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Disponibilização: Soryu

Tradução: Mima Romero

Revisão Final: Grasiele Santos, Ester

Formatação: Lola

Leitura Final: Milena Calegari


Lorde Lucas Willoughby ganhou seu apelido como o

Barão Casamenteiro depois que seus seis compromissos

terminaram com cada dama felizmente casada - com

outra pessoa. Ele jura deixar de fazer propostas de

casamento, até que sua vizinha teimosa propõe algo

completamente diferente.

Chastity Drummond fixou sua atenção em um

homem que mal a vê como uma mulher muito menos

uma esposa em potencial. Ela não consegue colocá-lo de

joelhos, mas sabe que um noivado com o Barão

Casamenteiro o fará mudar de opinião.

A farsa de Lucas e Chastity ganha vida própria.

Quando a atração fingida se torna real, eles se

perguntam se podem ser perfeitamente compatíveis.

O envolvimento ilícito deles terminará

inevitavelmente em casamento - mas de quem?

Não perca a série Cavalheiro Da Porta Ao Lado,

porque às vezes uma dama necessitando de amor não

precisa procurar mais longe do que ao lado.


Chastity Drummond analisou que, apesar de seus
melhores esforços, de seu vestido de seda dourado
cuidadosamente elaborado, de o cabelo loiro cacheado estar
cruelmente preso em um coque elegante para mostrar os
olhos azuis dela, estava praticamente invisível no salão de
festas.

Uma pena, já que planejou esta noite especificamente


para que pudesse se destacar. O único incentivo que tinha
era que sua melhor amiga Francesca iria ao baile desta noite.

Gentilmente pediu à Francesca para convidar o Sr.


Highster, que era responsável por estabelecer as linhas
comerciais da Grã-Bretanha, de que a empresa de seu pai,
Drummond Transportes, necessitava desesperadamente.

Encomendou o vestido de seda dourado, ainda que tal


vestido fosse terrível para limpar, e extraordinariamente caro.

Não era uma noite para suas modestas preocupações.


Hoje à noite, Chastity estava em busca de um marido.

Sabia que, se pudesse dar um passo para a pista de


dança, as magníficas linhas de seu vestido brilhariam sob a
luz bruxuleante das velas do salão de baile e ela iria ganhar o
coração do Sr. Highster... Ou pelo menos a percepção de uma
união vantajosa.

Caso alguém pudesse apresentá-los. Se ao menos


houvesse um rosto familiar no meio da festa.

Chastity passou anos contando a Francesca histórias da


sociedade de Londres, da vida em salões decorados, a dança
alegre, os homens elegantes, enquanto sua melhor amiga
permaneceu isolada no campo lamentando a morte da mãe.
Mas foram apenas isso: Contos. Histórias fantasiosas,
projetadas para levantar o ânimo de sua amiga, e talvez o
dela própria.

A verdade era muito mais lamentável. Na maioria dos


círculos sociais, ninguém prestava qualquer atenção em
Chastity, exceto Francesca, com quem teve a sorte de fazer
amizade antes que alguém descobrisse a origem humilde dos
Drummond.

Obviamente, qualquer um podia convidar Chastity


Drummond, herdeira do império Drummond Transportes, às
suas reuniões sociais. Claro que ninguém seria mal educado
com ela, especialmente se a pessoa queria uma parte da
empresa de seu pai, ainda mais que ele já ofereceu ações ao
público, rumores seriam inevitáveis. Seus únicos herdeiros
eram do sexo feminino e seria necessário um conselho de
homens bem informados para garantir o funcionamento
contínuo da empresa.

Mas, esses almofadinhas da sociedade não faziam


amizade sem nenhum interesse.
Mudou o peso de seu corpo para o pé esquerdo para que
pudesse assistir o progresso do Sr. Highster por todo salão.
Sr. Highster, com suas boas maneiras, conexões vantajosas
com o Parlamento no comércio marítimo, e precisando de
uma herdeira, porque o que todo bom cavalheiro precisava de
uma herdeira? – Seria muito bom ser a escolhida.

Era um pouco mais velho que ela, com cabelos


grisalhos, quase brancos, mas possuía um sorriso jovem, que
ele deu a uma jovem dama sorrindo no piano. Era um homem
bom, que é mais do que se pode dizer de muitos.

Poderia casar com ele. Faria isso. Era só ele pedir. Se ao


menos houvesse um motivo para caminhar em direção ao
piano e se apresentar, o Sr. Highster perceberia que ela
poderia ser mais do que uma simples pessoa interessante
para ele.

Olhou rapidamente ao redor do salão de baile a procura


de outro aliado, agora que Francesca foi embora com
desculpas. Além do marido dela, Chastity era a única pessoa
que sabia que ela estava grávida e mal podia ficar uma hora
antes de ficar nauseada, a pobre moça. Todos os sintomas
normais da gravidez no período da manhã se agravaram por
uma infecção no ouvido que a deixou em um constante
estado de vertigem por várias semanas. O que dificilmente
deixava alguém apto para fazer apresentações. Não era como
se sua acompanhante paga, que a seguia tão bem e
silenciosamente que Chastity muitas vezes esquecia que ela
existia, fosse apta.
Ela esperava encontrar um rosto familiar.

Seu vizinho, Lorde Lucas Willoughby, ocupava um posto


igualmente solitário na parede do outro lado do salão
diretamente em frente a ela. Embora ele nunca seria um
pária da sociedade.

Lucas Willoughby era uma ótima visão para todos. Seus


ombros largos e tensos, o corte do casaco. O cabelo preto
negro angelicalmente enrolado na nuca. Ele foi muitas vezes
elogiado por seu sorriso aberto, como se tivesse dito uma
piada divertida e não podia esperar para compartilhar.

Hoje, estava tenso contra a parede, segurando um copo


de algo que provavelmente era mais do que ponche. Seu olhar
escuro percorreu o salão de baile até que ele pousou
decididamente nela.

Um arrepio suave percorreu sua coluna e a parte de


baixo das costas, de modo que ela se endireitou e jogou os
ombros para trás. Sentiu seus cachos loiros roçar o lado do
rosto escapando do apertado coque, afastou-os de lado.

Willoughby inclinou a cabeça e levou o copo aos lábios,


um conjunto bastante perfeito de lábios curvos, se Chastity
fosse ser mais precisa, e inclinou a cabeça para trás para
engolir todo o conteúdo do copo. Um casal dançando entrou
entre eles. Tentou desviar para encontrá-lo, mas no tempo
que levou, ele já estava procurando um garçom para mais
uma dose. Em vez de voltar-se para ela, colocou o copo sobre
um suporte vazio, enfiou as mãos de uma forma bastante
deselegante nos bolsos, e encostou-se à parede, olhando para
fora e para o chão do salão de baile.

Sim, seu vizinho Lord Willoughby faria a apresentação.


Era conhecido o fato das suas casas na cidade serem
vizinhas, e não seria inconveniente se fosse cumprimentá-lo
sem apresentação formal, afinal seus caminhos se cruzaram
em um salão de baile. Lord Willoughby também era muito
popular e amigável com quase todos, mesmo ela e sua irmã.

Passou um tempo considerável sincronizando os


passeios em seu primeiro ano na cidade, para coincidir com
os dele, simplesmente para ter um vislumbre de seu rosto, da
mesma forma que alguém faria um esforço extra para ver um
belo espécime de cavalo ou um bom pianista. A razão ansiava
por excelência, depois de tudo. Como resultado, em quatro
anos, uma quantidade razoável de breves conversas
educadas, resultou em um confronto amigável entre os dois.

Charistity começou a andar vagarosamente ao redor da


pista de dança. Foi parada apenas uma vez, para uma
conversa educada com um cavalheiro e sua mãe, que
estavam interessados em uma excursão da Drummond
Transportes para o leste, e provavelmente igualmente
interessados em casá-lo com uma herdeira, embora ele não
tivesse nada a lhe oferecer em troca. Não se importava com
um título, a menos que tivesse as conexões de negócios que
ela precisava.

Se aproximou de Lorde Willoughby pelo seu lado direito,


ele virou-se abruptamente para encará-la.
O corpo dele balançou instável. Suas bochechas e
queixo estavam escurecidos pela barba por fazer. Nunca
disseram a ele que deveria se barbear para ir a um baile? Por
que, até a gravata estava frouxa e parecia prestes a se
desfazer completamente.

— Senhorita Drummond, — disse ele, com um sorriso


fraco. Aceita uma bebida, talvez?

— Lorde Willoughby, — ela cumprimentou-o em troca.


— Como está esta noite?

— Você vai me desculpar por falar francamente, mas se


está procurando alguém para tirá-la de seu status de
invisível, deve saber que não sou esse cavalheiro.

— Ou não é um cavalheiro afinal, — disse Chastity.


Suas palavras e tom mordaz o assustaram. As conversas
foram principalmente formais até agora. As observações
necessárias sobre o clima. Como o dia está lindo. Que o
cheiro de pão do carrinho do padeiro que passou na rua de
paralelepípedos foi acolhedor no período da manhã.
Certamente nada que merecesse tal censura, informalidade
ou descortesia.

— Não, não sou um cavalheiro, — ele concordou,


pegando o copo, que foi discretamente reabastecido, de volta.
— Não esta noite. — Voltou-se para encarar o salão de baile e
inclinando ligeiramente contra a parede.

Apertou os olhos, estudando-o mais de perto. Os olhos


sombrios. O desenho da boca. O conhaque em seu copo, que
ela sabia que foi reabastecido mais de uma vez e não somente
com o conhaque que a equipe estava servindo, mas também
da coleção pessoal de bebidas mais fortes da biblioteca. Se
ela não soubesse de nada, chegaria à conclusão de que Lorde
Lucas Willoughby estava bêbado.

Parecia ridículo. Ele não era um libertino, nem mal-


humorado, dramático ou dado a recitar poesias como alguns
dos homens mais ridículos que compartilhavam seus estilos
byronianos. Era agradável, gentil, generoso. Por isso foi noivo
tantas e tantas vezes, seis, para ser mais exata.

Seguiu seu olhar enganosamente entediado e percebeu


que parou diretamente sobre a caçula de Northanger. Em
seguida, mudou-se para Lady Bath. Em seguida, para a
senhorita Knightsbridge.

— Ah, está tudo claro agora, — disse Chastity.

— O que está claro? — Ele perguntou, virando-se


bruscamente para ela.

— Por que você está mau humorado.

— Lorde Willoughby nunca está de mau humor, — ele


repetiu com um sorriso e bebeu outro gole de sua bebida.

Parecia que estava ciente da própria reputação. Ele


engoliu em seco quando a sua mais recente noiva passou
dançado nos braços de seu irmão, com quem ela se casou no
ano anterior.

— Posso oferecer minhas condolências, Lorde


Willoughby, sobre o seu noivado desfeito.

— Qual? Há tantos para escolher.


Suspeitava que ele não quisesse uma resposta, por isso
ela se estabeleceu contra a parede ao lado dele como se isso
pudesse lhe oferecer algum conforto. Nunca antes considerou
como Lorde Willoughby podia se sentir em ser abandonado
seis vezes e para ser honesta, ainda não tinha certeza dos
sentimentos dele.

