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Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho

Módulo: Segurança contra Incêndio em Edificações

Prof. João Claudino da Silva Filho, MSc.

SALVADOR - BAHIA
ÍNDICE

Página

SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFICAÇÕES ................................... 0


1 CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO ............ 2
1.1.1 REQUISITOS FUNCIONAIS ATENDIDOS PELOS EDIFÍCIOS .......................................... 2
1.1.2 COMPOSIÇÃO DOS ELEMENTOS DO SISTEMA GLOBAL.............................................. 6
2.1 ABORDAGEM DA QUESTÃO DA SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NOS
EDIFÍCIOS ........................................................................................................................... 9

2.2 FATORES CONDICIONANTES DO RISCO DE INCÊNDIO NOS EDIFÍCIOS 10

2.3 DEFINIÇÃO DOS RISCOS ASSOCIADOS AO INCÊNDIO ................................. 10

2.4 FATORES CONDICIONANTES DO RISCO DE INCÊNDIO............................... 14

2.5 TIPO DE OCUPAÇÃO DO EDIFÍCIO ..................................................................... 15

2.6 NATUREZA DO EDIFÍCIO ....................................................................................... 16

3 PLANO DE AÇÕES INTEGRADO PARA O CONTROLE DE PERDAS NOS


INCÊNDIOS........................................................................................................................ 19
3.1 AÇÕES NO PROJETO E NO USO DOS EDIFÍCIOS.......................................................... 20
3.2 FISCALIZAÇÃO ............................................................................................................ 23
3.3 NORMALIZAÇÃO ......................................................................................................... 23
3.4 QUALIDADE ................................................................................................................ 23
3.5 EDUCAÇÃO.................................................................................................................. 24
3.6 COMBATE ................................................................................................................... 24
3.7 ESTATÍSTICAS E PESQUISA ......................................................................................... 24

1
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFICAÇÕES
1 Concepção do Sistema de Segurança Contra Incêndio

A segurança contra incêndio dos edifícios não pode ser obtida através de soluções esporádicas e
díspares, pelo contrário, devem ter o sentido e um todo, composto por um conjunto de ações
coerentes, que se originam do perfeito entendimento dos objetivos da segurança contra incêndio e
dos requisitos funcionais a serem atendidos pelos edifícios.

Este conjunto de ações compõe o denominado Sistema de Segurança contra Incêndio.


Estabelecê-lo, para cada edifício, é responsabilidade de um conjunto de profissionais, com destaque
para o arquiteto, pela capacidade que o sistema tem de interagir com grande número de aspectos
associados ao projeto arquitetônico.

1.1.1 Requisitos funcionais atendidos pelos edifícios

Tendo em conta a seqüência de etapas do incêndio: início, crescimento no ambiente de origem,


combate, propagação para outros ambientes, evacuação do edifício, propagação para outros
edifícios; ruína parcial ou total do edifício; e tendo em conta os atributos dos edifícios seguros
contra incêndio, pode-se definir os requisitos funcionais eu devem ser atendidos pelos edifícios
seguros contra incêndio. Tais requisitos são os seguintes:

a) dificultar a ocorrência do princípio de incêndio;


b) dificultar a ocorrência da inflamação generalizada no ambiente de origem do incêndio (uma vez
que ocorreu o princípio de incêndio);
c) facilitar a extinção do incêndio antes da ocorrência da inflamação generalizada no ambiente de
origem do incêndio;
d) dificultar a propagação do incêndio para outros ambientes do edifício (uma vez que ocorreu a
inflamação generalizada no ambiente de origem do incêndio);
e) facilitar a fuga dos usuários do edifício;
f) dificultar a propagação do incêndio para outros edifícios;
g) não sofrer a ruína parcial ou total;
h) facilitar as operações de combate ao incêndio e de resgate de vítimas.

As disposições de segurança contra incêndio são denominadas medidas de prevenção de incêndio


e medidas de proteção contra incêndio e podem ser agrupadas de acordo com os requisitos
funcionais que visam garantir nos edifícios, a fim de que o risco de incêndio seja mantido em níveis
aceitáveis. Este grupo de medidas em torno de cada requisito funcional, conformam oito elementos
distintos a saber:

a) precaução contra o início do incêndio;


b) limitação do crescimento do incêndio;
c) extinção inicial do incêndio;
d) limitação da propagação do incêndio;
e) evacuação segura do edifício;
f) precaução contra a propagação do incêndio entre edifícios;
g) precaução contra o colapso estrutural;
h) rapidez, eficiência e segurança das operações de combate e resgate.

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Na Tabela 1.1, estão apresentados os referidos elementos onde se agrupam os conjuntos de medidas
de prevenção e de proteção contra incêndio, associados aos respectivos requisitos funcionais que
visam garantir nos edifícios e aos objetivos específicos da segurança contra incêndio.

Uma vez que, na prática, os riscos não são totalmente eliminados e que todos os requisitos
funcionais indicados são fundamentais para garantir a segurança contra incêndio dos edifícios,
todos os elementos indicados devem ser contemplados ao longo do processo produtivo e uso dos
edifícios, resultando na conformação de um sistema global de segurança contra incêndio.

As medidas de prevenção de incêndio são aquelas associadas ao elemento precaução contra o


início do incêndio e se destinam, exclusivamente, a prevenir a ocorrência do início do incêndio, ou
seja, controlar o risco de início de incêndio.

As medidas de proteção contra incêndio são aquelas destinadas a proteger a vida humana e os
bens materiais dos efeitos nocivos do incêndio que já se desenvolve no edifício. São necessárias ao
sistema global de segurança contra incêndio, na proporção em que as medidas de prevenção
venham a falhar, permitindo o surgimento do incêndio. Estas medidas compõem os seguintes
elementos do sistema global: limitação do crescimento do incêndio; extinção inicial do incêndio;
limitação de propagação do incêndio; precaução contra a propagação entre edifícios; evacuação
segura do edifício; precaução contra o colapso estrutural; e rapidez, eficiência e segurança das
operações de combate e resgate.

O elemento prevenção contra o início do incêndio é composto por medidas que visam controlar as
eventuais fontes de ignição e sua interação com materiais combustíveis (materiais passíveis de
sofrerem a ignição) de forma a evitar o surgimento de focos de incêndio.

O elemento limitação do crescimento do incêndio é composto por medidas (de proteção contra
incêndio) que visam dificultar, ao máximo, o crescimento do foco de incêndio (representado pelos
primeiros objetos ignizados), de forma que o incêndio não se generalize no ambiente de origem, o
que corresponderia a envolver todos os materiais combustíveis ali presentes e a elevar
excessivamente a temperatura do local.

O elemento extinção inicial do incêndio é composto por medidas (de proteção contra incêndio) que
visam facilitar a extinção do foco do incêndio, de forma que o incêndio não se generalize no
ambiente de origem.

O elemento evacuação segura do edifício é composto por medidas (de proteção contra incêndio)
que visam assegurar a fuga dos usuários do edifício, de forma que todos possam sair com rapidez e
sem sofrer injúrias. Em função das características do edifício e dos riscos envolvidos (oferecidos
pelo incêndio e pela própria evacuação), a evacuação do edifício deverá se processar a partir do
momento em que ocorrer a inflamação generalizada no ambiente de origem ou a partir do momento
em que o incêndio conseguir se propagar para outros ambientes do edifício.

O elemento precaução contra a propagação do incêndio entre edifícios é composto por medidas
(de proteção contra incêndio) que visam dificultar a propagação do incêndio para outros edifícios.
Isto se verifica quando o incêndio cresce, provocando a inflamação generalizada no ambiente de
origem ou, com maior facilidade, quando o incêndio se propaga do edifício. Neste sentido também
tem a função de dificultar a propagação do incêndio para outros edifícios.

