Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO

CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO

CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO
Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO
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 Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO
CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO

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 Candidatura das Fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO

CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE

PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO

ÍNDICE CONTENTS

COMISSÃO DE HONRA DA CANDIDATURA DE ALMEIDA 7

COMMISSION OF HONOUR TO THE CANDIDACY OF ALMEIDA

COMISSÃO TÉCNICA DA CANDIDATURA DE ALMEIDA 9

TECHNICAL COMMISSION TO THE CANDIDACY OF ALMEIDA

ALMEIDA A PATRIMÓNIO DA UNESCO ALMEIDA TO UNESCO WORLD HERITAGE 15

António Baptista Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal Mayor

1. O CAMINHO SÓ EXISTE PORQUE ESTAMOS A FAZÊ-LO 17

THE PATH ONLY EXISTS BECAUSE WE ARE MAKING IT
João Campos, Coordenador do Dossiê Coordinator of the Dossier

2. FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DAS FORTIFICAÇÕES DE ALMEIDA 21

IDENTIFICATION FORM OF THE ALMEIDA FORTIFICATIONS

3. TESTEMUNHOS SOBRE O VALOR EXCEPCIONAL DO PATRIMÓNIO EDIFICADO 39

DAS FORTIFICAÇÕES ABALUARTADAS DE ALMEIDA
STATEMENTS ON THE OUTSTANDING VALUE OF THE BUILT HERITAGE
OF THE ALMEIDA FORTIFICATIONS

3.1 - António Filipe Pimentel 40

3.2 - André Teixeira 53
3.3 - Adriano Vasco Rodrigues 60
3.4 - Fernando Cobos-Guerra 91
3.5 - José Manuel Fernandes 109
3.6 - Milagros Flores Román 122
3.7 - Pedro Dias 125
3.8 - Rui Carita 144
3.9 - Rui Ramos Loza 159
3.10 - Teresa Andresen 171

4. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITECTÓNICA DA OBRA ABALUARTADA DE ALMEIDA 175

HISTORICAL AND ARCHITECTONICAL CHARACTERIZATION OF THE BULWARKED WORKS OF ALMEIDA
João Campos

5. AS PORTAS DA PRAÇA-FORTE 213

THE GATES OF THE FORTRESS
João Campos

6. DOS TRATADOS E SOBRE OS TRATADISTAS 272

ABOUT THE TREATISES AND THEIR AUTHORS
João Campos

7. PLANO de gestão 279

management plan
Rui Ramos Loza

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 Candidatura das Fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO

CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE

PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO

COMISSÃO DE HONRA DA CANDIDATURA DE ALMEIDA

Commission of Honour for the Candidacy of Almeida

António Baptista Ribeiro

Presidente da Câmara Municipal Mayor

Adelino de Matos Coelho

Major-General Major-General

António Pedro Gonçalves Dias

Professor Catedrático da Universidade de Coimbra Chair Professor of the University of Coimbra

António Sousa Júnior

Antigo Presidente da Câmara Municipal Former Mayor of Almeida

Alexandre de Sousa Pinto

Tenente-General Lieutenent-General

Adriano Vasco Rodrigues

Director Jubilado da Schola Europaea (U. E. – Bélgica) Jubiled Director of the Schola Europaea (U. E. – Belgium)

Eduardo Lourenço de Faria

Filósofo, Professor das Universidades Europeias e da América Phylosopher, Professor in European and American Universities

Fernando José Matos Pinto Monteiro

Procurador-Geral da República General Prosecutor of the Republic

João dos Santos de Sousa Campos

Arquitecto, Doutor em História da Arte Architect, Doctorate in History of Art

José da Costa Reis

Antigo Presidente da Câmara Municipal Former Mayor of Almeida

José Vilhena de Carvalho

Ensaísta da História de Almeida Essayist of the Almeida History

Maria Helena Carvalho dos Santos

Professora Jubilada da Universidade Nova de Lisboa Jubiled Professor of the Universidade Nova of Lisbon

Manuel José Marques Ribeiro de Faria

Ex-Director do Museu Militar Former Director of the Military Museum

Rui Carita
Professor Catedrático da Universidade da Madeira Chair Professor of the University of Madeira

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 Candidatura das Fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO

CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE

PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO

COMISSÃO TÉCNICA DA CANDIDATURA DE ALMEIDA

Technical Commission for the Candidacy of Almeida

Concepção / Elaboração e Coordenação Geral

Concept/elaboration and general coordination
João S. de Sousa Campos

Estudos de Caracterização e articulação com o municÍpio

Characterization studies and articulation with the municipality
João J. Martins Marujo

PolÍtica de Património, Planeamento e Gestão

Policy Of Heritage, Planning And Management
Rui Ramos Loza

Notas Curriculares dos Técnicos ResponsÁveis pelo Dossiê

Curricula notes of the technicals authors of the dossier

CONTRIBUTOS PARA O CONTEÚDO TÉCNICO DO DOSSIÊ

Contributions to the technical matters of the dossier

ANEXO
(Caixa contendo um cd-rom com materiais fotográficos e livros
sobre a Fortaleza de Almeida, editados pela Câmara Municipal)
ANNEXE
(Box containing one cd-rom with photographic materials and books
about Almeida Fortress, edited by the Municipality).

8 9
COMISSÃO TÉCNICA DA CANDIDATURA DE ALMEIDA
Technical Commission for the Candidacy of Almeida
JOÃO DOS SANTOS DE SOUSA CAMPOS (1951)
Licenciado em Arquitectura e Urbanismo pela Escola Superior de Belas-
-Artes do Porto, em 1974.
Mestre em Relações Interculturais pela Universidade Aberta, Lisboa,
em 2002.
Doutor em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, em 2009.
Professor de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto
Membro do Instituto de História de Arte da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra
Perfil Académico
Concluiu o Liceu em Lourenço Marques com a média final de 17 valores.
Durante toda a frequência da E.S.B.A.P., foi bolseiro da Fundação Ca-
louste Gulbenkian, tendo concluído o curso de Arquitectura com a clas-
sificação final de Bom.
A frequência de um Curso de Mestrado em área convergente no do-
mínio das Ciências Sociais conferiu-lhe uma visão integrada e aplicada,
elaborando uma tese sobre “A Arquitectura dos Impérios do Espírito
Santo” dos Açores, tendo obtido a classificação de Muito Bom e reco-
mendação de publicação.
O vasto percurso pessoal de investigação que tem desenvolvido inter-
nacionalmente na defesa activa do património arquitectónico de ori-
gem portuguesa espalhado pelo mundo, teve recente corolário no seu
doutoramento com apresentação de dissertação sobre a “Arquitectura
Militar Portuguesa no Golfo Pérsico”, tendo obtido Aprovação por
Unanimidade com a classificação de Muito Bom com Louvor.
Experiência no domínio do Património
Membro do ICOMOS (Conselho Internacional para os Monumentos e
Sítios) há mais de 20 anos, tendo prestado nesse âmbito colabora-ção
em pareceres para a UNESCO sobre bens candidatos à classificação de
Património Mundial.
Perito do Comité Internacional sobre Fortificações (ICOFORT) e do Co-
mité Internacional das Cidades Históricas do ICOMOS, a cuja estrutura
directiva tem pertencido desde há uma dezena de anos. Desde Junho de
2009 é Presidente do Sub-Comité das Cidades Muralhadas do CIVVIH.
Consultor da Câmara Municipal do Porto para o Centro Histórico do
Porto – Património Mundial (1997/2002).
Consultor e Arquitecto da Câmara Municipal de Almeida para a Salva-
guarda do Património da Praça-forte (desde Março de 2006).
Consultor e Arquitecto da Fundação Calouste Gulbenkian para Pa-
trimónio de origem Portuguesa fora de Portugal, desde 1992, tendo
desen-volvido dezenas de missões ao estrangeiro (designadamente em
Marro-cos, Malta, Brasil, Senegal, Etiópia, Moçambique, Quénia, Tan-
zânia, Irão, Índia, Bangladesh, Indonésia, Sri Lanka, Uruguai, Holanda,
Benim, Tailândia), com a correspondente elaboração de relatórios, bem
como projectos e obras em diversos países.
Colaborador do Dicionário Temático da Lusofonia (16 entradas), Texto
Editores, 2005, Aclus.
Colaborador do inventário “Património Histórico de Origem Portugue-
sa no Mundo – Arquitectura e Urbanismo”, 2009, conduzido pela Fun-
dação Calouste Gulbenkian.
Autor de diversas publicações sobre o Património e a sua salvaguarda,
bem como Coordenador responsável da edição da revista especializada
semestral CEAMA (ed. C. M. Almeida), já no seu quarto número.
JOÃO DOS SANTOS DE SOUSA CAMPOS (1951)
Licenciado in Architecture and Urbanism by Escola Superior de Be-las-
Artes do Porto, 1974.
Master (M.Sc.) in Intercultural Relations by University Aberta, Lis-
boa, 2002.
Doctor (Ph.D.) in History of Art by the Faculty of Letters of the Uni-
versity of Coimbra, 2009.
Professor of Architecture at the Escola Superior Artística do Porto
Member of the Instituto de História de Arte of the Faculty of Letters of
the University of Coimbra.
Academic Profile
High School finalized in Lourenço Marques (Maputo/Mozambique),
with the final classification 17.
Scholarship of Calouste Gulbenkian Foundation during all the fre-
quency of E.S.B.A.P., concluding his Course of Architecture with final
classification “Good”.
The frequency of a Masters degree, in a convergent area in the ambit of
the Social Sciences, gave him an integrated and applied vision, having
pre-sented a thesis on “The Architecture of the Empires of the Saint
Spirit” in Azores, obtaining the classification of “Very Good” and rec-
ommendation for publication.
His vast personal search led to investigations along with an internation-
al and active defence of the built heritage from Portuguese origin in the
world, and it had recently a corollary with his Doctorate, presenting the
dissertation on “Portuguese Military Architecture in the Persian Gulf”,
obtaining Approval by Unanimity with the classification of “Very Good
with Laude”.
Experience on Built Heritage
Member of ICOMOS (International Council on Monuments and Sites) from
more than 20 years, in which participation gave collaboration with reports
to UNESCO on properties to be inscribed in the list of World Heritage.
Expert of the Scientific Committee on Fortifications (ICOFORT) and
of the Committee of Historic Towns of ICOMOS, to which directive
structure belongs for a decade. Since June 2009 is the President of the
Sub-committee on Walled Cities of CIVVIH.
Consultant of the Municipality of Porto for its Historical Centre – World
Heritage (1997/2002).
Consultant and Architect of the Municipality of Almeida for the Safe-
guard of the Patrimony of the Fortress (since March 2006).
Consultant and Architect of the Calouste Gulbenkian Foundation for
Built Heritage from Portuguese Origin outside Portugal, since 1992,
making dozens of missions abroad (namely Morocco, Malta, Brazil,
Senegal, Ethiopia, Mozambique, Kenya, Tanzania, Iran, India, Bangla-
desh, Indonesia, Sri Lanka, Uruguay, Holland, Benin, Thailand), elabo-
rating reports as well as projects in several countries.
Collaborator in the “Thematic Dictionary of the Portuguese Speaking
World” (16 entries), Texto Editores, 2005, Aclus.
Collaborator in the inventory “Historical Heritage from Portuguese
Origin in the World – Architecture and Urbanism” , 2009, conducted by
the Calouste Gulbenkian Foundation.
Author of several books on Heritage and its safeguard, as well as Coor-
dinator responsible by the edition of the specialized bi-annual magazine
CEAMA (ed. By C. M. Almeida), now in its fourth issue.
10
JOÃO DE JESUS MARTINS MARUJO (1971)
Licenciado em Arquitectura pela Escola Superior Artística do Porto, desen-
volve a actividade profissional desde 1998.
Assumiu o cargo de Arquitecto Coordenador do GTL de Almeida entre 2001
e 2005 onde se releva o trabalho desenvolvido nos Centros Históricos de
Almeida, Castelo Mendo, Castelo Bom e Zona do “Povo” de Vilar Formoso.
É arquitecto do quadro privativo do Município de Almeida onde desempenha
funções de coordenação de uma equipa de trabalho constituída por 6 técnicos
de várias especialidades para a elaboração de projectos, actividades e eventos
culturais, gestão urbanística, acompanhamento e fiscalização de empreita-
das públicas. Membro do júri do concurso internacional para a Concepção,
Construção e Promoção do Hotel SPA /Termas da Fonte Santa, promovido
pala empresa municipal Almeida Municípia E.M.
Tem participado em reuniões e visitas de estudo internacionais do CIVVIH –
Comité Internacional das Cidades Históricas do ICOMOS (Praga/Rep. Che-
ca, 2006, Istambul/Turquia, 2007, Corfu/Grécia, 2008, Narni/Itália, 2009).
Desde 2006, tem colaborado com o Doutor Arquitecto João Campos, Con-
sultor do Município para o Património, no desenvolvimento e implemen-
tação de estratégias para a valorização da Fortaleza de Almeida através da
elaboração de projectos, publicações e outras actividades culturais. Neste
âmbito destaca-se todo o trabalho realizado em torno do Baluarte de S. João
de Deus para instalação do Museu Histórico-Militar de Almeida, a realização
anual de seminários e workshops inseridos nas Comemorações do “Cerco de
Almeida” e a edição semestral da revista do Centro de Estudos de Arquitec-
tura Militar de Almeida.
RUI RAMOS LOZA (1949)
Técnico da CCDR-N, actualmente Director da Delegação do Porto do IHRU,
e administrador da Porto Vivo – SRU da Baixa Portuense.
Arquitecto, licenciado pela ESBAL em 1977, iniciou a actividade profissio-
nal como arquitecto do GAT de Lamego, onde trabalhou até 1981, na CCRN
trabalhou 10 anos (de 1981 a 1990) nas áreas do Ordenamento do Território
e do Ambiente. Docente no curso de arquitectura da ESAP nos anos de 1984
a 1988
Durante 13 anos (de 1990 a 2003) Director do CRUARB (Projecto Muni-
cipal para a Reabilitação Urbana do Centro Histórico do Porto) onde desen-
volveu actividade na área da Reabilitação Urbana tendo sido coordenador
da elaboração do processo de candidatura do Centro Histórico do Porto à
inclusão na Lista do património mundial da UNESCO.
É professor convidado da Universidade de Aveiro, desde 1988, no curso de
Planeamento Regional e Urbano.
Terminou o 2º ano do curso de doutoramento em problemas da arquitectura,
da Universidade de Valladolid, Espanha, tendo obtido o grau de investigador.
Desenvolve trabalhos para a elaboração de tese de doutoramento.
É autor de planos e projectos de arquitectura e de urbanismo e de um grande
número de artigos, comunicações e conferências sobre a Cidade, Arquitectu-
ra, Planeamento, Reabilitação Urbana e Património.
Coordenou a equipa que elaborou o Plano de Gestão do Centro Histórico do
Porto, Património Mundial, enviado à UNESCO em 2008.
É vice-presidente da Direcção da Agência para o Desenvolvimento do Clus-
ter das Indústrias Criativas do Norte de Portugal.
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JOÃO DE JESUS MARTINS MARUJO (1971)
Licenciado in Architecture by Escola Superior Artística do Porto, has a pro-
fessional activity since 1998.
Between 2001 e 2005 he was in charge of Coordinator of GTL (“Local Tech-
nical Office”) of Almeida, in which is enhanced the work done in the His-
torical Centres de Almeida, Castelo Mendo, Castelo Bom and the Zone of
“Povo” in Vilar Formoso.
He is Architect of the Municipality of Almeida, where he coordinates a team
constituted by six technicians of different specialities, elaborating projects,
activities and cultural events, urban management, monitoring and fiscaliza-
tion of public works.
Member of the jury of the international contest to the conception, construc-
tion and promotion of the Hotel Spa / Baths of the Holy Fountain, promoted
by the municipal office Almeida Municipia, E.M.
He has participated in meetings and technical international visits of CIVVIH
–International Committee on Historic Cities of ICOMOS (Prague/Czech
Rep., 2006, Istanbul/Turkey, 2007, Corfu/Greece, 2008, Narni/Italy, 2009).
Since 2006 he gives collaboration to the Consultant of the Municipality for
Heritage, Doctor Architect João Campos, in developing and implementing
strategies for the enhancement of the Almeida Fortress, making projects,
publications and other cultural activities. In this ambit it must be emphasized
all the work directed to the Bulwark of S. João de Deus to be installed the
new Historical-Military Museum of Almeida, and also the annual organiza-
tion of Seminars and Workshops integrated in the Commemorations of the
“Almeida Siege” and the bi-annual issue of the magazine of the Centre of
Studies of Military Architecture of Almeida.
RUI RAMOS LOZA (1949)
Technician in CCDR-N (the Northern Region Coordination and Develop-
ment Committee), now Director of Oporto delegation of IHRU (Urban Re-
habilitation and housing Institute), and member of the board of administra-
tion of Porto Vivo – SRU (Urban Renewal Society of Oporto Downtown.
Architect, graduated by ESBAL (Lisbon High school of Architecture) in
1977, begun the Professional activity as architect on the GAT (Technical
Support Office) of Lamego until 1981, in CCDR-N worked for 10 years
(from 1981 to 1990) in environment and land planning. Was professor of
architecture in ESAP (Oporto High school of Arts) from 1984 to 1988.
For 13 years (1990 to 2003) was Director of CRUARB (Municipal Project to
the Urban Renewal of the Historical Centre of Oporto) namely as coordinator
of the candidature to the UNESCO world Heritage List.
Is invited professor in Aveiro University, since 1988, in Urban and Regional
Planning.
Completed the 2º year of the PHD in problems of architecture in the Univer-
sity of Valladolid, Spain, now with the degree of investigator.
Is author of architecture projects and urban plans and a large number of pa-
pers, conferences and articles about Town, Architecture, Planning, Urban
Rehabilitation and Heritage.
Was leader of the team of the management plan for the Historical Centre of
Oporto sent to UNESCO in 2008.
Is vice-president of ADDICT - Agency to the Development of the Cluster of
Creative Industries in Northern Portugal.
CONTRIBUTOS PARA O CONTEÚDO TÉCNICO DO DOSSIER
CONTRIBUTIONS FOR THE TECHNICAL MATTERS OF THE DOSSIER

Equipa do GTL GTL Team Posto de Turismo / Portas Interiores de S. Francisco Reconfiguração da “Porta Nova” Levantamento Arquitectónico dos Baluartes do Quadrante Norte/
Estudos de Caracterização e Propostas de Salvaguarda - Plano de Pormenor Tourism Office / Interior Gates of São Francisco Reconfiguration of the “Porta Nova” Nascente da Fortaleza
Studies of Caractherization and Safeguard Proposals – Detailed Plan Câmara Municipal de Almeida (1997)   “Urbatelier, Arquitectura e Construção, Lda”. (2006/2007) Architectural Survey of the Bulwarks of the North/East Quadrant of
(2001-2003) the Fortress (2009)
Arquitecto Architect Luís Costa Pereira Arquitectura e Coordenação Architect Coordinator João Campos
Arquitecto Coordenador Architect Coordinator João Marujo Arquitectura e Desenho Architect and Drawings Ana Gesta Santos Coordenação Coordination João Campos,
Arquitecto Architect Luís Trindade Arranjo Urbanístico da Área envolvente ao Hospital de Sangue Engenharia Electrotécnica Electrical Engineering Alves de Sousa Medição e Desenho Measurement and Drawings Jaime Campos, Paulo
Desenhador Drawings Paulo Costa Urban design of the adjacent área of the “Blood Hospital” Veiga
Topografia Topography António Almeida Câmara Municipal de Almeida (2003) Levantamento Arquitectónico das Portas e Poternas da Fortaleza Tratamento Informático Computer Processing Paulo Veiga
História History Paulo Amorim e Paula Sousa Architectural Survey of the Gates and Posterns of the Fortress Topografia Topography António Almeida
Sociologia Sociology Cristina Branco Arquitecto Coordenador Architect Coordinator João Marujo (2007) Fotografia Photographs Paulo Veiga
Urbanismo Urbanism Carlos Oliveira Arquitecto Architect Luís Trindade
Desenhador Drawings Paulo Costa Coordenação Coordination João Campos Plano de Gestão, Riscos, Enquadramento Geral e Medidas
“Intervenção nas Casamatas Topografia Topography António Almeida Medição e Desenho Measurement and Drawings Jaime Campos Management Plan, Risks, General Frame and Measures
Museu Histórico-Militar de Almeida / Infraestruturas”  História History Paulo Amorim Tratamento Informático Computer Processing Paulo Veiga “Loza e Gradim, Lda”. (2009)
“Intervention in the Casemates Engenharias Engineering Município de Almeida Fotografia Photographs Paulo Veiga
Historical-Military Museum /Infrastructures” Urbanismo e Coordenação Urbanism and Coordination Rui Ramos Loza
GTL - Câmara Municipal de Almeida (2003) Reabilitação das Portas Interiores de Santo António Reabilitação Global do Baluarte de S. João de Deus Engenheira Engineer Manuela Gradim
Rehabilitation of the Interior Gates of Santo António Museu Histórico e Militar Engenharia/Planeamento Engineering/Management Pedro Loza
Arquitecto Coordenador Architect Coordinator João Marujo GTL – Câmara Municipal de Almeida (2003) Global Reabilitation of the Bulwark of São João de Deus
Arquitecto Architect Luís Trindade Historic and Military Museum Fotografia Photographs
Desenhador Drawings Paulo Costa Arquitecto Coordenador Architect Coordinator João Marujo  Câmara Municipal de Almeida (2006/2009) Paulo Veiga, João Marujo, João Campos, Jaime Campos, Ribeiro de Faria
Topografia Topography António Almeida Arquitecto Architect Luís Trindade
História History Paulo Amorim Desenhador Drawings Paulo Costa Arquitectura e Coordenação Architect Coordinator João Campos Iconografia Iconography
Engenharias Engineering Município de Almeida Topografia Topography António Almeida Arquitectura Architect João Marujo IAN/TT – Torre do Tombo, Lisboa
História History Paulo Amorim Desenho Drawings Paulo Costa, Paulo Veiga AHM – Arquivo Histórico Militar, Lisboa
Recuperação dos Antigos “Paiol e Casa da Guarda” Engenharias Engineering Município de Almeida Topografia Topography António Almeida AGS – Arquivo Geral de Simancas, Espanha
Revelim do Paiol Engenharia Electrotécnica Electrical Engineering Alves de Sousa
Recuperation of the Ancients “Powder Magazine and House of Guard” Restauro das Portas Exteriores de Santo António
Ravelin of the Powder Magazin Restoration of the Exterior Gates of Santo António Museografia do Museu Histórico e Militar
GAT da Guarda (1996) GTL / Câmara Municipal de Almeida (2005) Museum Display of the Historic and Military Museum
Câmara Municipal de Almeida (2007/2009)
Arquitecto Architect Aires de Almeida  Arquitecto Coordenador Architect Coordinator João Marujo 
Desenho Drawings José Marques e Paulo Costa Ribeiro de Faria, Ex- Director do “Museu Militar de Lisboa”, Coronel
Recuperação do Antigo “Hospital de Sangue” Former Director of the Military Museum of Lisbon, Colonel
Revelim Doble Reabilitação das Portas Exteriores de Santo António Paulo Amorim, Licenciado em História Historian
Recuperation of the Ancient “Blood Hospital” Rehabilitation of the Exterior Gates of Santo António (Câmara Municipal de Almeida)
Ravelin Doble “Urbatelier, Arquitectura e Construção, Lda”. (2006/2007)
GAT da Guarda (1996) Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, “CEAMA”
Arquitectura e Coordenação Architect Coordinator João Campos Centre of Studies of Military Architecture of Almeida
Arquitecto Architect Aires de Almeida  Desenho Drawings Paulo Veiga e Jaime Campos Organização Funcional Functional Organization (2008)
Engenharia Electrotécnica Electrical Engineering Alves de Sousa
Engenharia de Estruturas e Hidráulica Structures and Hidraulics Paula Sousa, Licenciada em História Historian
Engineering Edgar Régua (Câmara Municipal de Almeida)

