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SALVADOR - BAHIA
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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFICAÇÕES
1 Concepção do Sistema de Segurança Contra Incêndio
A segurança contra incêndio dos edifícios não pode ser obtida através de soluções esporádicas e
díspares, pelo contrário, devem ter o sentido e um todo, composto por um conjunto de ações
coerentes, que se originam do perfeito entendimento dos objetivos da segurança contra incêndio e
dos requisitos funcionais a serem atendidos pelos edifícios.
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Na Tabela 1.1, estão apresentados os referidos elementos onde se agrupam os conjuntos de medidas
de prevenção e de proteção contra incêndio, associados aos respectivos requisitos funcionais que
visam garantir nos edifícios e aos objetivos específicos da segurança contra incêndio.
Uma vez que, na prática, os riscos não são totalmente eliminados e que todos os requisitos
funcionais indicados são fundamentais para garantir a segurança contra incêndio dos edifícios,
todos os elementos indicados devem ser contemplados ao longo do processo produtivo e uso dos
edifícios, resultando na conformação de um sistema global de segurança contra incêndio.
As medidas de proteção contra incêndio são aquelas destinadas a proteger a vida humana e os
bens materiais dos efeitos nocivos do incêndio que já se desenvolve no edifício. São necessárias ao
sistema global de segurança contra incêndio, na proporção em que as medidas de prevenção
venham a falhar, permitindo o surgimento do incêndio. Estas medidas compõem os seguintes
elementos do sistema global: limitação do crescimento do incêndio; extinção inicial do incêndio;
limitação de propagação do incêndio; precaução contra a propagação entre edifícios; evacuação
segura do edifício; precaução contra o colapso estrutural; e rapidez, eficiência e segurança das
operações de combate e resgate.
O elemento prevenção contra o início do incêndio é composto por medidas que visam controlar as
eventuais fontes de ignição e sua interação com materiais combustíveis (materiais passíveis de
sofrerem a ignição) de forma a evitar o surgimento de focos de incêndio.
O elemento limitação do crescimento do incêndio é composto por medidas (de proteção contra
incêndio) que visam dificultar, ao máximo, o crescimento do foco de incêndio (representado pelos
primeiros objetos ignizados), de forma que o incêndio não se generalize no ambiente de origem, o
que corresponderia a envolver todos os materiais combustíveis ali presentes e a elevar
excessivamente a temperatura do local.
O elemento extinção inicial do incêndio é composto por medidas (de proteção contra incêndio) que
visam facilitar a extinção do foco do incêndio, de forma que o incêndio não se generalize no
ambiente de origem.
O elemento evacuação segura do edifício é composto por medidas (de proteção contra incêndio)
que visam assegurar a fuga dos usuários do edifício, de forma que todos possam sair com rapidez e
sem sofrer injúrias. Em função das características do edifício e dos riscos envolvidos (oferecidos
pelo incêndio e pela própria evacuação), a evacuação do edifício deverá se processar a partir do
momento em que ocorrer a inflamação generalizada no ambiente de origem ou a partir do momento
em que o incêndio conseguir se propagar para outros ambientes do edifício.
O elemento precaução contra a propagação do incêndio entre edifícios é composto por medidas
(de proteção contra incêndio) que visam dificultar a propagação do incêndio para outros edifícios.
Isto se verifica quando o incêndio cresce, provocando a inflamação generalizada no ambiente de
origem ou, com maior facilidade, quando o incêndio se propaga do edifício. Neste sentido também
tem a função de dificultar a propagação do incêndio para outros edifícios.
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Tabela 1.1- Elementos do sistema de segurança contra incêndio associados aos requisitos
funcionais que visam garantir os respectivos objetivos específicos
O elemento precaução contra o colapso estrutural é composto por medidas (de proteção contra
incêndio) que visam impedir a ocorrência de ruína parcial ou total do edifício. As altas temperaturas
provocadas pela inflamação generalizada no ambiente de origem do incêndio afetam, em função do
tempo de exposição, as propriedades mecânicas dos elementos estruturais, podendo enfraquecê-las
a ponto de provocar a perda da estabilidade.
