1) A urbanização brasileira, de acordo com os estudos de Darcy
Ribeiro, teria uma correlação direta com o processo de industrialização e a criação de novos postos de trabalhos, bem como o progresso da vida urbana em contraposto a rural?
Não, pelo contrário, segundo Darcy Ribeiro a urbanização brasileira
se deu devido ao êxodo rural, consequente da Revolução Verde que trouxe novos equipamentos, tecnologias agrícolas que permitiram uma maior produtividade, enquanto que ao mesmo tempo diminuiu a quantidade de empregos necessários para a continuidade da atividade agrícola. Dessa forma, a população rural teve de procurar por oportunidades nas cidades, o que contribuiu para a formação de aglomerações subnormais (conhecidas como “favelas”) e demais outros problemas urbanos com problemas sociais, visto que o sistema capitalista vigente no país não possibilitou uma maior oferta de empregos nas cidades, levando essas populações trespassadas ao ambiente citadino não serem absorvidas de maneira desejada, sendo refém de problemas sanitários, de moradia, entre outros.
2) Quais os pontos de contribuição do processo de colonização e
urbanização que contribuíram para a estratificação social apontada por Darcy Ribeiro na obra?
A colonização brasileira se deu de forma hierárquica e com forte
influência na origem/etnia da população, embora não esteja obrigatoriamente determinada à raça, pois na civilização aqui criada, com forte influência europeia na sua base de formação, o mais importante seria o status social/prestígio, esse que seria determinado por sua renda. Ou seja, se você conseguisse adquirir uma quantia significativa como fruto de seu trabalho, isso faria de você uma pessoa respeitável e digna de seu prestígio, já alcançado pelo dinheiro adquirido. Como o próprio Darcy Ribeiro dizia, uma pessoa negra, por exemplo, ao alcançar tal proeza – o que é difícil, afinal a sociedade brasileira privilegiava e concedia mais espaços de prestígio às pessoas de pele clara – “esbranquecia”, porque era o dinheiro o capaz de trazer à pessoa o sucesso, e para o povo brasileiro, foi depreendido que o dinheiro que significava ser uma pessoa de pele clara, uma pessoa que está no topo do sistema. O processo de colonização brasileira foi de grande sucesso no sentido de trazer uma unidade nacional, mesmo que não étnica, porque nas diferentes regiões que compõem o país há traços étnicos únicos, e até mesmo nos lugares onde houve colonização italiana e alemã, que representam colônias mais fechadas e que conseguiram conservar um pouco mais a cultura de seus antecedentes embora tenham sido proibidos de falar sua língua, ainda assim essas pessoas se consideram brasileiros e sentem-se vinculados com essa identidade.
3) Como é abordado o conceito de dignidade dentro desse
contexto de distinções sociais?
A dignidade está simbolizada principalmente na tomada de cargos
públicos ou de prestígio. Nesse caso, o fato de você ser político, dono de grandes empresas, médico ou advogado (profissionais liberais), demonstra em alguns cargos de tradição, em outros de salários significativos, ou para outros a possibilidade de decisão que interfere nas demais classes sociais brasileiras. A classe que representa mais poder, no geral, são os donos de grandes empresas, pois muitos também conseguem cargos políticos e também se enquadram num ambiente social de prestígio quase que absoluto. Enquanto isso, os autônomos ou empresariado que não conseguiram tanto sucesso, ficam na área mediana (às vezes imiscuindo-se com a base) da pirâmide social brasileira (muito deformada, por sinal, pois quem está no topo concentra muito mais poder que quem está no meio e quem está no final, essa última parte possuindo um poder ínfimo nas decisões políticas) representando uma parcela de poder político, embora não muito significativo, pois está concentrado nas profissões anteriormente citadas, que concentram a renda, o status social e a posse de cargos políticos. Por fim, na base encontram-se os assalariados, totalmente dependentes de quem está no topo ou no meio (quem os emprega), embora por possuírem uma renda constante, ainda assim relativamente são capazes de usufruir uma condição de vida razoável, principalmente quando se compara com quem está mais no fundo – no caso, primeiro quem faz bicos ou “trabalhos temporários”, mais refém às adversidades da economia informal, e mais fundo, no começo da base, estão os desempregados e aqueles que não conseguiram de uma forma ou de outra se inserirem no sistema vigente, por não serem incluídos dentro de um processo histórico ou impossibilitados de transcender por mobilidade social – esse último fenômeno social ainda muito difícil de se realizar nesse país.