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Tabela 1.1- Elementos do sistema de segurança contra incêndio associados aos requisitos
funcionais que visam garantir os respectivos objetivos específicos

ELEMENTO REQUISITOS FUNCIONAIS DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA


EDIFÍCIOS SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
Prevenção contra o início Dificultar a ocorrência do princípio do Segurança da vida humana
do incêndio incêndio Segurança da propriedade atingida
Limitação do crescimento Dificultar a ocorrência da inflamação Segurança da vida humana
do incêndio generalizada no ambiente de origem do Segurança da propriedade atingida
incêndio
Extinção inicial do Facilitar a extinção do incêndio antes da Segurança da vida humana
incêndio ocorrência da inflamação generalizada Segurança da propriedade atingida
no ambiente de origem do incêndio
Limitação da propagação Dificultar a propagação do incêndio Segurança da vida humana
do incêndio para outros ambientes do edifício Segurança da propriedade atingida
Evacuação segura do Assegurar a fuga dos usuários do Segurança da vida humana
edifício edifício

Precaução contra a Dificultar a propagação do incêndio Segurança da vida humana


propagação do incêndio para outros edifícios Segurança das propriedades adjacentes
entre edifícios
Precaução contra o colapso Não sofrer ruína parcial ou total Segurança da vida humana
estrutural Segurança da propriedade atingida
Segurança das propriedades adjacentes
Rapidez, eficiência e Facilitar as operações de combate ao Segurança da vida humana
segurança das operações incêndio e de resgate de vítimas Segurança da propriedade atingida
de combate e resgate Segurança das propriedades adjacentes

O elemento precaução contra o colapso estrutural é composto por medidas (de proteção contra
incêndio) que visam impedir a ocorrência de ruína parcial ou total do edifício. As altas temperaturas
provocadas pela inflamação generalizada no ambiente de origem do incêndio afetam, em função do
tempo de exposição, as propriedades mecânicas dos elementos estruturais, podendo enfraquecê-las
a ponto de provocar a perda da estabilidade.

Quando o incêndio se propaga no interior do edifício, a exposição dos elementos estruturais a ação
do calor se generaliza, ampliando a possibilidade de ocorrência de ruína.

O elemento rapidez, eficiência e segurança das operações de combate e resgate é composto por
medidas (de proteção contra incêndio) que visam assegurar as intervenções externas no sentido de
combater o incêndio e resgatar eventuais vítimas. Tais intervenções devem primar pela rapidez (de
serem iniciadas), eficiência e segurança daqueles que as realizam. Devem ocorrer, de preferência,
no estágio mais incipiente do incêndio, necessariamente enquanto o incêndio ainda não se propagou
no edifício. Entretanto, é indispensável mesmo quando da ocorrência da propagação do incêndio,
pois ainda neste momento é tempo de se evitar acidentes maiores tais como perdas de edifício,
propagação do incêndio para edifícios vizinhos.

Na Tabela 1.2, está apresentada a estrutura do sistema de segurança contra incêndio, com seus
oito elementos (oito categorias de medidas), aos quais estão associados a natureza das medidas que
os constituem (de prevenção e de proteção), os respectivos objetivos específicos e as diferentes
etapas do desenvolvimento do incêndio.

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Tabela 1.2- Principais medidas de prevenção e de proteção contra incêndio associadas aos
elementos do sistema global de segurança contra incêndio

ELEMENTOS PRINCIPAIS MEDIDAS DE PREVENÇÃO E PROTEÇÃO CONTRA


INCÊNDIO
RELATIVAS PROCESSO PRODUTIVO DO EDIFÍCIO RELATIVAS AO USO DO EDIFÍCIO
Precaução contra o início do * Correto dimensionamento e execução de instalações de * Correto dimensionamento e execução de
incêndio serviço instalações do processo
* Distanciamento seguro entre fontes de calor e materiais * Correta estocagem e manipulação de líquidos
combustíveis inflamáveis e combustíveis e de outros produtos
* Provisão de sinalização de emergência perigosos.
* Manutenção preventiva e corretiva dos equipa-
mentos e instalações que podem provocar o
início do incêndio
* Conscientização do usuário para a prevenção
do incêndio.
Limitação do crescimento do * Controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados * Controle da quantidade de materiais combustíveis
incêndio aos elementos construtivos trazidos para o interior do edifício
* Controle das características de reação ao fogo dos materiais
incorporados aos elementos construtivos
Extinção inicial do incêndio * Provisão de equipamentos portáteis de combate * Manutenção preventiva e corretiva dos equipa-
* Provisão de sistema de hidrantes e mangotinhos mentos de proteção destinados a extinção
* Provisão de sistema de chuveiros automáticos inicial do incêndio
* Provisão de sistema de detecção e alarme * Elaboração de planos para extinção inicial do
* Provisão de sinalização de emergência incêndio
* Treinamento dos usuários para efetuar o com-
bate inicial do incêndio
* Formação e treinamento de brigadas de incêndio
Limitação da propagação do * Compartimentação horizontal * Manutenção preventiva e corretiva dos equipa-
incêndio * Compartimentação vertical mentos destinados a compor a compartimenta-
* Controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados ção horizontal e vertical
aos elementos construtivos (na envoltória do edifício) * Controle da disposição de materiais combustíveis
* Controle das características de reação ao fogo dos materiais nas proximidades das fachadas
incorporados aos elementos construtivos
Evacuação segura do edifício * Provisão de sistema de detecção e alarme * Manutenção preventiva e corretiva dos equipa-
* Provisão de sistema de comunicação de emergência mentos destinados a garantir a evacuação segura
* Provisão de rotas de fuga seguras * Elaboração de planos de abandono do edifício
* Provisão de sistema de iluminação de emergência * Treinamento dos usuários para evacuação de
* Provisão de sinalização de emergência emergência
* Provisão de sistema de controle do movimento de fumaça * Formação e treinamento de brigadas de evacua-
* Controle das características de reação ao fogo dos materiais ção de emergência
incorporados aos elementos construtivos
Precaução contra a propaga- * Distanciamento seguro entre edifícios * Controle da disposição de materiais combustíveis
ção do incêndio entre edifícios * Resistência ao fogo da envoltória do edifício nas proximidades das fachadas.
* Controle das características de reação ao fogo dos materiais
incorporados aos elementos construtivos (na envoltória do
edifício)
Precaução contra o colapso * Resistência ao fogo dos elementos estruturais
estrutural * Resistência ao fogo da envoltória do edifício
Rapidez, eficácia e seguran- * Provisão de meios de acesso dos equipamentos de combate * Manutenção preventiva e corretiva dos equipa-
ça das operações de comba- as proximidade do edifício mentos de proteção destinados ao combate
te e resgate * Provisão de equipamentos portáteis de combate * Elaboração de planos de combate ao incêndio
* Provisão de sistema de hidrantes e mangotinhos * Formação e treinamento de brigadas de incêndio
* Provisão de meios de acessos seguros da brigada ao interior * Disposição na entrada do edifício de informa-
do edifício ções úteis ao combate.
* Provisão de sistema de controle do movimento de fumaça
* Provisão de sinalização de emergência

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1.1.2 Composição dos elementos do sistema global

1.1.2.1 Caracterização do sistema global

Na Composição do sistema global para cada edifício, em particular, o conjunto de medidas que irá
constituir cada elemento deve ser estabelecido, tendo em conta, evidentemente, a necessidade de
fazer frente ao nível assumido pelo risco de incêndio (de início, de crescimento, de propagação, à
vida humana, à propriedade), garantindo, para cada elemento, uma efetividade compatível com os
distintos aspectos deste risco.

Adicionalmente, não se deve deixar de considerar os aspectos econômicos e funcionais envolvidos


na questão. E, sem dúvida, muito importante a necessidade de se alcançar um equilíbrio entre gastos
e prováveis benefícios, já que nem sempre o dispêndio excessivo com segurança contra incêndio
resulta, de fato, em melhorias das condições de segurança e, também, a partir de determinado nível
de investimento os benefícios podem ser irrisórios.

Do ponto de vista funcional, o conjunto de medidas de prevenção e de proteção contra incêndio não
devem introduzir inconveniências que venham a restringir o livre desenvolvimento das atividades
no interior do edifício, dificultando sua ocupação e uso.

Desta forma, as medidas de prevenção e proteção contra incêndio devem ser selecionados e
conjugados não somente com o sentido de estabelecer a devida contraposição aos riscos, mas
também, visando alcançar um adequado balanço entre custos e benefícios e a preservação da
perfeita funcionalidade do edifício.

As medidas que compõem o sistema global podem ser divididas em duas categorias: as relativas ao
processo produtivo do edifício; e as relativas ao uso do edifício, que são providas durante as fases
de operação e manutenção do edifício.

Na Tabela 1.2, estão apresentadas as principais medidas de prevenção e de proteção contra


incêndio, associadas aos distintos elementos do sistema global de segurança contra incêndio.

1.1.2.2 Confiabilidade do sistema global

A confiabilidade do sistema global, traduzida pela probabilidade de funcionar conforme o esperado,


ou seja, garantindo níveis adequados de segurança contra incêndio durante a operação do edifício e
mantendo reduzidos os níveis de risco associados ao incêndio, depende da confiabilidade dos seus
elementos constituintes. Esta, por sua vez, depende da confiabilidade e efetividade de cada uma das
medidas que compõem o elemento.