Quando o incêndio se propaga no interior do edifício, a exposição dos elementos estruturais a ação
do calor se generaliza, ampliando a possibilidade de ocorrência de ruína.
O elemento rapidez, eficiência e segurança das operações de combate e resgate é composto por
medidas (de proteção contra incêndio) que visam assegurar as intervenções externas no sentido de
combater o incêndio e resgatar eventuais vítimas. Tais intervenções devem primar pela rapidez (de
serem iniciadas), eficiência e segurança daqueles que as realizam. Devem ocorrer, de preferência,
no estágio mais incipiente do incêndio, necessariamente enquanto o incêndio ainda não se propagou
no edifício. Entretanto, é indispensável mesmo quando da ocorrência da propagação do incêndio,
pois ainda neste momento é tempo de se evitar acidentes maiores tais como perdas de edifício,
propagação do incêndio para edifícios vizinhos.
Na Tabela 1.2, está apresentada a estrutura do sistema de segurança contra incêndio, com seus
oito elementos (oito categorias de medidas), aos quais estão associados a natureza das medidas que
os constituem (de prevenção e de proteção), os respectivos objetivos específicos e as diferentes
etapas do desenvolvimento do incêndio.
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Tabela 1.2- Principais medidas de prevenção e de proteção contra incêndio associadas aos
elementos do sistema global de segurança contra incêndio
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1.1.2 Composição dos elementos do sistema global
Na Composição do sistema global para cada edifício, em particular, o conjunto de medidas que irá
constituir cada elemento deve ser estabelecido, tendo em conta, evidentemente, a necessidade de
fazer frente ao nível assumido pelo risco de incêndio (de início, de crescimento, de propagação, à
vida humana, à propriedade), garantindo, para cada elemento, uma efetividade compatível com os
distintos aspectos deste risco.
Do ponto de vista funcional, o conjunto de medidas de prevenção e de proteção contra incêndio não
devem introduzir inconveniências que venham a restringir o livre desenvolvimento das atividades
no interior do edifício, dificultando sua ocupação e uso.
Desta forma, as medidas de prevenção e proteção contra incêndio devem ser selecionados e
conjugados não somente com o sentido de estabelecer a devida contraposição aos riscos, mas
também, visando alcançar um adequado balanço entre custos e benefícios e a preservação da
perfeita funcionalidade do edifício.
As medidas que compõem o sistema global podem ser divididas em duas categorias: as relativas ao
processo produtivo do edifício; e as relativas ao uso do edifício, que são providas durante as fases
de operação e manutenção do edifício.
Efetividade das medidas de prevenção e de proteção contra incêndio, deve ser entendida como a
probabilidade de cumprir sua função, que depende de quanto aquilo que foi previsto no projeto
corresponde às condições reais existentes no momento do incêndio.
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O sistema global de segurança contra incêndio, bem como cada um dos seus oito elementos,
funcional como um sistema de componentes em série, onde a falha de qualquer medida implica na
falha do elemento; a falha do elemento, por sua vez, implica na falha do sistema. Falha, neste caso,
deve ser entendida como não funcionar conforme o esperado. Dependendo da importância da
medida e do respectivo elemento que apresentar falhas, as conseqüências podem assumir
proporções catastróficas, onde não se exclui a ocorrência de mortes.
Na primeira categoria, enquadram-se aquelas que visam complementar as medidas adotadas durante
o processo produtivo, destacando-se como principais as seguintes:
a) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e instalações que podem provocar o início
do incêndio;
b) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados à extinção inicial do incêndio;
c) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a compor a compartimentação
horizontal e vertical;
d) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a garantir a evacuação segura
do edifício;
e) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados ao combate.
Na terceira categoria, enquadram-se as medidas que visam organizar as ações destinadas a evitar ou
enfrentar uma situação de incêndio, a saber:
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d) formação e treinamento de brigadas de incêndio;
e) elaboração de planos de abandono do edifício;
f) elaboração de planos de abandono do edifício;
g) treinamento dos usuários para evacuação de emergência;
h) elaboração de planos de combate a incêndios;
i) disposição, na entrada do edifício, de informações úteis ao combate.