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 Candidatura das Fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO
CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE
PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO
Almeida a Património da UNESCO
Desde há muito temos presente a intenção de Candidatura da Fortaleza de Almeida a Patri-
mónio da UNESCO.
A Vila de Almeida possui um Património Arquitectónico Abaluartado que, apesar de clas-
sificado como “Monumento Nacional” em 03-02-1928 e em 22-03-1938, anseia quebrar
barreiras, desbravar o caminho que a conduza a uma projecção Mundial – que sem dúvida
merece e que pode perfeitamente (e direi justamente) vir a alcançar.
Abracei este projecto com muita coragem, sob a bandeira e o lema da forte vontade de colo-
car esta Estrela de Pedra a brilhar.
Almeida tem hoje uma imagem de marca inseparável das suas Muralhas em forma de estre-
la, com os seus doze baluartes e revelins, a conhecida “Estrela do Interior”.
O brilho desta estrela tem vindo a ser alimentado por intervenções a nível da recuperação do
património, mas também de inúmeras acções imateriais que a têm projectado a nível nacio-
nal, e igualmente além fronteiras.
Destaco como principais actividades a Reabilitação das Casamatas, do Trem de Artilharia,
da Porta Nova e das Portas, Interiores e Exteriores de Santo António.
Não nos limitamos a recuperar o Património degradado, antes tivemos sempre como primei-
ra prioridade dar vida a estes espaços. Este desígnio foi alcançado com a instalação do Cen-
tro de Estudos de Arquitectura Militar-CEAMA, do Picadeiro, do Museu Histórico-militar
e do Posto de Turismo.
Foi este acreditar que nos motivou para, de uma forma pensada e sistematizada, desbravar-
mos o caminho que nos conduza ao êxito há tanto tempo desejado. Esta vontade foi sendo
alicerçada por várias iniciativas: Seminários; publicação da revista CEAMA; obras de inves-
tigação; protocolos com Universidades e Escolas Superiores, dando forma, a pouco e pouco,
a um sentido de salvaguarda sustentada.
Por fim rodeámo-nos de personalidades de mérito reconhecido a nível mundial, as quais
deram o seu forte contributo e alavancaram esta nossa iniciativa com o seu saber, mas tam-
bém como gesto reconhecido e consentido de falarmos de uma gesta por todos altamente
reconhecida.
Neste último acto que é a elaboração do presente dossiê tivemos a grata possibilidade de inte-
grar no seu conteúdo as qualificadas participações de reconhecidos especialistas nacionais e
estrangeiros, o que me cumpre registar, referindo expressamente os seus nomes: António Fili-
pe Pimentel, André Teixeira, Adriano Vasco Rodrigues, Fernando Cobos-Guerra, João Cam-
pos, José Manuel Fernandes, Milagros Flores Román, Pedro Dias, Rui Carita, Rui Ramos
Loza e Teresa Andresen.
Quero também agradecer às ilustres Personalidades que acarinharam esta nossa vontade e
quiseram dar o seu testemunho de ancoragem a esta nossa iniciativa, acompanhando-me
como ilustre Comissão de Honra da Candidatura. Alguns são nomes grandes de Naturais
do nosso Concelho, outros de devotados Amigos e Colaboradores do Município, todos eles
incontornáveis referências do nosso Saber e da nossa Cultura, e directamente relacionados
com Almeida.
É, portanto, com muito orgulho que apresento este dossiê. Esta é, certamente, a melhor e
mais competente delegação de apoio que, em testemunho do seu insubstituível valor, pode-
ríamos levar à UNESCO para solicitar o reconhecimento do lugar que a Fortificação Aba-
luartada de Almeida merece na consideração universal, como contributo para o Património
da Humanidade.
14 15
Almeida to UNESCO Heritage
For quite a long time now, we have the intention of submitting an application to elevate
Almeida’s Fortress to UNESCO World Heritage.
Almeida’s Village has a Bulwarked Architectonical Heritage that, although classi-
fied as “National Monument” since 3rd February 1928 and 22nd March 1938, wishes to
break barriers, clearing the path that leads to a global projection – which it deserves with-
out any doubt and it can perfectly (and, if I may say so, fairly) be achieved.
I have embraced this project with great courage under the banner and the motto of the
strong desire make the Stone Star shine.
Almeida now has a brand image, inseparable from its star-shaped walls, the twelve bul-
warks and ravelins, known as the “Star of the Interior”.
The brightness of this star has been fueled by interventions towards the recovery of the
heritage, but also by many intangible actions that have projected it on a national level, and
also across borders.
I emphasize as the main activities the rehabilitation of the Casemates, the “Trem” of Artil-
lery, the New Gate and the Internal and External Gates of Santo António.
We had not only recovered the ruined heritage, but also we always had as our first priority
giving life to these spaces. We have achieved such goal with the installation of the Studies
Centre on Military Architecture-CEAMA, of the Riding Arena, of the Historical-military
Museum and of the Tourism Office.
It was this belief that motivated us, in a thought and systematic manner, to clear the path
which will lead us to the so long desired success. This determination was based on several
initiatives: seminars, publication of the CEAMA’s magazine; research works; protocols
with Universities and Technical Schools, given shape, step by step, to a sense of sustain-
able safeguarding.
At last, we called to work with us a group of worldwide recognized personalities, who
have given their strong contributions and promoted our initiative with their knowledge,
but also the recognized and consented gesture to narrate for all highly acknowledged.
In this last act that is the elaboration of the present dossier itself, we had the gratifying
possibility to integrate in its contents the qualified participations of distinguished experts,
national and foreigners, which circumstance I must stress, expressly mentioning their
names: António Filipe Pimentel, André Teixeira, Adriano Vasco Rodrigues, Fernando Co-
bos-Guerra, João Campos, José Manuel Fernandes, Milagros Flores Román, Pedro Dias,
Rui Carita, Rui Losa e Teresa Andresen.
I would also like to thank the eminent personalities that nurtured our will and wanted to
give their anchoring testimony to our initiative, accompanying me as illustrious Commis-
sion of Honor for the Candidacy. Some of them are prominent natives from our territory;
other names belong to devoted Friends that cooperate with the Municipality; all of them,
directly related with Almeida, are outstanding references of our Knowledge and of our
Culture.
So, it is with a great proud that I submit this dossier. This certainly is the best and more
competent support delegation that, in testimony of its unmovable value, we could send
to UNESCO to make the solicitation for the recognition of the place that the Bulwarked
Fortifications of Almeida deserve in the universal consideration, as a contribution to the
Patrimony of the Mankind.
Prof. António Baptista Ribeiro
Presidente da Câmara Municipal de Almeida
Mayor of Almeida
 1. O CAMINHO SÓ EXISTE
PORQUE ESTAMOS A FAZÊ-LO
João Campos
Parados, não há caminho. E só há uma maneira de o ter, como há muito
escreveu António Machado: “se hace camino al andar”.
Este dossier não é, certamente, um ponto de chegada, e não servirá de
muito como ponto de partida, para além do acto mesmo patrocinado
pelo Estado português de apresentar uma candidatura perante a Con-
venção do Património Mundial. Trata-se, porém, de uma formalidade
cujo interesse maior residirá no facto de ter sido possível, num cur-
tíssimo espaço de tempo, porque está suportada por num trabalho que
vem de trás, empreendido em prol do verdadeiro direito ao património
cultural que é inerente ao exercício da cidadania e ao reconhecimento
de uma identidade própria e exemplar.
Esse trabalho tem antecedentes ao empenhamento pessoal com que aceitei
fazer parte do caminho para a salvaguarda dos valores maiores de Almeida.
É justo salientar o trabalho que fora desenvolvido pelo Gabinete Técnico
Local, deixando um correcto estudo de caracterização e de diagnóstico so-
bre a preservação da Praça-Forte, salientando a participação do Arquitecto
João Marujo, desde aí e quase há uma década ao serviço do Município.
Outros intervenientes houveram, sendo justo relevar o nome do Colega
António Menéres (que aprendi a estimar desde bem cedo na sua acção
cultural), ou o do Eng. Francisco Sousa Lobo, sempre disponível para
dar o seu parecer no sentido da preservação do legado histórico da ím-
par arquitectura militar de Almeida.
É verdade que, como em tudo na vida, pode não ter existido absoluta
coincidência de pontos de vista entre os intervenientes, no afã de me-
lhor servir os desígnios do futuro: o primeiro desafio a que respondi,
acabado de ser chamado para servir como Consultor, foi o de contrapor
uma atitude nova para salvar o Baluarte de S. João de Deus, com as suas
vinte salas abobadadas.
Verdadeira prova de fogo, o rigor com que foi possível colocar, dessa
vez, a discussão técnica, permitiu erradicar velhos e perniciosos mé-
todos. E se, na data em que se conclui este dossier, existe um enorme
orgulho por se ter conseguido realizar o conjunto das obras que estão à
vista, o que elas têm de extraordinário será, sobretudo, a história menor
do contra-vapor de opiniões infundadas e de vaidades indevidas, obsta-
culizando o desenvolvimento normal de quanto era importante fazer-se.
Mas está feito, talvez com esforço redobrado, mas decerto com uma
esperança de acerto confirmada.
Estamos no século XXI, e queremos seguir em frente com a Memória
e a Integridade do Património que nos distingue. Ao intervirmos nele
estamos sempre cientes dos limites da própria liberdade conceptual e da
responsabilidade das nossas atitudes. Isto significa ter sempre presente
a consciência do valor da opinião dos outros, incluindo-a na equação da
nossa própria actuação.
Sobre princípios fundamentais, em nome de pretensos equilíbrios fal-
sificadores do que tem que valer a pena, não se admitem concessões.
Nem é preciso: para mim, o Património construído tem sido uma causa
de vida, pela qual respondo.
É com essa postura que, desde Março de 2006, me tenho empenhando
profundamente pelo Património de Almeida. Nessa altura, a condição que
da minha parte foi colocada foi a de não haver outro desiderato para além
da entrega ao trabalho que há (sempre) que fazer. Nenhum objectivo de
candidatura foi condição para ser requerido, ou para eu dar, o meu contri-
buto profissional. Mas a verdade é que, se apenas três anos passados, esse
16 17
1. THE PATH ONLY EXISTS
BECAUSE WE ARE MAKING IT
João Campos
If we’re stopped, there is no path. And there is only a way to have it, as
António Machado wrote a long time ago: “se hace caminho al andar”
(“you make your path as you go”).
This file is not, most certainly, a destination and it would be any useful
as a starting point, apart from the action sponsored by the Portuguese
Government of presenting an application to the World Heritage Centre.
This is, nevertheless, a formality that will be highly relevant, consid-
ering the fact that it was possible, over a very short period of time,
because it stands on the work of past years, commenced in honour of
the real right to cultural heritage that is inherent to the exercise of the
citizenship and to the recognition of an unique and exemplary identity.
This work is grounded on the personal commitment with which I ac-
cepted to become a part of the path leading to the safekeeping of the
great values of Almeida. It is fair to highlight the work developed by
the Local Technical Cabinet, leaving behind a correct characterization
and diagnosis study on the Fortress’ preservation, highlighting the par-
ticipation of Architect João Marujo, who, since then and for almost a
decade now, has worked for the Council.
There were other actors and it is only fair to reveal the name of António
Menéres (who I have learned to hold dear since an early time in his cul-
tural actions) or of Francisco Sousa Lobo, engineer, always available
to share his thoughts in what concerns the preservation of the historical
legacy of the unique military architecture of Almeida.
It is true that, as everything in life, sometimes there wasn’t an absolute
coincidence between the actors’ points of view, rushing to better serve
future motivations: the first challenged I answered to, right after being
called to serve as a Consultant, was to contest a new attitude to save S.
João de Deus’ bulwark, with its twenty vaulted rooms.
A true trial of force, but the rigour with which the technical discussion
was led allowed for the eradication of old and pernicious methods. And
if, at the time this file is being concluded, there is an enormous pride
in the execution of the group of works which are visible; what is really
extraordinary in them is, mainly, the minor story of the immediate con-
trary response of unfounded opinions and inadequate vanities, putting
obstacles to the normal development of the things which were truly
important to achieve. But it is done, probably with a double effort, but
most certainly with a confirmed hope of settlement.
We live in the 21st century and we want to move forward with the Mem-
ory and the Integrity of the Heritage that distinguished us. By interven-
ing in it, we will always be aware of the limitations of the conceptual
freedom and of the responsibility of our attitudes. This implies always
having in mind the conscience of the value of other people’s opinions,
including it in the equation of our own performance.
On fundamental principles, in the name of supposed falsifying balance
of what is worth, no concessions can be admitted. And we also don’t
need to: to me, the built Heritage has been the cause of a lifetime, by
which I answer.
With this posture, since March 2006, I have been deeply committed
with Almeida’s Heritage. At the time, the only condition I imposed was
not having other desires apart from delivering the work that (always)
needs to be done. Not a single application objective was a condition for
the request or for my giving of my personal contributes. But the truth
is that, after three years have passed, this referral is made by those in
encaminhamento é colocado por quem acha que o deve fazer (e quem o
faz é o Governo de Portugal), devo aceitar que essa é uma evidência do
reconhecimento da justeza de uma dinâmica introduzida.
Almeida candidata-se ao galardão da UNESCO integrada numa série
transfronteiriça de exemplares de fortificações abaluartadas. Estou em
plena sintonia com o eminente significado de uma candidatura que cor-
poriza a capacidade de oferecer à comunidade internacional a riqueza
contextual do profundo valor histórico-cultural da raia luso-espanhola.
Não me cabendo interferir noutras responsabilidades para além da con-
tribuição beirã, não poderei responder por outras escolhas que integra-
rão o conjunto de casos que farão parte da proposta das Autoridades dos
países ibéricos ao escrutínio do fórum cultural mundial. Elvas encabe-
çará, justamente, a ambição de uma classificação, para a qual Almeida
irá, galhardamente, contribuir com elevada qualificação. Ambicionarei
a que, do lado espanhol, esteja Olivença, finalmente reunida, com Por-
tugal, num destino cultural único, e que é o mesmo de sempre. E espero
que não se verifiquem precipitações que a todos possam prejudicar.
O presente dossier, reunido para efeito da candidatura, incorre na possi-
bilidade de crítica por ser incompleto ou por alguma falta de articulação
entre componentes. Não se trata, de facto, dae um trabalho em si mes-
mo pensado com antecedência e certeiro objectivo, mas de uma tarefa
de ocasião, como que um parêntesis na nossa actividade.
Explicando-me melhor: nunca houve um trabalho orientado de produ-
ção de uma apresentação técnica da candidatura de Almeida a Patri-
mónio Mundial: o Município vem trabalhando na salvaguarda desse
património de valor excepcional, independentemente da sua classifica-
ção existir. Agora, quando é necessário formalizar a documentação, por
razões de agenda e programação não gastamos mais do que dois meses
para realizar a tarefa de reunir materiais e entregá-los para impressão.
Nesse lapso de tempo uma das minhas acções foi reunir o depoimento de
personalidades relevantes no domínio do saber académico e da prática
profissional. O conjunto de declarações entusiásticas e de ensaios notá-
charge (and those in charge are the Portuguese Government), I must
accept that this is an evidence of the recognition of the fairness of the
introduced dynamics.
Almeida is applying to UNESCO award within a transfrontier series
of examples of bulwarked fortifications. I am perfectly attuned with
the eminent meaning of an application which embodies the ability to
offer to international community the contextual richness of the deep
historical-cultural value of the Portuguese-Spanish frontier. Because
I am not supposed to interfere in other responsibilities apart from the
contribution of Beira, I won’t be able to answer for other choices that
will integrate the group of cases that will be part of the proposal issued
by the Authorities of the Iberian countries to be submitted to the world
cultural forum’s opinion. Elvas will precisely lead the ambition of a
classification, to which Almeida will joyfully contribute with a high
qualification. I will ambition that, on the Spanish side, Olivença is fi-
nally reunited with Portugal in a single cultural destination and which
is the same as always. And I hope there isn’t any hastiness which might
hurt us all.
The current file, gathered for application purposes, may be criticized for
being incomplete or for some lack of articulation between components.
This is not, in fact, a work thought through with time and a certain goal,
but rather a task of occasion, as a parenthesis to our activity. Allow
me to explain better: there was never an oriented production work of
a technical presentation of Almeida’s application to World Heritage –
the Council has worked towards the safeguard of the heritage with an
exceptional value, whether or not that classification comes. Now, when
we need to formalize the documentation, due to the agenda and the
programme, we don’t take more than two months gathering materials
and printing them.
Within that time frame, one of my actions was to gather statements by
relevant people of the scholar and professional worlds. The group of
enthusiastic statements and remarkable essays so swiftly gathered is,
18
veis tão prontamente conseguido constitui, sem dúvida, um dos melhores
barómetros sobre a receptividade e o mérito da própria candidatura.
Não se havia trabalhado para produzir um dossier de candidatura, mas o
sucesso desta é qualquer coisa de muito importante para Almeida. Para
mais bem poder cuidar do Património que encerra e que, orgulhosamen-
te, pretende compartilhar com o resto da Humanidade.
Mínimas são as estrelas que se vêem no firmamento. São elas, porém,
os sóis dos sistemas que cada uma contém. É essa a importância que
neste momento adquire o reconhecimento internacional para a Estre-
la de Almeida. Ainda que não passe de um pequeno ponto na galáxia
do Património Mundial, fixa-se no deslumbramento dos nossos olhos
como uma luz única, fazendo lembrar os versos grandes do Poeta:
“Mínimo sou,
Mas quando ao Nada empresto
A minha elementar Realidade,
O Nada
É só o resto”.
(Poemas, Reinaldo Ferreira)
Arquitecto, Mestre em Relações Interculturais, Doutor em História da Arte
pela Universidade de Coimbra, Professor de Arquitectura
Architect, Master (M.Sc.) in Intercultural Relations, Doctorate (Ph.D.) in Art History by
the University of Coimbra, Professor of Architecture
19
undoubtedly, one of the best barometers of the receptivity and merit of
the application on its own.
No one really worked to produce an application file, but its success
is something truly important for Almeida. So it can better look after
the Heritage it holds and that proudly it wants to share with the rest of
Mankind.
The stars are quite minimal in the firmament. They are, nevertheless,
the suns of the systems that each of them holds. That is the importance
given, right now, to the international recognition for Almeida’s Star.
Even if it is not much more than a small spot on the galaxy of World
Heritage, a unique light is fixated in the wonder of our eyes, reminiscent
of the great verses of the Poet:
“Minimal I am,
But when I lend to Nothing
My elementary Reality,
The Nothing
Is only the rest”.
(Poems, Reinaldo Ferreira)
Consultor da Câmara Municipal de Almeida, Coordenador do Dossier
Consultant of the Municipality of Almeida, Coordinator of the Candidature
 2. FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
DAS FORTIFICAÇÕES DE ALMEIDA
1. Designação
Fortaleza de Almeida
2. Tipologias
Fortificação Medieval, de Transição e Abaluartada.
2.1 Subtipologias das fortificações medievais e de Transição
Ruínas do Castelo
Origem conjectural nos Sec. X - XI (Muçulmana ou Leonesa)
Séc. XIII - XIV (Reedificação a partir de 1297 no Reinado de D. Dinis)
Séc. XVI (Reforma entre 1508-1509 no Reinado de D. Manuel I)
Séc. XVII - XVIII (Intervenção até 1695, data em que ocorre a queda
da torre de menagem)
De acordo com os desenhos de Duarte de Armas (início do século XVI), e
após uma leitura atenta no terreno, verifica-se que as actuais ruínas do Cas-
telo de Almeida, consequência da explosão de 26 de Agosto de 1810 (III
Invasão francesa), facultam a leitura de uma planta quadrangular irregular,
cercada de um fosso lajeado com contra escarpa revestida a cantaria, apre-
sentando nos ângulos as fundações de quatro torres de planta circular.
A primeira cintura de muralhas incorporava a torre de menagem, ados-
sada pelo exterior no ângulo noroeste, também de planta quadrada,
provida de balcões com mata-cães e com acesso superior ao nível do
adarve. Integrava ainda um torreão circular, no ângulo sudeste e dois
torreões de planta quadrangular sudoeste e nordeste. Atendendo à posi-
ção excêntrica da torre de menagem bem como às suas características
arquitectónicas semelhantes ao torreão nordeste, é plausível que seja
datável da campanha de obras de D. Dinis.
Muralha Dionisina ou Fernandina
Em intervenções no edificado particular do Centro Histórico foram re-
gistados alguns apontamentos que podem indiciar a existência de uma
muralha medieval. O estudo comparativo das referidas siglas medievais
aponta cronologicamente para o século XIII / XIV.
2.2. Subtipologias das fortificações abaluartadas
Cintura urbana com obras exteriores
Cidade abaluartada com malha urbana de concepção/adaptação militar
e um número significativo de edifícios de antiga função militar
Fortificações abaluartadas a guarnecer fortificações medievais
3. Função estratégica
Defender uma das mais importantes entradas naturais em território nacional.
4. Localização
40º 43’ 22’’ N; 6º 54’ 16’’ W
Beira Alta, Distrito da Guarda. A Praça-Forte localiza-se numa posição
fronteira à cidade espanhola de Ciudad Rodrigo e ao Fuerte de la Con-
cepcion de Aldea del Obispo.
5. Altitude
A altitude média do concelho oscila entre os 750m e os 800m, Almeida
está à cota de 760m.
20 21
2. IDENTIFICATION FORM
OF THE ALMEIDA FORTIFICATION
1. Designation
Fortress of Almeida
2. Typologies
Medieval, Transitional and Bulwark Fortification
2.1. Sub-typologies of Medieval and Transitional fortifications
Castle Ruins
Possible origin in the 10th-11th centuries (Muslim or Leonese)
13th-14th centuries (Reconstruction from 1297 onwards, during King
Dinis’ reign)
16th century (Reform from 1508 to 1509, during King Manuel I’s reign)
17th-18th centuries (Intervention until 1695, the date when the keep collapsed)
According to the drawing of Duarte de Armas (early 16th century) and after a
close reading is performed on site, one sees that the current ruins of Almeida’s
Castle, a consequence of the explosion on 26th August 1810 (3rd French Inva-
sion), enable the reading of an irregular quadrangular floor plan, surrounded
by a ditch with a slab pavement and with a counterscarp lined with ashlar
masonry, presenting, at the angles, the foundations of four circular towers.
The first belt of walls integrated the keep, addorsed externally on the north-
west angle, also with a square floor plan, and with balconies with brattices
and providing access to the upper level of the allure. It also featured a cir-
cular turret, on the south-east angle and two quadrangular turrets on the
southeast and on the northeast. Considering the keep’s eccentric position,
as well as its architectonical characteristics, very similar to the north-east-
ern turret, it is quite possible to date it back to King Dinis’ work campaigns.
Dionysian or Ferdinand’s Wall
In interventions performed on the Historical Centre private buildings,
some notes were registered which might indicate the existence of a me-
dieval wall. The comparisons studies made on the referred medieval
monograms points to the 13th/14th century.
2.2. Sub-Typologies Of Bulwark Fortifications
Urban outskirts with external works
Bulwark cities with a city grid of military conception/adaptation and a
significant number of buildings with previous military functions
Bulwark fortifications providing for medieval fortifications
3. Strategic function
To defend one of the most important natural points of entry to national
territory.
4. Location
40º 43’ 22’’ N; 6º 54’ 16’’ W
Beira Alta, District of Guarda. The Fortress is located in a frontier po-
sition to the Spanish city of Ciudad Rodrigo and to the Fuerte de La
Concepcion in Aldea del Obispo.
5. Altitude
The council’s average altitude varies from 750m to 800m, Almeida is
at 760m high.
A cota mais alta é a de 762 metros – o local escolhido para a implan-
tação da Torre do relógio. O espaço urbano circundado pela muralha
abaluartada desce à cota 739,1 metros junto à entrada das casamatas do
baluarte de S. João de Deus (PCRCHA – 2002)
6. População
O Concelho de Almeida apresenta 8423 habitantes, de acordo com o
Census 2001. Ainda segundo o recenseamento oficial da população, a
Vila de Almeida tinha 1491 residentes 2001, dos quais 335 (inquérito
local) viviam no interior da Fortaleza, ocupando 149 edifícios habita-
cionais (Plano de Pormenor e Salvaguarda, GTL, 2001).
7. Datação das fortificações
do séc. XII ao séc. XIX.
8. Constituição geral
8.1. Fortificações
a) Fortificações medievais e de transição
ruínas do Castelo Medieval e Manuelino e vestígios de panos de mura-
lha do séc. XIII/ XIV e inícios do século XVI.
b) Fortificação abaluartada:
Fortaleza com planta em forma de hexágono, quase regular, constituí-
da por seis baluartes, formando uma estrela: de São Francisco, de São
Pedro, de Santo António, de Nossa Senhora das Botas ou do Trem, de
Santa Bárbara e de São João de Deus, com plataformas lajeadas e liga-
dos entre si pelas cortinas, e respectivos revelins: da Cruz, dos Amores,
da Brecha, de Santo António, do Paiol e Doble.
Comunica com o exterior através de duas portas duplas denominadas
de São Francisco ou da Cruz e de Santo António. As muralhas possuem
paramentos de cantaria, à excepção dos parapeitos, sendo circundadas
por fossos e estradas cobertas, e os baluartes contornados por uma es-
trada de fuzilaria (caminho da ronda).
O Baluarte de São Francisco é composto por dezoito canhoneiras, exis-
tindo, também, no saliente, uma plataforma externa para tiros de bar-
bete e peças de grande calibre. No subsolo existe um paiol de bateria
composto por dois pequenos compartimentos abobadados, de planta
rectangular, aos quais se acede através de uma longa escada desenvol-
vida no interior do muro de revestimento da gola do baluarte.
O Baluarte de São Pedro é composto por dez canhoneiras e o paiol da
bateria é composto por dois compartimentos abobadados, de planta rec-
tangular, sendo a serventia efectuada pelo exterior do muro de suporte
da gola do baluarte, através de porta rectilínea.
O Baluarte de Santo António é composto por dez canhoneiras e um
paiol de bateria, actualmente soterrado.
O Baluarte de Nossa Senhora das Brotas, ou do Trem, é composto por
treze canhoneiras, existindo ao centro do terrapleno o antigo edifício
do Trem de Artilharia, mais conhecido por Picadeiro, constituído por
dois grandes recintos de plantas rectangular e pentagonal, divididos por
sequência de pilares, apresentando porta de verga recta, a S. e outra a O.
com o mesmo perfil, ostentando as armas reais e frontão angular.
O Baluarte de Santa Bárbara é composto por vinte e três canhoneiras,
tendo havido um paiol com três compartimentos e, no extremo da gola,
os vestígios da antiga Capela que o denomina.
The highest elevation point is at 762 meters – the location chosen for
the implementation of the Clock Tower. The urban space circled by the
bulwark wall goes down to 739,1 meters, near the bunkers’ point of
entry of S. João de Deus’ bastion (PCRCHA – 2002)
6. Population
The Municipality of Almeida has 8432 inhabitants, accordingly with
Census 2001. Still the same official survey of the population, Almeida
village had 1491 residents in 2001, 335 of them (local inquiry) living
inside the walls of the Fortress, occupying 149 dwelling buildings
(Detailed and Safeguard Plan, GTL, 2001).
7. Dating of fortification
from the 12th century to the 19th century.
8. General composition
8.1. Fortifications
a) Medieval and transitional fortifications: ruins of the Medieval and
Manueline Castle and vestiges of curtain walls of the 13th/14th century
and early 16th century.
b) Bulwark fortification:
Hexagonally shaped fortress, almost regular, composed of six bastions,
which form a star: of São Francisco (St. Francis), of São Pedro (St.
Peter), of Santo António (St. Anthony), of Nossa Senhora das Brotas or
do Trem (Our Lady of Brotas), of Santa Bárbara (St. Barbara) and of
São João de Deus (St. John of God), with slab pavement platforms and
connected to each other by the curtains and respective ravelins: Cruz,
Amores, Brecha, Santo António, Paiol and Doble.
It communicates with the outside through two double doors, called São
Francisco or Cruz and Saint Anthony. The walls have a surface in ashlar
masonry, except parapets, and are circled with ditches and covered ways
and the bulwarks are contoured by a fusillade’s road (patrol path).
São Francisco’s bulwark is composed of eighteen gun platforms and, on
the parapet, there was an external platform for barbet shots and heavy
calibre pieces. On the subsoil, there is a small artillery battery maga-
zine, composed of two small vaulted compartments, with a rectangular
floor plant, from which one can access through a long staircase built
inside the revetment wall of the bulwark’s neck.
São Pedro’s bulwark is composed of ten gun platforms and the artillery
battery magazine composed of two small vaulted compartments, with a
rectangular floor plant, being that the access is done externally, by the
support wall of the bulwark’s neck, through a rectilinear door.
Santo António’s bulwark is composed of ten gun platforms and an artil-
lery battery magazine, currently buried.
Nossa Senhora das Brotas’ bulwark is composed of thirteen gun plat-
forms and, on the embankment’s centre, the ancient Artillery Train
building, mostly known as Picadeiro, composed of two large enclosures
with a rectangular and pentagonal floor plant, divided by groups of pil-
lars and with a straight lintel door, S., and the other, W., with the same
profile, bearing the royal arms and an angular fronton.
Santa Bárbara’s bulwark is composed of twenty-three gun platforms
and there was a three-compartment magazine and, on the neck’s ex-
tremity, the vestiges of a Chapel which originated its name.
22
O Baluarte de São João de Deus possui vinte e oito canhoneiras, onde exis-
tem as Casamatas, compartimentos à prova de bomba organizadas em torno
de um pátio rectangular, a que se chega por uma galeria coberta, e que com-
preendem vinte salas de planta rectangular, cobertas com abóbadas de berço.
O Revelim Doble forma um reduto de configuração triangular, quase um
duplo Revelim, com o qual se comunicava através de uma ponte levadiça
entre o fosso do Revelim e o reduto, conservando duas portas a O. e a S.
O Revelim do Paiol integra dois edifícios recuperados, de planta rectan-
gular, com vãos de verga recta.
Existem ainda três poternas na fortificação, que fazem a ligação entre
a praça e os fossos, ladeadas de pequenos paióis. Uma delas, situada à
face E. do Baluarte de São João de Deus, é a denominada “porta falsa”
e tem, no lintel, a data de 1797. A segunda poterna, abobadada, situa-se
a meio do muro do revestimento da gola do Baluarte de São Francisco
e a terceira, também com o mesmo tipo de construção, fica no extremo
da cortina do Baluarte de S. Pedro.
8.2. Relação de edifícios de função militar e estruturas logísticas:
Ruínas do Castelo Medieval
Designação: Castelo de Almeida
Descrição: As actuais ruínas do Castelo de Almeida, consequência da
explosão de 26 de Agosto de 1810 (III Invasão francesa), permitem a
leitura de uma planta quadrangular irregular, cercada de um fosso lajea-
do com contra escarpa revestida a cantaria, apresentando nos ângulos as
fundações de quatro torres de planta circular. Esta estrutura representa
um Castelo significativamente próximo do representado no séc. XVI
por Duarte Darmas, pois as intervenções a partir de 1695 reconstroem
apenas muralha externa e os respectivos cubelos angulares, fosso e ar-
mazéns interiores, desactivando o obsoleto Castelo Quinhentista com a
sua torre de menagem e cintura interna de muralhas, transformando-o
num armazém de munições e pólvora.
Quartel das Esquadras
Séc. XVIII (1736-1750)
Autoria do Projecto: Manuel de Azevedo Fortes e José Fernandes
Pinto de Alpoim
Edifício de dois pisos, planta rectangular alongada, cobertura de quatro
águas pontuada na cumeeira por sucessão ritmada de chaminés tronco-
piramidais. A construção é composta por dois volumes justapostos e
escalonados definindo alçados muito compridos e ritmados sendo o in-
terior constituído por vinte e um módulos transversais, subdivididos em
duas casetas destinadas a soldados de Infantaria. Apesar das caracterís-
ticas barrocas, o edifício é marcado pelas formas disciplinadas, conce-
bido de forma ordenadamente militar e simultaneamente atraente, sen-
do de excelente execução e de impacto visual excepcional. Localiza-se
na proximidade da entrada de S. Francisco.
Corpo da Guarda Principal
Século XVIII (1790)
Autoria: Anastácio de Sousa e Miranda (Miguel Luís Jacob)
A construção do edifício iniciou-se em 1791 e ergue-se no local dos
antigos alpendres do mercado. Constitui um belo exemplar de edifício
militar construído de raiz, podendo considerar-se o mais emblemático
23
São João de Deus’ bulwark has twenty-eight gun platforms, where the
bunkers are located, which are bomb-proof compartments organized
around a rectangular patio, which can be accessed by a covered gallery
and which comprised twenty rectangular rooms, covered with barrel vaults.
Doble Ravelin forms a triangular redoubt, almost a double ravelin,
which could be accessed by a drawbridge between the ravelin’s ditch
and the redoubt, maintaining both doors, W. and S.
The Paiol’s ravelin comprises two recovered buildings, of a rectangular
floor plant, with straight lintel spans.
There are still three posterns in the fortification, connecting the square
to the ditches, flanked by small magazines. One, located in the E. part of
São João de Deus’ bulwark, is the “fake door” and the date 1797 is fea-
tured on the lintel. The second postern, vaulted, is located in the middle
of the revetment wall of the neck of São Francisco’s bulwark and the
third, following the same type of construction, lies on the extremity of
S. Pedro’s bulwark curtain.
8.2. Connection between military buildings and logistic structures:
Ruins of the Medieval Castle
Name: Castelo de Almeida (Almeida’s Castle)
Description: The current ruins of Almeida’s Castle, a consequence of
the explosion on 26th August 1810 (3rd French Invasion) allow for the
reading of an irregular quadrangular floor plant, surrounded by a ditch
with a slab pavement and with a counterscarp lined with ashlar masonry,
presenting, at the angles, the foundations of four circular towers. This
structure represents a significantly identical Castle from the one repre-
sented in the 16th century by Duarte Damas, because the interventions
from 1695 onwards only reconstruct the external wall and the respective
angular square turrets, ditch and interior store rooms, this rendering inac-
tive the obsolete 16th century Castle, with its keep and interior wall belt,
transforming it into a storeroom of ammunitions and gunpowder.
Quartel das Esquadras
18th century (1736-1750)
Project by: Manuel de Azevedo Fortes and José Fernandes Pinto
de Alpoim
Two-stories building, elongated rectangular floor plant, hipped roof,
punctuated at the summit by a cadenced succession of pyramidal trunk
chimneys. The construction is composed of two juxtaposed and ech-
eloned volumes, which define very long and cadenced façades; the inte-
rior is composed of twenty-three transversal modules, divided into two
small houses, meant for Infantry soldiers. In spite of the Baroque char-
acteristics, the building is marked by disciplined shapes, conceived in a
methodically military fashion, while still attractive, having achieved an
excellent execution and an exceptional visual impact. It is located near
the entrance of S. Francisco.
Corpo da Guarda Principal
18th century (1790)
By Anastácio de Sousa e Miranda (Miguel Luís Jacob)
The building’s construction was started in 1791 and it is erected in the
location of the ancient market sheds. It is a fine example of a military
building built from scratch, probably the most emblematic in the Place
da Praça de Guerra, e um dos mais monumentais dos seus Corpos da
Guarda. Caracterizado pela severidade do traçado, apresenta uma fa-
chada marcada pelo átrio de tripla arcada seccionada por pilastras de
ordem toscana e aparelho almofadado que sustentam simultaneamente
um frontão, centralizado pelo escudo de decoração bélica. O interior
do edifício é marcado axialmente por um pequeno corredor que fazia
a ligação do átrio à caserna e aos dois compartimentos laterais, talvez
destinados aos oficiais. Actualmente serve de instalações à Câmara Mu-
nicipal de Almeida, e localiza-se na actual Praça da Liberdade.
Antigo Convento de Nossa Sª do Loreto (séc. XVI), adaptação
a Quartel e Hospital Militar (séc. XVIII)
Autoria: Miguel Luís Jacob
O convento de Freiras Terceiras Regulares de S. Francisco, dedicado a
Nossa Sra. do Loreto, data do início do século XVI. Apresentava planta
em U, desenvolvendo-se em torno de um claustro quadrangular. A igreja
e o coro-alto ocupavam a ala Norte, a Sul situava-se o refeitório e as
casas de mantimentos. No quadrante Sul/Este situavam-se as celas e as
casas da roda. Da construção conventual o que se conserva hoje corres-
ponde apenas aos alçados Este e Sul, onde se localizavam as celas das
freiras e o refeitório, portanto o espaço onde se instalou o Hospital Mi-
litar, (adaptação feita já no século XVIII), sendo que as restantes depen-
dências conventuais ficaram destinadas ao quartel de infantaria, quartel
esse arrasado com a explosão de 1810. O que restou do antigo convento
mostra uma planta em L, que correspondente à Igreja (actual Igreja Ma-
triz) denominada de N. Srª. das Candeias muito descaracterizada já com
remodelações oitocentistas, como é o caso do portal que actualmente faz
a serventia principal. O templo é de uma só nave, com capela-mor demar-
cada por um arco triunfal em cantaria. Junto ao arco triunfal rasga-se a
capela do Menino Jesus, do qual apenas sobreviveu um portal (mandada
construir por Dantas da Cunha em 1699). Sobreviveu ainda outro corpo,
onde se abre uma porta carral que fazia a ligação à antiga cerca.
Portas de S. Francisco ou da Cruz
Autoria: Pierre Garsin
Séc. XVII
Implantadas a meio da cortina, e forçadas a suplantar o fosso e a atra-
vessar o revelim, as portas da fortaleza são duplas. Cada uma delas é
aberta em arco pleno, com trânsito curvo, unidas através de uma ponte
levadiça que pousava sobre uma ponte dormente fixa de madeira. Late-
ralmente, as Portas dispõem de uma casa da Guarda, com quarto para o
oficial, lareira, aberturas gradeadas para a esplanada ou para o interior
da Vila, por vezes com seteiras nos panos murários, e cobertura à pro-
va de bomba. A Porta Magistral é a mais exuberante e monumental, a
começar pelo tratamento da cantaria: é de ordem toscana, com colunas
a suportar um frontão curvo quebrado pela guarita. As armas ocupam
todo o pano entre o arco, as colunas e o entablamento. Foi na Porta Ma-
gistral que no século XIX se instalou o Comissariado Inglês.
Portas de Sto António
Autoria: Jerónimo Velho de Azevedo
Estruturalmente semelhantes às de S. Francisco embora mais monumen-
tais e de traça distinta. Apresenta trânsito curvo cobertura à prova de bom-
of Arms and one of the most monumental of the Guard’s Corps. Char-
acterized by the outline’s severity, it presents a façade clearly marked
by the atrium with a triple arcade, sectioned by pilasters of a Tuscan
order and panelled brickwork, simultaneously supporting a pediment,
centralized by the shield decorated with war motifs. The building’s in-
terior is axially marked by a small hallway, which used to connect the
atrium to the barracks and to both lateral compartments, maybe meant
for the officials. Currently, it serves as the premises for Almeida’s City
Hall and is located in the present Praça da Liberdade.
Former Convent of Nossa Sª do Loreto (16th century), adaptation to
Barracks and Military Hospital (18th century)
By: Miguel Luís Jacob
The Convent of St. Francis’ Third Order Regular Nuns, in honour to Our
Lady of Loreto, dates back to the beginning of the 16th century. It has a U-
shaped floor plan, which is developed around a quadrangular cloister. The
church and the high-choir occupied the northern wing, the dining hall and
the supplies warehouses were located to the south. In the south/east quad-
rant were the cells and the orphanages. Today, what is left of the convent’s
construction only corresponds to the eastern and southern façades, were the
dining hall and the cells used to be; this is, therefore, the space used to install
the Military Hospital (an adaptation made already during the 18th century),
being that the rest of the convent’s dependencies were meant to the infan-
try’s barracks, which was devastated in the 1810’s explosion. The vestiges
of the former convent show an L-shaped plant and correspond to the Church
(current Mother Church), in honour of Our Lady of Light, already amply
modified by the remodelling works performed in the eighteen hundreds, as
is the case of the portal, currently serving as a main entrance. The temple has
one single nave, with an apse marked by a triumphal arch in ashlar masonry.
Next to the triumphal arch comes Baby Jesus’ Chapel, of which only a portal
(construction ordered by Dantas da Cunha in 1699) remained. Other volume
also survived, where a door is opened to connect with the ancient fence.
Gates of S. Francisco or Cruz
By: Pierre Garsin
17th century
Implemented in the middle of the curtain and forces to surpass the ditch
and cross the ravelin, the fortress’ doors are double. Each one of them can
be opened in a round arch, with a curve passage, united by the drawbridge
that was lowered unto a wooden deck. Laterally, the Gates each have a
gatehouse, with a room for the official, fireplace, grated openings facing
the esplanade or the interior of the villages, sometimes with arrow slits
facing the curtain walls and bomb-proof shell. The Master’s Door is, by
far, the most exuberant and monumental, even starting by the ashlar ma-
sonry treatment: of s Tuscan order, with columns supporting the curved
pediment, stopped by the bartizan. Weapons occupy the entire curtain be-
tween the arch, the columns and the entablature. During the 19th century,
on the Master’s Door, the English Commissioner was fixated.
Gates of Sto António
By: Jerónimo Velho de Azevedo
Structurally very similar to St Francis’, although more monumental
and with a distinct drawing. They have a curve passage, bomb-proof
24
ba e lateralmente casa da Guarda, lareira, latrinas e pias. A porta magistral
era sobradada e lateralmente possuía dois corpos da Guarda destinando-
se um aos “soldados que tivessem que cumprir culpas leves”.
Praça Alta
Localiza-se no Baluarte de Sta. Bárbara. O Baluarte é constituído por 23
canhoneiras, com plataforma no ângulo flanqueada para tiros a barbete,
Bateria Baixa com plataforma para lançamento de morteiros. Analisan-
do as plantas iconográficas do séc. XVIII, destacavam-se ainda neste
Baluarte a capela de Sta. Bárbara e um armazém de pólvora.
Revelim Doble
Século XVIII
Revelim Doble, de influência Vaubaniana, é assim designado por ser
uma estrutura dupla, cobre à direita o baluarte de S. João de Deus, e à
esquerda o Baluarte de Sta. Bárbara. Do ponto de vista técnico é dos ba-
luartes mais perfeitos por “ tirar das faces dos baluartes que o flanqueia
todo o fogo, cobrindo todos os flancos”. Apresenta no terrapleno uma
construção abobadada. A ponte levadiça (recriação) fazia a ligação ente
o reduto e o cemitério, onde ainda hoje existem algumas lápides.
Picadeiro d’El Rey
Cronologia: Séc. XVII como Trem de Artilharia (conjectural)
Séc. XVIII (Reforma de adaptação entre 1766 e 1768 para Fábrica do Pão)
Séc. XX (Adaptação a Picadeiro)
Autor(es): Sargento-mor Engenheiro Miguel Luís Jacob (séc. XVIII
– Assento do Pão)
Descrição: Localizado no Baluarte de Nossa Senhora das Brotas, o
actual Picadeiro de Almeida sofreu desde a sua construção inúmeras
adaptações funcionais. Originalmente serviu de Trem de Artilharia,
onde existiam diversas forjas para a manufactura e reparação do equi-
pamento de guerra. Funcionou também como Quartel do Destacamento
de Artilharia e Hospital Militar, mas foi a organização do seu espaço e a
existência de fornos que influenciou decididamente Miguel Luís Jacob
a transformá-lo em Assento ou Fábrica do Pão de Munição. Na segunda
metade do séc. XIX caiu em ruína, tendo resistido apenas as seguintes
estruturas originais até à intervenção do século XX: o portal coroado
com as armas reais, o edifício das manjedouras, o muro circular e as
paredes laterais com contrafortes da Fábrica do Pão de Munição, inte-
gradas na renovação para Picadeiro.
Casamatas
Cronologia: séc. XVII (1.ª fase)
Séc. XVIII (1797 – 2.ª Fase)
Descrição: Localizadas no interior do Baluarte de S. João de Deus, as
Casamatas ou Quartéis Velhos, como também foram denominadas em
virtude da carência de casernas para alojamento da infantaria, são vinte
salas subterrâneas, com uma largura e altura aproximadas de 4,5 metros
e com um comprimento variável máximo de 26 metros. São construídas
em abóbada de volta perfeita, a maior parte delas com chaminé de venti-
lação. As primeiras seis casas comunicam entre si por um corredor, que
no passado talvez tenha tido um segundo piso continuo em madeira, e
que desagua num pátio onde se abrem as entradas para as restantes 14
25
shell and a lateral gatehouse, fireplace, sewage pits and lavatories. The
master door was elevated and had two gatehouses Guard units, one of
which was meant for “soldiers obliged to serve light sentences”.
Praça Alta
It is located on St Barbara’s bulwark. The bulwark is composed of
twenty-three gun platforms, with a flanked angle platform, for barbet
fire, Low Battery with mortar platform. Analysing the 18th century
iconographical floor plant, one might also highlight the presence of St
Barbara’s chapel and a gunpowder storeroom.
Revelim Doble (Double Ravelin)
18th century
Revelim Doble, of a Vaubanian influence; its names comes from the fact
that it is a double structure, covering S. João de Deus’ bulwark, to the
right, and Sta. Bárbara’s bulwark, to the left. Technically, it is one of the
most perfect bulwarks because “it takes all the fire from the faces of the
bulwarks flanking it, covering all flanks”. On the embankment, it features
a vaulted construction. The drawbridge (recreation) used to connect the
outpost to the cemetery, where some stones can still be found today.
Picadeiro d’El Rey
Chronology: 17th century, as the Artillery Train (conjectural)
18th century (Adaptation, between 1766 and 1768, to a Bread Factory)
20th century (Adaptation to a Manage)
By: Sergeant Major Miguel Luís Jacob, engineer (18th century –
Bread Factory)
Description: Located on Nossa Senhora das Brotas’ bulwark, the cur-
rent Almeida’s Manage suffered numerous functional adaptation since
its construction. In the beginning, it served as an Artillery Train, where
several forges were located, destined to the manufacture and repair of
war equipment. It also served as the Barracks of the Artillery Deploy-
ment Unit and as a Military Hospital, but Miguel Luís Jacob decisively
influence the organisation of space and the existence of ovens, by trans-
forming it into an Army Bread Factory or Deposit. On the second half
of the 19th century, it became abandoned and only the following original
structures endured until the intervention on the 20th century: the portal
crowned with the royal coat-of-arms, the mangers’ building, the circu-
lar wall and the lateral walls with the buttress of the Army Bread Fac-
tory, integrated during its transformation into Manage.
Casemates
Chronology: 17th century (1st stage)
18th century (1797 – 2nd stage)
Description: Located inside S. João de Deus’ bulwark, the Casemates
or Old Barracks, as they were also called in virtue of the lack of caserns
for lodging infantry members, these are composed by twenty subter-
raneous rooms, with and approximate height and width of 4.5 meters
and a variable maximum length of 26 meters. They are constructed in a
barrel vault and most of them feature a ventilation chimney. The first six
rooms are connected by a hallway, which, in the past could have func-
tioned as a second continuous wooden floor and which ends in a patio
where the entrances for the other 14 houses are opened. Its function was
casas. A sua funcionalidade esteve ligada a dois vectores essenciais, a paz
e a guerra. Em tempo de guerra servia para abrigar a população da Vila e
como armazém de víveres. Era inclusive autónoma em termos de abaste-
cimento de água, pois possui cisterna própria. A sua primeira fase cons-
trutiva julga-se contemporânea da construção das Muralhas (sec. XVII),
a segunda fase nunca chegou a ser concluída na totalidade, finalizando
em 1797, data que se encontra gravada no frontispício da entrada.
Vedoria Geral da Beira / Casa dos Governadores da Praça de Al-
meida
Cronologia: Fins do séc. XVII / Início do XVIII (Vedoria)
Séc. XVIII (1766 – 1768 Adaptação a Casa dos Governadores)
Séc. XIX (Adaptação a Secretaria e Arrecadação Geral do Regimento
de Infantaria)
Séc. XX (Reconstrução para Escola Primária e posteriormente a Tribu-
nal de Comarca)
Autor(es): Coronel Engenheiro António Velho de Azevedo (conjectural)
Sargento-mor Engenheiro Miguel Luís Jacob
Descrição: Trata-se tipologicamente de um edifício de arquitectura militar
administrativa e residencial, composto por dois pisos, com planta quadran-
gular e cobertura em telhado de quatro águas. A fachada principal tem com-
posição regular e simétrica, com portal centralizado, ladeado por pilastras
toscanas e rematado por entablamento encimado pelas armas reais. Vãos de
lintel recto, registando janelas com avental liso no piso térreo e janelas de
sacada, com uma proporção próxima do quadrado duplo, no andar nobre.
Panos murários delimitados por soco, pilastras, entablamento e platibanda
almofadada pontuada por jarrões. A Vedoria era um equipamento militar
que assegurava a gestão financeira das Praças de Guerra e a cronologia da
sua construção indica ser contemporânea da construção do Hospital Militar
de S. João de Deus, construção registada ainda hoje no seu alçado posterior.
Daí se conjecturar a atribuição da sua construção a António Velho de Aze-
vedo, autor inequívoco do Hospital. As mudanças de adaptação para Casa
dos Governadores por Miguel Luís Jacob não foram significativas, assu-
mindo essencialmente um carácter funcional e representativo, das quais só
resistiu a platibanda.
Casa do Marechal de Campo Manuel Leitão de Carvalho / Palácio
dos Leitões
Cronologia: Fins do séc. XVII / 1.º Quartel do Séc. XVIII
Descrição: Trata-se tipologicamente de um edifício de arquitectura civil
residencial, composto por dois pisos e planta quadrangular. A fachada prin-
cipal é composta por pano murário único, delimitado por soco, pilastras e
entablamento, inscrevendo um friso separador dos registos. Composição
regular mostrando duas portas no primeiro piso e duas janelas no piso supe-
rior, estas enquadrando a pedra de armas da família, decorada com ornatos
barrocos. Vãos de lintel recto, apresentando as janelas avental almofadado.
Compartimentação interna quadripartida, desenvolvendo-se a escadaria a
partir do átrio. Escadaria de três lanços e degraus com focinho moldurado,
encostada à parede mestra, incluindo uma voluta no arranque e dois arcos
abatidos sustentados por pilar quadrado. Salienta-se uma curiosidade cons-
trutiva no interior deste edifício: a parede interna de uma das lojas do piso
térreo integra a fachada recuada de um edifício quinhentista, com portas
biseladas e um símbolo de cristão-novo gravado no seu umbral.
connected with two essential vectors: war and peace. In war times, it
provided shelter to the villagers and acted as a warehouse. Furthermore,
it was autonomous in what the water supply was concerned, because it
had an own cistern. Its first constructive stage is thought to be contem-
poraneous, on the Walls construction (17th century), the second stage
was not even fully concluded, ending at 1797, a date which is engraved
in the entry’s frontispiece.
Vedoria Geral da Beira / Casa dos Governadores da Praça de Almeida
Chronology: End of the 17th century / Beginning of 18th Century (Con-
troller General’s House)
18th century (1766 – 1768 Adaptation to Governors’ House)
19th century (Adaptation to Secretariat and General Storage for the In-
fantry Regiment)
20th century (Reconstruction for Primary School and later for District Court)
By: Colonel António Velho de Azevedo, engineer (conjectural)
Sergeant Major Miguel Luís Jacob, engineer
Description: Typologically, it is a building of military, administrative
and residential architecture, with two stories, with a quadrangular floor
plant and a hipped roof. The main façade has a regular and symmetrical
composition, with a centralised gate, surrounded by Tuscan pilasters and
finished by an entablature topped with the royal coat-of-arms. Straight
lintel spans, with flat apron windows on the ground floor and balcony
windows, with a proportion close to a double square, on the upper floor.
Wall curtains limited by an attic base, pilasters, entablature and panelled
platband, punctuated by figureheads. The Controller General’s House
(Vedoria) was a military equipment ensuring the financial management
of citadels and the chronology of its construction indicates that it was
built approximately during the time S. João de Deus’ Military Hospi-
tal was being built, a construction still registered today on its posterior
façade. Hence, one could attribute its construction to António Velho de
Azevedo, the Hospital’s unquestionable author. The adaptation changes
for the Governors’ House made by Miguel Luís Jacob weren’t very sig-
nificant, essentially assuming a functional and representative function, of
which only the platband endured.
Casa do Marechal de Campo Manuel Leitão de Carvalho / Palácio
dos Leitões
Chronology: Late 17th century / 1st quarter of the 18th century
Description: Typologically, it’s a building of residential civil architec-
ture, made up of two stories and a quadrangular floor plant. The main
façade is composed of a single wall curtain, limited by attic base, pi-
lasters, entablature, inscribing a frieze separating the registers. Regular
composition showing two doors on the first floor and two windows on
the upper floor, which frame the family’s coat-of-arms, decorated with
Baroque ornaments. Straight lintel spans, with flat apron windows. Inter-
nal compartment divided into four parts, being that the staircase begins
on the atrium. Staircase with three flights and steps with framed bullnose,
leaning on the main wall, including a volute at the start and two elliptical
arches supported by a square pier. One must emphasise a constructive cu-
riosity on the inside of this building: the interior wall of one of the shops
on the ground floor integrates the rear façade of a 16th century building,
with bevel doors and a New Christian symbol engraved on its sill.
26
Paióis
Estes pequenos compartimentos começaram por ser construções de ma-
deira mas foram substituídos por edifícios de cantaria.
No subsolo do baluarte de S. Francisco existe um paiol de bateria com-
posto por dois pequenos compartimentos abobadados,
No Baluarte de São Pedro existe um paiol da bateria composto por dois
compartimentos abobadados, de planta rectangular, sendo a serventia
efectuada pelo exterior do muro de suporte da gola do baluarte, através
de porta rectilínea.
No Revelim do Paiol existem dois edifícios que desempenharam as funções.
9. Engenheiros e Arquitectos Militares (Escolas Francesa e Portu-
guesa)
1641 - D. Álvaro de Abranches ordenou a construção da fortaleza, ca-
bendo a direcção das obras a João Saldanha e Sousa. Em 1641 / 1643
o arquitecto David Álvares superintendeu as obras da praça, “adminis-
trando os oficiais, pedreiros e mais trabalhadores e assistindo pessoal-
mente no trabalho das ditas fortificações” (ALVES, p. 64),
1645 - Feitura das Portas de S. Francisco, talvez por Pierre Garsin;
1646 - continuação das obras e redução do recinto a fortificar; direcção
das obras por João de Saldanha e Sousa e Pedro Gilles de Saint-Paul,
sucedendo-lhe Rodrigo Soares Pantoja.
Durante os séculos XVII e XVIII, as campanhas de obras foram contínuas
envolvendo muito directamente Governadores e necessariamente o En-
genheiro-mor do reino, Charles Lassart, contando ainda com importantes
Engenheiros Militares de renome nacional e internacional, destacando-se
Diogo Truel de Cohon (na substituição de Saint-Paul) e Jerónimo e Antó-
nio Velho de Azevedo na direcção das obras da fortificação.
Nas primeiras décadas do século XVIII, após o desastre de 1695, era
necessário introduzir alguns reajustamentos na engrenagem da Praça,
concluir alguns trabalhos em curso e modernizar aspectos da fortifica-
ção cujo supervisionamento esteve a cargo do Engenheiro-mor do reino
Manuel de Azevedo Fortes, assistido por outros engenheiros, entre os
quais destacamos Pinto de Alpoim. A partir de meados do século XVIII
destacamos, Jacques Funck, Alexandre de Chermont, Miguel Luís Ja-
cob e Anastácio de Sousa e Miranda, nos trabalhos da Fortificação.
10. Dimensões da fortificação abaluartada:
– Número de baluartes e revelins: 12.
– Perímetro das fortificações, medido pelo parapeito do caminho coberto
(o qual existe em praticamente todo o circuito), atinge o comprimento de
3 180 metros.
– Medida da corda da magistral dos seis baluartes é de 2 442 metros,
o que representa uma relação de pouco mais de dois terços da medida
da estrela externa.
– Somatório das medidas dos perímetros da magistral com os das
cristas dos revelins avançados (2103 metros) atinge a dimensão total
de 4 545 metros.
– Área urbana medida fora das golas dos baluartes e dos terra-
plenos das cortinas (correspondendo a um perímetro de 1292 me-
tros) – 11,83 ha.
– Área bruta das muralhas, medida pelo perímetro dos 6 baluartes e
respectivas cortinas – 19,94 ha.
27
Powder Magazines
These small compartments begin as wooden construction but were later
replaced for masonry buildings.
On the subsoil of S. Francisco’s bulwark this is a battery magazine
composed of two small vaulted compartments.
On São Pedro’s Bulwark, there is a battery magazine composed of two
vaulted compartments, with a rectangular floor plant, being that the
access is done externally, by the support wall of the bulwark’s neck,
through a rectilinear door.
On the Magazine’s Ravelin two buildings held the functions.
9. Engineers and Military Architects (French and Portuguese
Schools)
1641 - D. Álvaro de Abranches ordered the fortress’ construction,
being João Saldanha e Sousa in charge of the works’ supervision. In
1641/1643, architect David Álvares supervised the squares’ works, “ad-
ministrating officials, stonemasons and other workers and personally
helping in the work of the referred fortifications.” (ALVES, p. 64);
1645 – Making of S. Francisco’s doors, maybe by Pierre Garsin;
1646 – Continuation of the works and reduction of the enclosure des-
tined to be fortified; works’ supervision by João de Saldanha e Sousa
and Pedor Gilles de Saint-Paul, followed Rodrigo Soares Pantoja.
During the 17th and the 18th centuries, the work campaigns were con-
tinuous, with the direct involvement of Governors and, of course, of the
kingdom’s Major Engineer, Charles Lassart, and they also counted with
important Military Engineers, nationally and internationally known,
such as Diogo Truel de Cohon (replacing Saint-Paul) and Jerónimo and
António Velho de Azevedo, in the fortification works’ supervision.
During the first decades of the 18th century, after the 1695’s disaster,
some adjustments needed to be done in the Citadel’s gear, some works
in progress needed to be concluded and some aspects of the fortifica-
tion needed to be modernized, being that Manuel de Azevedo Fortes,
the kingdom’s Major Engineer, was in charge of supervising the latter,
being assisted by other engineers, of which one may emphasise Pinto de
Alpoim. From the middle of the 18th century onwards, one must high-
light the works of Jacques Funck, Alexandre de Chermont, Miguel Luís
Jacob, and Anastácio de Sousa e Miranda in the Fortification.
10. Dimensions of the bulwark fortification:
– Number of bulwarks and ravelins: 12.
– Fortifications’ perimeter, measured according to the covered path-
way’s parapet (existing almost throughout the entire building), has a
length of 3180 meters.
– The measure of the magistral line of the six bulwarks is 2442 me-
ters, thus representing a relation of a little more than two thirds of the
external star measure.
– The sum of the measure of the magistral’s perimeter with the
ravelin’s crests (2103 meters) reaches the total of 4545 meters.
– Urban area, measured outside the bulwarks’ necks and the
curtains’ embankments (corresponding to a perimeter of 1292 me-
ters) – 11.83 ha.
– Gross area of wall, measured by the perimeter of the 6 bulwarks and
respective curtains – 19.94 ha.
– Superfície dos revelins avançados – 3,90 ha.
– Somatório dos espaços muralhados – 23,84 ha.
– Área global dos fossos – 9,70 ha., o que equivale a dizer que a mu-
ralha da contra-escarpa dos fossos enquadra uma cintura defensiva com
uma área de 33, 54 ha.
– Área global das fortificações, medida pelo caminho coberto – 37,52 ha.
– Área geral, incluindo os glacis, medida até à via circundante da Pra-
ça-forte – 63,92 ha., medida pela via de cintura externa (num perímetro
de 3272 metros).
11. Cronologia essencial:
1039 – Origem num castro e posterior castelo muçulmano que foi con-
quistado nesta data por Fernando Magno, de Leão e Castela;
1156/1190 – Alternância entre posses leonesa, muçulmana e portuguesa;
1190 – Reconquista portuguesa por Paio Guterres, denominado “Almei-
dão”, e posteriormente alternando de mãos entre leoneses e portugueses;
1297 – Conquista e posse definitiva de Almeida, pelo Tratado de Al-
canices, e concessão de foral por D. Dinis que mandou reconstruir e
ampliar o castelo e muralhar a vila;
1369 - o castelo é de novo ampliado por D. Fernando;
1372 – D. Henrique II de Castela, casado com D. Isabel, filha de D.
Fernando, invade Portugal; é feito um acordo entre D. Henrique e D.
Fernando, sendo-lhe concedido Almeida durante três anos;
1383 – durante a crise dinástica o alcaide de Almeida jura fidelidade a
D. Beatriz, tomando o partido de Castela;
1386 – D. João I conquista Almeida;
1407 – Almeida passa a pertencer à Coroa, devido a uma troca de terras
entre D. João I e o Alcaide do castelo de Almeida;
1422 – no Rol dos Besteiros, é referida a existência de 1704 habitantes;
1453 – Almeida é doada a D. Pedro de Menezes, por D. Afonso V;
1496 – na Inquirição é referida a existência de 1850 habitantes;
1508, 9 Setembro – Carta de D. Manuel para Mateus Fernandes, mestre
de obras de Alcobaça, com outro oficial e o corregedor da Comarca de
Almeida, irem ao castelo desta vila examinar a muralha, que o rei dera
de empreitada a Francisco de Anzilho, mestre de obras biscaínho, pelo
preço de 1.550 reais, e avaliarem a obra e os materiais utilizados;
1508, 9 Setembro – mandado de D. Manuel para se pagar a Martim Lou-
renço, mestre pedreiro, todo o seu jornal durante 28 dias que durou a sua
deslocação a Almeida “a ver a obra que aí fez Francisco d’Anzilho”;
1510 – Renovação do foral por D. Manuel; os desenhos de Duarte
d’Armas registam o castelo;
1517 – Demolição de edifícios na vila para construção de um novo
castelo;
1527 – no Numeramento, é referida a existência de 412 habitantes;
1580/1640 – ruína progressiva das estruturas defensivas;
1640 – Reparação apressada da fortaleza;
1641 – D. Álvaro de Abranches ordenou a construção da fortaleza, ca-
bendo a direcção das obras a João Saldanha e Sousa;
1641/1643 – o arquitecto David Álvares superintendeu as obras da pra-
ça, “administrando os oficiais, pedreiros e mais trabalhadores e assis-
tindo pessoalmente no trabalho das ditas fortificações” (ALVES, p. 64),
pelo que não recebia soldo, pedindo, nesses anos, a isenção da décima,
o que lhe foi concedido;
– Surface of ravelins – 3.90 ha
– Sum of walled spaces – 23.84 ha.
– Global area of ditches – 9,70 ha, which is the same as to say that the
ditches’ counterscarp wall frames a defensive belt with an area of 33.54 ha.
– Global area of fortifications, measured by the covered pathway – 37.52 ha.
– General area, including glacis, measured until the citadel’s surround-
ing way – 63,92 ha, measured by the external circular way (in a perim-
eter of 3272 meters).
11. Essential chronology:
1039 – Origin in a hill fort and later Muslim castle, conquered at this
time by Ferdinand I, the Great, of León and Castile;
1156/1190 – Changes between Leonese, Muslim and Portuguese own-
ership;
1190 – Portuguese re-conquest by Paio Guterres, called “Almeidão”
and later alternating between Portuguese and Leonese dominium;
1297 – Conquest and definitive dominium of Almeida, achieved by the
Treaty of Alcañices and by King Dinis’ charter, who ordered the castle’s
reconstruction and amplification and to wall the village;
1369 – The castle is again amplified by King Fernando;
1372 – D. Henrique II of Castile, married to D. Isabel, daughter of King
Fernando, invades Portugal; an agreement is made between D. Henrique
and King Fernando, in which Almeida is granted to him for three years;
1383 – During the Dynastic Crisis, Almeida’s alcalde swears allegiance
to D. Beatriz, taking Castile’s side;
1386 – King João I conquers Almeida;
1407 – Almeida now belongs to the Crown, consequence of a land ex-
change between King João I and the Alcalde of Almeida’s castle;
1422 - In “Rol dos Besteiros” is made a reference to the existence of
1704 inhabitants;
1453 – Almeida is donated to D. Pedro de Menezes, by King Afonso V;
1496 – In “Inquirição” is made a reference to the existence of 1850 inhabitants;
1508/9 September – King Manuel’s letter to Mateus Fernandes, foreman in
Alcobaça, ordering him to go, together with another official and the Head of
Almeida Region, to this village’s castle to examine the wall and appraise the
work and materials involved. The king had contracted Francisco de Anzilho,
a Biscayne foreman, to perform this work, for the price of 1550 reais.
1508/9 September – order by King Manuel to pay to Martim Lourenço,
master mason, for the work journey of 28 days, the duration his trip to Al-
meida had, “to see the work there performed by Francisco d’Anzilho”.
1510 – King Manuel renews the charter; Duarte d’Armas drawings reg-
ister the castle;
1517 – Demolition of buildings in the village, towards the construction
of a new castle;
1527 – In the “Numerato”, is made a reference to the existence of 412
inhabitants;
1580/1640 – progressive ruin of defensive structures;
1640 – Rushed repair of the fortress;
1641 – D. Álvaro de Abranches ordered the fortress’ construction, be-
ing João Saldanha e Sousa in charge of the works’ supervision:
1641/1643 – architect David Álvares supervised the citadel’s works
“administrating officials, stonemasons and other workers and person-
ally helping in the work of the referred fortifications.” (ALVES, p. 64).
28
1645 – Feitura das Portas de S. Francisco, talvez por Pierre Garsin;
1646 – Continuação das obras e redução do recinto a fortificar; direcção
das obras por João de Saldanha e Sousa e Pedro Gilles de Saint-Paul,
sucedendo-lhe Rodrigo Soares Pantoja;
1657 – Novo incremento das obras;
1658 – Durante a regência de D. Luísa de Gusmão, é mandado construir
um hospital, devido ao elevado número de feridos que se encontravam
na Cadeia e na Casa da Câmara;
1686 – O Sargento-mor Jerónimo Velho de Azevedo discípulo de Luís
Serrão Pimentel, tinha sido autorizado a “(…) pôr escola para ensinar
em seis meses do anno, trez na Praça de Almeyda e outros três na de
Penamacor”.
1732 – Foi decretada a Instituição de uma Academia Militar em Al-
meida
1762 – Durante a Guerra dos Sete Anos, o General O’Reylei cerca Al-
meida; nova campanha de obras na fortaleza;
1776 – A praça entra num período de progressivo abandono;
1807/1808 – Invasão de Almeida pelo exército napoleónico;
1810 – Massena impôs cerco a Almeida, havendo uma explosão que
destruiu quase toda a povoação e parte da fortaleza;
1812 – Início das obras de recuperação da praça;
1832/1834 – Durante as Lutas Liberais, as casamatas são usadas para
colocar presos políticos;
1844 – Revolta de Torres Novas liderada pelo Conde de Bonfim, que
retirou para Almeida;
1853 – Início das obras de reparação da fortaleza;
1927 – A fortaleza deixa de ter funções militares;
11.1. Relação de eventos bélicos:
BATALHAS NO CONCELHO DE ALMEIDA
Período Medieval
1372 – Conquista de Almeida pelos Castelhanos (Henrique II de Caste-
la contra D. Fernando de Portugal)
1381 - Conquista de Almeida pelos Castelhanos (D. João I de Castela
contra D. Fernando de Portugal)
1386 – Reconquista de Almeida aos Castelhanos por D. João I de Por-
tugal
Guerras da Restauração
A partir de 1663, viveu Portugal as horas mais dramáticas das Guerras
da Restauração. Sob a chefia de D. João de Áustria no Sul e do Duque
de Ossuna no Norte, foi formado um enorme exército espanhol, inician-
do-se assim a segunda grande campanha militar espanhola.
A região de Riba Côa passou a ser o grande palco deste dramático conflito,
sofrendo constantes razias e pilhagens sobre as suas aldeias, habitantes e
campos de cultivo. A vila de Almeida vai desempenhar então um papel
notável e decisivo para o triunfo da tese da restauração, pois no dia 2 de
Julho de 1663 irá fazer frente, com grande bravura e apesar da inferioridade
numérica, aos exércitos comandados pelo Duque de Ossuna. Mais uma vez
o espírito que os animou foi sem dúvida a ideia de que defendiam a pátria,
e por isso derrotaram de forma esmagadora os seus oponentes.
29
He didn’t get paid for this work and so, during these years, he requested
to be exempted from the payment of tithe, which was granted to him;
1645 – Making of S. Francisco’s doors, probably by Pierre Garsin;
1646 – Continuation of works and reduction of the enclosure to be for-
tified; supervision by João de Saldanha e Sousa and Pedro Gilles de
Saint-Paul, followed by Rodrigo Soares Pantoja;
1657 – New increment in the works;
1658 – During D. Luisa de Gusmão’s Government, the construction of
a hospital is ordered, due to the growing amount injured people on the
Jail and on City Hall;
1686 – Sergeant Major Jerónimo Velho de Azevedo, disciple of Luís Serrão
Pimentel, was authorised to “(…) build a school to teach during six month of
the year, three in Almeida’s Citadel and the other three in Penamacor’s”.
1732 – The Establishment of a Military Academy in Almeida;
1762 – During the Seven Years War, General O’ Reylei sieges Almeida;
new campaign of works in the fortress;
1776 – The citadel faces a period of progressive abandon;
1807/1808 – Almeida is invaded by the Napoleonic army;
1810 – Massena sieges Almeida and an explosion destroyed almost the
entire population and part of the fortress;
1812 – Beginning of the recovery works in the citadel;
1832/1834 – During the Portuguese Civil War, the casemates are used
to lodge political prisoners;
1844 – Torres Novas’ Rebellion, lead by Conde de Bonfim, who retreat
to Almeida;
1853 – Beginning of the repair works in the fortress;
1927 – The fortress ceases its military functions.
11.1. Relation of war events:
BATTLES IN ALMEIDA’S COUNCIL
Medieval Period
1372 – Almeida is conquered by the Castilians (Henry II of Castile
against King Fernando of Portugal)
1381 – Almeida is conquered by the Castilians (Juan I of Castile against
King Fernando of Portugal)
1386 – Almeida is re-conquered by King João I of Portugal to the Cas-
tilians
Restoration Wars
From 1663 onwards, Portugal lived the most dramatic hours of the Res-
toration Wars. Under the guidance of D. João de Áustria, in the south,
and of Duke of Ossuna, in the north, a massive Spanish army was built,
thus beginning the second great Spanish military campaign.
Riba Côa’s region was the great stage for this dramatic conflict, suf-
fering constant invasions and pillages over its villages, inhabitants and
farming areas. Hence, Almeida’s village comes to play a notable and
decisive role for the triumph of the restoration thesis, for on the 2nd of
July of 1663, it will face, with great bravery and although outnumbered,
the armies lead by the Duke of Ossuna. Once again, they got strengths
from the idea that they were defending their motherland and, so, they
defeated their opponents in a most overwhelming fashion.
Guerra dos Sete Anos
No contexto da Guerra dos Sete Anos (1756 – 1763), Portugal era alia-
do de Inglaterra e assim sendo, a 15 de Julho de 1762 a Espanha declara
guerra a Portugal, desta forma as tropas inimigas incendeiam S. Pedro
do Rio Seco, Vale da Mula, Vale de Coelha e Malpartida e saqueiam
Nave de Haver, Junça e Naves.
Posteriormente o exército Espanhol chefiado pelo Conde de O’Reiyli
cercou e fez capitular a Praça de Almeida, tomando de seguida Castelo
Bom, só em 1763 quando a paz foi assinada, Almeida foi restituída.
Guerras Peninsulares
Com a III Invasão Francesa devem mencionar-se 3 Batalhas:
– 24 de Julho de 1810 – Batalha do Côa entre as tropas comandadas por
o Brigadeiro General Robert Crawford e o 6º Corpo do exército francês
comandado pelo Marechal Ney.
– 26 de Agosto de 1810 – Cerco e Capitulação de Almeida.
– 1811 – Batalha de Fuentes de Oñoro ou de Vilar Formoso, no sitio
do Chão dos Mortos e Alto dos Ataques (Batalha ganha pelas tropas
Anglo-Lusas sobre o exército francês de Massena)
Guerras Liberais
– 1827 – A Praça de Almeida manteve-se fiel a D. Pedro V, tendo sido
cercada pelas tropas Absolutistas que acabaram por a conquistar.
Outras Batalhas
– 1834 – D. Carlos de Bourbon, irmão de Fernando VII de Castela,
pretendente ao trono espanhol refugiou-se em Almeida. A Praça sofreu
novo cerco.
– Em 1844, aquando da Revolta de Torres Novas contra o Ministério de
Cabral, os revoltosos, chefiados por José Estêvão, retiram para Almei-
da, sofrendo esta um novo cerco.
12. Gestão
12.1. Propriedade
Castelo: pública, estatal.
Vestígios de panos de muralha medieval (particular)
Fortificações abaluartadas: pública, estatal IGESPAR
12.2. Afectação
IGESPAR - DRC, Decreto regulamentar n.º 34/2007 de 29 Março de 2007
12.3. Entidade gestora
Castelo: IGESPAR
Fortificações abaluartadas: IGESPAR e Câmara Municipal de Almeida
12.4. Classificação e respectiva legislação
MN, Dec. nº 14 985, DG 28 de 03 de Fevereiro de 1928, e Dec. nº 28
536, DG 66 de 22 de Março de 1938, ZEP, DG 97 de 24 Abril de 1962
12.5. Número de inventário oficial e arquivo onde se pode consul-
tar
Arquivo: (www.monumentos.pt) (Instituto da Habitação e da Reabilita-
ção Urbana – Forte de Sacavém / Lisboa)
Seven Years War
Within the context of the Seven Years War (1756 – 1763), Portugal
was England’s ally and, so, on 15the July 1792, Spain declares war on
Portugal; as a consequence, enemy forces torch S. Pedro do Rio Seco,
Vale da Mula, Vale de Coelha and Malpartida and plundered Nave de
Haver, Junça and Naves.
Later, the Spanish army, lead by Count of Reylei besieged and topped
Almeida’s Citadel, afterwards taking Castelo Bom, only in 1763, when
the peace was signed, was Almeida given back.
Peninsular Wars
During the 3rd French Invasion, 3 Battles must be emphasised:
– 24th July 1810 – Côa’s Battle between the troops lead by Brigadier Gen-
eral Robert Crawford and the 6th Army Corps lead by Marshal Ney.
– 26th August 1810 – Siege and Surrender of Almeida.
– 1811 – Battle of Fuentes de Oñoro or Vilar Formoso, on the location
of Chão dos Mortos (Ground of the Dead) and Alto dos Ataques (Hill
of the Attacks) (Battle won by Portuguese and English troops on Mas-
sena’s French Army).
Portuguese Civil War
– 1827 – Almeida’s Citadel was faithful to King Pedro V, being be-
sieged by Absolutist troops, when eventually conquered it.
Other Battles
– 1834 – D. Carlos de Bourbon, brother of Ferdinand VII de Castile,
pretender to the Spanish throne, took refuge in Almeida. The Citadel
suffered another siege.
– In 1844, during the Torres Novas’ Rebellion against Cabral’s Min-
istry, those rebelling lead by José Estêvão, retreated to Almeida, and,
once again, it was besieged.
12. Management
12.1. Propriety
Castle: public, state.
Vestiges of Medieval wall curtains (privately owned)
Bulwarked fortifications: public, state IGESPAR
12.2. Allocation
IGESPAR - DRC, Regulatory Decree no. 34/2007 of 29th March 2007
12.3. Management body
Castle: IGESPAR
Bulwarked fortifications: IGESPAR and Almeida’s Town Hall
12.4. Classification and concurrent legislation
MN, Dec. no. 14985, DG 28, 3rd February 1928 and Dec. no 28 536, DG
66 of 22th March 1938, ZEP, DG 97 of 24th April 1962
12.5. Number of inventory and archive where it can be searched
Archive:(www.monumentos.pt) (Instituto da Habitação e da Reabili-
tação Urbana – Forte de Sacavém; Housing and Urban Rehabilitation
Institute – Sacavém’s Fort / Lisbon)
30
12.6. Integra-se num Plano de Pormenor, Salvaguarda e Valoriza-
ção (PPSV)?
Sim, aguardando aprovação
13. Estado de conservação: Bom
13.1. Possui sistema de monitorização?
Os serviços do Município realizam trabalhos de levantamento do esta-
do geral de conservação, registando as conclusões e propondo medidas
de salvaguarda.
14. Integridade:
A evolução do sistema abaluartado, e bem assim a contextualização ur-
banística e a área de protecção e enquadramento apresentam um quadro
global de forte integridade histórica e patrimonial.
15. Autenticidade:
Idem para o quadro da autenticidade, tanto da conservação como da
reabilitação.
16. Identificação e localização de intervenções, de qualquer tipo, conside-
radas aconselháveis ou imprescindíveis para o sucesso da candidatura:
A viabilização de actividades que sustentem um desenvolvimento coe-
rente, baseado em constante adequação do Plano de Gestão
17. Fontes e Bibliografia essenciais
17.1. Não editadas
– ANTT
Alvará onde se ordena ao Engenheiro Mor do reino Charles Lassart o
reconhecimento e o desenho das Fortificações da Beira, Conselho de
Guerra, Livro de Registos da Secretaria da Guerra, Lº 5 fl. 14v.º Lisboa,
23 de Setembro de 1642-
– Aviso ao Engenheiro Mor do reino Charles Lassart para que prossiga
o reconhecimento das Fortificações da Beira, na companhia do Desem-
bargador Gregório de Valcaçar, Conselho de Guerra, Livro de Registos
da Secretaria da Guerra, Lº 5 fl. 42, Lisboa, 25 de Dezembro de 1642.
– Consulta sobre a necessidade de concluir a fortificação de Almeida (IANTT),
Conselho de Guerra, maço 8, nº 183, Lisboa, 11 de Agosto de 1648.
– Decreto onde se refere a actividade de António Piabla Dobles e Pedro
Gilles de Saint-Paul , Conselho de Guerra, decretos, maço 15, nº29,
Lisboa, 3 de Junho de 1655.
– Decreto onde se refere a necessidade de escolher um novo local para o
Hospital Militar, Conselho de Guerra, Decretos, maço 17, nº56, Lisboa,
28 de Maio de 1658.
– Conselho de Guerra, Decretos:
(18 de Junho de 1648) Conselho de Guerra, Decretos maço 8, nº 126,
(22 de Julho de 1648) 158;
(11de Agosto de 1648) nº177;
(17 de Agosto de 1648) nº183
(3 de Junho de 1655), Conselho de Guerra, Decretos, maço 15, nº 29
(21 de Julho de 1660), Conselho de Guerra, Decretos, maço 19, nº 52
– Casa do Infantado
9 de Julho de 1672, Casa do Infantado, Comarca de Pinhel, Vila de
Almeida e Ranhados, maço 1094, s/n
31
12.6. Is it integrated in a Plano de Pormenor, Salvaguarda e Valo-
rização (PPSV)?
Yes, awaiting approval
13. Conservation condition: Good
13.1. Does it have a monitoring system?
The Municipal services perform surveys on the general conditions of
conservation, registering conclusion and putting forward safeguarding
measures.
14. Integrity:
The evolution of the bulwarked system, as well as the urban context, the
protection area and the background presents a global picture of strong
historical and heritage integrity.
15. Authenticity:
The same goes as for the authenticity, in the conservation, as well as in
the rehabilitation scope.
16. Identification and location of interventions, of any sort, per-
ceived as advisable or vital for the application’s success:
The viability of the activities supporting a coherent development, based
on a constant adaptation to the Management Plan
17. Sources and essential bibliography
17.1. Unedited
– ANTT
Alvará onde se ordena ao Engenheiro Mor do reino Charles Lassart o
reconhecimento e o desenho das Fortificações da Beira, Conselho de
Guerra, Livro de Registos da Secretaria da Guerra, Lº 5 fl. 14v.º Lisboa,
23 de Setembro de 1642-
– Aviso ao Engenheiro Mor do reino Charles Lassart para que prossiga
o reconhecimento das Fortificações da Beira, na companhia do Desem-
bargador Gregório de Valcaçar, Conselho de Guerra, Livro de Registos
da Secretaria da Guerra, Lº 5 fl. 42, Lisboa, 25 de Dezembro de 1642.
– Consulta sobre a necessidade de concluir a fortificação de Almeida (IANTT),
Conselho de Guerra, maço 8, nº 183, Lisboa, 11 de Agosto de 1648.
– Decreto onde se refere a actividade de António Piabla Dobles e Pedro
Gilles de Saint-Paul , Conselho de Guerra, decretos, maço 15, nº29,
Lisboa, 3 de Junho de 1655.
– Decreto onde se refere a necessidade de escolher um novo local para o
Hospital Militar, Conselho de Guerra, Decretos, maço 17, nº56, Lisboa,
28 de Maio de 1658.
– Conselho de Guerra, Decretos:
(18 de Junho de 1648) Conselho de Guerra, Decretos maço 8, nº 126,
(22 de Julho de 1648) 158;
(11de Agosto de 1648) nº177;
(17 de Agosto de 1648) nº183
(3 de Junho de 1655), Conselho de Guerra, Decretos, maço 15, nº 29
(21 de Julho de 1660), Conselho de Guerra, Decretos, maço 19, nº 52
– Casa do Infantado
9 de Julho de 1672, Casa do Infantado, Comarca de Pinhel, Vila de
Almeida e Ranhados, maço 1094, s/n
20 de Julho de 1675, Casa do Infantado, Comarca de Pinhel, Vila de
Almeida e ranhados, maço 1094, s/n
1786, Casa do Infantado, Comarca de Pinhel, Vila de Almeida e ranha-
dos, maço 1100,
– Chancelarias
Chancelaria de D João IV, Lº 41, 210
Chancelaria de D. João V, Lº 55, fl 274 e 274vº
D. João V, Lº 111, fl.s 165 e 165 vº
Chancelaria de D. José, Lº 52, fls 3711 vº e 372vº
Chancelaria de D. João VI, Lº 22, fl313 vº
– Livro de Registo das mercês de D. Pedro V, Lº 4, fl. 243 vº e 244
– GEAEM
CAULA, Carlos Francisco Bernardo de e COSTA, José Maria Neves
da, Plano e Perfiz da Praça de Almeida, 1811 (544-1-2-2).
CUNHA, José Joaquim da e FERREIRA, José Maria, Planta do Terrei-
ro adjacente a Praça de Almeida, 1807 (15-1-2-2).
DIAS, Joaquim António, Assento da Praça de Almeida, 1868 (4662/
IV-1-2-2).
ELSDEN, Guilherme Francisco, Planta da Praça de Almeida, 1765,
(22-1-2-2).
FOLQUE, Pedro, Plano da Praça de Almeida, (1811-1812), (18-1-2-
2).
FONSECA, João Bernardo Real da, Plano da Praça de Almeida, com
seus Ataques, (1762), (27, 28 e 565-1-2-2).
FURTADO, Abel Augusto Dinis, Planta da Praça d’Almeida, (séc.
XIX), (7217-1-2-2).
Editadas:
BARRENTO, António Martins; CARVALHO José Vilhena; A Praça de
Almeida na “Guerra Fantástica” (colecção Bicentenário da Guerra Pe-
ninsular); C.M.A, 2006.
BOBELA, Aniceto de Paiva Gonzalez; História do Regimento 23 desde
a sua organização em 1806 até hoje; (colecção Bicentenário da Guerra
Peninsular); C.M.A, 2006.
CAMPOS, João; As Coberturas das “Casamatas”; CMA; 2006
CAMPOS, João; Portas e Poternas da Praça-Forte; CMA; 2007
CARVALHO, José Vilhena; O Castelo de Almeida, Origem, História e
Destruição Controvérsias (2º ed.); CMA; 2006
CARVALHO, Manuel Jorge Pereira de; Da Praça de Almeida à Batalha
do Buçaco: seu contexto na Guerra Peninsular, (Colecção Bicentenário
da Guerra Peninsular); C.M.A, 2006.
CARVALHO, José Vilhena, Almeida – Subsídios para a sua história,
Almeida, Santa Casa da Misericórdia de Almeida, 1991.
CHARTRAND, René; COELHO Sérgio Veludo; A Infantaria Ligeira
na Guerra Peninsular (Colecção Bicentenário da Guerra Peninsular);
C.M.A, 2006.
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, 2.ª edição, Liv.
Civilização, v. III
JÚNIOR, António de Sousa; RODRIGUES, Manuel A. Ribeiro Rodri-
gues;
PORTUGAL EM VÉSPERAS DAS INVASÕES FRANCESAS, (Catá-
logo de Exposição), CMA; 2007
20 de Julho de 1675, Casa do Infantado, Comarca de Pinhel, Vila de
Almeida e ranhados, maço 1094, s/n
1786, Casa do Infantado, Comarca de Pinhel, Vila de Almeida e ranha-
dos, maço 1100,
– Chancelarias
Chancelaria de D João IV, Lº 41, 210
Chancelaria de D. João V, Lº 55, fl 274 e 274vº
D. João V, Lº 111, fl.s 165 e 165 vº
Chancelaria de D. José, Lº 52, fls 3711 vº e 372vº
Chancelaria de D. João VI, Lº 22, fl313 vº
– Livro de Registo das mercês de D. Pedro V, Lº 4, fl. 243 vº e 244
– GEAEM
CAULA, Carlos Francisco Bernardo de e COSTA, José Maria Neves
da, Plano e Perfiz da Praça de Almeida, 1811 (544-1-2-2).
CUNHA, José Joaquim da e FERREIRA, José Maria, Planta do Terrei-
ro adjacente a Praça de Almeida, 1807 (15-1-2-2).
DIAS, Joaquim António, Assento da Praça de Almeida, 1868 (4662/
IV-1-2-2).
ELSDEN, Guilherme Francisco, Planta da Praça de Almeida, 1765,
(22-1-2-2).
FOLQUE, Pedro, Plano da Praça de Almeida, (1811-1812), (18-1-2-
2).
FONSECA, João Bernardo Real da, Plano da Praça de Almeida, com
seus Ataques, (1762), (27, 28 e 565-1-2-2).
FURTADO, Abel Augusto Dinis, Planta da Praça d’Almeida, (séc.
XIX), (7217-1-2-2).
Edited:
BARRENTO, António Martins; CARVALHO José Vilhena; A Praça de
Almeida na “Guerra Fantástica” (colecção Bicentenário da Guerra Pe-
ninsular); C.M.A, 2006.
BOBELA, Aniceto de Paiva Gonzalez; História do Regimento 23 desde
a sua organização em 1806 até hoje; (colecção Bicentenário da Guerra
Peninsular); C.M.A, 2006.
CAMPOS, João; As Coberturas das “Casamatas”; CMA; 2006
CAMPOS, João; Portas e Poternas da Praça-Forte; CMA; 2007
CARVALHO, José Vilhena; O Castelo de Almeida, Origem, História e
Destruição Controvérsias (2º ed.); CMA; 2006
CARVALHO, Manuel Jorge Pereira de; Da Praça de Almeida à Batalha
do Buçaco: seu contexto na Guerra Peninsular, (Colecção Bicentenário
da Guerra Peninsular); C.M.A, 2006.
CARVALHO, José Vilhena, Almeida – Subsídios para a sua história,
Almeida, Santa Casa da Misericórdia de Almeida, 1991.
CHARTRAND, René; COELHO Sérgio Veludo; A Infantaria Ligeira
na Guerra Peninsular (Colecção Bicentenário da Guerra Peninsular);
C.M.A, 2006.
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, 2.ª edição, Liv.
Civilização, v. III
JÚNIOR, António de Sousa; RODRIGUES, Manuel A. Ribeiro Rodri-
gues;
PORTUGAL EM VÉSPERAS DAS INVASÕES FRANCESAS, (Catá-
logo de Exposição), CMA; 2007
32
PIRES, Nuno Barrento Lemos; VALENTE, Augusto Monteiro; Almei-
da e as Invasões Francesas, (Colecção Bicentenário da Guerra Peninsu-
lar); C.M.A; 2006.
QUINTA, Ana Luísa; A Fortaleza de Almeida, Uma perspectiva arqui-
tectónica; CMA 2008
RODRIGUES, Adriano Vasco; As Terras de Riba-Côa nas Invasões
Francesas; (Colecção Bicentenário da Guerra Peninsular); C.M.A,
2006.
SARAIVA, A Acção da Praça de Almeida nos Sucessos da Restauração,
in Congresso do Mundo Português, Lisboa, Fac. de Letras da Univ. de
Lisboa 1964, Vol. VII
SARAIVA, José Mendes da Cunha, O conceito histórico da palavra
Beira (tese destinada ao Congresso Beirão de 1928), Lisboa Oficina de
José Fernandes Jr, 1928
RIBEIRO, Orlando, Introduções Geográficas à História de Portugal,
Estudo crítico Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1977
VICENTE, António Pedro, A região de Riba-Côa na visão do francês
August du Fay, (Colecção Bicentenário da Guerra Peninsular); C.M.A,
2006.
Periódicos:
– CEAMA 1 (Revista Semestral); Actas das Jornadas da Arquitectura
Militar Abaluartada; CMA; 2008
– CEAMA 2 (Revista Semestral); Comemorações do Cerco de Almeida
2008 – História e Memória; CMA; 2008
– CEAMA 3 (Revista Semestral); Actas das Jornadas da Arquitectura
Militar Abaluartada; CMA; 2009.
– CEAMA 4 (Revista Semestral); Cerco de Almeida/2009 – Arquitec-
tura Abaluartada/2.º Simpósio das Artes; CMA; 2009.
17.3 Sites na internet
http://www.monumentos.pt.
18. Responsáveis técnico-científicos pelo preenchimento da ficha
– Nome: João Campos, Consultor da Câmara Municipal de Almeida para
a área do Património Arquitectónico, Doutor em História da Arte pela Uni-
versidade de Coimbra, Mestre em Relações Interculturais pela Universida-
de Aberta, Arquitecto pela Escola Superior de Belas Artes do Porto.
– Nome: João Marujo, Arquitecto do Município de Almeida
– Nome: Paula Sousa, Historiadora do Município de Almeida
– Nome: Paulo Amorim, Historiador do Município de Almeida
Almeida, Junho de 2009
33
PIRES, Nuno Barrento Lemos; VALENTE, Augusto Monteiro; Almei-
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2006.
Periódicos:
– CEAMA 1 (Biannual Magazine); Actas das Jornadas da Arquitectura
Militar Abaluartada; CMA; 2008
– CEAMA 2 (Biannual Magazine); Comemorações do Cerco de Almei-
da 2008 – História e Memória; CMA; 2008
– CEAMA 3 (Biannual Magazine); Actas das Jornadas da Arquitectura
Militar Abaluartada; CMA; 2009.
– CEAMA 4 (Biannual Magazine); Cerco de Almeida/2009 – Arquitec-
tura Abaluartada/2.º Simpósio das Artes; CMA; 2009.
17.3 Websites
http://www.monumentos.pt.
18. Technical and scientific officers for the form’s completion
– ­Name: João Campos, Consultant for Almeida’s City Hall on the sub-
ject of Architectonical Heritage, PhD in Art History by Universidade de
Coimbra, M.A in Intercultural Relationships by Universidade Aberta,
Architect by Escola Superior de Belas Artes do Porto.
– Name: João Marujo, Architect for Almeida’s Council
– Name: Paula Sousa, Historian for Almeida’s Council
– Name: Paulo Amorim, Historian for Almeida’s Council
Almeida, June 2009
Localização no mapa de Portugal Location on the map of Portugal
 Planta geral das fortificações, General Plan of the fortifications,
com localização dos edifícios with location of buildings
Carta Militar (Escala 1: 25 000) Military Map (Scale 1: 25000) de função militar with military functions

01 – Portas de S. Francisco 05 – Hospital de Sangue 09 – Portas de Sto. António

02 – Quartel das Esquadras 06 – Paiol e casa do guarda 10 – Vedoria geral
03 – Fábrica de Pão 07 – Trem de Artilharia 11 – Corpo de Guarda Principal
04 – Casamatas 08 – Castelo
 Candidatura das Fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO

CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF THE

PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE) AS WORLD HERITAGE – UNESCO

3. TESTEMUNHOS SOBRE O VALOR EXCEPCIONAL DO PATRIMÓNIO EDIFICADO

DAS FORTIFICAÇÕES ABALUARTADAS DE ALMEIDA
STATEMENTS ON THE OUTSTANDING VALUE OF THE BUILT HERITAGE
OF THE ALMEIDA FORTIFICATIONS

3.1 A PORTA CENTRAL DO REINO: RELEVÂNCIA EPISTEMOLÓGICA DAS FORTIFICAÇÕES DE ALMEIDA

THE KINGDOM’S CENTRAL GATE: EPISTEMOLOGICAL RELEVANCE OF THE FORTIFICATIONS OF ALMEIDA
António Filipe Pimentel

3.2 Almeida: o potencial arqueológico de um espaço de guerra multissecular

Almeida: the archaeological potential of a centuries-old war zone
André Teixeira

3.3 Importância Cultural e Estratégica de Almeida ao Longo do Tempo

Cultural and strategical importance of almeida throughout time
Adriano Vasco Rodrigues

3.4 ALMEIDA NA RAIA

ALMEIDA ON THE RAIA
Fernando Cobos-Guerra

3.5 Almeida – Património Arquitectónico Contemporâneo, uma leitura: o século XX e o princípio

do século XXI – Algumas considerações e exemplos
Almeida – A reading on Contemporary Architectural Heritage 20th and early 21st century
– Some considerations and examples
José Manuel Fernandes