Efetividade das medidas de prevenção e de proteção contra incêndio, deve ser entendida como a
probabilidade de cumprir sua função, que depende de quanto aquilo que foi previsto no projeto
corresponde às condições reais existentes no momento do incêndio.

Ressalta-se, desta maneira, a importância de que as medidas e os dispositivos que as compõem,


sejam dimensionadas seguindo as regras de boa prática, de que seus componentes tenham qualidade
assegurada, que sejam instalados/construídos adequadamente (de acordo com o previsto no projeto),
que sejam operados de forma correta e que sejam mantidos com constância e precisão.

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O sistema global de segurança contra incêndio, bem como cada um dos seus oito elementos,
funcional como um sistema de componentes em série, onde a falha de qualquer medida implica na
falha do elemento; a falha do elemento, por sua vez, implica na falha do sistema. Falha, neste caso,
deve ser entendida como não funcionar conforme o esperado. Dependendo da importância da
medida e do respectivo elemento que apresentar falhas, as conseqüências podem assumir
proporções catastróficas, onde não se exclui a ocorrência de mortes.

Para garantir a confiabilidade de elementos críticos do sistema global, considerando determinada


situação particular de risco, pode ser necessário dotá-los, assim como certas medidas que os
constituem, de redundância paralela. Desta forma, a mesma função será cumprida por, pelo menos,
duas disposições independentes; assim a falha de uma delas não propiciará a falha da medida ou
falha do elemento.

1.1.2.3 Características das medidas do sistema global

É necessário destacar que a confiabilidade do sistema global não depende somente da


confiabilidade e efetividade das medidas adotadas, dimensionadas e instaladas/construídas, durante
o processo produtivo do edifício, visto que o sistema incorpora medidas que devem ser
implementadas durante o uso do edifício. Tais medidas apresentam importância vital para que sejam
atingidos níveis satisfatórios de segurança contra incêndio, podendo ser divididas em três
categorias, como indicado a seguir.

Na primeira categoria, enquadram-se aquelas que visam complementar as medidas adotadas durante
o processo produtivo, destacando-se como principais as seguintes:

a) correto dimensionamento e execução das instalações do processo levado a efeito no interior do


edifício (para caso de ocupação industrial);
b) correta estocagem e manipulação de líquidos e gases inflamáveis ou combustíveis e de outros
produtos perigosos;
c) controle de quantidade de materiais combustíveis trazidos para o interior do edifício;
d) controle da disposição de materiais combustíveis nas proximidade das fachadas.

Na segunda categoria, enquadram-se aquelas que visam em perfeitas condições funcionais as


medidas adotadas na fase do processo produtivo do edifício e os equipamentos e instalações que
podem tornar-se fontes de ignição. Devem ser destacadas:

a) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e instalações que podem provocar o início
do incêndio;
b) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados à extinção inicial do incêndio;
c) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a compor a compartimentação
horizontal e vertical;
d) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a garantir a evacuação segura
do edifício;
e) manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados ao combate.

Na terceira categoria, enquadram-se as medidas que visam organizar as ações destinadas a evitar ou
enfrentar uma situação de incêndio, a saber:

a) conscientização dos usuários para prevenção do incêndio;


b) elaboração de planos para extinção inicial do incêndio;
c) treinamento dos usuários para efetuar o combate inicial ao incêndio;

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d) formação e treinamento de brigadas de incêndio;
e) elaboração de planos de abandono do edifício;
f) elaboração de planos de abandono do edifício;
g) treinamento dos usuários para evacuação de emergência;
h) elaboração de planos de combate a incêndios;
i) disposição, na entrada do edifício, de informações úteis ao combate.

As medidas passivas de proteção contra incêndio relativas a aspectos construtivos do edifício


(providas no processo produtivo) podem ser divididas em duas categorias: as medidas passivas e
as medidas ativas.

As medidas passivas de proteção contra incêndio são aquelas incorporadas ao sistema


construtivo, sendo funcionais durante a situação normal do edifício, e que reagem passivamente ao
desenvolvimento do incêndio, não estabelecendo condições propícias ao seu crescimento e
propagação, não permitindo o colapso estrutural, facilitando a fuga dos usuários e garantindo a
aproximação e ingresso no edifício para o desenvolvimento das ações de combate. Estão vinculadas
a distintos elementos do sistema global, destacando-se as seguintes:

a) controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados aos elementos construtivos;


b) controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos
construtivos;
c) compartimentação horizontal;
d) compartimentação vertical;
e) provisão de rotas de fuga seguras;
f) resistência ao fogo dos elementos estruturais;
g) resistência ao fogo da envoltória do edifício;
h) distanciamento seguro entre edifícios;
i) provisão de meios de acesso dos equipamentos de combate às proximidades do edifício;
j) provisão de meios de acesso seguros da brigada ao interior do edifício.

Estas medidas têm capacidade de influenciar, decisivamente, na escolha dos materiais constituintes
do edifício (especialmente os de acabamento), na definição e distribuição dos espaços que
compõem o edifício, na composição da fachada do edifício, na circulação interna horizontal e
vertical, na implantação do edifício no lote e nos acessos imediatos. Desta forma, tais medidas
devem ser, obrigatoriamente, consideradas e resolvidas no projeto arquitetônico do edifício. Além
disso, crescem em complexidade e em condições de influenciar no projeto arquitetônico, à medida
em que o edifício assume proporções avantajadas ou apresenta características que definem riscos
elevados.

As medidas ativas de proteção contra incêndio possuem como característica o fato de, ao
cumprirem seu papel quando da ocorrência do incêndio, fazê-lo de forma ativa, ou seja, acionadas
manual ou automaticamente, em resposta aos estímulos provocados pelo fogo. Estão vinculadas a
distintos elementos do sistema global, destacando-se as seguintes:

a) provisão de extintores de incêndio;


b) provisão de sistemas de hidrantes e mangotinhos;
c) provisão de sistema de chuveiros automáticos;
d) provisão de sistema de detecção e alarme;
e) provisão de sinalização de emergência;
f) provisão de sistema de comunicação de emergência;
g) provisão de sistema de iluminação de emergência;

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h) provisão de sistema de controle do movimento de fumaça.

A maior parte destas medidas, consistem de instalações prediais, como por exemplo, as instalações
elétricas para iluminação de emergência e as instalações hidráulicas para os hidrantes. Estas
medidas também devem ser consideradas quando da execução do projeto arquitetônico pois
interagem fortemente com a distribuição dos espaços e com a circulação interna horizontal e
vertical.

Pode-se dizer que as medidas passivas de proteção contra incêndio adquirem importância destacada
em seis elementos do sistema global de segurança contra incêndio, a saber:

a) limitação do crescimento do incêndio;


b) limitação da propagação do incêndio;
c) precaução contra a propagação do incêndio entre edifícios;
d) precaução contra o colapso estrutural;
e) evacuação segura do edifício;
f) rapidez, eficiência e segurança das operações de combate e resgate.

Os quatro primeiros elementos indicados são compostos, unicamente, por medidas passivas de
proteção. No quinto elemento, as medidas ativas de proteção são complementares, pois visam
garantir a efetividade da medida principal intitulada provisão de rotas de fuga seguras, que é
passiva. No último elemento indicado, a de ação dos bombeiros torna-se lenta, ineficiente e
insegura caso as duas medidas passivas de proteção que o integram, denominadas provisão de
meios de acesso dos equipamentos de combate às proximidades do edifícios e provisão de
meios de acesso seguros da brigada ao interior do edifício, não apresentem um bom
desempenho.

O elemento extinção inicial do incêndio é composto, unicamente, por medidas ativas de proteção
contra incêndio.

O elemento precaução contra incêndio, por sua vez, é composto, unicamente, por medidas de
prevenção de incêndio. Uma delas deve ser destacada como capaz de influenciar acentuadamente na
distribuição dos espaços no edifício. Trata-se do distanciamento seguro entre fontes de calor e
materiais combustíveis, bastante importante, por exemplo, para edifícios industriais, que se associa
ao arranjo físico dos materiais e equipamentos contidos no edifício.