Estas medidas têm capacidade de influenciar, decisivamente, na escolha dos materiais constituintes
do edifício (especialmente os de acabamento), na definição e distribuição dos espaços que
compõem o edifício, na composição da fachada do edifício, na circulação interna horizontal e
vertical, na implantação do edifício no lote e nos acessos imediatos. Desta forma, tais medidas
devem ser, obrigatoriamente, consideradas e resolvidas no projeto arquitetônico do edifício. Além
disso, crescem em complexidade e em condições de influenciar no projeto arquitetônico, à medida
em que o edifício assume proporções avantajadas ou apresenta características que definem riscos
elevados.
As medidas ativas de proteção contra incêndio possuem como característica o fato de, ao
cumprirem seu papel quando da ocorrência do incêndio, fazê-lo de forma ativa, ou seja, acionadas
manual ou automaticamente, em resposta aos estímulos provocados pelo fogo. Estão vinculadas a
distintos elementos do sistema global, destacando-se as seguintes:
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h) provisão de sistema de controle do movimento de fumaça.
A maior parte destas medidas, consistem de instalações prediais, como por exemplo, as instalações
elétricas para iluminação de emergência e as instalações hidráulicas para os hidrantes. Estas
medidas também devem ser consideradas quando da execução do projeto arquitetônico pois
interagem fortemente com a distribuição dos espaços e com a circulação interna horizontal e
vertical.
Pode-se dizer que as medidas passivas de proteção contra incêndio adquirem importância destacada
em seis elementos do sistema global de segurança contra incêndio, a saber:
Os quatro primeiros elementos indicados são compostos, unicamente, por medidas passivas de
proteção. No quinto elemento, as medidas ativas de proteção são complementares, pois visam
garantir a efetividade da medida principal intitulada provisão de rotas de fuga seguras, que é
passiva. No último elemento indicado, a de ação dos bombeiros torna-se lenta, ineficiente e
insegura caso as duas medidas passivas de proteção que o integram, denominadas provisão de
meios de acesso dos equipamentos de combate às proximidades do edifícios e provisão de
meios de acesso seguros da brigada ao interior do edifício, não apresentem um bom
desempenho.
O elemento extinção inicial do incêndio é composto, unicamente, por medidas ativas de proteção
contra incêndio.
O elemento precaução contra incêndio, por sua vez, é composto, unicamente, por medidas de
prevenção de incêndio. Uma delas deve ser destacada como capaz de influenciar acentuadamente na
distribuição dos espaços no edifício. Trata-se do distanciamento seguro entre fontes de calor e
materiais combustíveis, bastante importante, por exemplo, para edifícios industriais, que se associa
ao arranjo físico dos materiais e equipamentos contidos no edifício.
A segurança contra incêndio é um objetivo que deve ser perseguido durante todas as etapas
desenvolvidas no processo produtivo e uso do edifício. Deve ser considerada desde a concepção e
desenvolvimento do anteprojeto do edifício, passando pelo projeto e construção, e adentrando às
fases de operação e manutenção. Em nenhuma destas fases o problema do incêndio deve ser
menosprezado, sobre risco de serem introduzidas inconveniências funcionais, dispêndios excessivos
ou níveis inadequados de segurança contra incêndio. Na fase de projeto, entretanto, a questão deve
ser especialmente considerada, pois aí deve ser estabelecida a estrutura básica da segurança contra
incêndio do edifícios. No projeto arquitetônico, tal estrutura tem origem e se define essencialmente.
De início, e com o intuito de adotar soluções arquitetônicas que melhor as compatibilizem, devem
ser consideradas as limitações impostas pelas necessidades do usuário (ou seja, pela função do
edifício); pelas regulamentações compulsórias de segurança contra incêndio; pelo prazo e custo de
construção; pelas condições e custo de manutenção.