3.6 A NOMEAÇÃO DAS FORTIFICAÇÕES DE ALMEIDA COMO PATRIMÓNIO MUNDIAL

THE NOMINATION OF Almeida Fortifications AS World Heritage
Milagros Flores Román

3.7 FORTIFICAÇÕES ABALUARTADAS DE ALMEIDA

THE BULWARKED FORTIFICATIONS OF ALMEIDA
Pedro Dias

3.8 A PAISAGEM HISTÓRICA DE ALMEIDA

THE HISTORIC LANDSCAPE OF ALMEIDA
Rui Carita

3.9 Portugal tem uma “estrela”

PORTUGAL HAS A “STAR”
Rui Ramos Loza

3.10 A PaiSAGEM DE ALMEIDA

THE LANDSCAPE OF ALMEIDA
Teresa Andresen

38 39
3.1 A PORTA CENTRAL DO REINO:
RELEVÂNCIA EPISTEMOLÓGICA
DAS FORTIFICAÇÕES DE ALMEIDA
António Filipe Pimentel
Objecto de classificação como Monumento Nacional sucessivamente em
1928 e 1938 — atenta uma relevância desde cedo reconhecida — o com-
plexo que define o sistema fortificado de Almeida constitui, seguramente,
com Elvas e Valença, um dos mais impressivos e significantes marcos
dessa extraordinária coroa que, no decurso dos séculos, formaria o sis-
tema defensivo da fronteira terrestre, ao abrigo do qual Portugal lograria
vingar e sobreviver como projecto colectivo e além do qual, por seu tur-
no, se modelaria pouco a pouco (nessa contenção) o outro em relação ao
qual, como toda a identidade, o País se conformou. Com Elvas, porém,
desempenharia um papel de relevo no complexo processo que enqua-
drou a Restauração de 1640 (novo ciclo de conformação da identidade)
e num quadro onde a prática construtiva da fortificação — essa Arte de
Príncipes, como era entendida desde o Renascimento — colhia o fruto, a
um tempo da tradição consolidada no decurso do período imperial e dos
novos ventos de permanente actualização das técnicas construtivas que se
entrechocavam nessa ultra-conflitiva Europa seiscentista, enquadrando o
processo de recuperação da autonomia portuguesa. Nesse sentido — que
é também simbólico e semiótico —, mas de igual modo no plano concre-
to da própria História da Fortificação em Portugal e no Mundo, impõe-se
e justifica-se que lhe seja prestada uma atenção particular, vincando a sua
relevância e sublinhando a sua clara singularidade.
O local onde, aparentemente ao menos desde tempos romanos, viria a brotar
Almeida, avulta, implantado a 750m de altitude, no extremo do planalto de
Castela-Leão que avança sobre a Guarda, penetrando em território português,
em plena terra de Riba-Côa. Gerando, desde cedo, um fenómeno de centrali-
dade, articulado com uma micro-região, ostentaria, no seu devir (e, por con-
seguinte, no sistema de fortificações de que seria sucessivamente dotada), as
marcas de desígnios geoestratégicos que rapidamente a transcenderiam: des-
3.1 THE KINGDOM’S CENTRAL DOOR
EPISTEMOLOGICAL RELEVANCE
OF FORTIFICATIONS IN ALMEIDA
António Filipe Pimentel
Being successively classified as National Monument between 1928 and 1938
– attesting a relevance recognised precociously – the complex defining the
fortified system in Almeida is, undoubtedly, along with Elvas and Valença,
one of the most impressive and meaningful landmarks of this extraordinary
Crown that, throughout centuries, would come to form the defensive system
of land frontier, under which Portugal would desire to withstand and survive
as a collective project and beyond which, on the other hand, the other would
slowly be modelled (within that refrain), in relation to which, as did an en-
tire identity, the Country accepted. In Elvas, nevertheless, it would play a
relevant part in the complex process in which the 1640 Restoration happens
(a new cycle of conformation of identity) and within a framework where the
constructive practice of fortifications – the Art of Princes, as it was perceived
since the Renaissance – harvested the gains, some time from the tradition
settled during the Imperial period and from the new winds of a permanent
update of constructive techniques intertwining in the ultra-conflicting 16th-
century Europe, which serves as a background for the process of recovering
the Portuguese autonomy. In that sense – which is also symbolic and semiotic
–, but equally in the concrete plan of the History of Fortification in Portugal
and in the World, it is mandatory and justifiable that close attention is paid to
it, stating its relevance and underlining its clear uniqueness.
The place where, apparently at least since Roman times, Almeida would rise
from, increases, standing 750 meters high, on the summit of Castile-León
plateau which advances towards Guarda, penetrating in Portuguese territory,
on lands of Riba-Côa. Generating, from early on, a phenomenon of central-
ity, joint to a micro-region, it would display, during its mutation (and, there-
fore, in the fortifications system that would later be given to it), the marks of
geo-strategic intentions which rapidly transcended it: since the intentions of
the Muslim Conquest and/or of the Reconquista, where the remote basis for
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de logo os da expansão islâmica e/ou da Reconquista, onde assentará a base
remota das suas primeiras estruturas defensivas, depois os que enquadrariam
o processo de formação e consolidação de Portugal e, neste, em particular, os
que decorrem do quadro definido pelo Tratado de Alcanizes, de 1297, que in-
tegraria a povoação em definitivo (juntamente com os castelos de Riba-Côa:
Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Castelo Rodrigo e Monforte)
nos domínios da Coroa Portuguesa — por essa via reforçando o seu valor
estratégico, mas onerando com novas responsabilidades uma fortificação de
altura, originada em contextos de expansão Norte/Sul e assim recontextua-
lizada (com os respectivos ónus do ponto de vista da eficácia defensiva) por
força da incorporação nacional promovida por D. Dinis.
Será essa fortificação original que Duarte d’Armas retrata, em inícios do
século XVI: castelo para-quadrangular, provido de torre de menagem e re-
forçado por torres nas esquinas, onde a transição da neuro-balística para a
piro-balística se encontra ilustrada na edificação da segunda linha defensiva,
rebaixada e provida de troneiras. E será, assim, em fim de contas, essa estru-
tura militar — grandemente alterada no decurso dos séculos imediatos, por
virtude da explosão de 1696 e da necessidade objectiva de eliminar a incó-
moda visibilidade resultante do seu sistema original passivo (torres e mura-
lhas altas) — e a despeito da sua definitiva destruição, em 1810, no enorme
desastre que, com a explosão do paiol, arrasaria igualmente parte substancial
da vila intra-muros, a responsável pela contumaz viabilidade histórica da
praça de Almeida. E, desde logo, pelo seu papel no quadro das Guerras da
Restauração e dos conflitos militares que, até ao século XIX, se lhe seguiriam
e onde faria prova, a um tempo do seu valor estratégico e de inconvenientes
de situação que os sucessivos estrategos militares lhe cominariam, especial-
mente no decurso das centúrias de Setecentos e de Oitocentos.
Efectivamente, serão esses os casos do marechal de Campo João Alexandre
Charmon que, em 1762, em Memória adrede redigida sobre obras a exe-
cutar, sublinharia a coroa de elevações que a rodeiam como factor sempre
impeditivo da sua perfeição e de um documento de 1767, publicado por
Vilhena de Carvalho. Apesar disso a defesa da sua sustentabilidade seria
inversamente assumida pelos relatores oitocentistas de 1853 (quando esta-
va em causa o seu futuro militar), os quais peremptoriamente opinariam ser
“esta Praça como uma das mais fortes do Reino, e talvez a mais forte dellas,
por não depender de obras destacadas para sustentar um sítio em regra,
conforme acontece à praça d’Elvas. Diz mais a comissão que, não obstante
haver quem despreze a praça d’Almeida, notando-lhe o grande defeito de
estar situada além do rio Côa, em relação ao centro do Reino (…), todavia
julga a comissão que a situação d’Almeida não é tão má como a querem
pintar, e isto porque o Côa não tem a importância que lhe querem dar”.
Com efeito e num quadro intermédio, as virtualidades de Almeida, decorren-
tes justamente da situação onde se implanta (ainda no século XVIII, a estrada
Ciudad Rodrigo-Almeida-Viseu-Coimbra constituiria a grande alternativa ao
eixo Almaraz-Badajoz-Elvas na ligação entre Lisboa e Madrid), justificariam
a defesa que o conde de Lippe faz da sua relevância estratégica na defesa do
acesso a Porto e Coimbra, em 1762, outro tanto sucedendo, em fim de contas,
na prática dos sucessivos teatros militares, no quadro das invasões francesas
e mesmo no da guerra civil que se lhe seguiria. É, pois, afinal, esta condição
natural de principal acesso a toda a província da Beira (e, dela, ao coração do
território nacional) que justifica a um tempo a precoce fortificação da emi-
nência onde se situa e a sua conservação no decurso dos séculos: e, já no
quadro da Restauração, o esforço espontâneo de fortificação que localmente
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se desenvolve e, bem assim, a rápida atenção que lhe ministra o governador
de armas da província da Beira, origem de um processo sistemático que ha-
veria de estender-se pelos séculos XVII e XVIII e em cujo seio (e não é de-
certo menor virtude) o local haveria de impor-se aos homens, no decurso das
gerações: mesmo que daí resultasse, em conluio com a vertiginosa evolução
que a Arte dos Príncipes nessas centúrias ressentiria, uma ingente tarefa para
quem, na sequência das vicissitudes, devesse arcar com a sua defesa.
Como quer que seja, é com a Restauração de 1640 — e no quadro que dela
emerge — que a povoação adquire o seu incontroverso valor estratégico,
como porta de acesso que era ao coração do Reino, beneficiando já de um
investimento antigo de fortificação, em torno do qual rápida e improvisa-
damente se concentram os esforços locais, face à iminência do conflito. De
facto e a despeito da atenção paralelamente prestada ao reforço da barra do
Tejo — defendendo a capital — e, em geral, da orla marítima, o grande in-
vestimento defensivo concentrar-se-á então em atalhar as grandes vias de
invasão terrestre, essencialmente constituídas pelo acesso minhoto (entre Va-
lença e Monção), pelo transmontano (pela veiga de Chaves), pelo do Vale do
Tejo (através de Segura) e pelo Alentejo (na linha Badajoz-Elvas-Estremoz):
além, como fica dito, do vale do Mondego, defendido por Almeida e que
igualmente abria o acesso à capital. A vila beirã exprime neste contexto o seu
relevo, num quadro onde o Alentejo (com Elvas) ocupará o papel central, a
um tempo pelo acesso fácil que franqueia a Lisboa e por ser território fun-
diário da Casa de Bragança. E nele, com efeito, se concentrarão os esforços
militares e o material de guerra logo em 1641, bem como, no imediato, o
essencial do esforço desenvolvido de projecção de fortificações abaluartadas,
que fariam do período da Restauração o verdadeiro núcleo da escola portu-
guesa de engenharia militar, assente então (tanto da parte portuguesa como
da espanhola) nos princípios estáticos que impunham uma malha cerrada de
fortificações, com comunicação constante entre praças de vanguarda e reta-
guarda, que deveriam propiciar os abastecimentos. É, pois, neste quadro que
igualmente se deve entender o valor estratégico de Almeida, com a sua coroa
de fortificações articuladas de raiz medieval.
É certo, porém, que a escassez de fontes (gráficas ou documentais) torna
difícil seguir de perto o seu processo construtivo nesta primeira fase, cons-
tituindo o relato exarado, em 1644, por João Salgado de Araújo (Sucessos
militares das armas portuguesas em suas fronteiras) a principal base para
a reconstituição cronológica das fortificações de defesa da porta beirã. Por
ele se sabe que a primeira estrutura seria erguida por determinação de D.
Álvaro de Abranches, governador de armas da província da Beira, provavel-
mente em decurso da sua decisão de estabelecer na povoação o seu quartel-
general: e constaria ela de “quatro ou cinco redutos, metendo dentro della
Igreja, & castello”. Na verdade, tudo indica tratar-se de um simples en-
trincheiramento, rapidamente realizado, com vista à protecção da pequena
povoação (não ultrapassando então as trezentas almas) e dos contingentes
militares, com recurso a materiais locais, como terra e faxinas. Entretanto
e logo em 1642, o novo governador militar, Fernão Teles de Meneses (e
provavelmente no quadro da sua igual instalação em Almeida e da ofensiva
que delineia e redundaria na tomada do castelo de Guardião), determinaria
a construção de um primeiro forte em Vale da Mula, em articulação com os
de Castelo Rodrigo, Pinhel e Alfaiates, sobre cujas rudimentares estruturas
(inter-relacionadas com as fortificações fronteiras castelhanas) se apoiaria
a defesa numa primeira fase. E, do mesmo passo, empreende em Almeida,
em 1642 a execução de uma “fortificação real”, a qual manda “intrincheirar
the first defensive structures would be settled; after that, the intentions that
framed the formation and consolidation process of Portugal, and, on this par-
ticular case, the intention occurring from the framework defined by Treaty of
Alcanizes, of 1927, which definitely integrated this hamlet (together with the
castles of Riba-Côa: Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Castelo
Rodrigo and Monforte) within the territory of the Portuguese Crown - which
thus reinforced its strategic value, but it was also burdened with new respon-
sibilities a proper fortress, originated in contexts of expansion from North to
South, and that now had a new context (with the respective obligations deriv-
ing from a defensive effectiveness’ point of view), by force of the national
incorporation promoted under King Dinis.
This original fortification was the one portrayed by Duarte d’Armas, in the
beginning of the 16th-century: para-quadrangular castle, with a keep and re-
inforced with towers in the corners, where transition from torsion artillery to
gunpowder artillery is illustrated by the building of the second defensive line,
embanked and embrasures. And this military structure, at the end, will en-
dure – greatly changed over the subsequent years, a consequence of the 1696
explosion and of the objective need to eliminate the troubling visibility which
resulted from its original passive system (tall towers and walls) – and against
its definitive destruction, in 1810, during the enormous disaster that, with the
magazine’s explosion, would equally devastate a substantial part of the intra-
walls village, the true responsible factor for the stubborn historical viability
of Almeida’s stronghold. And, from the start, for the role it played during the
Restoration War and other military conflicts that, until the 19th century, would
follow, proving its stance, during the strategic values and punctual inconven-
iences that were caused by successive military strategists, particularly during
the seventeen-hundreds and the eighteen-hundreds.
Effectively, these are the cases of Field Marshal João Alexandre Charmon
who, in 1762, in Memória, written previously on the works to be per-
formed, would highlight the crown of surrounding elevations as an ever
obstructive element of its perfection, and of a 1787 document, published
by Vilhena de Carvalho. Nevertheless, the defence for its sustainability
would be inversely assumed by the 18th-century reporters in 1853 (when
its military use was at stake), who peremptorily states that “this Stronghold
[is] one the strongest of the Kingdom, and quite probably the strongest of
them, because it does not depend on important works to sustain the site
being governed, as had happened in the stronghold of Elvas. This com-
mission further states that although some despise Almeida’s stronghold,
pointing out the flaw of being located beyond river Côa, in relation to the
centre of the Kingdom (...); nevertheless, this commission has the opinion
that the situation of Almeida isn’t as bad as some intend, and this because
Côa doesn’t receive the attention it should.”
In effect and on an intermediate level, Almeida’s virtues, precisely originat-
ing from the situation where it was settled (even in the 18th century, the road
Ciudad Rodrigo-Almeida-Viseu-Coimbra was still a Great alternative to
the axis Almaraz-Badajoz-Elvas, in connecting Lisbon to Madrid), justify
the defence made by Count of Lippe of its strategic relevance on defending
the access to Porto and Coimbra, in 1762, which eventually happened, at
the end, in practise on different military theatres, during the French inva-
sions and even during the following civil war.
Therefore, this natural condition of being the main access route to the entire
province of Beira (and, from it, to the national territory) justifies, at a time,
the precocious fortification of this elevation its stands on and its presence
42
de pedra e barro” e se encontra em execução à data do relato de Araújo —
que escreve: “& sua Magestade a manda agora fortificar de fortificação real
em que dizem se vay obrando, esta hoje inexpugnauel, & o ficara muyto
mais feitos sete reductos que sua Magestade manda”.
Com efeito, o conceito de praça real (ou fortificação real) aludiria, no jargão
dos engenheiros militares da escola francesa, às fortificações de maiores di-
mensões (com reparo mais largo, logo mais longamente resistentes ao fogo
do inimigo). E, em particular, sabe-se que, nesse mesmo ano, incumbiria
D. João IV o engenheiro-mor Charles Lassart de “desenhar e reconhecer as
fortificações de Entre Douro e Minho e Beira”, com essa decisão se articu-
lando o despacho de 28 de Fevereiro de 1643 onde o monarca ordena que,
na sequência da sucessiva projecção das fortificações, ficasse cada obra a
cargo de um oficial que orientasse a sua execução. É neste quadro que o
engenheiro francês Pierre Gilles de Saint-Paul recebe o encargo de assumir
a direcção das fortalezas da Beira, tudo indicando (entre fontes gráficas es-
panholas contemporâneas e o próprio registo de Araújo — nas duas versões
recenseadas) não ter tido avanço a execução da obra antes dos inícios de
1644. Esta arrancaria sob a projecção de Charles Lassard (ou de Saint-Paul)
e com base nos sete redutos referenciados por Araújo, conhecendo-se as
ordens de pagamento a este último até 1646, altura em que é substituído
pelo tenente-general Rodrigo Soares Pantoja — informando fonte tardia
(mas não necessariamente indocumentada) que, nesse ano, o governador
da província conde de Serem ordenaria a activação dos trabalhos, porém
“reduzindo consideravelmente as dimensões do recinto que fora primitiva-
mente” e que “em 1657, D. Rodrigo de Castro, governador do partido de
Almeida, deu grande incremento à fortificação, que ainda desta vez sofreu
profundas modificações no seu traçado e perfil”.
Neste contexto, afigura-se que os primeiros baluartes a serem edificados
terão sido os de São Francisco e São João de Deus (os mais afastados do
castelo), ainda em acordo com o projecto original, que chegaria a ser im-
plantado no terreno, mas com escassa obra de pedraria executada antes da
alteração, por virtude, desde logo, do amplíssimo movimento de terras que
exigiria a sua cabal implantação. Nesse sentido — e também em razão de
ainda se trabalhar na respectiva esplanada em 1762 —as alterações ao pla-
no ter-se-ão concentrado nas faces de noroeste e de poente. Em simultâneo
com a edificação dos baluartes ter-se-á levado a cabo a edificação da porta
magistral da Cruz (ou São Francisco), ostentando a respectiva abóbada a
data média de 1661 — ano em que, informaria o conde de Mesquitela, a
praça se não encontrava ainda cercada de muros, nem dispunha de fosso.
Enquanto isso, uma planta espanhola, datada de 1664, conservada em Si-
mancas, ilustraria, para Almeida (e a par do forte de Vale da Mula, dotado
de quatro baluartes) um reparo abaluartado de cinco pontas, que poderá ser
uma cortina ainda de carácter rudimentar, só consolidada após a construção
do baluarte em falta, em acordo com as orientações doutrinárias vigentes.
Como quer que seja, estas informações consolidarão a noção de não es-
tar ainda completo o muro de defesa em 1664, situação que corrobora a
adjudicação das obras de fortificação, no ano seguinte, aos empreiteiros
António Francisco Maio e Domingos Vaz Heredes, aos quais haveriam de
suceder João Gonçalves e Manuel Fernandes, pertencendo ainda a esta fase
dos trabalhos a conclusão das portas de São Francisco.
Todavia, a celebração da paz com a Espanha em 1668 ditaria o abranda-
mento do ritmo dos trabalhos, a despeito da recuperação do valor estra-
tégico de Almeida no quadro da Guerra da Sucessão de Espanha — e da
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on the course of centuries; and, already within the Restoration framework,
it justifies the spontaneous fortification effort, locally developed and, con-
sequently, the rapid attention given by the Governor of arms of the prov-
ince of Beira, the origin of a systematically process that would be extended
through the 17th and 18th centuries, and, on this bosom (and on its virtue),
the place would transcend men, over generations: even if this resulted, ac-
cording to the immense evolution suffered by the Art of Princes on these
centuries, in a colossal task for who, considering the vicissitudes, had to
take responsibilities for its defence.
Come as it may, the Restoration of 1640 – and the framework it creates – al-
low the hamlet to acquire its categorical strategic value, as an access route
to the Kingdom’s heart, benefiting from an ancient investment in fortifica-
tion, around which the local efforts, rapidly and in an improved fashion, are
concentrated, in the brink of conflict. In fact and against the attention which
was paid, simultaneously, to the reinforcement of Tagus’ bar – defending the
capital – and, in general, to the coast, the great defensive investment would
then be focused on strengthening the large land invasion routes, essentially
composed of the access of Minho (between Valença and Monção), of Trás-
os-Montes (by Chaves’ plain), of Vale do Tejo (through Segura) and of Alen-
tejo (in the Badajoz-Elvas-Estremoz route); apart from Mondego’s valley,
defended by Almeida, which equally opened the access to the capital. The
Beira’s village expresses its relevance within this context, within a frame-
work where Alentejo (with Elvas) would occupy a central role, first because
it clears an easy access to Lisbon and secondly because it was a tenancy of
the House of Braganza. And, in effect, military efforts and warfare material
will immediately be located there in 1641, as well as, immediately, the es-
sential efforts developed during the projections of bulwarked fortifications,
which transformed the Restoration period into the true nucleus of the Por-
tuguese school of military engineering, which was then settled (both in the
Portuguese, as in the Spanish part) in static principles that imposed a close
net of fortifications, with a constant communication between front and rear
strongholds, which should provide for victuals. Therefore and also within this
framework, one must understand Almeida’s strategic values, with its crown
of linked fortifications, with a medieval background.
It is quite true, nevertheless, that the lack of (graphic and documental) sourc-
es makes difficult to closely follow its constructive process during this first
phase, being that the account registered, in 1644, by João Salgado de Araújo
(Sucessos militares das armas portuguesas em suas fronteiras) is the main
basis for the chronological re-enactment of defensive fortifications of the Bei-
ra’s door. Through it one knows that the first structure would be build follow-
ing the order of D. Álvaro de Abranches, governor of arms of the province
of Beira, probably after his decision of establishing his general headquarter
on the hamlet: and it would be made of “four or five redoubts, and, in them,
a Church & Castle”. In truth, everything seems to point to a simple entrench-
ment, quickly built, with the objective of protecting the small hamlet (not
bigger than three hundred souls) and the military contingents, using local
materials, such as soil and wood. Meanwhile and as early as 1642, the new
military governor, Fernão Teles de Meneses (and probably related to his set-
tlement in Almeida and to the offensive that would draw and cause the taking
of Guardião’s castle), would determine the construction of a new first fort in
Vale da Mula, which would be connected to the castles in Castelo Rodrigo,
Pinhel, and Alfaiates, being that the defence would be supported by such
rudimentary structures (inter-connected with the Spanish frontier fortifica-
tions) on a first phase. And, at the same time, he initiates in Almeida, in 1642,
the performance of a “royal fortress”, ordered to be “entrenched of stone and
clay”, which was being executed during Araújo’s account – who writes “And
His Royal Highness now orders the royal fortification of this construction
being built today, to make it invincible and seven other redoubts will be built
according to his Majesty”.
In effect, the concept of royal stronghold (or royal fortification) would be
related to, according to the jargon of military engineers of the French school,
bigger fortifications (with wider gun platforms and, therefore, more resistant
to enemy fire). And, in particular, it is known that, in this same year, King
João IV would order chief engineer Charles Lassart of “drawing and recog-
nizing the fortifications of Entre Douro e Minho and Beira”, being the dis-
patch of 28th February 1643 linked to this decision, in which the monarch
orders that, after the successive projection of fortifications, each work should
be handed to an official who would guide its execution. Within this frame-
work, the French engineer Pierre Gilles of Saint-Paul receives the responsi-
bility of leading the fortresses in Beira, everything pointing to the fact that
(among contemporaneous Spanish graphic sources and Araújo’s account – in
both registered versions) the works only started in early 1644. This would
start under Charles Lassard’s (or of Saint-Paul) projection and based on the
seven redoubt mentioned by Araújo, being that payment orders were issued
on his name until 1646, when he’s replaced by Lieutenant-general Rodrigo
Soares Pantoja – a later (but not necessarily unfounded) source would inform
that, that year, the province’s governor, Conde de Serem, would order the
works’ activation, without “considerably reducing the initial dimensions of
the enclosure” and “in 1657, D. Rodrigo de Castro, governor of the party of
Almeida, was responsible for an intensification of the fortress’ works, which
suffered profound alterations to its layout and profile”.
Within this context, one presumes that the first bulwarks to be built were
São Francisco and São João de Deus (more apart from the castle), still ac-
cording to the original project that would be implemented on site, but with
scarce masonry works performed prior to the alteration, as a consequence,
from the start, of the quite ample movement of land that their perfect im-
plementation demanded. In this sense – and because some works were
still being performed in the esplanade in 1762 – the alterations to the plan
would have been concentrated in the northeast and south sides. Simultane-
ously to the bulwarks’ construction, the edification of the magisterial door
of the Cruz (or São Francisco) was also carried out and its vault shows the
average date of 1661 – the year on which, has the Conde de Mesquitela
informs, the stronghold was still not surrounded by walls or still didn’t have
a ditch. Meanwhile, a Spanish plant, dated back to 1664, kept in Simancas,
would illustrate for Almeida (and also to the fort in Vale da Mula, with four
bulwarks) a bulwarked gun platform with five tips, which could become a
curtain of a rudimentary character, only consolidated after the construction
of the missing bulwark, according to the doctrinal orientations in force.
Come as it may, this information would consolidate the notion that the
defence wall still wasn’t completed by 1664, a situation that corroborates
the contracting, on the following years, of contractors Francisco Maio and
Domingos Vaz Heredes for the fortification works, who would succeed to
João Gonçalves and Manuel Fernandes and this was also the phase for the
conclusion of the works in the doors of São Francisco.
Nevertheless, the celebration of peace with Spain in 1668 would force a
slower rhythm of the works, against the recovery of Almeida’s strategic value
44
decisão do marquês de Minas, em 1705, de promover, a partir da região,
a sua marcha fulminante sobre Madrid. Apesar disso, e após a conclusão
do reparo, avançariam as obras de abertura do fosso e consequente deli-
neamento dos revelins (começando pelos que ficavam diante das portas),
bem como a construção da porta de Santo António (que ostenta as datas de
1674 e 1676). Noutros sectores — como as abobadas das portas da Cruz
e casa da guarda contígua — sabe-se que em 1738 se procedia a reparos
de danos causados ainda na Guerra da Restauração, ao mesmo tempo que
outras intervenções (como o encurvamento do trânsito da porta magistral,
posterior à sua edificação em traçado recto: concluído em 1728) indiciam
decisões alimentadas pela própria evolução da arte da fortificação. Do mes-
mo modo, sabe-se que em 1680 prosseguiam os trabalhos de edificação
dos muros, por isso que se procede então à demolição da capela de Vera
Cruz “para no lugar dela passarem as muralhas” — e, finalmente, um grave
desastre provocaria ainda perturbações aos trabalhos em curso: a grande
explosão no castelo, ocorrida em 1696.
Com o século XVIII, contudo e a reorganização do exército a que se proce-
deria no período posterior à participação portuguesa na Guerra da Sucessão
de Espanha, a qual redundaria na formação de corpos regulares, com as
consequentes necessidades de alojamento, mas sobretudo, no quadro da
decisão estratégica de reforço do sistema defensivo das praças de fronteira,
recupera-se o sentido da intervenção construtiva de fortificação de Almei-
da. O qual, provavelmente, terá produzido localmente alguns efeitos: quan-
to mais não fosse, os que ilustra a produção, em 1736, da Planta da Praça
de Almeida, com as obras interiores, e exteriores addicionais, e deliniadas
pelo Engenh.ro Mor do Reino Manoel de Azevedo Fortes, cujo título indica
a atitude pró-activa que presidia a essa nova atenção, por modo algum re-
flectiva da mera execução dos projectos delineados quase um século atrás.
Ao invés, todo um conjunto de obras se programa, destinadas a melhorar
o sistema defensivo, introduzindo, nomeadamente, as casernas à prova de
bomba: mesmo que, pela maior parte, o plano não tivesse real execução —
mas radicam nele a construção de aquartelamentos e, em particular, a do
paiol do castelo, que haveria de ditar, mais tarde, a sua total destruição.
Em todo o caso, em 1746 e 1747 registam-se novas expropriações, que
parecem documentar a continuidade das obras de implantação da fortaleza,
enquanto, poucos anos volvidos, o terramoto de 1755 haveria de provocar
fendas nos muros exteriores (denunciando a sua deficiente construção),
além de arruinar os quartéis de infantaria. Assim e até 1762 prosseguirá o
movimento de terras em torno ao fosso, para a organização dos revelins e
esplanada, bem como a execução dos revestimentos das escarpas em can-
taria — enquanto, em paralelo, se executam as obras de urbanização da
praça e as construções de apoio militar. Sabe-se, com efeito, que nesse ano
já a fortaleza ostentaria a sua forma completa, ainda que prosseguissem os
trabalhos de conclusão, dirigindo os trabalhos, durante curtos meses, Jean-
Alexandre de Charmont: não sem notar à praça algumas imperfeições, que
procuraria corrigir com obras complementares, que vivamente recomenda
ao seu sucessor, António Carlos Andreis, capitão de engenharia — mas
que não seriam consensualmente aceites pelos engenheiros militares que se
sucederiam, num quadro a que a pressão do conflito aberto com o vizinho
espanhol imprimia uma indeclinável urgência.
Assim, em Junho de 1762 começariam a ser cobertas as casamatas do balu-
arte de São João de Deus, ao mesmo tempo que ia sendo aberta uma poterna,
já funcionando a do arsenal no mês de Agosto. E sabe-se, por um relatório
45
in the context of the War of the Spanish Succession – and also against the
decision of the Marquês de Minas, in 1705, to promote, from this region, his
striking march on Madrid. In spite of this, and after the conclusion of the gun
platform, the works for the opening of the ditch and consequent design of the
ravelins (beginning with those that stood in front of the doors), as well as the
construction of the door of Santo António (which bears the dates of 1674 and
1676). In other sectors – such as the vaults of the doors of the Cruz and the
continuous Guard’s House – one knows that, in 1738, some damages done
during the Restoration War were being repaired, while other interventions
(such as the bowing of the transit of the magisterial door, which was posterior
to its construction with a straight layout: concluded in 1728) indicate some
decisions springing from the evolution of the art of fortification. In the same
manner, one knows that, in 1680, the walls’ construction works were being
performed and, therefore, the chapel of Vera Cruz is then demolished “for the
walls to pass in its site” – and, finally, a grave disaster would further disturb
the works in progress: the great explosion in the castle, in 1696.
With the 18th century, nevertheless, and with the reorganization of the army,
carried out after the Portuguese participation on the War of the Spanish
Succession, which would be concluded in the formation of regular bodies,
with the consequent need for lodging facilities, but mainly within the con-
text of the strategic decision of reinforcing the defensive system of frontier
strongholds, the sense of the constructive intervention of Almeida’s fortifi-
cation was recovered. Which, probably, produced some effects on a local
level: if not more, at least the ones illustrated, in 1736, in the production
of Planta da Praça de Almeida, com as obras interiores, e exteriores ad-
dicionais, e deliniadas pelo Engenh.ro Mor do Reino Manoel de Azevedo
Fortes (“Plant of Almeida’s Stronghold, with interior works and exter-
nal additional works, stated by the Kingdom’s Chief engineer Manoel de
Azevedo Fortes”), the title of which indicated the pro-active attitude pre-
siding over this new attention, which in any way is a reflection of the mere
execution of the plans designed almost a century ago. Instead, an entire set
of works is programmed, meant to improve the defensive system, introduc-
ing, particularly, bomb-proof caserns: even if, for the most part, the plan
wasn’t fully executed – but in it dwells the construction of cantonments
and, in particular, the construction of the castle’s magazine, which would
later be the cause for its total destruction.
Anyway, in 1746 and 1747, new expropriations took place, which seem to
document the continuity of the works of the fortress’ implementation, while,
some years later, the 1755 earthquake would cause cracks on the external
walls (which denounces its poor construction), besides also ruining the in-
fantry barracks. Like so and until 1762, the land movements around the ditch
will continue, towards the organization of the ravelins and of the esplanade, as
well as the execution of the brickwork escarpments’ coating – while, simul-
taneously, some works are performed for the stronghold’s urbanization and
for the construction of military facilities. In fact, it is well known that, during
the year in question, the fortress already had its complete shape, even if some
conclusion works were still in progress, led by Jean-Alexandre de Charmont,
over a few months, without, nevertheless, pointing out some imperfections
to the stronghold, that he tried to correct with later complementary works,
strongly recommended by his follower, António Carlos Andreis, Captain of
engineering – which would not be consensual among the following military
engineers, within a context where the pressure of open conflict with the Span-
ish neighbour would print a indeclinable urgency.
elaborado em 1790, que as poternas originais dos baluartes de São Pedro e
São Francisco seriam “feitas de abobeda”, sendo abertas mais duas durante
o cerco de 1762, mas “feitas em madeira e abertas em forma de galeria”, por
isso que a “brevidade com q se precizavão feitas não permitia a fazer-se em
cantaria”. No período que se segue até ao final do século XVIII e restabele-
cida a paz, diversas vistorias e intervenções seriam levadas a cabo, seja para
reparação dos danos causados pelo assédio, seja com vista a introdução de
melhorias, numa praça que parecia resistir à perfeição. E data desse período
uma intensa produção iconográfica, ilustrada em plantas que documentam as
destruições mas onde, de igual modo, por primeira vez se presta uma eficaz
atenção aos aspectos mais estritamente ligados ao urbanismo — isto é, onde
a vila emerge com personalidade própria, dotada dos seus edifícios emblemá-
ticos, no contexto de uma produção icónica até aí centrada na fortificação.
Assim, nova campanha de obras se empreende entre Julho de 1764 e Outu-
bro de 1765, sob a orientação do governador da praça Francisco Maclean,
centrada na reparação dos estragos da guerra, mas de que emergiria a porta
magistral da Cruz (que “se reedificou de novo de boa cantaria lavrada, segun-
do a ordem da Architetura que tinha, que he à Toscano”), alem da reconstru-
ção dos edifícios militares: quartéis, cavalariça, trem e armazéns de munições
e pólvora do castelo. Em Janeiro de 1766, porém, Francisco Maclean ende-
reçaria a D. José I, por intermédio do conde de Oeiras, uma exposição sobre
a necessidade de mais obras, a que o monarca daria o seu acordo: tratava-se
da reedificação do hospital real e da vedoria (destinada a casa do governa-
dor), da construção de latrinas para o exército e da conversão em quartel da
convento das freiras, entretanto desactivado. E a seu pedido, seriam enviados
para Almeida Jacques Funck, coronel de engenharia e Miguel Luís Jacob,
sargento-mor de infantaria, respectivamente para elaborar um plano que eli-
minasse os defeitos da praça e para dirigir as correspondentes intervenções.
É do Plano Geral das Obras Adicionais Necessárias à Defesa da Praça
de Almeida, então elaborado, que data a opção estratégica por obras “fei-
tas de terra apenas”, além de outras intervenções, como a urgente con-
clusão das casamatas, que desde 62 se conservavam incompletas, a cons-
trução de uma caserna capaz de albergar seiscentos homens e, em geral,
obras de índole higienista e sanitária, como o hospital e a latrina. O ritmo
de execução do plano, todavia, parece ter sido lento, documentando-se,
porém, uma avultada mão-de-obra empregue consecutivamente nos anos
de 1776 a 1787. Um novo documento, todavia, parece ilustrar uma nova
fase de trabalhos: trata-se do Estracto de apontamentos sobre o estado
actual desta fortificação, dos Reparos e Obras novas de q. necessita, fei-
to por Ordem do Ill.mo e Exmo S.nr Conde de Oeynhausen, Marechal de
Campo dos Exércitos de Sua Mag.de e encarregado da Inspecção das
Tropas, e Fortificações das Províncias do Norte, datado de 3 de Março
de 1790 e assinado por Anastácio António de Sousa Miranda, sargento-
mor engenheiro, que então dirigia as obras e no lugar se conservaria até à
conquista da praça pelo exército de Massena, em 1810.
Documenta ele a continuidade da insistência em obras de reparo de estra-
gos, de correcção das imperfeições e de acomodação da guarnição, além
das preocupações higienistas que são um dos traços mais impressivos da
cultura contemporânea. De novo, propunha-se a construção de uma prisão
(em substituição da existente), de novos quartéis e de um edifício para o
corpo da guarda principal. E deste afã resultaria o milésimo de 1790 inscri-
to na porta do revelim da Cruz, do mesmo passo que se atesta a invasão das
estruturas militares (inactivas) pela prática da agricultura por parte dos ha-
Thus, on June 1762, the bunkers of São João de Deus’ bulwark started to be
covered, while a postern began to be opened, being that the arsenal’s one was
already in function on August. And it is known that, according to a report
written in 1790, that the original posterns of São Pedro and São Francisco’s
bulwarks would be “made of vaults”, while two other posterns were opened
during the 1762 siege, but “made of wood and opened in such a way as to
resemble a gallery” and, therefore “the urgency of their construction didn’t
allow for the construction in ashlars masonry”. During the period following
until the 18th century, and after peace had been resettled, several inspections
and interventions were carried out, regarding the repair of damages caused
by harassment or regarding improvement works, in a stronghold hat seemed
to resist perfection. And that period creates an intense iconographical produc-
tion, illustrated in plans documenting the destructions but where, equally and
for the first time, a close attention is paid to aspects more strictly related to
urbanism – that is, where the village is granted a personality of its own, gifted
with symbolic buildings, within the context of an iconic production that, so
far, had been focused on fortification.
Thus, a new works campaign is begun between July 1764 and October
1765, under the guidance of the Stronghold’s Governor, Francisco Ma-
clean, focused on the repair of war damages, but producing the Cruz’ mag-
isterial door (that was “built once again in a good embroidered ashlars ma-
sonry, according to the Architecture’s order it had, which was the Tuscan
one”), apart from reconstructing some military buildings: barracks, stable,
train and gunpowder and arsenal magazines of the castle. On January 1766,
nevertheless, Francisco Maclean would send to King José I, using Conde
de Oeiras as an intermediary, a bill on the need for more works, to which
the monarch would acquiesce: this dealt with the reconstruction of the royal
hospital and of the Controller General’s House (meant to become the Gov-
ernor’s House), the construction of latrines for the army and the reconver-
sion of the barracks into a nuns’ convent, which meanwhile became extinct.
And, upon his request, Jacques Funck, colonel of engineering, and Miguel
Luís Jacob, chief sergeant of infantry, would be sent to Almeida, in order
to, respectively, elaborate a plan that could eliminate the stronghold’s flaws
and to direct the corresponding interventions.
From the Plano Geral das Obras Adicionais Necessárias à Defesa da Praça
de Almeida (“General Plan for the Necessary Additional Works for the De-
fence of Almeida’s Stronghold”), elaborated at the time, came the strategic
option for works “performed only with earth”, apart from other interventions,
such as the urgent conclusion of the bunkers, unfinished since 62, the con-
struction of a casern able to lodge six hundred men and, in general, hygiene
and sanitation related works, such as the hospital or the latrine. Notwithstand-
ing, the rhythm of plan execution seemed to be slow, being, nevertheless,
documented the use of large quantities of manpower during 1776 and 1787.
A new document, however, seems to illustrate a new phase of works: this is
the Estracto de apontamentos sobre o estado actual desta fortificação, dos
Reparos e Obras novas de q. necessita, feito por Ordem do Ill.mo e Exmo
S.nr Conde de Oeynhausen, Marechal de Campo dos Exércitos de Sua Mag.
de
e encarregado da Inspecção das Tropas, e Fortificações das Províncias
do Norte (“Notes extract on the current state of this fortification, of the new
Repairs and Works it needs, performed under the Order of the Honourable
and Illustrious Conde de Oeynhausen, Field Marshal of the armies of His
Majesty and in charge of the Supervision of Troops and Fortification in the
Northern Provinces”), with the date of 3rd March 1790 and signed by Anastá-
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bitantes e mesmo de uma pressão urbana que contaminava (e comprometia)
as suas defesas. Enquanto isso e ainda que com intermitências (provocadas
por questões administrativas e meteorológicas) as obras prosseguiriam pelo
decurso da década, sempre com o objectivo de pôr a praça mais defensável.
Mas é certo que, em 1801, em previsão de novo conflito, as fontes indicam
que o governador da vila, o marechal de campo Gustavo Adolfo Hércules
de Chermont, “tomou providências para acelerar a execução do comple-
mento do plano já anteriormente apresentado em 1795 e 1796”, insistindo
na conclusão das obras nele delineadas.
A guerra chegaria, com efeito, escassos anos mais tarde e, com ela, a
mais violenta destruição sofrida pelas fortificações da praça: a explo-
são do castelo, em 26 de Agosto de 1810, determinada pelo ocupante
francês, agravada pela acção devastadora das minas colocadas durante
a retirada — e os reflexos na povoação não seriam menores pois, segun-
do o levantamento dos estragos então efectuado, “de 718 moradas de
Cazas, comprehendidas antigamente no Recinto desta Praça, so existem
180 habitaveis”. A ruína, na verdade, atingiria igualmente a fortificação
moderna, com ampla destruição entre os baluartes de São Francisco e
Santo António, bem como noutros pontos, produzindo estragos avulsos
por todo o conjunto. Neste contexto e ante o receio de novo assédio,
empreendem-se rápidos projectos de reabilitação, a cargo do coronel
Pedro Folque, executados de modo sumário, a partir do ano de 1812,
ante a pressão do tempo e a escassez de mão-se-obra disponível, obras
essas cuja suspensão ditaria o termo da guerra com França, em 1814.
E datam do ano imediato as primeiras ideias concretas de suspensão da
praça (com o seu desmantelamento e remoção da respectiva artilharia),
enquadradas em proposta do ministro da guerra, o inglês Beresford.
Doravante e apesar da não consumação do ditame, as intervenções dos en-
genheiros militares reduzir-se-ão a intervenções de manutenção e reparo, já
sem a chama da perpétua reelaboração do plano (e consequente exercício
reflexivo) que havia alimentado as intervenções do último século e meio: e
os trabalhos empreendidos em 1816 seriam mesmo interrompidos, no ano
imediato, por instruções de Beresford, que, voltando ao seu projecto, deter-
minava se minasse a fortificação: tarefa esse que, a despeito da resistência
do governador da praça, chegaria a ter começo de implementação. Os re-
latórios conhecidos, porém, atestam uma geral degradação das estruturas,
que a guerra tinha violentamente maltratado, do mesmo passo que data de
1819 a demolição final do que restava da muralha do velho castelo. Assim,
em 1824, os trabalhos de uma comissão nomeada com o fito de “examinar,
e propor que Praças deverão ser abandonadas, e quaes conservadas”, desa-
bonava sobre a eficácia da fortaleza real de Almeida. Apesar disso, era-lhe
outorgada a função (e o estatuto menor) de “posto forte de campanha”, que
justificaria, pelo menos, a suspenseo da sentença antes lavrada e daria azo
a nova continuidade de reparações, apoiadas nas novas funções cometidas
a Almeida de depósito geral de munições da província da Beira. E tal justi-
ficaria o papel que viria a desempenhar no decurso da guerra civil, último
episódio da sua história militar.
No seu seguimento, com efeito e também por virtude das convulsões inter-
nas que marcariam o advento da Monarquia Constitucional, somente em
1853 a atenção das chefias voltaria a pousar sobre a praça de Almeida, no
quadro dos trabalhos da comissão acima referida, destinada a indagar da
viabilidade técnica das suas fortificações e de que resultaria o surpreenden-
te veredicto de ser “esta Praça como uma das mais fortes do Reino, e talvez
47
cio António de Sousa Miranda, chief sergeant in engineering, who was then
in charge of the works and who would endure on site until the stronghold
was conquered by Massena’s army, in 1810. He documented the continuity
in insisting in damage repair works, in correcting imperfections and in estab-
lishing the garrison, apart from the concerns with hygiene, which is one of the
most impressive traits of contemporary culture. Again, the construction of a
prison was proposed (substituting the existing structure), of new barracks and
of a building for the regiment of the main guard. And this hustle and bustle
would result on the date of 1790, engraved on the door of Cruz’ ravelin, while
one can witness the invasion of (inactive) military structures by farming ac-
tivities, performed by locals, and even an urban pressure which contaminated
(and compromised) its defence. Meanwhile and even if with intermittencies
(caused by administrative or weather issues), the works continued through
the decade, always with the intention of making the stronghold more defend-
able. But it is quite true that, in 1801, for fear of a new conflict, the sources in-
dicate that the village’s governor, Field Marshal Gustavo Adolfo Hércules de
Chermont, “made some provisions to accelerate the execution of the plan’s
complement, previously presented in 1795 and 1796”, insisting on the con-
clusions of the works presented.
The war would effectively come, only a few years later and, along with
it, the most violent destruction ever suffered by the stronghold’s for-
tifications: the castle’s explosion, in 26th August 1810, determined by
the French occupier, aggravated by the devastating action of the mines
places during the retreat – and the reflections on the hamlet wouldn’t
be any smaller because, according to a survey on the damages made
at the time, “of 718 buildings of Houses, previously encompassed in
the Stronghold’s Enclosure, only 180 are habitable.” The ruin, in fact,
would also smite the modern fortification, being amply destructed be-
tween the bulwarks of São Francisco and Santo António, as well as in
other points, producing random damage in the entire set. In this context
and facing the fear of a new harassment, quick rehabilitation projects
are started, the responsibility of Pedro Folque, performed swiftly, from
1812 on, in front of time pressure and the lack of available labour; these
works would later be suspended upon the end of the war with France, in
1814. And the first concrete ideas to suspend the stronghold appear the
next year (with its dismantling and removal of artillery), framed by the
proposal of the Minister of War, Beresford, who was English.

a mais forte dellas, por não depender de obras destacadas para sustentar um
sítio em regra”. Em consequência do que, no ano imediato seria recomen-
dadas reparações várias, tanto nos muros e portas como nos edifícios da lo-
gística militar, do mesmo paço que chega a defender-se a construção de um
novo quartel de infantaria e de um paiol, protegendo as serventias militares,
com restabelecimento das antigas esplanadas e demolição dos avanços ur-
banos e de ocupação rural entretanto ocorridos contra os muros.
Neste contexto, em 1888 a fortaleza real de Almeida recuperaria a cate-
goria de praça de guerra de primeira classe — mas por breve tempo. Com
o virar do século e em resultado de novas vistorias, seria finalmente con-
sumada a sua desclassificação. Dela, todavia, emergiria um olhar novo
sobre o complexo fortificado da antiga porta central do Reino, que redun-
daria nas classificações oficiais de Monumento Nacional, atribuídas em
1928 e 1938, num quadro ideológico que justamente valorizava agora,
mais que a sua valia no plano estritamente operacional, a sua história lon-
ga, de defesa militar e o seu valor semiótico e representativo, enquanto
marco da nacionalidade, cujo duplo centenário em breve se comenmora-
ria. E delas emergiriam trabalhos de reabilitação e valorização que, com
espíritos diversos, se prolongariam até aos dias de hoje.
Na verdade, Almeida vale pelo seu conjunto militar e urbano: sendo desta
cumplicidade que nasce uma das peças mais notáveis e melhor preservadas
do património nacional. Infelizmente mal documentadas, as obras de fortifi-
cação da vila que hoje subsistem — as que decorreriam do ciclo empreendi-
do com a Restauração (após a destruição do castelo, de que restam, todavia,
importantes vestígios arqueológicos) — terão começado por 1643, com o
lançamento do programa da fortaleza real, dinamizado com a chegada de
Pierre Gilles de Saint-Paul, depois substituído por Rodrigo Soares de Pantoja.
É certo que a reconstituição viável do processo de edificação atesta que
o traçado completo que hoje é possível contemplar, longamente adiado,
apenas seria concluído a partir de 1736, no quadro do amplo programa
de melhoramento das fortificações nacionais então dinamizado (no âmbito
de um processo, mais vasto, de reformulação das estruturas militares), em
cujo epicentro avulta a reflexão realizada por Manuel de Azevedo Fortes
From now on and although the command wasn’t fulfilled, the interventions
performed by military engineers would be reduced to maintenance and repair
interventions, already without the flame of the perpetual plan reformulation
(and consequent reasoning exercise), which had fed interventions for the last
century and a half: and the works started on 1816 would be interrupted once
again on the following year, by Beresford’s order, who, returning to his initial
project, called for the mining of the fortification; this task, against the strong-
hold governor’s resistance, would be actually initiated. The known reports,
nevertheless, attest a general decay in structures, which had been violently
mistreated by war and, in 1819, the final demolition of the remains of the old
castle’s wall took place. Thus, in 1824, the works of a commission appointed
to “examine and propose Strongholds that should be abandoned and almost
preserved” downgraded the effectiveness of the royal fortress of Almeida.
Notwithstanding, it was given the function (and lesser statute) of “campaign
strong post”, which would at least justify the suspension of the sentence pre-
viously given and which would allow for a new continuity in repairs, sup-
ported in the new functions given to Almeida as a general ammunition de-
posit for Beira’s province. And such would come to justify the role it would
play during the civil war, the last episode of its military history.
Following this, in effect and also for the internal convulsions that would
mark the coming of a Constitutional Monarchy, only in 1853 the attention
of the headships would once again be drawn to Almeida, within the context
of the works of the previously mentioned commission, destined to question
the technical viability of fortifications and which would result in the sur-
prising verdict that “this Stronghold [is] one the strongest of the Kingdom,
and quite probably the strongest of them, because it does not depend on
important works to sustain the site being governed”. In consequence of this
fact, several repairs would be recommended during the following year, on
the walls and doors and on buildings of military facilities, by the same pal-
ace that actually defends the construction of new barracks for the infantry
and a magazine, protecting military services, with the reestablishment of
the ancient esplanades and the demolition of urban advances and of rural
occupations that, in the meantime, had happened against the walls.
Within this context, in 1888, the royal fortress of Almeida would recover the
category of first class stronghold – but only for brief moments. With the turn
of the century and as a consequence of new inspections, it would be finally
declassified. With it, nevertheless, would come a new look on the fortified
complex of the ancient kingdom’s central door, which would culminate in the
official classifications as National Monument, attributed in 1928 and 1938,
within an ideological framework that now appreciated, more than the strictly
operational plan, its long history of military defence and its semiotic and rep-
resentative value, as landmark of nationality, which would soon celebrated its
double centennial. And for them, rehabilitation and appreciation works came
forward that, with different spirits, would endure until today.
In truth, Almeida is worth for its military and urban set: being that this
complicity is born from one of the most remarkable and well preserved
pieces of national heritage. Although poorly documented, the village’s
fortification works endured until today – the works occurring during the
Restoration cycle (after the castle’s destruction, of which, notwithstand-
ing, some archaeological vestiges can still be found) would have started
around 1643, with the launching of the programmed of the royal fortress,
made more lively with the arrival of Pierre Gilles of Saint-Paul, who was
later replaced by Rodrigo Soares de Pantoja.
48
e pelos engenheiros militares que o rodeavam, como Miguel Luís Jacob a
Anastácio António de Sousa Miranda. Porém, a despeito de inúmeras ten-
tativas — em fim de contas, contudo, sempre menores — de correcção das
suas decantadas imperfeições (em especial e além das edificações de logís-
tica já setecentistas, o encurvamento dos trânsitos das portas magistrais)
e em boa parte decorrentes da rápida evolução de conceitos e escolas que
ressente a Arte dos Príncipes no decurso dos séculos XVII e XVIII, parece
ser claramente a base seiscentista a sustentá-las, no essencial, no século que
se seguiria, prosseguindo, a despeito das correcções pontuais, a execução
do plano traçado nos anos críticos da Restauração.
Com efeito, são as orientações da escola francesa, codificadas no recente
tratado de Antoine Deville (1596-1657), que se consagram no próprio con-
ceito de fortaleza real, numa opção clara pela bondade do traçado regular
(perfeito) — aliás de modo algum incontroversa na teorética da especiali-
dade —, expresso num hexágono quase absoluto, donde emergem os seus
seis baluartes: Santo António, São Pedro, São Francisco (ou da Cruz), São
João de Deus, Santa Bárbara e Senhora das Brotas, intercalados de outros
tantos revelins correspondentes às cortinas intermédias. Como são elas que
emergem no traçado dos quatro portais de acesso à vila, na sua exibição
exemplar de uma severidade clássica de base igualmente francesa (a des-
peito do original toque fantasista fornecido pelas guaritas aprumadas sobre
o eixo) que era então, objectivamente, uma novidade em Portugal, nesse
limbo cultural (e estético) que se estabelecera entre o Maneirismo e um
Barroco que haveria de seguir outros caminhos: e onde já foi reivindicado
para a Porta de São Francisco (1646-1661), com claras afinidades com a
fachada da igreja parisiense de Saint-Gervais (Salomon de Brosse, 1616),
“um lugar de charneira na história da arte portuguesa” (Rafael Moreira).
E em todo o traçado (e seria essa, aliás, opção controvertida na teorética da
especialidade), se promove uma ostensiva e barroca exibição de cantaria,
destinada a sublinhar o carácter régio da fortificação — com especial apa-
rato nas duas portas magistrais, de Santo António e São Francisco (Cruz),
de dupla face, como a regra mandava — que contribui poderosamente para
o carácter exemplar que detém do ponto de vista estético e cultural, fazendo
de Almeida, incontroversamente, a praça-forte de maior originalidade no
contexto da arquitectura militar seiscentista portuguesa e a mais emblemá-
tica do ponto de vista do respectivo capítulo do Barroco.
De facto, sede do quartel-general do governador de armas da província da
Beira e chegando, no século XVIII, a albergar três mil soldados, Almeida
converter-se-ia, com a estrela de seis pontas que a cingia e o seu poderosís-
simo aparato militar, provido de mais de cem bocas de fogo — e uma vez
concluído o seu plano com as obras dinamizadas por Miguel Luís Jacob
no contexto bélico de 1762 —, na primeira praça-forte de Portugal: num
investimento consolidado na sua fortificação que denunciará a controvérsia
longamente alimentada sobre a sua perfeição, mas que explica o peremp-
tório veredicto da comissão oitocentista encarregue da sua avaliação. Nela
se reflecte, com efeito, de forma paradigmática, a prestigiosa tradição por-
tuguesa do cultivo da Arte dos Príncipes, consolidada desde o ensino áuli-
co do século XVI e alimentada, no declinar da centúria, pela chegada dos
engenheiros militares de origem italiana e que, já na viragem para o novo
século, produzira obras como a Doctrina Militar, de Bartolomé Scarion
de Pavia (Lisboa, 1598), a Arte Militar, de Luís Mendes de Vasconcelos
(Alenquer, 1612) ou o Abecedário Militar, de João Brito de Lemos (Lis-
boa, 1633) e se projectava nos magistérios dos jesuítas, respectivamente
49
It is quite certain that the viable reconstitution of the building proc-
ess attests that the complete today (which can be contemplated today),
largely postponed, would only have been concluded from 1736 onwards,
within the ample programme of enhancement of national fortifications
(within an even broader scope of reforming military structures) and this
epicentre motivates the reflection performed by Manuel de Azevedo
Fortes and the military engineers around him, such Miguel Luís Jacob
and Anastácio António de Sousa Miranda. Nevertheless, against numer-
ous attempts – always minor, at the end of the day – to correct its cel-
ebrated imperfections (particularly and beyond the 18th century logistic
construction, the curving of the magisterial doors’ transits) and, for the
most part, coming from the rapid evolution in concepts and schools
within the scope of the Arte dos Príncipes during the 17th and 18th centu-
ry, the17th century basis seems to clearly sustain it, in what is essential,
during the following century, being that, despite occasional correction,
the plan drawn during the critical years of the Restoration went forth.
In effect, these are the guidelines of the French School, coded on Antoine
Deville’s recent treaty (1596-1657), which are consecrated in the concept
of royal fortress in a clear option for the kindness of the (perfect) regular
layout – indeed quite controversial in the speciality’s theory –, expressed in
an almost absolute hexagon, from where the six bulwarks are born: Santo
António, São Pedro, São Francisco (or of the Cruz), São João de Deus, Santa
Bárbara and Senhora das Brotas, intertwined with same number of ravelins,
corresponding to the middle curtains. With them comes the layout of the four
access doors to the village, in their exemplar display of a classical sever-
ity of an equally French basis (against the original fanciful touch given by
the plumbed bartizans over the axis) which was, at the time, a novelty in
Portugal, on that cultural (and aesthetical) limbo established between a Man-
nerism and a Baroque that would follow other paths: and which was already
attribiuted to São Francisco’s Door (1646-1661), with striking similarities
with Saint-Gervais’ church façade, in Paris (Salomon de Brosse, 1616), “a
true turning point of Portuguese history of art” (Rafael Moreira).
And throughout the entire design (and this would, in fact, be a contested op-
tion on the theory of this specialty) there is an ostensive and Baroque exhibi-
tion of ashlar masonry, meant to underlined the royal character of the fortifi-
cation – with special force for both magisterial doors, of Santo António and
São Francisco (Cruz), double-faced, according to the rules – which powerful-
ly contribute towards the exemplar character it holds from an aesthetical and
cultural point of view, transforming Almeida undoubtedly into the stronghold
with the greatest originality of 17th century Portuguese military architecture
and the most emblematic from the respective Baroque point of view.
In fact, being the main location for the general barracks of Beira’s province
Governor of Arms and, during the 18th century, serving as the home for
3,000 thousand soldiers, Almeida would be converted, with the six-pointed
stars that limited it and its mighty military apparatus, with more than 100
gun platforms – and upon completion of the plan with the works material-
izes by Miguel Luís Jacob within the war context of 1762 -, on the first Por-
tuguese stronghold: in an investment consolidated in its fortification that
will denounce the avidly fed controversy on its perfection, which explains,
nevertheless, the strong verdict by the 19th century commission in charge of
its assessment. In it, in effect and paradigmatically, it is reflected the pres-
tigious Portuguese tradition in cultivating the Arte dos Príncipes, consoli-
dated since the 16th century aulic teaching and fed, at the end of the century,
flamengo e italiano, João Cosmander e Simão Falónio, na aula da Esfera
ou Astronomia do Colégio de Santo Antão, sendo o primeiro responsável
directo por obras de fortificação logo no ciclo pós-Restauração (Oeiras,
Paço de Arcos, Santiago de Sesimbra).
Com a Restauração, porém e beneficiando do apoio imediato de Richelieu
à revolta portuguesa, assiste-se a uma imediata reorientação francófila da
engenharia militar portuguesa — no momento em que a própria França as-
sume a sua própria liderança teórica, que justificaria a designação populari-
zada de fortificações à Vauban —, explicando por essa via a importação de
levas sucessivas de engenheiros militares gauleses, oriundos do corpo dos
ingénieurs du Roy, que ultrapassaria a centena, do mesmo passo que a Arte
dos Príncipes ocupava a formação da elite nobiliárquico-política de então
(de que seriam exemplos os embaixadores portugueses em Versailles, D.
Francisco de Melo e conde da Vidigueira) ou que, muito sintomaticamente,
Manuel Fernandes de Vila Real editava em Paris, em 1649, a sua Architec-
tura militar ó fortificación moderna, aliás tradução da obra do padre Geor-
ges Fournier. É neste contexto que se enquadra a vinda (com a armada do
marquês de Brézé), em 1641, de Charles Lassart, no ano seguinte elevado
a engenheiro-mor e de uma plêiade de jovens engenheiros militares, onde
se inseriria Pierre Gilles de St. Paul — e é nesse quadro que merece reparo
a edição em Paris (1671) da obra Les Travaux de Mars, de Alain Manesson
Mallet, engenheiro com rápida passagem lusitana (1666) mas cuja deta-
lhada descrição (escrita e icónica) das novas fortificações levantadas em
Portugal (cuja autoria reivindica) exemplarmente reflecte o interesse que
suscitavam do ponto de vista da cultura da guerra europeia desse período.
by the arrival of Italian military engineers who, at the turn of the new cen-
tury, would write works such as Doctrina Militar, by Bartolomé Scarion
de Pavia (Lisbon, 1598), Arte Militar, by Luís Mendes de Vasconcelos
(Alenquer, 1612) or Abecedário Militar, by João Brito de Lemos (Lisbon,
1633) and that was projected on the classes given by Flemish and Italian
Jesuits João Cosmander and Simão Falónio, named Sphere or Astronomy
of Colégio de Santo Antão, being that the first was the direct responsible
behind the fortification works immediately after the Post-Restoration Cycle
(Oeiras, Paço de Arcos, Santiago de Sesimbra).
With the Restoration, nevertheless and benefiting from Richelieu’s immedi-
ate support to the Portuguese rebellion, there is an immediate French-orient-
ed reorientation of Portuguese military engineer – in the moment that France
assumes a theoretical leadership, which would justify the popular name of
Vauban fortifications – thus explaining the import of successive takes of
French military engineers, coming from the ingénieurs du Roy, more than
one hundred, while the Arte dos Príncipes would occupy the formation of the
political-noble elite of that time (the Portuguese ambassadors in Versailles,
D. Francisco de Melo and Conde da Vidigueira were true examples of that
elite) or that, very adequately, Manuel Fernandes de Vila Real edited in Paris,
in 1649, his Architectura militar ó fortificación moderna, in fact a translation
of the works by the priest Georges Fournier. Within this context, one is able
to frame the arrival (with Marquis Brézé’s armada), in 1641, of Charles Las-
sart, promoted, on the following year, to Chief Enginner and of a group of
young military engineers, where Pierre Gilles of St. Paul is included – and
within this context, one should comment on the edition, in Paris (1671) of Les
50
Ao trabalho destes, porém — na verdade, mercenários, oferecendo os seus
serviços no mercado bélico de então — corresponderia o desenvolvimento
de uma escola portuguesa de fortificação, assente na criação por D. João
IV, em 1647, da Aula de Fortificação e Arquitectura Militar, regida durante
mais de três décadas por Luís Serrão Pimentel e que haveria de converter-
se, no decurso do século e meio imediato, no centro propulsor de toda a
teoria e prática da arquitectura militar em todo o espaço português, conden-
sada pelo seu próprio mentor na sua obra Método Lusitânico de desenhar
as fortificações das praças regulares e irregulares (Lisboa, 1680) e res-
ponsável, nas suas próprias palavras por criar “discípulos scientes na na-
vegação e desenhar das fortificações” e, no decurso dos anos, “deitando da
aula engenheiros que hoje estão servindo com satisfação na Beira, Minho,
Alentejo, Setúbal, Peniche e nesta cidade”. E daqui emergiria um esforço
de reflexão autónomo em relação às matrizes teóricas internacionais (com
rápida incorporação de outros contributos, nomeadamente holandeses e
alemães), que justifica a própria designação de método lusitânico: e que,
com a sua difusão pelo espaço imperial (e as repercussões que detém no
plano da própria projecção urbanística), em particular no século seguinte
(com a própria multiplicação de aulas de fortificação, seja no Reino, seja
no Brasil), haveria de repercutir-se — tanto no plano técnico como no es-
tético — na criação de uma verdadeira escola portuguesa de arquitectura
militar, cuja importância central no século XVIII exemplificam paradigma-
ticamente as figuras dos engenheiros-mores Manuel de Azevedo Fortes e
Manuel da Maia: o primeiro justamente autor de um tratado em dois volu-
mes intitulado O Engenheiro Português, (Lisboa, 1728-1729); o segundo
51
Travaux de Mars, by Alain Manesson Mallet, who stayed in Portugal for a
brief period (1666) but whose detailed (written and image) description of the
new fortifications built in Portugal (he claims to be the author behind them),
exemplarily reflects the interest that they had from the cultural point of view
of the European War of that period.
To these works, nevertheless, – in truth, mercenaries to offered their serv-
ices to the war market at that time – a development of a Portuguese fortifi-
cation school would correspond, based on the creation, by King D. João IV,
in 1647, of the Class in Fortification and Military Architecture, directed for
more than three decades by Luís Serrão Pimentel and that would become,
during the next century and a half, the true propelling centre for the theoty
and practice of military architecture I Portugal, condensed by its own mas-
ter on Método Lusitânico de desenhar as fortificações das praças regulares
e irregulares (Lisbon, 1680) and responsible for, in his own words, creating
“disciples instructed on navigation and design of fortification” and, over
the years, “producing in that class engineers that are now professionally
serving at Beira, Minho, Alentejo, Setúbal, Peniche and on this city”.
And for here, an autonomous reflection effort would be developed, con-
cerning international theoretical matrixes (with the rapid incorporation
of other contributions, particularly Dutch and German), which justifies
the name of Lusitanian method: and that, with the diffusion throughout
the imperial space (and the repercussions on urban projects), especially
during the following century (with the spreading of fortification classes,
on the Kingdom or on Brazil) and which have consequences – both tech-
nically and aesthetically – on the creation of a true Portuguese school of

responsável pela planificação da reconstrução e Lisboa e, antes dela, por
toda a reflexão teórica que a precedeu.
No decurso do século XVIII, são os caminhos (e o debate) suscitados
por essa escola portuguesa de arquitectura militar que se projectam nas
intervenções realizadas em Almeida, por isso justamente fomentadas pela
problemática em torno da sua perfeição. E por isso nela perpassam nomes
centrais das estruturas da arquitectura militar portuguesa contemporânea,
como é exemplo Guilherme Elsden, responsável pela planta de 1765 e,
menos de uma década volvida, pela transformação da colina universitária
de Coimbra num paradigma urbano da aliança do poder e do saber, como
em outra sede defendemos — depois de ter prestado a sua colaboração
às obras de reconstrução da capital. E por isso também em Almeida se
projectam — com a implantação dos edifícios exigidos pela logística mi-
litar — os caminhos do urbanismo que a mesma escola paralelamente de-
senvolvia em todo o espaço imperial: e de que a reconstrução de Lisboa
ou a cidade universitária de Coimbra (mas também Vila Real de Santo
António e outras mais) seriam a um tempo expoentes e balizas, entre a
projecção ex novo e o pragmatismo imposto pela necessidade de conser-
vação de antigas estruturas.
Praça-forte no sentido total do termo, fundido implantação urbana e for-
tificação — é esta a relevância central (a um tempo para o património
e para a ciência) daquela que, muito justamente afinal, os membros da
comissão oitocentista (simbolicamente em vésperas da sua desafectação
e ulterior classificação como Monumento Nacional) não tiveram pejo em
reputar de “uma das mais fortes do Reino, e talvez a mais forte dellas”:
com a autoridade que lhes advinha da longa cadeia de reflexão e prática
em que inquestionavelmente entroncavam. Nisso resumindo, em fim de
contas, aquele que é o seu valor essencial: a ilustração pedagógica — e
exemplarmente conservada — das virtualidades de uma escola (de refle-
xão e prática) que nela, justamente, exemplarmente se demonstra.
3.2 Almeida: 3.2 Almeida:
o potencial arqueológico the archaeological potential
de um espaço de guerra multissecular of a centuries-old war zone
André Teixeira André Teixeira
military architecture, whose central importance on the 18th century are
paradigmatic examples of the characters of the Chief engineers: Manuel
de Azevedo Fortes e Manuel da Maia. The first was precisely the author
of a two-volume treaty called O Engenheiro Português, (Lisbon, 1728-
1729); the second was responsible for the planning of the reconstruction
of Lisbon and, before that, for all the theoretical thought that antecede it.
During the 18th century, the path (and the debate) provoked by this Portuguese
school of military architecture is projected on the interventions performed in
Almeida, rightly originated by the problem around perfection. And, for that
reason, sounding names of the structures of Portuguese military architecture
of the time leave their mark there, such as Guilherme Elsden, responsible for
the 1765 plant and, under a decade after, for the transformation of Coimbra’s
campus hill into a urban paradigm of an alliance of power and knowledge, as
one has defended in other grounds – after he collaborated on the reconstruc-
tion of the capital. And, for this reason, in Almeida – with the implementation
of the buildings demanded by military logistics – the urbanism path projected
are similar to those being developed by the same school throughout the Em-
pire and for which the reconstruction of Lisbon and Coimbra’s campus (but
also Vila Real de Santo António and others) would serve as highest point
and also as boundaries, between the ex novo projection and the pragmatism
imposed by the need to preserve old structures.
Stronghold in the full sense of the words, fusion between urban implemen-
tation and fortification – this is the central relevance (at some time for herit-
age and science) for the asset that, justly, the 19th commission members’
(symbolically the night before being fired and posterior classification as
a National Monument) was honestly reported as “one of the strongest of
the kingdom and probably the strongest”: with the authority that would
come from the long period of reflection and practice that they undoubtedly A zona do Castelo Mediaval, local de alto potencial Desde os primórdios da construção das nações ibéricas que o território Since the beginning of construction in Iberian nation, the territory of
arqueologico, dentro das fortificações de Almeida
engrossed. With that summarizing, alas, its essential value: the pedagogi- de Almeida se assumiu como local de primeira importância militar, pro- Almeida stood as a place of utter military importance, defending one
cal illustration – and exemplarily preserved – of the virtues of a school (of The area of the Medieval Castle, site of a tegendo uma das fronteiras políticas mais antigas do mundo. Durante of the most ancient political borders in the world. During the Mid-
great archaeological potential, inside Almeida
reflection and practice) which is clearly demonstrated in it. fortifications
a Idade Média e até à demarcação definitiva dos limites entre Portugal dle Age and until the definitive demarcation of the borders between
e o seu vizinho, em 1297, constituiu um espaço de encarniçada disputa Portugal and its neighbour, in 1297, it was a space of fierce ordnance
bélica, primeiro entre muçulmanos e cristãos, depois entre estes, aliás disputes, first between Muslims and Christians and after between the
como o demais território de Riba-Côa. Depois daquela data passou a latter, as the entire Riba-Côa territory. After that date, it began serv-
servir como peça fundamental do sistema defensivo do Reino, não só ing as an essential piece of the Kingdom’s defensive system, not only
como linha primeira de defesa da raia, mas sobretudo protegendo uma as a first line of track defence, but mainly as a protection of one of
das principais vias de progresso das forças inimigas em Portugal ao the main progress routes of enemies forces in Portugal throughout
longo dos séculos; estas entravam precisamente pelo planalto que cir- the centuries; these would mainly come through the plateau circling
cunda Almeida, seguindo daí até à cidade da Guarda, depois ao longo Almeida, moving on to the city of Guarda, then along the Mondego
do Mondego até à Estremadura, para finalmente atingirem Lisboa1. A to the Estremadura until finally reaching Lisbon1. The relevance of
relevância de Almeida como primeiro dispositivo defensivo dissuasor Almeida as the first defensive device, deterring attacks to the national
dos ataques ao território nacional explica a sua densa e atribulada histó- territory, explains its dense and troubled military history, with an ac-
ria militar, com um papel actuante em praticamente todos os momentos tive role in virtually every moment of political instability lived in the
de instabilidade política vividos no ocidente peninsular. peninsular West.
Esta vocação defensiva da vila teve evidentes reflexos na evolução da The village’s defensive vocation had evident reflections on the evolu-
sua arquitectura militar, com sucessivos investimentos do poder central tion of its military architecture, with constant investments by the cen-
no sentido de a dotar com os mais eficazes e inovadores dispositivos de- tral government to provide it with the most effective and innovative
fensivos. Assim deve ter acontecido durante o reinado de D. Dinis, nos defensive devices. This surely happened during King Dinis reign, in
inícios do século XIV e na sequência da referida demarcação fronteiri- the beginning of the 14th-century and following the referred frontier
ça, quando aqui foi erguido um imponente castelo gótico. O mesmo se demarcation, when a grand Gothic castle was built here. The same can
Historiador – Professor Auxiliar e Pró-Reitor da Universidade de Coimbra/Área do Patri- poderá dizer para as décadas subsequentes, quando os trabalhos reali- be said about the subsequent decades, when the works performed in
mónio e Candidatura da Universidade a Património Mundial (UNESCO)
Historian – Assistant Professor and Pro-Rector of the University of Coimbra/Department 1 João Gouveia Monteiro, Os Castelos Portugueses dos finais da Idade Média. Presença, perfil, conservação, 1 João Gouveia Monteiro, Os Castelos Portugueses dos finais da Idade Média. Presença, perfil, conservação,
of Heritage and Candidacy of the University to the Wold Heritage (UNESCO) vigilância e comando, Lisboa, Edições Colibri / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1999. vigilância e comando, Lisboa, Edições Colibri / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1999.
52 53

zados em Almeida terão acompanhado o movimento geral de protecção
dos aglomerados urbanos com cercas defensivas. Nos primeiros anos
do século XVI documentam-se neste castelo das mais evoluídas obras
militares realizadas no espaço nacional sob D. Manuel I, desenhadas
pelo célebre mestre-de-obras biscainho Francisco Danzilho, equiva-
lentes apenas às que então se erigiam no espaço ultramarino. Enfim,
a praça de guerra abaluartada, levantada no rescaldo da Restauração
e da consagração da vila como sede do governo de armas da Beira, é
indiscutivelmente umas mais singulares obras de engenharia militar en-
tão realizadas nesta fronteira multissecular, concentrando boa parte dos
investimentos da Coroa na região. A esta vasta frente de guerra acres-
ceram os sucessivos dispositivos defensivos construídos até à Guerra
Peninsular, a partir da qual Almeida foi perdendo a sua função militar.
Boa parte deste vasto património histórico chegou aos nossos dias, aliás
não apenas ao nível da arquitectura militar, como também do respectivo
legado em termos de desenho urbano e do edificado civil, num esta-
do de conservação assinalável. Tal facto tem permitido a realização de
estudos de fôlego nestes domínios, bem como a inerente salvaguarda,
valorização e animação patrimonial, embora seguindo evidentemente
os conceitos e metodologias de cada época. Contudo, ao nível da ar-
queologia o panorama é bastante mais pobre naqueles vários domínios,
situação que é consentânea com o atraso desta disciplina em Portugal,
sobretudo para as épocas medieval e moderna. Esta realidade explica o
reduzido número de intervenções realizado até ao momento, limitado
a uma acção de valorização no castelo da vila e a escassas operações
de salvaguarda na cerca abaluartada, que ainda assim demonstraram o
grande potencial arqueológico existente. Aliás, o despovoamento sensí-
vel do sítio, subsequente à sua perda de importância militar, já em épo-
ca contemporânea, permite antever a preservação de níveis arqueológi-
cos num estado exemplar, concorrendo para a avaliação extremamente
positiva do legado existente neste domínio.
Exemplifique-se com o caso do castelo. Este é, por um lado, um marco
primordial da história local, muito provavelmente o espaço fundador da
vila e de assentamento do primeiro núcleo de povoadores, mantendo-
se como centro do poder político-militar até à Idade Moderna, quando
o recinto foi adaptado a armazém de munições e nas suas imediações
foi construída uma atafona. Permaneceu como um elemento primor-
dial do aglomerado urbano até inícios do século XIX, quando uma
monumental explosão o deixou em ruínas, uma centralidade histórica
Aspecto dos trabalhos arqueológicos junto à torre
ultra-semicircular Este da barbacã do castelo
Aspect of the archaeological works next to the ultra-
semicircular East tower of the barbicane of the castle
Estruturas descobertas junto à torre ultra-semicircular.
Este da barbacã do castelo, implantadas sobre
levantamento da Câmara Municipal de Almeida
de 1995
Discovered structures next to the ultra-semicircular
of the East tower of the barbicane of the castle,
implanted on the survey of the City council of
Almeida in 1995
Planta do castelo de Almeida de Duarte de Armas,
elaborada entre 1509 e 1510 (original no AN/
TT, CF, 159, fl.128v), com indicação da área
intervencionada
Plan of the Castle of Almeida by Duarte de
Armas, drawn between 1509 and 1510
(original at AN/TT, CF, 159, fl. 128v), showing
the intervened area
Almeida would accompany the general movement towards the pro-
tection of urban clusters with defensive fences. During the first years
of the 16th century, some of the most evolved military performed on
national space were documented on this castle, under King Manuel’s
guidance, planned by the famous Biscayan master builder Francisco
Danzilho, only comparable to those being erected, at the time, over-
seas. Thus, the bastioned citadel, upraised in the aftermath of Restora-
tion and of the village’s consecration as the government’s head office,
is undoubtedly one of the most unique works of military engineer-
ing performed at the time on this centuries-old border, concentrating
a great amount of the investments made by the Crown in the region.
To this vast war front, successive defensive devices were added, built
until the Peninsular War, from which point Almeida began losing its
military function.
A great part of this vast historical heritage survived to this day; not only
in what military architecture is concerned, but also in what concerns the
legacy left regarding urban planning and civil buildings, in a remark-
able conservation condition. Such fact allowed for the conduction of
comprehensive studies on these subjects, as well as for the inherent
safeguard, valorisation and promotion of heritage, although according
54
Perfis estratigráficos da sondagem realizada no
terreiro frontal à porta do cemitério velho
Statigraphic profiles of the sounding carried
through in the terrain in front of the door of the
old cemetery
Q100 – Perfis Sul, Oeste e Norte
0 1m
Apito, fragmento de pé de púcaro, parede de taça
e bordo de prato, objectos cerâmicos exumados
na sondagem aberta no terreiro frontal à porta do
cemitério velho.
Whistle, fragment of a small pot, wall of goblet
and plate edge, ceramic objects exhumed in the
sounding opened in the terrain in front of the door
of the old cemetery.
to the concepts and methodology of each period of time. Nevertheless,
in what archaeology is concerned, the outlook is quite poor in those
several subjects, a situation which fully corresponds to the delay this
discipline experiences in Portugal, particularly for the Medieval and
Modern periods. This reality explains the reduced number of interven-
Alm 100-369 tions performed until now, which have been limited to a recovery action
performed on the village’s castle and to a few safeguarding operations
on the bastioned fence, which were still able to demonstrate the great
underling archaeological potential. Furthermore, the sensitive depopu-
lation of the place, a consequence of the loss of its military importance,
which already happened during our days, allows one to anticipate the
conservation of archaeological levels in an immaculate state, thus rein-
forcing the extremely positive evaluation of the existent legacy for this
discipline.
Alm 100-472 The castle will be taken as an example. On one hand, this is a primary
landmark of local history, in all likelihood, the founding space of the
village and of the settlement of the first nucleus of colonizers, which
was kept as the centre of political-military power until the Middle Ages,
when the enclosure was transformed into an armoury and a granary was
Alm 100-480 also built.
It endured as a primordial element of the urban cluster until the begin-
ning of the 19th century, when a monumental explosion left it to ruins,
a historical centrality reinforced by the contiguous construction of the
mother church, which also suffered with the accident and of which no
visible evidences remain2. On the other hand, regardless of its medi-
eval origins, the fortification is one of the best exemplas in continental
Portugal of the military architecture at the end of the Middle Age and
beginning of the Modern Age, the so-called ‘transition style’, when
there was an attempt to adapt old defensive enclosures to the new chal-
lenges of warfare3; of these works, only ruins are left. Thus, in terms of
archaeological potential, the destruction of this military structure and
its surroundings, by bursting and during the third French Invasion, in
1810, anticipates the conservation, by sequence-stratigraphic deposi-
tion, of the occupations and adaptations made to this space. This hy-
pothesis is reinforced by the fact that the area was left abandoned until
now, regardless of the interventions made by the Direcção Geral dos
2 José Vilhena de Carvalho, O Castelo de Almeida. Origem, história e destruição. Controvérsias, 2ª
Alm 100-888 edição, Almeida, Câmara Municipal de Almeida, 1994.
3 Rafael Moreira, “A época manuelina”, in História das Fortificações Portuguesas no Mundo, Lisboa,
0 5 cm Alfa, 1999 e Pedro Dias, A arquitectura manuelina, Porto, Livraria Civilização Editora, 1988.
55
 Espólio cerâmico e faunístico encontrado
na sondagem realizada no terreiro frontal
à porta do cemitério velho (C4).
Ceramic and faunistic estate found in the
sounding carried through in the terrain in front
of the door of the old cemetery (C4)
Vista interior de uma sala abobadada do futuro
Museu Historico e Militar, vendo-se dispositivos
técnicos introduzidos.Ao lado, registam-se
traçados subterraneos de canais de drenagem das
designadas “casamatas” do Baluarte de S. João
de Deus
Interior view of one vaulted room of the future
History and Military Museum, with some
technical devices already introduced. By side are
registered underground net of sewereage in the
so-called “casemates” of the bulwark of S. João
de Deus

Aspecto das escavações arqueológicas

no terreiro frontal à porta do cemitério velho,
com as estruturas aí localizadas.

Aspect of the archaeological diggings in the

terrain in front of the door of the old cemetery,
with the structures located there.

reforçada pela implantação contígua da igreja matriz, igualmente ví-
tima deste acidente e da qual não restam vestígios visíveis2. Por outro
lado, não obstante a referida origem medieval, a fortificação é um dos
melhores exemplares em Portugal continental da arquitectura militar
de finais da Idade Média e inícios da Idade Moderna, o denominado
estilo «de transição», quando se procurou adaptar os velhos recintos
defensivos aos novos desafios da arte da guerra3; também destas obras
apenas restam ruínas. Assim, em termos de potencial arqueológico,
a destruição por rebentamento desta estrutura militar e da sua envol-
vente durante a terceira invasão francesa, em 1810, permite antever a
preservação em deposição estratigráfica sequencial desta sucessão de
ocupações e adaptações do espaço. Esta hipótese é reforçada pelo facto
da área ter permanecido abandonada até aos nossos dias, não obstante
as intervenções da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacio-
nais nos anos de 1940 e 1960.
Apesar desta valia, o castelo e a sua envolvente estiveram nas últimas
décadas votados a grande abandono, não participando na dinâmica pa-
trimonial e cultural da vila. Foi por esta razão que foi lançado recen-
temente um programa de pesquisa, requalificação urbanística e valori-
zação patrimonial do monumento. As sondagens arqueológicas prévias
realizadas em 2007, apesar de superficiais e circunscritas, vieram reve-
lar já parte do potencial neste domínio4, detectando-se dois momentos
construtivos da fortificação: o vértice de uma das torres quadrangulares
do castelo medieval e o muro de um grande compartimento sobrepon-
do a estrutura anterior, correspondente a um dos armazéns edificados
após a perda da função militar do recinto. No exterior do castelo foram
detectados vestígios de uma das muitas habitações derrubadas aquando
da citada destruição de 1810, em local certamente próximo do adro da
antiga matriz. A continuação dos trabalhos faz, pois, augurar a cons-
tituição de um núcleo patrimonial assaz relevante, evidenciando os
diversos momentos de vida de uma das mais importantes construções
militares da fronteira luso-espanhola, respondendo também a questões
científicas há muito perseguidas e para as quais este monumento será
um contributo decisivo.
2 José Vilhena de Carvalho, O Castelo de Almeida. Origem, história e destruição. Controvérsias, 2ª
edição, Almeida, Câmara Municipal de Almeida, 1994.
3 Rafael Moreira, “A época manuelina”, in História das Fortificações Portuguesas no Mundo, Lisboa,
Alfa, 1999 e Pedro Dias, A arquitectura manuelina, Porto, Livraria Civilização Editora, 1988.
4 André Teixeira, “Sondagens arqueológicas no castelo de Almeida e envolvente: síntese de resultados
(2007)”, in CEAMA. Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, nº2, Almeida, Câmara
Municipal de Almeida, 2008, pp. 44-55.
Edifícios e Monumentos Nacionais (General Directorate of Buildings
and National Monuments) in 1940 and 1960.
Apart from this added value, the castle and its surroundings were left
abandoned during the last decades and they didn’t take part of the vil-
lage’s heritage and patrimonial dynamics. For this reason, a programme
was recently launched involving research, urban requalification and
heritage appreciation of the castle. The previous archaeological que-
ries performed in 2007, although superficial and circumscribed, already
revealed a part of the potential on this domain4, being that two con-
structive moments of the fortification are emphasised: the vertex in one
of the medieval castle’s quadrangular towers and the wall of a great
compartment overlapping the previous structure, which corresponded
to one of the warehouses built after the enclosure lost its military func-
tion. Outside the castle, some traces were found of one of the many
houses destroy in the referred 1810 accident, in a place surely close
to the churchyard of the ancient mother church. The continuation of
works, therefore, foretells the constitution of a quite relevant nucleus
of heritage, which emphasises the different moments of the life of one
of the most important military constructions in the Portuguese-Spanish O potencial arqueológico de Almeida não se esgota, porém, no castelo, po- This may go, indeed, very much beyond the strict military scope, since
border and which also answers long time pursuit questions, to which dendo afirmar-se que toda a vila muralhada é susceptível de revelar con- it is the only discipline capable of bringing new information on the
this monument will make a decisive contribution. textos significativos e bem preservados. No domínio da arquitectura militar preexistences sacrificed by the construction of the bastioned palisade,
Almeida’s archaeological potential goes beyond the castle; one might deve considerar-se neste âmbito o reconhecimento da cerca medieval, tão as well as of the ample urban transformations caused by the establish-
even say that the entire walled village is likely to reveal meaningful and bem marcada no desenho urbano do aglomerado mas de que se assinalam ment of the citadel, of which documented references appear6. As an
well preserved contexts. In what concerns the military architecture, one fragmentos diminutos, e a melhor compreensão da frente abaluartada mo- example, one might refer the implementation of the Military Hospital
must consider the recognition of the medieval fence, well marked in the derna, objecto de numerosos estudos, mas onde persistem interrogações. and of the Controller General’s House and the relocation of the Council
cluster’s urban planning but of which only miniscule fragments can be Neste último domínio saliente-se uma das intervenções de salvaguarda, re- House and of the Prison to the Pillory Square or the construction of the
found, and also a better understanding of the modern bastioned front, alizada em 2008, no baluarte de São João de Deus, futuro Museu Histórico Misericórdia or the Infantry Barrack on the Terreiro das Freiras, works
the object of several studies but also a reason for many questions. In this e Militar5. O acompanhamento arqueológico da obra, necessariamente em performed during the final years of the 17th-century and during the first
last domain, one must highlight one of the safeguarding interventions área restrita, permitiu interpretar algumas das áreas que se encontravam so- decades of the following century. Later, on the aftermath of the 1762
performed in 2008 on the bastion of São João de Deus, the future Mu- terradas e compreender melhor o sistema de drenagem pluvial do edifício. war, the reconversion of spaces was even deeper: the Convent of Nossa
seu Histórico e Militar5 (Military and Historical Museum). The work’s Assim, crê-se que a investigação e a valorização deste enorme conjunto Senhora do Loreto, of the Franciscan nuns, was transformed into a hos-
archaeological follow-up, in a necessarily restricted area, allowed for patrimonial beneficiará muito com o contributo da arqueologia. pital and an artillery barrack was built near São Pedro’s bastion; years
the interpretation of some buried areas and for a better understanding of Este poderá, aliás, estender-se muito para além da vertente estritamen- later, the Main Guard Barracks were built over the ancient marketplace,
the building’s rainwater drainage system. Therefore, it is believed that te militar, sendo a única disciplina capaz de trazer novas informações only to name a few cases. Finally, the housing complex itself, after be-
the research and the appreciation of this great heritage set will benefit a sobre as preexistências sacrificadas pela construção da cerca abaluar- ing consecutively destroyed and rebuilt according to the different mili-
great deal from the contributions of archaeology. tada, bem como das amplas transformações urbanas decorrentes do es- tary events, will obviously be an incalculable repository of knowledge
4 André Teixeira, “Sondagens arqueológicas no castelo de Almeida e envolvente: síntese de resultados tabelecimento da praça de guerra, das quais nos chegaram referências on the lifestyle of a frontier community throughout the centuries, living
(2007)”, in CEAMA. Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, nº2, Almeida, Câmara
Municipal de Almeida, 2008, pp. 44-55. 6 Margarida Tavares da Conceição, Da Vila Cercada à Praça de Guerra. Formação do Espaço Urbano
5 João Campos, Almeida, As Coberturas das «Casamatas», Almeida, Câmara Municipal de Almeida, 2006. 5 João Campos, Almeida, As Coberturas das «Casamatas», Almeida, Câmara Municipal de Almeida, 2006. em Almeida. Séculos XVI-XVIII, Lisboa, Livros Horizonte, 2002, pp. 73-110.