2.1 Abordagem da Questão da Segurança Contra Incêndio nos Edifícios

A segurança contra incêndio é um objetivo que deve ser perseguido durante todas as etapas
desenvolvidas no processo produtivo e uso do edifício. Deve ser considerada desde a concepção e
desenvolvimento do anteprojeto do edifício, passando pelo projeto e construção, e adentrando às
fases de operação e manutenção. Em nenhuma destas fases o problema do incêndio deve ser
menosprezado, sobre risco de serem introduzidas inconveniências funcionais, dispêndios excessivos
ou níveis inadequados de segurança contra incêndio. Na fase de projeto, entretanto, a questão deve
ser especialmente considerada, pois aí deve ser estabelecida a estrutura básica da segurança contra
incêndio do edifícios. No projeto arquitetônico, tal estrutura tem origem e se define essencialmente.

De início, e com o intuito de adotar soluções arquitetônicas que melhor as compatibilizem, devem
ser consideradas as limitações impostas pelas necessidades do usuário (ou seja, pela função do
edifício); pelas regulamentações compulsórias de segurança contra incêndio; pelo prazo e custo de
construção; pelas condições e custo de manutenção.

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Para que estas consideração possam ser feitas, é necessário acumular um conhecimento
aprofundado das relações mantidas entre aspectos arquitetônicos e as disposições que conferem, ao
edifício, níveis apropriados de segurança contra incêndio. Além disso, tais disposições e suas inter-
relações devem ser intrinsecamente conhecidas para a execução do projeto arquitetônico, pois uma
parte considerável da segurança contra incêndio será resolvida neste momento, quando também, a
totalidade do problema, deve ter sua solução encaminhada.

Durante a construção do edifício deve-se tratar de garantir que tudo aquilo que foi disposto no
projeto, acerca do controle do risco de incêndio seja adequadamente construído/instalado, de forma
a assegurar a confiabilidade e a efetividade previstas. Além disso, as disposições resultantes da fase
de projeto devem ser apropriadamente operadas e mantidas. A facilidade com que isto se processa e
os custos envolvidos devem ser, necessariamente, considerados durante o processo produtivo do
edifício.

Porém, isto ainda não é tudo, uma vez que, parte significativa das disposições de segurança contra
incêndio são implementadas na fase de operação do edifício e dependem, fundamentalmente, das
regulamentações compulsórias eventualmente existentes e da conscientização do usuário.

2.2 Fatores Condicionantes do Risco de Incêndio nos Edifícios

O sistema global de segurança contra incêndio, a ser estabelecido para cada situação prática que se
enfrenta, ou seja, para cada novo edifício que se projeta, deve ser calcado no profundo
conhecimento das particularidade do risco de incêndio que se deseja restringir. O sistema global
nada mais é, afinal, do que uma contraposição ao risco de incêndio resultante das atividades
desenvolvidas no edifício e do ambiente que as circunscreve.

2.3 Definição dos riscos associados ao incêndio

O risco associado ao incêndio pode ser dividido em cinco categorias, a saber:

a) risco de início ao incêndio;


b) risco de crescimento do incêndio;
c) risco de propagação do incêndio;
d) risco à vida humana;
e) risco à propriedade.

Com relação as três primeiras categorias de risco pode-se dizer que se relacionam à evolução do
incêndio no edifício e à propagação do incêndio para edifícios vizinhos, sendo um, conseqüência
direta do outro.

Os incêndios típicos apresentam, em sua evolução três fases características: a fase inicial, a fase de
inflamação generalizada e a fase de extinção. Na fase inicial, o incêndio se restringe a um foco
representado pela combustão do primeiro objeto ignizado e, eventualmente, alguns outros objetos
em suas proximidades; a temperatura do ambiente nesta fase eleva-se gradualmente. A fase de
inflamação generalizada vem a seguir como conseqüência do envolvimento simultâneo de grande
quantidade de materiais combustíveis no incêndio e com a elevação acentuada da temperatura; nesta
situação a sobrevivência humana não é possível no recinto afetado. Quando cerca de 80% dos
materiais combustíveis existentes no recinto já foi consumido, o incêndio entra na fase de extinção,
acontecendo então o decréscimo da temperatura. Na figura 1.1 está apresentado um gráfico
demonstrativo da evolução típica de um incêndio com as suas três fases características.

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Figura 1.1 – Evolução típica do incêndio em compartimentos.
Temperatura

Período de
crescimento
Período de
decaimento
Incêndio totalmente
desenvolvido

Tempo

Numa situação normal, os materiais combustíveis e uma variedade de fontes de calor coexistem,
sem que haja a ocorrência de qualquer dano. Entretanto, a interação de ambos, de forma contínua ou
a manipulação/utilização de um deles, de forma indevida, é potencialmente capaz de provocar
danos. A maioria dos incêndios se inicia nos materiais contidos nos edifícios (não incorporados ao
sistema construtivo) a partir de pequenas fontes de calor, de tal forma que ocorrendo a
decomposição do material combustível pelo calor, são liberados gases inflamáveis que sofrem
ignição. Se a fonte de calor for pequena ou a massa do material a ser ignizado for grande ou a sua
temperatura de ignição for alta, somente irão ocorrer danos locais sem a progressão do incêndio.

Diferentes materiais combustíveis necessitam receber diferentes níveis de energia (calor) para que a
ignição possa ocorrer; e as perdas de calor, durante a combustão, necessitam ser menores que a
soma do calor provenientes da fonte externa e do calor gerado no processo de combustão, para a
ignição se sustentar.

Se a ignição definitiva de algum objeto for alcançado, este continuará a queimar, desenvolvendo
calor e produtos de decomposição. A temperatura do compartimento subirá, progressivamente, e a

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fumaça e outros gases quentes se acumularão junto ao teto. Há a possibilidade do material
envolvido queimar totalmente, sem proporcionar o envolvimento dos outros materiais combustíveis
presentes no ambiente. Entretanto, se houver um meio para que o fogo se alastre aos objetos
adjacentes, através da condução, da convecção ou da radiação térmica, a progressão das chamas irá
ocorrer, ocasionando a elevação da temperatura do compartimento e a emissão de fumaça e gases.

Se houver alimentação suficiente de oxigênio, assegurada pela comunicação direta ou indireta do


compartimento com o exterior, o fogo progredirá ao próximo estágio, quando a temperatura começa
a subir rapidamente. O ambiente é inundado pela fumaça, os objetos e as superfícies do
compartimento são aquecidos por convecção e radiação, e os materiais combustíveis emitem gases
inflamáveis. Isto leva a uma inflamação generalizada, quando todo o compartimento é envolvido
pelo fogo e os gases sem queimar são emitidos pelas janelas e queimam no exterior. O fogo atinge
rapidamente, sua máxima severidade e, se não for controlado, a combustão continuará a uma razão
constante, que depende dos materiais combustíveis, da ventilação e da envoltória do
compartimento. Quando, aproximadamente, 80% do combustível for consumido, o fogo começará a
se extinguir.

Durante a fase de inflamação generalizada do compartimento de origem do incêndio, os gases


quentes e a fumaça podem ser transferidos, em grande quantidade, para outros setores do edifício,
através, principalmente, das aberturas de comunicação entre os compartimentos. O fogo se
espalhará, então para outros setores, onde sua razão de crescimento será acelerada em função da alta
temperatura. Nestes locais, os materiais sofrerão a ignição e queimarão muito mais facilmente e
rapidamente que no compartimento onde o incêndio se iniciou.

Quando a inflamação generalizada é atingida e altas temperaturas são alcançadas no compartimento


de origem do incêndio, passarão a ocorrer danos significativos à propriedade, afetando materiais e
equipamentos contidos no compartimento e o próprio edifício, que poderá sofrer sua ruína total, em
função da perda da estabilidade de seus elementos de vedação e estruturais. Com a eventual
propagação do incêndio no interior do edifício, ampliar-se-ão acentuadamente os danos e o risco de
colapso estrutural.

A partir da inflamação generalizada no ambiente de origem do incêndio, as altas temperaturas


atingidas e os gases quentes emitidos pelas janelas e por eventuais aberturas nas fachadas ou
cobertura (provocada pela ruína parcial do edifício) poderão ocasionar a propagação do incêndio
aos edifícios adjacentes. Os mecanismos envolvidos neste processo serão a radiação térmica emitida
para o exterior pelo ambiente incendiado e a convecção, que provocarão a incidência de fluxos de
calor sobre as fachadas adjacentes. Propagando-se o incêndio no interior do edifício, aumentará a
área de emissão destes fluxos de calor para fachadas adjacentes, facilitando assim a propagação do
incêndio entre edifícios.