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Para que estas consideração possam ser feitas, é necessário acumular um conhecimento
aprofundado das relações mantidas entre aspectos arquitetônicos e as disposições que conferem, ao
edifício, níveis apropriados de segurança contra incêndio. Além disso, tais disposições e suas inter-
relações devem ser intrinsecamente conhecidas para a execução do projeto arquitetônico, pois uma
parte considerável da segurança contra incêndio será resolvida neste momento, quando também, a
totalidade do problema, deve ter sua solução encaminhada.
Durante a construção do edifício deve-se tratar de garantir que tudo aquilo que foi disposto no
projeto, acerca do controle do risco de incêndio seja adequadamente construído/instalado, de forma
a assegurar a confiabilidade e a efetividade previstas. Além disso, as disposições resultantes da fase
de projeto devem ser apropriadamente operadas e mantidas. A facilidade com que isto se processa e
os custos envolvidos devem ser, necessariamente, considerados durante o processo produtivo do
edifício.
Porém, isto ainda não é tudo, uma vez que, parte significativa das disposições de segurança contra
incêndio são implementadas na fase de operação do edifício e dependem, fundamentalmente, das
regulamentações compulsórias eventualmente existentes e da conscientização do usuário.
O sistema global de segurança contra incêndio, a ser estabelecido para cada situação prática que se
enfrenta, ou seja, para cada novo edifício que se projeta, deve ser calcado no profundo
conhecimento das particularidade do risco de incêndio que se deseja restringir. O sistema global
nada mais é, afinal, do que uma contraposição ao risco de incêndio resultante das atividades
desenvolvidas no edifício e do ambiente que as circunscreve.
Com relação as três primeiras categorias de risco pode-se dizer que se relacionam à evolução do
incêndio no edifício e à propagação do incêndio para edifícios vizinhos, sendo um, conseqüência
direta do outro.
Os incêndios típicos apresentam, em sua evolução três fases características: a fase inicial, a fase de
inflamação generalizada e a fase de extinção. Na fase inicial, o incêndio se restringe a um foco
representado pela combustão do primeiro objeto ignizado e, eventualmente, alguns outros objetos
em suas proximidades; a temperatura do ambiente nesta fase eleva-se gradualmente. A fase de
inflamação generalizada vem a seguir como conseqüência do envolvimento simultâneo de grande
quantidade de materiais combustíveis no incêndio e com a elevação acentuada da temperatura; nesta
situação a sobrevivência humana não é possível no recinto afetado. Quando cerca de 80% dos
materiais combustíveis existentes no recinto já foi consumido, o incêndio entra na fase de extinção,
acontecendo então o decréscimo da temperatura. Na figura 1.1 está apresentado um gráfico
demonstrativo da evolução típica de um incêndio com as suas três fases características.
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Figura 1.1 – Evolução típica do incêndio em compartimentos.
Temperatura
Período de
crescimento
Período de
decaimento
Incêndio totalmente
desenvolvido
Tempo
Numa situação normal, os materiais combustíveis e uma variedade de fontes de calor coexistem,
sem que haja a ocorrência de qualquer dano. Entretanto, a interação de ambos, de forma contínua ou
a manipulação/utilização de um deles, de forma indevida, é potencialmente capaz de provocar
danos. A maioria dos incêndios se inicia nos materiais contidos nos edifícios (não incorporados ao
sistema construtivo) a partir de pequenas fontes de calor, de tal forma que ocorrendo a
decomposição do material combustível pelo calor, são liberados gases inflamáveis que sofrem
ignição. Se a fonte de calor for pequena ou a massa do material a ser ignizado for grande ou a sua
temperatura de ignição for alta, somente irão ocorrer danos locais sem a progressão do incêndio.
Diferentes materiais combustíveis necessitam receber diferentes níveis de energia (calor) para que a
ignição possa ocorrer; e as perdas de calor, durante a combustão, necessitam ser menores que a
soma do calor provenientes da fonte externa e do calor gerado no processo de combustão, para a
ignição se sustentar.