O irmão dele passou dançado por eles novamente.

Willoughby virou-se e olhou para seus sapatos.

— Dizem que ela foi atrás do meu irmão depois que ele
recebeu o condado, — disse, balançando a cabeça na direção
do casal feliz antes de serem levados ao outro lado do salão.

— Pelo menos não disseram que ela estava atrás de sua


fortuna.

— Como se pudessem, — disse ele, — quando ele


recebeu o título um mês depois de seu casamento?

Willoughby tomou outro gole e seu pomo de Adão


apertou em sua garganta novamente.

— Você sabe do que me chamam agora, não é? — Ele


perguntou com um olhar de soslaio.

— Além de seu nome? Não, não sei. Asseguro-lhe que


são mais propensos a falar nas minhas costas do que na
minha cara.

Inclinou a cabeça para olhar profundamente o conteúdo


do seu copo.

— Não percebi que você também era um alvo de fofocas.


— A menina de rua que virou herdeira? Não é um
assunto de fofocas? Como limitada a sua imaginação deve
ser. — Mas ela sorriu quando disse, fez às pazes há muito
tempo com o seu status, ele sorriu olhando para dentro do
copo.

— Devo adivinhar do que te chamam? — Ela perguntou,


tocando seu dedo indicador direito contra o lábio inferior.

O olhar dele percorreu de seu cotovelo até o dedo no


lábio, escurecendo lá, ela sentiu o calor do olhar dele como se
fosse algo físico. Abaixou a mão, sacudindo-a atrás das
costas.

— Não se preocupe. Você é muito inteligente para


pensar em um apelido tão banal.

Ela achava que era inteligente?

Inclinou-se perto, seus lábios colados em sua orelha.

— Me chamam de Barão Casamenteiro.

— Que alegre, — ela respondeu, tentando se recompor,


não muito certa de porque sua respiração ficou tão
superficial e rápida.

— De Fato. — Ele se afastou. — O que é mais alegre do


que saber que seis dos seus compromissos terminaram com a
dama felizmente casada com outra pessoa? Como eu poderia
não ser feliz em saber que todas as seis mulheres estão em
êxtase e conseguiram exatamente o que queriam? E que cada
um dos homens que se beneficiou da minha perda ganhou
títulos misteriosos e fortuitas riquezas poucas semanas após
seus casamentos?

Sentiu compaixão por ele, conhecia as histórias. O


primeiro a se casar foi o melhor amigo dele, que passou a
herdar as grandes terras de um parente distante. O segundo,
seu primo, cujos investimentos na literatura antiga valeram a
pena quando se revelaram obras anônimas de algum
respeitado autor morto há muito tempo. O terceiro, outro
primo, descobriu carvão nas montanhas de sua propriedade.
O quarto, seu parceiro de esgrima, que ganhou um título
depois de que toda a linhagem masculina dele morreu
tragicamente de uma vez. O quinto, o próprio vigário que
estava para celebrar o seu casamento, mais tarde lhe foi dado
um lugar permanente pelo próprio cardeal. E o sexto e mais
recente aconteceu no ano passado, com seu irmão que se
casou e infamemente herdou uma riqueza de ouro para
acompanhar o título. No caso deste último, após o
recebimento de sua boa sorte, ele deu a Lucas Willoughby um
baronato e fez dele um lorde. Não era um esperado presente
de desculpas qualquer.

— Todos eles conseguiram o que queriam, — ele


meditou suavemente, tomando outro gole rápido da bebida
em seu copo.

— E o que é que você quer? — Perguntou Chastity.

— Outra bebida.

Ele virou-se para olhar Chastity, mas perdeu o equilíbrio


e seu cotovelo bateu no lado do corpo dela. Lorde Willoughby
estendeu a mão para ela, as mãos quentes curvaram-se em
torno de sua caixa torácica.

Ela congelou e jurou que podia ouvir um estalo no ar,


um aperto momentâneo de sua mão antes que ele a soltasse.
O olhar dele caiu sobre seus lábios.

— Eu tenho certeza que você já bebeu o bastante, — ela


sugeriu, puxando o copo de seus dedos e colocando de volta
no suporte.

— Você sabe o que eu quero? — Ele perguntou sua voz


hipnótica, os olhos escuros ainda fixos nos lábios dela. —
Quero desejar.

— Perdão? — Ela perguntou, resistindo à vontade de


virar o rosto.

Ele balançou a cabeça e deu um passo para trás contra


a parede, mas ela ainda sentia a presença do fantasma de
sua mão curvada em torno dela, seu olhar em sua boca.
Como ela podia sentir algo que não estava mais lá? Como ela
podia sentir falta do que nunca teve em primeiro lugar?

— Não é nada, um absurdo senhorita Drummond. Estou


falando. Não quero nada mais do que ter outra bebida.

— E não uma dança? — Ela arriscou.

Sorriu.

— Dançar comigo seria imprudente.

— Está tudo bem. Não estava realmente procurando por


uma dança, apenas alguém para me apresentar ao Sr.
Highster.
— Sr. Highster? — Perguntou. — Por quê? Ele tem o
dobro da sua idade.

— O triplo e não é da sua conta, tenho certeza.

Franziu os lábios, pegou sua bebida, e tomou outro gole,


balançando a cabeça.

— Uma apresentação através de mim não vai dar certo.


Cada matrona está esperando para ver quem será o meu
próximo projeto.

— Que projeto, se você poderia me dizer?

— Meu próximo noivado. Que mulher vai acorrentar-se


a mim, se ela vai realmente casar até o final da temporada e
como será que o homem vai ganhar sua fortuna? Estão
fazendo apostas no White’s sobre o nome da dama e a forma
da fortuna. Recebe o triplo caso acerte os dois.

Ficou agitada pela antecipação. A palpitação de seu


coração. A contração dos pulmões. Endireitou-se com a ideia
que começava a se formar, tentou se livrar dela, mas ela
tomou conta de sua mente.

Willoughby ficou parado sob seu olhar comtemplativo,


olhando desconfiado.

— Aconteceu alguma coisa, senhorita Drummond?

— Não, — disse Chastity. — Acredito que tudo está


exatamente como deveria.
Se ele tivesse juízo, iria embora para longe da senhorita
Drummond, as boas maneiras que se danem. Estavam
falando por quase dez minutos e teve a péssima ideia de tocá-
la e sentiu-se pior ainda já que gostara. Sentia os convidados
agitados na expectativa de fofocas, como tubarões atraídos
por sangue.

A energia que sentiu quando colocou as mãos em torno


da curva da cintura dela deve ter sido palpável por toda a
sala. As matronas da sociedade se reuniam em grupos
olhando em sua direção e sussurrando.

Pior ainda a senhorita Chastity Drummond tinha um


brilho contemplativo nos olhos azuis e teve a sensação que
tinha algo a ver com ele.

— Acontece, Lord Willoughby, que estou precisando de


um casamenteiro.

Quase falou o que pensava, mas não tinha certeza se


ouviu direito.

— Você está caçoando de mim, senhorita Drummond?

— Caçoando de você? Claro que não. — Ela balançou a


cabeça, soltando mais cachos de seu coque mal preso.

Ele estudou os claros e sinceros olhos azuis, mas cada


uma das seis noivas que o rejeitou era uma mocinha
inocente, sem um mínimo de inteligência e astúcia, algo que
sabia que Chastity Drummond tinha.

— Não quis lhe ofender, — continuou ela, abaixando a


voz. — Somente estou interessada em um cavalheiro em
especial que ainda tem que manifestar interesse. Se houver
suposição de que estou envolvida com você, então talvez...

— A posição de minha noiva não é passageira, — Lucas


a interrompeu antes que pudesse terminar sua sugestão. —
Eu não desonraria seu pai ou você.

— Meu pai está fora da cidade, como pode ver, não


precisamos desonrar ninguém, nem mesmo você.
Especialmente você, Lord Willoughby. Isso seria algo
completamente diferente. Um tipo diferente de noivado.

Sentiu seu corpo responder a ansiedade dela, as palmas


das mãos coçarem com o desejo de tocá-la novamente. O que
não faria.

— Não ficarei noivo sob falsos pretextos. É uma


promessa que não faço levianamente, apesar do inevitável fim
dos meus compromissos anteriores.

— Acha que eu proporia algo que poderia comprometer


ainda mais você e não fornecer um benefício adequado em
troca? — Ela perguntou.

— Não sei, para ser honesto. Senhorita Chastity


Drummond, apesar de ser seu vizinho nos últimos quatro
anos, você sempre foi um pouco enigmática.

Ela inclinou-se em um silêncio conspiratório. Muito


perto, realmente, de modo que se ele apenas abaixasse a
cabeça conseguiria unir suas bocas. Os cachos loiros dela
balançaram para frente para esconder o rosto e um fio macio
roçou a bochecha dele.
— Você realmente pensa tão pouco de mim?

Ele engoliu em seco e se afastou.

— Não penso em você, senhorita Drummond.

Lorde Lucas sentiu uma pontada de culpa quando ela


inspirou rapidamente, mas era verdade. Não pensou muito
em Chastity Drummond e a irmã Cassandra desde que a
família dela se mudou para a casa ao lado. Seu irmão estava
sempre falando em usar a conexão com os vizinhos para
ganhar ações na Drummond Transportes, sempre que ele
vinha visitá-los. Lucas, claro, notara que suas vizinhas eram
meninas muito bonitas, sem mãe, e dadas à conversas mais
inteligentes do que a maioria das jovens bem-educadas. Mas
sempre estava muito comprometido... Para pensar seriamente
sobre outras mulheres.

Claro, estava pensando sobre Chastity agora. De como


estava quente sob as palmas das suas mãos. Da forma como
a boca dela nunca parava de se mover, em uma conversa
interminável! E mesmo enquanto escutava os lábios estavam
entreabertos, ofegante, como se esperasse algo acontecer.
Mesmo agora, quando ela deveria se afastar, estava abrindo a
boca para lhe responder.

— Acho que é uma sorte para mim, Lorde Willoughby,


quanto menos pensar em mim, melhor.

— Não é que pense menos em você, — disse ele, —


apenas que a minha mente é muitas vezes ocupada com
outras coisas.
— Talvez se você houvesse ficado menos preocupado
com outras coisas não teria perdido todas as suas seis
noivas.

Deveria ter sentido um aperto doloroso no peito com o


comentário dela, a lembrança de seus relacionamentos
fracassados, mas algo em seu tom, o brilho nos olhos azuis, a
sugestão de uma covinha nos lábios dela, o fez sorrir em vez
disso.

— Touche, senhorita Drummond.

— Considere isso, não é nenhum segredo que você quer


uma parte da Drummond Transportes.

— Está enganada. É meu irmão que quer ações da


Drummond Transportes.

— E como o seu irmão pegou algo que você queria, não


deveria ter algo que ele quer em troca? — Ela perguntou
elevando desafiadoramente a sobrancelha.

Lucas olhou em volta do salão de baile onde seu irmão


segurava a última noiva dele nos braços enquanto giravam
em todo o salão.

Ele a queria de volta? Será que queria qualquer uma


delas de volta?

Não, não queria.