Risco de início de incêndio deve ser entendido como a probabilidade de surgimento de um foco de
incêndio a partir da interação entre fontes de calor presentes no edifício e os materiais combustíveis
contidos ou integrantes do edifício.

O risco de início de incêndio está primordialmente relacionado com as atividades desenvolvidas


no edifício. Portanto, a conscientização dos usuários para esta questão exerce papel fundamental
para a sua redução. Esta categoria de risco pode ser controlada através da adoção de medidas de
prevenção de incêndio durante o processo produtivo e uso do edifício, assumindo, nesta segunda
situação importância destacada.

12
Risco de crescimento do incêndio deve ser entendido como a probabilidade de foco de incêndio
evoluir e provocar a inflamação generalizada no compartimento de origem do incêndio, ou seja, a
probabilidade, do incêndio passar da fase inicial para a fase de inflamação generalizada.

Risco de propagação do incêndio deve ser entendido como a probabilidade do incêndio, que
atingiu a inflamação generalizada no compartimento de origem, propagar-se para outros
compartimentos do edifício e/ou edifícios adjacentes.

Risco à propriedade deve ser entendido como a probabilidade dos fenômenos associados ao
incêndio (produção de fumaça, de gases e de calor) provocarem danos aos materiais e equipamentos
contidos no edifício, bem como ao próprio edifício (seus elementos construtivos) e aos edifícios
adjacentes.

Os danos à propriedade aumentam, gradativamente, a partir do momento em que o incêndio se


inicia (que depende do risco de início de incêndio), evoluindo de sua fase inicial à fase de
inflamação generalizada (que depende do risco de crescimento do incêndio) e daí, se propagando
aos outros setores do edifício ou aos outros edifícios (que depende do risco de propagação do
incêndio). Considerando-se esta situação, unicamente pelo lado do risco, pode-se dizer que quanto
maior for o risco de início de incêndio maior será o risco à propriedade; quanto maior for o risco
de crescimento do incêndio maior será o risco à propriedade e quanto maior for o risco de
propagação do incêndio maior será o risco à propriedade. Assim sendo, quando se busca
controlar estas três categorias básicas de risco, associados à evolução do incêndio, pretende-se
controlar em última análise o risco à propriedade.

Adicionalmente, quanto mais suscetível for o sistema construtivo à ação do incêndio (ação do calor
gerado no incêndio) maior será o risco à propriedade. Os danos à propriedade ocasionados pelo
colapso estrutural são sempre os mais elevados, pois partes do edifício não envolvidos pelo
incêndio são afetadas, inclusive os edifícios vizinhos.

Risco à vida humana deve ser entendido como a probabilidade dos fenômenos associados ao
incêndio (deficiência de oxigênio, gases nocivos, fumaça e calor) provocarem injúria aos ocupantes
do edifício (usuários e pessoas que efetuam as intervenções de combate e resgate).

Da mesma maneira com que os três riscos básicos, associados à evolução do incêndio, definem o
risco à propriedade, definem também o risco à vida humana. O mesmo se pode afirmar com relação
à susceptibilidade do sistema construtivo à ação do incêndio, que amplia o risco à propriedade (pelo
aumento da probabilidade de ocorrência de ruína parcial ou total do edifício) e, consequentemente,
implica em uma majoração importante do risco à vida humana.

As cinco categorias de risco, de acordo com o que foi apresentado até aqui, apresentam uma forte
relação de interdependência, de tal forma que, tudo que se providencia com o sentido de controlar
uma destas categorias, redunda no controle das outras. Uma exceção a esta regra se refere ao risco à
vida humana, pois enquanto conseqüência de todas as outras categorias de risco, se beneficia de
todos os controles efetuados. Sendo o risco mais importante a ser controlado, motiva o controle dos
outros e justifica controles exclusivos que não resultam em benefícios aos demais riscos. Este
controle exclusivo diz respeito à evacuação segura do edifício.

13
2.4 Fatores condicionantes do risco de incêndio

O risco de incêndio é determinado por fatores inerentes a cada edifício, por isto, é necessário
classificar os edifícios tendo em conta a sistematização dos riscos e, consequentemente, a definição
das medidas de segurança contra incêndio (prevenção e proteção).

São quatro os fatores que contribuem para a definição do risco de incêndio:

a) características da população do edifício;


b) tipo de ocupação do edifício;
c) natureza do edifício;
d) localização do edifício.

Cada um destes fatores é composto por distintas variáveis, que assumem características particulares
à cada situação prática, definindo tipologias diferenciadas de edifícios e, portanto, de riscos, que
devem ser tratados de forma específica.

Características da população do edifício

Quanto às características da população do edifício, as seguintes variáveis desempenham papel


importante na definição do risco de incêndio:

a) população total do edifício;


b) distribuição da população do edifício;
c) grau de permanência da população no edifício;
d) composição da população fixa flutuante;
e) condições físicas, psicológicas e culturas da população;
f) distribuição etária da população.

As variáveis relacionadas às características da população somente têm influência considerável


para a definição do risco de início de incêndio, do risco de crescimento do incêndio e do risco à
vida humana.

O início do incêndio depende, significativamente, da atuação da população do edifício, uma vez que
grande parte das causas de incêndio resultam de atos inseguros ou negligentes, relacionados,
principalmente, às condições psicológicas e culturas da população.

O risco à vida humana é influenciado pelas variáveis associadas às características da população


do edifício na medida em que, quanto maior for a população total do edifício e quanto mais
desfavorável for a distribuição da população no edifício, maior será o tempo para evacuação do
edifício, mais perigosos serão os caminhos a percorrer para serem alcançados locais seguros e,
portanto, maior será o risco de ocorrência de injúrias. Uma outra contribuição importante ao risco à
vida humana é dada pelas variáveis que determinam a capacidade de reação dos usuários do
edifício frente a uma situação de perigo ( em nosso caso, estabelecida pelo incêndio), quais sejam:

a) composição da população fixa e flutuante: a população flutuante apresenta, via de regra, um


grau inadequado de conhecimento do edifício, o que dificulta, sobremaneira, a reação e as
expõe a riscos mais acentuados;
b) população total do edifício e distribuição da população no edifício: quanto maior for a
população do edifício e maior for o contato visual e auditivo que apresentam, mais será a

14
facilidade com que um eventual foco de pânico se generalize tornando a população de maneira
geral mais susceptível à ação danosa dos fenômenos físicos associados ao incêndio;
c) condições físicas, psicológicas e culturais da população: as condições psicológicas e culturais
da população do edifício podem estabelecer a tendência de surgimento de pânico em caso de
incêndio. As condições físicas e psicológicas definem a capacidade da população (ou de alguns
de seus indivíduos) de reagir adequadamente, de forma independente, rápida e contínua;
d) distribuição etária da população: esta variável, em última análise, define a variável condições
físicas e psicológicas da população, portanto atua de maneira semelhante a esta sobre o risco à
vida humana.

O risco de crescimento do incêndio é influenciado pelas variáveis associadas às características da


população do edifício na medida em que a atuação humana no princípio de incêndio é muito
importante no sentido de extinguir rapidamente o foco de incêndio impedindo seu crescimento. As
variáveis que têm papel de destaque nesta questão são:
a) distribuição da população no edifício: uma vez que podem existir setores do edifício, onde o
incêndio venha a originar-se, que não contam com a presença humana;
b) grau de permanência da população no edifício: determinados setores do edifício ou todo o
edifício podem passar muitas horas sem a presença humana, restringindo a possibilidade de
rápida intervenção neste período;
c) composição da população fixa e flutuante: teoricamente só a população fixa do edifício
estaria preparada para intervir sobre o foco de incêndio, pois somente seus componentes
poderia ser treinados para esta ação;
d) condições físicas, psicológicas e culturas da população e distribuição etária da população:
tem-se aqui duas variáveis que definem a maneira pela qual a população do edifício (ou parte
dela) poderá reagir frente a uma situação de princípio de incêndio; dependendo de suas
características pode-se esperar ou não a intervenção rápida no sentido de extinguir o foco de
incêndio.

2.5 Tipo de ocupação do edifício

Quanto ao tipo de ocupação do edifício, destacam-se as seguintes variáveis como determinantes do


risco de incêndio:

a) natureza das atividades e processos desenvolvidos no edifício;


b) potencial térmico acidental (relacionado à quantidade de materiais combustíveis trazidos ao
interior do edifício);
c) tipos de equipamentos utilizados nas atividades e processos desenvolvidos no edifício.