Se a ignição definitiva de algum objeto for alcançado, este continuará a queimar, desenvolvendo
calor e produtos de decomposição. A temperatura do compartimento subirá, progressivamente, e a
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fumaça e outros gases quentes se acumularão junto ao teto. Há a possibilidade do material
envolvido queimar totalmente, sem proporcionar o envolvimento dos outros materiais combustíveis
presentes no ambiente. Entretanto, se houver um meio para que o fogo se alastre aos objetos
adjacentes, através da condução, da convecção ou da radiação térmica, a progressão das chamas irá
ocorrer, ocasionando a elevação da temperatura do compartimento e a emissão de fumaça e gases.
Risco de início de incêndio deve ser entendido como a probabilidade de surgimento de um foco de
incêndio a partir da interação entre fontes de calor presentes no edifício e os materiais combustíveis
contidos ou integrantes do edifício.
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Risco de crescimento do incêndio deve ser entendido como a probabilidade de foco de incêndio
evoluir e provocar a inflamação generalizada no compartimento de origem do incêndio, ou seja, a
probabilidade, do incêndio passar da fase inicial para a fase de inflamação generalizada.
Risco de propagação do incêndio deve ser entendido como a probabilidade do incêndio, que
atingiu a inflamação generalizada no compartimento de origem, propagar-se para outros
compartimentos do edifício e/ou edifícios adjacentes.
Risco à propriedade deve ser entendido como a probabilidade dos fenômenos associados ao
incêndio (produção de fumaça, de gases e de calor) provocarem danos aos materiais e equipamentos
contidos no edifício, bem como ao próprio edifício (seus elementos construtivos) e aos edifícios
adjacentes.
Adicionalmente, quanto mais suscetível for o sistema construtivo à ação do incêndio (ação do calor
gerado no incêndio) maior será o risco à propriedade. Os danos à propriedade ocasionados pelo
colapso estrutural são sempre os mais elevados, pois partes do edifício não envolvidos pelo
incêndio são afetadas, inclusive os edifícios vizinhos.
Risco à vida humana deve ser entendido como a probabilidade dos fenômenos associados ao
incêndio (deficiência de oxigênio, gases nocivos, fumaça e calor) provocarem injúria aos ocupantes
do edifício (usuários e pessoas que efetuam as intervenções de combate e resgate).
Da mesma maneira com que os três riscos básicos, associados à evolução do incêndio, definem o
risco à propriedade, definem também o risco à vida humana. O mesmo se pode afirmar com relação
à susceptibilidade do sistema construtivo à ação do incêndio, que amplia o risco à propriedade (pelo
aumento da probabilidade de ocorrência de ruína parcial ou total do edifício) e, consequentemente,
implica em uma majoração importante do risco à vida humana.
As cinco categorias de risco, de acordo com o que foi apresentado até aqui, apresentam uma forte
relação de interdependência, de tal forma que, tudo que se providencia com o sentido de controlar
uma destas categorias, redunda no controle das outras. Uma exceção a esta regra se refere ao risco à
vida humana, pois enquanto conseqüência de todas as outras categorias de risco, se beneficia de
todos os controles efetuados. Sendo o risco mais importante a ser controlado, motiva o controle dos
outros e justifica controles exclusivos que não resultam em benefícios aos demais riscos. Este
controle exclusivo diz respeito à evacuação segura do edifício.
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2.4 Fatores condicionantes do risco de incêndio
O risco de incêndio é determinado por fatores inerentes a cada edifício, por isto, é necessário
classificar os edifícios tendo em conta a sistematização dos riscos e, consequentemente, a definição
das medidas de segurança contra incêndio (prevenção e proteção).
Cada um destes fatores é composto por distintas variáveis, que assumem características particulares
à cada situação prática, definindo tipologias diferenciadas de edifícios e, portanto, de riscos, que
devem ser tratados de forma específica.
O início do incêndio depende, significativamente, da atuação da população do edifício, uma vez que
grande parte das causas de incêndio resultam de atos inseguros ou negligentes, relacionados,
principalmente, às condições psicológicas e culturas da população.