Poderia não ter querido qualquer uma delas em primeiro


lugar, aí é que estava o problema dele.

Voltou-se para ela, observando seu sorriso confiante e


satisfeito.
— Meu entendimento era que a Drummond Transportes
não possuía ações abertas ao público.

— Acontece que várias ações estão em meu critério para


distribuir, e estaria disposta a considerar vendê-las, ou
melhor, presenteá-las ao indivíduo certo. O tipo de pessoa
que poderia garantir que eu possa casar com o Sr. Highster.

— Ele de novo? — Perguntou Lucas. Não parecia uma


boa ideia. Highster era um burocrata. Um almofadinha. Não
iria manter Chastity Drummond entretida por cinco minutos,
muito menos um casamento inteiro. — Tem certeza que
gostaria de formalizar um relacionamento com ele?

— Sim, ele, — ela disse com firmeza.

Ela não podia estar falando sério. Ou estava? Havia uma


maneira de descobrir.

— Supondo que eu não ache a sua escolha de noivo


completamente inadequada e concorde em seguir com esta
farsa, como esse... noivado... seria?

— Considere isso, como um futuro investidor da


Drummond Transportes, você e eu devemos passar um tempo
juntos, especialmente na ausência do meu pai, ele deve
retornar do Haiti até o final da semana. No entanto, outras
pessoas não saberão que estamos envolvidos em negócios.
Eles vão assumir que estamos simplesmente noivos.

— Você quer dizer que eles assumirão isso? — Ela


estava louca.
— Claro. A fofoca vai se espalhar. Vou ser questionada e
negarei. No entanto, as pessoas assumirão que temos um
envolvimento romântico que será formalizado quando meu
pai voltar. Só após o retorno dele, perceberão que o
envolvimento é financeiro e relacionado ao seu investimento
em nossa empresa, o primeiro investidor público, devo
acrescentar. A natureza do investimento não importa. Até
então, o nosso noivado não importará também. Vou ter
atraído a atenção do Sr. Highster que eventualmente pedirá
minha mão.

Ela era diabólica, mas não podia deixar de admirar a


elegância e ousadia de seu plano, embora houvesse uma
falha inegável.

— Você está apostando muito, não é? Na suposição de


que realmente sou um Barão Casamenteiro.

— Percepção às vezes supera a realidade, — disse


Chastity.

Estava falando sério, ele percebeu. Ela estava muito


otimista com a ideia. O rubor no rosto dela, a respiração
acelerada e os lábios rosados separados o atraiu.

Mudou a atenção para os olhos dela, mas não deteve


seus pensamentos, então ele se fixou no vinco em sua testa,
na parte superior do nariz.

Não podia concordar com a proposta dela. Não faria


isso.
Não podia negar que a ideia de passar mais tempo com
a senhorita Drummond fosse emocionante. Emoção. Era algo
que queria. E ele raramente queria algo.

Viu o entusiasmo dela por sua hesitação.

Que ele poderia dizer que sim. Ela inclinou-se


novamente e ficou impressionado com o inebriante aroma
floral dela, com o desejo de passar as mãos pelos cachos, e
beijá-la intensamente. Isso o abalou mais do que qualquer
coisa.

Foi noivo de uma mulher que queria outro homem


antes. Seis vezes, para ser mais preciso.

Mas, nunca quis uma mulher que se casou com outro


homem... E essa era uma questão totalmente diferente.

— Sinto muito, senhorita Drummond, — ele disse


quando se virou para ir embora. — Não posso ajudá-la.
Chastity Drummond franziu a testa enquanto estudava
a confusa caligrafia, feita com tinta escura no livro de
contabilidades de seu pai. Estendeu a mão para a lamparina
sob a mesa para iluminar melhor e poder olhar mais de perto.

Com um suspiro, riscou os números e escreveu suas


correções. O pai dela fez isso de novo, transpôs vários
números em contas a receber. Um erro ocasional e era de se
esperar, já que ele só aprendeu a ler e adicionar números nos
últimos anos. Além disso, a genialidade de seu pai não estava
na astúcia para os negócios, mas no modo de navegar, a
ousadia dele nos mares. Dê-lhe números e ele estava perdido,
e era precisamente por isso que Chastity sempre corrigia os
livros antes de enviá-los ao seu gerente financeiro, mas seu
pai estava piorando cada vez mais nos últimos tempos.

Não só com os livros.

O aperto em torno de sua pena aumentou, enquanto


lembrava-se de como ele esqueceu o nome do emissário
chinês, e de como isso foi interpretado como um sinal de
desrespeito custando-lhes as rotas comerciais mais valiosas
de todos os oceanos. A perda do porto de Xangai cortou todas
as suas operações através do Pacífico, um quarto de seu
negocio se foi! Desaparecidos em um piscar de olhos. A única
salvação estava na recente negociação estabelecida entre a
Grã-Bretanha e Cingapura, admitindo que fosse uma das
primeiras empresas a ter acesso concedido por Sua
Majestade.

Tinham que ser. Não havia outra opção.

Caso perdessem o Pacífico, teriam que interromper as


operações. Se interrompessem as operações, teriam muitos
navios parados no porto pagando taxas de aluguel
exorbitantes e não trazendo nenhuma carga. Seu capital
disponível diminuiria o que significa que não haveria dinheiro
para financiar a construção de navios melhores. Com isso,
ficariam para trás e sua empresa desmoronaria.

Olhou o relógio.

Peter Highster era a resposta para seus problemas. Ele


não só lhe traria valiosas rotas comerciais, incluindo o porto
de Cingapura, como também possuía experiência para
administrar a empresa de seu pai, sem os erros financeiros e
de negócios. De modo que o pai dela poderia desfrutar a vida
no mar, onde era mais feliz.

Não importava que não amasse o Sr. Highster, pois o


respeitava. Ou ainda que tivesse o dobro da idade dela, pois
ela era velha na alma. Ou que não parecesse querer ter filhos,
ele já tinha dois crescidos do casamento com sua primeira
esposa que morreu há alguns anos.

Tinha certeza de que para levantar um império de


transporte marítimo, não teria tempo para criar filhos, não
importa o quanto seu coração pulou de alegria ao encostar a
mão na barriga de Francesca, ansiosa para conhecer o
pequeno dentro dela. Ou como ele acelerou com emoção ao
imaginar um menino ou uma menina correndo para cima e
para baixo no convés de seus navios.

O Sr. Highster e a empresa seriam o suficiente, e ela não


seria dissuadida pela relutância de Lorde Willoughby.

Olhou para o relógio, esperando pelo inevitável.

Ela deu permissão para sua irmã continuar com seu


experimento cerca de uma hora atrás. Cassandra era muito
confiável quando se tratava dos experimentos dela.

A qualquer momento agora...

Quando se inclinou sobre a mesa para recalcular os


retornos esperados, uma explosão fez a casa estremecer.
Chastity colocou a mão sobre as contas para evitar que
caíssem no chão, mas não pôde evitar que os livros de seu pai
caíssem no chão, levantando poeira quando caíram. Tossiu,
acenando com a mão para trás e para frente de seu rosto.

Levantou-se rapidamente da cadeira e correu em direção


à sala de estar, enfiando os cachos loiros que escapavam de
seu penteado atrás da orelha e fingiu o melhor olhar de
inocência que os olhos azuis claro poderiam conseguir.

— Chá, chá, — elasussurrou para Jeffrey, que apenas


revirou os olhos de ir até a cozinha, retornou com uma
bandeja de prata cheia – que foi uma pechincha na feira de
artesãos, lembrou.
Mal sentou no sofá quando Lorde Wiloughby entrou na
sala de visitas, passando por sua acompanhante bordando no
banquinho do piano e indo diretamente até o seu jogo de chá,
que praticamente tremeu com a visão dele.

Dificilmente poderia culpar o jogo de chá, Chastity


pensou quando olhou para ele por trás de sua xícara. Era
realmente incompreensível como alguém tão atraente
conseguiu perder seis noivas.

Os músculos do pescoço dele estavam tensos enquanto


lutava para manter o decoro.

— Hoje? — Ele disse um pouco descrente. — Senhorita


Cassandra está novamente fazendo experimentos, apesar da
promessa dela feita no ano passado de que não iria fazer
quaisquer investigações científicas nesta casa? Então, logo
depois que recusei sua proposta? Você espera que acredite
que isso é coincidência?

— Ela saiu correndo da cama esta manhã gritando


eureka. Não podia controlar seus ataques de gênio, e você
quase pode invejar minha irmã por suas tendências
cientistas; — Chastity falou tomando um gole, — não quando
suas inovações triplicaram os lucros de nossa empresa, da
qual em breve você vai se tornar um acionista.

— Não é isso, — disse Lucas. — Além disso, não estou


reprovando as tendências cientistas da senhorita Cassandra.
Estou mais preocupado com a sua inclinação para queimar
minha casa... de novo. Talvez você possa ter recursos para
reconstruir sua residência por uma segunda vez, mas...
— Nós reformamos sua casa às nossas custas, bem
como, você se lembra. De qualquer modo, você me disse no
ano passado que prefere muito mais o estilo da nova
arquitetura que encomendei para a reforma.

— Prefiro não ser temporariamente um sem-teto.

Chastity lhe lançou um olhar duro. — Eu lhe asseguro,


Lorde Willoughby, que você não tem noção do sentimento que
se tem em ser sem-teto. Não tem noção de como é passar
fome. Do chão frio de Londres gelando seus ossos. De ter
unhas sempre sujas.

— Meu perdão, senhorita Drummond, — Lucas disse


com uma ligeira inclinação de cabeça. — Não quis ser
desrespeitoso. — Esperava que ele desviasse o olhar, mas em
vez disso manteve os olhos quase negros nos dela e de
repente era ela que estava se sentindo desconfortável.

— Venha, sente-se, — disse, apontando para o sofá a


sua frente. — Posso oferecer-lhe uma xícara de chá, para
acalmar os nervos, milorde?

Lucas arqueou a sobrancelha, mas aproveitou o silêncio


constrangedor sentar no sofá.

Outra explosão sacudiu a casa.

Chastity estava tão concentrada em salvar a bandeja de


chá - ela simplesmente não perderia outro conjunto de
porcelana fina por causa das experiências de Cassandra –
somente quando o chão parou de tremer que percebeu como
Lucas e ela estavam entrelaçados.
Ele se jogou sobre ela ao ouvir a explosão. Seu peito
moldado ao lado dela. A mão grande e pesada pressionada
para baixo em sua coxa para segurá-la sobre a cadeira. O
rosto descansado no topo de sua cabeça e podia jurar que por
um momento, sentiu os lábios dele entre seus cachos.

Sentiu-se embalada e protegida. Seu corpo estava


quente, seria pelo calor da vergonha? Não, era honesta
consigo mesma para saber que não era constrangimento.

Sua acompanhante saltou do banquinho do piano,


deixando cair o bordado no chão. Ela sempre manteve o
decoro, mas nunca teve realmente que fazer cumprir
quaisquer regras de etiqueta e, provavelmente, não sabia
como lidar com seu senhorio.

Fez um gesto para a pobre mulher para recompor-se e


limpou a garganta.