Todas estas variáveis têm influência importante sobre o risco de início de incêndio, conforme
apresentado a seguir:

a) natureza das atividades e processos desenvolvidos no edifício e tipos de equipamentos


utilizados: implicam na existência de fontes de calor e aproximação destas a materiais
combustíveis;
b) potencial térmico acidental: implicam em concentração de materiais combustíveis e
aproximação destes a fontes de calor;
c) tipos de materiais armazenados e manipulados: implicam na maior ou menor facilidade de
sofrerem a ignição e de sustentarem a combustão.

As variáveis potencial térmico e tipos de materiais armazenados e manipulados são as que têm
maior potencial para influenciar no risco de crescimento do incêndio pois definem a concentração

15
de materiais combustíveis e maior ou menor facilidade de sofrerem a ignição e de sustentarem a
combustão. Todos estes aspectos são decisivos para o incêndio ingressar na fase de inflamação
generalizada.

Estas mesmas duas variáveis também são fundamentais à definição do risco de propagação do
incêndio. Em primeiro lugar, porque têm papel decisivo na severidade atingida pelo incêndio (que
traduz a razão de desenvolvimento de calor em função do tempo, ou seja, elevação da temperatura
do compartimento no tempo). Quanto maior for o potencial térmico, maior será a duração do
incêndio ou maior será a temperatura atingida ou ambos; além disso, a forma e as características
térmicas dos materiais (que são funções do tipo de materiais armazenados) influem na velocidade
de combustão, ou seja, na razão de desenvolvimento de calor e na duração do incêndio. Quanto
maior for a severidade atingida pelo incêndio, maiores serão as chances de propagação tanto no
interior do edifício, como para edifícios adjacentes. Em segundo lugar, porque a maior concentração
de materiais combustíveis e a maior facilidade com que sofrem a ignição propiciam o alastramento
do fogo com maior rapidez.

Todas estas variáveis, influenciando de uma ou de outra maneira, os três riscos básicos (de início,
de crescimento e de propagação do incêndio), concorrem para exacerbar o risco à propriedade e o
risco à humana. Ambos, entretanto, podem receber a colaboração especial da variável tipos de
materiais vida armazenados e manipulados, pois a presença de materiais perigosos em termos de
reatividade, radioatividade ou toxidade (dos materiais entre si ou dos produtos de combustão)
podem agravar consideravelmente estas duas categorias de risco.

2.6 Natureza do edifício

Quanto à natureza do edifício, destacam-se as seguintes variáveis como determinantes do risco do


incêndio:

a) materiais de construção utilizados e técnicas aplicadas;


b) sistema estrutural adotado;
c) instalação de serviço existente;
d) distribuição dos espaços;
e) forma do edifício;
f) volume do edifício;
g) altura total do edifício;
h) número de pavimentos;
i) área total do edifício;
j) área de cada pavimento;
k) aberturas de ventilação;
l) potencial térmico permanente (relacionado à quantidade de materiais combustíveis
incorporados ao sistema construtivo).

As variáveis instalações de serviços existentes, materiais de construção utilizados e técnicas


aplicadas e potencial térmico permanente têm capacidade de interferir no risco de início de
incêndio. A primeira, interfere quando constituída por instalações elétricas, ou quaisquer outras,
que apresentem condições de gerar calor em quantidade suficiente para provocar a ignição de
materiais combustíveis existentes no edifício. As outras duas, quando implicam na concentração de
materiais combustíveis e em maior ou menor facilidade de sofrerem e/ou de sustentarem a ignição.

O risco de crescimento de incêndio recebe influência das variáveis materiais de construção


utilizados e técnicas aplicadas, potencial térmico permanente e aberturas de ventilação. As

16
duas primeiras têm influência, por poderem contribuir para o aumento de concentração de materiais
combustíveis, além de facilitarem o alastramento do fogo através de materiais de revestimentos
combustíveis. A terceira interfere, por se constituir nos meios de ingresso de oxigênio necessário
para alimentar a combustão, permitindo que o evento atinja a fase de inflamação generalizada.

O risco de propagação do incêndio recebe interferência de todas as variáveis relativas à natureza


do edifício, da seguinte maneira:

a) materiais de construção utilizados e técnicas aplicadas, potencial térmico permanente e


aberturas de ventilação: estas variáveis isoladamente e em conjunto, têm a capacidade de
interferir na severidade do incêndio, facilitando a propagação do incêndio tanto no interior do
edifício, como para edifícios adjacentes;
b) materiais de construção utilizados e técnicas aplicadas: especialmente os materiais de
revestimento combustíveis que, em função da facilidade com que sofrem a ignição, podem
facilitar a propagação do incêndio, ao ignizarem-se quando da incidência de fluxos de calor
emitidos a partir do compartimento de origem do incêndio, tanto em outros setores do edifício,
quanto em edifícios adjacentes;
c) materiais de construção utilizados e técnicas aplicadas e sistema estrutural adotado: estas
variáveis definem a resistência ao fogo das vedações entre compartimentos, da envoltória do
edifício e dos elementos estruturais, que sendo insuficientes (permitindo a passagem de calor ou
entrando em colapso) podem concorrer para a propagação do fogo, tanto para outros
compartimentos (pelo interior ou exterior do edifício), como para edifícios adjacentes;
d) distribuição dos espaços, número de pavimentos, forma e volume do edifício e aberturas
de ventilação: em função destas variáveis, são estabelecidas as intercomunicações dos
compartimentos do edifício, através dos quais o incêndio pode se propagar tanto por caminhos
internos (associados às três primeiras variáveis), como pela fachada (associado à quarta
variável);
e) altura total do edifício, número de pavimentos, forma do edifício, volume do edifício, área
total do edifício e área de cada pavimento: todas estas variáveis interferem no combate ao
incêndio, facilitando ou dificultando a ação dos bombeiros que chegam ao edifício afetado com
os objetivos primordiais de resgatar vítimas e restringir o incêndio ao compartimento de
origem; as dificuldades impostas a esta ação poderão favorecer a propagação do incêndio;
f) altura total do edifício e número de pavimentos: os edifícios com mais de um pavimento,
além de dificultar o combate, em função da altura do pavimento afetado, apresentam a
possibilidade de propagação do incêndio entre pavimentos (propagação vertical);
g) área total do edifício e área de cada pavimento: a propagação do incêndio poderá ser tanto
maior quanto maior for a área total do edifício ou a área de cada pavimento (no caso de
edifícios de múltiplos pavimentos);
h) instalações de serviços existentes: através das quais e das aberturas nas lajes e paredes para a
sua passagem, o incêndio poderá se propagar além do compartimento de origem;
i) volume do edifício: especialmente onde se depositam materiais, de forma que, quanto maior for
a quantidade de materiais combustíveis contidos no edifício, maior poderá ser a severidade do
incêndio. Portanto, maiores poderão ser as chances de propagação do incêndio no interior do
edifício ou para edifícios adjacentes.

O risco à propriedade e o risco à vida humana são afetados, via os três riscos básicos (de início,
de crescimento e de propagação do incêndio), por todas as variáveis relativas à natureza do
edifício. Entretanto, as variáveis materiais de construção utilizados e técnicas aplicadas e
sistema estrutural adotado tem condição de afetar especialmente estas duas categorias de risco,
pois na medida em que determinam a susceptibilidade do edifício à ação do incêndio e estabelecem

17
a possibilidade de ruína parcial ou total do edifício, agravam inicialmente o risco à propriedade e,
consequentemente, o risco à vida humana.

1.1.1.1 Localização do edifício

Quanto à localização do edifício, destacam-se as seguintes variáveis como determinantes do risco


de incêndio:

a) situação em relação às divisas do lote;


b) largura das ruas e outras condições de acesso;
c) distância do quartel do corpo de bombeiros mais próximo;
d) meios de comunicação com o corpo de bombeiros;
e) abastecimento de água para combate.

As variáveis relacionadas à localização do edifício somente tem influência significativa na definição


do risco de propagação do incêndio, do risco à propriedade e do risco à vida humana.

A variável situação em relação à divisa do lote determina a proximidade entre fachadas de edifícios
adjacentes e, por isto, estabelece a possibilidade de propagação do incêndio entre edifícios.

As variáveis largura das ruas e outras condições de acesso, distância do quartel do corpo de
bombeiros mais próximo e meios de comunicação com o corpo de bombeiro, tem influência sobre o
risco de propagação do incêndio porque definem o tempo de acesso dos bombeiros ao edifício
incendiado e o tempo para iniciarem o combate ao incêndio. Quanto maiores forem estes tempos,
maior será o período em que o incêndio estará se desenvolvendo sem qualquer intervenção e, assim,
maiores serão as chances de propagação no interior do edifício e para edifícios adjacentes.