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facilidade com que um eventual foco de pânico se generalize tornando a população de maneira
geral mais susceptível à ação danosa dos fenômenos físicos associados ao incêndio;
c) condições físicas, psicológicas e culturais da população: as condições psicológicas e culturais
da população do edifício podem estabelecer a tendência de surgimento de pânico em caso de
incêndio. As condições físicas e psicológicas definem a capacidade da população (ou de alguns
de seus indivíduos) de reagir adequadamente, de forma independente, rápida e contínua;
d) distribuição etária da população: esta variável, em última análise, define a variável condições
físicas e psicológicas da população, portanto atua de maneira semelhante a esta sobre o risco à
vida humana.
Todas estas variáveis têm influência importante sobre o risco de início de incêndio, conforme
apresentado a seguir:
As variáveis potencial térmico e tipos de materiais armazenados e manipulados são as que têm
maior potencial para influenciar no risco de crescimento do incêndio pois definem a concentração
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de materiais combustíveis e maior ou menor facilidade de sofrerem a ignição e de sustentarem a
combustão. Todos estes aspectos são decisivos para o incêndio ingressar na fase de inflamação
generalizada.
Estas mesmas duas variáveis também são fundamentais à definição do risco de propagação do
incêndio. Em primeiro lugar, porque têm papel decisivo na severidade atingida pelo incêndio (que
traduz a razão de desenvolvimento de calor em função do tempo, ou seja, elevação da temperatura
do compartimento no tempo). Quanto maior for o potencial térmico, maior será a duração do
incêndio ou maior será a temperatura atingida ou ambos; além disso, a forma e as características
térmicas dos materiais (que são funções do tipo de materiais armazenados) influem na velocidade
de combustão, ou seja, na razão de desenvolvimento de calor e na duração do incêndio. Quanto
maior for a severidade atingida pelo incêndio, maiores serão as chances de propagação tanto no
interior do edifício, como para edifícios adjacentes. Em segundo lugar, porque a maior concentração
de materiais combustíveis e a maior facilidade com que sofrem a ignição propiciam o alastramento
do fogo com maior rapidez.
Todas estas variáveis, influenciando de uma ou de outra maneira, os três riscos básicos (de início,
de crescimento e de propagação do incêndio), concorrem para exacerbar o risco à propriedade e o
risco à humana. Ambos, entretanto, podem receber a colaboração especial da variável tipos de
materiais vida armazenados e manipulados, pois a presença de materiais perigosos em termos de
reatividade, radioatividade ou toxidade (dos materiais entre si ou dos produtos de combustão)
podem agravar consideravelmente estas duas categorias de risco.
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duas primeiras têm influência, por poderem contribuir para o aumento de concentração de materiais
combustíveis, além de facilitarem o alastramento do fogo através de materiais de revestimentos
combustíveis. A terceira interfere, por se constituir nos meios de ingresso de oxigênio necessário
para alimentar a combustão, permitindo que o evento atinja a fase de inflamação generalizada.
O risco à propriedade e o risco à vida humana são afetados, via os três riscos básicos (de início,
de crescimento e de propagação do incêndio), por todas as variáveis relativas à natureza do
edifício. Entretanto, as variáveis materiais de construção utilizados e técnicas aplicadas e
sistema estrutural adotado tem condição de afetar especialmente estas duas categorias de risco,
pois na medida em que determinam a susceptibilidade do edifício à ação do incêndio e estabelecem
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a possibilidade de ruína parcial ou total do edifício, agravam inicialmente o risco à propriedade e,
consequentemente, o risco à vida humana.
A variável situação em relação à divisa do lote determina a proximidade entre fachadas de edifícios
adjacentes e, por isto, estabelece a possibilidade de propagação do incêndio entre edifícios.
As variáveis largura das ruas e outras condições de acesso, distância do quartel do corpo de
bombeiros mais próximo e meios de comunicação com o corpo de bombeiro, tem influência sobre o
risco de propagação do incêndio porque definem o tempo de acesso dos bombeiros ao edifício
incendiado e o tempo para iniciarem o combate ao incêndio. Quanto maiores forem estes tempos,
maior será o período em que o incêndio estará se desenvolvendo sem qualquer intervenção e, assim,
maiores serão as chances de propagação no interior do edifício e para edifícios adjacentes.