— Lorde Willoughby, por favor, — disse.

— Claro. — Sussurrou com a respiração contra seu


pescoço.

Ele a soltou lentamente, tirando a mão de sua perna e


se recostando na cadeira enquanto ela apressadamente
colocou a xícara de chá no pires.

Pigarreou.

— Estou surpreso que o conjunto de porcelana


sobreviveu ás explosões de sua irmã.

— Todos aqui na Mansão Drummond são feitos de uma


material mais resistente.
Lucas estudou-a por um momento.

— De fato, você é, — ele disse em voz baixa.

Chastity corou. Estava olhando-a. Ele, certamente, fez


isso antes, mas agora estava estudando-a. Quase da mesma
maneira que Cassandra estudava a mistura de dois
compostos completamente diferentes ou a forma como ela
mesma supervisionava cada compra de material que faziam.

Começou a despejar o chá para se distrair de seus


pensamentos inadequados, que deveriam estar focados em
outro assunto em questão: a fama dele de casamenteiro.

— Devemos ver como ela está? — Ele perguntou quando


outro tremor, mais suave desta vez, estremeceu a casa.

— Asseguro-lhe que o silêncio seria um sinal claro de


que algo aconteceu com a minha irmã e não o barulho.

— Será que ela, pelo menos, tem tomado às devidas


precauções com a saúde? — Ele perguntou.

— Ela usa proteção para os olhos e luvas, — disse


Chastity. Luvas caríssimas que compraram na última
temporada com a bainha de renda, e que eram perfeitamente
boas de usar. Cassandra não tinha noção do quanto as
coisas poderiam custar. As luvas custaram muito caro à
Chastity.

Lucas pegou a xícara e Chastity podia jurar que os


dedos dele roçaram as costas de sua mão. Quase sentiu isso
acontecer, chegou a sentir o arrepio e a energia que percorreu
seu corpo, mas no último momento ele mudou aposição da
mão e levantou a xícara sem contato.

— Tenho certeza que últimas experiências dela nos


renderão lucros incríveis, — continuou Chastity, com a voz
firme. — Você deve isso a si mesmo, para ver o que temos a
oferecer, não acha?

— Eu devo isso a minha casa para garantir que nenhum


mal aconteça a ela, — disse ele.

Ela caminhava determinada, observou ele. Era como se


não soubesse como passear. Agarrava a sombrinha
firmemente ao seu lado e caminhava pelas ruas com a coluna
ereta.

Seguindo-a um passo atrás do outro, seus passos largos


combinando com os dela sem muito esforço. A caminhada até
as docas foi longa, mas ela recusou a sua sugestão de
contratar um coche de aluguel.

— Pagar alguém para o que posso fazer de graça com


meus próprios pés? — Ela disse com desgosto. E, em seguida,
saíram para a caminhada.

Não conseguia parar de falar. Ela começou com a


história da empresa do pai dela, como conseguiram expandir,
e os seus planos para o futuro. Planos que pareciam incluir
influenciar as decisões do Sr. Highster para que traçasse
rotas no leste, e ganhar acesso às novas rotas de Cingapura.
— Você está convidado para o jantar de hoje à noite,
certo? — Ela perguntou.

— Meu irmão está. — Era um jantar com as pessoas


mais importantes dos altos mares e seu irmão queria ir.
Ocorreu-lhe que, ao contrário de Chastity, seu irmão, na
verdade, não tinha noção de como era se envolver em um
império de transporte além das ideias românticas dele.
Conhecer Chastity seria uma dose de realidade tão
necessária.

— Seu irmão participará, assim como você. Vai ser a


oportunidade perfeita para colocar nosso plano em ação.

— Um plano que não aceitei, — ressaltou. — Por que


você quer se casar com Sr. Highster afinal?

— Já expliquei.

— Você explicou que precisa das conexões de negócios


dele, mas isso não justifica o casamento e certamente não
justifica uma armação complicada comigo.

Ela parou, mas depois continuou em frente com ainda


mais rápido, forçando-o a acelerar o passo.

— Meu pai não pode dirigir a empresa para sempre.

— Sinto muito, — disse. — Não percebi que ele estava


doente.

— Ele não corre risco de vida, — disse ela rapidamente,


— apenas a sua empresa. Ele apenas... não é o que era.
Nunca foi muito interessado nos aspectos comerciais da
empresa e foi abandonando-os pela vida nos mares, onde se
sente confortável.

— Você se sente abandonada? — Ele perguntou.

Chastity olhou para Lucas surpresa, como se não


considerou se era normal um pai preferir um barco a sua
filha.

— Não, — disse ela depois de uma pausa. — Acho que


eu deveria, mas não. Meu pai aprendeu a amar o mar por
causa do seu amor por nós, e agora que temos idade
suficiente para cuidar de nós mesmas, faz sentido que ele
busque refúgio lá.

— Bem, — ele disse, — Sinto muito que você se encontre


nesta posição.

Ela parou de novo e olhou para ele, intrigada.

— Obrigada.

— Mas eu ainda acho que isso não responde a minha


pergunta, — ele disse. — Você parece mais do que capaz de
assumir a empresa do seu pai.

— E você parece mais do que capaz de ignorar as


realidades da nossa sociedade, — disse ela, acelerando o
passo.

— Eu? O único recusando-se a aceitar a realidade? Você


propôs dar-me ações públicas sem a aprovação de seu pai, na
suposição de que um falso noivado pode levar a um
compromisso com um indivíduo em particular.
— Para alguém que acredita que eu seja capaz de
administrar a empresa do meu pai, você me subestima em
outras áreas.

Sorriu com o comentário dela. E percebeu que não


sorriu muito ultimamente, apesar de seu bom humor ser a
marca registrada dele. Era bom voltar a sorrir e sentir como
se fosse ele mesmo. Nos últimos compromissos, sempre que
fazia alguma brincadeira, suas noivas ficavam confusas. Não
a Senhorita Chastity Drummond. Ele mal conseguia fazer um
comentário provocando-a antes que ela revidasse com o
dobro de força.

Ao se aproximarem do porto sentiram o cheiro de mar e


peixe misturado com a umidade abafada. Ele viu uma placa
de madeira balançando que dizia Drummond Transportes a
poucos metros de distância. Ele tentou abrir a porta abaixo
dele, mas aparentemente não foi mais rápido do que ela, que
puxou a porta e abriu.

A senhorita Drummond cumprimentou o cavalheiro na


frente da porta e os apresentou. Lucas notou os olhos
arregalados de surpresa com a sua presença. Ele acenou
para o homem e se juntou a Chastity quando ela começou
uma turnê através dos escritórios, mostrando-lhe mapas e
equipamentos, bem como um armazém inteiro dedicado aos
inventários.

Todos pareciam conhecê-la e ela conhecia a todos.


Acima de tudo, pareciam respeitá-la, até mesmo os
entregadores corpulentos quando ela gritou para eles sobre
pegar a rota mais longa para as entregas no campo. Seria
realmente fácil economizar mais dinheiro quando se
considerava que as estradas mais tranquilas permitiam uma
viagem mais rápida, com menos acomodações de noite.

Ela finalmente terminou com o último dos homens, ela


olhou para cima com um sorriso misterioso.

— Você quer ver as meninas? — Ela perguntou.

— Quem são as meninas?

— Você vai ver. — Levou-o através do armazém para a


porta que dava no cais, à sombra de três navios de sua
família, que se elevavam sobre a água, os arcos curvando-se
no ar sobre suas cabeças. Gaivotas grasnaram e pousaram
no convés.

Ela estendeu a mão e colocou sobre a madeira escura do


navio, com um suspiro. Acariciou-o como se fosse um cavalo
e o estivesse adorando. Seus olhos cerrados, tinha um olhar
de completa satisfação.

Lucas ficou impressionado quando percebeu que queria


que ela olhasse para ele dessa forma. Como se fosse à
resposta para cada necessidade.

Nem sempre quis isso em uma mulher.

No inicio, ficou contente com a ideia de ter uma


companheira, alguém para estar ao seu lado no dia a dia. Por
isso o primeiro compromisso dele, uma união feita por seus
pais. Então decidiu que a mulher com quem se casasse
deveria ser uma boa mãe para seus filhos, portanto, o
segundo noivado foi com uma mulher que viu ser carinhosa
com crianças, ele a achou tão meiga. Como a ideia dele de
casamento mudou, mudaram também as mulheres que
escolheu, mas uma por uma, elas escolheram outro,
deixando para trás nada além de memórias distantes,
desculpas, anéis de noivado, e a percepção de que ele não...
se importava.

Voltou a ser rejeitado. Mas seus términos o deixaram


tão feliz quanto antes, e esse pensamento o deprimiu cada
vez mais. Como poderia ter concordado em se casar com
alguém cuja ausência significava tão pouco? Certamente suas
motivações para se casar eram tão boas quanto qualquer
outra. No entanto, ontem, enquanto observava a sua mais
recente ex noiva dançando nos braços de seu irmão, teve os
pensamentos mais sombrios, que não iria encontrar alguém
que se importasse com ele.

Que nunca iria encontrar alguém.

Certamente não pensava que poderia esperar que


Chastity Drummond o olhasse do jeito que estava olhando o
navio. Percebeu por que ela não invejava o amor que seu pai
sentia pelo mar, porque amava seus navios, tanto quanto ele
amava o mar.

Retirou a mão do navio e virou-se para ele com os olhos


brilhando e um sorriso reluzente.

— Ela é linda, não é?

Ele olhou para ela, os segundos passavam e seu sorriso


lentamente mudou para um olhar interrogativo.
Ela parecia naquele momento ter mais vida, vibração, e
emoção – por aquele navio - do que ele jamais sentira em
relação a qualquer mulher em sua vida.

— Lorde Willoughby?

Não conseguiu parar e pressionou seus lábios nos dela.

Calor o percorreu enquanto ela engasgou sob sua boca.


Ele aproveitou a oportunidade para aprofundar o beijo.
Agarrou os ombros dela, os dedos pressionando o tecido
suave de seu casaco.

Começou a ter fantasias. A sensação das pernas dela em


volta de sua cintura. O cabelo cacheado arrastando sobre seu
peito. Ele a acariciou na boca, drogado pelo gosto dela.

Ela se afastou e em algum lugar no meio do nevoeiro


inebriante de paixão, ele conseguiu voltar a razão.

— Não é isso que as pessoas fazem em um noivado? —


Ele brincou.

Sentiu a dor da palma dela contra sua bochecha.

— Isto é o que as mulheres fazem quando os homens


tiram proveito. — Ela se afastou e o deixou olhando-a, com o
sangue fervendo e nervoso. Ele estava sentindo, sentindo pela
primeira vez, e não tinha intenção de deixá-la ir.
Chastity segurava sua bolsa contra o peito entorpecida
na volta para casa. Seus dedos tocaram suavemente os
lábios, que ainda formigavam pelo beijo.

Sabia o que Lorde Lucas Willoughby fazia. Estava


insultando-a, tentando fazê-la desistir e convencê-la de que o
noivado era uma má ideia. Estava provocando-a para admitir
que estava errada e sua ideia era ridícula.

Talvez fosse, mas não a impediria.