56 57

documentais6. A título de exemplo cite-se a implantação do Hospital
Militar e da Vedoria Geral e a relocalização da Casa da Câmara e da
Cadeia, na Praça do Pelourinho, ou a edificação da Misericórdia e do
Quartel de Infantaria, no Terreiro das Freiras, obras dos finais de Seis-
centos e das primeiras décadas da centúria seguinte. Mais tarde, no
rescaldo da guerra de 1762, a reconversão dos espaços foi ainda mais
profunda, transformando-se o convento de Nossa Senhora do Loreto
das freiras franciscanas em hospital e quartel de infantaria e erguendo-
se um quartel de artilharia junto ao baluarte de São Pedro, levantando-
se anos depois o Quartel da Guarda Principal sob o antigo mercado,
para apenas citar alguns casos. Enfim, o próprio parque habitacional,
sucessivamente derrubado e reconstruído em função dos diversos epi-
sódios militares, será um repositório inestimável para o conhecimento
da vida de uma comunidade de fronteira ao longo de séculos, em am-
biente marcadamente bélico, como a citada intervenção arqueológica
já veio indiciar.
Finalmente, deve também considerar-se que a herança de Almeida
como teatro de guerra multissecular acarreta a existência de um poten-
cial arqueológico não apenas de feição urbana, mas também ao nível
da arqueologia rural ou da paisagem, uma área da disciplina ainda in-
cipiente em Portugal. De facto, a permanente função militar da forti-
ficação da vila implicou a ocorrência de numerosos recontros no seu
território envolvente, das simples escaramuças, a verdadeiras batalhas
campais, passando pelo estabelecimento de acampamentos e posições
militares em várias povoações do concelho. Tal como mencionado para
a fortificação, trata-se de uma sucessão de factos que acompanha a pró-
pria evolução das relações políticas entre os vizinhos ibéricos.
Apenas como exemplo citem-se alguns destes momentos decisivos, ori-
ginando comprovados episódios militares nas cercanias da vila7: as lu-
tas entre leoneses, muçulmanos e portugueses durante os séculos XII e
XIII; as contínuas surtidas no âmbito das chamadas guerras fernandinas
e da crise de sucessão, na segunda metade do século XIV; os confrontos
da guerra da Restauração, em meados de Seiscentos, com sucessivas
incursões fronteiriças de parte a parte; e os combates laterais aquando
do cerco a Almeida de 1762, quando foram atingidas povoações como
Malpartida, Vale da Mula, Vale da Coelha, São Pêro de Rio Seco e Nave
de Haver, parte delas afectadas durante os conflitos anteriores. Já no
contexto da Guerra Peninsular saliente-se no campo português a encar-
niçada e sangrenta batalha travada junto ao rio Côa, não longe da vila, a
24 de Julho de 1810, no âmbito de uma série de escaramuças realizadas
nesta guerra dos dois lados da fronteira. Todos estes eventos militares
são susceptíveis de ter legado evidências arqueológicas importantes no
espaço rural, sobretudo nos campos de batalha assinalados, uma opor-
tunidade reforçada pela fraca densidade populacional destes lugares.
Em síntese, o concelho de Almeida e muito especialmente a vila mu-
ralhada são espaços de grande potencial arqueológico, relacionado
com a sucessiva ocupação do sítio em função de uma vocação essen-
cialmente militar. O território constituiu uma das chaves principais da
defesa de Portugal desde a sua fundação, participando de quase todos
os momentos de instabilidade desta fronteira ibérica multissecular. A
6 Margarida Tavares da Conceição, Da Vila Cercada à Praça de Guerra. Formação do Espaço Urba-
no em Almeida. Séculos XVI-XVIII, Lisboa, Livros Horizonte, 2002, pp. 73-110.
7 José Vilhena de Carvalho, Almeida - Subsídios para a sua História, 2ª edição, Almeida, Câmara
Municipal de Almeida, 1988, vol. I.
Acompanhamento arqueologico dos trabalhos de
infraestruturação do futuri Museu do Baluarte de
S. João de Deus
Archaeologic monitoring of the infrastructures
works for the new Museum at the S. João de Deus
Balwark
in a clearly war environment, as the previously referred archaeological
intervention indicated.
In conclusion, one must also consider that Almeida’s heritage as a cen-
turies-old war theatre implies the existence of an archaeological poten-
tial not only related to the urban scope, but also on a rural or landscape
archaeology scope, an area of the discipline still very much incipient
in Portugal. In fact, the permanent military function of the village’s
fortification implied numerous confrontations in its surrounding terri-
tory, ranging from simple skirmishes to real and severe conflicts, while
going through the settlement of military camps and positions in several
villages of the council. Just as was mentioned for the fortification, it is a
succession of facts which accompany the evolution of political relation-
ships between the Iberian neighbours.
As an example, one may quote some of these decisive moments, which
originated proven military events in the village’s environs: the fights
among Leonese, Muslims and Portuguese during the 12th and the 13th baixa densidade populacional e a ausência da pressão urbanística dos of modern urbanistic pressure anticipate the conservation of a vast and
century; the continuous thrusts within the so-called Ferdinand wars and nossos tempos permite-nos antever a preservação de um vasto e singu- singular historical and heritage repository in the subsoil, from the me-
succession crisis, during the second half of the 14th century; the con- lar repositório histórico e patrimonial no subsolo, de épocas medieval dieval and modern periods. The very few archaeological interventions
frontations of the Restoration war, in the middle of the 17th century, e moderna. As escassíssimas intervenções arqueológicas realizadas até performed to this date have already confirmed such a fact.
with constant frontier raids from each part; and the side fights, when the ao momento vieram já confirmá-lo.
siege to Almeida happened in 1762, during which several villages were
hit, such as Malpartida, Vale da Mula, Vale da Coelha, São Pedro de
Rio Seco, and Nave de Haver, a part of which had already been affected
during previous conflicts.
Already with the context of the Peninsular War, one must emphasise
the pugnacious and blood-thirsty battle held near river Côa, not very far
from the village, on 24th July 1810, related to a series of skirmishes held
on both sides of the border. All these military events are prone to have
left important archaeological evidences in the rural spaces, particularly
on the marked battlefields, an opportunity reinforced by the low popu-
lation density on these places.
In brief, Almeida’s council and particularly the walled village are spac-
es of great archaeological potential, directly related to the consecutive
occupation of this place, obeying a mainly military vocation. The terri-
tory is one of the main defensive keys of Portugal, since the foundation Arqueólogo – Mestre e Investigador da FCT
Doutorando em Arqueologia
period and throughout almost every moment of instability of this cen- Archaeologist – Master and Researcher of FCT
turies-old Iberian frontier. The low population density and the absence Ph.D. Student on Archaeology
58 59
3.3 Importância Cultural e Estratégica
de Almeida ao Longo do Tempo
Adriano Vasco Rodrigues
Almeida, situada no extremo ocidental do vasto planalto da Meseta, a
sul do vale do Douro e a leste do sistema montanhoso Luso-Castelhano,
nas vizinhanças do vale do Côa, rio com a particularidade de correr de
Sul para Norte, confluindo no Douro, está localizada à Latitude de 4º
32’ N; à Longitude de 11º 44’ Oeste e a uma Altitude máxima de 763
m. Beneficia de se erguer numa zona de transição, no prolongamento da
vasta peniplanicie, que corre da Meseta Norte, afastada da Cordilheira
Central, atravessando o Maciço Hespérico para morrer aquém fronteira
na Beira Transmontana e, a Norte do Douro, em Trás-os-Montes.
Do alto da Fortaleza de Almeida a paisagem, quase uniforme, altera-
se para Ocidente em sucessivas montanhas, que absorvem a penipla-
nicie1.
Os cronistas do séc. XVIII assinalavam que do Castelo de Almeida
se avistava a cidade da Guarda e as vilas de Castelo Rodrigo, Castelo
Bom, Trancoso e o território de 12 bispados portugueses e espanhóis:
Lamego, Guarda, Pinhel, Coimbra, Viseu, Braga, Miranda, Porto, Có-
ria, Cidade Rodrigo, Placência e Salamanca…2
O condicionalismo geográfico, ao longo dos tempos, marcou esta área
com o cruzamento de culturas. A integração de Almeida no território
que constituiu Portugal, tornou-a baluarte na defesa da Soberania e da
Liberdade com importância estratégica sobre uma vasta área, aquém e
além fronteiras. As raízes remotas deste encontro de culturas remontam
à Pré-história.
1 Ribeiro, Orlando, Lautensach, Hermann, Davenau, Suzanne – Geografia de Portugal – A posição
geográfica e o Território, página 13;
2 Bautista de Castro, João, Mappa de Portugal, Antigo e Moderno. T.II, pág. 387;
3.3 Cultural and Strategic Importance
of Almeida Throughout Time
Adriano Vasco Rodrigues
Vista Aérea de Almeida. Foto gentilmente cedida
pelo Prof. Eng. Francisco Figueiredo
Aerial view of Almeida. Photo gently authorized
by Prof. Eng. Francisco Figueiredo
Almeida, located at the westernmost extreme of the vast plateau of Mese-
ta, to the south of the Douro’s valley and east of the Portuguese-Spanish
mountain range, near Côa’s valley, a river that has the specificity of run-
ning South to North, joining the Douro, is located at the Latitude 4º 32’
N, at the Longitude of 11º 44’ West and a maximum Altitude of 763 m.
It takes advantage of rising in a transition area, in the continuation of a
vast peneplain, which goes through Meseta Norte, away from the Central
Range, across the Hesperic Massif to die beyond the frontier of Trás-os-
Montes and Beira and, to the North of Douro, in Trás-os-Montes.
From the summit of Almeida´s Fortress the landscape, almost uniform, is
changed to the West by successive mountains, which absorb the peneplain 1.
18th century chroniclers stated that from Almeida’s Castle the city of
Guarda could be seen, as well as the villages of Castelo Rodrigo, Cas-
telo Bom, Trancoso and the territory corresponding to 12 Portuguese
and Spanish dioceses: Lamego, Guarda, Pinhel, Coimbra, Viseu, Braga,
Miranda, Porto, Cória, Cidade Rodrigo, Placencia, and Salamanca...2
The geographical conditionals, throughout the times, marked this area with
the crossing of cultures. Almeida’s integration within the territory constitut-
ing Portugal transformed it into a defense bastion of Sovereignty and Free-
dom with strategic importance over a vast area, within and beyond borders.
The remote roots of this cultural encounter go back to Pre-history.
Human Occupation during the Paleolithic
The presence of Men during the Lower Paleolithic dedicated to foraging
and hunting is well documented here for the finding of lithic artifacts,
60
Almeida e território adjacente vistos de satélite
(Google Earth)
Almeida and the adjacent territory as seen from
sattelite (Google Earth)
Ocupação humana no Paleolítico
A presença do Homem do Paleolítico inferior dedicado à recolecção e à
caça, encontra-se aqui testemunhada pelo achado de artefactos líticos, de
que se evidenciam três, que tive oportunidade de identificar e classificar:
o biface de Cairrão (Guarda) 3, o biface de Malpartida, (Almeida) 4 e o
trinchante ou enxó do Vale Fundo (Almeida) 5. O primeiro biface foi encon-
trado a uma altitude de 822 m. É muito elegante e tem forma lanceolada.
Foi trabalhado em quartzito escuro. Mede 22 cm de comprimento e 9,3 cm
de largura; 4,5 cm de espessura. Pesa 500gr. As tendências micoquianas
na forma lanceolada, com retoques feitos por objecto de madeira ou osso,
levaram-me a enquadra-lo nos finais da glaciação Riss-Wϋrm, à volta de
100 mil anos a.C.
O segundo biface assemelha-se, pelo formato, ao primeiro mas é de dimen-
sões mais reduzidas, trabalhado em sílex, segundo classificação mineraló-
gica do Prof. Eng.º. Lizuarte Gomes, que também fez a análise do pólen
de uma criptogâmica. Tem de comprimento 11,7cm; de largura 6,4cm; es-
pessura 3,3cm; peso 200gr.6 A outra peça é um trinchante, encontrado pelo
Arquitecto Carlos Brito da Fonseca, que me pediu para o classificar.
Nos perfis, os dois bifaces assemelham-se pela delicadeza do trabalho, do
relevo e espessura na parte mais saliente, destinada à empunhadura per-
mitindo uma pressão forte e segura. A designação bi-face resulta do facto
de ter duas faces, que delimitam o núcleo. Sobre o ondulado da superfície
de cada uma das faces pode ler-se a história do instrumento. Comprova-se
pela técnica e precisão com que foram desferidos os golpes pelo percutor
ao dar-lhe forma utilitária. Trata-se de uma verdadeira escultura, a que não
falta criatividade, beleza e arte. È um trabalho concebido com inteligência.
3 Rodrigues, Adriano Vasco – O biface acheulense de Cairrão, Guarda, in Actas do 1º Congresso
Nacional de Arqueologia, 1959;
4 Rodrigues, Adriano Vasco – Contributo para o estudo do Paleolítico inferior na Região de Riba
Côa, in Coavisão, nº 5 – 2003, pág. 159;
5 Op. Cit. pág. 164;
6 Esta peça encontra-se na posse do Doutor Moutinho Borges; This piece is on the possession of
Dr. Moutinho Borges;
61
from which one can emphasize three, which I had the opportunity to
identify and classify: Cairrão’s biface (Guarda) 3, Malpartida’s biface,
(Almeida) 4 and Vale Fundo’s adze or adz (Almeida) 5. The first biface
was found 822 meters high. It is quite elegant and lenticular shapes.
It was worked in dark quartzite. It is 22 cm long, 9.3 cm wide, 4.5
cm thick and weighing 500 gr. The micoquian trends in the lenticular
shape, with retouching made by a wooden object or bone, have lead me
to conclude that it must belong to the end of the Riss-Wurm Interglacial
Stage, around 100 thousand years B.C.
The Second biface is similar in shape to the first, but of small propor-
tions, worked in chert, according to the mineralogical classification of
Professor Lizuarte Gomes, also an engineer, who performed the polini-
cal analysis and enlightened the existence of pollen from a cryptogram-
mic. It is 11.7 cm in length, 6.4 wide and 3.3 cm thick, weighing 200 g.6
The other piece is a adze found by Architect Carlos Brito da Fonseca,
who asked me to classified it.
On the profiles, both bifaces are similar in the fineness of the work, of
the relief and of the breadth on the thickest part, meant to be handled,
thus allowing for a strong and safe pressure. The name bi-face comes
from the fact that it has two faces, which limit the nucleus. Over the
waves on the surface of each face the story of the toll might be read. We
witness the technique and precision which the creator uses to provide it
with a utilitarian shape. This is indeed a true sculptor that does not lack
creativity, beauty and art. It is a work conceived with intelligence.
The artist’s skill and its preparation are visible in the blows’ precision
and also in some, very few, missed blows. I have counted more that
50 blows until missing track. On the base of this amygdaloidal there is
still a small initial surface corresponding to the joint. The Acheulean
technology probably started in Africa, 1.5 million years ago, where it
endured until 150 thousand years B.C. From Africa, it spread to Europe,
accompanying Homo Erectus, until, about 100 thousand years ago, the
modern men came along. The last Homo Erectus would probably disap-
pear 300 thousand years ago.

A capacidade do artista e a sua preparação são visíveis na precisão dos golpes
e também, em alguns, muito poucos, falhados. Contei mais de 50 golpes até
me perder no cômputo. Na base deste amigdalóide resta ainda uma peque-
na superfície inicial correspondente à diáclase. Não posso imaginar quantos
golpes foram precisos para desbastar o bloco inicial. A tecnologia acheulense
terá começado em África, há 1,5 milhões de anos, onde se manteve até há
150 mil anos a.C. De África irradiou para a Europa, acompanhando o Homo
Erectus, até surgirem há uns 100 mil anos, os homens modernos. Os últimos
Homo Erectus terão desaparecido há 300 mil anos.
È um dos instrumentos de mais longa duração no tempo, acompanhando
praticamente metade da História da Humanidade. Embora predominando
a forma amigdalar, ou de amêndoa, as representações mais elegantes são a
lanceolada e a cordiforme.
O biface é um instrumento multi-usos, um verdadeiro faz-tudo, desde a
escavação à raspagem, ao ataque usado como punhal, procurando fender
o crânio ou romper a caixa torácica de um animal. Embora alguns arque-
ólogos pensem que poderia servir na caça como arma de arremesso, esta
hipótese foi contrariada. Também houve quem o considerasse como um
machado de pedra, opinião rejeitada por não ser crível vê-lo implantado
num cabo. Pela sua capacidade corresponde aquilo que os arqueólogos do
séc. XIX designavam coup-de-poing.
No Paleolítico inferior, numa distribuição a nível mundial da área dos instru-
mentos líticos, são consideradas duas zonas tecnológicas distintas: uma, a do
biface, integrando a África, a Europa e a Ásia Ocidental e Meridional, e ou-
tra, onde não aparecem bifaces mas chopping-tools, distribuídos pelo Oriente
e Sudoeste Asiático. A análise microscópica pelos microtraços (micropolis e
microstries), permite reconstituir a finalidade do instrumento, se foi usado
para cortar madeira, osso, ou carne. Os arqueólogos recorrem á Polinologia
para identificação dos pólens depositados no biface, na sequência do trans-
porte e dos esporos levados pelo vento ou por correntes de água. Esta analise
ajuda ao enquadramento ecológico, necessário para o estudo do habitat do
utilizador, época do ano, clima, permitindo inclusivamente fazer datações.
A mais remota técnica utilizada desde o Homo habilis para fabricar instru-
mentos, isto é, desde os primeiros homens, baseou-se no aproveitamento
Biface de Cairão (apontamento do Autor)
Biface of Cairão
(drawing by the Author)
Trabalho de um calhau rolado na indústria
Biface de Malpartida (apontamento do Autor)
Biface of Malpartida
(drawing by the Author)
It is one of the most ancient tolls in time, practically accompanying half
the history of Mankind. Although they mainly come in an almond-like
shape, the most elegant representations are shaped as a spear or condi-
form.
Bifaces are multifaceted instruments, truly versatile, from digging to
scrapping, from attacking – being used as a dagger to fend the skull or
rip the rib cage of an animal. Although some archaeologists think that
they might have been used as a ranged weapon, this hypothesis was
refuted. Some also considered that they could be used as a stone axe,
which was rejected because it was not feasible to have a handle imple-
mented. Their capacity corresponds to what 19th century archaeologists
considered a coup-de-poing.
During the Lower Paleolithic, in a global distribution for lithic tools,
two distinct technological areas are considered: the one of the biface,
integrating Africa, Europe and Western or Southern Asia and other
where no bifaces can be found but rather chopping tools, distributed
through Eastern and Southwest Asia. The microscopic analysis made
to the microstrokes (micropolis and microstries) allows reconstructing
the object’s purpose, whether it was used to cut wood, bone or meat.
Archaeologists use Palynology to identify the pollens deposited on the
biface, consequence of the transportation and of spores carried by the
wind or water. This analysis helps the ecological background, neces-
sary to the study of the user’s habitat, season, climate, thus inclusively
allowing the production of datings.
The most ancient technique used since the Homo habilis to produce
tools, meaning, since the first men, was based on reusing rolled stoned,
called gogos in Beira, that is, smooth and rounded stones taken away
from a river bed. In Spain and in the frontier Portuguese regions, these
are called cantos. A man perpendicularly beating over the surface of the
rolled stones with a hard rock (plunger) fabricated the first cutting tools,
corresponding to adzes and chopping tools. The English archaeologists,
following J. Movices, called chopper to this first tool and the French
tranchoir. If the flints are taken from a single side, they are known as
chopper-nucléus uniface and if the flints come from different sides,
62
Carta de Riba-Côa e território vizinho
(Portugal – Espanha)
Riba-Côa map and the neighbourogh territory
(Portugal – Spain)
Oldowayen. Ilustração de Ken Rinkel
Cutting a rolled stone in Oldowayen industry.
Drawing by Ken Rinkel
de calhaus rolados, designados na Beira por gogos, isto é, pedras lisas e
arredondadas retiradas do leito de um curso de água. Em Espanha e nas
regiões da fronteira portuguesa, chamam-lhes cantos. O homem batendo
perpendicularmente sobre a superfície dos calhaus rolados com uma pedra
dura (percutor), fabricou os primeiros instrumentos cortantes,, correspon-
dentes às trinchas ou enxós. Os arqueólogos ingleses, seguindo J. Movices,
chamaram a este primeiro utensílio chopper e os franceses tranchoir. Se as
lascas são retiradas de um só lado chopper-nucléus uniface e, se as lascas
foram retiradas alternadamente, chopper- nucléus biface, ou chopping-tool,
instrumento cortante. Esta indústria é também conhecida por oldowayen,
por ser identificada pela primeira vez no norte da Tanzânia, em Oldaway.
Em Angola, tive oportunidade de estudar peble tools, instrumentos fabrica-
dos a partir de calhaus rolados, de que eram retiradas apenas três grandes
lascas convergentes de modo a transformarem-no num pico. A arqueóloga
francesa Hélène Roche, que trabalhou em África (1980), chamou-lhe ca-
lhaus talhados, designação genérica adoptada conforme os objectos são
simples ou parcialmente modificados por qualquer acção de corte. Esta
designação incluiu todas as espécies de calhaus talhados sem prejuízo de
os integrar noutra classificação. 7
As descobertas de Koobi Fora, no Quénia, revelaram que o Homo habilis
transportava consigo o chopping – tool, percorrendo longas distâncias. A
vantagem destes instrumentos reside na facilidade com que o homem pode
segurar a base arredondada e lisa, graças á acção da água. O Homo habilis
foi contemporâneo do Australopitecos, o que prova a longuíssima antigui-
dade destes instrumentos. A técnica do seu fabrico, a partir de calhaus rola-
dos, perdurou entre 2,5 e 1,5 milhões de anos antes de darem lugar a novos
instrumentos. Em épocas muito mais próximas dos antes de darem lugar
a novos instrumentos. Em épocas muito mais próximas dos nossos dias,
já depois do Paleolítico, os picos ancorenses e os asturienses mostraram a
longa perduração deste recurso.
O modo como o homem utilizando o percutor faz saltar as lascas do núcleo,
determina os vários tipos de indústria.
7 Roche, Hèléne, Préhistoire de la Pierre taillé, Valbonne, 1980 ;
63
chopper-nucléus biface or chopping-tool, a cutting tool. This industry is
also known as Oldowan, since it was first identified in northern Tanza-
nia, in Oldaway. In Angola, I had the opportunity to study pebble tools,
tolls made out of rolled stones from which only three big converging
flints were taken, as to form an edge. The French archaeologist Hélène
Roche, who worked in Africa (1980) called them carved stones, a ge-
neric designation adopted whether the objects are simple or partially
modified by some cutting action. This designation includes all species
of carved stones, without prejudice of their integration in another clas-
sification. 7
The discoveries made in Koobi Fora, Kenya, have revealed that Homo
habilis carried the chopping tool with him, going through long distanc-
es. The advantage of these tools lays one the easiness of holding the
rounded and smooth basis, achieved by water’s action. The Homo habi-
lis lived during the Australopithecus’ period, which is another proof of
the longevity of these tolls. The manufacturing technique, from rolled
stones, endured between 2.5 and 1.5 million years before giving room
to new tools. In periods closer to our days, already after the Paleolithic,
the Ancorenses and the Asturian peaks show the long endurance of this
resource.
The different types of industry are determined by the way man drives
the flints out of the nucleus, by using the plunger.
The adze or cutting object found in Almeida’s Vale Fundo is inserted
within the ancient tradition kept during the Lower Paleolithic of reus-
ing rolled stoned to fabricate tools. This gogo was probably taken from
Côa River’s bed. According to the classification of Professor Lizuarte
Gomes, it is a corniana – hornsfels. It weighs 200 gr and is 6.6 cm long,
4.8 cm wide and 3.6 cm thick.
J. Chavaillon studied the cutting tools in northern Africa, carved in
rolled stones, which might be considered the predecessors of the adze
of Vale Fundo. The average length of the northern-African stone is
about 7.5 cm; the thichness 5 cm and the weight around 200 to 250 g.
This archaeologist considers it to be robust. The angle of the carved
 Enxó do Vale Fundo (Almeida). Trabalho num
calhau rolado. (Apontamento do Autor)

Work done in a rolled stone (drawing by the

Author)

A enxó ou objecto cortante no Vale Fundo de Almeida, insere-se na remo-
ta tradição mantida no Paleolítico inferior do aproveitamento dos calhaus
rolados para fabrico de instrumentos. Este gogo foi provavelmente retirado
do leito do rio Côa. Segundo a classificação do Prof. Eng.º. Lizuarte Go-
mes, trata-se de uma corniana. Pesa 200g. Tem de comprimento 6,6 cm;
largura 4,8 cm e espessura 3,6 cm.
J. Chavaillon estudou cortantes da África do Norte, talhados em calhaus
rolados, que podemos considerar antepassados da enxó de Vale Fundo. O
comprimento médio do calhau norte-africano anda à volta de 7,5 cm; a
espessura 5 cm e peso entre 200 a 250 g. Este arqueólogo considera-o um
instrumento robusto. O ângulo do bordo talhado está próximo dos 90 graus
pelo que lhe parece mais apto a esmagar do que a cortar.
Como vemos, há grandes analogias entre os valores médios dos calhaus ro-
lados norte-africanos e os valores deste que estudamos. Adapta-se perfeita-
mente à mão humana. Ao contrário do descrito por J. Chavaillon a enxó de
Almeida parece-me mais apta a cortar do que a esmagar. O gume, embora
grosseiro forma uma serrilha em linha articulada com 6 arestas cortantes.
Cada um desses elementos resultou de golpes precisos, parecendo-me ter
uma certa analogia com a técnica levaloisense integrada numa tradição
achaulense. Este calhau rolado mostra ter as faces, duas mais largas e uma
mais estreita que lhe serve de base. Recebeu dois ou três golpes para feitura
do gume. O trabalho principal foi realizado nas duas faces mais bastas. A
face que designamos por A (ver figura) apresenta quatro cortes. O mais
amplo segue desde o talão até ao início da curva do gume. O outro, for-
mando o primeiro ângulo do gume é acompanhado por um central, estreito,
ladeado por outro mais largo, em forma de escama, que corta a base. A face
B apresenta dois cortes largos, separados teoricamente pelo eixo e dois pe-
quenos, afeiçoando o gume. A face que serve de base e o talão não foram
afectados pelos cortes, mostrando a superfície plana e lisa da diáclase, que
serve de empunhadura adequando-se perfeitamente à mão do utilizador.
Os nossos vizinhos arqueólogos espanhóis vêem estudando o Paleolíti-
co inferior no Vale do Douro procurando um protagonista pelas indús-
trias líticas, especialmente dos testemunhos acheulenses.8 Consideram que os
seus fabricantes seriam arcantantos, homens arcaicos. Paralelamente e por
proximidade dado o carácter recolector e transumante do homem desse perío-
do, penso que será o mesmo antepassado que nos deixou a enxó de Vale Fundo.
O condicionalismo geográfico, regulamentado pelos glaciares e intergla-
ciares, especialmente pelo último, estimulou a capacidade artística e su-
persticiosa do Homo Sapiens, levando-o a gravar na rocha figuras dos ani-
mais, que se dissedentavam no rio Côa, testemunho que é Património da
Humanidade.
Há uns 11. 000 anos, a.C. o clima alterou-se para melhor com a recessão
do glaciar, provocando reflexos profundos na fauna e na flora e oferecendo
novos recursos naturais, que facilitaram a sedentarização do Homem. De
recolector transformou-se em agricultor e de caçador em pastor.
Homens do Neolítico e da Idade dos Metais
O período seguinte, o Neolítico, deu lugar ao aparecimento de aldeamentos
e núcleos urbanos ao longo de centúrias, mesmo de milhares de anos, com
8 Delibes, Germán ; Fernandez, Julio ; Romemo, Fernando ; Martin Valls, Ricardo – La Prehistória
del Valle de Duero, ed. Âmbito, 1985, cap.I;
edge is close to 90 degrees, reason why it seems fitter to smash rather
than to cut.
As we see, there are some great analogies between the average values of
northern-African and the values of the one being studied. It is perfectly
adapted to the human hand. As opposed to what was described by J. Cha-
vaillon, Almeida’s adze seems to be more fitted to cut than to smash. The
tip, although rude, forms a serrated surface in an articulate line with 6 cut-
ting edges. Each of these elements resulted in precise blows and it seems to
me that there is a certain analogy with the Levalloisense technique within
an Acheulean tradition. This rolled stone has three faces, two of which are
broader and a narrower that acts as its base. It received two or three blows
to make the tip. The main work was performed on the two broader faces.
The face called A (see image) presents four cuts. The broader one goes
from the end until the beginning of the tip’s curve. The other one, forming
the tip’s first angle is accompanied by a central, narrow one, followed on
the side by a wider one, shaped as a scale, which cuts the base. The B face
presents two wide cuts, theoretically separated by the axis and two small
blows, thus perfecting the tip. The face serving has the basis and the end
were not affected by the blows, showing the smooth and flat surface of the
joint, which serves as the handle, being perfectly adapted to the user.
Our neighboring Spanish archeologists have been studying the Lower
Paleolithic on Douro’s Valley searching for a star of lithic industries,
particularly of Acheulean testimonials. 8 They consider that their mak-
ers would be archaic men. In parallel and by proximity, given the forag-
ing and shepherding activities of the time, I think that this would indeed
be the antecessor who left behind the adze from Vale Fundo.
The geographical restraints, a consequence of glaciers and interglacial peri-
ods, particularly the last one, stimulated the Homo Sapiens’ artistic and su-
perstitious skills, which drove him to engrave animal figure on rock, which
were prolific in the river Côa, a witness that is World Heritage.
11,000 years ago BC the climate took a turn for the better with the gla-
cier’s recession, which caused deep consequences on fauna and flora and
offered new natural resources, which enabled Men to sedentarize. Instead
of forager, he became a farmer and instead of hunter he became a pastor.
Neolithic and New Stone Age Men
The following period, the Neolithic, broke way to the appearance of
settlements and urban nuclei throughout centuries, even millenniums,
with an intermediate space, the Epipaleolithic. Also, in the territory
holding Almeida some tools from this period were detected. Through-
out two millenniums, new activities were associated with agriculture
and shepherding, improving conditions of life though acculturations,
which progressed from East to West and from the Mediterranean South
to the Peninsular North. These changes arrived at Meseta, where they
have been studied, and also the territory of Almeida.
Around the 4th Millenium BC, metallurgy appeared on the Peninsula,
progressing more quickly than neolithization and, often, finding and
accompanying it, which originated mixed cultural shapes, or eneolithic
(simultaneous presence of metal and worked stone in axes polished at
the edge, called pedras de raio by the rural populations). During the 3rd
century BC, the predominance of metallurgy, during the Cooper Age,
um espaço intermédio, o Epipaleolítico. Também, na área territorial onde
se insere Almeida foram detectados instrumentos desse período. Ao longo
de mais de dois milénios, novas formas de actividade associaram-se à agri-
cultura e ao pastoreio, melhorando as condições de vida através de acultu-
rações, que progrediram de Levante para Poente e do Sul - Mediterrâneo
para o Norte peninsular. Estas alterações chegaram a Meseta, onde vêem
sendo estudadas, e também atingiram o território de Almeida.
Cerca do IV Milénio, a.C. , deu-se a introdução da metalurgia na Península,
progredindo mais rapidamente do que a neolitização e por vezes, encon-
trando-a e acompanhando-a dando lugar a formas culturais mistas, ou ene-
olíticas, (presença simultânea do metal e da pedra trabalhada em machados
polidos no gume, designados, pelo Povo rural, de pedras de raio). No séc.
III a.C., a predominância da metalurgia, no período Calcolitico, esteve na
origem do aparecimento de povoados edificados com preocupações defen-
sivas. Na Meseta e no vale do Côa, foram encontrados testemunhos arque-
ológicos dessa cultura, abrangendo, certamente, a área de Almeida, pelo
que urge efectuar as convenientes investigações arqueológicas.
Em concelhos próximos como Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo, Meda,
Trancoso, Sabugal, Vila Nova de Foz Côa foram descobertos testemunhos
do Bronze final e do Bronze Atlântico, os últimos datados entre 1250 a 750
a.C. (Espadas de Vilar Maior e de Castelo Bom).
Cattacobriga (Almeida)
Com segurança podemos afirmar que o povoamento no local onde se ergue
Almeida, ou nas imediações, data da idade do Ferro, isto é, do período de
La Tène, depois de 450 a.C. . As raízes de Almeida mergulham no castro
de Cattacobriga 9, cuja comunidade ou gens, etnicamente, estava ligada aos
Vetões (Vettones) , distribuídos pelo território de hoje faz parte da província
de Salamanca e se estendia para oriente a partir da margem direita do Côa.
9 Aguado Bleye, Préhistória, Tm I, Manual de História de Espanã, pág. 166, Madrid, 1967, ref.
Cidades de Los Vetones :Cattacobriga (Almeida);
originated the appearance of built settlements with defensive concerns.
At Meseta and Côa’s valley, that culture left archaeological vestiges,
certainly including Almeida, which urges us to perform the convenient
archeological research.
In nearby councils, such as Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo, Meda,
Trancoso, Sabugal, Vila Nova de Foz Côa featured testimonials from
the Later Bronze Age and from the Atlantic Bronze, the last dating be-
tween 1250 and 750 BC (Swords in Vilar Maior and Castelo Bom).
Cattacobriga (Almeida)
We are able to attest with certainty that the settlement located on the
place where Almeida is now located or on its surrounds dates back to
the Iron Age, that is, to the La Tène period, after 450 BC. Almeida’s
roots dive into Cattacobriga 9, whose community or gens, was ethni-
cally connected to the Vettones, distributed around the territory that
now comprised the province of Salamanca and that was extended to
the east from Côa’s right river bank. Cattacobriga’s people were kin of
the Coelerini tribe, who occupied Coelobriga, identified with Castelo
Calabre in the council of Vila Nova de Foz Côa, near Almendra. During
the Middle Age, it was the archdiocese in Calabria.
To the West, there were tribes of Lusitanos with fortified hills and hill
forts. The closer ones included: Longobriga, today Longroiva ; Me-
dobriga, Meda, Civitas Aravorum, Marialva … the most important
Vettones cities were Abela (Avila), Miróbriga, (Ciudad Rodrigo) and
Urunia, Urueña, in the province of Salamanca.
Carthaginians and Romans
In 220 BC, the Carthaginians, under Hannibal’s command, took an ex-
pedition against the tribes of Northern Meseta. They conquered Sal-

64 65
A gente de Cattacobriga era aparentada da tribo dos Coelerini, ocupantes de
Coelobriga, identificada com Castelo Calabre no concelho de Vila Nova de
Foz Côa, perto de Almendra. Na Idade Média foi sede da diocese de Calábria.
Para Ocidente havia tribos de Lusitanos com seus montes fortificados, os
castros. Entre os mais próximos estavam: Longobriga, hoje Longroiva ;
Medobriga, Meda, Civitas Aravorum, Marialva … As cidades vetónicas
mais importantes foram Abela (Ávila), Miróbriga, (Ciudad Rodrigo) e
Urunia, Urueña, na província de Salamanca.
Cartagineses e Romanos
Em 220 a.C. os Cartagineses sob o comando de Aníbal, fizeram uma ex-
pedição contra as tribos da Meseta Setentrional. Conquistaram Salmantica
(Salamanca) e no Douro médio, Arcobala (Zamora). Não sabemos as reper-
cussões que esta incursão teve sobre as comunidades ocidentais dos Vetões,
entre elas Cattacobriga (Almeida). Esta expedição processou-se no intervalo
da 1ª Guerra Púnica (264-241 a.C.) e a 2ª (218 a 204 a.C.). As Guerras Pú-
nicas trouxeram os Romanos á Península Ibérica. Os Lusitanos combateram
ao lado dos Cartagineses contra os Romanos. Participaram com Aníbal na
grande vitória da batalha de Cannas (2 de Agosto de 216 a.C.). Mais tarde,
Roma venceria Cartago e os soldados romanos pisariam, pela primeira vez,
o solo hispânico, no ano de 218, a.C., durante a 2ª Guerra Púnica. Os dese-
jos expansionistas dos Latinos, desencadearam reacções locais, entre elas as
guerras dos lusitanos, rematadas com a ímpia traição a Viriato (139 a.C.)
Seguiram-se as dos Celtiberos, evidenciando-se a Guerra no Mantina (151-
143 a.C.) que terminou com a queda de Numância. Também foi importante a
Guerra de Sertório (82 a.C.). Finalmente, processou-se a romanização, lenta
e gradual, mais rápida das regiões marítimas do sul e do levante e mais difícil
no interior da Lusitânia e Norte da Península. Os grandes instrumentos da ro-
manização foram a Administração, a difusão da Língua, o Latim, a conversão
a Religião, a adopção do Direito, recorrendo á abertura de vias e construção
de pontes para chegar aos lugares mais recônditos.
A população nativa continuou a recorrer ás divindades tradicionais (Dii
indigetes), mas adoptaram as romanas (dii novensiles). As divindades
tradicionais entre os Vetões eram representadas por estátuas zoomórficas
(touros e porcos conhecidos por verracos), possivelmente protectoras dos
gados e ligadas aos caminhos do pastoreio. Não distante de Almeida, em
Almofala, Castelo Mendo e Ciudad Rodrigo persistem esses testemunhos.
Entre os Lusitanos o culto sobreviveu em topónimos como Porco (Aldeia
Viçosa), Porcas (Vale de Estrela), Vila do Touro. Testemunham-se na ins-
crição do Cabeço das Fráguas (Guarda), evocativo da forma do sacrifício
então frequente, chamado suovetaurília, imolação de uma ovelha, às vezes
acompanhada por um cordeirinho, o porco e o touro 10. Aparecem teónimos
tribais romanizados gravados em aras, que mostram proceder de dialectos
de um tronco comum Indo-europeu. Normalmente são de difícil tradução,
como o de um altar votivo ao Deus Banda Brialeacus, descoberto entre a
Guarda e Almeida, no castro dos Castelos Velhos. 11
Na região de Riba Côa, onde se insereAlmeida, são abundantes os testemunhos
da presença romana, sendo um dos mais expressivos, o templo de Almofala.
10 Rodrigues, Adrião Vasco – Os Lusitanos, ed. Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1998;
11 José d’Encarnação e Adriano Vasco Rodrigues – Altar votivo a Banda Brialeacus, in ver. Praça
Velha, 2009;
mantica (Salamanca) and Arcobala (Zamora) on the Middle Douro. We
are unaware of the repercussions this incursion had on Vettones’ west-
ern communities, among them Cattacobriga (Almeida). This expedi-
tion happened during the interval between the 1st (264-241 a.C.) and
the 2nd (218 a 204 a.C.) Punic Wars. These Wars brought the Romans
to the Iberian Peninsula. The Lusitanians fought with the Carthaginians
against the Romans. They participated with Hannibal on the Great vic-
tory of the battle of Cannas (2nd August 216 BC). Later, Rome would
beat Carthago and the Roman soldiers would put their feet for the first
time on the grounds of Hispania, on 218 BC, during the 2nd Punic War.
The Latin desire for expansion triggered local reactions, among which
the Lusitanian War that culminated on the unrighteous treason of Viria-
to (139 a.C.). The one from the Celtiberians followed, being important
the war at Mantina (151-143 BC) which end with the capitulation of
Numantia. Quintus Sertorius’ War was also important (82 BC). Finally,
the Romanization process took place, slowly and gradually, faster on
southern and eastern coastal regions and harder on the interior of Lusi-
tania and Northern Peninsula. The great instruments of Romanization
were the Administration, the diffusion of language, the Latin, conver-
sion to religion, the adoption of Law, using the opening of roads and the
building of bridges to reach the most hidden places.
The native population continued to use traditional divinities (Dii in-
digetes) but roman Gods were also adopted. Traditional gods, among
the Vetones, were represented by zoomorphic statues (bulls and pigs,
known as verracos), possibly protecting cattle and linked to shepherd-
ing. Nor very far away from Almeida, in Almofala, Castelo Mendo and
Ciudad Rodrigo these testimonials still endure. Among the Lusitanina,
the cult survived on toponymy as Pig (Vila Viçosa), Pigs (Vale de Es-
trela), Ox village. They can be found on the inscription on Cabeço das
Fraguas (Guarda), remanescent of the frequent sacrifice, at the time,
called suovetaurília, the immolation of a sheep, sometimes accompa-
nied by a lamp, the pig and the bull 10. Some Romanized tribal gods
were engraved into altars, which show to be provienient from a com-
mon Indo-European base. Normally, these are very difficult to translate,
as the case of an altar in honor of the God Banda Brialeacus, discovered
between Guarda and Almeida, on the fort hill in Castelos Velhos. 11
On the Riba Côa’s region, where Almeida is inserted, these testimonials
of Roman presence are abundant, being that one of the most expressive
is the temple of Almofala.
The arrival of Christianity. The Goths
During the Roman Empire, Christianity entered the Iberian Peninsula.
The conversions were accentuated during the 4th century onwards with
the evangelization moving from the south towards the interior and up
north. We do not know exactly when the evangelization occurs in Al-
meida. We cannot disassociate it from the arrival of the Germans dur-
ing the Great evasions. Mainly during the 6th century, along with the
organization of the Visigoth State and the triumph of Christianity with
King Reccared I (586-601) and the conversion of Goths after the First
Council of Nicaea, the Catholic Visigoth Kingdom was born (589-711).
The Government of Lusitania was given, by Reccared, to Claudius,
66
A chegada do Cristianismo. Os Godos
Foi durante o domínio romano que o Cristianismo fez a sua entrada na Pe-
nínsula Ibérica. As conversões acentuaram-se a partir do séc. IV com avan-
ços da evangelização para o interior e Norte, a partir do Sul da Hispânia.
Não sabemos rigorosamente a data em que se processou a evangelização
em terras de Almeida. Não a dissociamos da chegada dos Germanos no
período das grandes evasões. Foi principalmente já no séc. VI com a orga-
nização do Estado visigótico e triunfo do catolicismo com o Rei Recaredo
(586-601) e consequente conversão dos godos a fé do Concílio de Niceia,
que nasceu o Reino Visigótico Católico (589-711). O Governo da Lusitâ-
nia foi confiado, por Recaredo, a Cláudio, filho de pais romanos. Venceu
os arianos em Mérida (588) e protegeu a evangelização no território que
superintendia. A influência dos Visigodos foi muito importante e contribuiu
para a formação do Estado hispano-godo, com reflexos no nascimento dos
Reinos de Leão, Castela e Portugal. 12
Nesta sociedade e no território centrado na Meseta, alem dos naturais ou his-
pano -romanizados havia os germanos. Chegaram à Península influenciados
pela cultura romana. Havia também Judeus. A Igreja Católica adoptou a or-
ganização administrativa romana em dioceses. Segundo Estrabão estas eram
distritos territoriais em que nos começos do Império romano estava dividida
a Hispania Citerior. A Lusitânia foi subdividiva em conventus .
Depois do Rei visigodo Recesvinto as sedes dos bispados da Lusitânia repar-
tiram-se por 13 cidades dependentes de Emérita (Mérida) que era a metropo-
litana. As outras eram Ábela (Ávila), Beseo (Viseu), Caliabria (Monte Cala-
bre – Vila Nova de Foz Côa), Cauria (Coria), Conímbriga (perto de Coim-
bra) Ébora (Évora), Egitania ( Idanha-a-Velha), Lameco (Lamego), Olisipo-
ne (Lisboa), Ossonoba (Faro), Pax Ivlia (Beja) e Salmantica (Salamanca).
O territorium de Almeida, na primitiva cristianização, integrava-se no bis-
pado de Caliabria , (ainda hoje existe o titulo honorifico de Bispo de Calá-
bria). Embora não restem edifícios paleo-cristãos, ou visigóticos neste terri-
tório, dispomos de necrópoles cristãs, testemunhadas por vários tipos de se-
pulturas escavadas da rocha, desde as rectangulares até às antropomórficas
do séc. XI a XIII. Além dos testemunhos referidos os visigodos deixaram
numerosos termos na língua portuguesa (luva, estaca, alto com sentido de
parar, fato, goma, roubar, sortes, rotear, etc, etc, etc.) e também topónimos
(Guarda) e antropónimos, entre outros Roderiks (Rodrigues). Incrementa-
ram a ganadaria com grandes rebanhos de gado lanígero, vacum e porcino.
Estimularam a repartição de baldios e de sortes. O Conselho Rural Visigó-
tico ocupava-se dos problemas agrários e pecuários. È possível que na área
de Cattacobriga tivessem prevalecido as três variantes da pecuária.
Os Muçulmanos e a Reconquista
A civilização hispano-gótica viria a debater-se com a ocupação muçulmana
na quase totalidade do território peninsular. A guerra civil que eclodiu entre
os visigodos no reinado de Rodrigo trouxe à península os muçulmanos, que
entraram como aliados do partido oposto a Rodrigo, derrotado em Julho de
711, na batalha de Janda. As tropas muçulmanas eram essencialmente co-
mandadas por berberes, sendo muito limitado o número de árabes. Em 712,
Muza Ben Nusair, representante do Califa, entrou na Península com cerca
12 Sánchez Albornoz, Cláudio – España, un enigma histórico;
67
son of Roman parents. He beat the Arians in Mérida (588) and protects
evangelization on the territory ruled by him. The influence of Visigoths
was highly important and contributed for the formation of the Hispanic-
Goth State, which had consequences on the birth of León, Castile and
Portugal. 12
On this society and on the territory around Meseta, apart from the locals
or Hispanic-Romanized, we are able to find the Germans. They came
to the Peninsula influenced by the Roman culture. There were also the
Jews. Catholic Church adopted the Roman administrative organization
in its bishoprics. According to Strabo, these were the territory districts
which divided, at the beginning of the Roman Empire, Hispania Cite-
rior. Lusitania was subdivided into conventus.
After Recceswinth, a Visigoth king, Lusitania’s bishoprics were divid-
ed into 13 cities depending of Emérita (Mérida), the metropolis. Others
included: Ábela (Ávila), Beseo (Viseu), Caliabria (Monte Calabre –
Vila Nova de Foz Côa), Cauria (Coria), Conímbriga (perto de Coim-
bra) Ébora (Évora), Egitania (Idanha –a- Velha), Lameco (Lamego),
Olisipone (Lisboa), Ossonoba (Faro), Pax Ivlia (Beja) and Salmantica
(Salamanca).
Almeida’s territorium, during the primitive Christianization, was in-
tegrated into the bishopric of Caliabria (which still holds today the
honorific title of Calabria’s Bishop). Although there aren’t any Paleo-
Christian or Visigoths buildings left on this territory, we have Christian
necropolis, witnessed by several types of tombs excavated the rock, go-
ing from square-shaped to the anthropomorphic ones of the 11th and 13th
centuries. XI-XIII. Apart from these testimonials, Visigoths left many
terms in Portuguese (luva, estaca, alto com sentido de parar, fato, goma,
roubar, sortes, rotear, etc, etc, etc...) and also some toponyms (Guarda)
and family names such as Roderiks (Rodrigues). They increased cattle
production with large herds of cattle, pigs and cows. They stimulated
the breakdown of communities and lots. The Rural Visigoth Council
dealt with agricultural and livestock problems. It is possible that, in
Cattacobriga, the three variants of husbandry prevailed.
Muslims and the Reconquista
The Hispanic-Gothic civilization would have to make front against the
Muslim occupation in almost all the peninsular territory. The Civil War
beetween the Visigoths in the Rodrigo Kingdom, brought the Muslims
to the Peninsula, coming as allied of the Rodrigo opposite party, and
this King was defeated in 711, at the Janda Battle. The Muslim troops
were essentially comanded by Berbers, and the number of Arabs was
very diminished.
In 712, Muza Ben Nusair, representing the Caliph, entered the Peninsula with
10 thousand soldiers with the intent to conquest it, easily capitulating some
cities and encountering strong resistance only in Seville and Merida. In 713,
the winner, Musa, accompanied by Tarik advanced towards North, violently
skirmishing, not very far from Almeida with the Visigoth army, defeated on
Penha da França Mountain Range. The Muslim military advances carried out
a vast occupation, to which they called al – Andaluz. A son of Musa was made
Governor. The invading forces did not return to Africa and settled on Spain.
The Hispanic-Visigoth took refuge on Asturias, from where the Reconquista
de 10 mil soldados com intento de a conquistar, penetrando facilmente em
algumas cidades e deparando, apenas, com forte resistência em Sevilha e
Mérida. Em 713, Musa vencedor, acompanhado de Tarik avançaram para
Norte, vindo a travar, não longe de Almeida, um violento combate con-
tra o exército visigótico, derrotado na Serra da Penha da França. Os avan-
ços militares muçulmanos prosseguiram com uma vasta ocupação, a que
chamaram al - Andaluz . Ficou como Governador um filho de Musa. Os
soldados invasores não regressaram a África, fixando-se em Espanha. Os
hispano-visigodos livres refugiaram-se nas Astúrias de onde se lançaram
na Reconquista, que durou 781 anos, terminando com a conquista do Reino
de Granada. Esta luta acompanhou as variações do Governo muçulmano,
desde o Emirato dependente, com a Espanha anexada a Marrocos, até ao
Emirato independente, ao Califado de Córdova e ao seu fraccionamento
no século XI nos Reinos de Taifas, governadas pelos mais importantes
Príncipes da estripe árabe. Desta repartição beneficiou a reconquista. Antes
deste fraccionamento, Afonso III, O Magno, Rei das Astúrias, aproveitou
o enfraquecimento dos muçulmanos para fixar a fronteira crista no vale do
Douro e construir castelos na parte oriental na fronteira, dando origem a
Castela. A fronteira inferior do al-Andaluz (Norte e Noroeste) no período
do Califado, até ao séc. X, acompanhava a margem esquerda do vale do
Douro, de Zamorra até à Foz, no Atlântico. Durante uns 300 anos, do séc.
VIII ao XI as populações que residiam no espaço correspondente ao distrito
da Guarda, estiveram sob o domínio muçulmano. No período do Reino das
Taifas dependeram de Badajoz. Este domínio muçulmano ficou marcado
por importantes aculturações, reforçadas com o repovoamento na sequên-
cia da Reconquista feito com moçárabes, isto é, de cristãos que tinham vivi-
do sob domínio muçulmano. Esse convívio reflectiu-se no enriquecimento
da Língua Portuguesa e Castelhana com a entrada de centenas e centenas
de vocábulos. Além da alteração dos costumes, alterou-se a toponímia. O
nome de Cattacobriga foi substituído pelo de Almeida (al-Meda) com o
significado de Mesa 13. Certamente, em razão da implantação topográfica,
se deu a designação de Planalto das Mesas àquele onde se levantou a Vila.
A islamização foi mais intensa do que se supõem como se comprova pela
toponímia, de que citamos alguns exemplos a Norte e a Sul de Almeida:
Almendra, Algodres, Marofa (Mar-Araf = que indica o caminho), Atalaia,
Almofala, Mesquitela, Aldeia (del Obispo), Alfarazes (Guarda), Alfaiates,
Bismula (inicio da principal oração islâmica, evocando o nome de Alá) etc.
No vocabulário: acepipes, açougue, açucena, alcofa, álcool, aldeia, alface,
alfarrábio, álgebra, arrabalde, azeite, azeitona, azémola, azulejo, baldio,
javali, mesquinho, oxalá, refém, etc., etc.
As aculturações e sua intensificação dependeram das várias entradas mu-
çulmanas na Península e dos grupos que as integraram. Na segunda meta-
de do séc. XI os Almorávidas (al-morabetin), tribos berberes fanatizadas,
cujo nome quer dizer Consagrado a Deus, desencadearam encarniçada luta
contra os cristãos, distinguindo-se, na defesa, o Rei de Leão, Afonso VI,
avô de Afonso Henriques. D. Afonso VI bateu-se contra os Almorávidas na
batalha de Zalaca, onde sofreu revés (1086).
13 Obs: Carecemos de sondagens arqueológicas para comprovar o local ou locais do primitivo acento
de Almeida. Recentemente, em 2007, sob orientação da Arqueólogo André Teixeira, da Universidade
Nova de Lisboa, foram feitas sondagens no local do Castelo, identificando um extracto medieval. Há que
prosseguir com estes trabalhos, inclusive no Enchido da Sarça (Vide Ceama, nº 2, 2008, pág. 44 e seg);
We need archaeological comprovation of the site or sites of the first settlement of Almeida. Recently, in
2007, under the direction of the Archaeologist André Teixeira, from Universidade Nova de Lisboa, some
escavations were done in the Castle zone, and it was identified a medieval level. Works must go one,
including in the place of Enchido da Sarça (see Ceama, nº 2, 2008, pág. 44).
was launched, which lasted 781 years and ended in the conquest on Granada
Kingdom. This fight accompanied the variations on the Muslim government,
starting on the dependent Emirate, with Spain being annexed to Morocco,
passing from an independent Emirate, until the Cordova’s Caliphate and its
division on the 11th century in Taifas’ Kingdoms, governed by the most im-
portant Princes of Arabic kin. This partition benefited the Reconquista. Be-
fore this partition, Alfonso III, the Great, King of Asturias, took advantage of
Muslims to set the Christian border on Douro’s valley and to build castles on
the eastern part of the border, giving birth to Castile. The lower frontier of the
al-Andaluz (North and Northwest) during the Caliphate, until the 10th centu-
ry, followed the left bank of Douro, from Zamorra to Foz, in the Atlantic. For
300 years, from the 8th to the 11th century, the people residing within the space
corresponding to Guarda were under Muslim rule. During the period of the
Taifas’ Kingdom they were dependent of Badajoz. This Muslim rule resulted
in great acculturations, reinforced with the restocking after the Mozarabic
Reconquista, that is, performed by Christians who had lived under Muslim
influence. This interaction was reflected in the enrichment of Portuguese and
Spanish languages with the entry of hundreds and hundreds of words. Apart
from the change of habits, toponymy was changed. The name Cattacobriga
was replaced for Almeida (al-Meda), which means Table 13. Certainly, be-
cause of the topographic deployment, the name Plateau of Tables was given
to the place originating the Village. The Islamization was more intense than
one could assume, as proved by toponymy, which has some examples to
the North and South of Almeida: Almendra, Algodres, Marofa (Mar-Araf =
which leads the way), Atalaia, Almofala, Mesquitela, Aldeia (del Obispo),
Alfarazes (Guarda), Alfaiates, Bismula (the beginning of the main Islamic
prayer, evoking Allah), etc. on the vocabulary, many words were also left,
particularly those with the prefix al-.
The acculturations and its intensification depended on the various Mus-
lim entries on the Peninsula and the Muslim groups that joined them.
During the second half of the 11th century, the Almoravids (al-morabe-
tin), fundamentalist Berbers tribes, whose name means Consecrated to
God, triggered a bloody fight against the Christians, being that King
of Leon, Afonso VI, grandfather of Afonso Henriques, was very much
highlighted in the defence. D. Alfonso VI fought in the battle against
the Almoravids of Zalaca, where he suffered setback (1086).
Corruption and immorality disorganized and weakened the Almoravids,
whose empire was destroyed by a revolution of fanatics in the Moroccan
Atlas, under the orders of Muhamed ben Tumart, who said he was the
Mahdi announced by the Prophet. The insurgents adopted the name of
Muvah-hidún, al-mohades, or Unitarian. They attacked the Almoravids
(1121). While Kingdom of Portugal was being born, D. Afonso Hen-
riques, the Conqueror, earns a place of reference, who fought against
the Almohadas freeing cities and occupied territories. The eastern bor-
der of the Kingdom of Portugal, with Lion, remained undefined despite
the incursions of D. Afonso Henriques and his son, Prince D. Sancho
to win Ciudad Rodrigo. The Spanish and Leonean called the limits of
Western Estremaduras or borders of Portugal. The Treaty of Alcañices
regulated the lands of Riba Côa.
The Almohada threat forced the Christian Kingdoms to become united,
causing a great defeat during the Navas de Tolosa battle (1212), defi-
nitely stopping the Muslim expansion on the Peninsula. Portugal took
part on this battle.
68
A corrupção e a imoralidade administrativa desorganizaram e enfraque-
ceram os Almoravidas, cujo Império foi aniquilado por uma revolução de
fanáticos no Atlas Marroquino, obedecendo as ordens de Muhamed ben
Tumart, que dizia ser o Mahdi anunciado pelo Profeta. Os revoltosos adop-
taram um nome de Muvah-hidún, al-mohades, ou unitários. Atacaram os
Almoravidas (1121). Entretanto nascia o Reino de Portugal, distinguindo-
se D. Afonso Henriques, o Conquistador, que lutou contra os Almohadas
libertando cidades e território ocupado. A fronteira leste do Reino de Por-
tugal com o de Leão manteve-se indefinida não obstante as incursões de
D. Afonso Henriques e seu filho, o Príncipe D. Sancho, para conquistarem
Ciudad Rodrigo. Os Castelhanos e Leoneses chamavam aos limites Estre-
maduras Ocidentais, ou fronteiras de Portugal. Só pelo Tratado de Alcani-
ces as terras de Riba Côa seriam regulamentadas.
A ameaça almohada levou os Reinos Cristãos a unirem-se, infringindo uma
grande derrota na batalha de Navas de Tolosa (1212), travando definitivamen-
te a expansão muçulmana da Península. Portugal participou nesta batalha.
Leão, Castela e Portugal
Entretanto dava-se a união definitiva de Leão e Castela, no reinado de Fer-
nando III, depois de 1230. Os Portugueses, em 1249, conquistaram Faro,
afastando a ameaça muçulmana do território nacional.
A indefinição do direito de soberania portuguesa sobre a margem direita
do Côa ficou a dever-se ao próprio rio, tomado como fronteira natural, e
ao facto de, desde D. Afonso Henriques, a defesa e guarda daquela região
ter sido confiada à Ordem dos militares Templários e dos Cavaleiros de S.
Julião do Pereiro, respeitados pelos dois reinos, o de Portugal e o de Leão.
Quando D. Afonso Henriques para travar o expansionismo leonês procurou
destruir o recém construído castelo de Ciudad Rodrigo, os Cavaleiros Tem-
plários recusaram-se a acompanha-lo pois o Rei de Portugal tinha incorpo-
rado no seu exército cavaleiros muçulmanos. O argumento dos Templários
foi não combater cristãos ao lado de muçulmanos 14.
A partir do séc. X as terras reconquistadas foram povoadas, dando origem a
vilas e concelhos, garantindo direitos e privilégios aos moradores mediante
uma carta de foral, que substituiu as behetrias ou benefactorias, isto é, a
encomendatio ou encomendação de pessoas e bens sob a protecção de um
Senhor ou Mosteiro, instituição existente a Norte do Douro, no Condado
Portucalense e na Galiza.
Com o aparecimento das vilas mediavas ganhou importância o Município,
cuja idade de ouro decorre do séc. XII ao XV.
A confirmação da integração de Almeida no Reino de Portugal, foi prece-
dida de foral atribuído por D. Dinis, em 8 de Novembro de 1296, um ano
antes da celebração do Tratado de Alcanices (12 Set. 1297). Apresentamos
o referido Foral, mantendo a grafia da época.
Foral de D. Dinis
«En nome de deus Ámen. Saibbam quantos | esta carta virem que eu
Don Denis pela graça de deus | Rey de Portugal e do Algarve emsenbra
com minha molher a Raynha donna Isabel e com meus filhos Infa | te
14 Sánchez Cabanas – História Civitatense, pág.176, ed. Diocesis, Ciudad Rodrigo;
69
Leon, Castile and Portugal
Meanwhile, Leon and Castile became a definitive united kingdom, dur-
ing Fernando III reign, after 1230. The Portuguese, in 1249, conquered
Faro, keeping the Muslim threat away for national territory.
The vagueness of the right of Portuguese sovereignty over the right
edge of Côa was due to the river, taken as a natural boundary, and the
fact that, since D. Afonso Henriques’ time, the defense and guard of that
region have been entrusted to the Military Order of the Knights Templar
and the Knights of St. Julião do Pereiro, respected by both kingdoms,
Portugal and Leon. When D. Afonso Henriques, to halt the expansion
of Leon, tried to destroy the newly built castle in Ciudad Rodrigo, the
Knights Templars refused to accompany him, because the King of Por-
tugal had incorporated into his army Muslims knights. The argument of
the Templars was that they would not fight Christians alongside Mus-
lims 14.
From the tenth century onwards, the reconquered lands were popu-
lated, originating villages and councils, guaranteeing rights and
privileges to residents according to the issuance of a charter let-
ter, which replaced the behetrias or benefactorias, i.e., the enco-
mendatio or recommendation of people and property under the
protection of a Lord or Monastery, an institution existing to the
north of the Douro, in the Portucalense County and in Galicia.
With the appearance of the medieval villages, the City became quite
important, experiencing a golden age from the 12th to the 15th century.
The Confirmation of the integration of Almeida into Portugal was pre-
ceded by a charter granted by King Dinis, 8th November 1296, a year
before the conclusion of the Treaty of Alcañices (12th Sept. 1297).
The Charter (Foral) by King Dinis
«En nome de deus Ámen. Saibbam quantos | esta carta virem que eu
Don Denis pela graça de deus | Rey de Portugal e do Algarve emsenbra
com minha molher a Raynha donna Isabel e com meus filhos Infa | te
dom Afonso e donna Constança dou i outorgo | a vos concelho e pobra-
dores da minha villa de Almeyda e de seu termo asy aos presentes como
| aos que am de viir todos os vossos foros usos e cos | tumes comprida-
mente pera todo sempre assi como os me | lhor sempre ouvestes. Outro
sy vos outorgo | e prometo que nunca eessa vila e castelo de almey | da
com todas sas aldeyas e termho nem leyxe a Infante | nem a rico homem
nem a outra nenhua pessoa toda nem parte | dela. mays que fique e seia meu
e dos Reys que de pos | mim veerem e que reinarem no reyno de Portugal
E nem | huum nom seia ousado dos meus propreos nem dos stran | hos que
contra os vossos foros nem contra este meu outorga | mento queiram viir
mays valham e tenham pera todo sempre | asy como melhor poderem valer e
teer. E dou been | çom a todos meus sucessores que de pos mjm veerem que |
os vossos foros e esta minha outorgaçom a guarda | rem e aqueles que contra
eles veerem seiam malditos a aiam | a ira de deus. E por tal que esto mays
valha e tenham | pera sempre dou a vos esta minha carta seelada da minha |
bola de chumbo que tenhades em testemuynho. Data em | Trancoso oyto dias
de Novembro. El rey o mandou | Era de mil trezentos trjnta e quatro anos
Infante dom Afonso dom martim Gil alferes dom | joam affonsso dalborquer-

dom Afonso e donna Constança dou i outorgo | a vos concelho e pobra-
dores da minha villa de Almeyda e de seu termo asy aos presentes como
| aos que am de viir todos os vossos foros usos e cos | tumes comprida-
mente pera todo sempre assi como os me | lhor sempre ouvestes. Outro
sy vos outorgo | e prometo que nunca eessa vila e castelo de almey | da
com todas sas aldeyas e termho nem leyxe a Infante | nem a rico homem
nem a outra nenhua pessoa toda nem parte | dela. mays que fique e seia meu
e dos Reys que de pos | mim veerem e que reinarem no reyno de Portugal
E nem | huum nom seia ousado dos meus propreos nem dos stran | hos que
contra os vossos foros nem contra este meu outorga | mento queiram viir
mays valham e tenham pera todo sempre | asy como melhor poderem valer e
teer. E dou been | çom a todos meus sucessores que de pos mjm veerem que |
os vossos foros e esta minha outorgaçom a guarda | rem e aqueles que contra
eles veerem seiam malditos a aiam | a ira de deus. E por tal que esto mays
valha e tenham | pera sempre dou a vos esta minha carta seelada da minha |
bola de chumbo que tenhades em testemuynho. Data em | Trancoso oyto dias
de Novembro. El rey o mandou | Era de mil trezentos trjnta e quatro anos
Infante dom Afonso dom martim Gil alferes dom | joam affonsso dalborquer-
que dom Joam fernandez de limha | dom Joam rodriguez de bryteyros dom
fernam perez de | Barvosa dom Lourenço Soarez de Valadares dom | Pedro
eanes dom Joam Meendiz de Bryteyros confere | Joam symhom Duram mar-
tijz moordomo Sil | vestre migeez sobreioiz Pedro Afonsso | rribeyro.
dom Martinho o arcebispo de Braga Dom | Oane Bispo de Lixboa. a Eglesia
de Coynbra | que esta vagante dom Pedro Bispo de Evora | dom Sancho
Bispo do Porto dom Egas Bis | po de Vyseu dom Vaasco Elleyto de Lamego
| dom ffrey Joam Bispo da Guarda dom frey Domiingo Bispo de Silves dom
IAN/TT, Chancelaria de D. Diniz, Lº. 2, fl.124,
129vº. “Carta de foral doada por El Rei D. Dinis
no dia 8 de Novembro de 1296, na vila de
Trancoso” a Almeida.
que dom Joam fernandez de limha | dom Joam rodriguez de bryteyros dom
fernam perez de | Barvosa dom Lourenço Soarez de Valadares dom | Pedro
eanes dom Joam Meendiz de Bryteyros confere | Joam symhom Duram mar-
tijz moordomo Sil | vestre migeez sobreioiz Pedro Afonsso | rribeyro.
dom Martinho o arcebispo de Braga Dom | Oane Bispo de Lixboa. a Egle-
sia de Coynbra | que esta vagante dom Pedro Bispo de Evora | dom Sancho
Bispo do Porto dom Egas Bis | po de Vyseu dom Vaasco Elleyto de Lamego
| dom ffrey Joam Bispo da Guarda dom frey Domiingo Bispo de Silves dom
Stevam Eanes o chaçe | ler Gyral dominguez dayam de Bragaa | Paay do-
mingues dayam de Evora João Perez dalpram Eu Domingos perez scrivam
dachan | çelaria o screvy |. » 15
The Treaty of Alcañices
The Lands of Riba Côa are located in a region which is geologically and
historically one of the oldest in Portugal, rich in archeology. In the Lusi-
tanian period, it was a region of transition, marked by the transhumant
activity of shepherds warriors in their way to Hispania Baetica, during
the Winter, or to Douro, and in their return, to the Montes Hermínio,
during the calm periods. Lusitanian tribes known as Transcudanos,
from the etymon Cua (COA), in its Latin form, used to live here. Their
neighbours were the Lusitanian Lancienses, which occupied the region
of Guarda, the Aravis, who lived on the territory of current Marialva,
the Medobrigenses in the plateau in the Meda and the Longobrigenses
on the slopes of the Longroiva’s Graben in western confines of Meseta.
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Stevam Eanes o chaçe | ler Gyral dominguez dayam de Bragaa | Paay do-
mingues dayam de Evora João Perez dalpram Eu Domingos perez scrivam
dachan | çelaria o screvy |. » 15
O Tratado de Alcanices
As Terras de Riba Côa situam-se numa região geológica e historica-
mente das mais antigas de Portugal, arqueologicamente rica. No pe-
ríodo lusitano foi uma região de passagem, marcada pela actividade
transumante dos guerreiros-pastores na sua ida para a Bética, durante as
inverneiras, ou para o Douro, e, no seu regresso, aos Montes Hermínios,
nas épocas calmosas, ou das Brandas. Ali viviam tribos lusitanas conhe-
cidas por Transcudanos, do étimo Cua (Côa), na sua forma alatinada.
Tinham por vizinhos os Lusitanos Lancienses, que ocupavam a região
da Guarda, os Áravos, que viviam nas terras da actual Marialva, os
Medobrigenses no planalto da Meda e os Longobrigenses nas encostas
do graben de Longroiva, nos confins ocidentais da Meseta. Para o inte-
rior desta espalhavam-se povos pastores aparentados com os Lusitanos
que chegavam um pouco além de Salamanca, conhecidos por Vetones
(Vetões), nos quais se integrava Cattacobriga (Almeida). As divindades
de uns eram praticamente as divindades dos outros e do nome dos seus
deuses e das fontes salutíferas ou termais nasceram alguns dos topóni-
mos das vilas e aldeias de Riba Côa.
O mesmo podemos dizer dos deuses dos seus montes e montanhas.
Atrás abordamos já a pré-história, pelo que vou apenas reflectir sobre a
incorporação deste território nos limites de Portugal, em consequência do
Tratado de Alcanices (1297) e procurar as razões desse acontecimento his-
tórico. Incluiremos um inventário sucinto das Terras de Riba Côa, que eram
também conhecidas por Bispado Novo, nos séculos XVIII e XIX. 16
Em meu entender a incorporação dos territórios de Riba Côa corresponde a
uma razão histórica com base nos direitos de trânsito dos gados, que tinham
origem lusitana, direitos esses que foram retomados no plano da Recon-
quista portuguesa, estabelecido em tempos de Afonso Henriques. Tradi-
cionalmente aqueles territórios deviam pertencer-nos. O trânsito de gados
foi uma das causas da guerra viriática, no período romano, no visigótico,
durante o domínio muçulmano e no período da Reconquista. 17
A região de Riba Côa era um espaço de trânsito. Esse direito de pas-
sagem não pode ser negado. Existe referido nos fueros de Alfaiates,
anterior à incorporação portuguesa e foi uma das razões da Batalha de
Navas de Tolosa, que serviu para garantir o direito de pasto dos reba-
nhos cristãos na bacia do Guadiana.
Segundo alguns autores, a ocupação de Riba Côa resultaria apenas de uma
compensação exigida por D. Dinis, para um empreendimento militar falha-
do, inserido num processo dinástico Leonês-castelhano. O Tratato de Alca-
nices foi celebrado em 12 de Setembro de 1292 na povoação deste nome,
no reino leonês. Desse tratado multiplicaram-se as cópias, ou as citações,
desde que foi feita a sua leitura paleográfica pelo Visconde de Santarém.
Historiadores, como Francisco Brandão e Alexandre Herculano, não têm a
mesma opinião sobre o Tratado.
15 A.N.T.T., Chancelaria D. Pedro I, Livro I, Fls. 17. v.º e Idem, Chancelaria de D. Diniz, L.º 2 Fl. 129. v.º;
16 op. cit (anterior);
17 Azevedo, D. Joaquim de – História Eclesiástica da Cidade de Lamego;
71
Going towards the interior, we could find shepherd people, related to the
Lusitanians, who arrived further from Salamanca, known as Vetones,
which included Cattacobriga (Almeida). The gods were practically the
same and the name of their gods and their thermal fountains were be-
hind some of the names of the villages and hamlets of Riba Côa.
The same goes for the names of gods and of their hills and mountains.
Behind, we already approached pre-history, so I will only consider the
incorporation of this territory within the limits of Portugal as a result
of the Treaty of Alcañices (1297) and to seek the reasons for this his-
toric event. We will include a brief inventory of the lands of Riba Côa,
which were also known as New Bishopric, during the eighteenth and
nineteenth centuries. 16
In my view, incorporating the territories of Riba Côa corresponds to an
historic reason on the grounds of cattle circulation rights, on the historical
rights of transit of cattle, which were reused within the plan of Portuguese
Reconquista, established during Afonso Henriques’ times. Traditionally
these territories should belong to us. The movement of livestock was one
of the causes from Viriato’s War, during the Roman period, the Visigoth,
during the Muslim rule and during the Reconquista. 17
The region of Riba Côa was a place of movement. This right of passage
cannot be denied. It exists on the fueros of Alfaiate, prior to Portuguese
integration and was one reason for the Battle of Navas de Tolosa, which
served to guarantee the right of grazing of Christian herds in Guadi-
ana’s basin.
According to some authors, the occupation of Riba Côa would result of
a mere compensation demanded by D. Dinis, a failed military venture,
within a dynastic Leonese-Spanish process. The Treaty of Alcañices
was concluded on 12th September 1292, in the homologous village, in
the kingdom of Leon. Several copies and quotes were made from the
treaty, since its paleographical reading was performed by Viscount of
Santarém.
Historians such as Francis and Brandão Alexandre Herculano, do not
have the same opinion on the Treaty.
In this document is stated that (…) Outro sim, eu, El-Rey D. Fernando
entendendo e conhecendo que vós haveis direito em alguns lugares dos
castelos e vilas de Sabugal e de Alfaiates e de Castelo Rodrigo e de Vilar
Maior e de Castelo Bom e de Almeida e de Castelo Melhor e de Monforte
e dos outros lugares de Riba Côa, que vós Reis D. Dinis tendes agora em
vossa mão e porque vos apartais do direito que havíeis em Valência e em
ferreira e em o Esparregal, que agora tem a Ordem de Alcântara na sua
mão e que havíeis em Ayamonte e em outros lugares, etc. (…)». E mais
adiante, no mesmo Tratado se diz que El-Rey D. Dinis «renunciava ao
direito que tem em Valença, em Ferreira, no Esparregal e em Ayamonte»,
and so one can conclude that King Dinis occupied a territory, to which he
had the right, taking chance of a military advantage.
Frei Francisco Brandão argues that the right to the territory’s possession
is prior to D. Dinis, which was not followed by Alexandre Herculano,
certainly for his lack of documentation to defend this thesis. However,
the Treaty of Alcañices is clear and precise when referring to the rights
which belong to D. Dinis. Furthermore, we see that the kings of Portu-
gal claimed the town of Valencia de Alcantara, Herrera and Esparregal,
when the king of Castile and León granted that territory to the Order of
Alcantara, with a papal referendum. This Order was created near Cinco