Na Figura 1.2 está esquematicamente apresentada a relação existente entre os quatro fatores
condicionantes de risco e as cinco categorias de risco associadas ao incêndio.
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FATORES CONDICIONANTES DE RISCO DE INCÊNDIO
RISCO DE INCÊNDIO
Figura 1.2 – Relação entre os fatores condicionantes de risco e as distintas categorias de risco
de incêndio.
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b) perdas econômicas: representam uma ameaça significativa ao potencial econômico de uma
nação, já que o incêndio é o tipo de acidente que tem potencial de provocar grande volume de
perdas;
c) perdas sociais, associadas às perdas humanas e econômicas provocadas por incêndio, estão as
perdas sociais:
• lesões físicas e cicatrizes irremediáveis, que impedem ou dificultam a plena integração dos
indivíduos afetados à sociedade;
• fechamento de empresas, com o conseqüente desemprego de seus funcionários;
• contaminação ambiental;
• sentimento de insegurança;
• perdas de patrimônios históricos e artísticos.
A ação que permeia e que constitui-se no objetivo de todas as demais ações que tem o sentido de
reduzir perdas em incêndio consiste no estabelecimento de níveis adequados de segurança contra
incêndio no processo produtivo e no uso dos edifícios.
Em nenhuma destas fases o problema do incêndio deve ser menosprezado sob pena de serem
introduzidas inconveniências funcionais, dispêndios excessivos ou níveis inadequados de segurança
do processo produtivo. A questão da segurança contra incêndio foi enfocada, maiores serão os
problemas: inconveniências, dispêndios, níveis inadequados de segurança.
Do ponto de vista funcional, o conjunto de disposições que visam garantir a segurança contra
incêndio não devem introduzir inconveniências que venham a restringir o livre desenvolvimento das
atividades no interior do edifício, dificultando sua ocupação e uso.
Estas disposições de segurança contra incêndio são denominadas medidas de prevenção de incêndio
e medidas de proteção contra incêndio e podem ser agrupadas (e adotadas) de acordo com os
requisitos funcionais que visam garantir nos edifícios, a fim de que o risco de incêndio seja mantido
em níveis aceitáveis.
O grupo de medidas em torno de cada requisito funcional, conformam oito elementos distintos
apresentados na figura 2.1.
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Uma vez que na prática os riscos associados ao incêndio (que comprometem o cumprimento de
cada um dos requisitos funcionais que os edifícios devem apresentar para serem considerados
seguros contra incêndio) não podem ser totalmente eliminados e que todos os requisitos
mencionados são fundamentais para garantir a segurança dos edifícios, todos os elementos
indicados devem ser contemplados ao longo do processo produtivo e uso dos edifícios, resultando
na conformação de um sistema global de segurança contra incêndio.
1.2 Regulamentação
As conseqüências dos incêndios para a sociedade, representadas por perdas humanas, econômicas e
sociais, evoluem conjuntamente com o desenvolvimento econômico e tecnológico.
Nas três últimas décadas, no Brasil, este desenvolvimento tem resultado em profundas modificações
nos sistemas construtivos, caracterizadas pela utilização de grandes áreas sem compartimentação,
pelo aumento dos vãos livres dos elementos estruturais, pelo emprego de grandes fachadas
envidraçadas e pela incorporação, cada vez mais acentuada, de materiais combustíveis aos
elementos construtivos.
AÇÕES NO PROJETO E NO
USO DOS EDIFÍCIOS REGULAMENTAÇÃO
EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA E
COMBATE
PESQUISA
Figura 2.1 – Ações necessárias para redução de perdas em incêndios e suas relações
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maiores, tanto em termos de área como de altura, onde se aglomeram grande número de pessoas e
se concentram valores econômicos cada vez mais vultosos.
Tudo isto, a par da introdução de processos industriais cada vez mais complexos e do número
progressivo de grandes edifícios industriais, tem certamente determinado a tendência da
intensificação do número de incêndios e do montante de perdas no Brasil.