Caminhou para dentro, apenas para se distrair com um


barulho da cozinha. Caminhou para lá e encontrou
Cassandra inclinada sobre a pia cozinhando Deus sabe o
quê. Um segundo na cozinha e ela sentiu a umidade no rosto,
grudando mechas de seu cabelo no rosto.

— Aí está você, — disse Cassandra. Apesar de ser um


ano mais nova, ela era praticamente uma cópia de Chastity,
mas com os olhos verdes em vez de azul e cabelo loiro
elegante que moldava graciosamente seu rosto, embora
atualmente ele também estivesse colado ao rosto pelo suor e
vapor. — Onde você esteve?

— Saí.
— Por que você está tocando sua boca? Você tem uma
ferida?

Baixou a mão.

— Claro que não! — Ela limpou a mancha de sujeira do


rosto de Cassie. Pelo menos, a casa ainda estava firme, o que
não poderia dizer de si mesma.

Um beijo.

Ele devorou sua boca, avidamente, intensamente. O que


poderia tê-lo levado a pensar que a dissuadiria?

Cassie voltou sua atenção para a pia e quando falou,


sua voz estava baixa.

— Não acho que posso participar do jantar hoje à noite.

— Cassandra! Você sabe como esta noite é importante.


O Sr. Highster e seus parceiros vão estar lá e alguns preferem
falar sobre a mecânica do negócio.

— Então?

— Então? Preciso dizer a eles sobre... Suas coisas. —


Chastity apontou a pia.

— É isso mesmo, — disse Cassandra, — o que exige


minha presença em casa. Você sabe que tenho a teoria de
que a nossa queima de combustível é ineficiente, o que não é
bom até eu resolver a ineficiência. Bem acho que finalmente
consegui, mas preciso de tempo para testar as minhas
teorias.

— Você não pode continuar isto amanhã, depois de ter


tido tempo de encantar o Sr. Highster? — Chastity implorou o
que era ridículo porque sabia muito bem que poderia lidar
com o Sr. Highster e os amigos dele sem a ajuda de Cassie,
na verdade, estava se perguntando se sua irmã estava
confortável ou a distrairia de seu verdadeiro objetivo. Não, o
Sr. Highster não a preocupava. Mas sim a manipulação de
Lorde Lucas Willoughby, tinha certeza disso.

— Você sabe que eles estarão servindo carne e o quanto


eu detesto a crueldade desnecessária com os animais.

— Depois de tudo...

— Por favor, Chastity. — Cassandra deixou cair às peças


de metal com um baque e agarrou as bordas da pia. Ela
piscou, seus cílios longos brilhando com lágrimas. — Não me
faça ir. Sabe como esses eventos me fazem sentir.

Colocou a mão nas costas de Cassandra.

— Vai ficar melhor com o tempo.

— Não, — disse Cassandra. — Por favor, deixe isso pra


lá. Eu não posso.

Chastity não sabia o que fazer. Não sabia se estava certa


em empurrar sua irmã em eventos sociais. Cassandra era
bonita e inteligente, mas lhe faltava confiança. Ela não
poderia estar em uma multidão mais do que alguns minutos
antes de ser atingida por uma ansiedade incapacitante. Foi
essa ansiedade que forçou Chastity a se tornar o rosto da
empresa na ausência de seu pai, embora fossem as invenções
de Cassandra que trouxeram a empresa a nova glória e eram
a única coisa que os mantinha no comércio agora que
perderam um quarto dos negócios.
Ela deu um aperto em Cassandra.

— Então... devo vestir a fita de seda azul esverdeada?

Cassandra sorriu. Com uma fungada ela enxugou os


olhos com as costas da mão.

— Eu recomendo a vermelha.

— Mas se eu usar a vermelha, vou ter que mudar meu


vestido.

— Se você usar a de seda azul, vai perceber que eu a


rasguei quando ela agarrou no meu pente.

— Cassandra! Era cetim!

— E a vermelha é de gorgurão1. — Cassandra limpou as


mãos na frente do vestido e Chastity resistiu ao impulso de
dizer a ela que nenhum produto de limpeza limparia a
mancha.

— Venha, eu vou ajudá-la a se trocar.

Lucas não pôde deixar de notar que Chastity não estava


encontrando seus olhos, embora estivesse fazendo um grande
esforço em olhá-la do outro lado da mesa através de três
pratos. Em vez disso, ela estava concentrando toda a sua
atenção no Sr. Highster que por algum motivo o fez querer
esfaquear sua codorna repetidamente, especialmente porque
o Sr. Highster estava prestando muita atenção nela.

1
Tecido liso e encorpado.
Não que quisesse que o Sr. Highster lhe desse o mesmo
tipo de atenção que ele queria dar a ela, mas o homem
poderia ter a decência de ser mais do que apenas educado.

— Se as rotas forem conectadas, então teríamos a


vantagem de intermediar as negociações, — ela terminou sem
fôlego.

Highster assentiu educadamente, mastigando


desesperadamente. Como ele não foi afetado pelo entusiasmo
dela? Pelas bochechas coradas e olhos brilhantes?

— Também estava pensando, — Chastity continuou


antes de começar a dizer os benefícios que ligava a nova rota
de Cingapura através do Pacífico com outra que estava sendo
planejada em torno da Índia. Que tipo de homem era o Sr.
Highster, como seus olhos podiam estar vidrados com tédio?

Observou que seu irmão, pelo menos, estava inclinando-


se sobre o prato e ouvindo interessado. Mas, então, seu irmão
era um mercenário – teria que estar sempre atento para
roubar Grace debaixo de seu nariz.

— Como está, Lorde Willoughby?

Mudou o olhar para Grace, sua mais recente ex noiva,


que estava sentada em frente a seu irmão, mas ao lado dele
na longa mesa de jantar.

— Faminto, o que é uma sorte, dada a ocasião. — Ela


franziu o cenho. Ele nunca foi capaz de fazê-la rir, percebeu.
Nem uma única vez, por mais que tentasse. — E você?
— Estou bem. Espero... Espero que você esteja bem,
também. — Ela não encontrava seus olhos, em vez disso
olhava fixamente para a codorna no prato dela.

Esperava que estivesse bem? Estava bem, é claro que


estava. Mas não deveria estar. Essa era a sensação que o
incomodava. A ideia de que não devia estar bem quando sua
sexta noiva se empenhou em fugir com seu irmão.

Deveria estar desolado.

Especialmente quando a dama em questão era


razoavelmente atraente, incrivelmente bem-nascida, e com
uma moderada fortuna para herdar.

— Isso é incrivelmente perspicaz, — ouviu seu irmão


dizer.

Levantou a cabeça. Seu irmão estava falando com


Chastity, que, pela primeira vez, ergueu os olhos no final da
mesa, embora o olhar dela continuasse a evitá-lo.

— Obrigada, milorde, — ela disse ao irmão dele, e desta


vez Lucas esfaqueou sua codorna.

— Você acha que seus navios são capazes de viajar em


ambos os percursos? — Ele perguntou.

— Eles pareciam suficientemente capazes, — Lucas


encontrou-se dizendo.

A mesa ficou imóvel e em silêncio por alguns segundos.

— Você viu os navios? — Seu irmão disse rispidamente.


— Quando?
Então, Chastity olhou para ele. Finalmente e em
seguida, lentamente e com relutância, ela sorriu. Pela
primeira vez naquele jantar, sorriu também.

— Eu vi os navios apenas esta tarde, quando visitei os


escritórios do porto, — disse Lucas.

— Você visitou os escritórios do porto? — Sr. Highster


disse, ajeitando-se em sua cadeira.

A mesa inteira ficou em silêncio novamente, o único


ruído era o piscar dos olhares enquanto voavam entre Lucas
e Chastity e de volta para ele novamente.

— Isso foi... sábio? — Grace perguntou finalmente.

— Asseguro-lhes que os escritórios portuários são muito


seguros, — Chastity respondeu.

Lucas se perguntou se Chastity deliberadamente


interpretou mal a pergunta de Grace e a insinuação por trás
dela. Que o quê não era seguro era a ideia dos dois juntos,
envolvidos em alguma coisa.

— Os escritórios são abertos para os visitantes? —


Perguntou o Sr. Highster.

— Não é para o público, — Chastity disse, virando o


sorriso dela de Lucas. — No entanto, nós podemos fazer uma
exceção para bons amigos.

— Grandes amigos, — Lucas entrou na conversa.

Chastity lançou lhe um olhar penetrante. Ele levantou


uma sobrancelha. Será que ela achou que seu último
comentário fosse demais para a farsa?
Não podia acreditar que Sr. Highster estava cedendo a
este jogo, mas o homem que mal olhou para Chastity a
pouco, agora estava praticamente devorando-a com os olhos
arregalados.

— Visitando portos agora? — Seu irmão, disse. — Isso


parece muito trabalhoso. Pensei que você mencionou uma
temporada relaxante este ano. Sem quaisquer... Surpresas

Seu irmão queria dizer sem quaisquer compromissos.


Tiveram uma discussão surpreendentemente sincera sobre
isso no início da temporada, em que o irmão dele disse que
seria melhor para a família se Lucas evitasse quaisquer
constrangimentos futuros, se ele pudesse ficar uma
temporada sem comprometer-se. Não importa o fato de que
seu irmão contribuiu para o constrangimento da família
roubando Grace.

— Ia passar uma temporada relaxado, — disse Lucas, —


mas não posso recusar uma oportunidade com um
investimento tão interessante.

— Você dificilmente pode comprar coisas mais


interessantes em sua vida, — seu irmão retrucou.

A mesa silenciou novamente.

Lucas olhou para longe de seu irmão, para Chastity, que


estudava-o com um olhar estranho, uma mistura de
ferocidade e compaixão. Mas por que ela deveria sentir
qualquer emoção?

— Seu bem-estar é a nossa principal preocupação, —


disse o irmão dele.
— O que o seu irmão quer dizer, — Grace disse depois
de limpar a garganta, — é que se preocupam possa ser...
Estimulado.

— Sabe onde poderíamos usar essa estimulação? —


Chastity interrompeu rapidamente. — Nessa conversa. Posso
sugerir outro tópico? Sr. Highster?

Sr. Highster entrou na conversa com algo, algo chato


sem dúvida, mas Lucas mal notou. Se ele não soubesse de
nada, diria que Chastity estava bancando sua heroína.

Chastity esperou até que a rua estivesse escura e


deserta antes de se aventurar no ar frio da noite de Londres.
Enrolou o xale mais apertado ao redor de seus ombros e
rapidamente desceu as escadas para a calçada e subiu as
escadas vizinhas, na casa de Lucas.

Com outro olhar rápido pela rua vazia, ela bateu em sua
porta.

Nada aconteceu depois de vários minutos e ela se


perguntou se deveria correr de volta para casa. Isso era
estúpido e uma loucura. Mas tinha que falar com ele. Esta
noite.

Amanhã não. Hoje à noite.