A variável abastecimento de água para combate, através de hidrantes urbanos, interfere na


continuidade do combate ao incêndio. Sua inexistência ou deficiência podem levar a dificuldades no
combate, que permitem o surgimento de condições propícias à propagação do incêndio no interior
do edifício ou para edifícios adjacentes.

O risco à propriedade e o risco à vida humana, sendo decorrentes do risco de propagação do


incêndio, também são afetados por todas as variáveis relativas à localização do edifício. O risco à
vida humana é afetado de forma especial, porque a primeira ação dos bombeiros quando chegam ao
edifício incendiado é resgatar eventuais vítimas; qualquer atraso deste tipo de ação pode
incrementar o risco à vida humana.

Na Figura 1.2 está esquematicamente apresentada a relação existente entre os quatro fatores
condicionantes de risco e as cinco categorias de risco associadas ao incêndio.

18
FATORES CONDICIONANTES DE RISCO DE INCÊNDIO

CARACTERÍSTICAS TIPO DE NATUREZA DO LOCALIZAÇÃO


DA POPULAÇÃO DO OCUPAÇÃO EDIFÍCIO DO
EDIFÍCIO DO EDIFÍCIO EDIFÍCIO

RISCO DE RISCO DE RISCO DE RISCO À RISCO À


INÍCIO DE CRESCIMENTO DO PROPAGAÇÃO PROPRIEDADE VIDA
INCÊNDIO INCÊNDIO DO INCÊNDIO HUMANA

RISCO DE INCÊNDIO

Figura 1.2 – Relação entre os fatores condicionantes de risco e as distintas categorias de risco
de incêndio.

3 Plano de Ações Integrado para o Controle de Perdas nos Incêndios


Um edifício seguro contra incêndio pode ser definido como aquele onde há baixa probabilidade de
início de incêndio e, caso o incêndio ocorra, onde há alta probabilidade de que todos os ocupantes
sobrevivam sem sofrer qualquer injúria e, no qual, os danos à propriedade serão confinados às
vizinhanças imediatas do local em que se iniciou. Neste edifício as perdas provocadas por incêndio
serão reduzidas.

As perdas em incêndio podem ser divididas em:

a) perdas humanas, ocorrem em circunstâncias aterradoras, produzindo mortes violentas e trágicas,


que chocam fortemente a sociedade. A redução de perdas humanas constitui-se no objetivo
primordial da segurança contra incêndio;

19
b) perdas econômicas: representam uma ameaça significativa ao potencial econômico de uma
nação, já que o incêndio é o tipo de acidente que tem potencial de provocar grande volume de
perdas;
c) perdas sociais, associadas às perdas humanas e econômicas provocadas por incêndio, estão as
perdas sociais:

• lesões físicas e cicatrizes irremediáveis, que impedem ou dificultam a plena integração dos
indivíduos afetados à sociedade;
• fechamento de empresas, com o conseqüente desemprego de seus funcionários;
• contaminação ambiental;
• sentimento de insegurança;
• perdas de patrimônios históricos e artísticos.

3.1 Ações no Projeto e no Uso dos Edifícios

A ação que permeia e que constitui-se no objetivo de todas as demais ações que tem o sentido de
reduzir perdas em incêndio consiste no estabelecimento de níveis adequados de segurança contra
incêndio no processo produtivo e no uso dos edifícios.

A questão da segurança contra incêndio deve ser considerada desde a concepção e o


desenvolvimento do ante-projeto do edifício, passando pelo projeto e construção e adentrando a fase
de operação e manutenção do edifício.

Em nenhuma destas fases o problema do incêndio deve ser menosprezado sob pena de serem
introduzidas inconveniências funcionais, dispêndios excessivos ou níveis inadequados de segurança
do processo produtivo. A questão da segurança contra incêndio foi enfocada, maiores serão os
problemas: inconveniências, dispêndios, níveis inadequados de segurança.

A abordagem para a definição de níveis adequados de segurança contra incêndio no processo


produtivo (especialmente no projeto, pois aí se estabelece a estrutura básica da segurança contra
incêndio) deve ser sistêmica, já que a segurança contra incêndio deve ter o sentido de um todo,
composto por um conjunto de disposições coerentes, que se originam do perfeito entendimento dos
objetivos da segurança contra incêndio e dos requisitos funcionais que devem ser atendidos pelo
edifício.

Adicionalmente, não se deve deixar de considerar os aspectos econômicos e funcionais envolvidos.


É importante alcançar um equilíbrio entre gastos e prováveis benefícios, já que nem sempre o
dispêndio excessivo com segurança contra incêndio resulta, de fato, em melhorias das condições de
segurança contra incêndio.

Do ponto de vista funcional, o conjunto de disposições que visam garantir a segurança contra
incêndio não devem introduzir inconveniências que venham a restringir o livre desenvolvimento das
atividades no interior do edifício, dificultando sua ocupação e uso.

Estas disposições de segurança contra incêndio são denominadas medidas de prevenção de incêndio
e medidas de proteção contra incêndio e podem ser agrupadas (e adotadas) de acordo com os
requisitos funcionais que visam garantir nos edifícios, a fim de que o risco de incêndio seja mantido
em níveis aceitáveis.

O grupo de medidas em torno de cada requisito funcional, conformam oito elementos distintos
apresentados na figura 2.1.

20
Uma vez que na prática os riscos associados ao incêndio (que comprometem o cumprimento de
cada um dos requisitos funcionais que os edifícios devem apresentar para serem considerados
seguros contra incêndio) não podem ser totalmente eliminados e que todos os requisitos
mencionados são fundamentais para garantir a segurança dos edifícios, todos os elementos
indicados devem ser contemplados ao longo do processo produtivo e uso dos edifícios, resultando
na conformação de um sistema global de segurança contra incêndio.

1.2 Regulamentação

As conseqüências dos incêndios para a sociedade, representadas por perdas humanas, econômicas e
sociais, evoluem conjuntamente com o desenvolvimento econômico e tecnológico.

Nas três últimas décadas, no Brasil, este desenvolvimento tem resultado em profundas modificações
nos sistemas construtivos, caracterizadas pela utilização de grandes áreas sem compartimentação,
pelo aumento dos vãos livres dos elementos estruturais, pelo emprego de grandes fachadas
envidraçadas e pela incorporação, cada vez mais acentuada, de materiais combustíveis aos
elementos construtivos.

SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO

AÇÕES NO PROJETO E NO
USO DOS EDIFÍCIOS REGULAMENTAÇÃO

QUALIDADE NORMALIZAÇÃO FISCALIZAÇÃO

EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA E
COMBATE
PESQUISA

Figura 2.1 – Ações necessárias para redução de perdas em incêndios e suas relações

As instalações e equipamentos de serviço usados em número crescente, tem introduzido riscos de


incêndio anteriormente inexistentes. Além disso, os edifícios têm assumido dimensões cada vez

21
maiores, tanto em termos de área como de altura, onde se aglomeram grande número de pessoas e
se concentram valores econômicos cada vez mais vultosos.
Tudo isto, a par da introdução de processos industriais cada vez mais complexos e do número
progressivo de grandes edifícios industriais, tem certamente determinado a tendência da
intensificação do número de incêndios e do montante de perdas no Brasil.

Frente à ameaça representada pelo incêndio, o poder público, atribuído da obrigação de


salvaguardar a vida humana e de garantir condições adequadas para o crescimento do país, tem por
necessidade adotar uma posição ativa para enfrentar o problema. Para isto se vale principalmente da
regulamentação compulsória e da conseqüente fiscalização.

Na regulamentação compulsória, aplicada a nível da administração pública, são estabelecidos os


critérios gerais de atuação do poder público com o sentido de garantir sua aplicação, são delimitadas
responsabilidades e são definidas as condições mínimas de segurança contra incêndio que devem
ser atendidas em todos os locais e atividades (evidentemente é o aspecto principal).

De maneira ideal, as condições de segurança definidas na regulamentação devem conciliar os


interesses postos em jogo (comunidade, consumidores, empresários). Na regulamentação também
deve-se levar em conta o interesse da área de seguros, sendo desejável a compatibilização dos
requisitos aplicados pelas companhias seguradoras e pelo poder público.