• compor para cada situação particular que aborda um sistema global que garanta níveis
adequados de segurança contra incêndio;
• simplicidade, de forma a ser facilmente compreendida e suficientemente prática. Esta
simplicidade indica que a regulamentação não deve incorporar detalhes técnicos específicos de
cada medida de prevenção e de proteção que recomenda (tais detalhes devem ser abordados em
documentos técnicos complementares pertinentes a campo da normalização).
Para ser possível o estabelecimento dos requisitos que compõem a regulamentação, de forma a
garantir a necessária simplicidade e praticidade, deve-se tomar por base uma redução da diversidade
definida pelos fatores determinantes de risco de incêndio, através de uma classificação tipológica
dos edifícios.
Além disso, considerando-se que existem duas fases, totalmente distintas, em que se implementem
nos edifícios as medidas de prevenção e de proteção contra incêndio – a fase de processo produtivo
e a fase de uso – pode-se dividir as regulamentações em duas categorias:
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3.2 Fiscalização
Estas duas categorias de regulamentação são complementares. Deve-se destacar, entretanto, que
aquela aplicada ao processo produtivo, ganha em importância na medida em que tem aplicação
anterior e permite estabelecer as condições básicas de segurança contra incêndio, sem as quais os
requisitos da outra estarão, pelo menos, comprometidos.
Para isto o poder público deve dispor de equipes de fiscalização em número suficiente, dotadas de
adequado preparo profissional.
Tais equipes devem ter também a função de orientar os profissionais no sentido de esclarecer
eventuais dúvidas existentes, de resolver casos particulares eventualmente não abrangidos pela
regulamentação e de avaliar soluções alternativas àquelas indicadas na regulamentação (já que não
se pode pretender uma total rigidez da regulamentação).
3.3 Normalização
Uma outra ação fundamental para a redução de perdas em incêndio diz respeito ao estabelecimento
de normas. A normalização de segurança contra incêndio além de propiciar o necessário
detalhamento técnico de distintos temas essenciais que dão a devida sustentação à regulamentação,
estabelece condições para uma outra ação ser levada à efeito, qual seja, a obtenção de equipamentos
que apresentem qualidade (totalidade de requisitos e características de um produto ou serviço que
estabelecem a sua capacidade de satisfazer determinadas necessidades).
O poder público também desempenha papel importante na ação referente à normalização, bem
como reconhece oficialmente os textos de norma produzidos.
3.4 Qualidade
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Para implantação destes procedimentos são necessários:
a) normalização apropriada;
b) capacitação laboratorial para a execução de ensaios;
c) habilitação de profissionais para avaliação de projetos, de funcionamento dos sistemas, etc.
3.5 Educação
Uma outra ação importante refere-se à educação que deve se processar em quatro níveis:
Em todos estes níveis, e especialmente nos dois primeiros, a participação do poder público é
decisiva, quer seja desenvolvendo campanhas, quer seja incentivando e criando cursos de formação.
3.6 Combate
O poder público deve responsabilizar-se pela criação e manutenção destes serviços, garantindo uma
média de, aproximadamente, 50 bombeiros e 6 veículos de combate por 100.000 habitantes (média
de cidades importantes da Europa) e garantindo um tempo máximo para atendimento de 5 minutos.
Toda e qualquer ocorrência de incêndio resulta de uma seqüência de eventos. (Alguns destes
eventos resultam de situações que circunscrevem o fogo, outros são resultado da ação humana). Se
esta seqüência pudesse ser interrompida o resultado final seria evitado. Portanto, quanto mais se
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conhece a respeito dos eventos que compõem o incêndio, tanto maior é a possibilidade de intervir e
reduzir as perdas em incêndio.
Para isto concorrem, decisivamente, a aquisição sistemática de dados de incêndio, seu competente
tratamento e a pesquisa científica e tecnológica.
Vê-se, portanto, que a estatística e a pesquisa associadas ao incêndio são ações de fundamental
importância para a redução de perdas em incêndio e dependem em grande medida do empenho do
poder público.
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