No documento em questão se diz» (…) Outro sim, eu, El-Rey D. Fernando
entendendo e conhecendo que vós haveis direito em alguns lugares dos
castelos e vilas de Sabugal e de Alfaiates e de Castelo Rodrigo e de Vilar
Maior e de Castelo Bom e de Almeida e de Castelo Melhor e de Monforte
e dos outros lugares de Riba Côa, que vós Reis D. Dinis tendes agora em
vossa mão e porque vos apartais do direito que havíeis em Valência e em
ferreira e em o Esparregal, que agora tem a Ordem de Alcântara na sua
mão e que havíeis em Ayamonte e em outros lugares, etc. (…)». E mais
adiante, no mesmo Tratado se diz que El-Rey D. Dinis «renunciava ao
direito que tem em Valença, em Ferreira, no Esparregal e em Ayamonte»,
pelo que se infere que D. Dinis ocupou um território, a que tinha direito,
aproveitando uma vantagem militar.
Frei Francisco Brandão sustenta que o direito à posse do território de Riba
Côa é anterior a D. Dinis, no que não foi seguido por Alexandre Herculano,
certamente por este ter tido carência documental para defender esta tese.
No entanto, o Tratado de Alcanices é claro e preciso ao referir os direitos
que cabem a D. Dinis. Por outro lado, verificamos que os reis de Portugal
reclamaram as vilas de Valença de Alcântara, Herrera e Esparregal, quando
o rei de Leão e Castela fez concessão daquele território à Ordem de Alcân-
tara, com referendo papal. Esta Ordem, nasceu perto de Cinco Vilas, no
termo de Pinhel, com o nome de Ordem de S. Julião do Pereiro. Entre as
razões evocadas pelos portugueses avulta a de que faziam parte do plano de
marcação do território a controlar pelo Conde D. Henrique, genro de Afon-
so VI de Leão. No tempo de D. Afonso X, o Sábio, que foi avô de D. Dinis,
procurou-se chegar a acordo com D. Afonso III de Portugal, estabelecendo
limites na região de Marvão. Entre 1163 e 1240, a fronteira portuguesa
penetrou como um enorme triângulo o interior do actual território espanhol
nas áreas de Valência de Alcântara.
Todas estas razões de carácter histórico se reestruturaram sobre caminhos
determinados pela geografia económica. A Reconquista cristã procurou
percorrê-los e incorporá-los nos direitos tradicionais e milenários, inter-
rompidos pela ocupação muçulmana.
Com o Tratado de Alcanices garantiu-se a vasta área do pastoreio de Riba
Côa e o seu trânsito, quer para norte, quer para sul, mas interrompeu-se
a atracção geográfica para leste e a afinidade humana, com a expansão
IAN/TT, Rui de Pina, “Crónica Del Rey
dom Denis”, Capítulo XI - Casamentos e
Escambos que despois da comcordia se
fizeram amtre estes Reis em alcanizes.
IAN/TT – Gavetas, 18-9-13. “Tratado
Vilas, at the end of Pinhel, under the name of Ordem de S. Julião do de Alcanizes”, 12 de Setembro de 1297.
Pereiro. Among the reasons cited by the Portuguese, it is said that they
were plan of the marking of the territory to be controlled by the Conde D.
Henrique, son-in-law of Alfonso VI of Leon. King Alfonso X, the Wise,
who was grandfather of King Dinis, tried to agree with D. Afonso III of
Portugal, setting limits in the region of Marvão. Between 1163 and 1240,
the Portuguese border penetrated as a huge triangle in the interior of the
current Spanish territory, in the areas of Valência de Alcântara.
All these historical reasons are restructured in paths determined by eco-
nomic geography. The Christian Reconquista tried to visit them and sought
to incorporate them into the traditional and ancient rights, interrupted
by the Moorish occupation.
With the Treaty of Alcañices, the vast grazing area of Riba Côa was guar-
anteed, as was the movements across it, both north and south, but the geo-
graphical attraction towards the east was stopped, as well as the human
affinity with the Leonese-Castilian expansion. The Beira was separated
from the Castilian Extremadura. Interestingly, the shepherding routes are
marked in the names of the places, such as Porto de Ovelha, Cabreira e
Malhada Sorda (places with a big concentration of livestock).
At the time of D. Sancho II of Portugal, so long before the Treaty of
Alcañices, the charter was granted by this sovereign to the residents of
Sortelha (of, Sorticula = ring), currently in the council of Sabugal, and
it says that the population of Valencia (certainly Valença de Alcântara)
was from Sortelha.
The rights claimed by D. Dinis had a justification rooted so deep within
the national sense, that he, while being effectively in possession of the
Riba Côa’s castles, put residents in charge of the populations that so far
only had had Leonese alcaldes.
Villages of Riba Côa
Let us briefly make reference to the village that currently compose the
territory of Riba Côa. They are currently integrated with the council and
the bishopric of Guarda.
72 73

leonesa-castelhana. A Beira separou-se da Extremadura Castelhana. Curio-
samente, as rotas do pastoreio estão marcadas pela toponímia não distantes
de Almeida, como Porto de Ovelha, Cabreira e Malhada Sorda (local de
concentração de gados).
No tempo de D. Sancho II de Portugal, portanto muito antes do Tratado de
Alcanizes, a carta de foral concedida por este soberano aos moradores de
Sortelha (de, Sorticula = anel), actualmente no concelho do Sabugal, diz
que a população de Valença (certamente a de Valença de Alcântara) era
proveniente de Sortelha.
Os direitos alegados por D. Dinis tinham uma justificação tão arreigada
no sentimento nacional, que este, ao entrar na posse efectiva dos castelos
de Riba Côa, colocou à sua frente como alcaides os naturais das próprias
povoações que, até ali, tinham tido alcaides leoneses.
Povoações De Riba Côa
Vamos referir, muito sumariamente, as povoações que na actualidade in-
corporam o território de Riba Côa. Actualmente integram-se no distrito e
bispado da Guarda.
1. Aldeia do Bispo – Igreja sob a invocação de S. Miguel Arcanjo. Perten-
ceu aos bispados de Lamego, de Cidade Rodrigo, Pinhel e da Guarda. Foi
da comarca de Castelo Branco.
2. Aldeia da Ponte – Sucessivamente andou ligada aos bispados de Lame-
go, Cidade Rodrigo, Pinhel e Guarda e às comarcas de Pinhel, Trancoso e
Guarda. Aqui recolheu dízimos, no século XVIII, o Conde de S. Vicente.
Possui uma igreja de três naves, sob a égide de Santa Maria Madalena.
3. Aldeia da Ribeira – Foi dos bispados de Lamego, Cidade Rodrigo, Pi-
nhel e Guarda e pertenceu à comarca de Trancoso. O orago é S. Pedro. No
século XVIII tinha grandes rebanhos e produzia famosos queijos.
4. Aldeia Velha – Integrou os bispados atrás referidos. Foi comenda da Or-
dem de Malta. Andou ligada à comarca de Castelo Branco. Tem igreja de
três naves, sob invocação de S. João Baptista. Era também rica em gados.
5. Alfaiates – Nome de origem árabe. Castelo importante a que chama-
ram os leoneses Castelo de Luna. Pertenceu aos bispados de Cidade
Rodrigo e depois aos de Lamego, Pinhel e Guarda. Esteve nas comarcas
de Pinhel e de Trancoso. A igreja é da evocação do Apóstolo S. Tiago.
Perto da povoação fica o célebre convento de Sacraparte, que nos finais
do século XVIII, tinha quinze padres com o seu director. No reinado de
D. João V agregaram-se à Ordem dos Ministros dos Enfermos (clérigos
1. Aldeia do Bispo – Church under the invocation of St. Michael the
Archangel. It belonged to the diocese of Lamego, Cidade Rodrigo, Pin-
hel and Guarda. It belonged to the district of Castelo Branco.
2. Aldeia da Ponte – Successively linked to the bishoprics of Lame-
go, Cidade Rodrigo, Pinhel and Guarda and to the districts of Pinhel,
Trancoso and Guarda. Conde de S. Vicente, in the 18th century, col-
lect the tithe here. It has a three-nave church, in honour of Saint Mary
Magdalene.
3. Aldeia da Ribeira – It belonged to the bishoprics of Lamego, Cidade
Rodrigo, Pinhel and Guarda and it belonged to the district of Trancoso.
Its patron saint is St. Peter. During the 18th century, it featured great
herds and produced famous cheeses.
4. Aldeia Velha – It integrated the bishoprics before mentioned. It was
commend of Order of Malta. It was linked to the district of Castelo
Branco. It features a three-nave church, in honour of John of God. It
was also rich in livestock.
5. Alfaiates – Name with an Arabic origin. An important castle, called
Castelo de Luna by the Leonese. It belonged to the bishoprics of Cidade
Rodrigo and, after that, to the bishoprics of Lamego, Pinhel and Guarda.
It belonged to the districts of Pinhel and Trancoso. The church has Saint
James as a patron saint. Near the village is the famous monastery of Sac-
raparte that, at the end of the eighteenth century had fifteen priests with its
director. During John V reign, they became aggregated to the Ordem dos
Ministros dos Enfermos (clerics of St. Camillus de Lelis). According to
information that the Abbot D. Joaquim de Azevedo gives us, they would
came annually to Sacraparte, on the “Second eighth of the Holy Spirit,
the Senate of Castelo Mendo with the entire term”, from each house a
man naked from the waist up, with candle for vote, before which, each
year, a man would disappear from the council, without knowledge of the
reason why county, not knowing which end was, but after the vote, no
one was missing”. Alfaiates was very rich in livestock before and after
the incorporation into Portugal. The castle in Alfaiates was adapted into a
bulwarked fort and used during French Invasions.
6. Algodres – Name also of an Arabic origin. It belonged to the Bisho-
prics of Cidade Rodrigo, Lamego, Pinhel e Guarda and to the districts
of Guarda and Trancoso It has defense watchtower. It had an abbey in
honour of Our Lady of the Lake. Algodres was opposed to passage of
the Master of Aviz, during the struggles against Castile. Thus, it was
ordered that the town was to receive the kingdom’s coats of arms with
an inverted shield.
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de S. Camilo de Lelis, conhecidos por Agonizantes). Segundo a infor-
mação que nos dá o Abade D. Joaquim de Azevedo vinham anualmente
a Sacraparte, na «Segunda oitava do Espírito Santo, os do Senado de
Castelo Mendo com todo o seu termo, de cada casa um homem nu da
cinta para cima, com um círio por voto, antes do qual desaparecia cada
ano um homem do seu concelho, sem se saber que fim tivesse, mas
depois do voto não tornou a faltar pessoa alguma». Alfaiates foi muito
rica em gados, antes e depois da incorporação em Portugal. O castelo
de Alfaiates foi adaptado a forte abaluartado e utilizado durante as In-
vasões Francesas.
6. Algodres – Nome também de origem árabe. Pertenceu aos bispados de
Cidade Rodrigo, Lamego, Pinhel e Guarda e às comarcas de Pinhel e Tran-
coso. Possui uma atalaia para defesa. Teve abadia sob evocação de Nossa
Senhora da Lagoa. Algodres apôs-se à passagem do Mestre de Aviz, aquan-
do das lutas contra Castela. Daí ser condenada esta povoação a receber as
armas do Reino com o escudo invertido.
7. Almeida – Topónimo igualmente de origem árabe. Foi importante praça
de armas e «cabeça militar de toda a província da Beira» pertenceu aos bis-
pados de Calábria, Cidade Rodrigo, Lamego e Guarda. A igreja matriz era
da evocação de Nossa Senhora das Candeias. O altar de Santa Ana, nesta
igreja, foi da família dos Fonsecas. A igreja desapareceu com a explosão
no paiol da Praça.
Em Almeida houve um convento de freiras terceiras regulares de S. Fran-
cisco (sob o titulo de Nossa Senhora do Loreto). Este convento iniciou-se
na Nave do Sabugal donde passou para Almeida e dali transferido para
Gouveia por causa de guerra com Espanha, em 1762, em tempos do Mar-
quês de Pombal. Havia em Almeida 50 freiras. O Abade D. Joaquim de
Azevedo dá-nos uma relação das mais virtuosas freiras de Almeida. Fala
também no Santuário do Senhor da Barca, junto ao rio Côa, que começou
com o hospício dos frades terceiros da Ordem de S. Francisco, na Capela
do Santo Crucifixo da Barca.
Almeida albergou nos seus baluartes figuras ilustres e cavaleiros das Or-
dens militares de Cristo, Santiago e Aviz.
No Século XVIII trabalhavam no trem de artilharia muitos ferreiros, ser-
ralheiros, armeiros, pedreiros e carpinteiros, indispensáveis para a guerra,
como então se havia provado na ocupação de Cidade Rodrigo, na restaura-
ção de Miranda do Douro e de Salvaterra. «Mais de trezentos carros man-
chegos foram de Almeida para as reais obras de Mafra».
8. Almendra – O topónimo revela influência muçulmana. Foi dos bispa-
dos de Calábria, Lamego, Cidade Rodrigo, Pinhel e Guarda. Pertenceu ao
Conde de Castelo Melhor. A igreja é da invocação de Nossa Senhora dos
Anjos. Almendra deve ter nascido da deslocação do castro de Calábria ou
Caliabria, que foi sede de bispado e se situa num monte próximo.
Segundo a tradição foi morto, nas ladeiras do Douro, Santo Apolinário,
que andava missionando. Enterraram-no na margem direita do Douro. Está
agora na igreja de Urros. Ali se pode ver o túmulo medieval em artística
arca de pedra com baixos-relevos.
Passa perto desta povoação a célebre Calçada de Alprajares, que segue a
margem direita do Douro e, segundo a crendice, foi feita numa noite pelo
Diabo… Existe a mesma lenda na Calçada dos Galhardos, subindo a Ser-
ra, perto de Folgosinho. Também os diabos, que são os galhardos, fizeram
aquela calçada numa noite… É possível tratar-se de uma referência aos
Romanos, construtores daquelas vias.
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7. Almeida – Name with Arabic origins. It was important stronghold
and “a military head of the whole province of Beira”; it belonged to
the Bishoprics of Calabria, Ciudad Rodrigo, Guarda and Lamego. The
mother church had Our Lady of Light has a patron saint. The altar of
Saint Anne, on this church, belonged to the Fonsecas. The church disap-
peared with the explosion on the stronghold’s magazine.
Almeida has a convent of regular third St. Francis nuns (under the
title of Our Lady of Loreto). This convent was initiated on Nave do
Sabuga, from where it left towards Almeida and, from there, transferred
unto Gouveia, a consequence of a war against Spain, in 1762, during
Marques de Pombal’s time. There were 50 nuns in Almeida. Abbot D.
Joaquim de Azevedo gives us an accurate ration of the most virtuous
nuns of Almeida. He also mentions the Shrine of Senhor da Barca, near
Côa, which started with the hostel for the St. Francis’ Order friars, on
the Capela do Santo Crucifixo da Barca.
Almeida lodged in their bulwarks famous figures characters and knights
of the military orders of Christ, Aviz and Santiago.
In the eighteenth century, many blacksmiths, locksmiths, gun dealers,
masons and carpenters, indispensable during war, as had been proved in
the occupation of Cidade Rodrigo, the take-over of Miranda do Douro
and of Salvaterra. “More than three hundred manchego cars left Al-
meida towards the royal works in Mafra.”
8. Almendra – The toponymy shows some Muslim influence. It be-
longed to the bishoprics of Calabria, Lamego, Ciudad Rodrigo, Pinhel
and Guarda. It belonged to the Count of Castelo Melhor. The church is
honour of Our Lady of the Angels. Almendra was probably born from
the displacement of the Calabria or Caliabria, which the bishopric’s
main office, located on a nearby hill.
Santo Apolinário was, according to the tradition, killed on Douro’s
sides, who was acting as a missionarie. He was buried in Douro’s right
bank. He now is at the Church in Urros, in a medieval tomb with an
artistic stone work and bas-reliefs.
he famous Calçada de Alprajares passes near the village, which follows
the right bank of Douro, and according to superstition, was done over-
night by the Devil ... There is the same legend in the Calçada dos Gal-
hardo, climbing the mountains, near Folgosinho. Devils, known there
as Galhardos, made that sidewalk during a night. It is possible it is a
reference to the Romans, builders of these pathways.
In Almendra there is also a dolmen, known as Anta do Poio, leading
to a large oblique slab. Those who came unprepared and entered there
would fall unto the river.
The Calçada de Alprajares has the particularity to have used in its con-
struction gogos or rolled stones. There are also petroglyphs depicting
human footprints.
A landmark worth visiting in Almendra is the Palácio do Conde, in a
Baroque style, which is precisely the villa with the highest artist interest
of Guarda’s district. The pillory and the mother church are also quite
interesting.
9. Almofala – Arabic name. As the previous villages, it was owned by
several bishoprics. It is located near Côa and Águeda, which made it
quite attractive in pre-Roman times, where its story began. The sculp-
tures of a pig and a bull, made of stone, can be found here, gods that
motivated the Vetones, who occupied the area. There are also some ves-
Em Almendra há também um dólmen, conhecido por Anta do Poio, que
conduz a uma grande laje oblíqua. Os desprevenidos, que ali entravam, iam
despenhar-se no rio.
A Calçada de Alprajares tem a particularidade de ter utilizado na sua cons-
trução godos ou pedras roladas. Há também petroglifos representando pe-
gadas humanas.
Digno de visita em Almendra é o Palácio do Conde, em estilo barroco, jus-
tamente o solar de maior valor artístico do distrito da Guarda. O pelourinho
e a igreja matriz têm também interesse.
9. Almofala – Topónimo Árabe. Como as anteriores foi pertença de vários
bispados. Situa-se perto do Côa e do Águeda, o que a tornou atractiva desde
os tempos pré-romanos, em que começou a sua história. Aqui se conser-
vam as esculturas de um porco e de um touro de pedra, divindades que
motivavam os Vetones, que ocuparam esta área. Também há restos de um
templo romano. A Mitra de Pinhel teve aqui uma pescaria, assim como a
Câmara de Castelo Rodrigo.
10. Badamalos ou Vadamalos – Pertenceu aos bispados de Lamego, Cida-
de Rodrigo, Pinhel e Guarda. É seu orago S. Bartolomeu, talvez evocado
pela proximidade do Côa e necessidade de um protector para passar o rio.
Teve reduto militar.
11. Bendada – Foi anexa da Reigada e pertenceu à Comarca de Trancoso.
O protector da paróquia é S. Brás.
12. Bismula – O topónimo tem origem Árabe e corresponde ao início da
principal oração que diariamente é rezada pelos Muçulmanos. A povoação
foi do termo de Vilar Maior e dos bispados atrás referidos. É protectora da
sua Igreja, Nossa Senhora do Rosário.
Teve um reduto e uma atalaia militar. Também foi rica em porcos e gados.
13. Castelo Bom – Pertenceu aos quatro bispados, que vimos indicando.
A igreja é da invocação de Nossa Senhora da Assunção. Possui restos de
um castelo medieval. No século XVIII foram alcaides-mores desta vila o
Visconde de Vila Nova de Cerveira e, Marquês de Ponte de Lima. Tinha,
então, duas peças de artilharia. Numa torre com duas abóbadas estava a
cadeia. Em Castelo Bom foi encontrada, em 1957, uma espada da Idade do
Bronze, de lâmina triangular.
14. Castelo Melhor – Terras dos Condes deste nome. Protegida pelo seu
castelo medieval dominando o vale do Côa, rio que ali se lança no Douro.
A igreja é da invocação do Espírito Santo. Integrou vários bispados.
15. Castelo Rodrigo – Também pertenceu ao bispado de Cidade Rodrigo e
aos de Lamego, Pinhel e Guarda. O castelo é o único com torres circulares
(são treze), que conhecemos no distrito da Guarda. Assemelha-se ao de
Ávila, a cidade dos cavaleiros. Dentro da cerca estão os restos do palácio
de Cristóvão de Moura, que foi valido de Filipe II.
No interior há a igreja de S. Roque Amador, que conserva vestígios do
românico do Douro. O culto de S. Roque foi introduzido em tempo de D.
Sancho I. No pavimento desta igreja há uma ara romana. Castelo Rodrigo
alcandora-se na Serra de Marofa, tendo também num dos seus cumes uma
ara romana. A igreja de Roque Amador, estava no caminho das peregrina-
ções medievais aos Lugares Santos.
Não distante situa-se o mosteiro de Santa Maria de Aguiar, que foi escola
de historiógrafos cistercienses, de onde saiu o cronista-mor Fr. Bernardo de
Brito. Castelo Rodrigo teve judeus e sinagoga.
As armas da vila são também as reais com o escudo para baixo, como as de
Algodres e pelo mesmo motivo.
tiges of a Roman temple. The Mitra de Pinhel had a fishing industry
here, as well as the City Hall of Castelo Rodrigo.
10. Badamalos ou Vadamalos – It was propriety of the councils of
Lamego, Cuidad Rodrigo, Pinhel and Guarda. Its patron saint is St.
Bartholomew, maybe evoked for Côa’s proximity and the need for a
protector when crossing the river. It held a military redoubt.
11. Bendada – It was annexed to Reigada and belonged to the District
of Trancoso. Saint Blaise protected the parish.
12. Bismula - The toponymy has Arabic origin and corresponds to the
start of the main prayer that is daily prayed by Muslims. The village
under Vilar Maior’s rule and bishoprics mentioned above. Our Lady of
the Rosary protects the Church.
It featured a redoubt and a military outpost. It has also rich in pigs and
livestock.
13. Castelo Bom - It Belonged to four bishoprics, as we saw. The church
invokes Our Lady of the Assumption. It has vestiges of a medieval cas-
tle. In the eighteenth century, the Viscount of Vila Nova de Cerveira,
and Marquis of Ponte de Lima served as Chief Alcaldes of the village.
At the time, it featured two pieces of artillery. The prison was in a tower
with two vaults. In 1957, a sword from the Bronze Age, with a triangu-
lar blade was found here.
14. Castelo Melhor – The Lands have the name of the Counts. It is pro-
tected by its medieval castle, which dominates the Côa’s Valley, a river
that becomes one with Douro on that stop. The church invoked the Holy
Ghost. It integrated several bishoprics.
15. Castelo Rodrigo – It also belonged to the bishoprics of Ciudad Ro-
drigo, Lamego, Pinhel and Guarda. The castle is the only one featuring
circular towers (thirteen), known on the district of Guarda. It ressem-
bles Ávila’s castle, the city of knights. The fence encloses the remains
of Cristóvão de Moura’s palace, who was Filipe II’s favorite.
Inside, is the church of S. Roque Amador, who retains traces of the Ro-
manesque of the Douro. The cult of St. Roque was introduced during
King D. Sancho I reign. The church’s floor features a Roman altar. Cas-
telo Rodrigo roots deep into Serra de Marofa, which also has a Roman
altar in one of its summits. The church in honour of Roque Amador was
on the path of the medieval pilgrimage to the Holy Sites.
Not very far away, the monastery of Santa Maria de Aguiar is located,
the school of Cister’s historiographers, from where the Chief Chronicler
Bernardo de Brito came. Castelo Rodrigo had Jews and a synagogue.
The village’s coats of arms are equal to those of the royal family with
the shield facing down, as the ones from Algodres and for the same
reason.
16. Cinco Vilas – The name comes from five farms or Roman villae. It be-
longed to the Order of the Temple which later became the Order of Christ.
It belonged to the diocese of Caliabria and in Salamanca, before moving
to Ciudad of Rodrigo. A Portuguese called Amando, in partnership with
some Castilian knights from Salamanca, founded, in 1156, the Order of
St. Julião do Pereiro, between Cinco Vilas and Pereiro, on the banks of
Côa. After the Reconquista stroke Tagus’ left river bank, the Order of
Alcântara was created, in honour of the famous Roman bridge.
17. Colmeal - Its name comes from the richness of honey and wax taken
from the large number of hives. It belonged to the Casa de Belmonte.
The church was under the invocation of St. Michael Archangel. In the
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16. Cinco Vilas – O seu nome deriva de cinco herdades ou villae ro-
manas. Pertenceu à Ordem do Templo que foi depois Ordem de Cristo.
Foi do bispado de Caliabria e do de Salamanca, antes de passar para o
de Cidade Rodrigo. Um português chamado Amando, de parceria com
uns cavaleiros castelhanos de Salamanca, fundaram, no ano de 1156, a
Ordem de S. Julião do Pereiro, entre Cinco Vilas e o Pereiro, na mar-
gem do Côa. Daqui nasceu, depois da Reconquista atingir a margem
esquerda do Tejo, a Ordem de Alcântara, em homenagem àquela famo-
sa ponte romana
17. Colmeal – O seu nome provém da riqueza em cera e mel retirada do
elevado número de colmeias. Pertenceu à Casa de Belmonte. A igreja esta-
va sob a invocação de S. Miguel Arcanjo. No século XVIII a povoação era
famosa pelas cebolas e pimentos que produzia.
18. Escalhão – Esta Igreja - fortaleza é rica em esculturas dos séculos XVI,
XVII e XVIII. Seu orago é a Senhora dos Anjos. A povoação teve castelo e
andou ao longo do tempo no rol dos quatro bispados que se estenderam por
Riba Côa. Possui uma artística ceia flamenga (séc. XVI) em madeira.
19. Escarigo – A igreja é monumento -nacional devido ao seu belo tecto
mudéjar. O templo está sob a invocação de S. Miguel Arcanjo. Há restos
de um palácio renascentista. Mas o tecto da igreja de Escarigo não é único
na região.
20. Figueira de Castelo Rodrigo – Hoje é uma florescente vila. No século
XVIII tinha uma função secundária servindo de local das feiras e mercados
de Castelo Rodrigo, então, sede do Concelho.
Digna de visita é a igreja de Figueira sob a invocação de S. Vicente Mártir.
Tem um coro assente sobre um belo arco abatido, elemento arquitectónico
sem paralelo nesta região.
21. Fojos Côa – Foi anexa do Sabugal e da comarca de Castelo Branco. No
século XVIII era procurada pelos caçadores de javalis.
22. Forcalhos – pertenceu a Alfaiates e à comarca de Trancoso. Foi do
bispado de Pinhel.
23. Freineda – A igreja é da invocação da Imaculada Conceição. Pertenceu
ao bispado de Cidade Rodrigo. Realiza-se ali, em Setembro, uma romaria
célebre, que atrai muitos forasteiros. É consagrada a Santa Eufémia.
24. Freixeda do Torrão – Teve uma abadia, sob a invocação de Nossa Se-
nhora dos Anjos. Digno de visita é o solar dos Metelos. Pertenceu ao bis-
pado de Pinhel.
25. Junca – Foi termo da vila de Almeida. Esteve ligada à Casa do Infanta-
do. Houve, perto, um convento, que deixou vestígios na Capela de Nossa
Senhora do Mosteiro.
26. Lageosa – Fica perto do sabugal. Foi também do bispado de Pinhel.
Aqui foram descobertos instrumentos da Idade de Bronze.
27. Luzelos – Foi curato da vigaria de Pena de Águia. A padroeira é Nossa
Senhora da Luz. As origens do topónimo ligam-se a Idade do Ferro.
28. Malhada Sorda – Pertenceu aos quatro bispados referidos. O orago é S.
Miguel Arcanjo. Teve um convento de eremitas descalços de Santo Agos-
tinho, conhecidos por Grilos. O topónimo Malhada significa o lugar onde
pernoitavam os gados em transumância.
29. Malpartida – Foi abadia da Mitra e do Papa. Pertenceu ao bispado de
Pinhel. Igreja sob a invocação da Senhora da Assunção.
30. Mata de Lobos – Foi uma reitoria da Ordem de Cristo. Igreja patrocina-
da por S. Martinho. Pertenceu aos bispados de Lamego, Cidade Rodrigo,
Pinhel e Guarda. A designação lobos é simbólica, originada nas esculturas
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eighteenth century the village was famous for the onions and the pep-
pers it produces.
18. Escalhão – The Church - Fortress is rich in 16th, 17th and 18th cen-
tury sculptures. Its patron saint is the Lady of the Angels. The town had
a castle and, during the times, it bounced from four bishoprics located at
Riba Côa. It has a wooden artistic (16th century) Flemish representation
of the Last Supper, in wood.
19. Escarigo – The church is a national monument, due to its fine Mude-
jar ceiling. The temple is under the invocation of St. Michael Archan-
gel. Remains of a Renaissance palace can be found. But the ceiling at
Escarigo’s church is not the only one in the region.
20. Figueira de Castelo Rodrigo – Today it is a thriving village. In the
eighteenth century, it had a secondary function, serving local fairs and
markets of Castelo Rodrigo, then the Council main city.
Worth visiting is the Church of Figueira, in honour of St. Vicente Mar-
tyr. It has a choir settled on a beautiful sunken arch, an architectonical
element unique to this region.
21. Fojos Côa – It was annexed to Sabugal and to the District of Castelo
Branco. During the 18th century it was very much sought by wild boars
hunters.
22. Forcalhos – It belonged to Alfaiates and to the district of Trancoso.
It was a part of the bishopric of Pinhel.
23. Freineda – The Church is honor of Immaculate Conception. It be-
longed to the bishopric of Ciudad Rodrigo. In September, there is a
famous pilgrimage, which attracts many tourists. It is in honor of Saint
Eufémia.
24. Freixeda do Torrão – It had an abbey, invoking Our Lady of the An-
gels. The Solar dos Metelos is worth visiting. It belonged to the bisho-
pric of Pinhel.
25. Junça - It was the limit of the village of Almeida. It was linked to
the Casa do Infante. Near, there was a monastery, which left traces in
the Chapel of Our Lady of the Monastery.
26. Lageosa – Near Sabugal. It also belonged to the bishopric of Pinhel.
Some tools from the Bronze Age were found on this location.
27. Luzelos – It was the parsonage of Pena de Águia’s vicarage. The patron
saint id Our Lady of Light. The origins of the name go back to the Iron Age.
28. Malhada Sorda – It belonged to the four bishoprics mentioned. The
patron saint is St. Michael Archangel. There was a convent of barefoot
Hermits of St. Augustine, known as Crickets. The toponymy Malhada
means the place where the livestock stayed during transhumance.
29. Malpartida - It was the abbey of Bishops and of Pope. It belonged to
the bishopric of Pinhel. Its patron saint is Nossa Senhora da Assunção.
30. Mata de Lobos – It was a rectory of the Order of Christ. The church
was patronised by St. Martin. It belonged to the diocese of Lamego,
Ciudad Rodrigo, Pinhel and Guarda. The designation Lobos is quite
symbolic, originated in the sculptures of the Romanesque church, re-
lated to the representation of Muslims awaiting for conversion.
31. Nave de Haver – Church in honor of St. Bartholomew. It was par-
sonage of Vila Maior.
32. Nave Redonda – It belonged to the district of Trancoso and to the
four bishoprics. Its patron saint is St. James.
33. Nave (Sabugal) – It had a priest from Mitra. The church has a certain
architectonical interest. Nossa Senhora da Conceição is the patron saint.
da igreja românica, relacionadas com a representação dos muçulmanos,
cuja conversão esperam.
31. Nave de Haver – Igreja sob a invocação de S. Bartolomeu Apóstolo.
Foi curato de Vilar Maior.
32. Nave Redonda – Pertenceu à comarca de Trancoso e aos quatro bispa-
dos. O seu orago é Santiago Apóstolo.
33. Nave (Sabugal) – Teve vigário da Mitra. A Igreja tem um certo interesse
arquitectónico. Invocação de Nossa Senhora da Conceição.
34. Naves – Pertenceu a Castelo Bom. Orago, Santiago Apóstolo.
35. Pena de Águia – Foi vigaria da Mitra e da comarca de Trancoso.
36 Poço Velho – Era no século XVIII do termo de Castelo Bom e tinha pa-
dre cura apresentado pelo reitor de Vilar Maior. Foi do bispado de Pinhel.
37. Quadrazais – Abadia da Mitra e do Papa. A titular da igreja é Nossa
Senhora da Assunção. Povoaram-na almocreves e contrabandistas. Cele-
brizou-se através do livro Maria Mim de Nuno de Montemor.
38. Quintã de Pêro Martins – Ainda conserva o nome do seu donatário
medieval. Foi um curato dependente de Pena d’Águia.
39. Raza – Aparece referida na Corografia Portugueza, de Carvalho, si-
tuando-se no termo do Sabugal. Foi da comarca de Castelo Branco e dos
bispados de Lamego, Cidade Rodrigo, Pinhel e Guarda.
40. Rebulosa – No século XVIII e XIX era do termo de Alfaiates. Orago:
Santa Catarina. Foi curato dependente do Vigário de Alfaiates.
41. Reigada – Conhecida também por Arreigada. No século XII era uma
herdade doada à Ordem de S. Julião do Pereiro. Igreja sob a protecção de
S. Vicente Mártir. Pertenceu à Ordem de Cristo, depois que a de S. Julião
dependeu exclusivamente de Castela.
A ordem de S. Julião do Pereiro estava sujeita à regra de Cister, à qual
a submeteu o bispo de Salamanca, D. Ordonho. Achando-se em Cidade
Rodrigo o rei de Leão, Fernando II, concedeu em Janeiro de 1174, àquela
Ordem, a granja do Pereiro e a herdade de Derreigada ou Reigada. Com
seu filho D. Afonso, encontrando-se em Alba del Tornes, em 28 de Janei-
ro de 1185, fez doação da pescaria chamada o Burgo Velho no termo das
Margadas. As pescarias, particularmente no caso que nos interessa, (Côa
e do Águeda), tinham então grande importância económica.
42. Rendo – No século XVIII estava no termo do Sabugal, comarca de Cas-
telo Branco. Teve abadia. O patrono da igreja é o Mártir S. Sebastião.
43. S. Pedro do Rio Seco – Pertenceu à comarca de Trancoso e foi do bis-
pado de Pinhel. Hoje está no concelho de Almeida.
44. Ruvina – Também lhe chamaram Ruivinha. Foi termo do Sabugal, co-
marca de Castelo Branco e bispado de Pinhel.
45. Ruivos – Era um curato, do termo do Sabugal, dependente do Vigário
da Nave. Foi, no século XIX, da comarca de Castelo Branco.
46. Sabugal – Terra de sabugueiros, ou sabugos… Pertenceu ao rei D.
Afonso X de Leão. Possui um castelo com torre de menagem de cinco
esquinas. Por isso, diz a quadra:
Castelo de cinco quinas
Só há um em Portugal.
Fica na margem do Côa
Na vila do Sabugal.
À volta de 1294, já no domínio português, D. Dinis mandou restaurar o cas-
telo e levantar a célebre torre das cinco quinas, que no dizer de D. Joaquim
34. Naves – It belonged to Castelo Bom. Patron Saint: St. James.
35. Pena de Águia – Parsonage of Mira and of the district of Trancoso.
36. Poço Velho – During the 18th century, it was the limit of Castelo
Bom and it had a priest presented by the Dean of Vilar Maior. It be-
longed to the bishopric of Pinhel.
37. Quadrazais – An abbey of Bishops and the Pope. The patron saint of
the church is Nossa Senhora da Assunção. Donkey-drivers and smug-
glers populated it. It became famous through the book Maria Mim by
Nuno de Montemor.
38. Quintã de Pêro Martins – It still retains the name of his medieval
donee. A parsonage was dependent on Pena d’Águia.
39. Raza – It appears refered in Corografia Portugueza, by Carvalho, at
the end of Sabugal. It belonged to the district of Castelo Branco and the
bishoprics of Lamego, Ciudad Rodrigo, Pinhel and Guarda.
40. Rebulosa – On ythe 18th and 19th century, it was the frontier of Al-
faiates. Patron Saint: Santa Catarina. The priest depended on the Vicar
of Alfaiates.
41. Reigada – Known also as Arreigada. On the 12th century, it was a
farm given to the Order of St. Julião do Pereiro. Church in honor of St.
Vincent Martyr. It belonged to the Order of Christ, after that St. Julião’s
depended exclusively of Castile.
The order of S. Julião Pereiro subjected to the Cistercian rule, accord-
ing to the decision of the bishop of Salamanca, D. Ordonho. When the
king of Leon, Fernando II, was in Salamanca in January 1174, he gave
that Order the farm of Pereiro and the farm of Derreigada or Reigada.
When his son D. Afonso was in Alba del Tornes, 28th January 1185, he
donated the fishery called Burgo Marga at the end of Margadas. Fisher-
ies, particularly in those cases being studied (Côa and Águeda), then
had a great economic importance.
42. Rendo – On the 18th century, it was the frontier of Sabugal, district of
Castelo Branco. It had an abbey. Martyr St. Sebastian is the patron saint.
43. S. Pedro do Rio Seco – It belonged to the district of Trancoso and to
the bishopric of Pinhel. Today, it belongs to the council of Almeida.
44. Ruvina – Also called Ruivinha. It was the frontier of Sabugal, dis-
trict of Castelo Branco and bishopric of Pinhel.
45. Ruivos – It was a parsonage located at the frontier at Sabugal, de-
pendent on Nave’s Vicar. During the 19th century it belonged to Castelo
Branco.
46. Sabugal – The land of elders… it belonged to king D. Alfonso X of
Leon. It has a castle with a five-point keep.
That is why the poem says:
Castelo de cinco quinas
Só há um em Portugal.
Fica na margem do Côa
Na vila do Sabugal.
Around 1294, already under Portuguese rule, King D. Dinis order the cas-
tle’s restoration and the construction of the five-point keep, which, accord-
ing to D. Joaquim de Azevedo was similar to Coimbra’s Castle, which went
disappeared but which was already visible during the 18th century.
In Sabugal, the first insurance company of land transportation was cre-
ated during D. Dinis’ reign, in which all residents of the village and
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de Azevedo era semelhante à do castelo de Coimbra, que já desapareceu
mas ainda era visível no século XVIII.
No Sabugal nasceu a primeira companhia de seguros de transportes terres-
tres, no tempo de D. Dinis, em que entravam todos os moradores da vila e
termos que tivessem cavalgadura, obrigando-se cada um a pagar uma libra
ao que lhe morresse o cavalo e o que sobrava se guardava no depósito da
confraria para seus gastos comuns sob pena de 50 libras ao que faltasse,
com poder executivo para o seu mordomo cobrar o imposto passado quinze
dias. Integrava os outros castelos de Riba Côa. Nas imediações travou-se
uma batalha na última invasão francesa.
47. Souto – Era no século XVIII um termo do Sabugal que tinha cura apre-
sentado pelo Vigário da Nave. Mas já então era das aldeias com mais popu-
lação daquela região, pois tinha 683 almas.
48. Vale de Coelha – Foi vila. Pertenceu ao real Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra, ao qual a doaram os bispos de Cidade Rodrigo.
49. Vale de Afonsinho – Foi termo de Castelo Rodrigo e no século XVIII
era da comarca de Trancoso. Esteve incorporado no bispado de Pinhel. Na
Idade Média pertenceu, inicialmente, ao bispado de Lamego e posterior-
mente ao da Cidade Rodrigo.
50. Vale de Espinho – Dependia do Sabugal e da comarca de Castelo Bran-
co. Tinha Cura proposto pelo Vigário da Nave do Sabugal. Orago é Santa
Maria Madalena.
51. Vale das Éguas – Também foi da comarca de Castelo Branco e termo
do Sabugal. O padroeiro é S. Sebastião. Nos finais do século XVIII tinha
47 fogos.
52. Valongo – A igreja é da invocação de Nossa Senhora da Conceição. Foi
como a anterior do termo do Sabugal e comarca de Castelo Branco.
53. Vale da Mula – Pertenceu ao termo de Almeida e hoje ao seu concelho.
Foi da Casa do Infantado. Teve abadia da Mitra e do Papa. Bispado de Pi-
nhel. A padroeira é a Senhora da Assunção. Em finais do século XVIII tinha
325 habitantes. Possuiu um forte abaluartado.
54. Vermiosa – Era do termo de Castelo Rodrigo e pertencia à comarca de
Trancoso. Tinha vigário. A protectora é Nossa Senhora da Conceição. Nos
finais do século XVIII tinha 316 habitantes.
55. Vila Boa – Era do termo do Sabugal e pertencia à comarca de Castelo
Branco. O orago era S. Pedro ad vincula. Foi vigaria.
56. Vilar Damargo ou de Amargo – Foi termo de Castelo Rodrigo e da co-
marca de Trancoso. Era abadia da Mitra e do Papa. A igreja está sob a invo-
cação de S. Miguel Arcanjo. O nome provém das amendoeiras amargas.
57. Vilar Formoso – Pertencia ao termo de Castelo Bom e à comarca de
Trancoso. Foi abadia da Mitra e do Papa. A igreja da invocação de S. João
Baptista. A capela-mor da matriz, no Povo, tem um belo tecto mudéjar. Tem
judiaria. É porta de entrada para Espanha e termo da linha-férrea da B.A.
58. Vila Maior – Foi vila. Pertenceu às comarcas de Trancoso e Pinhel e aos
quatro bispados referidos. Terá sido elevada a vila por D. Afonso de Leão,
em 1230, e restaurada em 1296 por D. Dinis.
A igreja está sob a invocação do Apóstolo S. Pedro. Foi reitoria da Mitra.
Situada num antigo castro tem restos do castelo medieval, nele assente.
Arqueologicamente tornou-se notável pelos achados da Idade do Bronze,
dos quais uma importante espada conservada no Museu da Guarda. Os Pes-
sanhas tiveram ali um casal e solar.
59. Vilar Torpim – Pertenceu ao termo de Castelo Rodrigo e à comarca de
Trancoso. Em finais do século XVIII tinha 632 habitantes. Foi abadia. Na
79
limits that had a horse had to enter, being forced to pay a libra if a horse
died and, if any money was left, tis was kept on the Treasury for com-
mon expenses, being that those who did not pay would be charged with
50 libras. It integrated the other castles of Riba Côa. On the surrounds,
a battle during the last French Invasion took place.
47. Souto – During the 18th century, it was the frontier to Sabugal, which
had a priest presented by Nave’s Vicar. But at the time it was already
one of highest populated villages of the region, with 683 people.
48. Vale de Coelha – It was a village. It belonged to royal Monastery of
Santa Cruz of Coimbra, given by the bishops of Ciudad Rodrigo.
49. Vale de Afonsinho – It was the frontier of Castelo Rodrigo and, on
the 18th century, it belonged to the district of Trancoso. It was incor-
porated on the bishopric of Pinhel. During the Middle age it initially
belonged to the bishopric of Lamego and later to Ciudad Rodrigo.
50. Vale de Espinho – It depended on Sabugal and on the district of
Castelo Branco. Priest proposed by the Vicar of Nave do Sabugal. The
patron saint is St. Mary Magdalene.
51. Vale das Éguas - Also from the district of Castelo Branco and fron-
tier of Sabugal. The patron saint is St. Sebastian. At the end of the 18th
century, it had 47 houses.
52. Valongo – The church is in honor of Nossa Senhora da Conceição.
As the previous one, it was frontier of Sabugal and belonged to the
district of Castelo Branco.
53. Vale da Mula – It belonged to the frontier of Almeida and today
belongs to the council. It also belonged to the Casa do Infantado. It was
an abbey of Bishops and of the Pope. Bishopric of Pinhel. The patron
saint is Senhora da Assunção. At the end of the 18th century, it had 325
residents. It has a bulwarked fort.
54. Vermiosa – It was the frontier of Castelo Rodrigo and belonged to
the district of Trancoso. It had a vicar. The patron saint is Nossa Sen-
hora da Conceição. At the end of the 18th century, it had 316 residents.
55. Vila Boa – It was the frontier of Sabugal and belonged to the district of
Castelo Branco. The patron was St. Peter ad vincula. It was a vicarship.
56. Vilar Damargo ou de Amargo – It was the frontier of Castelo Rod-
rigo and belonged to the district of Trancoso. It had an abbey of Bishops
and of the Pope. The church is in honor of St. Michael Archangel. The
name comes from bitter almond trees.
57. Vilar Formoso – It belonged to the end of Castelo Bom and to the
district of Trancoso. It was the abbey of Bishops and the Pope. The
church invokes John of God. The mother church’s main altar had a
beautiful Mudejar ceiling. It had a Jewry. It is an entrance to Spain and
the end of the Beira Alta’s railway.
58. Vila Maior – It was a village. It belonged to the districts of Trancoso
and Pinhel and to the four bishoprics mentioned. It transformed into
a village by D. Afonso de Leon in 1230, and restored in 1296 by D.
Dinis.
The Church invokes St. Peter. Located on an ancient hill fort, it features
some vestiges of the medieval castle, built there. It became archaeologi-
cally remarkable for the findings related to Bronze Age, of which one
can emphasize and important sword kept on Museu da Guarda. The
Pessanhas had a villa there.
59. Vilas Torpim – It belonged to the frontier of Castelo Rodrigo and to
the district of Trancoso. At the end of the 18th century, it had 632 resi-
sua igreja há uma capela lateral, com um belo túmulo Renascença. Possui
também um amplo solar barroco.
60. A freguesia destas terras da Riba Côa, com número sessenta, seria a
segunda do Sabugal, a de S. João Baptista, segundo catalogação do século
XVIII.
O Tratado de Alcanices refere apenas os principais castelos de Riba Côa,
talvez os de maior valor estratégico e rendimento, mas não enumera a tota-
lidade das povoações incorporadas.
D. Joaquim de Azevedo com base na bula da criação do bispado de Pinhel,
dada pelo Papa Clemente XIV, conclui que são estas as freguesias de Riba
Côa, as quais em finais do século XVIII perfaziam 6131 fogos e um total
de 17296 pessoas. Contudo, aquele historiógrafo adverte que este cálculo
não pode ser feito com exactidão. No inventário proposto não entraram os
frades e freiras da região, os soldados de Almeida e as crianças de peito.
O Dr. Joaquim Manuel Correia na sua monografia Memórias sobre o conce-
lho do Sabugal, falando das terras de Riba Côa, diz que estas compreendiam
uma orla de terra com aproximadamente 15 léguas e quatro de largura, o que
andará à volta dos 300 Km2. Indica como principais povoações as seguin-
tes: Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Castelo Rodrigo, castelo
Melhor, Aldeia da Ponte, Aldeia da Ribeira, Aldeia Velha, Alfaiates, Bada-
malos e Almeida, a que se seguem as freguesias de Aldeia do Bispo, Aldeia
Velha, Bismula, Ruivós, Ruvina, Rebordosa, Nave, Soito, Vale das Éguas,
Vila Boa, Rendo, Quadrazais, Vale de Espinho, Foios, Forcalhos e Lageosa,
todas no concelho do Sabugal. Além destas, Algodres, Almendra, Almofala,
Cinco Vilas, Colmeal, Escalhão, Freixeda do Torrão, Junça, Rio Seco, Vale
de Afonsinho, Vale da Mula, Vermiosa, Vilar de Amargo, Vilar Formoso, Vi-
lar Torpim, Reigada, Luzelos, Malhada Sorda, Malpartida, Mata de Lobos,
Nave Redonda, Nave de Haver, Naves, Penha de Aguiar, Poço Velho, Quinta
de Pêro Martins, Vale de Coelha e Escarigo. Diz-nos ainda que todo este terri-
tório foi chamado antigamente Bispado Novo. Aquele autor ao usar a palavra
antigamente deve pretender significar o período em que este território perten-
ceu ao Bispado de Pinhel. O Autor a que nos referimos enumera cinquenta e
cinco povoações. Joaquim de Azevedo enumera sessenta.
O bispado de Pinhel foi criado por proposta de D. José I e a bula do Papa
Clemente XIV, de 10 de Julho de 1770, compreendendo 225 paróquias,
retiradas aos bispados de Lamego e Viseu. Foi diocese durante 112 anos e
teve cinco bispos. A instâncias do Rei D. Luís I propôs-se a sua extinção, e
a bula que lhe pôs termo foi executada pelo Cardeal D. Américo, Bispo do
Porto, em 4 de Setembro de 1882. Em Pinhel conserva-se ainda o belo solar
barroco construído para sede do Paço Episcopal.
Com a abertura da linha do Douro em fins do século XIX, aparecem ou
desenvolvem-se alguns núcleos populacionais no norte dos limites de Riba
Côa. O mais importante foi Barca d’Alva, a velha passagem de barcas do
Douro na interrompida rodovia Freixo de Espada -à- Cinta – Escalhão, hoje
substituída por uma ponte.
A acção militar de Almeida exerceu-se sobre todo o território da Riba Côa
e região adjacente.
dents. It was an abbey. The church had a side chapel, with a beautiful
Renaissance tomb. It also has an ample Baroque villa.
60. The parish of these lands of Riba Côa, with the sixtieth number,
would be the second of Sabugal, of John of God, according to the 18th
century categorization.
The Treaty of Alcañices only refers the main castles of Riba Côa, prob-
ably those with the greatest strategic value and income, but it does not
state the entire number of incorporated villages.
D. Joaquim de Azevedo, based on the papal bull creating the bishopric of
Pinhel, signed by Pope Clement XIV, concluded that these are the parishes
of Riba Côa, which, at the end of the 18th century, had a total of 6131 house
and 17296 people. Nevertheless, that historiographer highlights that this sum
cannot be made precisely. On the proposed inventory, the friars and nuns of
the regions, Almeida’s soldiers and infants were not counted for.
Joaquim Manuel Correia, on his thesis Memórias sobre o concelho do Sabu-
gal, on the lands of Riba Côa, states that these involved a land strip of about
15 leagues long and four wide, which is about 300 km2. The main villages
are: Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Castelo Rodrigo, castelo
Melhor, Aldeia da Ponte, Aldeia da Ribeira, Aldeia Velha, Alfaiates, Bad-
amalos, and Almeida, followed by the parishs of Aldeia do Bispo, Aldeia
Velha, Bismula, Ruivós, Ruvina, Rebordosa, Nave, Soito, Vale das Éguas,
Vila Boa, Rendo, Quadrazais, Vale de Espinho, Foios, Forcalhos e Lageosa,
todas no concelho do Sabugal. Além destas, Algodres, Almendra, Almofala,
Cinco Vilas, Colmeal, Escalhão, Freixeda do Torrão, Junça, Rio Seco, Vale
de Afonsinho, Vale da Mula, Vermiosa, Vilar de Amargo, Vilar Formoso, Vi-
lar Torpim, Reigada, Luzelos, Malhada Sorda, Malpartida, Mata de Lobos,
Nave Redonda, Nave de Haver, Naves, Penha de Aguiar, Poço Velho, Quinta
de Pêro Martins, Vale de Coelha, and Escarigo. Furthermore, he says that
this territory was once called New Bishopric. By using the word once, the
author probably wants to mention the period during which it belonged to the
territory of the Bishopric of Pinhel. The mentioned author refers fifty-five
villages. Joaquim de Azevedo counts sixty.
The bishopric of Pinhel was created according to a draft by D. José and
IAN/TT, Gav. 20-11-5, “Inquirições do Processo para o Foral de Almeida”, Santarém a 1 de Junho de 1510.
the bull of Pope Clement XIV, 10th July 1770, comprising 225 parishes,
taken from the bishops of Lamego and Viseu. It was a diocese for more
than 112 years and had five bishops. King Luís I proposed its extinction
and the bull that ended it was executed by Cardinal D. Américo, Bishop
of Porto, on 4th September 1882. In Pinhel, the beautiful Baroque villa,
built to serve as the seat of Bishop’s Palace, still remains.
With the opening of the Douro railway at the end of the nineteenth cen-
tury, some populated areas appear here and there on the northern limits
of Riba Côa. The most important was Barca d’Alva, the old passage of
boats across the Douro on the closed road Freixo de Espada-à-Cinta -
Escalhão, now replaced by a bridge.
The military action of Almeida was put into force throughout the entire
territory of Riba Côa and surrounding areas.
conceder Mercês, a reforma defendia os direitos reais, impondo obrigações e
encargos aos concelhos, revendo e até retirando antigos direitos locais.
A concessão destes diplomas foi faseada ao longo de quase uma vintena
de anos. A primeira fase acompanhou o Foral de Lisboa (7 de Agosto de
1500). O Foral de Almeida, datado de 1 de Julho de 1510, integrou a segun-
da fase, iniciada naquele ano com os da Beira.
Uma reforma de pesos e medidas, ligada à actualização de dívidas monetá-
rias, antecedeu a reforma dos forais.
Transcrevemos o Foral Novo de Almeida para exemplificação das decisões
tomadas. Mantemos a escrita da época.
Dom Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, etc, etc,. visto ho foral da dicta
villa mandamos que os direitos Reais se Recadem na forma seguinte.
PENSAM DOS MORADORES DA VILLA
Todollos moradores da dicta villa e termo ham de pagar em cada hum
anno vinte e sete Reais por dya de Sam Martinho por quinze soldos que
se antigamente pagou por este direito que chamaram martij negas E na
dicta maneira se pagarão os dictos vinte e sete Reais pollas dictas pesoas
por outro direito que se atee gora chamou moeda foreira a quall paga se
nam farã se nam se sete em sete annos Das quaes pagas seram escusos os
cavaleiros e escudeiros da dicta villa e as pesoas que teverem cavallo de
marca E dous jujzes ordinairos e hum juiz dos órfãos e dous vereadores e o
procurador da villa e ho alferez della. E a dicta paga nom faram as pesoas
que nam teverem fazenda de quinhentos e corenta Reais que se montam em
vinte maravidis antiguos de quinze soldos cada hum. E as pesoas que ham
de pagar o dicto foro seram todollos moradores de huma casa por hum
morador posto que sejam orfaons em poder do pay ou may. E se forem
em poder de tutor pagaram todos os órfãos por hûa pesoa o dicto foro
soomente.
posing obligations and charges on the municipalities, reviewing and
retrieving former local rights.
The granting of these diplomas was staggered over nearly a twenty
years period. The first phase followed Lisbon’s Charter (7th August
1500). Almeida’s Charter, dated back to 1st July 1510, joined the second
phase, which began that year with the charters of Beira.
A reform of weights and measures, linked to the updating of monetary
debts, preceded the reform of the charters.
We make the transcription of the New Charter of Almeida (Forral Novo)
to see the examples of the decisions that were taken. The Portuguese
writting style of the epoch is maintained.
Dom Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, etc, etc,. visto ho foral da dicta
villa mandamos que os direitos Reais se Recadem na forma seguinte.
PENSAM DOS MORADORES DA VILLA
Todollos moradores da dicta villa e termo ham de pagar em cada hum anno
vinte e sete Reais por dya de Sam Martinho por quinze soldos que se antiga-
mente pagou por este direito que chamaram martij negas E na dicta maneira
se pagarão os dictos vinte e sete Reais pollas dictas pesoas por outro direito
que se atee gora chamou moeda foreira a quall paga se nam farã se nam se
sete em sete annos Das quaes pagas seram escusos os cavaleiros e escudei-
ros da dicta villa e as pesoas que teverem cavallo de marca E dous jujzes or-
dinairos e hum juiz dos órfãos e dous vereadores e o procurador da villa e ho
alferez della. E a dicta paga nom faram as pesoas que nam teverem fazenda
de quinhentos e corenta Reais que se montam em vinte maravidis antiguos
de quinze soldos cada hum. E as pesoas que ham de pagar o dicto foro seram
todollos moradores de huma casa por hum morador posto que sejam orfaons
em poder do pay ou may. E se forem em poder de tutor pagaram todos os
órfãos por hûa pesoa o dicto foro soomente.

New Charter (Foral Novo) of the Village of Almeida

Foral Novo da Vila de Almeida
D. Manuel I conducted a reform of charters, anticipated by D. João II,
D. Manuel I realizou uma reforma dos forais antevista por D. João II, pois, no because, over time, the constraint behind their creation had changed.
decorrer do tempo alterou-se o condicionalismo que os motivara. Em vez de Instead of granting Benefts, the reform advocated the royal rights, im-

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O TERÇO DAS IGREJAS O TERÇO DAS IGREJAS
Avemos daver o terço do dizimo das Igrejas da dicta villa e termo do qual Avemos daver o terço do dizimo das Igrejas da dicta villa e termo do qual
terço se apartará hum terço pera a fábrica da Igreja. terço se apartará hum terço pera a fábrica da Igreja.

BARCA
A pasagem da barca da Ribeira de Côa pertence ao alcaide moor da dicta
villa. E levaraão somente por besta mayor hum Real e por menor meyo
Real. E a pesoa do homem que pagar por sua besta nom pagará nada. E
por pesoa que nom leva besta meyo Real. E os moradores da dicta villa
nom pagarão a dicta passagem por quanto sam hobrigados de hyrem lan-
çar a agoa ou tirar quando se perder e trazer ao porto. E a dicta barca há
de fazer e refazer o Senhorio dos dictos direitos.
BARCA
A pasagem da barca da Ribeira de Côa pertence ao alcaide moor da dicta
villa. E levaraão somente por besta mayor hum Real e por menor meyo
Real. E a pesoa do homem que pagar por sua besta nom pagará nada. E
por pesoa que nom leva besta meyo Real. E os moradores da dicta villa
nom pagarão a dicta passagem por quanto sam hobrigados de hyrem lan-
çar a agoa ou tirar quando se perder e trazer ao porto. E a dicta barca há
de fazer e refazer o Senhorio dos dictos direitos.

MONTADOS MONTADOS
Dos montados e maninhos ussará a dicta villa como até qui fez sem outra Dos montados e maninhos ussará a dicta villa como até qui fez sem outra
contra diçam nem em novaçam. contra diçam nem em novaçam.

PENA DARMA PENA DARMA

A pena darma hé dos jujzes a quall levarão desta maneira a saber de pena
de sange cento e corenta Reais. E das outras penas levarão Cento e sesenta
Reais e majs as armas. E quanto a mais decraraçam da dicta pena hé tal
como há da villa de Cerzedas que está. (sic) folhas.
SENTENÇAS
A dizima da eixecuçam das Sentenças hé isso mesmo dos dictos jujzes
quando se dam à eixecuçam. E nom levarão mais dizima de quanto em
emxecutarem a qual nom levarão se já se levou a dizima polla dada della
em outra parte.
TABALIAENS
A Pensam dos tabaliães hé direito Real e sam dous paga cada hum duzen-
tos e oitenta Reais.
A pena darma hé dos jujzes a quall levarão desta maneira a saber de pena
de sange cento e corenta Reais. E das outras penas levarão Cento e sesenta
Reais e majs as armas. E quanto a mais decraraçam da dicta pena hé tal
como há da villa de Cerzedas que está. (sic) folhas.
IAN/TT “Livro dos Forais Novos da Beira”,
Foral Novo de Almeida – D. Manuel I, 6 de
VENTO VENTO
SENTENÇAS Novembro de 1506 O gaado do vento hé do conçelho e Recadar se à per nossa hordenaçam O gaado do vento hé do conçelho e Recadar se à per nossa hordenaçam
A dizima da eixecuçam das Sentenças hé isso mesmo dos dictos jujzes com majs decraraçam que a pesoa a cujo poder for ter o dicto gaado ho com majs decraraçam que a pesoa a cujo poder for ter o dicto gaado ho
quando se dam à eixecuçam. E nom levarão mais dizima de quanto em irá dizer a dicta villa a pesoa que pera isso for emlegida so pena de lho irá dizer a dicta villa a pesoa que pera isso for emlegida so pena de lho
emxecutarem a qual nom levarão se já se levou a dizima polla dada della demandarem de furto. demandarem de furto.
em outra parte. Aqui se acabam os direitos particullares da dicta villa. E quanto a porta- Aqui se acabam os direitos particullares da dicta villa. E quanto a porta-
gem hé tal como há da Cidade da guarda que está em princípio que se co- gem hé tal como há da Cidade da guarda que está em princípio que se co-
TABALIAENS meça no capitollo que diz primeiramente decraramos atee fim de todollos meça no capitollo que diz primeiramente decraramos atee fim de todollos
A Pensam dos tabaliães hé direito Real e sam dous paga cada hum duzen- capitollos donde djz dada. Salvo este lugar por quanto hé porto de castella capitollos donde djz dada. Salvo este lugar por quanto hé porto de castella
tos e oitenta Reais. e temk alfandega levará mais este capitollo que sege. e temk alfandega levará mais este capitollo que sege.

SAIDA PER TERRA SAIDA PER TERRA

E das dictas manifestaçooens (20v.) de fazer saber a portagem nom se-
ram escusso as pesoas que tirarem per ho dicto lugar mercadorias pera
Castella ou as meterem de Castella per hy, posto que as hy nom conprem
nem vendam por ser o deradeiro lugar do estremo. E pagarão hy dellas
entrando ou saindo como das taes cousas no dicto lugar se manda pagar
de conpra ou venda por este foral. A quall portagem de pasagem hy majs
nam pagarão das dictas cousas se ahy dellas pagarem de conpra ou ven-
da no dicto lugar. Nem pagarão as pesoas privilligiadas asy de compra
e venda como de passagem. Nom sendo cousas de que se mande pagar
dizima na alfandega do dicto lugar por que a tall dizima nom se escusa per
privillegio de portagem. Porem quem pagar dizima das taaes cousas nom
se pagará hy mais dellas nhuum outro direito de portagem.
E este capiyolo há dentrar na fim do capitolo que diz cos que ouverem de
tirar atee ho outro capitolo das pesoas eclesiásticas.
Dada em santarém ao primeiro dya de Junho anno de mijl e quinhentos e
dez. E vaj hum delles escrito em xb folhas e duas Regras. E o outro em xb
folhas e duas Regras com a soescriçam de fernam de pina 18.
18 Rodrigues, Adriano Vasco – Os Lusitanos; Foral Manuelino da Vila de Almeida, in Forais da Beira,
Leitura: Luís Fernando de Carvalho Dias, pág. 28;
E das dictas manifestaçooens (20v.) de fazer saber a portagem nom se-
ram escusso as pesoas que tirarem per ho dicto lugar mercadorias pera
Castella ou as meterem de Castella per hy, posto que as hy nom conprem
nem vendam por ser o deradeiro lugar do estremo. E pagarão hy dellas
entrando ou saindo como das taes cousas no dicto lugar se manda pagar
de conpra ou venda por este foral. A quall portagem de pasagem hy majs
nam pagarão das dictas cousas se ahy dellas pagarem de conpra ou ven-
da no dicto lugar. Nem pagarão as pesoas privilligiadas asy de compra
e venda como de passagem. Nom sendo cousas de que se mande pagar
dizima na alfandega do dicto lugar por que a tall dizima nom se escusa per
privillegio de portagem. Porem quem pagar dizima das taaes cousas nom
se pagará hy mais dellas nhuum outro direito de portagem.
E este capiyolo há dentrar na fim do capitolo que diz cos que ouverem de
tirar atee ho outro capitolo das pesoas eclesiásticas.
Dada em santarém ao primeiro dya de Junho anno de mijl e quinhentos e
dez. E vaj hum delles escrito em xb folhas e duas Regras. E o outro em xb
folhas e duas Regras com a soescriçam de fernam de pina 18.