Foi tão bem no jantar. Ele se envolveu em sua farsa –


finalmente! Não sabia o que o convenceu. Não foi o beijo. Por
que ainda estava pensando no beijo, de qualquer maneira?
Não foi o primeiro dela, era incrível como muitos tentaram
roubar um beijo quando assumiam que sua moral era tão
baixa devido à origem dela. Mas foi de longe, o mais
interessante. Nunca percebeu que o corpo poderia ficar tão
sintonizado, tão ansioso por algo... Embora ela apenas não
soubesse bem o que.

Bateu novamente. O que sabia era que estava ansiosa


para esclarecer a farsa deles. Como previu o Sr. Highster se
interessou por ela no momento em que assumiu que Chastity
e Lorde Willoughby estavam envolvidos.

Mas depois do que aconteceu entre Lucas e sua família,


a mágoa que eles se tornaram em seus comentários, ela não
tinha certeza que haveria um arranjo mais. Como ele poderia
querer continuar após o seu horrível tratamento? Ela tinha
que ter certeza de que estava tudo bem.

Bateu novamente.

Não sabia se poderia esperar até amanhã para vê-lo.


Certamente deveria ser capaz de esperar. O faltava apenas
algumas horas para o amanhecer. Mas por alguma razão, ela
realmente sentia que tinha que o ver agora.

A rua não permaneceria vazia para sempre. Ela virou e


deu um passo quando finalmente ouviu a porta ser aberta
atrás dela.

Ela virou-se para trás, Lucas estava de pé na porta


aberta segurando uma vela. Ele ainda estava vestido como se
tivesse caído no sono sem perceber. O botão de cima da
camisa estava aberto, a gravata pendurada e cabelo
desalinhado, como se ele tivesse passado as mãos através
dele várias vezes.

Seus olhos escuros arregalaram com a visão dela e ele


estendeu a mão para pegar seu ombro e levá-la para dentro.
Com um palavrão, Lucas olhou para a rua e fechou a porta
antes de se virar.

— Você está louca? — Disse, praticamente fervendo. —


O que está fazendo aqui?

— Você parou de falar comigo. — Ela esfregou o ombro,


não porque estivesse machucado, mas porque o sentia
estranho. Como se ela tivesse adormecido sobre ele e agora
estivesse com alfinetes e agulhas.

— O que quer dizer com eu parei de falar com você? —


Ele perguntou, dando um passo mais perto. — Estou falando
com você agora.

— No jantar, — disse ela. — Estava preocupada que


depois desse episódio, você poderia ter mudado de ideia.

Ele balançou a cabeça, como se estivesse acordando.

— Você não está fazendo sentido. Mudei de ideia sobre o


quê?

— Em me ajudar.

— Para ser justo, nunca concordei formalmente em


ajudá-la em primeiro lugar, — disse ele. — Você continua
assumindo que vou.

— Mas você fez.


Ele respirou rápido, frustrado colocou a vela na mesa
perto da porta da frente.

— Por que, exatamente, você está aqui de novo?

— Depois que seu irmão e a esposa falaram, você estava


tão quieto e mal olhou para mim. — Ele fechou os olhos, sem
responder. — Nunca quis que você suportasse o ridículo e a
dor por mim, — disse. Quando ele não olhou para cima, ela
descansou a mão em seu antebraço. Foi tão fácil colocá-la lá.

— Você não deveria estar aqui, — disse ele


sombriamente, olhando para sua mão.

— Eu sei, acredite em mim, eu sei, mas estava


preocupada com você.

— Asseguro-lhe que estou bem, — disse ele.

— Mas, de verdade? Se a minha irmã tivesse falado


comigo da maneira como seu irmão falou com você...

— Será que a sua irmã roubaria o seu pretendente?

Piscou para sua interrupção.

— Claro que não.

— Então o caráter dela é digno de preocupação muito


mais do que de meu irmão, lhe asseguro isso senhorita
Drummond. — Ele colocou as mãos suavemente sobre seus
ombros. — Não estou magoado pelos comentários dele.

— Realmente? — Descansou suas mãos em cima das


dele. Elas estavam quentes, e um pouco ásperas, embora a
não pudesse imaginar por quê.
Ele balançou a cabeça e engoliu em seco, os olhos
encarando as mãos deles unidas sobre seu ombro direito. Ela
sentiu um choque de energia.

— Nosso acordo continua, então? — Ela perguntou, com


a voz embargada.

Com isso, ele finalmente soltou-a e se afastou.

— Como você pode continuar o acordo sabendo que não


possui nenhuma afeição real pelo Sr. Highster?

— Tenho carinho suficiente para um casamento, — ela


disse em defesa própria. — E nós temos muito em comum,
incluindo o nosso amor pelo alto mar.

— Ele não tem amor pelo mar como você tem, é apenas
um posto para ele.

Abriu a boca para defender o Sr. Highster, mas não


conseguiu. Parte dela considerou que isso era verdade. Ele
não parecia nem um pouco interessado em tudo o que tinha
a dizer. Chastity foi um incômodo, mas um incômodo ou não,
ele era o melhor candidato para assumir as funções
administrativas de seu pai que ela conhecesse.

— Por favor, Lorde Willoughby, eu te imploro, me ajude


a continuar a nossa farsa.

Deu uma risada curta.

— A farsa? Diga-me, que parte disso é uma farsa?

— O noivado eu presumo, — ela disse. Talvez acordá-lo


do sono foi uma má ideia, ele parecia confuso. — Por favor,
me diga que você não esqueceu o plano.
— Ah, sim, — ele disse ironicamente. — Meu suposto
interesse em você. Uma farsa, não é?

Ele moveu-se rapidamente. Um momento ela estava de


pé longe de Lucas no próximo a puxou contra o peito dele, as
mãos espalmadas em suas costas, os lábios nos dela pela
segunda vez.

Ao contrário da primeira vez, a boca dele não estava


apenas pressionada contra sua. Estava selvagem sobre a
dela. Ele inclinou a cabeça, puxando-a para mais perto.

Não era o toque seco de lábios como foi antes. Sua


cabeça inclinada para trás, o pulso palpitando através dela,
fazendo-a queimar com calor. Uma das mãos subiu até os
ombros e depois até sua garganta, onde a boca dele
pressionou. Ele passou os lábios através da pele, como se
bebesse a pulsação dela.

Arrastou os dedos para inclinar o rosto dela para trás


em direção a ele e roçou o polegar contra o lábio inferior
antes de abaixar a cabeça novamente para tomar sua boca. O
roçar da língua enviou deliciosos arrepios através dela.

Derreteu-se contra Lucas, moldando-se a ele, lhe


arranhou os ombros, parecia que poderiam estar caindo no
chão..., mas então percebeu que ele estava se afastando dela.

Disparando palavrões, ele a segurou longe.

— Vê, — ele disse amargamente. — Tudo isso, é uma


completa farsa.
Ele parecia perturbado, mas não mais do que ela.
Ambos estavam respirando com dificuldade, o peito subindo e
descendo em sincronia.

Ele abriu a porta e verificou a rua. Ela podia ouvir uma


carruagem fazendo barulho por perto e esperou até que
passasse antes que a apressasse para fora. Quando o ar frio
da noite bateu em seu rosto, ela finalmente encontrou voz
para dizer:

— Então, estamos de acordo em que o nosso noivado


deve continuar?

A porta se fechou atrás dela.

Agora foram duas as vezes que ele a beijou e depois a


rejeitou.

— Você tem uma visita, — Jeffrey anunciou.

— Temos? — Cassandra perguntou e olhou por cima de


seus esboços do projeto.

— Mostre a ele, — Chastity disse e se levantou do divã,


sentindo borboletas no estômago.

— Como você sabe que o nosso visitante é homem? —


Perguntou Cassandra. — Você está esperando alguém? Por
que não me contou? Você sabe que não estou em condições
de receber visitantes.

Chastity olhou no espelho, puxando para trás os cachos


rebeldes que escapavam do coque antes de sentar. Não
poderia dizer a sua irmã que beijou um homem duas vezes e
eles precisavam conversar, e era Lucas que provavelmente as
visitava. Embora não soubesse o que dizer, uma vez que
chegasse.

Ela mal dormiu durante a noite. Memórias dos beijos


dele, a boca em sua garganta...

— Chastity, por favor, — Cassandra resmungou. —


Posso ir embora?

Uma rápida olhada para se certificar de que sua


acompanhante estava confortavelmente sentada no
banquinho do piano, ela balançou a cabeça.

— Obrigada, — Cassandra suspirou. — Demorou muito


tempo, quem é esse visitante?

Antes que Chastity pudesse responder ou Cassandra


pudesse ir embora, Jeffrey retornou.

— Sr. Peter Highster, — anunciou.

Chastity engoliu a decepção e colocou um sorriso em


seu rosto quando levantou para cumprimentá-lo, em seguida,
voltou para seu assento no divã.

Deveria estar em êxtase. O Sr. Highster na casa dela,


significava que seu estratagema com Lorde Willoughby
funcionou as maravilhas e depois de apenas um jantar. A
este ritmo, pela manhã de amanhã ela teria uma proposta
nas mãos.

— Senhorita Drummond, — disse Highster em uma


mesura. — Senhorita Cassandra, — ele disse para sua irmã.
O serviço de chá foi discretamente trazido.

— Lamento que não foi capaz de se juntar a nós para o


jantar, senhorita Cassandra, — disse o Sr. Highster.

Cassandra tossiu ou poderia ter sido um grito


estrangulado. Suas mãos tremiam e ela deixou seus esboços
caírem no chão.

— Deixe-me ajudá-la. — Sr. Highster pegou as páginas,


levantando-se lentamente, como se os estudasse. — Estes são
desenhos de motores?

— Si-si-sim. — Cassandra reuniu as páginas contra o


peito.

Chastity franziu as sobrancelhas. O desconforto de


Cassandra era óbvio, mesmo quando discutia o assunto
favorito de todos dela, mas pelo menos estava falando em voz
alta com alguém que não era seu parente ou empregado da
família. Ainda assim, não era sábio testar o humor de
Cassandra uma vez que sua gagueira começava.

— Você poderia devolver os desenhos de estudo para o


papai? — Chastity sugeriu.

Cassandra assentiu em um suspiro, dando a Chastity


um olhar de agradecimento, antes de fugir.

Sr. Highster ficou olhando para ela, seu mexendo


quando ele sentou.

— Aquelas eram modificações muito interessantes. Isso


é o mais novo empreendimento do seu pai?
— Você vai ter que perguntar ao meu pai quando ele
retornar no final de semana, — Chastity disse em tom de
desculpa, não ansiosa para admitir que soubesse muito
pouco da engenharia da empresa.

— Ah, — disse ele. — Certamente, a sua irmã...

— Tem planos para o dia, — disse ela. — Mas se quiser


discutir outros aspectos da nossa empresa... nossos planos
de expansão talvez? Como discutimos ontem à noite.

— Talvez possamos tomar as providências para eu


discutir a expansão quando seu pai retornar.

— Oh. Absolutamente. — Sua mão tremia tanto que o


chá espirrou um pouco por cima da borda. Limpou com a
mão, deixando de lado o desconforto de que seu vestido de
algodão deveria ser lavado imediatamente para evitar
manchas. Ele estava ansioso para discutir engenharia com
Cassandra, mas não finanças com ela?

