristã como a Trindade e a Encarnação. Já as
decisões de concílios como de Nicéia e de Calcedônia têm uma atualidade de caráter
negativo. Ao rejeitar as heresias da época nos mostram as falsas vias de reflexão da
Patrística e da dogmática, as quais não deveriam penetrar o pensamento teológico.
Os Pais também viveram a sua fé no culto e nos sacramentos, e a liturgia sempre repleta
do conteúdo bíblico é a “escola da fé” por excelência. A liturgia patrística foi nas
Escrituras com considerável profundidade, e resultou nas grandes liturgias orientais e
ocidentais. Nas homilias eucarísticas de João Crisóstomo, com grande motivação ao
compromisso social, eram muito claro o compromisso ético que a eucaristia traz em si. Os
Pais eram pessoas de síntese que sabiam aliar com grande lucidez, fé e compromisso
social, o louvor a Deus e a vida humana feliz. Nos tempos da patrística era natural e
óbvia a sua formação litúrgica da época a relação entre eucaristia e Igreja.
Desse modo, não é acaso o batismo ter lugar de destaque na liturgia dos Pais da Igreja.
O autor do primeiro tratado sobre esse sacramento é Tertuliano, posteriormente Ireneu
de Lião e Orígenes trabalham mais detalhadamente sua teologia. As catequeses sobre o
batismo têm um valor que em Pais da Igreja como Ambrósio, Agostinho, Cirilo de
Jerusalém, João Crisóstomo e Teodoro de Mopsuéstia são discutidas e abordadas.
Finalizando, Benoit trata sobre como a Igreja dos Pais relacionou-se com a cultura do seu
tempo, sobre o como deixaram de lado o que não tinha valor na cultura helênica ou
greco-romana. Como sendo arauto do evangelho, se apropriou dos elementos utilizáveis
dessas culturas. Ela se defrontou com múltiplas manifestações dos problemas das heresias,
e suas reações face aos desvios da fé é um tópico relevante no estudo da patrística.
André Benoit conclui que conhecer os Pais da Igreja pode ser de grande valia na busca
de soluções.
Referente ao modo como interpretavam a Bíblia, os pais da igreja tiveram dois métodos
de interpretação bíblica: o Alegórico e o Tipológico. A Exegese alegórica trata o texto
sagrado como mero símbolo ou alegoria de verdades espirituais. A Exegese Tipológica
tem como princípio norteador a ideia de que os eventos e personagens eram “tipos”. Elas
se levantaram de forma correspondente aos dois fundamentos de interpretação: a escola
de Alexandria foi em maior ou menor grau afetados por esse alegorismo, e a de
Antioquia por outro lado achava-se convicta de que a alegoria era um instrumento
inseguro e ilegítimo para interpretar a Escritura.
O livro embora publicado em meados do século passado possibilita um rápido apanhado
deste período e sua influência na vida da Igreja ao longo da história. Creio que pode ser
usado como um material introdutório de amplo espectro no trato com o tema. A linguagem
fácil, e a imparcialidade com que aborda os assuntos mais polêmicos, fazem desta obra
de André Benoit uma excelente leitura para os interessados em adentrar ao tema.

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