82 83
Chegada dos Judeus expulsos de Espanha
Na sequência da recém unificada Espanha pelos Reis Católicos, Fernando
e Isabel, e do reforço da tradicional união entre a Igreja e o Estado e com
receio da conversão de cristãos ao Judaísmo, aqueles Reis em 31 de Março
de 1492, publicaram um tenebroso decreto, redigido pelo Inquisidor – Ge-
ral, Frei Tomás de Torquemada, que interditava a pratica daquela religião a
partir de um prazo de 3 meses 19. Os sefarditas ou optavam por se converter
ao Cristianismo ou emigravam. A maior parte decidiu deixar a Espanha.
Os que se encontravam mais próximos de Portugal solicitaram ao Rei D.
João II autorização de acolhimento ou transito pelo País. Autorizou, vendo
vantagens lucrativas naquela entrada. Foram indicados postos de controlo
e regulamentadas as portagens. Cada um devia pagar a elevada quantia de
8 cruzados, em quatro pagas, excepto as crianças de peito e os oficiais me-
cânicos (ferreiros, latoeiros, malheiros, armeiros, etc.) que decidissem ficar
em Portugal, pagando apenas metade. Esta presença seria benéfica para o
País. A autorização de trânsito era por um período de 8 meses, obrigando-se
o Rei a fornecer barcos para os transportar ao destino. Um número muito
elevado de israelitas entrou em Portugal. Sabemos por Andrés Bernaldés
e pelo Cura de Los Palácios que terão saído de Ciudad Rodrigo cerca de
35 mil, entrando por Vilar Formoso, fixando-se em Almeida e nas vilas
próximas de Castelo Bom, Castelo Mendo, Pinhel, Vilar Maior, Alfaiates,
Sabugal e a Norte, Castelo Rodrigo, Vila Nova de Foz Côa 20. Para o in-
terior Trancoso, Celorico da Beira, Linhares, Cidade da Guarda e ainda
outras povoações. Nesta região foram bem acolhidos, principalmente em
localidades onde já havia judiarias. Almeida distinguiu-se pelo humanismo
do acolhimento. No território de Riba Côa evidenciaram-se como cristãos
novos, praticando a Medicina, o Direito, a actividade comercial e artesa-
nal e também, com muita frequência, o sacerdócio. Pouco depois da sua
fixação os judeus expulsos de Espanha, contribuíram nesta região para a
divulgação da arte mudéjar testemunhada com os belos tectos artesoados
de igrejas. A norte de Almeida encontra-se um dos mais belos, o da Capela-
mor da igreja de Escarigo. A sul, o da igreja matriz de Vilar Formoso, no
actual concelho de Almeida. Há também ali judiaria. No concelho de Sabu-
gal há mais de uma dezena de tectos com influência mudéjar.
A presença judaica deixou abundantes testemunhos na região de Riba Côa,
principalmente no território vizinho de Almeida. Os principais testemu-
nhos persistem nas judiarias. Conservam-se objectos de culto, entre eles
Parokhtet (cortina, séc. XV) que se colocava na Sinagoga, em frente da
Arca Santa e se guarda na igreja matriz da Vermiosa e uma lâmpada do
Shahat (sec XVI) conservada na igreja da Meda. Em Castelo Rodrigo per-
sistem as paredes da Sinagoga e a Mikveh, transformada em cisterna. Há na
região outros testemunhos, inclusivamente marcas de oficinas de artífices
mecânicos, gravadas na torças das portas (séc. XVI e XVII). Esta memória
serve o turismo cultural.
O Castelo Medieval
D. Manuel I, preocupado com a defesa do Reino, encarregou o seu escudei-
ro Duarte de Armas, hábil desenhador (debuxador) de retratar as fortifica-
19 Crónica de los Reys Católicos, cap. CXII;
20 Sierro Malmierca, Feliciano, Judios, Moriscos, Inquisición en Ciudad Rodrigo,
Arrival of the Jews expelled from Spain
Following the newly unified Spain, by the Catholic Kings, Fernando and
Isabel, and the strengthening of the traditional union between Church
and State and fearing that Christians would be converted to Judaism,
on 31st March 1492, those Kings published a heinous decree, written
by the Grand Inquisitor, Friar Tomás de Torquemada, which prohibits
the practice of that religion from a period of 3 months 20. The Sephardi
Jews could either become converted to Christianity or emigrate. Most
decided to leave Spain. Those who were closest to the King of Portugal
requested D. João II an authorization to be welcomed or to go across
the country. The king authorized it, seeing advantages in that profit-
able entry. Control outposts were set and the tolls were regulated. Each
would had to pay the high amount of 8 cruzados, in four instalments,
except for toddlers and mechanical officers (blacksmiths, tinsmiths, ar-
mours, mailers, etc.); if they decided to stay in Portugal, they would
pay only half. This presence would be beneficial to the country. The
transit authorization covered a period of 8 months, forcing the King to
provide boats for transportation towards the destination. A high number
of Israeli entered in Portugal. We known by Andrés Bernaldés and by
the Priest of Los Palácios that around 35 thousand left Ciudad Rodrigo,
entering through Vilar Formoso and settling grounds on Almeida and
nearby villages, such as Castelo Bom, Castelo Mendo, Pinhel, Vilar
Maior, Alfaiates, Sabugal e a Norte, Castelo Rodrigo, Vila Nova de Foz
Côa 21. Towards the interior in Trancoso, Celorico da Beira, Linhares,
Cidade da Guarda and other villages. In this region, they were well
received, especially in localities which already had Jewry. Almeida was
distinguished by the warm welcome. In the territory of Riba Côa, they
were highlighted as New Christians, practicing medicine, law, business
and crafts and, often, priesthood. Shortly after their establishment, the
Jews that were expelled from Spain contributed to the dissemination of
the Mudejar art, which can be seen in the beautiful ceilings of churches.
To the North of Almeida, there is one of the most beautiful ceilings,
the one from the mother church of Escarigo. To the south, the mother
church of Vilar Formoso, in the current council of Almeida. A Jewry
can also be found there. In the council of Sabugal, we can find more
than a dozen ceilings with a Mudejar influence.
The Jewish presence in the region left important evidences on Riba
Côa, especially in the neighboring territory of Almeida. The main evi-
dences remain on the Jewry. There are objects of worship, including a
Parokhtet (curtain, 15th centurty) which was placed in the synagogue, in
front of the Holy Ark and was kept on the mother church of Vermiosa
and a lamp of the Shabbat (16th century), preserved at the church of
Meda. In Castelo Rodrigo the walls of the Synagogue and the Mikveh,
transformed into tank, still persist. There are vestiges on the region, in-
cluding brands of workshops of mechanical artisans, recorded on doors
(16th and 17th century). This memory serves cultural tourism.
The Medieval Castle
D. Manuel I, concerned with the Kingdom’s defense, instructed his squire
Duarte de Armas, a skilled designer (drawer) to portray the border’s for-
84
ções de fronteira, evidenciando o seu estado de conservação. O Escudeiro
tomou duas vistas panorâmicas dos Castelos, desenhando-as em papel, que
formou dois volumosos tomos, o A e o B, que o Rei mandou guardar na
Torre do Tombo e ficaram conhecidos por Livro das Fortalezas de Duarte
de Armas. As folhas nº 73 e nº 74 mostram aspectos do Castelo e da povoa-
ção de Almeida. A primeira vista foi tomada do sul e a segunda de nordeste.
Por ela sabemos que no séc. XVI a fortaleza conservava um aspecto me-
dieval, com duas ordens concêntricas de muralhas, uma interior formando
uma espécie de cidadela em torno da Torre de Menagem medieval. A mu-
ralha mostrava acrescentamentos recentes formados por duas meias torres
salientes, construídas pela necessidade de responder à guerra com armas
de fogo. Por esta razão em vez de seteiras rasgaram troeiras. A muralha
exterior, que circundava a cidadela, tinha nos cantos torreões circulares e,
em torno das ameias, havia também troeiras adaptadas ao cano das armas
de fogo. A fortaleza dista de nordeste, mostrava, além de uma torre circular
comum ao lado sul, três torres, igualmente circulares dotadas de troeiras em
vez de Seteiras. Também deste lado, na muralha da cidadela há meia torre
com idênticas aberturas circulares, mas encimadas por cruz para melhor
observação do atirador. O cubelo coroado por ameias e a Torre de Mena-
gem mostram seteiras rasgadas, de acordo com a guerra medieval 21.
Foi a partir das obras efectuadas no Castelo de Almeida, no Reinado de D.
Manuel I, que se iniciou a transição para a arquitectura militar abaluartada,
destinada a resistir ao impacto das balas de canhão. Esta evolução acom-
panhou a paz e a guerra com Espanha. O primeiro período coincide com a
guerra da Restauração. Em 1762 na sequência do Pacto de Família, (Fran-
ça, Espanha, e Itália) Portugal, por razão da aliança com Inglaterra sofreu
invasão espanhola e cerco da Praça de Almeida, que acabou por ser tomada
em 27 de Agosto daquele ano.
Restituída a Portugal foram construídos também edifícios militares. Os me-
lhoramentos prosseguiram pelo séc. XVIII e XIX, neste principalmente na
sequência dos danos sofridos pelas invasões francesas 22.
A Fortaleza Abaluartada
De forma sucinta podemos dizer que Almeida é rodeada por muralhas de
cantaria, acompanhadas de fossos, formando um hexágono com seis balu-
artes e seis cortinas com canhoneiras e revelins.
Tem quatro portas, das quais, a de S. António e a de S. Francisco, tiveram
pontes levadiças. A fortaleza foi dotada de casamatas e de edifícios destina-
dos a vários fins militares. Presentemente, vem beneficiando de interven-
ções com obras de conservação e restauro sobre orientação e apoio técnico
do Arq. Doutor João Campos. 23
No séc. XVIII, o Rdo. P. João Bautista de Castro, referiu-se assim á Praça
de Almeida:
È cabeça de Província quanto ao militar, onde assiste o Governador e está
a Vedoria. Tem fortificação regular com tudo quanto é preciso para boa
defesa, com gente, munição, armamento, bons fossos e bons quartéis. No
meio da Praça, onde faz o terreno maior elevação, se vê o seu famoso Cas-
telo, donde se descortinam terras de onze bispados e onde está o armazém
21 Para aprofundar ver Vilhena de Carvalho, José – O Castelo de Almeida, 2006;
22 Sobre a Evolução da Obras da Fortaleza ver Vilhena de Carvalho, Almeida, vol. I;
23 Campos, João, Almeida- As cobertas das casamatas, 2006 e Almeida- Portas e Poternas da Praça-
Forte, 2007;
85
tifications, showing its state of conservation. The Squire took two pano-
ramic views of the Castles, drawing them on paper and forming two large
volumes, A and B, that the King order to be kept at Torre do Tombo and
the volumes became known as Livro das Fortalezas de Duarte de Armas.
The pages 73 and 74 showed aspects of the Castle and of the village of
Almeida. The first view was taken from the south and the second one
from the northeast. Through them, we know that, on the 16th century, the
fortress has a medieval aspect, with two concentric sets of walls, an inte-
rior one forming a citadel-like structure around the medieval Keep.
The wall showed some recent additions formed by two protruding half
towers, built by the need to respond to war with firearms. For this reason,
instead of arrow slits, they built embrasures. The outer wall, which sur-
rounded the citadel, had circular turrets at the corners and, around the bat-
tlements, there was also some embrasures adapted to the barrel of fireweap-
ons. From the northeast, the fortress, apart from a circular tower common
to the south side, showed three towers, equally circular and gifted with
embrasures instead of arrow slits. provided with troeiras for Seteiras. Also
on this side, on the wall of the citadel tower, there a half-tower with identi-
cal circular openings, but topped with a cross for better observation of the
shooter. The square turret crowned with battlements and the Keep show
broken arrow slits, according to medieval war style 22.
After the works performed on the Castle de Almeida, during the reign
of King Manuel I, the transition towards the bulwarked military ar-
chitecture started to take place, designed to withstand the impact of
bullets in cannons. This development followed the peace and war with
Spain. The first period coincides with the War of Restoration. In 1762,
following the Pacto de Família (France, Spain and Italy), Portugal, for
the alliance with England, suffered a Spanish invasion and Almeida’s
stronghold was besieged, which was eventually capitulated on 27th Au-
gust that year.
After it was given back to Portugal, military buildings were also con-
structed. The improvements continued during the 18th and 19th century,
during the latter mainly due to the damages suffered during the French
invasions 23.
The bulwarked fortress
In short we can say that Almeida is surrounded by ashlar masonry walls,
with ditches, forming a hexagon with six bulwarks and six curtains with
gun platforms and ravelins.
It has four doors, of which, the ones of St. António and of St. Francisco
had drawbridges. The fortress was gifted with casemates and military
buildings. Currently, it has benefited from preservation and restoration
Works performed under the guidance and technical support of Professor
João Campos. 24
On the 18th century, the Reverend João Bautista de Castro made the fol-
lowing reference to Almeida’s Stronghold:
It is head of Province, concerning military subjects, where the Gover-
nor and Controller General’s House are located. It features a regular
fortification with everything needed for a good defense, with people,
ammunitions, weapons, good ditches and good Barracks. On the mid-
dle of the Stronghold, where the terrain is higher, its famous Castle can

Duarte de Armas, “Livro das Fortalezas”,
códice A, fl.73 e 74 (Fac-símile do Ms.159
da Casa Forte do IAN/TT, c. 1508-1510).
da pólvora, feito à prova de bomba e poço de água nativa, muito boa. Faz-
lhe frente Ciudad Rodrigo. 24
Apesar de paiol da pólvora ser à prova de bomba, como se diz atrás, no dia
27 de Agosto de 1810, durante a invasão francesa comandada pelo General
Massena, deu-se uma terrível explosão naquele depósito, que destruiu parte
das fortificações, grande número de casas, a Igreja, o Castelo, fez centenas
de mortos, levando à capitulação.
Almeida, Pólo de Cultura
Durante a Idade Moderna irradiou de Almeida a cultura religiosa católica
e também a militar. Teve conventos, um de freiras franciscanas sob a evo-
cação de Nossa Senhora do Loreto, que, durante o domínio filipino, des-
pertou as atenções de Filipe II de Portugal, que lhe concedeu privilégios,
confirmados por Filipe III, em 1628. Mais tarde em 1766, o Governador
da Praça, interveio propondo a transferência do Mosteiro para outro local,
afim de o edifício ser utilizado para fins militares e hospital. Assim se fez.
Outro convento foi o do Santo Cristo da Barca, com capela, pertencente a
frades da Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência. A sua actividade
evidenciou-se a partir do séc. XVIII até à extinção das Ordens, em 1834.
Ao clero secular e ao regular era confiada a instrução e catequização do
Povo. A grande motivação religiosa de Almeida testemunha-se na Igreja
Matriz, sob evocação de Nª. Senhora da Purificação, ou das Candeias,
reedificada em outro local depois da explosão do paiol da pólvora nas
invasões francesas. Igualmente se comprova pelos conventos e capelas
existentes na Praça e vizinhanças. A mais antiga capela deve ser a da Se-
nhora do Mosteiro, que terá pertencido a um Convento dos Templários.
Conservam-se as capelas de Santa Barbara, S. João Baptista, Senhora da
Agonia, S. Pedro Mártir, Vera Cruz (derrubada), capela da Misericórdia
e do Senhor da Barca.
Podemos também citar pelo grande interesse que revela a cultura ministra-
da pela Igreja, o historiador Frei Bernardo de Brito, nascido em Almeida,
em 20 de Agosto de 1569, filho do capitão desta Praça, Pedro Cardoso de
Andrade e de Maria de Brito. Foi enviado para Roma, ainda criança e ali
aprendeu profundamente Latim, Italiano, Francês, Grego e Hebraico, tor-
nando-se um verdadeiro humanista, integrado no Renascimento, que então
decorria. Aos 15 anos tornou-se Frade Bernardo. Tendo voltado a Portugal,
frequentou a Universidade de Coimbra e ali concluiu Teologia. Dedicou-
se à investigação histórica escrevendo parte da Monarquia Lusitana e a
Crónica de Cister. O Rei nomeou-o Cronista-Mor. Faleceu em Almeida em
1617, sendo o corpo transferido para o convento de Alcobaça, e enterrado
na Sala do Capitulo, em reconhecimento do seu mérito como cronista.
Almeida foi Comenda da Ordem de Cristo, chegando a reunir 24 clérigos.
Teve também clérigos da Ordem de S. João de Deus, que serviram no Hos-
pital Militar.
Almeida foi uma verdadeira escola da cultura militar, formando distintos
oficiais em várias armas. A fortaleza destinada a opor-se ás armas de fogo,
privilegiou a Artilharia e a Engenharia. Em 24 de Dezembro de 1732, D.
João V criou Academias Militares para formar engenheiros, tendo escolhi-
do três Praças fortes, entre elas, Almeida. 25
24 Bautista de Castro, João – Mappa de Portugal, Liv. II pág. 387;
25 Arquivo Histórico Militar, cit Vilhena de Carvalho, in Almeida, vol. I.;
87
be seen, where the lands of eleven bishoprics can be unraveled and
where the gunpowder magazine, bomb-proof, and the water well, very
good, are located. It is faced by Ciudad Rodrigo. 25
Although the magazine was bomb-proof, as is said above, on 27th Au-
gust 1810, during the French invasion led by General Massena, a ter-
rible explosion took place on that deposit, which destroyed part of the
fortifications, a large number of houses, the Church, the Castle and
made hundreds of deaths, which lead to the capitulation of the village.
Almeida, a Pole of Culture
During the Modern Age, Almeida emitted a Catholic religious and also a
military culture. It had convents, one of them of St. Francis nuns, in honor of
Our Lady of Loreto, which, during the Filipes’ rule, caught the eye of Filipe
II of Portugal, who gave it privileges, confirmed by Filipe III in 1628. Later,
in 1766, the Stronghold’s Governor intervene proposing the transferral of
the Monastery to another location, to have the building serving military and
hospital proposes. That was done. Another convent was the one from Santo
Cristo da Barca, with a chapel, which belonged to friars of the Third Order
of S. Francisco da Penitência. Their activity was highlighted during the 18th
century, until the Orders were extinct, in 1834.
The secular clergy and the regular clergy were in charge of the people’s
education and evangelization. The great religious motivation of Almeida
can be witnessed on the Mother Church, in honor of Our Lady of the Purifi-
cation, or Lights, rebuilt in another location after the explosion of gunpow-
der magazine during the French invasion. The convents and chapels on the
stronghold and its surrounds are also a proof of that importance. The oldest
is probably the chapel of Our Lady of the Monastery, which belonged to a
Convent of the Templars. Still preserved are the chapels of St. Barbara, S.
John of God, Our Lady of Agony, Martyr St. Peter, Vera Cruz (destroyed),
and the chapel of Misericórdia and of Senhor da Barca.
We can also quote, for the great interest that the culture taught by the
Church shows, the historian Frei Bernardo de Brito, born at Almeida
on 20th August 1569, son of the stronghold’s Captain, Pedro Cardoso
de Andrade and Maria de Brito. He was sent to Rome as a child and
there he learned Latin, Italian, French, Greek and Hebrew, becoming a
true humanist of the Renaissance, which was then taking place. When
he was 15 years old, he became a Bernardo Friar. Having returned to
Canada, he attended the University of Coimbra and concluded the The-
ology course. He devoted himself to perform historical, writing a large
part of the Monarquia Lusitana and of Crónica de Cister. The king
appointed him as a Chief Chronicler. He died on Almeida in 1617, and
his body was transferred to the monastery of Alcobaça and buried in the
Chapter Room, in recognition of his merits as a historian.
Almeida was Commander of the Order of Christ, gathering as much as
24 clerics. It also had some clerics from the Order of St John of God,
who served in the Military Hospital.
Almeida was a true school of military culture, training distinct officers
in several different weapons. The fortress meant to be opposed to fire
weapons privileged Artillery and Engineering. On 24th December 1732,
King D. João V created Military Academies to train engineers, choos-
ing three strongholds, and among them, Almeida.

Além dos conventos prestarem assistência, concentrou-se na Santa Casa da
Misericórdia, destinada a pobres e enfermos.
Não se sabe rigorosamente a data em que foi criada mas fazem-lhe referên-
cias em 1520 (D. Manuel I) e 1528 (D. João III). Em 1680 entraria em obras
o novo edifício, que só viria a ser concluído depois de 1692, altura em que
a Princesa portuguesa e ex - Rainha de Inglaterra, D. Catarina de Bragança,
regressou viúva a Portugal, por razão da condenação à morte do seu mari-
do, o Rei Carlos II. Enferma, durante a viagem, convalesceu em Almeida
durante meses até recuperar (3-3-1692 a 20-1-1693). Concedeu àquela Mi-
sericórdia uma enorme soma, que permitiu concluir os trabalhos.
Almeida foi centro de importantes eventos históricos militares, devido à sua
posição estratégica e capacidade defensiva. Entre os mais referidos, evi-
denciam-se os do período das Invasões Francesas, de1807, até à expulsão
definitiva de Portugal dos Exércitos Napoleónicos. A Câmara Municipal
de Almeida vem comemorando condignamente o bicentenário, mediante
várias realizações relevantes para a Cultura. Distinguem-se as publicações
de trabalhos escritos, entre elas as da Colecção Bicentenário da Guerra
Peninsular. Eis, alguns títulos:
- A Praça de Almeida na “Guerra Fantástica”, de António Martins Bar-
rento e José Vilhena de Carvalho; - A Infantaria Ligeira na Guerra Pe-
ninsular, por René Chartrand e Sérgio Veludo Coelho; - A Região de Riba
Côa na visão do francês August du Fay, por António Pedro Vicente; - Al-
meida e as Invasões Francesas, por Nuno Barrento de Lemos Pires e Au-
gusto Monteiro Valente; - As Terras da Beira nas Invasões Francesas, por
António de Sousa Júnior, Manuel A. Ribeiro Rodrigues e Adriano Vasco
Rodrigues; - Da Praça de Almeida à Batalha do Buçaco: seu contexto na
Guerra Peninsular, por Manuel Jorge Pereira de Carvalho; - História do
Regimento nº 23 desde a organização em 1806 até hoje, por Aniceto de
Paiva Gonzales Bobela.
Também vêm sendo realizados importantes trabalhos de conservação,
recuperação e restauro, que motivaram estudos de elevado nível técnico
e científico, evidenciando-se as publicações do Arquitecto Doutor João
Campos: Almeida, As coberturas das casamatas e Almeida, portas e po-
ternas da Praça Forte. 26
26 O Arquitecto Doutor João Campos é membro do Comité Internacional das Cidades Históricas (ICOMOS)
e Consultor do Município de Almeida para o Património Histórico e Monumental da Vila, à qual vem prestan-
do valioso apoio. Professor João Campos, an architect, is a member of ICOMOS – International Council of
Monuments and Sites and a Consultant for the Council of Almeida on Historical and Monumental Heritage of
the Village, to which he has provided precious support.
Apart from the convents, which offered some support, the Santa Casa
da Misericórdia was also opened, supporting poor and sick people.
We do not know the exact date for its creation but it is referred in 1520
(King D. Manuel I) and in 1528 (King D. João III). In 1680, the new
building started the works, which would only be concluded after 1692,
when the Portuguese princess and former English queen, Catherine of
Braganza, returned as a widow to Portugal, since her husband, Charles
II, was convicted to death penalty. During the journey she fell ill and
she recovered in Almeida for a few months (3-3-1692 to 20-1-1693).
She gave that Institution a large sum, which allowed for the conclusion
of the works.
Almeida was the centre for important military historical events, due to
its strategic position and defensive capacity. Among the most famous
are the French invasions, of 1807, and the definitive expulsion of the
Napoleonic Armies of Portugal. Almeida’s City Hall has been right-
eously celebrating the bicentennial with several relevant cultural ac-
complishments. Some written publications can be highlighted, among
which the ones from the Colecção Bicentenário da Guerra Peninsular.
Here are some titles:
- A Praça de Almeida na “Guerra Fantástica”, by António Martins Barrento
and José Vilhena de Carvalho; - A Infantaria Ligeira na Guerra Peninsular,
by René Chartrand and Sérgio Veludo Coelho; - A Região de Riba Côa na
visão do francês August du Fay, by António Pedro Vicente; - Almeida e as In-
vasões Francesas, by Nuno Barrento de Lemos Pires and Augusto Monteiro
Valente; - As Terras da Beira nas Invasões Francesas, by António de Sousa
Júnior, Manuel A. Ribeiro Rodrigues and Adriano Vasco Rodrigues; - Da
Praça de Almeida à Batalha do Buçaco: seu contexto na Guerra Peninsular,
by Manuel Jorge Pereira de Carvalho; - História do Regimento nº 23 desde
a organização em 1806 até hoje, by Aniceto de Paiva Gonzales Bobela.
Some important preservation, recovery and restoration works have
been performed, which motivated studies of a high scientific and tech-
nical quality, among which we can highlight the works of Professor
João Campos: Almeida, As coberturas das casamatas e Almeida, portas
e poternas da Praça Forte.26
The works performed by the Council are greatly due to the commit-
ment of the President, Prof. António Baptista Ribeiro, who contributed
towards the cultural and artistic of this historic Stronghold, reason why,
without any intention of being flattering, I think he must be referenced
to this work on Culture.
88
Aspectos actuais das ruínas dio Castelo Medieval,
no interior da Fortaleza de Almeida
Present aspects of the ruins of the Medieval Castle
in the interior of the Almeida Fortress
Vista Aérea de Almeida. Foto gentilmente cedida pelo Prof. Eng. Francisco Figueiredo
Aereal view of Almeida. Phto gently authorized by Prof. Eng. Francisco Figueiredo
Os trabalhos realizados pelo Município devem-se em grande parte ao em-
penhamento do Presidente, Prof. António Baptista Ribeiro, contribuindo
para o enriquecimento cultural e artístico desta histórica Praça, razão por
que sem qualquer intuito lisonjeiro, entendo dever ser referenciado neste
trabalho consagrado à Cultura.
Entre as recuperações dos equipamentos arruinados, libertados graças ao
Município, está o Picadeiro d’el Rey, transformado em Centro Hípico, ser-
vindo o turismo cultural.
Também o Posto de Turismo passou a funcionar nas Casas da Guarda e,
igualmente, dentro da Fortaleza, o Museu Histórico Militar, nascido do
aproveitamento e revitalização das casamatas e espaços perdidos, degra-
dados pelo abandono.
Importante e com real interesse histórico e cultural é o Centro de Estudos
de Arquitectura Militar Almeida, que faz sentir a sua voz através da publi-
cação da revista CEAMA, nome nascido das iniciais daquele Centro. Além
da publicação das Actas das Jornadas de Arquitectura Militar Abaluartada,
contem artigos sobre temas da História Militar de Almeida, com interesse
não só local mas nacional e internacional. Saíram vários números.
Dada a abrangência dos trabalhos de História Local publicados pela Câ-
mara Municipal de Almeida, remeto para eles o leitor, circunscrevendo,
principalmente, este estudo ao campo cultural.
A consequência mais importante das Invasões Francesas, foi terem contribu-
ído para o triunfo das ideias liberais em Portugal e queda do Antigo Regime
com a Revolução de 1820. A reacção absolutista, que veio a seguir, principal-
mente depois de 1828 com a chegada de D. Miguel, transformou a Fortaleza
de Almeida em prisão, ocupada alternadamente pelos beligerantes da Guerra
Civil, que ensanguentou uma boa parte do séc. XIX, em Portugal.
Apesar de terem passado pelas prisões de Almeida vultos iminentes, entre
eles o grande tribuno José Estêvão de Magalhães, a sua presença não dei-
xou reflexos culturais na Vila.
Houve, desde o séc. XVI até ao XIX, pessoas nascidas em Almeida, que
se distinguiram nas Arte da Guerra e ao serviço da Igreja, mas fizeram-
no, em geral, longe de Almeida. O Dr. José Vilhena de Carvalho, no
2º vol. de Almeida, indica algumas personalidades, evidenciando prin-
cipalmente as do séc. XIX, mas também a sua acção decorre longe de
Almeida. Foi a partir do último quartel do séc. XIX que se sentiu um
avanço cultural em Almeida com o aparecimento de jornais locais, de
que o primeiro terá sido o Correio de Almeida. Seguiu-se o Almeiden-
se (1887) e o Amigo da Verdade (1903). As publicações de periódicos
prosseguiram com o Correio de Almeida (1903), A Defesa do Conce-
lho de Almeida (1927), Terras de Riba Côa, e presentemente, o Praça
Alta, propriedade da Associação dos Amigos de Almeida, jornal de que
é Director o Dr. Telmo Gastão de Jesus Cunha, de seu nome literário
Telmo Cunha, conceituado escritor, residente e natural de Almeida, au-
tor de atractivos e criativos romances (Portas da Cruz, A Teia, etc.), que
marcam uma nova etapa na literatura. Escreveu também um livro evo-
cativo do passado desta Praça, intitulado Almeida, estrela de memórias
(1999). Esta obra retrata a história da Vila ao longo do séc. XX.27
Em 1927, foi suprimido o aquartelamento militar, decisão negativa social-
mente para Almeida. Em 1922 foi criado o Clube Almeidense e o Grémio
União Almeidense e em 1927 o Grémio União Almeidense. A década de
1930-40 foi a da divulgação do rádio pelo interior do País. Em Almeida
27 Cunha, Telmo, Almeida, estrela de memórias, pág, 185 e seguinte.
89
Among the recovery of ruined equipments, which were freed due to the
Council, is the Picadeiro d’el Rey, transformed into a Riding Arena,
serving cultural tourism.
Also, the Tourism Office started to operate on the Houses of the Guard
and, also, inside the Fortress, the Military Historic Museum, born of
the exploitation and revitalization of the casemates and lost spaces, de-
graded by neglect.
Also important and with a real historical interest is the Centro de Es-
tudos de Arquitectura Militar Almeida, that makes its voices heard
through the edition of the CEAMA magazine, name motivated by the
initials of the Department. It also publishes the Actas das Jornadas de
Arquitectura Militar Abaluartada, that contain articles on themes of Al-
meida’s Military History, with a local and national and international
interest. Several issues were published.
Given the scope of the works on Local History published by Almeida’s
City Hall, I ask the reader to inspect them, mainly circumscribing them
to the study of the cultural scope.
The most important consequence of the Napoleonic wars was having
contributed to the triumph of liberal ideas in Portugal and to fall of the
Old Regime with the 1820 Revolution. The absolutist reaction, which
followed, especially after 1828 with the arrival of D. Miguel, who
transformed the fortress of Almeida into a prison, occupied alternately
by the belligerents of the Civil War, that affected a good part of the 19th
century in Portugal.
Despite some imminent figures were arrested on Almeida, among them
the great politician José Estêvão de Magalhães, their presence did not
leave cultural reflects on the village.
From the 16th century to the 19th century, some people born in Almeida be-
came quite famous on the Art of War and on Church, but they became so,
generally, away from Almeida. Dr. José Vilhena de Carvalho, on the second
volume of Almeida, makes reference to some personalities, highlighting
the ones from the 19th century, but their action is also away from Almei-
da. From the last quarter of the 19th century onwards, there was a cultural
breakthrough in Almeida, with the appearance of local newspaper, the first
being Correio de Almeida. The Almeidense followed (1887) and the Amigo
da Verdade (1903). The edition of newspapers continued with Correio de
Almeida (1903), A Defesa do Concelho de Almeida (1927), Terras de Riba
Côa and, currently, o Praça Alta, which is owned by the Associação dos
Amigos de Almeida, which has Telmo Gastão de Jesus Cunha as its Direc-
tor (alias Telmo Cunha), a well known writer, residing and born at Almeida,
the author of attractive and creative novels (Portas da Cruz, A Teia, etc.),

funcionou nesse período o Teatro da Misericórdia. Foi das primeiras Vilas
do País a ter cinema sonoro.
A Filarmónica Almeidense (1933), viveu associada aos Bombeiros Volun-
tários, continuando uma tradição musical, que vinha da década anterior, em
que a banda civil coexistiu com a militar. O ponto alto da banda de Almeida
ocorreu na década de 1940. Era dirigida pelo Regente Manuel Soares de
Carvalho.
A Vila, à semelhança da vizinha Espanha, possuía Salão de Dança, onde
foram realizados concursos, segundo informa Telmo Cunha, no seu livro
sobre Almeida. Também aqui nasceu o primeiro Orfeão, composto por 70
figurantes. O impulso da criação, deve-se aos irmãos e sacerdotes Bernardo
Terreiro e Dr. Álvaro Terreiro .
Actualmente, com a universalização da T.V., perdeu implantação o Cine-
ma. Mesmo assim, em Almeida, há, semanalmente uma sessão.
O interesse pelas Artes plásticas, Pintura e Escultura mantêm-se vivo, rea-
lizando-se, periodicamente, exposições no Posto do Turismo. Mantêm-se
também um Grupo Coral, sobre a direcção do grande Regente e prestigiado
Maestro, Padre Bernardo Terreiro, autor de uma vasta obra de investigação,
de que se evidencia o Património Musical de Riba Côa (1990), Cantando
ao Senhor da Vida (2001) e Salmos Harmonizados (2007).
Em 1966, pelo empenhamento deste distinto Maestro, foi organizado o
Coro Etnográfico, que actuou em Portugal e no Estrangeiro.
Em 1959, foi criado o Colégio Frei Bernardo de Brito, instituição que pres-
tou uma enorme contribuição para a formação e promoção social da ju-
ventude desta região, sendo substituído, em finais do séc. XX, pela Escola
Secundária Oficial.
Almeida, apegada ao interior das suas muralhas, procura conciliar o Passa-
do com o Presente, potencializando o Turismo Cultural e acompanhando,
na medida do possível, o progresso social e a melhoria das condições de
vida. Todo o auxilio que lhe for prestado será justo e bem aplicado.
Outro aspecto da Praça-Forte de Almeida. Foto gentilmente cedida pelo Prof. Eng. Francisco Figueiredo
Another view of the Almeida Fortress. Photo gently authorized by Prof. Eng. Francisco Figueiredo
which mark a new stage on literature. He also wrote a book evoking the
past of this Stronghold, called Almeida, estrela de memórias (1999).This
work accounts for the village’s history throughout the 20th century. 27
In 1927, the military cantonment was suppresses, a socially negative de-
cision for Almeida. In 1922, the Clube Almeidense and the Grémio União
Almeidense were created and in 1927 the Grémio União Almeidense.
During the 1930s and 1940s, radio became disseminated throughout the
whole country. The Teatro da Misericórdia functioned during that period
in Almeida. It was one of the first villages to have a sound cinema.
The Filarmónica Almeidense (1933) was associated to the Fire Depart-
ment, continuing a musical tradition which came from the previous
decade, during which the civil band coexisted with the military one.
The highest point of Almeida’s band occurred in the 1940s. The band
was directed by the Conductor Manuel Soares de Carvalho.
The Village, similarly to the neighboring Spain, had a Ball Room,
where competitions were held, according to Telmo Cunha on his book
on Almeida. The first Orfeão is also born here, composed of 70 musi-
cians. The impulse of creation is due to the brother and priests Bernardo
Terreiro and Álvaro Terreiro 27.
Currently, with the generalization of television, Cinema lost some pro-
jection. Nevertheless, in Almeida, there is still one session per week.
The interest in Arts, Painting and Sculpture is still maintained and
several exhibitions are held frequently. The Coral Group is also main-
tained, under guidance of the great Conductor and prestige Maestro,
Padre Bernardo Terreiro, the author of enormous research, from which
one can emphasize Património Musical de Riba Côa (1990), Cantando
ao Senhor da Vida (2001) e Salmos Harmonizados (2007).
In 1966, the commitment of the Maestro organized the Ethnographical
Choir, who performed on Portugal and abroad.
In 1959, the Colégio Frei Bernardo de Brito was created, an institution
that had an enormous contribution towards the formation and social
promotion of local teenagers, which was replaced, at the end of the 20th
century, by the Official Secondary School.
Almeida, attached to the interior of its walls, tries to conciliate the
Past with the Present, enhancing Cultural Tourism and accompanying,
whenever possible, social progress and the improvement of lifestyles.
All the support given to it will be fair and well applied.
Historiador, Professor Associado de História de Arte.
Director Jubilado da Schola Europaea (U. E. – Bélgica)
Historian, Associate Professor of Art History.
Jubilated Director of the Schola Europaea (U. E. – Belgium)
90
3.4 ALMEIDA ON THE RAIA
3.4 ALMEIDA NA RAIA (SPANISH & PORTUGUESSE BORDER LINE)
Fernando Cobos-Guerra Fernando Cobos-Guerra
APRECIAÇÃO ACERCA DA SUA INCLUSÃO NA CANDIDATURA REPORT ON THE fortifications of the Portuguese
DAS FORTIFICAÇÕES DA FRONTEIRA PORTUGUESA COMO “RAIA” (BORDER LINE) for its designation as a candi-
PATRIMÓNIO MUNDIAL date for world heritage site
3.4.1. A FORTIFICAÇÃO COMO SISTEMA: em torno da carac- 3.4.1. The fortification as a system: regarding the char-
terização e valorização dos sistemas territoriais do Património. acterisation and valuation of the Territorial Heritage Systems.
“Itinerários culturais”, Declarações em série, “Sistemas territoriais patri- “Cultural itineraries”, “serial declarations”, “territorial heritage sys-
moniais”, Paisagens culturais”, são novos conceitos para a caracteriza- tems” and “cultural landscapes” are new concepts for characterising
ção do Património, alguns não muito recentes, que respondem a critérios our heritage, some not so recent, which correspond to criteria of classi-
apriorísticos de classificação, mais ou menos regulados pelas diferentes fication to a greater or lesser extent regulated by the different doctrines
doutrinas em uso, e nas quais pretendemos encaixar fenómenos culturais used, in which we attempt to fit cultural and heritage phenomena that
e patrimoniais nem sempre respondendo necessariamente aos critérios de do not necessarily correspond to the aprioristic criteria of classification
classificação previamente fixados. Curiosamente, algumas destas carac- which we have established. Curiously, some of these characteristics
terísticas que servem para estabelecer cada uma destas categorias trans- which serve to characterise each of these categories come from convert-
formam-se em leis gerais vindas de casos concretos e específicos. É difí- ing specific, concrete cases in general laws. It is difficult, for example,
cil, por exemplo, encontrar um itinerário cultural que reúna o conjunto de to find a cultural itinerary which includes the whole set of values which
valores que enriquece o Caminho Jacobeu de Santiago de Compostela. abound on the Pilgrims´ Road to Santiago de Compostela.
A fortificação, e especificamente a fortificação moderna, é o fenómeno ar- The fortification, and specifically the modern fortification, is the architec-
quitectónico que maiores possibilidades terá de entender-se como sistema. tural phenomenon which is best suited to being understood as a system. A
Uma fortaleza, somente por si mesma, não tem realmente sentido dentro da single fortification on its own does not really make sense within the strategy
Ilustração do comentário ao texto do Tratado
de Escrivá (1538): “No se puede en ninguna
manera tirando a batería (A) embocar la
tronera y tirando a embocar (B) no se puede
hacer batería”. Debate sobre uma fortaleza a
construir na Barra do Tejo, Portugal. (A.G.S.,
M.P. Y D. XII-162, c. 1581).
Illustration about the comments to the texto of
the Treaty by Escrivá (1538): “No se puede en
ninguna manera tirando a batería (A) embocar la
tronera y tirando a embocar (B) no se puede hacer
batería”. Debate on a fortress to be built in the
mouth of Tagus River, Portugal. (A.G.S., M.P. Y
D. XII-162, c. 1581).
91
estratégia que lhe deu origem e que a torna compreensível no território.
Para além disso, a caracterização como sistema permite entender o valor
de cada uma das suas peças (independentemente de cada uma delas, por
si só, poder não ser excepcional), como componentes indispensáveis para
a excepcionalidade do conjunto. Quer dizer, o valor do conjunto é maior
do que a soma do valor de cada uma das suas partes. O sistema integra-se
também nas relações territoriais e espaciais de cada uma das partes, com
a coerência do funcionamento conjunto, com a marca cultural gerada pela
implantação do sistema, independentemente mesmo da degradação ou do
desaparecimento de algum dos elementos constituintes.
As diferentes doutrinas sobre os critérios a utilizar para o reconhecimento e
valorização de um sistema basearam-se, normalmente, em estudos compa-
rativos que acentuavam os aspectos excepcionais do objecto que queriam
valorizar, em relação comparativa com os outros casos. Recentemente,
porém, realizaram-se alguns progressos sérios para estabelecer critérios
objectivos de reconhecimentos e de valorização de sistemas. Os estudos
e debates que levaram à concretização da candidatura das fortificações de
Vauban, ou o Plano Director das Fortificações Transfronteiriças do rio Mi-
nho (a que de seguida faremos referência), e a elaboração do Plano Estra-
tégico das Fortificações de Castela e Leão, são alguns dos fundamentos
que permitem fixar estes critérios objectivos. Seguindo os critérios que de-
senvolvemos recentemente para este Plano estratégico, a caracterização e
valorização de um sistema territorial patrimonial parte de uma distinção ba-
silar: um sistema territorial patrimonial pode ser”próprio” ou “impróprio”.
Entendemos por sistema “próprio” aquele que foi concebido como sistema
quando foi construído. É “impróprio” o que se reconhece como sistema a
partir do estudo e classificação do património conservado. Por exemplo,
poder-se-á considerar (podendo propiciar uma declaração em série) um
sistema composto por todas as igrejas românicas a que foi acrescentada
uma sacristia barroca. O conjunto de edifícios incluídos neste sistema, re-
partidos por toda a Europa, não seria obviamente um sistema “próprio”, já
que na sua inclusão depende uma classificação arbitrária por nós atribuída
e, além disso, nem quando se construíram as igrejas românicas, nem quan-
do se acrescentaram as sacristias barrocas, os seus construtores estavam
conscientes de pertença a qualquer sistema. Poderíamos considerar, não
obstante, e ainda que o exemplo seja deliberadamente exagerado, que este
sistema “impróprio” tem coerência cronológica (muito aberta) e estilística
(muito forçada), embora não apresente nenhuma coerência geográfica.
Pelo contrário, poder-se-ia estabelecer um marco geográfico preciso,
incluindo um itinerário cultural, e considerar o sistema formado por
todos os edifícios monumentais situados ao longo do Caminho de San-
tiago ou do rio Danúbio. Não seria também um sistema “próprio”, se
bem que, no caso do Caminho de Santiago, alguns dos edifícios seriam
certamente próprios do uso do caminho (pontes, hospitais, albergues,
alguns castelos), construídos para o serviço do caminho durante a época
histórica da sua fundação. Outros edifícios, pelo contrário, sem prejuízo
do seu imenso valor artístico (a Capela do Condestável na Catedral de
Burgos, ou o Castelo Artilheiro renascentista, de Grajal de Campos),
estão no Caminho por razões estranhas à natureza do próprio Caminho.
Neste caso teríamos um sistema territorial patrimonial “impróprio” com
coerência geográfica, mas sem coerência histórica ou tipológica.
O valor excepcional de um conjunto está, pois, relacionado com a coerên-
cia interna do dito conjunto e é a dita coerência que permite reconhecê-
which gave rise to it and which makes it comprehensible in the territory.
Furthermore, the characterisation of the system allows us to understand
the value of each of its parts (independently of the fact that these parts,
taken one by one, are not exceptional) as an indispensable part of the
uniqueness of the whole. That is to say: the value of the whole is greater
than the sum of the values of each of the individual parts. The system
is also integrated with the territorial and spatial relationships of each of
the parts, with the coherence of the functioning as a whole, with the cul-
tural framework which the implantation of the system generates within
the territory, independently even of the degradation or disappearance of
some of the elements of the system.
The different doctrines concerning the criteria to be used for the recogni-
tion and valuation of a system have normally been based on comparative
studies which accentuated the exceptional aspects of the object which
they wanted to valuate in relation to the other objects with which they
were compared. Recently, however, some important advances have taken
place in order to establish certain objective criteria for recognising and
valuating the systems. The studies and debates which led to the accept-
ance of the candidature of the fortifications constructed by Vauban or
the Master Plan for the Cross-Border Fortifications of the River Minho,
to which we will refer later, and the elaboration of the Strategic Plan for
the fortifications of Castile and Leon are some of the aids which allow
us to establish these objective criteria. Following the criteria which we
recently developed for this Strategic Plan, the characterisation and valua-
tion of a territorial heritage system began with a basic initial distinction: a
territorial heritage system could be “proper or improper”. We understood
that a proper system was that which was conceived as a system when it
was constructed. It was improper that which was recognised as a system
when starting from the study and classification of the heritage conserved.
For example, we could consider a system (which could give rise to a se-
rial declaration) which was composed of all the Romanesque churches
to which a Baroque sacristy was added. The group of buildings included Debates sobre traçados nas fortificações do
in the system, distributed throughout Europe, would obviously not be a Império, c. 1580:
Projecto de Cascais (Portugal), por Leonardo
proper system since their inclusion depends on our arbitrary classification Turriano, englobando o forte triangular e o
and, moreover, neither when the Romanesque churches were built, nor castelo velho. (A.G.S., M.P. Y D. XLII-61).
when the Baroque sacristies were added, were the builders aware of be- Implantação da bateria de assalto à Fortaleza de
S. Julião da Barra (Portugal), perto de Lisboa, em
longing to any system. We could consider, however, (even though the ex- 1581. (A.G.S., M.P. Y D. XVI-7).
ample is deliberately exaggerated) that this improper system has a (very Vista aérea do Castelo de S. Filipe de Setúbal
(Portugal), desenho por Fratín, em 1581.
open) chronological and (very unnatural) stylistic coherence, although it Traçado de Peñiscola (Espanha) segundo projecto
has no geographical coherence. de Vespasiano Gonzaga e desenho provável de
Bautista Antonelli, de 1579, com as reformas que
On the other hand, we could establish a precise geographical framework, o engenheiro Fratín pretendia fazer
even a cultural itinerary, and consider the system formed of all the monu- (A. G. S., M. P. Y D., IX-59)
mental buildings located along the Pilgrims´ Road to Santiago or along Debates on design of the fortifications of the
the River Danube. Neither would these be a proper system given that, in Empire, c. 1580:
the case of the Road to Santiago, some buildings would be proper to the Drawing for Cascais (Portugal) by Leonardo
Turriano, encircling the triangular fort and the old
use of the Road (bridges, hospitals, hostels, some castles, etc), construct- castle. (A.G.S., M.P. Y D. XLII-61).
ed to service the road at the time of its historical creation. Other buildings, Location of the assault battery to the Fortress of
S. Julião da Barra, near Lisbon, in 1581. (A.G.S.,
on the other hand, without underestimating their immense artistic value M.P. Y D. XVI-7)
(the Constables´ Chapel in Burgos Cathedral or the Renaissance gunnery Aerial view of the Castle of S. Filipe de Setúbal
castle in Grajal de Campos), are on the Road for reasons other than those (Portugal), drawn by Fratín, in 1581.
Peñiscola drawing (Spain), accordingly with a
related to the true nature of the Road itself. In this case, we would have project by Vespasiano Gonzaga and probably
an improper territorial heritage system with geographical coherence but drawn by Bautista Antonelli, in 1579, with the
reforms that engineer Fratín intended to make
without a historical or typological coherence. (A. G. S., M. P. Y D., IX-59)
92

lo como sistema. As fortificações desenhadas por Vauban, por exemplo,
objecto de uma declaração em série, são um sistema coerente, na medida
em que respondem a um período histórico concreto e a uma tecnologia e
autoria concretas. E, ainda que o conjunto não seja coerente do ponto de
vista geográfico, já que Vauban interveio nas diferentes frentes da Mo-
narquia francesa, constitui um referencial prévio de grande valor a ter em
conta. Chegados a este ponto, podemos considerar que na valorização de
um sistema territorial patrimonial parece lógico atribuir mais importância
aos sistemas “próprios” do que aos “impróprios” e, dentro destes, aos que
dispõem de coerência geográfica, aos que têm coerência histórica e, ain-
da, aos que apresentem coerência tipológica, estilística e/ou tecnológica.
3.4.2. SINGULARIDADE E EXCEPCIONALIDADE DA FORTI-
FICAÇÃO DA RAIA PORTUGUESA
A fortificação da raia portuguesa pode considerar-se, com todo o direi-
to, um sistema “próprio”, pois foi concebido como tal quando se cons-
truiu. Veremos que também tem coerência geográfica, no que respeita
Planta do Morro de Havana (Cuba), por Bautista Antonelli, finais do séc. XVI. Forte dos Três Reis Magos, Natal (Brasil), 1596,
cópia de gravura holandesa,
Plan of the Morro of La Habana(Cuba) by Bautista Antonelli, end of 16th century. meados do séc. XVII.
Fort of the Three Magus Kings, Natal (Brazil),
1596, copy of a Dutch engraving
of middle 17th century.
The exceptional value of a group of buildings is thus related to the
internal coherence of the whole and it is this coherence which allows
us to identify it as a system. The fortifications designed by Vauban and
the object of a serial declaration, for example, are a coherent system
insofar as they correspond to a specific historical period and to a par-
ticular technology and authorship. And although the group of buildings
is not coherent from the geographical point of view, given that Vauban
attended to the different fronts of the French Monarchy, they constitute
an antecedent of great value to be taken into account. Having reached
this point, we could consider that in the valuation of a territorial herit-
age system it appears logical to assign more value to the proper systems
than to the improper ones and, within the former, to those which have a
geographical and historical coherence and which, furthermore, have a
typological, stylistic and/or technological coherence.
3.4.2. Singularity and uniqueness of THE FORTIFI-
CATION OF THE Portuguese “RAIA” (BORDER Line).
The fortification of the Portuguese border line can be considered quite
rightly as a proper system, since it was conceived as such when it was
constructed. We will see that it is also geographically coherent as re-
gards its implantation on the border line, chronologically coherent since
we are dealing with a global project defined over very few years and
technologically or typologically coherent insofar as it responds perfect-
ly to certain specific principles of fortification from the middle of the
17th century. It is the sum of these factors which makes the fortification
of the Portuguese border line a singular and unique heritage site. There
are other frontiers with fortifications, other groups of coetaneous for-
tifications and, obviously, other outstanding examples of 17th century
fortification but this is a case in which the coherence of the system
means that its value is greater than the sum of the values of all the ele-
ments which comprise it.
à sua implantação na raia, coerência cronológica, posto que se trata de or less utopian ideal when the Reconquest of the lands under the Arab
a. Geographical Coherence and Singularity: um projecto global definido em muito poucos anos, e coerência tecno- domination of Al Andalus was first mooted. The border line which was
the “raia” as a cultural project lógica ou tipológica, porquanto responde perfeitamente aos princípios then projected onto a territory which the Christians did not dominate
concretos da fortificação dos meados do século XVII. É a soma destes established the obligations which each northern Kingdom assumed in
Frontiers have had a bad press. They usually separate human communi- factores que converte a fortificação da raia portuguesa num património the enormous task of regaining Hispania for Christianity. When the line
ties who consider themselves different and mark a limit between them singular e excepcional; há outras fronteiras com fortificações, outros was fixed, the Hispanics who inhabited Seville or Lisbon, Merida or
or they are the result of the imposition of an external power which di- conjuntos de fortificações coevos entre si e, obviamente, outros exem- Evora (who at that time spoke Arabic and professed the Muslim reli-
vides communities belonging to the same culture. If we observe the plos notáveis da fortificação do século XVII, mas este é um caso no gion) could not have imagined that their descendants would end up be-
political map of the Iberian Peninsula, the frontier which separates Por- qual a coerência do sistema faz com que o seu valor seja maior do que a ing Castilians or Portuguese according to what side of the line their city
tugal from the rest of the peninsula appears to be an arbitrary line which soma dos valores de todos os elementos que o compõem. was situated. The border line meant, therefore, a cultural project or the
recalls the partitioning of Africa carried out by the imperialists in the formation of a culture and, curiously, a commitment between the two
19th century. However, the Portuguese border line is possibly one of the future communities not to dispute it.
oldest frontier demarcations in the world and certainly in Europe. It is a. COERÊNCIA E SINGULARIDADE GEOGRÁFICA: A curious circumstance in the break up of the Latin language would add
so old that it existed before the lands that it separates were really Por- a raia como projecto cultural a cultural ingredient essential for the cultural projects of both sides of
tugal and Castile. It is no coincidence that, since its origin, the frontier the border line. In the pocket of the Northern Peninsula to which Latin
between Portugal and Castile has been called the “Raia” (line). If, for As fronteiras têm más ressonâncias, promovem a separação de comuni- had been confined, three new languages sprang up and spread south-
the Iberian, Punic, Roman and Andalusian world, the Iberian Peninsula dades humanas que se consideram diferentes e marcam uma delimitação wards following the pre-marked border lines: Galician-Portuguese in
constituted an obvious geographical and political unit, for the incipient entre elas ou obedecem à imposição de um poder externo que separam the west, Catalan in the east and Castilian in the central part of the
Christian Kingdoms of the north the idea of Hispania was also a more comunidades de uma mesma cultura. Se observarmos o mapa político Iberian Peninsula.
94 95
 Projectos para Grol e para Dama, na Flandres,
1617. Valladolid, Archivo General de Simancas,
Mapas, Planos y Dibujos, IV-85 y IV-86.
Drawings for Griolo and Dama, in Flanders, 1617.
Valladolid, Archivo General de Simancas, Mapas,
Planos y Dibujos, IV-85 y IV-86.
Frente Velha de La Valletta (Malta),
por J. Médicis e J. Garay, 1640.
F. Negro y C. M. Ventimiglia, Atlante de cittá e
fortezze del regno di Sicilia (1640).
Madrid, Biblioteca Nacional de España.
Old Front of La Valletta (Malta)
by J. Médicis e J. Garay, 1640.
F. Negro y C.M. Ventimiglia, Atlante de cittá e
fortezze del regno di Sicilia (1640).
Madrid, Biblioteca Nacional de España.

da Península Ibérica, a linha fronteiriça que separa Portugal do resto
da Península parece um traçado arbitrário que se assemelha à reparti-
ção dos territórios africanos feito pelos colonizadores do século XIX.
E contudo, a linha fronteiriça portuguesa é possivelmente uma das de-
marcações fronteiriças mais antigas do mundo e, seguramente, da Eu-
ropa. É tão antiga que existia antes de os territórios que separa serem
realmente Portugal e Castela. Não é por acaso que, desde a sua origem,
a fronteira de Portugal e Castela se chame “a raia”.
Se para o mundo ibérico, púnico, romano, visigodo e andaluz, a Penín-
sula Ibérica constituía uma unidade geográfica e política evidente, para
os incipientes reinos cristãos do Norte a ideia da Hispânia era também
um ideal mais ou menos utópico, quando passaram à reconquista dos
territórios sob o domínio muçulmano do Al Andaluz. A raia que então
projectaram sobre um território que não dominavam estabelecia as obri-
gações de conquista que cada reino do Norte assumia na ingente tarefa
de recuperar a Hispânia para a Cristandade. Quando a raia se fixou,
os hispanos que habitavam Sevilha ou Lisboa, Mérida ou Évora (que
na altura falavam árabe e praticavam a religião muçulmana), não se
questionaram se os seus descendentes acabariam por ser castelhanos ou
portugueses, em função do lado da raia a que a sua cidade pertencia. A
raia significava, portanto, um projecto cultural ou de formação de uma
cultura e, curiosamente, um compromisso de não litigar entre ambas as
futuras comunidades.
Uma curiosa circunstância de transformação da língua latina traria um
ingrediente cultural determinante aos projectos culturais de ambos os la-
dos da raia. No reduto Norte da Península, no qual se havia confinado o
latim, deu-se origem a três novas línguas que se estenderiam para o Sul,
seguindo as raias pré-marcadas: o galaico-português no Ocidente, o cata-
lão a Oriente, e o castelhano na parte central da Península Ibérica.
Desta forma, a raia que delimitava a fronteira precedeu a cultura que
sustentaria a identidade de cada reino. Séculos mais tarde, no final do
In this way, the line which delimited the frontier preceded the culture
which would sustain the identity of each kingdom. Centuries later, at
the end of the 15th century, when both Kingdoms (Castile and Portugal)
had completed the Reconquest of the Peninsula (the border line had
run out) they agreed, in the Treaty of Tordesillas, to fix another, much
longer line which divided the World. Independently of the irony of the
French King when he asked the Pope in which part of Adam’s testament
it said that the World should be divided between Castilians and Portu-
guese, the new border line, child of the old line, would, over the years,
determine the fact that in Brazil or Timor, in Chile or the Philippines,
the people spoke either Portuguese or Spanish.
b. Historical coherence and singularity:
an ex-novo fortified frontier
The appearance of fire arms and the development of the modern fortifi-
cation forced a continuous updating of the fortifications of the frontiers
for European countries. The frontier between Spain and France, for ex-
ample, presents magnificent fortifications from every evolutionary pe-
riod of this process, from the Salsas Fortress constructed in 1497 to the
San Fernando de Figueras Fortress from the middle of the 18th century.
But the history of the Portuguese “Raia” is very different. From the end
of the 15th century Castile and Portugal were allies with the problems of século XV, quer Castela, quer Portugal, tendo acabado a reconquista Throughout the entire 16th century and almost half of the 17th century
delimiting their explorations in the New World resolved by the Treaty peninsular (acabando-se-lhes a raia), acordaram, através do Tratado the Portuguese border line was only an administrative delimitation and
of Tordesillas and their royal families interrelated to such an extent that de Tordesilhas, fixar outra raia muito maior, repartindo o mundo entre even the divisional line of the Treaty of Tordesillas was blurred to such
the two countries had a common heir at the beginning of the 16th cen- ambos. Ressalvada a ironia do rei de França quando perguntou ao Papa an extent that a large part of the occupation of Brazil, promoted by
tury (Prince Miguel) but who died in infancy. Both crowns even shared em que parte do Testamento de Adão se dizia que o mundo devia ser re- Philip II and his descendants, was carried out without respecting its
military engineers who fortified their foreign domains and in 1580 King partido entre castelhanos e portugueses, a nova raia, filha da velha raia, demarcation.
Philip II of Castile and Aragon inherited the Kingdom of Portugal, thus determinaria, com os anos, que no Brasil ou em Timor, no Chile ou nas Throughout this time the defensive strategies of the Hispanic Crown
beginning the period of Iberian Union. Filipinas, acabasse por se falar português ou castelhano. (the term “Spain” originally included all the Iberian Peninsula) was

96 97

b. COERÊNCIA E SINGULARIDADE HISTÓRICA:
uma fronteira fortificada ex- novo
A aparição das armas de fogo e o progresso da fortificação moderna obri-
garam a uma actualização permanente das fortificações das fronteiras dos
estados europeus. A fronteira entre Espanha e França, por exemplo, apre-
senta magníficas fortificações de cada período evolutivo deste processo,
desde a Fortaleza de Salsas, construída em 1497, até à Fortaleza de San
Fernando de Figueras, de meados do século XVIII. Mas a história da
raia portuguesa é muito diferente. Desde finais do século XV, Castela e
Portugal são aliados, extrapolados os seus problemas de limites nas suas
explorações pela raia do Tratado de Tordesilhas, relacionadas as famí-
lias reais até ao ponto de ter havido herdeiro comum (o infante Miguel,
morto ainda criança), nos começos do século XVI ambas as coroas com-
partilham inclusivamente os engenheiros militares que fortificam os seus
domínios exteriores e, em 1580, o rei Filipe II de Castela e Aragão recebe
por herança o reino de Portugal, começando o período da União Ibérica.
Durante todo o século XVI, e em quase metade do seguinte, a raia portuguesa
é somente uma delimitação administrativa, e mesmo a raia de Tordesilhas
se dilui, a ponto de grande parte da ocupação do Brasil, propiciada por
Filipe II e seus descendentes, haver sido realizada sem respeitar a sua
demarcação.
Durante todo este tempo as estratégias defensivas da Coroa Hispâni-
ca (o termo Espanha incluía originalmente toda a Península Ibérica)
Diferentes fortificações que se podem oferecer
numa cidade, in Juan Santans y Tapia,
“Tratado de fortificación militar...
puesto en uso en los estados de Flandes”
(Bruselas, 1644). Madrid,
Biblioteca Nacional de España.
Different fortifications
that can be offered in a city,
in Juan Santans y Tapia,
“Tratado de fortificación militar...
puesto en uso en los estados de Flandes”
(Bruselas, 1644). Madrid,
Biblioteca Nacional de España.
centred on the Atlantic seaboards, both European as well as American
and the best fortification projects were executed with a common strat-
egy whether it be in Cadiz or in Setubal, in Cuba or in Brazil.
When, in 1640, the Portuguese Succession to the Hispanic Crown took
place (in Portugal, logically, they call it The War of Restoration), coin-
ciding with the uprisings in Flanders, Milan, Naples, Sicily and Cata-
lonia, with the war against France and Holland and with the Turkish
threat, the border line which administratively separated Castile from
Portugal had no operative fortifications. The decision of the Spanish
Crown to try to put down all the uprisings and wars except the one in
Portugal (considered potentially the least dangerous) would allow the
Portuguese to draw up a global project for fortifying the border line,
executed in its initial stages in very few years and with a general vi-
sion of the territory and an extension that was completely unheard of in
Europe and which predated by many years the processes of systematic
fortification of the frontiers which Vauban was to carry out in France.
The fortification of the “Raia” would mean, as well as guaranteeing the
survival of the new Portuguese nation, the guarantee of survival of the
other border line which divided the World since, without the short line,
the long one would make no sense.
Furthermore, a really extraordinary phenomenon took place on the frontier,
generating a strong asymmetry between the Portuguese side and the Cas-
tilian one. For the Spanish Monarchy (after the Portuguese Succession the
term “Spain” began to be used to designate the non-Portuguese part of the
98
Construção de uma fortificação
a partir do ângulo central do polígono
e tábua de longitudes das linhas
de um forte real grande segundo
o número de lados, para uma linha
de defesa fixa de 60 vergas, por
Juan de Santans y Tapia,
“Tratado de fortificación militar
destos tiempos”, Bruselas, 1644, p.115;
Biblioteca Nacional de España, Madrid,
sign. R/8199.
Construction of a fortification
from the central angle of a polygon
and table of longitudes of the lines
of a great royal fort according with
the number of sides, to a fixed defence
line of 60 vergas, by
Juan de Santans y Tapia,
“Tratado de fortificación militar
destos tiempos”, Bruselas, 1644, p.115;
Biblioteca Nacional de España, Madrid,
sign. R/8199.
Ypres, c. 1666, por Salomón van Es, “Resumen de todas las plantas de las villas y lugares de los Países
Bajos… “, Madrid, Biblioteca Nacional de España.
Ypres, c. 1666, by Salomón van Es, “Resumen de todas las plantas de las villas y lugares de los Países
Bajos… “, Madrid, Biblioteca Nacional de España.
centra-se nas costas atlânticas, tanto europeias como americanas, e os Iberian Peninsula) it made no sense to fortify a frontier which was not rec-
melhores projectos de fortificação executaram-se com uma estratégia ognised as such and across which they were unlikely to suffer an invasion.
comum, seja em Cádiz ou em Setúbal, em Cuba ou no Brasil. On the other hand, for Portugal the line had to be fortified in order to resist
Quando, em 1640, se produz a Secessão portuguesa da Coroa Hispâni- any attack from what was then the greatest military power in the world.
ca (em Portugal chamada, logicamente, guerra da Restauração), coinci- This asymmetry was also translated into the strategy of both sides. For
dindo com a sublevação da Flandres, de Milão, de Nápoles, da Sicília e Spain, the Portuguese campaign was, in the best-case scenario, the con-
da Catalunha com a guerra contra a França e contra a Holanda e com a solidation of the positions for the army corps which, if the situation
ameaça Turca, a raia que separa administrativamente Castela de Portugal occurred, could reconquer the Portuguese territory. Therefore, the few
não tem nenhuma fortificação operacional. A decisão da Coroa espanhola works which were proposed were basically forts. For Portugal the de-
de acorrer a sufocar todas as sublevações e guerras, com excepção da fence of the frontier fell to the whole population and the defensive system
de Portugal (considerada potencialmente menos perigosa), permitirá aos was based on fortified cities which took advantage of previously existing
Portugueses colocar um projecto global de fortificação da raia, executa- population centres but in which the new defences, normally much bigger
do nas suas fases iniciais em muito poucos anos e com uma visão geral than the medieval ones, involved great changes as well as considerable
do território e uma extensão que era completamente inédita na Europa e urban growth.
que precedia, em muitos anos, os processos de fortificação sistemática Even though it was still a theoretical border line, drawn up in the Mid-
das fronteiras que Vauban levaria a cabo em França. A fortificação da dle Ages, as the Reconquest advanced, the delimitation sought a certain
99
 Planta de Novara (Itália), in Joseph Chafrion, “Plantas de las Fortificaciones de las ciudades, Traçado geométrico de uma fortificação
plazas y castillos del Estado de Milán”, Milán, 1687, Madrid, Biblioteca Nacional de España. pentagonal, in “Escuela de Palas, o curso
Mathematico...”, Milão, 1693. Madrid,
Plan of Novara (Itália), in Joseph Chafrion, “Plantas de las Fortificaciones de las ciudades, plazas y Biblioteca Nacional de España.
castillos del Estado de Milán”, Milán, 1687, Madrid, Biblioteca Nacional de España.
Geometrical tracing of a pentagonal fortification,
in “Escuela de Palas, o curso Mathematico...”,
Milan, 1693. Madrid,
raia pressupunha, para além da garantia da sobrevivência do novo Estado Biblioteca Nacional de España.
Português, a garantia da sobrevivência da outra raia que dividia o mundo,
já que, sem a pequena, a grande fronteira não teria sentido.
Para além do mais, produziu-se um fenómeno realmente singular, dando ori-
gem a uma fronteira fortemente assimétrica entre os lados português e cas-
telhano. Para a Monarquia Espanhola (a partir da Secessão Portuguesa o
termo Espanha começou a usar-se para designar a parte não portuguesa
da Península Ibérica) não fazia sentido fortificar uma fronteira que não se
reconhecia como tal, a partir da qual não era previsível sofrer uma invasão.
Pelo contrário, para Portugal, a raia devia ser fortificada para resistir ao
ataque daquela que, à época, era a primeira potência militar do mundo. Esta
assimetria traduzia-se igualmente na própria estratégia de ambas as bandas.
Para Espanha, a campanha de Portugal era, no melhor dos casos, a conso-
lidação de posições para corpos de exército que, chegado o tempo, pode-
riam reconquistar o território português e, portanto, as poucas obras que
implantaram foram basicamente fortes. Para Portugal a defesa da fronteira
recaía sobre o conjunto da população, e o sistema defensivo baseava-se em
cidades fortificadas que aproveitavam núcleos pré-existentes e em novas
defesas, normalmente muito mais extensas que as medievais, obrigando a
grandes fenómenos de transformação e de crescimento urbanos.
Pese embora tratar-se de uma raia teórica projectada na Idade Média, à me-
dida que foi avançando a Reconquista, a delimitação foi procurando certa
acomodação aos acidentes geográficos. Os grandes rios peninsulares que, na
direcção Este-Oeste, chegam a Portugal, inflectem bruscamente na direcção
Sul ao chegar à raia, marcando uma espécie de fronteira natural a que a raia Construção geométrica da fortificação,
se tinha ido acomodando. E desde a cessão a Portugal dos territórios da Ri- por Antoine de Ville, in “Escuela de Palas, o
beira do Côa no século XIII até à incorporação de Olivença por parte de curso Mathematico…”, Milão, 1693. Madrid,
Biblioteca Nacional de España.
Espanha (situada a Este do Guadiana), no século XIX, este ajuste foi um pro-
cesso quase natural. Deste modo, salvo o citado caso de Olivença, o projecto Geometrical construction of the fortification
by Antoine de Ville, in “Escuela de Palas,
de defesa da raia portuguesa é um prodígio de racionalidade e economia o curso Mathematico...”, Milan, 1693. Madrid,
de meios e são vários os aspectos especialmente singulares que apresenta, Biblioteca Nacional de España.
alguns mesmo surpreendentes, acaso tentemos encaixá-los na ideia comum
daquilo que possamos ter acerca de uma linha fortificada antiga. Todos estes elementos respondem, no fundo, a uma disposição de Praças- adaptation to the geographical reality. The great rivers of the peninsula,
O primeiro aspecto inovador é o carácter transversal, ou de defesa em pro- fortes principais tão povoadas que, frente umas às outras, impediam a which flowed in an east-westerly direction into Portugal, turned abruptly
fundidade, com que é concebida a fortificação. O conjunto de acidentes passagem directa da fronteira: Valença do Minho, frente a Tuy, Almeida, in a southerly direction when they reached the border, creating a kind of
geográficos, rios que não cedem passagem ou montanhas intransponíveis, frente a Ciudad Rodrigo, Elvas, frente a Badajoz. A singularidade portu- natural frontier to which the border line had slowly adapted. From the time
convertiam a defesa da fronteira na defesa de um conjunto de passagens, nor- guesa radica em que, ao passo que no lado espanhol as cidades fronteiri- of the cession to Portugal of the lands of the Ribera del Coa in the 13th cen-
malmente repetindo o esquema de um forte avançado em território inimigo, ças tinham um tamanho e importância significativas desde a Idade Média tury to the incorporation of Olivença into Spain (situated to the east of the
uma cidade fortificada que fechava a passagem e uma defesa de retaguarda, (as três citadas são sedes episcopais), as povoações portuguesas postadas River Guadiana) in the 19th century, this adjustment was an almost natural
normalmente um núcleo pequeno. Este mecanismo, conjuntamente com a do outro lado da fronteira eram respectivamente muito mais pequenas e process. In this way, except for the previously mentioned case of Olivença,
passividade espanhola inicial, explica o facto de a maior parte dos fortes do as fortificações que nelas se construíram foram extraordinariamente mais the defensive project of the Portuguese “Raia” was notable for its rational-
lado espanhol serem construídos pelos Portugueses. Tal é o caso de Goyan, potentes do que foi realizado nas cidades espanholas. O efeito desta ope- ity and economy of means and there are several especially extraordinary
frente a Vila Nova de Cerveira, ou o forte de Salvaterra, defronte de Monção, ração resultou em que todos os núcleos urbanos se ampliaram enorme- aspects which it displays, even some surprising ones, if we try to fit them
na Galiza, do forte de S. Carlos, posto avançado de Bragança, em Sanábria, mente, construindo-se cidade com todos os edifícios militares que a fron- into the common idea which we might have of an ancient fortified border.
ou das fortificações de San Felices de los Gallegos, avançado de Almeida, teira necessitava (hospitais, intendências, trens de artilharia, quartéis, ca- The first novel aspect is the transversal nature or deep defence according
em Salamanca. Caso à parte, embora em alguma medida também um posto sernas…). Desta forma, enquanto em cidades como Tuy, Ciudad Rodrigo to which the fortification was conceived. The set of geographical circum-
avançado no outro lado Guadiana, é a fortificação de Olivença, que respon- ou Badajoz, os planos de fortificação sempre impunham a destruição de stances, the unfordable rivers or the insurmountable mountains converted
de por ser um núcleo medieval inicialmente já português. Existem também parte do casario existente, nas “novas” cidades fortificadas portuguesas the defence of the frontier into the defence of a group of passes and nor-
fortes espanhóis de defesa de passagens, como o de La Concepción, en Sala- o problema era colmatar com novo casario o espaço existente entre as mally the plan of a forward fort in enemy territory, a fortified city which
manca, ou Amorín, no Minho, o qual, neste caso, propiciou a construção de muralhas medievais e as muito ampliadas muralhas modernas. Dava-se, blocked off the pass and a rearguard defence, normally another small popu-
um outro forte espanhol no lado português para apoiar a passagem, ambos além disso, o paradoxo de a estratégia defensiva portuguesa necessitar lation centre, was repeated. This mechanism, linked to the initial Spanish
possuindo a missão de facilitar a incursão no território do lado oposto da da participação directa da população, enquanto que a estratégia ofensi- passivity, explains why the majority of the forts located on the Spanish side
fronteira, evitando passagens mais bem protegidas. va espanhola ser protagonizada, nas poucas ocasiões em que ocorreu, were built by the Portuguese. This is the case of the forts of Goyan, the