É claro que ele não gostaria de discutir qualquer coisa


relacionada a operações com ela. Não era a dona da empresa,
nem a sua gestora. Não tinha meios públicos para afetar as
operações, apenas privados.

— Acontece, senhorita Drummond, que posso ter outros


assuntos para discutir com o seu pai. Negócios de caráter
mais pessoal, que devem ser agradáveis para você.

Suposição pairava no ar, ele quis dizer que iria declarar


seu interesse por ela?
Era exatamente o que ela queria. Queria se casar com
um homem da posição dele que seria capaz de ajudar a
garantir o futuro da empresa de seu pai.

Agora que ele disse, ela não pôde deixar de notar que
não estava animada em tudo.
Normalmente, Chastity não se sentiria desconfortável
em usar o vestido de seda dourado que usou dias atrás em
outro evento. Especialmente desde que tomou cuidado para
modifica-lo com uma echarpe marfim no ombro e, em vez de
deixar seu cabelo em um coque, ela escovou-o sobre os
ombros. Mas no baile de hoje à noite, ela estava
constrangida.

Francesca ainda estava doente e não poderia


comparecer. Cassandra, é claro, implorou para não ir. Pior
ainda, o pior de tudo, Lorde Lucas Willoughby, estava longe
de ser encontrado, deixando Chastity se sentindo muito
sozinha.

Ela não deveria se sentir sozinha.

Na verdade, ela nunca foi mais popular.

Sr. Highster lhe buscou uma meia dúzia de bebidas. Seu


cartão de dança estava quase cheio. Várias damas pararam
para uma conversa educada, que foram apenas tentativas
veladas de descobrir o boato de que ela pode ou não ser
pedida em casamento por Lorde Willoughby.

— Há quanto tempo você vive ao lado de Lorde


Willoughby? — Perguntou uma dama em particular.
— Quatro anos, — Chastity respondeu, esforçando-se
para lembrar o nome da mulher. Ela era alta, elegante e
sofisticada, exatamente o tipo de dama que Chastity nunca
seria.

— Você conhece os outros? — Perguntou a Lady.

— O resto de sua família não reside na casa de Lorde


Willoughby. O meu entendimento é que seu irmão reside pela
cidade e os pais permanecem no campo.

— Não os outros de sua família. — A Lady se aproximou.


— Eu quis dizer... As outras.

As outras noivas.

Não deu muita atenção a elas até agora, mas ocorreu-


lhe que Lucas Willoughby se importava o suficiente com as
seis mulheres, dos seis anos consecutivos para propor
casamento. Combinado com o fato de que ele a beijou duas
vezes na semana passada, não tinha certeza do que pensar
do homem.

Ele era inconstante? Não parecia ser. Um cafajeste?


Não, não houve rumores que sugerissem.

— Encontrei recentemente a mulher de seu irmão, mas


não posso afirmar que a conheço bem, nem qualquer uma
das outras, — disse Chastity. — Você pode?

— Duas delas, — ela disse, triunfante.

— E? — Chastity perguntou, odiando-se por inclinar-se


tão baixo para perguntar.
— E... elas são muito diferentes, as mulheres. Na
verdade, se você considerar que nenhuma delas tem a mesma
aparência ou age da mesma forma ou vem da mesma
linhagem. Não é curioso?

Não considerou quaisquer padrões entre as noivas de


Lucas antes, mas era verdade. Cada mulher era diferente da
outra, o que a incomodou. Muita coisa estava a incomodando
hoje à noite, e pelo tempo que bebeu um copo de ponche
entregue pelo Sr. Highster, Lorde Lucas Willoughby fez sua
entrada triunfal e deu um sorriso encantador para todos no
salão, ela estava irritada e chateada.

— Senhorita Drummond, — ele disse em saudação


enquanto se aproximava dela. Todo mundo em torno deles se
afastaram como se fossem ter uma melhor visualização de
longe.

— Por que você propõe a todas as mulheres? — Ela


perguntou.

Ele franziu a testa.

— Que mulheres?

— Não pode ter esquecido seus seis noivados anteriores.

Ele agarrou o braço dela e levou-a em direção às portas


francesas que davam para fora em direção aos jardins. A
expressão dele escureceu quando olhou ao redor do salão de
festas. Todos os olhos estavam sobre eles observando cada
sussurro.
Chegaram ao terraço, onde o número de casais diminuiu
de várias centenas a uma meia dúzia, ele levou-a para longe.

— Pergunte-me novamente. — Ele estava respirando


pesadamente, as mãos apoiadas em seus quadris. Quase
como se estivesse desafiando-a a fazer a pergunta.

Ela pigarreou.

— Por que você propôs a todas as mulheres?

— Não sei, — ele disse.

Ela piscou, perguntando se ouviu mal. Se tinha se


distraído muito com os angelicais cachos escuros dele. Era
ridículo quão atraente ele era às vezes.

— Não sabe? Foi atingido por uma perda de memória


antes de fazer as propostas? Nas seis vezes?

— Você já terminou?

— Não, — ela disse, sentindo a raiva comprimindo sua


garganta. — Será que você amava qualquer uma delas?

— Que resposta você prefere?

— A verdade.

— Tem certeza? — Ele se aproximou, elevando-se sobre


ela agora, sua respiração vinda em rajadas curtas irritadas.
— Prefere que diga que amei todas elas e sai com o coração
partido? Ou prefere que diga que era um idiota insensível,
estúpido o suficiente para tornar-me noivo de seis pessoas
por quem era completamente indiferente?
— Não sei, — gritou. Sentia-se tão fora de controle, tão
irritada com ela mesma. — Eu queria...

— O que você quer?

— Eu queria...

Ele suspirou e passou os dedos sobre a testa dela.


Olhou em seus olhos, a expressão suavizando.

— Sim?

— Eu queria que você não tivesse proposto a essas


mulheres.

— Mas então eu não seria o Barão casamenteiro, — ele


sussurrou.

— É isso que você é, Lucas?

Seus olhos escureceram e ele guiou-a para trás em um


canto escuro contra uma coluna. Com as costas pressionadas
contra a superfície fria e dura, ele pressionou o comprimento
do seu corpo contra o dela.

Ela gemeu baixinho, o que pareceu despertá-lo. Ele se


afastou enquanto a estudava, não mais que um passo atrás,
não desta vez. Desta vez, as mãos pressionadas na parte
baixa das costas dela.

— Desculpe-me, me deixei levar. É só que... você nunca


me chamou pelo nome antes.

— Lucas?

Seus olhos escureceram novamente e ele a beijou com


um gemido.
Os Lábios dele eram mágicos, eles embriagavam-se em
si mesmos.

— Lucas, — ela murmurou contra sua boca.

Ele aprofundou o beijo, apertando-se contra ela,


procurando quase cegamente sua língua.

— Lucas, — ela brincou novamente.

Dessa vez ele se afastou e riu, dando um beijo em seu


cabelo antes de descansar a testa na dela.

Ele finalmente se afastou, olhou para o rosto dela, quase


pacífico e contemplativo.

— Ouça-me, Chastity. Fiz a proposta a essas mulheres


porque queria estar apaixonado e casado, mas isso não
significa que eu estava apaixonado por elas. Era jovem e
ingênuo, e assumi que o resto viria depois. Mas isso não
aconteceu. E não acontecerá com você e o Sr. Highster
também.

Ela balançou a cabeça, estava esquecendo-se de seu


propósito: que estava aqui para tentar se casar com o Sr.
Highster. Não ser beijada sem sentido por seu vizinho muito
atraente.

Não podia deixar-se distrair por necessidades pessoais,


não quando sua família era mais importante.

— Meu arranjo com o Sr. Highster vai ser diferente. Vai


ser mais do que um casamento.

— Não existe tal coisa de mais do que um casamento, —


ele disse.
Afastou-se dele e depois de um momento de hesitação,
ele deixou-a ir. Mas jogou suas palavras de despedida em
suas costas.

— Ou você está em um casamento ou não. E tudo o


resto é não importa.

Chastity colocou uma toalha molhada sobre a testa


suada de Francesca.

— Obrigada, — sua amiga gemeu, fechando os olhos e


se aconchegando ainda mais sob as cobertas.

— Isso é normal? — Perguntou Chastity. A situação de


sua amiga lhe preocupava.

— É loucura, mas suponho que os dois não são


mutuamente exclusivos. Desculpe-me por manter meus olhos
fechados, mas temo que uma vez que eu os abra vou colocar
para fora mais uma refeição.

Chastity foi até à cama para se sentar ao lado de sua


amiga enquanto preparava outra toalha fria na bacia de água
na mesa de cabeceira.

— Como posso ajudar?

— Distraia-me, — disse Francesca. — Deve ser fácil o


suficiente. Eu ouvi rumores de não um, mas dois possíveis
compromissos em seu futuro. — Chastity torceu o pano mais
duro e o substituiu na testa de sua amiga. — Não preciso
abrir os olhos para saber que você está evitando uma
resposta.

— Para ser justa, na verdade não tenho nenhum


compromisso significativo.

— Isso não é o que Phillip diz.

— Desde quando o seu marido se envolve em fofocas? —


Chastity achou difícil de acreditar que o marido de Francesca
poderia estar envolvido em qualquer coisa que não tivesse a
ver com sua esposa, por quem estava apaixonado.

— Desde que lhe pedi para ficar de olho em você.

— Francesca!

Francesca gemeu quando a cama mexeu com os


movimentos de Chastity.

— Por favor, não, eu imploro. Anistia.

— Só porque o seu sofrimento é castigo suficiente, —


disse Chastity, organizando os panos mais perto ao redor dos
ombros de sua amiga. — Embora eu espere que o seu médico
esteja correto e que a vertigem pare uma vez que sua náusea
passar.

— Sua esperança está um pouco mais distante do que a


minha. E não ache que está me distraindo. Você está dizendo
que os rumores de seu envolvimento com seu vizinho, o
Barão Casamenteiro, têm sido muito exagerados?

— Tenho certeza de que não são exagerados o suficiente,


— Chastity disse com um suspiro.

Francesca abriu um olho verde.


— Explique esse comentário, por favor. Eu preferia que
o meu bebê por nascer não ficasse órfão, mas se Phillip deve
limpar suas pistolas de duelo prefiro saber mais cedo que
mais tarde.

— Não houve nada de inconveniente, — Chastity


prometeu. — Eu simplesmente propus a ele.

Francesca sentou-se na cama, em um movimento suave


curvado sobre seu lado para vomitar o conteúdo do estômago
em uma bacia.

Chastity se aproximou para limpar a testa e a boca e


virou-a suavemente em suas costas.

— Por isso, você me deve uma explicação, — disse


Francesca, fechando os olhos.

— Como sabe, o Sr. Highster inconscientemente detém a


empresa do meu pai refém, pois continua a determinar quais
as rotas que a Inglaterra vai permitir e como você sabe um
casamento com ele seria muito vantajoso.

— Não sei de nada do tipo, — Francesca disse, — Então,


por favor, vá para a parte sobre o seu acordo com Lorde
Willoughby.

Chastity rapidamente recapitulou seu arranjo com Lorde


Willoughby, bem como o êxito da farsa com o Sr. Highster.
Ela deixou de fora os detalhes físicos mais íntimos da semana
passada.