As características essenciais que a regulamentação compulsória deve apresentar são:

• compor para cada situação particular que aborda um sistema global que garanta níveis
adequados de segurança contra incêndio;
• simplicidade, de forma a ser facilmente compreendida e suficientemente prática. Esta
simplicidade indica que a regulamentação não deve incorporar detalhes técnicos específicos de
cada medida de prevenção e de proteção que recomenda (tais detalhes devem ser abordados em
documentos técnicos complementares pertinentes a campo da normalização).

Para ser possível o estabelecimento dos requisitos que compõem a regulamentação, de forma a
garantir a necessária simplicidade e praticidade, deve-se tomar por base uma redução da diversidade
definida pelos fatores determinantes de risco de incêndio, através de uma classificação tipológica
dos edifícios.

Além disso, considerando-se que existem duas fases, totalmente distintas, em que se implementem
nos edifícios as medidas de prevenção e de proteção contra incêndio – a fase de processo produtivo
e a fase de uso – pode-se dividir as regulamentações em duas categorias:

a) as aplicáveis ao processo produtivo, que se destinam a regular;


• a construção de novos edifícios;
• a adaptação de segurança contra incêndio de edifícios em uso;
• as ampliações de edifícios;
• a reconstrução ou reparo de edifícios danificados;
• as mudanças de uso dos edifícios.

b) as aplicáveis ao uso do edifício, que se destinam a regular;


• a operação do edifício;
• a manutenção do edifício.

22
3.2 Fiscalização

Estas duas categorias de regulamentação são complementares. Deve-se destacar, entretanto, que
aquela aplicada ao processo produtivo, ganha em importância na medida em que tem aplicação
anterior e permite estabelecer as condições básicas de segurança contra incêndio, sem as quais os
requisitos da outra estarão, pelo menos, comprometidos.

As atividades de fiscalização (que não pode ser dissociada da regulamentação) se destinam à


execução dos serviços de avaliação de projetos, de acompanhamento da construção e de controle da
operação e da manutenção dos edifícios, garantindo nestas quatro fases, o atendimento à
regulamentação de segurança contra incêndio.

Para isto o poder público deve dispor de equipes de fiscalização em número suficiente, dotadas de
adequado preparo profissional.

Tais equipes devem ter também a função de orientar os profissionais no sentido de esclarecer
eventuais dúvidas existentes, de resolver casos particulares eventualmente não abrangidos pela
regulamentação e de avaliar soluções alternativas àquelas indicadas na regulamentação (já que não
se pode pretender uma total rigidez da regulamentação).

3.3 Normalização

Uma outra ação fundamental para a redução de perdas em incêndio diz respeito ao estabelecimento
de normas. A normalização de segurança contra incêndio além de propiciar o necessário
detalhamento técnico de distintos temas essenciais que dão a devida sustentação à regulamentação,
estabelece condições para uma outra ação ser levada à efeito, qual seja, a obtenção de equipamentos
que apresentem qualidade (totalidade de requisitos e características de um produto ou serviço que
estabelecem a sua capacidade de satisfazer determinadas necessidades).

A normalização de segurança contra incêndio contempla, principalmente, as condições relativas ao


projeto, fabricação ou construção, instalação, funcionamento, uso, manutenção e avaliação dos
dispositivos destinados a garantir a segurança contra incêndio dos edifícios, contempla também as
instalações de serviço e equipamentos, no sentido de minimizar o risco de constituírem-se em fontes
de ignição.

Da mesma forma que a regulamentação, a normalização é resultado de um consenso entre as partes


envolvidas e os interessados na questão.

O poder público também desempenha papel importante na ação referente à normalização, bem
como reconhece oficialmente os textos de norma produzidos.

3.4 Qualidade

Recomenda-se a nível internacional que os equipamentos destinados a garantir a segurança


patrimonial e humana sejam submetidos a um controle de qualidade rigoroso associado à
certificação de conformidade às normas vigentes. Isto se deve à necessidade destes equipamentos
possuírem graus elevados de confiabilidade, pois não poderão falhar no momento do sinistro.

23
Para implantação destes procedimentos são necessários:

a) normalização apropriada;
b) capacitação laboratorial para a execução de ensaios;
c) habilitação de profissionais para avaliação de projetos, de funcionamento dos sistemas, etc.

3.5 Educação

Uma outra ação importante refere-se à educação que deve se processar em quatro níveis:

a) conscientização e educação da população em geral – dirigida a toda população com o sentido de


informar a respeito da prevenção e das atitudes a serem tomadas frente a uma situação de
incêndio. Para isto, devem ser utilizados os meios de comunicação de massa em campanhas
longas visando a obtenção, a médio e a longo prazo, de resultados positivos;
b) formação geral dos trabalhadores – com o sentido de conscientizar os trabalhadores para a
importância da prevenção e proteção contra incêndio durante a fase de uso dos edifícios, de
despertar a responsabilidade dos trabalhadores para a prevenção dos incêndio e preparar as
pessoas para enfrentar uma situação de incêndio;
c) formação de responsáveis pela segurança contra incêndio nas empresas – as pessoas com
responsabilidades em relação à segurança contra incêndio devem possuir conhecimentos que
lhes permita exercer atividades relativas à fiscalização das condições de segurança durante o
uso dos edifícios e/ou à participação em brigadas de combate e evacuação.
d) Formação de arquitetos e engenheiros especializados com o sentido de capacitar pessoal de
nível universitário a exercer atividades tais como:
• elaboração de projetos e planos;
• fiscalização;
• elaboração de regulamentos e normas, etc.

Em todos estes níveis, e especialmente nos dois primeiros, a participação do poder público é
decisiva, quer seja desenvolvendo campanhas, quer seja incentivando e criando cursos de formação.

3.6 Combate

A ação desenvolvida pelos serviços de combate a incêndio, executando o trabalho de emergência


quando da ocorrência de incêndio, é fundamental para a redução de perdas. Para isto deve-se contar
com efetivo numeroso, bem preparado, alocado em número adequado de postos, de forma a
minimizar o tempo de chegada ao local onde o incêndio se desenvolve.

O poder público deve responsabilizar-se pela criação e manutenção destes serviços, garantindo uma
média de, aproximadamente, 50 bombeiros e 6 veículos de combate por 100.000 habitantes (média
de cidades importantes da Europa) e garantindo um tempo máximo para atendimento de 5 minutos.

3.7 Estatísticas e Pesquisa

Toda e qualquer ocorrência de incêndio resulta de uma seqüência de eventos. (Alguns destes
eventos resultam de situações que circunscrevem o fogo, outros são resultado da ação humana). Se
esta seqüência pudesse ser interrompida o resultado final seria evitado. Portanto, quanto mais se

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conhece a respeito dos eventos que compõem o incêndio, tanto maior é a possibilidade de intervir e
reduzir as perdas em incêndio.

Para isto concorrem, decisivamente, a aquisição sistemática de dados de incêndio, seu competente
tratamento e a pesquisa científica e tecnológica.

O adequado tratamento dos dados de incêndio, sistematicamente coletados, possibilitam definir


necessidades e prioridades de pesquisa, e ambos realimentam todas as ações adotadas com o sentido
de reduzir perdas em incêndios. Como exemplo:

• na regulamentação a estatística e a pesquisa podem evidenciar a necessidade de novos


requisitos ou alteração dos já existentes;
• sobre a normalização, atuam no sentido de propiciar o aprimoramento e a atualização das
normas existentes e de indicar a necessidade de novas normas;
• sobre a fiscalização, atuam de forma a evidenciar a necessidade de se dar atenção redobrada a
aspectos que não vêm sendo atendidos ou que devem ser rigorosamente verificados;
• sobre a qualidade, atuam no sentido de evidenciar o desempenho inadequado de determinados
equipamentos que integram as medidas de prevenção e de proteção contra incêndio;
• sobre a educação, atuam no sentido de indicar a necessidade do desencadeamento de
campanhas de conscientização e educação da população e de incentivar e criar cursos de
formação, permitindo, a partir daí, a avaliação dos resultados práticos obtidos em termos de
redução de perdas (a avaliação também se dá em relação às alterações promovidas a nível de
regulamentação, normalização, fiscalização, etc.);
• sobre o combate, atuam no sentido de propiciar a definição dos parâmetros para obter-se o
melhor dimensionamento e a distribuição mais adequada do efetivo e dos equipamentos de
combate;

Vê-se, portanto, que a estatística e a pesquisa associadas ao incêndio são ações de fundamental
importância para a redução de perdas em incêndio e dependem em grande medida do empenho do
poder público.

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