— Está tudo fora de controle, — ela disse.


— Noivados ilícitos costumam ficar, — disse Francesca
conscientemente.

— O que devo fazer?

— Depende do que você quer.

— Eu quero a companhia de papai segura, — disse. —


Posso dizer que continuar com a administração da empresa
está matando-o lentamente. Suas viagens ao mar estão mais
longas. Ele mal consegue olhar para os livros e se continuar
desta forma vamos estar em ruínas. Não posso continuar
cobrindo ele.

— Então você deve terminar o seu acordo com Lorde


Willoughby imediatamente. Já chamou a atenção do Sr.
Highster. Certamente não há nenhuma necessidade para a
farsa continuar.

Chastity refletia sobre a resposta sensata de Francesca.


Certamente não havia mais necessidade. Mas o que ela
realmente queria?

Lucas se sentiu ansioso quando caminhou para a casa


de Chastity a seu convite. Ela parecia estar evitando-o desde
o encontro deles no baile, esteve misteriosamente ausente
ontem e só agora acabou de descobrir que ela estava ficando
com uma amiga na cidade.

Só podia esperar que tivesse mudado de ideia sobre seu


desejo de se casar com Sr. Highster.
Não que ele quisesse se casar com Chastity. Estava
compreensivelmente hesitante sobre tornar-se noivo de
alguém... Novamente.

O mordomo dela, Jeffrey, levou-o para a sala de estudo,


onde sua acompanhante estava sentada em um banquinho
no canto e a irmã estava longe de ser encontrada. Chastity
estava sentada em seu divã, torcendo nervosamente um
pedaço de papel na mão.

— Milorde, — disse, levantando-se.

— Pensei que tínhamos decidido que Lucas era mais


apropriado.

Ele sabia que estava em apuros quando ela nem sequer


sorriu. Em vez disso, estendeu o papel para ele.

Ele arrancou-o de seus dedos. Era um certificado de


ações da Drummond Transportes que foram transferidas para
o nome dele. Em suas mãos, percebeu, ele segurava dinheiro
suficiente para cuidar de si mesmo, seus filhos, os filhos dos
filhos dele e muitos mais, assim como todo o baronato.
Segurava um objeto que seu irmão desejou durante anos. E
não queria nada mais do que o destruír em pedaços.

— Qual é o significado disso? — Ele perguntou, jogando


as ações sobre a mesa entre eles.

— Tínhamos um acordo.

— Nós nunca formalizamos qualquer acordo, — disse.

— Não seja teimoso.


— Você está me acusando de teimosia? — Ele criticou.
— Eu? Você é a única que insiste em se casar com um
homem que iria deixá-la infeliz.

— Nunca poderíamos trabalhar juntos... você nem sabe


o que quer em uma mulher. De que outra forma pode explicar
os seus seis compromissos, cada um com uma mulher mais
diferente do que a outra?

— Isto não é sobre mim, — ele disse. — Eu gostaria que


você caísse em si mesma e nos desse uma chance? Sim. Mas
é mais do que isso. Trata-se de você se casar com um homem
que assumirá a empresa que você deveria estar
administrando. Você. Não ele.

— É impossível, — ela disse.

— O que é impossível é viver com o erro que você está


prestes a cometer. Sabe quanto tempo esperei para sentir
alguma coisa, qualquer coisa, para me sentir como você se
sente sobre esses navios? Agora que encontrei, agora que
sinto isso, não posso deixá-lo ir, Chastity. Não sei como você
pode, também.

Ela pegou o certificado e estendeu a ele com as mãos


trêmulas.

— Diga alguma coisa para mim, — ele implorou.

— Você disse que isto não é sobre você, — Chastity disse


calmamente. — Bem, não é sobre mim, também. Minha
família sabe o que é querer alguma coisa. Nós sabemos o que
é querer comer. Querer estar seguro. Querer dormir à noite
sem a chuva caindo sob nossas bochechas.
— Não deixaria isso acontecer com vocês, — ele
prometeu.

— Se eu aprendi alguma coisa sobre a pobreza, é que


não é algo que você deixa acontecer. Agora, por favor. Deixe-
me.

Lucas pegou o certificado, rasgando-o em pedaços,


deixando um rastro seguindo-o para fora da porta da frente.
Chastity mexia na gravata de seu pai.

— Eu faço isso, querida, — ele disse, puxando a seda de


seus dedos. — Meu Deus, só fui embora por alguns meses e
não havia ocasião para usar uma gravata em minhas viagens.
— Segurou-lhe as mãos para acalmá-la. — Lembro-me de
como fazer isso.

— Claro que sim, — ela disse com um suspiro de alívio.

— Aconteceu alguma coisa, querida? — Ele colocou as


mãos nos ombros dela, pois eram quase da mesma altura
agora - seu pai sempre foi um homem mais baixo. Ela
lembrou-se de quando tinha que se agarrar no pescoço dele
para ver qualquer coisa acima dos joelhos.

— Tudo está perfeito, — ela disse, mas seu tom de voz


parecia falso até mesmo para seus ouvidos. — Venha, nós
não queremos manter o Sr. Highster esperando.

Chastity chamou Cassandra, que relutantemente


desceu as escadas em um vestido de musselina verde que
combinava com seus olhos. Pelo menos ela fez um esforço.

Nem Cassandra nem seu pai estavam muito contentes


em ir ao baile de hoje à noite ou qualquer baile, mas o Sr.
Highster deixou claro que queria discutir assuntos pessoais,
portanto assuntos pessoais deveriam ser discutidos.

Assuntos que nada tinham haver com Lucas


Willoughby.

Ela preparou-se contra qualquer reação a ele. Repetiu


várias vezes durante o passeio de carruagem que iria ser
simpática e sorrir, mas não falaria com Lucas. Enquanto os
seus nervos estavam à flor da pele, ela prometeu a si mesma
que não iria dançar com ele. Mas no momento em que entrou
no salão de baile e o viu do outro lado da pista de dança,
todas as suas boas intenções fugiram de sua mente.

— Aquele é o nosso vizinho? — Seu pai perguntou, a


expressão dele ficou confusa quando ele encontrou o objeto
de sua atenção.

— Sim, — respondeu Chastity. — É Lorde Willoughby.


— Lucas, ela pensou. Era Lucas.

— Não me lembrava dele como um sujeito tão intenso.

— Eu também, — Chastity suspirou.

Deliberadamente forçou-se a encontrar o Sr. Highster no


meio da multidão. Ele ergueu a sobrancelha quando a viu e
veio em direção a eles, esperando pacientemente enquanto
ela apresentou-o a seu pai.

— Posso ter a próxima dança? — Ele perguntou


finalmente.

Chastity olhou para sua mão estendida. Sentiu o peso


de sua decisão. Podia ver agora o futuro definido para ela.
Nunca quis correr tanto de algo em sua vida - nem da
pobreza e nem da crueldade social.

Obrigou-se a olhar para seu pai, que estava olhando


para ela com o rosto amável e a expressão absorta. E para
sua irmã, que estava ansiosamente olhando ao redor da sala
com os olhos bem apertados.

Forçou um sorriso e pegou a mão do Sr. Highster.

Poderia realmente ter sido há uma semana que ele


esteve num baile muito parecido com este e assistido suas
seis noivas dançarem com outros homens e não ter sentido
nada?

Que diferença uma semana podia fazer

Enquanto assistia o Sr. Highster levar Chastity para a


pista, Lucas foi atingido não apenas com a vontade, não
apenas com anseio, mas como uma obsessão por ela. Com o
conhecimento que Chastity tinha de alguma forma infectado
cada parte dele, mesmo quando deixasse o salão, ela ainda
estaria em cada pensamento, em cada poro dele.

Ele quis desejar, e agora conseguiu o que queria,


pensou com uma risada sarcástica.

Sentiu uma mão em seu braço e olhou para a esquerda


para ver seu irmão e cunhada.

— Pelo menos desta vez, ela deixou você antes do


noivado ser oficial, — ele disse.
Ele se afastou, deixando Grace. Ela lhe deu um sorriso
simpático.

— Se você tivesse olhado para mim do jeito que está


olhando para ela, — disse, — Eu não o teria deixado.

Lucas a olhou, surpreso. Ela lhe deu um sorriso tímido.

Ele curvou-se.

— Sinto muito, não lhe dei a atenção que merecia.

O olhar dela encontrou de volta o de seu irmão.

— Eu não, — ela disse, se afastando.

Ele olhou para trás, para Chastity enquanto ela valsava


pelo salão nos braços do Sr. Highster.

Ele estava andando em direção a ela antes mesmo que


percebesse. Casais se separavam enquanto empurrava entre
eles. Estava a meio caminho dela quando a música do violino
parou em um silêncio ensurdecedor.

Os sussurros começaram imediatamente. Os sussurros


que ele tentou tão dificilmente evitar.

Os olhos azuis de Chastity se arregalaram com alarme


quando o Sr. Highster a soltou. Sabia como ele deveria
parecer, escuro e vingador.

— Posso te ajudar? — Sr. Highster perguntou, olhando


entre eles.

— Você pode liberar a minha noiva, — disse.


A multidão ficou boquiaberta, assim como Chastity. Mas
o Sr. Highster recuou, murmurando desculpas, e Lucas
suavemente entrou em cena, pegando a mão dela.

— O que você está fazendo? — Ela disse em um


sussurro indignado.

— Dançando com a minha futura esposa, — ele disse.

A música aumentou ao longe abafando os murmúrios da


alta sociedade e começaram a se mover, parando num
quadrado, vindo junto e separados, juntando as palmas das
mãos e girando em círculos.

— Você vai estragar tudo, — ela disse.

— Se você me disser que o ama, vou embora.

— Amor? Não seja ridículo, isto não é sobre amor.

— Sim, é, — ele disse em voz baixa.

Ela parou de dançar, congelando no meio do salão.

— É?

— É, — ele disse aliviado, finalmente colocando um


nome ao sentimento.

— Mas... a empresa, meu pai e minha irmã.

— Exatamente, — ele disse. — Isso é tudo o que você


precisa. A empresa, seu pai e irmã. Não precisa do Sr.
Highster. Nunca precisou e não precisa agora.

— Mas os acionistas nunca irão...

— Seu pai nunca quis acionistas para sua empresa. Por


que acha que ele não abriu para ações públicas?
Chastity olhou para seu pai e Lucas observava a
conversa silenciosa entre eles. Ela se virou para ele, com os
olhos brilhando.

Lucas se perguntou se foi longe demais. Todo o salão de


baile os observava agora. Seu irmão estava olhando,
horrorizado. Pelo menos Grace estava sorrindo para a cena.
Olhou para o rosto de Chastity. Os lábios dela se abriram
ligeiramente. Ele sentiu o tique-taque do tempo com cada
batida de seu coração.

— Diga alguma coisa, — ele implorou.

Chastity inclinou-se com um sorriso e levou os lábios ao


ouvido dele.

— Lucas, — ela disse.

Ele sorriu quando ela se afastou.

— Aqui? — Ele disse. — No salão de baile?

— Lucas, — ela repetiu com uma piscadela diabólica.

Com isso, ele baixou os lábios nos dela.

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