101

por corpos do exército. Poderia pensar-se que as novas cidades frontei-
riças se conceberam como uma espécie de repovoamento ou de reorde-
namento da população de fronteira, com a intenção de dispor de núcleos
urbanos fortes que servissem de tampão fronteiriço.
c. COERÊNCIA E SINGULARIDADE TECNOLÓGICA:
um projecto excepcional do século XVII.
Ao tempo da sua inclusão na União Ibérica, em 1580, a fortificação por-
tuguesa não era tecnologicamente diferente da do resto do Império es-
panhol. A estratégia, aplicada pela Monarquia Hispânica desde 1580, de
defesa das costas atlânticas dotara Portugal, as suas ilhas e as suas coló-
nias, de algumas das fortificações mais avançadas do mundo, mas nada
Perspectiva cavaleira de um sistema completo de fortificações, in “Escuela de Palas, o curso
Mathematico…”, Milão, 1693. Madrid, Biblioteca Nacional de España.
Cavalier perspective of a complete system of fortifications, in “Escuela de Palas, o curso
Mathematico…”, Milan, 1693. Madrid, Biblioteca Nacional de España.
forward fortifications of Vilanova de Cerveira, or Salvatierra, the forward
fort of Monçao, in Galicia, of the fort of San Carlos, the forward fort of
Bragança, in Sanabria or of the fortifications of San Felices de los Galle-
gos, the forward fort of Almeida, in Salamanca. A case apart, although also
somewhat forward, on the other side of the river Guadiana, is the fortifica-
tion of Olivença, which corresponds to an initially Portuguese medieval
settlement. There are also defensive forts protecting the Spanish passes
such as that of La Concepción in Salamanca or Amorin on the River Minho
which, moreover, in this case propitiated the construction of another Span-
ish fort on the Portuguese side to back up the defence of the pass. Both had
the mission of permitting the incursion into lands on the other side of the
frontier, thus avoiding the better protected passes.
All these elements essentially correspond to the layout of strong principal
emplacements so populated that, one in front of the other, they prevented
the direct crossing of the frontier: Valença de Minho facing Tuy, Alme-
ida facing Ciudad Rodrigo and Elvas opposite Badajoz. The Portuguese
uniqueness lies in the fact that, whilst on the Spanish side the frontier towns
had been of considerable size and importance since the Middle Ages (the
three towns mentioned were Episcopal sees), the Portuguese settlements
facing them on the other side of the frontier were respectively much smaller
and the fortifications built there were extraordinarily more powerful than
those constructed in the Spanish towns. The effect of this situation was that
all the population centres grew enormously and a town was constructed
with all the military buildings which the frontier needed (hospitals, town
halls, arsenals, barracks, etc.). In this way, whilst in towns such as Tuy,
Ciudad Rodrigo or Badajoz the fortification plans always involved the de-
struction of part of the outer quarters, in the “new” fortified Portuguese
cities the problem was to fill up the existing space between the medieval
walls and the much bigger modern walls with new quarters. Moreover, it
was paradoxical that the Portuguese defensive strategy was reliant upon the
direct participation of the inhabitants while the Spanish offensive strategy
was entrusted, on the few occasions that this occurred, to military corps.
It might be thought that the new frontier towns were conceived as a type
of repopulation or redistribution of the inhabitants of the frontier with the
intention of having powerful settlements which would serve to block the
frontier.
c. Technological coherence and singularity:
an outstanding 17th century project.
From even before the Iberian Union of 1580, Portuguese fortification was
not technologically different to the rest of the Spanish Empire. The strategy,
applied by the Hispanic monarchy, since 1580, of defending the Atlantic
coasts had endowed Portugal, its islands and colonies, with some of the
most advanced fortifications in the world but nothing distinct from those
which were being built simultaneously on other frontiers of the Empire. The
Philippine fortifications such as those constructed in Setubal, the Azores
and Cape Verde or in Natal in Brazil, were no different to those constructed,
sometimes by the same engineers, in Ibiza, Cadiz, Oran or Cuba. In fact, in
the period from the end of the 16th century until 1640, the academies and
schools of the Spanish Empire, mainly in Milan and Brussels, had devel-
oped a corpus of fortifications that extended and were put into use from
102
Construção geométrica da fortificação, por Franck, in “Escuela de Palas, o curso
Mathematico…”, Milão, 1693. Madrid, Biblioteca Nacional de España.
Geometrical construction of the fortification by Franck, in “Escuela de Palas, o curso
Mathematico…”, Milan, 1693. Madrid, Biblioteca Nacional de España.
diferentes das que levantava, simultaneamente, noutras fronteiras do Im-
pério. Fortificações filipinas como as construídas em Setúbal, nos Açores,
em Cabo Verde ou em Natal, no Brasil, em nada distintas das construídas,
às vezes pelos mesmos engenheiros, em Ibiza, Cádiz, Orán ou Cuba. De
facto, durante o período que vai desde os finais do século XVI até 1640,
as academias e escolas do Império espanhol, principalmente em Milão
e Bruxelas, tinham desenvolvido um corpus de fortificações que se es-
tendiam e entraram em uso desde Malta à Flandres, passando pela Lom-
bardia ou pela fronteira dos Pirinéus, incorporando obras avançadas e o
conjunto de soluções a que muitos historiadores indevidamente apelidam
de modelo Vauban. Poderá inclusivamente dizer-se que durante o período
da Guerra dos Trinta Anos, as potências católicas, especialmente os Im-
périos espanhol e austríaco, mas também a França, tinham desenvolvido
um saber comum, normalmente à sombra de escolas de matemática e
também sob a capa protectora dos colégios dos Jesuítas, fosse em Lisboa,
em Salamanca, em Madrid, em Roma, em Paris ou em Lovaina1.
Fruto desta actividade científica são todos os grandes Tratados de mate-
máticas e de fortificação que se publicaram por estes anos e que culmi-
naram nos grandes tratados das escolas espanholas de Milão (Escola de
Palas, 1693), Bruxelas (Medrano, 1700) e em todos os outros tratados
que desenvolveriam a prática de Vauban. Deste modo, quando pouco
antes de 1640, a França e a Espanha entram de novo em guerra e, nesse
ano, Portugal proclama a sua independência, todos os engenheiros das
potências católicas bebem das mesmas fontes. Por esses anos o espanhol
Santans y Tapia publica o seu tratado em Bruxelas e o português Enrique
de Villegas publica o seu em Madrid2, um dos principais artífices da forti-
ficação da fronteira portuguesa era um jesuíta professor da Universida-
de de Lovaina, e os engenheiros franceses e espanhóis compartilhavam
experiências na fortificação de Malta contra o perigo turco3.
Pode dizer-se que a fortificação que assimilámos do primeiro e do segun-
do sistema de Vauban já estava de facto inventada, aparecendo não só nos
tratados de Pagan ou nos citados de Santans e de Villegas, como também
nas fortificações projectadas pelos engenheiros da Coroa espanhola Garay,
Médicis ou do jesuíta Francisco Isasi na fronteira pirenaica, na Flandres, em
Milão ou em Malta. E é esta tecnologia que, pela primeira vez, será aplicada
de modo sistemático a toda uma fronteira num projecto que antecede,
em muito, a sistematização das defesas fronteiriças francesas durante o
reinado de Luís XIV, sob a direcção do Marquês de Vauban.
Malta to Flanders by way of Lombardy and along the Pyrenean frontier
3.4.3 ALMEIDA NA RAIA and which incorporated advanced works and a set of solutions which many
historians would later incorrectly call the “Vauban model”. It could even be
A fortificação da raia portuguesa pode, realmente, dividir-se em três said that, during the period of the Thirty Years War, the Catholic Powers,
grandes subsistemas. A fronteira galega, principalmente associada ao especially the Spanish and Austrian Empire but also France, had developed
a common pool of knowledge, normally under the influence of the schools
1 Ver F. COBOS: «La formulación de los principios de la fortificación abaluartada : de la “Apología” de
Escrivá (1538) al “Tratado” de Rojas (1598)”, em M. SILVA (coord.): Técnica e ingeniería en España. of mathematics but also, very often, under the umbrella of the Jesuit col-
I. El renacimiento, Zaragoza, 2004; F.COBOS “la fortificación española en los siglos XVII y XVIII: leges, whether in Lisbon, Salamanca, Madrid, Rome, Paris or Leuven1.
Vauban sin Vauban y contra Vauban “en M. SILVA (ed.) Técnica e ingeniería en España II : el siglo de
las luces, Zaragoza 2005. págs. 469-519;
One of the results of this scientific activity are all the great mathematical
2 Juan de SANTANS Y TAPIA: Tratado de fortificacion militar destos tiempos breve e intelegible puesto en and fortification treatise which were published in those years and which
uso en estos estados de Flandes, Bruselas, 1644; ENRÍQUEZ DE VILLEGAS, Diego: Academia de fortifica-
cion de plazas y nuevo modo de fortificar una plaza real diferente en todo de todos que se hallan en los autores 1 See F. COBOS: «La formulación de los principios de la fortificación abaluartada : de la “Apología”
que desta ciencia y arte escrivieron, Madrid, 1651. de Escrivá (1538) al “Tratado” de Rojas (1598)”, in M. SILVA (coord.): Técnica e ingeniería en Es-
3 Sobre este particular ver F. COBOS y J.J. de CASTRO “ los ingenieros, las experiencias y los esce- paña. I. El renacimiento, Zaragoza, 2004 F. COBOS “la fortificación española en los siglos XVII y
narios de la arquitectura militar española en el siglo XVII” em A. CÁMARA (coord.) los ingenieros XVIII: Vauban sin Vauban y contra Vauban”, in M. SILVA (ed.) Técnica e ingeniería en España II: el
militares de la monarquía hispánica en los siglos XVII y XVIII, Madrid, 2005, págs. 70-94. siglo de las luces. Zaragoza 2005. pages 469-519;
103

rio Minho, a fronteira Sul, associada fundamentalmente ao Rio Gua-
diana até à sua desembocadura no Atlântico, e a fronteira, chamada de
Castela-a-Velha, integrando o vale do Douro. Os três subsistemas são
muito distintos, por motivos diversos. Assim, enquanto que a fronteira
galega apresenta a singularidade de dividir um país rico e que, parado-
xalmente, tem quase o mesmo idioma, as fronteiras do Douro e do Gua-
diana dividem territórios culturalmente distintos (e muito mais pobres)
e, no caso português, protegem as entradas directas em direcção a Lis-
boa. Sobre o subsistema da fronteira do Minho realizámos recentemen-
te um estudo global e um plano estratégico que permite reconhecer o
conjunto de fortificações que pertencem a distintos grupos estratégicos4.
O entendimento global deste sector da fronteira e a valorização dos seus
4 Uma síntese deste Plano em O Plan director das fortalezas transfroteirizas do Baixo Miño, Xunta de
Galicia, 2006 (http://media.culturaedeporte.org/cultura/PATRIMONIO/Fortalezas.pdf).
Também pode ver-se COBOS F. y HOYUELA A, “ metodología de estudio e intervención en el plan
director de las fortalezas fronterizas del bajo Miño”, Actas del congreso de castellología ibérica,
Guadalajara, 2005.
Projecto para Ciudad Rodrigo (Espanha),
por Pedro Moreau, 1735. AGS. MP. Y D.
XIII-136.
Plan for Ciudad Rodrigo (Spain),
by Pedro Moreau, 1735. AGS. MP. Y D.
XIII-136.
would culminate in the great treatise of the Spanish schools of Milan Planta do Forte de La Concepción, Salamanca elementos, desde as grandes cidades fortificadas como Valença do Minho, a It could be said that the fortifications which we assume to be Vauban´s first
(Espanha), por Pedro Moreau, 1745. Valladolid,
(Palas School, 1693), Brussels (Medrano, 1700) and in all the other trea- A.G.S. Mapas, Planos y Dibujos XIII-121. fortes de terra perdidos no meio do bosque, como o de Amorín, desenha um and second system had in fact already been invented and they appeared not
tise which were to develop the practices of Vauban. In this way, when a marco global no qual cada parte necessariamente não é menos importante only in the treatise of Pagan or those previously cited of Santans and Villegas
Plan of the Fort of La Concepción (Spain) by
little after 1640 France and Spain again went to war and in that same year Pedro Moreau, 1745. Valladolid, A.G.S. Mapas,
pelas suas condições construtivas originais. Quer dizer, o conjunto, fruto but also in the fortifications drawn up by the engineers of the Spanish Crown:
Portugal proclaimed its independence, all the engineers of the Catholic Planos y Dibujos XIII-121. fundamentalmente das guerras à volta de 1660 com a presença de impor- Garay, Médicis or the Jesuit, Francisco Isasi along the Pyrenean frontier, in
powers drew upon the same sources. In those years, the Spaniard Santans tantes tropas portuguesas e, no caso espanhol, dos contingentes velhos da Flanders or in Milan. And it is this technology which, for the first time, was
y Tapia published his treatise in Brussels and the Portuguese Enriques de Flandres, só tem sentido se se conservar cada uma das peças e das relações to be systematically applied to an entire frontier in a project which consider-
Villegas his own in Madrid2. One of the principal architects of the fortifi- espaciais entre elas, que conformam o conjunto. ably predates the systemisation of the French frontier fortifications during the
cation of the Portuguese frontier was a Jesuit professor of the University Para a fronteira castelhana, tanto em Castela-a-Velha como na Estremadu- reign of Luis XIV and the designs of the Marquis of Vauban.
of Leuven and the French and Spanish engineers shared their experiences ra e na Andaluzia, não há um estudo nem um plano equivalente que analise
in the fortification of Malta against the Turkish threat3. o conjunto das fortificações fronteiriças. Já dissemos que parte dos fortes
2 Juan de SANTANS Y TAPIA: Tratado de fortificacion militar destos tiempos breve e intelegible Portugueses se situam actualmente (e desde então) em território espanhol, e 3.4.3 Almeida on the “RAIA” (border Line).
puesto en uso en estos estados de Flandes, Brussels, 1644. ENRÍQUEZ DE VILLEGAS, Diego: Aca-
demia de fortificacion de plazas y nuevo modo de fortificar una plaza real diferente en todo de todos
nenhuma análise faz sentido sem implicar ambos os lados da fronteira.
que se hallan en los autores que desta ciencia y arte escrivieron, Madrid, 1651. Deste modo a parte fronteiriça do Guadiana, capitaneada por Elvas, The fortification of the Portuguese border line can really be divided into
3 See in this case F. COBOS and J.J. de CASTRO: “Los ingenieros, las experiencias y los escenarios não pode entender-se sem incluir Estremoz, em terras portuguesas, e three large subsystems: the Galician frontier, principally associated with the
de la arquitectura militar española en el siglo XVII” in A. CÁMARA (coord.) los ingenieros militares
de la monarquía hispánica en los siglos XVII y XVIII. Madrid 2005 pages 70-94; Olivença, agora em Espanha. River Minho; the southern frontier, associated fundamentally with the River
104 105

Dentro da raia, Almeida é, por direito próprio, a peça-chave da fronteira
do Vale do Douro e, curiosamente, a que maior relevância adquire em re-
lação a todas as obras singulares secundárias do seu território. Atribui-se o
seu desenho realizado ou inspirado nas proposições de Antoine de Ville,
mas realmente a sua tendência para a regularidade, a nem sempre possível
busca do ângulo recto flanqueado ou as suas obras exteriores com contra-
escarpas, são um exemplo paradigmático da fortificação dos meados do
século XVII, e podendo tanto invocar-se o francês de Ville, como o espa-
nhol Santans ou o português Villegas. No fundo, não são muito diferentes
as soluções empregues em Elvas ou em Valença do Minho, ainda que se
atribuam as autorias destas a outros autores. Ainda mais: poder-se-á in-
clusivamente considerar que Almeida é quase o paradigma do modelo de
fortificação da época e do conjunto da fronteira, na medida em que nem a
Fortaleza de Zamora (Espanha), proposta de Forte avançado proposto para o padrasto de
fortificação, Juan Martín Cermeño, 1766. Centro S. Francisco, em Ciudad Rodrigo (Espanha),
Cartográfico del Ejército, Archivo Cartográfico 1766. Servicio Geográfico del Ejército, 385.
y Estudios Geográficos
E-7-2-341. Advanced Fort proposed to the mountain of
Saint Francis, in Ciudad Rodrigo (Spain), 1766.
Fortress of Zamora (Spain), proposal for Servicio Geográfico del Ejército, 385.
fortification, Juan Martín Cermeño, 1766. Centro
Cartográfico del Ejército, Archivo Cartográfico y
Estudios Geográficos
E-7-2-341.
Guadiana down to its estuary in the Atlantic and the Old Castile frontier, co- sua situação topográfica nem a disposição da pré-existência urbana condi- the evaluation of the different elements, from large fortified cities such as
inciding with the Duero Valley. The three subsystems are very distinct for cionaram tanto o seu traçado como nos casos citados de Valença e Elvas. Valença do Minho to lost earth forts in the middle of the forest such as that
several reasons. Thus, while the Galician frontier displays the singularity Poderemos tentar estabelecer o grau de novidade das soluções utilizadas of Amorín, paint a global picture in which each part is not necessarily less
of dividing a rich country which, paradoxically, had almost the same lan- em Almeida; alguns historiadores sentir-se-iam mais felizes se estabele- important because of its original building conditions. That is to say, the whole
guage, the Duero and the Guadiana frontiers divided culturally different cêssemos uma vinculação inequívoca entre o Tratado de de Ville, ou de group, fundamentally the consequence of the wars around the year 1660 and
territories (and much poorer) and, in the Portuguese case, they protected qualquer outro Tratado, com a edificação de Almeida; poderíamos mesmo of the presence of an important number of Portuguese troops and, in the case
direct entry towards Lisbon. Regarding the Minho frontier subsystem, we aceitar que a incorporação de grandes reformas nos anos seguintes à sua of Spain, of the veteran “tercios” (infantry regiments) from Flanders, only
have recently carried out a global study and a strategic plan which allows construção (quartéis, portas, …) enriqueceu significativamente o patrimó- makes sense if each one of the parts is conserved as well as the spatial rela-
us to identify the group of fortifications which belong to the different stra- nio da cidade fortificada… Porém, tudo isso seriam apenas argumentos vá- tionships between them which comprise the whole system.
tegic groups4. The global understanding of this sector of the frontier and lidos se desejássemos estabelecer uma comparação pouco prática com as For the Castilian frontier, both in Old Castile as well as in Extremadura and
4 A summary of this Plan in: O Plan director das fortalezas transfroteirizas do Baixo Minho. Xunta de Galicia, outras cidades fortificadas da raia, com as outras cidades fortificadas das Andalusia, there is no study or an equivalent plan which analyses the whole
2006: (http://media.culturaedeporte.org/cultura/PATRIMONIO/Fortalezas.pdf). Also to be seen: COBOS F. outras raias, com qualquer outra cidade fortificada da época. Na realidade, group of frontier fortifications. We have already said that part of the Portu-
and HOYUELA A. “Metodología de estudio e intervención en el plan director de las fortalezas fronterizas del
bajo Minho” . Minutes of the Castellogía Ibérica Congress, Guadalajara, 2005. o único argumento verdadeiramente importante é que a fortificação de Al- guese forts are currently situated (and even back then) in Spanish territory
106 107

meida é uma das peças-chave de um sistema de carácter “próprio”, que é a
Fortificação Portuguesa da Raia, o qual pode ser dividido e analisado em
diversos subsistemas – mas que não tem nenhum sentido se não se valoriza
no seu conjunto, ou sequer alcança sentido, sem Almeida.
Bibliografía básica / Selected bibliography:
ALMEIDA actas das jornadas de arquitectura militar abaluartada
CEAMA nº 1 Almeida 2008   the region. It has been said that its design was carried out or inspired by
Cobos, Fernando
- “Dessins de fortification dans “Os desenhos das antigualhas” du
portugais Francisco de Holanda (1538-1540)”. Actas de las jornadas
de estudio Atlas militaires manuscrits europeens. Paris 2004;
- “la formulación de los principios de la Fortificación abaluartada”
en SILVA, M. (ed.)Técnica e ingeniería en España: El renacimiento
Zaragoza 2004;
- “La Fortificación Española en los siglos XVII y XVIII: Vauban sin
Vauban y contra Vauban” en SILVA, M. (ed.)Técnica e ingeniería en
España: El Siglo de las Luces, Tomo II; Zaragoza 2005;   period and the whole group on the frontier, insofar as neither its topo-
Cobos, Fernando  y Castro, Javier de
-  “Los Ingenieros, las Experiencias y los Escenarios de la Arquitec-
tura Militar Española en el S.XVII”  en CAMARA, A. (Coord.) Los
Ingenieros Militares de la Monarquía Hispánica en los Siglos XVII y
XVIII. Madrid 2005.  quivocal link between de Ville´s treatise or any other treatise and the build-
Cobos, Fernando , Castro, Javier de, y Sánchez-Gijón, Antonio.
-  Luis Escrivá, su Apología  y la Fortificación Imperial Valencia
2000   etc.) significantly enriched the heritage of the fortified city. But these would
NAVARRO BROTONS, V.
-  “la renovación de la actividad científica en la España del siglo
XVII y las disciplinas físico-matemáticas” en M. SILVA (ed.) Tecnica
e ingeniería en España II : el siglo de las luces. Zaragoza 2005. págs.
33-73
3.5 Almeida – Património Arquitectónico 3.5 Almeida – A reading on Contemporary
Contemporâneo, uma leitura: o século Architectural Heritage 20th and early
XX e o princípio do século XXI - Algumas 21st century – Some considerations and
considerações e exemplos examples
José Manuel Fernandes José Manuel Fernandes
and an analysis which does not involve both sides of the frontier makes no
sense. In this way, the frontier part of the River Guardian commanded by
Elvas cannot be understood without including Extremóz in Portuguese
territory and Olivença, now in Spain.
Within the “Raia”, Almeida is in its own right the key piece on the
Duero Valley frontier and, curiously, the one which has the most rela-
tive importance with respect to the other unique, secondary works in
the designs of Antoine de Ville, but really its tendency towards regular-
ity, the not always possible search for the straight flanked angle or its
outworks with counterguards are paradigmatic examples of the fortifi-
cations from the middle of the 17th century and they can be traced not
only to the Frenchman de Ville but also to the Spaniard Santans or the
Portuguese Villegas. In fact, it is no different to the solutions employed
in Elvas or Valença do Minho, however much those fortresses may be
attributed to other authors. Moreover, it could even be considered that
Almeida is almost the paradigm of the model of the fortifications of the
graphical location nor the previous layout of the town conditioned its
design or that of the previously mentioned cities of Valença and Elvas.
We could try to establish the degree of originality in the solutions employed
in Almeida: some historians would feel happier if we established an une-
ings constructed in Almeida. We could even accept that the incorporation
of large-scale reforms in the years after its construction (barracks, gates,
only be valid arguments if we wished to establish unproductive competi-
tion with the other fortified cities of the border line, with the other fortified
cities of the other borders or with any other fortified city of the age. In fact, Introdução, temas e fases Introduction, subjects and stages
the only truly important argument is that the fortification of Almeida is one
of the key elements of a system with its own character which are the Portu- Embora a povoação e praça-forte de Almeida constitua um exemplo cuja Although the settlement and fortifications of Almeida are an example
guese “Raia” fortifications. They can be analysed and divided into diverse dimensão urbanística, monumental e arquitectónica se refere sobretudo às whose urban, monumental and architectural dimension pertain mostly
subsystems but it makes no sense if they are not valued as a whole and this construções e edificações da Idade Média (casco urbano) e Moderna (a estru- to buildings from the Middle (urban core) and Modern (the fortified
can not be understood without Almeida. tura fortificada), não deixa de ter significado a série de intervenções que ocor- structure) Ages, the series of interventions that took place in town
reram na vila durante o correr de Novecentos, e no dealbar do século XXI. throughout the 1990s and early 21st century are nevertheless relevant.
Estas intervenções sucederam, na maior parte do período analisado, em di- In most of the analyzed period, these interventions took place in several loca-
versos locais do núcleo edificado, e de forma fragmentada no tempo, fruto tions of the built-up area and were scattered over time, resulting from isolated
de iniciativas isoladas. Só nas duas últimas décadas, e sobretudo nos últi- initiatives. Only during the last two decades, and particularly in recent years,
mos anos, se impôs uma visão claramente de conjunto, liderado pela autar- a clearly overall view has been established, lead by the municipality, defining
quia, e com definição de objectivos estratégicos, culminando no processo strategic objectives, leading to the current process of submitting the fortress
em curso, de candidatura da praça-forte á Lista do Património da Humani- town’s application to UNESCO World Heritage List, together with several
dade da UNESCO (World Heritage List, UNESCO), em conjugação com other border fortress towns, both Portuguese and Spanish (2009-).
outras praças-fortes fronteiriças, portuguesas e espanholas (2009-). Regarding periodization, the whole of the interventions that took place in
Em termos de periodização, podemos integrar o conjunto das interven- Almeida during the 20th and early 21st century can be divided into three
ções do século XX e inícios do actual em Almeida, em três grandes main stages, whose main characteristics are relatively homogeneous:
fases, relativamente homogéneas nas suas características principais:
1 – A Modernization stage in the first half and mid-20th century, with an
1- uma fase da primeira metade e de meados do século XX, de Moder- emphasis on infrastructural buildings and community facilities, besides
nização, onde sobressaem os edifícios de infra-estruturas e de equipa- some street furniture: these are typified buildings built from the ground
mentos públicos, além de algum mobiliário urbano: são construções de up, resulting from urban programs laid out by Estado Novo1, mainly for
raiz, tipificadas e resultantes dos programas edílicos do Estado Novo, functional and modernizing or commemorative purposes.
Arquitecto – Investigador
com objectivos dominantemente funcionais e modernizadores, ou ce-
1 Estado Novo (Portuguese for New State) was an authoritarian regime, which ruled Portugal from
Architect – Researcher lebrativos. 1933 to 1974, under the motto God, Country and Family.
108 109

Neste quadro, sobressaem o monumental Depósito de Água (dos anos
1940), num dos locais mais elevados do núcleo; o modesto edifício
dos Correios, no centro da povoação (possivelmente dos anos 1960); e,
numa fase tardia, o Quartel dos Bombeiros, dos fins dos anos 1970 (sen-
do embora adaptação / reconstrução de um edifício, não se pode inserir,
em termos de qualidade, dentro da perspectiva patrimonialista).
2 – uma fase que assenta na ênfase posta no Turismo e, dentro deste
quadro, no turismo cultural e, de algum modo, “de natureza”, que se
exprime sobretudo pela edificação da Pousada num dos espaços peri-
féricos do interior do núcleo fortificado (em meados dos anos 1980).
Embora estabelecendo uma ponte com os conceitos, então em pleno
desenvolvimento, do Património Construído, a base desta intervenção
foi ainda concebida num quadro da linguagem moderna da arquitectura,
procurando definir um “edifício-objecto”.
3 – uma fase, em pleno curso, com visão e carácter Patrimonialista, a qual
se desenvolveu sobretudo na última década do século XX, e primeira do
actual. Marcado o seu início, de algum modo, pela recuperação dos espa-
ços fortificados para o Picadeiro (1993-99), e pela adaptação das Portas de
São Francisco a Posto de Turismo (1998), tem tido depois disso um desen-
volvimento crescente e abrangente, já na década actual. As intervenções a
esta luz caracterizam-se pela atenção e ênfase colocada na valorização dos
espaços, formas e construções existentes no conjunto edificado da praça-
forte de Almeida, procurando conjugar as novas áreas de uso com as pré-
existências, num todo coerente e dinamizador de usos e fruições.
As principais edificações, recuperações e intervenções concretizadas
podem agrupar-se nos seguintes temas e fases:
Depósito de Água, 1948
Water Reservoir
Posto de Correio, 1930-40 (?)
Post Office
Outstanding buildings in this context include the monumental Water Res-
ervoir (dating back the 1940s), set in one of the town’s higher locations;
the modest Post Office building, in the town centre (built possibly in the
1960s); and, in a later stage, the Fire Station building, from the late 70s
(although being an adaptation/reconstruction of a building it can not be
included for its lack of quality within the patrimonialistic perspective).
2 – A stage based on the focus on Tourism, and within this context, on
cultural and even ‘nature’ tourism, expressed mostly by the building
of the Inn in one of the peripheral areas inside the fortified core (in the
mid-1980s). Although it sets a link to the concept of Built Heritage,
under full development at the time, the basis for this intervention was
still conceived within a context of architecture’s modern language, in
an attempt to define a ‘building-object’.
3 – An ongoing stage, with a Patrimonialistic vision and character, de-
veloped mostly throughout the last two decades. To a certain extent, its
start has been set by the recovery of the fortified areas for the Riding
Stable (1993-99), and by the adaptation of the São Francisco Doors to a
Tourism Office (1998), and it has grown ever since, in scale and scope,
during the present decade. In this perspective, interventions are character-
ized by the focus and emphasis on the valuation of the existing spaces,
forms and buildings in the built ensemble of the fortress town of Almeida,
in an attempt to match new areas of use with the pre-existing, creating a
consistent whole capable of potentiating uses and enjoyments.
The main buildings, recoveries and interventions performed may be
grouped under the following subjects and stages:
1 – The precedents, inserted within a ‘modern-traditional’ transition
stage;
2 – A ‘late modern’ stage, to a certain extent precursor of the patrimo-
nialistic vision;
3 – An initial patrimonialistic stage, which includes some isolated works;
4 – A second (and ongoing) patrimonialistic stage, which corresponds
to extending the successive interventions to the whole fortified ensem-
ble, under a global performing perspective;
110
Bombeiros Municipais, 1980 (?)
Municipal Fire Station
Porta Nova, 1985 e/and 2007
New Gate
1 – os antecentes, com uma fase de transição “moderno-tradicional”;
2 – uma fase “moderna tardia”, de algum modo percursora da visão
patrimonialista;
3 – uma primeira fase patrimonialista, que compreende algumas
obras isoladas;
4 – uma segunda (e actual) fase patrimonialista, correspondendo
à extensão das sucessivas intervenções a todo o conjunto fortificado,
numa perspectiva global de actuação;
5 – as intervenções contemporâneas e de recuperação, verificadas nas
construções da arquitectura de habitação corrente, tradicional, do espa-
ço urbano interior, não fortificado.
Descrição das sucessivas fases
Passemos à descrição mais pormenorizada das fases referidas.
1 – os antecedentes, no sentido da introdução da modernidade em Almei-
da, correspondem à fase de transição “moderno-tradicional”, com as obras
mais relevantes realizadas em infraestruturas e equipamentos (Depósito de
Água, Posto do Correio e Edifício dos Bombeiros, para além de pequenas
peças de monumentos e mobiliário urbano da 1ª. metade do século XX) nos
anos 1950 a 70. São intervenções pontuais, que alteraram porém o perfil
paisagístico da vila (o depósito), ou apenas a dotaram com serviços mais
actuais (o Correio, os Bombeiros), sem interferir no contexto urbano.
O Depósito de Água, construído em 1948, com certa escala e monumen-
talidade, foi erigido no local mais elevado da povoação (no terreno do
antigo cemitério oitocentista), podendo inserir-se no tipo de construção
infraestrutural da época do Estado Novo, característica dos anos 1940-50
– ou seja, para além da sua componente mais técnica e funcional, inclui
elementos decorativos e / ou de algum modo expressivos das correntes
estéticas neo-tradicionais que eivavam a “obra pública” do seu tempo.
Asim, a imagem global do imóvel remete para leituras medievalizan-
tes do tema da “torre em núcleo histórico”, recebendo por essa via um
tratamento formal e material que evoca imagens do passado histórico-
urbano das vilas portuguesas com origem medieva – na procura de uma
111
5 – The contemporary and recovery interventions, performed in build-
ings of traditional housing architecture, in the inner unfortified urban area.
Description of the successive stages
We will now present a more detailed description of the said stages.
1 – The precedents, regarding the introduction of modernity in Alme-
ida, correspond to the ‘modern-traditional’ transition stage, with the
most relevant works being performed on infrastructures and facilities
(Water Reservoir, Post Office and Fire Station, besides a number of
small monuments and street furniture pieces during the first half of the
20th century) between 1950 and 1970. These are isolated interventions,
which nevertheless changed the town’s landscape profile (the reser-
voir), or simply equipped it with more modern services (Post Office,
Fire Station), without interfering in the urban context.
The water reservoir, built in 1948 with a large scale concept and monu-
mentality, was erected in the town’s highest location (on the ground of
the old 19th century cemetery), and it can be included in the kind of in-
frastructural building from the Estado Novo period typical of the 1940s
and 1950s – this means that besides its technical and functional features
it includes decorative elements which are an expression of the neo-tradi-
tionalist aesthetics that contaminated ‘public works’ during that period.
Therefore, the building’s global image suggests medievalizing readings
of the ‘tower in an historic ensemble’ subject, thus receiving a formal and
material treatment, which evokes imagery from the historic urban past
of Portuguese towns of medieval origins – in a quest for ‘respectability’,
possibly induced by the proximity of the late baroque church tower.

“respeitabilidade” talvez induzida pela sua proximidade com a torre do
tipo de igreja tardo-barroca.
Deste modo – e embora constitua por certo uma obra assente em estru-
tura moderna de betão armado – a sua aparência externa foi cuidada no
sentido de permitir aquele sentido evocativo.
O modelo de referência mais próximo, para o autor do projecto (que se des-
conhece), poderá ter sido o da torre cilíndrica encastrada na muralha, que
na época possuía frequentemente um corpo saliente, e assente em cachorros.
Destaquemos o expressivo beiral que remata todo o corpo cilíndrico
saliente, mais elevado, a cachorrada “neo-medieva” de granito que en-
volve e suporta inferiormente esse corpo, e o balcão principal (sobre a
entrada, de moldura barroquizante), igualmente em pedra e assente em
cachorros, que, encastrado no volume inferior de planta circular, define
um elemento com pretensões de “pitoresco” no conjunto.
O resultado é desequilibrado, comprovando a dificuldade em se conci-
liar um tema claramente técnico e moderno, como é o do abastecimento
de águas, com formalismos edificatórios de referência histórica e sen-
tido tradicionalista.
Não constitui exemplo isolado, conhecendo-se outras obras, possivel-
mente contemporâneas, no mesmo tipo funcional, disseminadas pelo
país fora, que procuraram evocações análogas de teor historicista. A
título de exemplo, mencionem-se: o depósito de água, de pequenas di-
mensões, existente em Cascais (na estrada de São Domingos de Rana
para Albarraque); e o enorme edifício à entrada de Sagres (Algarve), de
tipo e volumetria análogas (Fernandes, 2003, pág.147).
O Posto do Correio (à entrada da actual praça da Liberdade) insere-se,
tal como o depósito, numa “família” arquitectónica do Estado Novo,
formalmente tipificada, com inúmeras variantes, para servir as séries de
novas obras dos edifícios para esta função espalhados pelas vilas e cida-
des do país. Teve origem num conjunto de projectos organizados com a
preocupação geral de uma expressão estética moderno-regionalista, que
o arquitecto Adelino Nunes (1903-1948), o “arquitecto dos correios”
concebeu nos anos de 1930-40, para o “Plano Geral das Edificações”
levado a cabo por Duarte Pacheco. Mas o exemplar de Almeida parece
ser mais tardio, uma vez que, num geral contexto estilístico de intenção
tradicional, apresenta mesmo assim alguns elementos formais e cons-
trutivos denunciadores da expressão modernizante.
Assim, os elementos tradicionais são: a expressão geral e volumetria
dentro da imagem referente à “Casa Portuguesa”, com os vãos aqua-
dradados, de pequena dimensão; o beiral de remate da cobertura, sobre
Pousada da Senhora das Neves, 1985
Senhora das Neves Inn
This way, although it certainly is a building laying over a modern con-
crete structure, its external appearance was treated so that it enables
such an evoking meaning.
For the (unknown) author of the project, the closest reference model
might have been the cylindrical tower embedded in the wall, which
often originally had a prominent body supported by corbels.
Emphasis must be laid on the expressive eave, in projection covering the
whole prominent cylindrical body, the ‘neo-medieval’ granite corbelling
underneath the said body, which surrounds and supports it, and the main
balcony (above the baroquizing framed entrance), also stone built and
supported by corbels, which is embedded in the lower volume of circular
plan and defines an element aiming to be ‘picturesque’ in the ensemble.
The unbalanced result proves the difficulty in conciliating a clearly
technical and modern subject, such as water supply, with building for-
malisms of historical inspiration and traditionalist attitude.
This is not an isolated example as there are other buildings of simi-
lar functional typology, possibly contemporary, spread throughout the
country, which attempted similar historical evocations. To name a few,
the small water reservoir in Cascais (alongside the road from São Do-
mingos de Rana to Albarraque, dated from 1944) and the huge building
at the entrance of Sagres (Algarve) with similar typology and volum-
etry (Fernandes, 2003: 147).
The Post Office (at the entrance of the present Liberdade square) be-
longs, just like the reservoir, to a formally typified Estado Novo archi-
tectonic ‘family’, with numerous variations, to serve the series of new
buildings with similar function scattered in towns and cities throughout
the country. It originated from a group of projects organized under the
general concern of a modern-regionalist aesthetics developed by ‘Post
Office architect’ Adelino Nunes (1903-1948) during the 1930s-40s for
Minister of Public Works Duarte Pacheco’s ‘General Building Plan’.
But Almeida’s example appears to be more recent, since although it be-
longs to a general stylistic context of traditional attitude, it nevertheless
shows some formal and constructive elements revealing of its modern-
izing expression.
These traditional elements therefore are: the general expression and vol-
umetry as defined in the image of the ‘Portuguese House’, with its small
dimensioned square spans; the tiled roof’s eave over a wall plate (in
painted concrete) covering the whole building and the use of exposed
stone (possibly granite from the region) in the bases, slanted window
ledges (a trace of the medieval reference?) and corner pilasters.
112
Picadeiro D’El Rey, 1993-99
Picadeiro D’El Rey
sanca (em betão pintado), envolvendo toda a construção, e a utilização
de pedra (possivelmente granito da região) aparente, nos embasamen-
tos, peitos oblíquos de janelas (um vestígio da referência medieva?) e
pilastras de canto.
Os elementos modernizantes, tímidos no conjunto do edifício, são: a
marcação da entrada à esquerda da frontaria, contrariando a simetria da
composição geral; o emprego de tijolo de vidro no plano da fachada ex-
terior, moldurando de forma translúcida a porta de acesso; e a varanda
de sacada, lisa e de peito fechado, acentuando a sua horizontalidade.
Em termos globais, este edifício, muito simples, apresenta-se com alguma
dignidade arquitectónica, representativo de um claro compromisso entre a
tradição e a modernidade, e por isso significando bem a situação cultural da
pequena “obra pública” de província, nos meados de Novecentos.
O edifício dos Bombeiros Municipais, em contrapartida, não parece
apresentar as características suficientes para constituir obra de qualida-
Posto de Turismo, 1998 de relevante, surgindo antes como o aproveitamento de uma construção
tradicional, por via da sua adaptação, sem grandes preocupações esté-
Turist Office
ticas.
Além destes edifícios, podem ainda referir-se alguns pequenos monu-
mentos e peças do chamado “mobiliário urbano”, como: The modernizing elements, shyly present in the whole building, are: the
– o padrão erigido “Aos Mortos da Grande Guerra 1914-1918” (à marking of the entrance on the left side of the frontage at odds with the
semelhança de idêntica iniciativa em muitas outras povoações portu- symmetry of the general composition; the use of glass brick on the design
guesas), na praça da República (de gosto Art Deco, constitui um sóbrio of the external façade, as a translucent framing of the door; and the flat,
pilar de granito encimado por Cruz de Cristo, possivelmente dos anos closed ledge bay window and balcony, emphasizing its horizontality.
1930); Overall, this very simple building shows a certain architectonic dig-
– o padrão comemorativo do “Duplo Centenário da Independência nity, representing a clear compromise between tradition and modernity,
e Restauração de Portugal”, junto ás portas interiores de Santo An- therefore being a perfect example of the cultural context of the small
tónio: uma obra tipificada (à semelhança das implantadas em inúmeros countryside ‘public works’ in the mid-20th century.
núcleos urbanos), e constituída por um pilar encimado pelos caracterís- On the other hand, the Municipal Fire Service building does not seem
ticos símbolos histórico-ideológicos do Estado Novo (escudo nacional, to have enough features so that it can be considered of relevant quality,
esfera armilar, Cruz de Cristo), e com as datas inscritas de 1139, 1640 e otherwise being the outcome of reusing a traditional building, adapting
1940 – datando a sua implantação certamente deste último ano; it without any real aesthetic concerns.
– o singelo Coreto, também na praça da República, de planta centrada, Apart from these buildings, a few small monuments and ‘street furni-
octogonal, com estrutura metálica decorativa e estrado sobreelevado, ture’ pieces must be pointed out, such as:
possivelmente datando do primeiro quartel de Novecentos (e semelhan- - The stone pillar erected ‘To the Dead of the Great War 1914-1918’
te a muitos outros coretos erguidos nas praças e jardins principais das (similar to initiatives which took place in many other Portuguese towns and
localidades); cities) in República square (a piece of Art Deco taste, consisting of a sober
– finalmente, a placa toponímica em azulejo policromado, implan- granite pillar topped by the Cross Christ, possibly from the 1930s);
tada sobre o arco externo das portas exteriores de Santo António, ime- - The stone pillar commemorating the ‘Second Centennial Anniver-
diatamente abaixo do brasão com coroa em pedra, e com a designação sary of the Restoration of Independence of Portugal’ close to the
113

“Almeida”, encimada pela sigla “ACP”, com as letras entrelaçadas;
deve datar dos anos 1920-30, e, exibindo um “lettering” de gosto Arte
Nova tardia, deve ter correspondido á campanha de identificação dos
principais locais atravessados pelas “Estradas de Portugal”, que aquele
clube se empenhava em divulgar, no quadro da expansão do primeiro
“turismo automobilístico” em Portugal (existem inúmeros exemplos de
placas análogas, de norte a sul do país).
2 – uma fase que pode designar-se por “moderna tardia”, em Almeida,
foi de algum modo percursora da visão patrimonialista, e ficou marca-
da pela construção da Pousada, pelo arquitecto Cristiano Moreira, de
cerca de 1985, com inauguração em 1987 - e da correspondente “Porta
Nova” (DGEMN, 1980-85), rasgada (é o termo) de modo assumida-
mente abrupto na muralha abaluartada (e recuperada em 2007, com a
sua valorização plástica, sob projecto por João Campos e com painéis
de azulejos por José Emídio).
A obra da Pousada da Senhora das Neves, de uma forte escala em ter-
mos da sua presença e localização sobranceira na povoação, é inserível
na fase das “pousadas modernas em monumentos” (Fernandes, 1999),
com atitude geral de projecto, desenho, materiais utilizados e relação
com o contexto próximo.
Implanta-se à ilharga do núcleo mais denso da povoação medievo-se-
tecentista, entre o casario e as muralhas, perto da chamada Praça Alta,
com vista ampla sobre o conjunto fortificado e urbano.
Constitui-se como um volume isolado, de base sensivelmente quadran-
gular, organizado em três pisos com características diversas e comple-
mentares entre si: o plano térreo, qual semi-cave, mais compacto, com
pequenas aberturas e revestido a pedra, evoca de algum modo mimetica-
mente a relação do edifício com o entorno castrense; o plano intermédio,
de acesso, é semi-vazado, sombreado, com ampos envidraçados, e inte-
gra um pátio que também abre para o piso superior, recebendo os pilares
de apoio deste; finalmente, o terceiro piso, mais elevado, saliente sobre os
planos externos, constitui o volume emblemático da edificação, de novo
compacto, com estrutura aparente em betão armado, panos de fachada
brancos, alternando com os vãos revestidos a reixas tradicionais de ma-
deira na cor natural (num recurso de sentido culturalista, mas discreto),
sendo rematado por uma ampla sanca recta, igualmente em betão.
No conjunto, esta construção como que se projecta “para fora e para
cima”, numa sugestão de movimento ascensional que valoriza a ideia
de leveza e de elegância que a arquitectura moderna quase sempre in-
Antigo Paiol e Casa de Guarda, 2000-01
Old Powder Magazine and House of the Guards
“Área Festiva” e do visinho “Revelim Doble”, 2003
“Festive Area” and the neighboring “Double
Revelim”
Santo António Inner Doors: a typified construction (similar to those
implanted in numerous urban cores), consisting of a pillar topped by
the typical historical and ideological symbols of the Estado Novo (the
national coat of arms, the armillary sphere and the Cross of Christ), and
the engraved dates of 1139, 1640 and 1940 – the later most likely cor-
responding to its implantation;
- The unsophisticated gazebo, also on República square, of octagonal
centered plan, with a decorative metallic structure and elevated platform,
possibly dating back to the first quarter of the 20th century (and similar to
many other gazebos erected on squares and main parks of the localities);
- Finally, the polychrome tiled town sign, implanted over the external
arch of the Santo António Outer Doors, right under the stone crown
and coat of arms, bearing the designation ‘Almeida’ topped by the ini-
tials ‘ACP’2 in interlaced letters; it probably dates back to the 1920-30s,
and with a late Art Nouveau taste it must have corresponded to the
identification campaign of the key locations crossed by the ‘Roads of
Portugal’, which this club was committed to publicize in the context of
the expansion of the first ‘automotive tourism’ in Portugal (there are
numerous examples of similar signs throughout the whole country).
2 – A stage which can be designated as ‘late modern’, in Almeida, was to
a certain extent precursor of the patrimonialistic vision and was marked
by the building of the Inn by architect Cristiano Moreira, dating back to
approximately 1985 and opened in 1987 – and the corresponding ‘New
Door’ - (DGEMN, 1980-85), abruptly tear open (literally) in the ram-
part (and recovered around 2007, with its artistic valorization following
the project by João Campos with tile panels by José Emídio).
The Senhora das Neves Inn, with a large scale regarding its presence
and location facing town, can be included in the ‘modern inns in monu-
ments’ stage (Fernandes, 1999), with a general attitude on its project,
drawing and materials used and a relationship with the near context.
It is implanted to the side of the densest core of the medieval-18th cen-
tury settlement, between the houses and the walls, near the so-called
“Praça Alta” (High Place), with a wide view over the fortified and urban
ensemble.
It consists of an isolated volume, with a slightly quadrangular base, or-
ganized in three floors with diverse and complementary characteristics
among them: the more compact semi-basement alike ground floor, with
small openings and stone coated, to a certain extent mimetically evokes
2 Acronym for Portuguese Automobile Club.
114
Portas Interiores de Santo António, 2004
Santo António Internal Gate
clui. O recurso ao jogo volumétrico do claro-escuro, nos dois pisos su-
periores; a utilização de elementos próprios do Movimento Moderno
(pilotis, betão aparente, grandes vãos entre apoios estruturais) – bem
como a geral expressão dos volumes e das proporções, equilibradas e
de dominante horizontal, não impedem a sua inserção clara na tradição
moderna da “integração em monumentos por contraste”, até com a re-
sultante de uma certa monumentalidade.
Obra correcta e segura, constitui um caso singular no contexto das sé-
ries de “Pousadas de Portugal” levadas a cabo nas décadas finais de
Novecentos.
3 – a referida “primeira fase patrimonialista” compreende algumas
obras isoladas, realizadas pelo arquitecto Luís da Costa Pereira, en-
quanto funcionário municipal: o Picadeiro do Baluarte do Trem (com a
colaboração do engenheiro Jorge Bastos, de 1993-99); o Posto de Tu-
rismo, instalado nas Portas Interiores de São Francisco, de 1998; e os
passadiços de visita ás ruínas do antigo Castelo Quinhentista (de cerca
de 2000-01). Em todos os casos tratou-se do aproveitamento ou tenta-
tiva de valorização de construções existentes, em pedra, inseridas no
complexo da estrutura fortificada, e recuperadas, adaptando-as a novas
funções ou vivências.
115
the building’s relationship with the military surroundings; the interme-
diate floor, serving as an access, is semi-cast, shadowed, glass-topped,
and it integrates a patio which also opens out to the upper floor, whose
supporting pillars rest in the said patio; and finally the third floor, the
highest, prominent over the external plans, is the emblematic volume of
the whole building, again compact, with a reinforced exposed concrete
structure, white curtain façade, which alternates with the traditional nat-
ural colored wood latticework covered spans (a culturalist yet discrete
resource), topped by a wide straight plate, also made of concrete.
As a whole, this building seems to project itself ‘to the outside and
upwards’, suggesting an ascentional movement that values the idea
of lightness and elegance very often included in modern architecture.
The resort to the volumetric game of light and darkness on both upper
floors; the use of elements typical of the Modern Movement (pilotis,
exposed concrete, large spans between structural supports) – as well as
the general expression of the volumes and proportions, balanced and
mostly horizontal, do not hamper its clear insertion in the modern tradi-
tion of ‘contrast integration in monuments’, even achieving a certain
monumentality.
An adequate and solid work, it represents a particular example in the
context of the series of ‘Portugal Inns’, performed during the last dec-
ades of the 20th century.
3 – The said ‘initial patrimonialistic stage’ includes some isolated works,
done by architect Luís da Costa Pereira while being a City Council
worker: the Train Bastion Riding Stable (in collaboration with engi-
neer Jorge Bastos, from 1993-99); the Tourist Office, installed in São
Francisco Inner Doors, dating back to 1998; and the visitors’ catwalk
on the ruins of the old 15th century Castle (circa 2000-01). In all these
cases there has been a recovery or an attempt to value existing stone
buildings, inserted in the fortified structure complex and recovered by
adapting them to new uses or fruitions.
The ‘Picadeiro D’El Rey’ horse-riding center was installed on the plat-
form of the Nossa Senhora das Brotas Bastion, west of the urban area,
recovering the previous installations of the riding stable, the stables and
surrounding spaces of the Old Train of Artillery and Place Arsenal.
The ensemble, centered on the stone building of the riding stable (with
a new ceiling, made of exposed wood trusses, reusing full sections,
with refined metal sockets), opens out to a patio, where it integrates
with the stables and other facility buildings. The riding stable’s inner

O “Picadeiro D´El Rey”, centro hípico, foi instalado na plataforma do
Baluarte (também chamado de Nossa Senhora das Brotas) a poente da
praça, aproveitando as anteriores instalações do picadeiro, cavalariças e
espaços envolventes do antigo Trem de Artilharia e Arsenal.
O conjunto, centrado na ampla construção pétrea do picadeiro (com
nova cobertura, de asnas de madeira aparente, que utilizou peças intei-
ras, com cuidados encaixes de metal), abre para um pátio, nele se arti-
culando com as cavalariças e restantes edifícios de apoio. A estrutura de
cobertura interna do picadeiro, a parte mais notável do conjunto quanto
a nós, foi concebida com possibilidade de reversibilidade, em termos
estruturais, e em relação à muralha onde parcialmente se encastra.
As portas a sul, de São Francisco ou da Cruz, constituem as principais
da Praça de Almeida, tendo sido edificadas na segunda metade do sécu-
lo XVII, e reconstruídas ou restauradas posteriormente. Depois da re-
cuperação das coberturas da chamada Porta Exterior (por Costa Pereira,
1997), foi o corpo da antiga Casa da Guarda, nas designadas Portas In-
teriores ou Magistrais, reconvertido em Posto de Turismo, em 1998.
Trata-se de um espaço interno ao corpo edificado, por razões defensivas
apenas assinalado pela porta, aberta sensivelmente a meio do túnel de
passagem entre o interior e o exterior das muralhas da Praça, e que inclui
a antiga cela prisional e uma lareira de dimensão escultórica, em granito.
Centro de Estudos de Arquitectura Militar de
Almeida / C.E.A.M.A., 2007
Almeida Military Architecture Studie’s Center /
C.E.A.M.A.
ceiling structure, in our opinion the ensemble’s most notable piece, was
designed to be reversible, in structural terms, and in relation to the wall
where it is partially embedded.
The São Francisco or Da Cruz doors to the south are the main doors of
the Almeida Fortress, built in the second half of the 17th century and
rebuilt or recovered at a later time. After the recovery of the roofs of
the so-called Outer Door (by Costa Pereira in 1997), the wing of the
House of the Guards, in the so-called Inner or Magistral Doors, was
reconverted into a Tourist Office in 1998.
It was an inner space in the building wing, recognizable for defensive
purposes by the door alone, opened approximately in the middle of the
tunnel connecting the inside and the outside of the Praça walls, and
which includes the old prison cell and a granite fireplace of sculptur-
esque dimension. The extremely discrete design intervention tried to
value the structural stone elements, endowing the existing uniting space
with the comfort and modern facilities required for the new activity.
4 – A second (and ongoing) patrimonialistic stage corresponds to the
extension of the successive interventions to the fortified and urban en-
semble, and includes already a series of multifaceted recoveries, in sev-
eral locations and buildings, giving a sense of strategic and combined
116
A intervenção realizada, extremamente discreta, procurou valorizar os
elementos estruturais em pedra, dotando o espaço unitário existente com
o conforto e o equipamento modernos necessários à nova actividade.
4 – uma segunda (e actual) fase patrimonialista, corresponde à extensão
das sucessivas intervenções ao conjunto fortificado e urbano, e inclui
já uma série de recuperações multifacetadas, em diversos espaços e
construções, atribuindo um sentido de acção estratégica e conjunta às
obras realizadas – as quais, segundo tudo leva a crer, irão atingir uma
dimensão global de grande significado, á volta da “obra maior” em aca-
bamento (Junho de 2009) que constitui a recuperação das Casamatas e
sua adaptação a Museu de História Militar.
As principais obras realizadas nas áreas fortificadas, na presente década e/
ou em curso de completamento, podem enumerar-se cronologicamente:
– o Revelim do Paiol, com a reabilitação do antigo Paiol e da Casa de
Guarda (duas modestas construções térreas, telhadas, sobre a plataforma
fortificada), realizada pelo GAT cerca de 2000-01, inicialmente para Clube
de Tiro, e que possivelmente será destinada ao Corpo de Escuteiros local;
– as Instalações de apoio à zona da chamada “ Área Festiva” e do vi-
zinho “Revelim Doble” ou “Hospital de Sangue”, inicialmente com
projecto pelo GTL (2003, ponte metálica levadiça, de acesso), e pos-
teriormente por João Marujo, em 2005-06 (escadas para o Revelim, e
palco-plataforma e instalações de apoio, na área de festas);
– a requalificação da “Porta Nova”, com intervenção plástica (por João
Campos e pelo artista José Emídio, em 2007) – tendo sido concebida inicial-
mente pela DGEMN, nos anos 1980, apenas numa perspectiva de nova aces-
sibilidade técnica, o túnel da “porta” foi nesta nova operação redesenhado e
revestido de forma cuidada, com materiais de valorização estética;
– as Portas Interiores de Santo António, com colocação de um estrado
de madeira no intradorso da abóbada (como utilizado pela tradição militar),
com recuperação de uma ampla sala para actividades polivalentes, e com
instalações de apoio anexas, sendo reconstruídas e recolocadas, segundo os
métodos tradicionais, as respectivas portas de acesso (em madeira travada
a ferro, e chumbadas na pedra), por João Marujo, em 2004;
117
action to the works performed – these will, expectedly, reach a global
dimension of great significance, around a ‘larger work’ to be completed
(in July of 2009), such as the recovery of the casemates and their adap-
tation to Museum of Military History.
It is possible to list the main works performed in the fortified areas, dur-
ing the present decade and/or in progress, by chronological order:
- The Powder House Ravelin, with the rehabilitation of the old Pow-
der House and House of the Guards (two modest tile roofed single-
storey buildings on top of the fortified platform), performed by GAT3
circa 2000-01, originally intended for a Shooting Club and now pos-
sibly destined for the local Scout Group;
- The facility buildings of the so-called ‘Festive Area’ and the neigh-
boring ‘Double Ravelin’ or ‘Blood Hospital’, initially projected by
GTL4 (2003, admittance metal draw bridge) and later by João Marujo,
in 2005-06 (stairway to the Ravelin and platform-stage and facility
structures in the festive area);
- The requalification of the ‘New Door’, with an artistic intervention (by
João Campos and artist José Emídio in 2007) – originally conceived by
DGEMN5 in the 1980s, simply in the perspective of a new technical acces-
sibility for car traffic, the ‘door’ tunnel was redesigned in this new opera-
tion and carefully coated with materials serving its aesthetic valorization;
- The Santo António Inner Doors, with the placement of a wooden
platform in the soffit of the tunnel dome (as used in the military tradi-
tion), the recovery of a wide domed room for multipurpose activities
and annex facility structures, and with the recovery and refitting of the
admittance doors (wooden with iron locks and fixed into the stone) fol-
lowing traditional methods, by João Marujo, in 2004;
- The Almeida Military Architecture Studies Center / CEAMA, in-
stalled in the Santo António Outer Doors, with its Auditorium and
Investigation area occupying two symmetrical rooms contiguous to the
tunnel passage; in the domed stone Investigation room an horizontal
3 Acronym for the City Council’s Technical Support Office.
4 Acronym for the City Council’s Local Technical Support Office.
5 Acronym for the Directorate-General for National Monuments.
– o Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida / CEAMA,
instalado nas Portas Exteriores de Santo António, e ocupando as duas
salas, simétricas e contíguas à passagem em túnel, respectivamente com o
espaço de Auditório e com o espaço de Investigação e Documentação; a sala
de Investigação, sendo abobadada em pedra (tal como a outra), recebeu um
estrado superior de madeira, horizontal, sobre estrutura de aço e/ou madeira,
cravada nas antigas perfurações na pedra - que permitiu a utilização de um
meio-piso superior (com acesso por escada de pedra existente), e a visualiza-
ção espacial dos antigos sistemas de construção e ocupação pela guarnição
militar. De mencionar ainda o partido formal e material inovador tomado na
construção dos elementos de contenção da grade e da iluminação, erigidos
sobre a cobertura externa em pedra – em opção que recorreu ao “aço cortene”
sem revivalismo, em formas estruturais contemporâneas (projecto e obra por
João Campos, de 2007, numa 1ª. fase com João Marujo, em 2006).
A intervenção nas chamadas Casamatas, a mais recente operação no
sector fortificado, ainda em conclusão de obra, merece aqui um desta-
que especial, quer pela sua dimensão e objectivos, quer pela originali-
dade, qualidade e raridade do espaço e das estruturas existentes, quer
ainda pela delicadeza da intervenção finalmente conseguida.
A Esplanada e Área Técnica do Baluarte de São João de Deus, com
restauro das chamadas Casamatas (por João Campos e João Marujo,
de 2007-2009) constitui de facto a mais vasta e complexa intervenção
de quantas foram realizadas na fortificação de Almeida; incidiu sobre
uma ampla área coberta, preenchendo todo o espaço inteiror do baluar-
te, e cujo tratamento já tinha, em décadas anteriores, sido tentado sem
sucesso (dos anos 1960 aos anos 2000, com coberturas em terra, com
tela asfáltica, etc, pela DGEMN e IPPAR).
Todo o conjunto das casamatas corresponde no fundo a uma estrutura
“claustral-castrense”, enterrada, abrindo cada galeria abobadada coberta,
ou casamata, para um pátio central, de ventilação e acesso, com ligação a
poço de água. A entrada desde o exterior era efectuada também por uma
longa galeria lateral, abobadada, em túnel. O aspecto verdadeiramente
original do conjunto consiste nas chamadas “telhas de pedra”, coloca-
das exteriormente sobre cada unidade de galeria coberta abobadada, em
sucessivas camadas “escamadas”, formando, de modo alinhado, sequen-
ciais coberturas de duas águas, cada uma dotada com chaminé de ventila-
ção também em pedra, e envolvendo em conjunto, o pátio central.
A intervenção actual corresponde à recuperação e adaptação de todo o con-
junto para Museu de História Militar (em articulação com o IGESPAR e com
o apoio do Museu Militar de Lisboa). O projecto, de tipo “leve” e reversível,
wooden platform has been placed over the steel and/or wooden struc-
ture, fixed into the old holes in the stone – this allowed the use of an up-
per half floor (with admittance by an existing stone stairway), and thus
the spatial visualization of the old military garrison’s construction and
occupation systems; it is also worth mentioning the innovative formal
and material option made while constructing the containment elements
of the grid and the lightning, erected over the external stone roof – a
non revivalist option using ‘cortene steel’ on structural contemporary
shapes (projected and performed by João Campos in 2007, after an ini-
tial stage by João Marujo, in 2006).
The intervention performed in the so-called Casemates, the most recent
operation in the fortified sector, a work still in progress, deserves a spe-
cial emphasis both for its dimension and objectives and for the original-
ity, quality and rarity of the space and the existing structures, and also
for the delicacy of the intervention finally achieved.
The Esplanade and Technical Area of the São João de Deus Bastion,
with the restoration of the so-called Casemates (by João Campos
and João Marujo, between 2007-2009) is in fact the most vast and com-
plex recovery project and work of all those performed in the Almeida
fortress; it took place over a wide covered area, filling the whole inner
space of the bastion, whose treatment had been unsuccessfully attempt-
ed in previous decades (covered with earth, using asphalt roofing felt,
etc., from the 1960s to the 2000s, by DGEMN and IPPAR6).
The whole casemate complex corresponds after all to a ‘monasterial-
military’ underground structure, with each domed gallery, or casemate
opening out to a central ventilation and admittance court, connected to
a water well. Entrance from the outside was also made through a long
domed tunneled side gallery. The truly original look of the complex
consists in the so called ‘stone tiles’, placed on the outside, over each
domed roofed gallery section, in successive ‘scaled’ layers forming
aligned sequential gabled ceilings, each with a stone ventilation stack,
draping together the central court.
The present intervention corresponds to the recovery and adaptation of
the whole ensemble for a Museum of Military History (in coordination
with IGESPAR7 and with the support of the Lisbon Military Museum).
The project, of the ‘light’ and reversible kind, followed the rule of using
metallic materials, natural color wood and linear special installations
(for illumination and ventilation); it considered essentially the need to
6 Acronym for the State Institute for Architectural Heritage.
7 The present official designation for former IPPAR (see note 6).
118
Esplanada e Área Técnica do Baluarte de São
João de Deus (Casamatas), 2007 – 2009
Esplanade and Technical Área of the São João de
Deus Bulwark (Casemates)
Antiga Habitação e novo corpo anexo, 2007-08
Ancient house and new volume annexed
utilizou por regra materiais metálicos, madeiras de cor natural e instalações
especiais lineraes (de iluminação, arejamento); considerou fundamentalmen-
te a necessidade de isolar o conjunto interior, subterrâneo, destinado a museu,
das infiltrações de águas; e, neste quadro, optou por deixar aparente todo o
precioso sistema das referidas “telhas de pedra”, reconstruindo em material
assumidamente actual as coberturas demasiado danificadas (podemos assim
distinguir as estruturas originais e a partes novas).
O acesso principal é feito na cota inferior, a do túnel abobadado, a partir
da entrada pela fachada externa do baluarte, tal como originalmente –
articulada com um passadiço interno, ligeiramente alteado do chão irre-
gular, para ligação entre as várias salas abobadadas; no exterior, na cota
superior, a das coberturas, apenas uma plataforma-mirante, de madeira,
central, permite aceder á observação sobranceira, mais próxima do pá-
tio e das coberturas envolventes, culminando numa pequena torre de
madeira (sinal discreto da intervenção arquitectónica global), servindo
para articulação vertical com a área de cafetaria, e implantada num pon-
to da obra nova que não implicou a demolição de estruturas existentes.
Ponto fulcral das sucessivas intervenções no sistema fortificado de
Almeida, espera-se que o “Museu das Casamatas” constitua uma obra
exemplar e potenciadora do amplo turismo cultural que esta extraordi-
nária povoação suscita.
5 – finalmente, as intervenções contemporâneas e de recuperação, verificadas
nas construções da antiga arquitectura corrente de habitação, no conjunto do
espaço urbano interior, não fortificado, inserem-se, no fundo, no interior do
tecido do chamado “casco histórico”, de origem e traçado medieval.
Nos casos conhecidos e analisados, tratou-se sempre de recuperar as anti-
gas fachadas, reconstruindo total ou parcialmente os interiores – e destinan-
do os novos usos a equipamentos, públicos ou privados. Não se conhecem
na povoação intra-muros, ainda, casos notáveis de reabilitação das constru-
ções, mantendo a sua função de habitação – o que, dada a coerência e qua-
lidade estética e formal do conjunto habitacional de Almeida, parece cons-
tituir um tema novo, de grande premência e que deverá merecer apoio da
autarquia (evitando a indesejável tendência de mono-funcionalização, por
transformação de todo o parque residencial em equipamentos e serviços).
Alguns casos de aproveitamento das construções para casas “moderniza-
das” são, infelizmente, lamentáveis do ponto de vista da qualidade (como
a pequena habitação de base clássico-vernácula, junto à nova biblioteca
municipal, com uma raríssima alpendrada térrea e varanda superior, sobre
colunelos em granito, que foi desfigurada).
119
insulate the inner underground complex, intended to be a museum, from
water infiltration; and, in this context, the option was to leave the whole
precious system of the said ‘stone tiles’ exposed, using contemporary
materials to rebuild the damaged structures (thus enabling us to tell the
original structures from the new sections).
Main entrance stays on the lower domed tunnel level, through the entrance
on the external façade of the bastion, as it originally was – integrated with
an internal catwalk, slightly elevated from the irregular ground, connecting
the several domes’ rooms; on the outside, on the upper ceilings level, a
single wooden lookout platform allows an overview, closer to the court and
the surrounding roofs, culminating in a small wooden tower (a discrete sign
of the whole architectural intervention), for the vertical ventilation of the
cafeteria area, implanted in a location of the new building which avoided
the demolition of any existing structures.
A key point in the successive interventions in the fortified system of Almeida,
the ‘Casemate Museum’ will expectedly be an exemplary work, potentiating
the wide cultural tourism attracted by this extraordinary settlement.
5 – Finally, the contemporary and recovery interventions performed in build-
ings of traditional housing architecture, in the ensemble of the inner unforti-
fied urban area, are after all inserted on the inside of the tissue of the so-called
‘historic core’, whose origins and plan date back to the Middle Ages.
Known and studied cases presented here always focused on recovering
old façades, the interiors being totally or partially rebuilt – with new
uses intended for public or private facilities. To this day, there are no
remarkable examples known in the intra-mural settlement of rehabilita-
tion of buildings destined to keeping their residential function – which,
given the aesthetic and formal consistency and quality of the Almeida
residential ensemble, seems to present a new subject of great urgency
requiring the municipality’s support (avoiding the undesirable trend of
creating a global urban single function by converting the whole residen-
tial area into facilities and services). Unfortunately, the present reuse of
buildings as ‘modernized’ houses is in some cases of regrettable qual-
ity (like the small house in classic-vernacular style, close to the new
municipal library, with an extremely rare ground floor porch and upper
balcony, supported by granite small columns, which was defaced).
Apart from the unworthy of mention case of the old ‘Almeida Fortress
Governor’s House’, in Liberdade square (modernized with the plat-
band, possibly in the 19th century), whose interior was remodeled as
‘Palace of Justice’, in 1990 (lacking any noticeable quality), the follow-
ing qualifying examples may be presented:

Sem destacar o caso especial da antiga “Casa dos Governadores da Pra-
ça de Almeida”, na praça da Liberdade (possivelmente modernizada
no século XIX, com a platibanda), a qual foi remodelada internamente,
enquanto “Palácio da Justiça”, em 1990 (sem qualidade assinalável),
podem referir-se os seguintes exemplos qualificadores:
– com valor sobretudo interno, as novas instalações da Caixa Geral
de Depósitos, na praça da República, inauguradas em 1992; deitando
para o jardim, o projecto aproveitou as frentes de duas antigas casas
vernáculas de dois pisos, criando internamente um espaço novo e mais
amplo, abrindo um dinâmico espaço vazio como área de atendimento,
marcado pelo desenho semi-circular da galeria superior envolvente;
– a antiga habitação de dois pisos, na praça da Liberdade ns.11 e
12, com quintal anexo, recuperados ambos, e ampliados, como duas
edificações de serviços: a do n.11, a antiga casa, que passou a clíni-
ca, com reconstrução interna e aproveitamento das fachadas; e a nova
construção (para serviços e escritórios), erigida polemicamente sobre o
antigo quintal, com expressão externa assumidamente contemporânea
(um “prisma negro”, saliente, de betão e vidro). Interessante é a articu-
lação entre os dois volumes, por meio de um semi-pátio rasgado entre
ambos. Foi um projecto e obra por João Madalena, de 2007-08, e, para
além do seu “valor de ruptura” com o tradicionalismo imperante na
vila, representou o pioneirismo corajoso da introdução da arquitetcura
de expressão actual no núcleo intra-muros;
– a nova Biblioteca Municipal, que ocupou a longa e estreita faixa de
terreno urbano entre a fachada tradicional existente (deitando para uma
das apertadas ruas centrais) e a traseira, esta em abertura panorâmica
sobre a paisagem aberta e imensa do vale do Côa. O edifício resolve
arquitectonicamente esta longa e estreita área, em três pisos, procuran-
do captar a luz externa, como penetração vertical, por meio de pátios
e clarabóias, e criando uma espacialidade interna aberta, num espaço
global, de tipo fluido e contínuo, desenvolvido entre a entrada e as salas
de leitura. Foi projecto por João Marujo, de 2008-09.
Outros, novos e futuros projectos de fundo
Está pensada a recuperação da antiga “Casa da Roda dos Expostos” (com
data de 1843), servindo para núcleo museológico; sita na rua das Muralhas,
é outro exemplo da arquitectura vernácula de pedra, em dois pisos, caracte-
rística da vila; igualmente se irá municipalmente avançar para a recupera-
ção global do conjunto das poternas e portas da vila; e a ideia de recuperar
o antigo e notável conjunto arquitectónico do chamado “Quartel das Es-
quadras” é um tema que a autarquia procurará, num futuro desejavelmente
próximo, fazer avançar, em diálogo com o proprietário, o Estado.
Em curso encontra-se ainda o projecto para a requalificação da área
exterior de acesso às portas de São Francisco, um nó viário que se pre-
tende qualificar esteticamente.
Está também a autarquia a estudar a reconversão funcional e valori-
zação estética de toda a área alta da vila, ou do Castelo, com a futura
integração numa estrutura articuladora, do depósito de água semi-enter-
rado, com as restantes infra-estruturas de apoio (miradouro, serviços de
jardins, sanitários, posto eléctrico, etc) – para além do antigo cemitério,
da torre do relógio e do antigo depósito de água elevado.
Nesta página e na seguinte
Biblioteca Municipal, 2008-09
In this page and in the following
Municipal Library
- Caixa Geral de Depósitos’ new premises in República square,
opened in 1992, valuable mostly for its interiors; opening out to the
garden, the project took advantage of two old two-storey vernacular
houses’ façades, creating a new and wider space on the inside, opening
a void dynamic atrium space, used as costumer service, with the sur-
rounding upper gallery’s semicircular design.
- The old two-storey house, in numbers 11 and 12, Liberdade square,
including the backyard, both recovered and enlarged, as two services
buildings: the old house in number 11, converted into a clinic, whose interi-
ors were reconstructed and façade reused; and the new building (for services
and office use), controversially erected over the old backyard with an inten-
tional contemporary external expression (a prominent concrete and glass
‘black prism’). The interest here lies on the articulation between the two vol-
umes, through a semi-patio opened between them. This was a project by João
Madalena, between 2007-08, and, beyond its ‘rupture value’ with the town’s
dominant traditionalism, represented the bold pioneering in introducing the
architecture of contemporary expression in the intra-mural core;
- The new Municipal Library occupying a long thin strip of urban
ground between the existing traditional façade (facing one of the narrow
central streets) and the back, the later offering a panoramic view over
the immense and open landscape of the Côa river valley. The building
architecturally resolves this long and narrow area, with three floors,
attempting to catch the external light through vertical penetration, by
means of patios and skylights, and by creating an open internal spatial-
ity in a global fluid and continuous space, which evolves between the
entrance and the reading rooms. João Marujo developed the project,
between 2008-09.
Other new and future structural projects
The recovery of the old ‘House of the Foundling Wheel‘ (dating back to
1843) is planned to serve as a museological nucleus; located in Muralhas
street, this is another example of vernacular stone architecture in a two-
storey building typical in this town; the municipality will also proceed
with the global recovery of all the town’s posterns and doors; and the idea
120
No essencial, e em síntese, é patente a vitalidade e a dinâmica criadas
pelo município, num processo em pleno curso, desenvolvido no senti-
do da recuperação acertada, planeada de modo faseado e sustentado, e
qualificador do conjunto material desta notável vila – com aposta numa
perspectiva contemporânea de reconversão, recuperação e reabilitação
da sua multitude de espaços notáveis.
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no Estado Novo: as Estações de Correio do Plano Geral de Edifica-
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nicipal de Almeida, 2006
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Municipal de Almeida, 2007 of recovering the old and notable architectural complex of the so-called
CEAMA, Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida (revis- ‘Squad Barracks’ is a subject which the municipality will try to carry out
ta), Câmara Municipal de Almeida, 2007 e 2008 – (3 ns.) in the near future, hopefully, dialoguing with the owner, the State.
Fernandes, José Manuel, “Pousadas de Portugal. Obras de Raiz e em Also in progress is the requalification project of the external access
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Novo, Lisboa, MC / IPPAR, 2003 with future integration of the semi-buried water reservoir in a coordinat-
Guia Expresso das Pousadas, Hotéis de Sonho e restaurantes que vale ing structure, including all other facility infrastructures (viewpoint, park
a pena, Lisboa, Expresso, 2000, volume 6 – Beira Interior services, toilets, electric distribution transformer, etc.) – and also the old
cemetery, the clock tower and the old elevated water reservoir.
In short, essentially, the vitality and dynamics created by the munici-
pality are quite visible, in an ongoing process, developed towards the
correct, planned recovery, in staggered and sustainable manner, qualify-
ing the material ensemble of this notable town – investing in a contem-
porary perspective of reconversion, recovery and rehabilitation of the
multitude of its notable spaces.
Arquitecto – Professor Agregado em História da Arquitectura e do Urbanismo – Investigador
Architect – Aggregated Professor of History of the Architecture and Urbanism – Researcher
121
3.6 A NOMEAÇÃO DAS FORTIFICAÇÕES
DE ALMEIDA COMO PATRIMÓNIO MUNDIAL
Milagros Flores Román
O Município de Almeida possui uma das duas maiores fortalezas que,
em conjunto com uma série de outras cidadelas fortificadas, estrategica-
mente dispostas, guardavam a fronteira Portuguesa com Espanha.
A missão primordial de Almeida era a de proteger a fronteira natural do
Rio Côa, que separava Portugal de Espanha.
Ao visitarmos a cidadela de Almeida, a primeira grande impressão a cha-
mar-nos a atenção é a paisagem em torno. A cidadela ainda apresenta, de-
simpedida desde as origens, a sua paisagem cultural, conjuntamente com
uma área de protecção bem conservada, o que permite a interpretação, a
compreensão e a preservação das esplanadas não afectadas e os cenários
históricos. Ao aproximarmo-nos, é quase impossível não imaginar as ba-
talhas históricas que tiveram lugar nesses terrenos consagrados.
A segunda impressão forte é o sentido de dominação, quando passamos
através das suas impressivas portas. Em pleno século XXI, ao atraves-
3.6 THE NOMINATION OF THE Almeida
Fortifications AS World Heritage
Milagros Flores Román
The Municipality of Almeida houses one of the two major Portuguese
fortresses that along with a series of other strategically located fortified
cities guarded the Portuguese border with Spain.
Almeida’s primary mission was to protect the natural boundary of the
River Coa which separated Portugal from Spain.
When visiting the city of Almeida, the first major feature capturing ones
attention is the landscape surrounding the city. The city still retains its
original unobstructed cultural landscape along with a well conserved
buffer zone that allows for the interpretation, understanding and preser-
vation of pristine esplanades and historic scenes. As one approaches the
city it is almost impossible not to visualize the historic battles that took
place on these hallowed grounds.
The second feature is the sense of stronghold once passes through its
impressive city gates. To be able in today’s 21st century, by crossing
122
sarmos tais portas somos imediatamente remetidos para outro Tempo,
inserindo-nos num ambiente urbano, fortificado e antigo, quase intacto.
Esta impressão demonstra como Almeida tem sido bem sucedida para
manter a sua integridade e autenticidade como recurso cultural de clas-
se mundial.
Almeida é um bom exemplo de cidade fortificada preservada, com as suas
muralhas ainda intactas, e na qual a componente da compreensão das suas
estruturas militares está bem conservada. Estas fortificações que em tem-
pos se impuseram aos exércitos inimigos, continuam hoje-em-dia a impres-
sionar-nos num tempo diferente da sua importante história, permitindo que
os visitantes e os turistas que chegam possam desfrutar das maravilhas da
engenharia militar, da história, e de uma experiência cultural efectiva.
A municipalidade de Almeida tem sido diligente no desenvolvimento
de um planeamento de gestão que tem em consideração a importância
deste recurso único de classe mundial. As prioridades e os planos são
aplicados no terreno com vista ao melhoramento da interpretação do
património militar único, providenciando um complexo museológico
localizado numa das suas casamatas, o que permitirá a interpretação da
artilharia da cidadela, a construção e a vida dos soldados, entre outros e
importantes temas de carácter histórico.
Os impositivos sistemas da mancha de fortificação de Almeida, junta-
mente com as suas componentes, são exemplo da excepcional enge-
nharia militar defensiva que um dia foi concebida por Portugal, um
pequeno país defendendo-se de Espanha, e que na época era a primeira
potência militar do mundo. Hoje estas fortificações são um exemplar
inestimável da adaptação da engenharia militar portuguesa à geogra-
fia natural para defesa dos habitantes, e tornando esses habitantes nos
componentes mais importantes, não apenas na construção das fortifica-
ções, como pedreiros e artífices, mas participando também na defesa da
cidade e do país.
Cada sector das fortificações de Almeida constitui um exemplo genuíno
da excepcional engenharia militar portuguesa, planificada e desenhada
como parte de um sistema de protecção da fronteira entre Portugal e
123
through these city gates immediately you go back in time and you are
in an almost intact ancient fortified town. This impression shows how
Almeida has been successful in keeping its integrity and authenticity as
world class cultural resource.
Almeida is a well preserved example of fortified town, with all its walls
still intact, and in which the component of its inclusive military struc-
tures is well conserved. These fortifications that once awed the enemy
army’s, continues today to impress a different period in their important
history which is to provide visitors and tourists that comes to enjoy
such wonders of military engineering, history, and a real cultural ex-
perience.
The Almeida municipality has been diligent in developing a Manage-
ment Plan that takes into consideration the importance of this unique
work class resource. Priorities and plans are in place for the improve-
ment on the interpretation of the city’s unique military heritage by pro-
viding a Museum complex located at one of its casemates that allows
for interpretation of the city artillery, construction and life of the sol-
diers, among other important historic themes.
Almeida’s bulk ward fortification systems together with its components
are example of the unique defensive military engineering conceived by
the once small country of Portugal defending itself from Spain, the pri-
mary military power of the world. Today this fortifications are unique
example of Portuguese military engineering adaptation to the natural
geography for defending the inhabitants, and on making this inhabitants
becoming major component themselves not only in the construction of
the fortifications as masons and craftsmen’s, but also participating in
the defense of the town and country.
Every section of Almeida’s fortifications constitutes a genuine example
of exceptional Portuguese military engineering that was planned and
designed as part of a defensive system to protect the frontier between
Portugal and Spain. Their use as a defensive system, with unique archi-
tectural features, their importance to the history of the region, and its
functionality to these particular geographic setting awards the fortifica-
tions of Almeida with exceptional value.

Espanha. A sua utilização como sistema defensivo, com qualificações
arquitectónicas ímpares, a sua importância para a história da região e a
sua funcionalidade no particular conjunto geográfico premeiam as for-
tificações de Almeida com valor excepcional.
Em conclusão, tendo em consideração a história das fortificações de
Almeida, e depois de termos visitado o sítio e apreendido a paisagem e
observado a integridade das fortificações e os planos de gestão para o
futuro, é nossa opinião que as fortificações de Almeida possuem valor
universal e merecem vir a ser consideradas como um sítio com estatuto
de Património Mundial.
In conclusion, an after reviewing the history of the Almeida fortifica-
tions, and after visiting the sites and understanding the landscape and
seeing the integrity of the fortifications and future management plans,
it is my opinion that the fortifications of Almeida are of universal value
and deserve further consideration for World Heritage sites status.
Historiadora – Perita em Fortificações
Historian - Expert on Fortifications
124
3.7 FORTIFICAÇÕES ABALUARTADAS
DE ALMEIDA
Pedro Dias
1. Algumas considerações preliminares
Uma das disciplinas menos estudadas, menos conhecidas e menos di-
vulgadas do vasto campo das Ciências do Património é a concepção
e construção de fortificações da Época Moderna, designada por Arte
Militar ainda em 1571, por Girolamo Blondel, no seu Dell’arte militare
libri tre, dado à estampa por Tomaso Bozzola, em Brescia. No entanto,
são várias as formas que os diferentes tratadistas utilizaram, a partir do
século XVI para a designar, designações que não são arbitrárias, mas
que assentam em sólidos pressupostos e em formas próprias de encarar
as actividades dos projectistas e dos construtores.
Alexandre Pierre Juliene de Belair chamou-lhe simplesmente Fortifica-
ção, num livro impresso pem Paris, em 1792, na tipografia de Firmin
Didit, cujo título é Élements de fortification, refermant ce qu’il étoit
nécessaire de conserver des ouvrages de Le Blond, Deidier et autres…
O mesmo fez Guillaume Le Blond, nos Elements de Fortification, de
1756, da oficina parisina de Charles Antoine Jombert. Porém, este autor
usou igualmente a designação de Castramentação, nomeadamente no
Essai sur la Castramentation, ou sur la mesure et le tracé des camps, de
1748, impresso pelo mesmo tipógrafo, e no mesmo local, mas dez anos
antes. Outros optaram por Arquitectura Militar, palavras que Michel
Achielli inscreveu na folha de rosto do seu tratado impresso em Veneza,
em 1725. Mathias Dogen chamou-lhe Arquitectura Militar Moderna ou
Fortificação, e este é o título do seu famosíssimo manual de 1648, dado
à estampa em Amsterdão, por Louys Elzevier, no fundo, os mesmos
termos por que Louis de Cormontaigne optou, Arquitectura Militar ou
Arte de Fortificar, num livro que conheceu a força dos prelos em Haia,
125
3.7 THE BULWARKED FORTIFICATIONS
OF ALMEIDA
Pedro Dias
1. Some preliminary thoughts
One of the least studied, least known and least promoted disciplines
within the vast field of Heritage Sciences is the conception and con-
struction of Modern Age fortifications, called Military Art still in 1571,
by Girolamo Blondel, in his Dell’arte militare libri tre, published by To-
mas Bozzola, in Brescia. Nevertheless, different authors used different
ways, from the 16th century onwards, to designate these constructions,
which were not arbitrary, but rather supported by solid assumptions and
own ways of facing the activities of designers and constructors.  
Alexandre Pierre Juliene de Belair simply called Fortification, on a book
printed in Paris, in 1792, in Firmin Didit’s typography, under the title
Élements de fortification, refermant ce qu’il étoit nécessaire de conserver
des ouvrages de Le Blond, Deidier et autres… The same was done by
Guillaume Le Blond, in Elements de Fortification, of 1756, of the Paris-
ian workshop of Charles Antoine Jombert. Nevertheless, this author also
used the term Castramentation, namely on Essai sur la Castramentation,
ou sur la mesure et le tracé des camps, of 1748, printed by the same to-
pographer and on the location, only ten years later. Others chose Military
Architecture, words that Michel Achielli wrote on the cover page of his
treaty printed in Venice, in 1725. Mathias Dogen called Military Archi-
tecture or Fortification and this is the title of his most remarkable manual
of 1648, taken for press in Amsterdam, by Louys Elzevier; in the end, the
same terms were used by Louis de Cormontaigne Military Architecture
or Art of Fortifying, in a book that became familiar with the presses in
The Hague, in 1741, the Architecture Militaire ou Art de Fortifier qui
enseigne d’une manière courte & facile la Construction.

em 1741, a Architecture Militaire ou Art de Fortifier qui enseigne d’une
manière courte & facile la Construction.
O nosso engenheiro-mor do Reino do tempo de D. João V, Manuel de
Azevedo Fortes, na linha da Adam Fritach – que tanto o influenciou
com L’Architecture Militaire ou la Fortification Nouvelle. Enrichie
de forteresses reguliers, irreguliers et de dehors, le tout a la pratique
moderne, de Paris e de 1640 – no tratado que formou as gerações se-
guintes de construtores portugueses de aquém e de além-mar, e todos
os seus discípulos contenporâneos, O Engenheiro Portuguez, impresso
em dois volumes, na oficina de Manuel Fernandes da Costa, nos anos
de 1728 e 1729, optou também por Fortificação, mas acrescentando-lhe
o designativo “Regular”, para a distinguir da dos tempos anteriores à
divulgação da tratadística. Seja qualquer a designação que entendamos
como a melhor, a mais adequada, facto é que esta disciplina está entre
a Arquitectura e a Engenharia, e nisso é claro Manuel de Azevedo For-
tes, ao designar como engenheiros os especialistas no planeamento das
fortificações, quer as defensivas quer as ofensivas.
Serve este intróito para recusar a designação de fortificação à Vauban,
muito comum, que se lê não só em roteiros turísticos, mas por vezes
até em bibliografia cujos autores deviam ser mais cuidadosos. Não é
inédito ver mesmo tal designação em construções muito anteriores ao
tempo em que viveu o erudito Sebastien Le Preste, o cantado marquês
de Vauban. Vem-nos agora dar força, e ainda por cima a propósito da
praça de Almeida, Luís Callabuig para quem apenas “… un análises li-
geramente riguroso puede descubrirnos como es inadecuada esa deno-
minación …” 1. Para nós, a forma mais correcta é também a designação
de Fortificação Abaluartada, já que o baluarte é o elemento essencial de
todas as gerações de fortificações, desde o início das formas adaptadas
à Pirobalística, até aos sistemas consagrados por Marc-René de Mon-
talembert.
Mas há outra questão pertinente: como se explica que seja tão reduzida
1 Luis Callabuig, “Glosario de fortificación abaluartada. Glosario de términos de fortificación en el
contexto de la fortaleza de Almeida”, Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almei-
da, Almeida, 2008, n.º 1, p. 99 e segs.
The Kingdom’s chief engineer during King João V’s reign, Manuel de
Azevedo Fortes, in line with Adam Fritach – who influenced him so
much with L’Architecture Militaire ou la Fortification Nouvelle. En-
richie de forteresses reguliers, irreguliers et de dehors, le tout a la pra-
tique moderne, Paris, 1640 – in the treaty forming the next generations
of Portuguese builders, here and beyond the sea, and of their contem-
porary disciples, O Engenheiro Portuguez, printed into two volumes, in
Manuel Fernandes da Costa’s workshop, in 1728 and 1729, also opted
for the term Fortification, but he added “Regular” to distinguish it from
the ones previous to the treaty’s promotion. Whatever designation is
perceived as better or more appropriate, the fact is that this discipline
lies between Architecture and Engineering, and Manuel de Azevedo
Fortes is quite clear when he calls “engineers” to the experts planning
fortifications, both defensive and offensive.
This foreword serves to refuse the designation of Vauban fortification,
very much common, that can be read not only in tourist guides, but even
sometimes in bibliography of less careful authors. It is not unprecedent-
ed to see that same designations in constructions much previous to the
time in which the remarkable Sebastien Le Preste lived, the acclaimed
Marquis de Vauban. Luís Callabuig now comes to breathe a new life
on this matter, further still on Almeida’s stronghold, “… un análises
ligeramente riguroso puede descubrirnos como es inadecuada esa de-
nominación …”1. For us, the most correct term is the name Bulwarked
Fortification, since the bulwark is an essential element to all genera-
tions of fortifications, since the beginning of adapted forms to powder
artillery to the systems consecrated by Marc-René of Montalembert.    ções, sem conhecimentos muito alargados no vasto âmbito das Mate-
But there is another pertinent issue: how does one explain that the ex-
pert bibliography is so reduced, not only in Portugal, but in most western
countries, not to mention its non-existence on other parts of the Globe?
The answer could probably be found, from the start, in some of the titles
of the highly popular treaties in 17th, 18th and 19th centuries. Let us
see. In 1680, Théodoric Luders published Traicté Mathematique con-
tenant les principales definitions, problemes et theoremes d’Euclides.
L’Arithmetique decimale. La Trignometrie. La Longimetrie. La Plas-
nimetrie. Et Stereometrie. La Fortification holandaise, françoise,
italienne et espagnole. La perspective militaire. Et la Geographie
Universelle; the works was given to press in Paris, in Quay des Au-
gustins’ typography. The already mentioned Guillaume Le Blond wrote
L’Arithmétique et la Geometrie de l’officier, in 1767, printed in Paris;
and our José Fernandes Pinto Alpoim, who built a career in Brazil, or-
dered the printing, in Madrid in 1748, of a work with an extremely
educative title: Exame de Bombeiros que compreende dez tratados: o
primeiro de Geometria, o segundo de huma nova Trignometria, o ter-
ceiro de Longemetria, o quarto de Altimetria, o quinto dos morteiros,
o sexto dos pedreiros, o sétimo dos obuz, o oitavo dos petardos, o nono
das baterias dos morteiros, com dous appendix. Four years earlier, in
his Exame de Artilheiros, of Lisbon, discussed subjects such as Arith-
metic, Geometry, Artillery and four appendixes.
We think that this is sufficient to prove that we cannot make serious
studies on Bulwarked or Modern, Regular or Military Engineering For-
1 Luis Callabuig, “Glosario de fortificación abaluartada. Glosario de términos de fortificación en el
contexto de la fortaleza de Almeida”, Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de
Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 99.
126
a bibliografia especializada, não só entre nós, mas também na generali-
dade dos países ocidentais, já para não falar na praticamente inexistente
nos outros pontos do Globo?
Julgamos que a resposta pode encontrar-se, desde logo, em alguns títulos
de tratados muito populares nos séculos XVII, XVIII e XIX. Vejamos.
Em 1680, Théodoric Luders publicou o Traicté Mathematique conte-
nant les principales definitions, problemes et theoremes d’Euclides.
L’Arithmetique decimale. La Trignometrie. La Longimetrie. La Plas-
nimetrie. Et Stereometrie. La Fortification holandaise, françoise, ita-
lienne et espagnole. La perspective militaire. Et la Geographie Univer-
selle; a obra foi dada à estampa em Paris, na tipografiia do Quay des
Augustins. O já citado Guillaume Le Blond escreveu L’Arithmétique
et la Geometrie de l’officier, em 1767, impresso em Paris; e o nosso
José Fernandes Pinto Alpoim, que também fez carreira no Brasil, deu
à estampa, em Madrid, em 1748, uma obra com o título absolutamente
elucidativo: Exame de Bombeiros que compreende dez tratados: o pri-
meiro de Geometria, o segundo de huma nova Trignometria, o terceiro
de Longemetria, o quarto de Altimetria, o quinto dos morteiros, o sexto
dos pedreiros, o sétimo dos obuz, o oitavo dos petardos, o nono das
baterias dos morteiros, com dous appendix. Já quatro anos antes, no
seu Exame de Artilheiros, de Lisboa, tinha como matérias a Aritmética,
a Geometria, a Artilharia e mais quatro apêndices.
Julgamos que isto é mais do que suficiente para provar que não é pos-
sível fazer estudos sérios sobre Fortificação Abaluartada, ou Moderna,
Regular ou Engenharia Militar, se preferirmos qualquer destas designa-
máticas, e algo que apenas foi aflorado, e mesmo assim indirectamente,
nos títulos evocados, que é a Balística.
Curiosamente, o nosso colega Fernando Cobos designa o período que
vai de 1640 até 1710 como o do Império das Matemáticas, “… tal a
importancia que adquiere las academias y escuelas de matemáticas,
especialmente las jesuíticas en España, Portugal o Flandes…” 2. A
evolução das armas de fogo foi constante, ao longo dos séculos, e pau-
latinamente foram-se tornando mais potentes e mais precisas, capazes
de causar danos maiores nas cortinas e nos baluartes, e também a dis-
tâncias cada vez maiores. A consulta dos manuais, se seguirmos uma
ordem cronológica, mostra tabelas que comprovam o que acabamos de
dizer, obrigando as técnicas de defesa estática a avançar a par e passo
com as técnicas e tácticas ofensivas. O alcance dos canhões, em meados
do século XVIII, pode ser compreendido com a leitura atenta do já cita-
do tratado Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim.
Sem desprimor para outro ramo desta área das Ciências do Património
e para os seus eruditos cultores, a Castelologia é incomparávelmente
mais simples, pois as construções das defesas medievais não obedeciam
aos mesmos preceitos das abaluartadas, posto que, ao longo dos sécu-
los, e dado o avanço do armamento, mesmo da Neurobalística, nunca
se atingiu a complexidade dos tempos da Pirobalística. Também o gosto
pela História Medieval, que esteve tão em voga a Europa durante o
século XIX e até no início do século XX, levou a que os castelos, com
tanto do seu pitoresco, fossem mais valorizados e alvo de uma aten-
ção que conduziu inclusivamente a profundos restauros, quando não
2 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”,
Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, n.º 1, p. 43
127
tification, if we prefer any given name, without deep knowledge on
the broad area of Mathematics and on something that was only briefly
mentioned, even so indirectly, on the titles which we mentioned that is
Ballistics.
Curiously, our colleague Fernando Cobos calls the period ranging from
1640 to 1710 as The Empire of Mathematics “… such is the importance
that the academies and schools of Mathematics acquire, particularly
the Jesuits in Spain, Portugal or Flanders…”2.  The evolution of fire
weapons was a constant throughout the centuries and slowly they be-
came more powerful and precise, capable of causing bigger damage
on curtains and bulwarks and to increasingly longer distances. The re-
search in manuals, if a chronological order is followed, shows tables
backing up what was just said, forcing static defence techniques to push
forward side by side with offensive tactics techniques. The range of
cannons, in the middle of the 18th century, can be better perceived with a
close reading of the mentioned Exame de Artilheiros by José Fernandes
Pinto Alpoim.  
Without any contempt to any other field of the area of Heritage Sci-
ences and for its educated mentors, the Study of Castles is much more
simple, without comparison, because medieval defence constructions
don’t obey the same principles as bulwarked, given that, throughout the
centuries and the advances in weapons, even in Torsion Artillery, never
reached the complexity of the powder artillery period. Also the taste
for Medieval History, which was so hip during the 19th century in Eu-
rope and even early 20th century, forced castles, with their picturesque
elements to be appreciated and the target of an attention that led inclu-
sively to deep restorations, even some reconstitutions, which, for the
most part, were completely fantasized. Let us consider what Viollet-le-
Duc did in France, among others, with the citadel of Carcassone, e pay
attention to the “re”construction of the Paço dos Duques de Bragança,
in Guimarães, a complete invention, or even Ernesto Korrodi’s projects
for the Castle of Leiria, which fortunately were not executed.
2 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”,
Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 43

mesmo reconstituições, a maioria das vezes completamente fantasistas.
Veja-se o que Viollet-le-Duc fez em França, entre outros casos com
a cidadela de Carcassone, e atente-se na “re”construção do Paço dos
Duques de Bragança, em Guimarães, uma total invenção, ou ainda nos
projectos de Ernesto Korrodi para o castelo de Leiria, que felizmente
não foram por diante.
A Fortificação Abaluartada, e particularmente a sua fase mais avançada,
que é a Fortificação Regular, exige uma atenção muito especial, e não
dispensa o conhecimento de todos os saberes que acima apontámos,
na esteira do que disse o engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim. As-
sim, houve um afastamento desta temática por parte dos profissionais
da História da Arte, que tendo ainda vastos campos por explorar, nun-
ca encararam este como uma prioridade, salvo, evidentemente, raras e
honrosas excepções, autores quase todos com formação militar, ou que
The Bulwarked Fortification, and particularly in its more advanced
stage, which is the Regular Fortification, calls for a very special at-
tention and does not go by without knowledge on the areas mentioned
above, according to what the engineer José Fernandes Pinto Alpoim.
Therefore, the professionals of History of Art began to pull away from
this matter, which because they have other fields to explore, never re-
garded this one as a priority, except, evidently, rare and honourable
exceptions, authors with military training and education or who were
somehow involved in the restoration of fortresses, whether on the Por-
tuguese current territory or on our over-seas conquests.
2 – Almeida within the context of the Portuguese Bulwarked For-
tification
The construction of Almeida’s fortress is integrated within the move-
ment of construction and reconstruction of strongholds, which was
started immediately after the revolt of 1st December 1640, when King
Filipe III was dethroned and a group of Portuguese noblemen gave
the Throne to the Duke of Braganza, who was later acclaimed as King
João IV. The following war, known as the Restoration War, lasted more
than enough time, until 1668, for the Portuguese defensive panorama
to be substantially changed, whether in the land frontier or the coastal
one�3. Already on 11th December a War Council was constituted with
the obvious function of preparing the Realm for the coming hostilities.
One of the priorities of the new king and his councillors was providing
Alentejo’s land frontier, nominating the following day Matias de Albu-
querque, who had won the Dutch on Brazil, as general-field-marshal of
the army which was there formed and, shipping the available material
to that place; he fortified Elvas, Campo Maior and Olivença, as first
measures4.
King João IV probably swiftly sent to France, the traditional enemy of
Spain, the ambassador Francisco de Melo, who obtained to support of
Cardinal Richelieu and, in September of 1641, the engineer Charles
Lassart would arrive in Lisbon, with Brezet’s armada, who came to
fill in the position of Kingdom’s Chief engineer and who immediately
started by inspecting Porto’s coastal area. He brought five young en-
gineers along, two of which were to serve in the constructions of the
frontier in Alentejo, and the other on the frontiers of Trás-os-Montes,
Beiras and Algarve.
Highly ambitious plans were sketched, so ambitious that even in big-
ger villages, and even in cities, they were never concluded and Beja,
Bragança, Chaves and Évora may be included on this list. Nevertheless,
the plan was accomplished in Elvas and today it is one of the cities with
more important heritage on this field. It is quite evident that the capi-
tal received a particular attention, that is, the entire Tagus’ bar and its
course to the side of the Terreiro do Paço. On 19th December, Martim
Afonso de Melo became in charge of repairing and increasing the forti-
3 Carlos Callixto, “A Fortificação Barroca. As fortificações marítimas do tempo da Restauração”,
História das Fortificações Portuguesas no Mundo, dir. Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 207; Amilcar
Morgado, “A Fortificação Barroca. A defesa da fronteira terrestre”, História das Fortificações Portu-
guesas no Mundo, dir. Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 221.
4 Rafael Moreira, “Do rigor teórico à urgência da prática: a Arquitectura Militar”, História da Arte em
Portugal. O Limiar do Barroco, dir. Carlos Moura, Lisboa, 1987, p. 67.
128
se viram envolvidos no restauro de fortalezas, quer no território actual
de Portugal, quer nos dos nossos antigos domínios de além-mar.
2. Almeida no contexto da Fortificação Abaluartada portuguesa
A construção da fortaleza de Almeida integra-se no movimento de edifi-
cação e reconstrução de praças-fortes, que se iniciou logo após a revolta
de 1 de Dezembro de 1640, quando D. Filipe III foi deposto e um gru-
po de nobres portugueses colocou no Trono o duque de Bragança, que
veio a ser aclamado como D. João IV. A guerra que se seguiu, conheci-
da como Guerra da Restauração, durou tempo mais do que suficiente,
de facto até 1668, para que o panorama defensivo português, quer na
fronteira terrestre quer na costa, mudasse substancialmente 3. Logo em
11 de Dezembro foi instituído o Conselho de Guerra, cuja função era,
obviamente, preparar o Reino para as hostilidades que se adivinhavam.
Uma das prioridades do novo monarca e dos seus conselheiros foi o
provimento da fronteira terrestre no Alentejo, nomeando, no dia seguin-
te, Matias de Albuquerque, que vencera os holandeses no Brasil, como
mestre-de-campo-geral do exército que aí se devia formar, e mandando
para lá todo o material que tinha disponível; fortificou Elvas, Campo
Maior e Olivença, como primeiras medidas 4.
D. João IV enviou prontamente a França, inimiga tradicional de Espa-
nha, o embaixador D. Francisco de Melo, que conseguiu o apoio do car-
deal Richelieu e, em Setembro de 1641, chegava a Lisboa, na armada
de Brezet, o engenheiro Charles Lassart, que veio desempenhar o cargo
de engenheiro-mor do Reino, e que começou logo por fazer uma visita
de inspecção à zona costeira do Porto. Trouxe cinco jovens engenheiros
seus contemporâneos, dois dos quais destinados a servirem nas constru-
ções da raia alentejana, e outros nas fronteiras de Trás-os-Montes, das
Beiras e do Algarve.
Foram traçados planos muito ambiciosos, tão ambiciosos que muitas
das vilas mais importantes, e até mesmo cidades, nunca foram conclu-
ídos, podendo incluir-se nesta longa listagem Beja, Bragança, Chaves
e Évora. No entanto, já Elvas foi por diante, constituindo hoje uma das fications in Cascais. One of the fortresses then amplified of São Julião
cidades com mais importante património neste campo. É evidente que da Barra, utterly important within the capital’s defence.
a capital mereceu uma atenção muito especial, o mesmo é dizer, toda The many others which were not far away from Lisbon could be high-
a barra do Tejo e o seu curso a juzante do Terreiro do Paço. Logo a 19 lighted; however, one will only mentioned the Peniche fortress, worked
de Dezembro já Martim Afonso de Melo era encarregado de reparar e on in 1641 by the engineers Simão Falónio and João Ballesteros, fol-
acrescentar as fortificações de Cascais. Uma das fortalezas que então lowed by Charles Lassart on the following year and being the works
foi mais ampliada foi a de São Julião da Barra, importantíssima para concluded in 1645. From all the great southern maritime defences, one
garantir a defesa da capital. might highlight Sagres, which only has the curtains and the bulwarks
Das muitas outras que não distavam muito de Lisboa que poderíamos facing north, which were needed to defend the promontory from the
citar salientamos apenas mais a fortaleza de Peniche, intervencionada land and a small one, Cacela’s fortress, in the Algarve, which suffered a
em 1641 pelos engenheiros Simão Falónio e João Ballesteros, estando big makeover around 1770.
aí no ano seguinte Charles Lassart, e concluindo-se as obras em 1645. The Alentejo was a territory where Bulwarked Fortifications had a huge
Das grandes defesas marítimas meridionais, podemos salientar as de development, because the terrain’s configuration enable Spanish attacks
Sagres, que tem apenas a cortina e os baluartes virados a norte, neces- more easily than through the North, whether through Minho and Trás-
os-Montes or the most part of Beiras.
3 Carlos Callixto, “A Fortificação Barroca. As fortificações marítimas do tempo da Restauração”,
História das Fortificações Portuguesas no Mundo, direcção de Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 207 e
Therefore, the great modernisation works in Juromenha can’t be a sur-
segs.; Amilcar Morgado, “A Fortificação Barroca. A defesa da fronteira terrestre”, História das Forti- prise, with a project drawn by Nicolau de Langres; that site was the true
ficações Portuguesas no Mundo, direcção de Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 221 e segs. key to Guadiana’s brooks, and mainly Estremoz, whose role as a central
4 Rafael Moreira, “Do rigor teórico à urgência da prática: a Arquitectura Militar”, História da Arte em
Portugal. O Limiar do Barroco, direcção de Carlos Moura, Lisboa, 1987, p. 67 e segs. stronghold of the entire Province cannot go unmentioned. The medieval
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sários para defender a parte do promontário do lado de terra, e outra
mais pequena, a de Cacela, no Algarve, que teve uma reforma grande
por volta de 1770.
O Alentejo foi um território onde a Fortificação Abaluartada teve um
enorme desenvolvimento, pois a configuração do terreno tornava mais
fácil o avanço espanhol por aí, do que pela zona norte, fosse pelo Minho
e Trás-os-Montes, fosse por grande parte das Beiras.
Não são de estranhar, pois, as grandes empreitadas de modernização
de Juromenha, com projecto desenhado por Nicolau de Langres, e que
era a verdadeira chave das ribeiras do Guadiana, e sobretudo Estremoz,
cujo papel como praça-forte central de toda a Província não pode pas-
sar em claro. À fortaleza medieval, que já era importante, e que tinha
uma área considerável, foram acrescentadas, no século XVII, baluartes
poligonais, fortíssimas cortinas, fossos, e outros dispositivos canónicos.
O projecto inicial foi de Cosmander, mas devido à sua morte, 1648, foi
concluído por Nicolau de Langres, mas não pode esquecer-se o trabalho
que aqui teve o engenheiro-mor do Reino, o matemático e tratadista
Luís Serrão Pimentel.
Voltando um pouco atrás, lembremos que um dos homens que teve
maior importância desse primeiro grupo foi Saint-Paul, que trabalharia
em Almeida, como veremos. Em 1643 chegou a Portugal Michel Les-
cole, e, no ano seguinte, foi a vez de Nicolau de Langres, que ficou entre
nós por quase vinte anos. Em 1648 veio Pierre de Sainte Colombe e, fi-
nalmente, só para citar os mais importantes, ainda em 1666, a dois anos
do fim da guerra, desembarcava em Lisboa Alain Manesson Mallet, que
era além do mais um tratadista e que, em 1671, publicaria em Paris um
livro onde foram reproduzidas as plantas de muitas das fortificações
que entretanto se edificaram em Portugal.
É claro que estes engenheiros vieram por dinheiro, e não por qualquer
ideal, e não será pois de estranhar que alguns se tenham passado para
o lado dos espanhóis, como Nicolau de Langres, Sainte Colombe e até
Cosmander, que acabaria por ser abatido em 1648, quando acompanha-
va o marquês de Leganes no ataque a Olivença, fortificada por Gillot,
que foi discípulo de Renée Descartes, mas cujo projecto ele mesmo
tinha desenhado, anos antes.
Almeida foi sempre, desde o período de afirmação da nossa Indepen-
dência, um ponto importante, pois ficava junto da fronteira, numa das
principais vias de penetração, para quem se deslocava de Leste para
Oeste, consolidada desde a Época romana. Durante o reinado de D. Ma-
nuel (e está abundantemente documentado e bem estudado), o castelo
foi ampliado e reforçado, como o provam os vestígios arqueológicos
que subsistem e também se pode constatar através dos desenhos e da
planta levantada, ainda antes de 1510, por Duarte Darmas, e que hoje se
guardam na Torre do Tombo. Era, então, uma das mais eficazes fortifi-
cações do reino, e manteve-se íntegra, mesmo depois da construção da
praça-forte abaluartada, no século XVII. Apenas desapareceu quando
uma bomba incendiária o fez explodir durante um dos asédios, dado
que tinha sido usado como depósito de pólvora e de munições.
A obra que agora nos interessa foi construída neste contexto, e o velho
castelo manuelino transformado em paiol, sendo feito um novo projec-
to, ambicioso e muito evoluído para o tempo, da autoria de Pierre Gilles
de Saint-Paul, um dos homens que, como vimos atrás, chegou logo na
primeira vaga, em 1641, com o consagrado Lassart. Esteve em Almeida
fortress, which already was very important and occupied a considerable
area, was given, during the 17th century, polygonal bulwarks, strong
curtains, ditches and other canonic devices. The initial project was by
Cosmander, but, upon his death, Nicolau de Langres completed the
work, but one mustn’t forget the work of the Kingdom’s Chief engineer,
the mathematician and writer Luís Serrão Pimentel.
Going a little further back, let us recall that one of the most important
men of the group was Saint-Paul, who apparently worked in Almeida,
as we will see. In 1643, Michel Lescole arrived in Portugal and, during
the following year, it was Nicolau de Langres turn, who remained in
Portugal for more than twenty years. In 1648, Pierre de Sainte Colombe
came, and finally, only to name the most important, still in 1666, two
years before the war comes to an end, Alain Manesson Mallet would
dock in Lisbon, who above all else was a writer of treaties and who, in
1671, would publish in Paris a book where some plants of the fortifica-
tions being built in Portugal were reproduced.
These engineers naturally came for the money, not for any ideal and it
is not uncommon that some went to work for the Spanish side, such as
Nicolau de Langres, Sainte Colombe and even Cosmander, who would
end up being killed in 1648, while accompanying marquis de Leganes
in the attack to Olivenza, fortified by Gillot, who was Renée Descartes’
disciple, but whose project he had drawn himself, years before.
Almeida always was, since the period during which our Independence
was affirmed, an important site, for it was located near the frontier, in
one of the main penetration routes, for those going from East to West,
consolidated since the Roman period. During King Manuel’s reign
(which is abundantly documented and well studies), the castle was ex-
tended and strengthened, as the archaeological evidences prove and that
can also be seen through the designs and by plan surveyed, even before
1510, by Duarte Dharma, that are kept in Torre do Tombo. This was,
at the time, one of the most effective fortifications of the kingdom and
was kept intact, even after the construction of the bulwarked stronghold
in the 17th century. It only disappeared when an arsonist bomb exploded
it during one of its assaults, given that it was used as a deposit for gun-
powder and ammunitions.
The work now under analysis was built within this context and the old
Manueline castle was transformed into a magazine, being that a new
project, ambitious and highly evolved for its time, was performed by
Pierre Gilles de Saint-Paul, who, as was already mentioned, arrived
during the first wave, in 1641, along with the famous Lassart. He was
in Almeida for fifteen years and left an impressive mark, in such a way
that all posterior works, and these weren’t only a few, had to succumb
to the initial project. We believe that the great doors were drawn by
Pierre Garsin, who had served in Brazil, in Pernambuco’s Port Author-
ity, based on Antoine de Ville prototypes. Nevertheless, the definitive
layout, which suffered the French Invasions in the beginning of the 19th
century, was only concluded during the 18th century, mainly after 1736,
when some big works of expansion and improvement were introduced,
a responsibility of the kingdom’s chief-engineer, Manuel de Azevedo
Fortes, and of Miguel Luís Jacob and Anastácio de Sousa Miranda. Af-
ter the reforms made by the latter, it became the Kingdom’s strongest
stronghold and, at some point, it served as a garrison for three thousand
soldiers.
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Retrato inserto no Tratado “O Engenheiro Português” – gravura de Rochefort, a partir de óleo
pintado por Quillard.
Portrait inserted in the Treaty “The Portuguese Engineer” – engraving by Rochefort, from an oil
painted by Quillard.
durante quinze anos, e deixou a sua marca impressiva, de modo a que
todas as obras posteriores, e foram muitas, tiveram que se sujeitar ao
projecto inicial. Julgamos que as grandes portas foram desenhadas por
Pierre Garsin, que tinha servido no Brasil, na Capitania de Pernambuco,
baseado em protótipos de Antoine de Ville. Porém, o traçado definitivo,
o que sofreu as Invasões Francesas, no início do século XIX, só foi con-
cluído durante o século XVIII, sobretudo após o ano de 1736, quando
foram introduzidas grandes obras de acrescentamento e melhoramento,
que estiveram a cargo do engenheiro-mor do Reino, Manuel de Azevedo
Fortes, de Miguel Luís Jacob e de Anastácio de Sousa Miranda. Após as
reformas introduzidas por este último, tornou-se a praça mais forte do
Reino, e chegou a ter uma guarnição de três milhares de soldados.
Uma das mais importantes personalidades no panorama da nossa Forti-
ficação Abaluartada, não só durante a primeira metade do século XVIII,
quando viveu, mas de sempre, e que teve um contributo decisivo na
modernização de Almeida, foi Manuel de Azevedo Fortes, que ocupou
por largos anos os cargos de engenheiro-mor do Reino e de professor da
Aula de Fortificação, e a quem antes já fizemos alusão. Relembremos
que ele teve uma relevante intervenção nas principais obras públicas
executadas por iniciativa da Coroa ou dos seus representantes nas vá-
rias partes do Mundo onde chegava a soberania portuguesa. Se alguma
dúvida houvesse a este respeito, bastaria atentar no texto do decreto
régio de 10 de Novembro de 1734, pelo quel foi isentado de assinar
pelo próprio punho e permitia-se-lhe o uso de chancela, devido “... ao
grande numero de assignaturas por ser mandado enformar por todos
os Tribunaes sobre tudo o que se offerecia pertencente as fortificações
do Reino e conquistas....”. É patente o seu domínio sobre toda esta ac-
tividade, o controlo apertado que exercia sobre as obras de fortificação
joaninas. A doença debilitara-o a tal ponto que os auxiliares tinham que
lhe pegar na mão, para que ele pudesse assinar ou rubricar a documen- One of the most important personalities within out Bulwarked Fortifi-
tação, como se explicita no mesmo diploma legal, onde igualmente é cation, not only during the first half of the 18th century, when he lived,
confirmada a sua função na direcção da Academia Militar. Faleceu a 28 but forever, and who made a decisive contribution in the modernization
de Março de 1749, com a idade de oitenta e nove anos. of Almeida, was Manuel de Azevedo Fortes, who, for some years, held
Sabe-se que nasceu em Lisboa, em 1660, indo dez anos depois para the title of Kingdom’s chief-engineer and teacher of the Fortification
Madrid, para estudar para o Colégio Imperial. Mais tarde frequentou a Class, which was already mentioned. Let us recall that he had a relevant
Universidade de Alcalá, passando a França, onde ingressou no Colégio intervention in the main public works performed by the Crown or its
de Plessis. Depois fez o caminho de Itália, estabelecendo-se em Siena, representatives across the different parts of the world under Portuguese
onde concorreu à docência de uma cadeira de Filosofia, alcançando o sovereignty. If ever one was to doubt of such fact, one would only need
seu desiderato. Foi após este longo périplo, durante o qual contactou to pay attention to the text of the royal decree of 10th November 1734,
com mestres eminentes, frequentou as melhores bibliotecas e viu o que which exempted him of signing by his own hand and which allowed
de mais moderno se fazia, na Europa, no campo do Urbanismo, da En- him to use a stamp, consequence “… of the great number of signa-
genharia e da Arquitectura, que regressou a Portugal tures because the Courts have to inform him about all matters related
Foi professor e formou gerações de engenheiros, além de se dedicar à to fortifications on the kingdom and provinces…”. It is quite clear his
tradução, vertendo para Português o tratado de Antoine de Ville, e ele dominium over this activity and also the tight control he exerted over
mesmo escreveu várias obras com sentido eminentemente prático. Em the fortification works performed during King João’s reign. He was ill
1722, publicou também O Tratado do Modo Mais fácil e exacto de fa- that his deputies had to hold his hand so that he could sign or mark
zer as cartas geográficas, que teria grande importância depois, quando the documentation, as the same legal document makes explicit, which
da expedição de 1750, para a demarcação dos limites do Brasil. also confirms his function in the direction of the Military Academy. He
Há outra figura incontornável na história da praça-forte de Almeida, o passed away on 28th March 1749, with eighty-nine years of age.
conde-reinante de Shaumberg-Lippe,  Friedrich Wilhelm Ernst, nascido It is known that he was born in Lisbon, in 1660, and ten years later he
em Londres em 1724, filho segundo do príncipe reinante daquele esta- went to Madrid, to study in the Colégio Imperial. Later, he attended to
do alemão, que herdaria o título por morte do irmão mais velho, e que University of Alcalá, going to France, where he enrolled on Plessis’
o marquês de Pombal contratou, em 1762, para vir reorganizar o nosso College. After that, he went to Italy, where he fixated in Siena, where
131
exército, dadas as perspectivas negras de uma derrota face à Espanha.
Foi ele que socorreu Almeida, e que acabou por descercá-la, fazendo
desta fortaleza o centro das operações contra os nossos vizinhos, a par
de Elvas, onde, como aqui, introduziu importantes melhorias. Ainda
hoje são visíveis os grandes quartéis da guarda, com quase 120 metros
de comprimento, uma das obras que se lhe deve.
Outras obras decorreram após as Invasões Francesas. Lembremos que
em finais de 1807, por ordem do Governo de Lisboa, as portas foram
abertas às tropas napoleónicas comandadas pelo general Jean-Angoche
Junot, mas após a sua retirada atribulada para França, os portugueses
readquiriram o seu comando. No entanto, durante a Terceira Invasão,
ocorrida em Agosto de 1810 e comandada pelo general André Massena,
obrigaram o comandante à capitulação, depois de abertas várias brechas
nas muralhas e sobretudo após a explosão do castelo manuelino, onde
estava guardado o essencial da provisão de pólvora. Os estragos obri-
garam a Coroa a fazer aqui muitas obras de reparação.
A posse de Almeida foi outra vez decidida de forma violenta, entre 1832
e 1834, quando se digladiaram aqui os partidários de D. Miguel I e de
D. Pedro IV, que haveria de virar costas à sua Pátria e ir viver dissoluta-
mente para os Trópicos, até que a morte precoce o levou.
 Regressando à análise da fortaleza de Almeida, anote-se que ela tem
não só uma área que a coloca entre as mais vastas do Mundo, como
possui uma complexidade de estruturas defensivas que a transformam
num verdadeiro catálogo de soluções ideais, consoante o tempo em que
foram concebidas e projectadas. Acresce que, apesar dos ataques que
sofreu, nomeadamente no início do século XIX, se encontra em exce-
lente estado de conservação, estando a decorrer trabalhos de recupera-
ção que temos que considerar exemplares, quer pela metodologia quer
pelo envolvimento de um conjunto de entidades com responsabilidades
políticas na salvaguarda do nosso Património e da nossa Memória.
O que se vê na fortaleza desta vila raiana pode ser considerado como
o produto de uma arquitectura militar eclética, como lhe chamou Fer-
nando Cobos, que incorpora experiências de variados cenários bélicos,
particularmente da guerra na Europa 5, mas não é menos verdade que
há também que ter em conta a vastíssima experiência dos fortificadores
portugueses, desde o século XV, em África, na América do Sul e na
Ásia 6. A Historiografia Internacional tem tido uma enorme tendência
para valorizar as chamadas “escolas” italiana, francesa e holandesa,
mas a verdade é que, já no século de Quinhentos, a construção de for-
talezas regulares era uma ciência globalizada, pelo menos no âmbito
europeu e das áreas geográficas de sua directa influência. Não só os
tratados eram muitos e comuns nas mãos dos fortificadores, impressos
em distintos pontos da Europa, como era frequentíssima a participação
de engenheiros de uma nacionalidade noutros países ou nos seus terri-
tórios extra-europeus, homens que muitas vezes voltavam à sua pátria,
então enriquecidos com outras experiências, e sobretudo aptos para re-
solverem problemas que só a prática os fazia enfrentar, bem diferentes
dos que aprenderam nos compêndios ou nas Aulas e Academias.
A praça-forte de Almeida constituiu um marco na evolução da Fortifica-
ção Abaluartada, e temos que enquadrá-la devidamente, tendo em conta
5 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”,
Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, n.º 1, p. 39 e segs.
6 Pedro Dias, “De Mazagão a Almeida: A Fortificação Regular no Reino e nos domínios portugueses de além-
mar”, Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nº 1, p. 115 e segs.
the applied to teach a Philosophy subject, thus achieving his desire. Af-
ter this long journey, during which he contacted with imminent masters,
he attended the best libraries and witnessed the most modern things
being made in Europe, in what concerns Urbanism, Engineering and
Architecture, he returned to Portugal.
He was a teacher and he trained generations of engineers, apart from
translating some works, reproducing in Portuguese Antoine de Ville’s
treaty and writing several works, offering imminently practical insight.
In 1722, he also published O Tratado do Modo Mais fácil e exacto de
fazer as cartas geográficas that would come to be of great importance
during the 1750 expedition for the limiting of Brazil’s frontier.
There is another insurmountable figure in the history of Almeida’s strong-
hold, Shaumberg-Lippe’s reigning Count, Friedrich Wilhelm Ernst, born
in London in 1724, son of the second reigning prince of that German state,
who would inherit the title after his older brother passed away and who
was hired by Marquis of Pombal in 1762 to reorganise the troops, given
the dark perspectives of a defeat against Spain. He was the one helping
Almeida and the one eventually remove the fence around it, transforming
this fortress into the centre of the operations against our neighbours, side
by side with Elvas where, as in here, he introduced important improve-
ments. We can still today see the great Guard’s barracks, almost 120 me-
tres long, one of the works he performed.
Other works were performed after the French Invasions. Let us remember
that, at the end of 1807, by order of the Government in Lisbon, the doors
were opened to the Napoleonic troops under General Jean-Angoche Ju-
not’s command, but after their troubled retreat to France, the Portuguese
acquired once again its command. Nevertheless, during the Third Inva-
sion, which took place on August 1810 and under General Andre Mas-
sena’s command, the commander was forced to capitulate, after several
breaches were opened on the walls and mainly after the explosion on the
Manueline castle, where the essential of the gunpowder provisions were
kept. The damages forced the Crown to perform many repair works.
Almeida’s possession was once again violently decided, between 1832
and 1834, when the partisans from Prince Miguel I and Prince Pedro
IV, who would turn his back to his Homeland and live sinfully for the
Tropics, until death took at a young age.
Returning to the analysis of Almeida’s fortress, let us note that it not
only has an area placing it among the largest of the world, it also has Planta de Terreno adejacente à Praça de Almeida que em Portugal e nos seus domínios de além-mar, a partir do século century, in Africa, South America and Asia6. The International Histo-
15-1-2-2 (DIE/GEAEM)
a complexity of defensive structures which transforms it into a real XV, foram construídos centenas de fortalezas, fortes, fortins ou grandes riography has had an enormous tendency of overrating the so-called
catalogue of ideal solutions, according to the time in which they were construções defensivas, que consumiram um tal volume de cabedais ao Italian, French and Dutch schools, but it is true that, already in the 16th
conceived and designed. One might also add that, in spite of the attacks Erário Régio, que hoje nos parece quase impossível que tenha efecti- century, the construction of regular fortresses was a globalised science,
it suffered, particularly in the beginning of the 19th century, it is in a vamente acontecido. Temos a felicidade da generalidade destas obras at least within Europe and the geographical areas under its influences.
remarkable state of preservation and that some recovery works are be- estarem documentadas, e muitas também ainda existirem, posto que a Not only the treaties were many and common by the hand of forti-
ing performed, which must be considered a true example, both by the maioria tenha desaparecido, nomeadamente por causa da sua conquista fiers, printed all across Europe; the participation of foreign engineers
methodology being used and by the involvement of a group of political por potências europeias, como a Inglaterra, a Holanda e até a Espanha, in other countries or in their extra-European territories was also highly
responsible entities in safekeeping our Heritage and our Memory. em épocas em que eram nossas inimigas, e de outros povos orientais, common. These were men that many times returned to their homeland,
What is seen in the fortress of this frontier village may be considered a sobretudo no Golfo Pérsico e na Índia. enriched with other experiences and mainly fitted to solve problems
product of an eclectic military architecture, as Fernando Cobos called Desde o Magreb até ao Mato Grosso do Sul, a Ocidente, e no lado oposto that could only be learned through practice, very different from those
it, which incorporates experiences from different war scenarios, partic- do Mundo, até Timor e Solor, os portuguesese ergueram mais de um milhar learned in Companions, Classes or Academies.
ularly of the war in Europe5, but it is not less true that we must also keep de fortalezas abaluartadas, umas canónicas e outras não, distintas nas suas Almeida’s stronghold is a mark on the evolution of the Bulwarked
in mind the enormous experience of Portuguese fortifiers, since the 15th dimensões e na qualidade do material empregue, devido sobretudo aos ter- Fortifications and we have to frame it properly, bearing in mind that
renos em que foram implantadas, pois a adaptação aos sítios era fundamen-
5 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”, 6 Pedro Dias, “De Mazagão a Almeida: A Fortificação Regular no Reino e nos domínios portugueses de além-
Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 39. tal e mais importante do que a fidelidade aos modelos dos tratados. -mar”, Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 115.
132 133
Lembremos que mesmo a muitos milhares de quilómetros de Lisboa,
a Coroa controlou a edificação de todas estas obras, através dos gover-
nadores, ou dos vice-reis, no caso do Estado Português da Índia, que
tinham autoridade sobre as terras que íam de Moçambique até às Molu-
cas, e no caso do Brasil, quando os capitães-gerais ou os governadores-
gerais foram substituidos também por vice-reis, depois da elevação do
território de Vera Cruz à categoria de Vice-Reino.
A Fortificação foi para os os monarcas portugueses e para o Conselho
Ultramarino, e depois para a a Secretaria de Estado, uma prioridade,
mas a dimensão e dispersão do território, alguma falta de recursos e o
esgotamento do Erário Régio, além de outros factos políticos internos,
impediram que se construissem de imediato todas as grandes fortalezas
ou sistemas complexos que se pretendia ou que chegaram mesmo a
ser projectados, sendo então o restauro das antigas fortificações, muitas
vezes conquitadas aos inimigos, uma solução frequente.
Do ponto de vista técnico, o período de maior evolução no campo da
Fortificação Abaluartada, no qual se integra Almeida e durante o qual
os engenheiros mais se especializaram, afastando da área do projecto
os mestres-de-obras que durante tanto tempo lhes fizeram concorrência,
foi iniciado em 1541, com a construção da praça-forte ou cidadela de
Mazagão, em torno da qual nasceu e cresceu a moderna e próspera cida-
de marroquina de El-Jadida. O projecto deveu-se ao italiano Benedetto
de Ravena, e a direcção das obras ao biscaínho João de Castilho.
Uma das páginas mais brilhantes da afirmação da supremacia da Forti-
ficação Abaluartada, no espaço sob soberania portuguesa, ocorreu em
Ormuz  e  no Barhein, pela mão de Inofre de Carvalho, enviado para
a Índia, em 1551, com o cargo de  mestre-real, como atesta o cronista
Diogo do Couto. Além de ter traçado estas duas fantásticas fortalezas,
que eram as mais avançadas do seu tempo, e mesmo considerando as
que se faziam na Europa, também auxiliou D. Antão de Noronha na
expedição de 1559, construindo máquinas de guerra. O que fez no Gol-
fo Pérsico, particularmente na gigantesca praça-forte de Ormuz, entre
1558 e 1562, marca uma viragem acentuada na forma de projectar as
defesas da Pirobalística, como aliás bem provou João Campos, na sua
magistral e recente dissertação de Doutoramento.
No Reino, destacam-se muito claramente de entre todas as fortalezas
abaluartadas as de Valença, Estremoz e Elvas; e no Brasil as de Santa
Cruz de Itamaracá, com projecto de António Correia Pinto, do Príncipe
da Beira, com projecto de Sambucheti, e de São José de Macapá, traça-
da por Galuzzi 7. A estas podem acrescentar-se outras situadas noutros
Continentes, nomeadamente em África, como as fortalezas de São Mi-
guel de Luanda, de São José de Bissau e de São Sebastião de São Tomé,
e na Índia e Macau, com destaque para a regularidade das fortalezas da
Aguada, na foz do Zuari, a escassos quilómetros de Goa, e de Damão
Grande, ambas com traça de Giovanni Battista Cairato 8, e da fortaleza
do Monte de Macau, projectada por Inácio Moreira ou por Jerónimo
Rho e Francisco Lopes Carrasco 9. Foi também neste tempo que a Co-
roa criou Aulas de Fortificação em cidades importantes de além-mar;
várias no Brasil, a mais importante das quais em Salvador da Baía, e
também em São Tomé e Príncipe e na Índia.
7 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Brasil. Urbanização e Fortificação, Lisboa, 2008, p. 71 e segs.
8 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Índia. Urbanização e Fortificação, Lisboa, 2009, p. 35 e segs.
9 Pedro Dias, A Urbanização e Arquitectura dos Portugueses em Macau. 1557-1911, Lisboa, 2005, p. 98.
on Portugal and on its overseas territories, from the 15th century on,
hundreds of fortresses, forts, fortalices or great defensive constructions
were built, which consumed a great amount of money from the Royal
Treasure and it seems almost impossible that it actually happened. We
are fortunate enough to have documents on the majority of these works
and many still exist today, although the majority went missing, particu-
larly for being conquest by European potencies, such as England, Hol-
land and even Spain, during periods when they were our enemies and
other Eastern peoples, mainly Persian Gulf and India.
From Maghreb to Mato Grosso do Sul, to the west, and on the opposite
side of World, to Timor and Solor, the Portuguese built over a thousand
bulwarked fortress, some canonic, other not so much, distinct in their
dimensions and in the quality of the material used, mostly due to terrain
characteristics, since the adaptation to sites is fundamental and more
important that the loyalty to the models of the treaties. Let us remember
that even thousands miles away from Lisbon, the Crown controlled the
building of all these works, through governors, or viceroys, like the
case of the Indian Portuguese State, who had authority over the lands
ranging from Mozambique to the Maluku Islands, and, in Brazil, when
the general-captains were also replaced by viceroys, after the territory
of Vera Cruz was elevated to the category of Vice-Kingdom.
The Fortification was a priority for Portuguese monarchs and for the Over-
seas Council, and later for the Secretariat of State, but the dimension and
dispersion of the territory, lack of resources and the depletion of the Royal
Treasure, apart from other internal political facts, stopped the immediate
construction of all great fortresses or complex systems which were intend-
ed or which were even projected, being that the restoration of ancient forti-
fications, usually conquered to the enemy, a frequent solution.
From a technical point of view, the period of greatest evolution with-
in the Bulwarked Fortification field, of which Almeida is a part and
during which the engineering became expert, pulling away from the
project area of foremen, their competitors for a long time, was initiated
in 1541, with the construction of the stronghold or citadel of El Jadida,
around which the modern and prosperous city was born and brewed.
The project was by the Italian Benedetto de Ravena and the Biscayan
João de Castilho was in charge of the works’ supervision.
One of the most brilliant pages of the affirmation of supremacy in Bul-
warked Fortification, within the space under Portuguese sovereignty,
occurred in Ormus and in Bahrain, by Inofre de Carvalho, sent to India,
in 1551, as a Royal Foreman, as the chronicler Diogo do Couto at-
tests. Apart from drawing these two fantastic fortresses, which were
ahead of their time, even considering those being built in Europe, he
also helped D. Antão de Noronha in the 1559 expedition, building war
machines. What he performed on the Persian Gulf, particularly the gi-
gantic stronghold in Ormus, was the turning point between the ways to
project the defence of powder artillery, as João Campos well proved in
his magnificent and recent PhD thesis.
Within the kingdom, among all the bulwarked fortresses, one can clear-
ly highlight the ones from Valença, Estremoz and Elvas; and, in Brazil,
the one from Santa Cruz de Itamaracá, with a project by António Cor- ROSCIO, Fernando João
reia Pinto, the one from Príncipe da Beira, project by Sambucheti, and Planta de Almeida / Por Francisco João Roscio,
the one from São José de Macapá, designed by Galuzzi7. One might Ajud.e Engr.º. - Escala [não determinada]. – [1755
– 1762]. - 1 documento : ms., color. ; 55 x 44 cm.
7 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Brasil. Urbanização e Fortificação, Lisboa, 2008, p. 71. 542-1-2-2 (DIE/GEAEM)
134 135
A estrutura da praça de Almeida é, entre as portuguesas, das mais com-
plexas de quantas chegaram até aos nossos dias, só tendo comparação
com Elvas e Valença. Na verdade, salvo raras excepções, possui todos
os elementos que eram típicos desta fase evolutiva.
Normalmente as fortificações abaluartadas regulares são compostas es-
sencialmente pelo miolo ou núcleo, o polígono, que pode ser regular ou
irregular, e que deve cercar toda a praça, onde nalguns casos em que a
dimensão o permitiu se desenvolveram povoações e não só aquartela-
mentos. Em algumas destas grandes fortalezas, no entanto, nunca se
previu para o seu interior mais do que aquartelamentos, como as legen-
das de projectos que são conhecidos, e feitos no momento das obras ou
mesmo alguns levantamentos posteriores comprovam. Mas nalgumas
outras que são exemplos de purismo, com Almeida à cabeça, e onde
podemos incluir outras, como Elvas e Valença, a população civil tinha
lugar dentro da praça. Na Índia, em fortificações igualmente canóni-
cas, também se verificou este fenómeno, como aconteceu em Damão.
As outras praças cujas cortinas e baluartes englobavam povoações, ci-
dades ou vilas, nunca foram perfeitamente regulares, adaptando-se às
pré-existências e, por isso, não se podendo desenvolver como os enge-
nheiros desejariam. Goa, Macau, Cochim, Moçambique, Luanda, Rio
de Janeiro, Recife e Salvador da Baía tiveram fortificações regulares,
mas ou eram apenas cidadelas ou fortes independentes, posto que con-
catenados uns com os outros, e eventualmente com muralhas de tipo
tradicional ou até acidentes de terreno, lagos ou linhas de água.
De um ponto de vista teórico, os engenheiros nacionais, e podemos por
começar por referir as opiniões do engenheiro-mor seiscentista Luís
Serrão Pimentel, previram a construção ou manutenção de núcleos ur-
banos dentro das praças, mas sempre condicionados ao funcionalismo
castrense. Mais ainda, este tratadista explicitou claramente que em lo-
cais onde já existia uma povoação, uma nova fortaleza não poderia ter a
regularidade e a racionalidade de outra que fosse feita num local com-
pletamente desimpedido.
Voltando ao sistema que agora evocamos, podemos constatar que nos
ângulos as fortalezas deviam possuir baluartes, e a cercar tudo um fosso
add others located at other continents, particularly in Africa, such as
the fortresses of São Miguel de Luanda, of São José de Bissau and
of São Sebastião de São Tomé; in India and Macau, with an empha-
sis for the regularity of the fortresses of Aguada, in the mouth of river
Zuari, only a few kilometers from Goa, and of Motidaman, both with a
project by Giovanni Battista Cairato8, and of the fortress of Monte de
Macau, designed by Inácio Moreira or by Jerónimo Rho and Francisco
Lopes Carrasco�9. During this period, the Crown created Classes on
Fortification in some important cities overseas; several in Brazil, the
most important of which in Salvador da Baía, and also in São Tomé and
Príncipe and in India.
The structure of Almeida’s stronghold is, among the Portuguese struc-
tures, one of the most complex fortifications that survived to our days,
only being comparable with Elvas and Valença. In truth, except a few
exceptions, it has all the typical elements of this evolutionary phase.
Normally, regular bulwarked fortifications are essentially composed by
the core or nucleus, the polygon, which can be regular or irregular, and
that must circle the entire square, where, in some cases and whenever
the dimensions were convenient, some villages, and not only canton-
ments, were developed. In some of these great fortresses, nevertheless,
their interior was never projected to be used for anything other than
cantonments, as the legends of known projects prove, and that were
performed during the works or even during some later surveys. But
in other, examples of purism, with Almeida topping the list and where
other might also be included, such Elvas and Valença, the civilian
population occupied a place inside the stronghold. In India, in similar
canonic fortifications, this phenomenon could also be observed, as in
Daman. Other strongholds with curtains and bulwarks circling settle-
ments, cities or villages, were never perfectly regular, adapting to the
pre-existences, and, therefore, failing to develop according to the engi-
neers’ plan. Goa, Macau, Kochi, Mozambique, Luanda, Rio de Janeiro,
Recife, and Salvador da Baía featured regular fortifications, but they
8 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Índia. Urbanização e Fortificação, Lisboa, 2009, p. 35.
9 Pedro Dias, A Urbanização e Arquitectura dos Portugueses em Macau. 1557-1911, Lisboa, 2005, p. 98.
136
e um caminho coberto na contra-escarpa dele. Como complementos,
podiam ser feitas obras exteriores, que tiveram desenvolvimentos vá-
rios, consoante as situações: cada caso era um caso. Um dos elementos
essenciais era o conjunto das cortinas, ou seja, a parte recta que fica
entre dois flancos de um baluarte, e que com eles constituia unidade
geratriz de toda a fortaleza. A cortina, como bem sabemos, é composta
pelo reparo, um maciço de terra erguido com uma altura conveniente, o
parapeito, com merlões e as canhoneiras, a banqueta, a escarpa interior,
a escarpa exterior com o respectivo cordão que a delimita e une ao refe-
rido parapeito. Normalmente, acima do cordão e abaixo das canhonei-
ras, fazia-se o caminho das rondas, com parapeito e ligado nos ângulos
dos baluartes a guaritas.
O baluarte é a chave de todo este conjunto. É constituido por faces, que
variam na forma e dimensões relativas de autor para autor, e que foram
tema dos mais acesos debates da tratadística dos séculos XVII e XVIII.
Os flancos tinham por missão defender as cortinas, as faces dos baluar-
tes opostos e o fosso. A sua orientação variou. O flanco perpendicular
à cortina, por exemplo, começou a ser muito usual, sendo comuns nas
obras de Serrão Pimentel e Bar-le-Duc. No entanto, parece-nos que sen-
do oblíquo dava maior defesa. No tratado do conde Pagan foi desenha-
do perpendicularmente à linha de defesa que vinha do baluarte oposto,
tendo Sebastien Le Preste, mais conhecido como marquês de Vauban,
dado um ângulo de 100º em relação à cortina, forma que se popularizou
e teve acolhimento generalizado em toda a Fortificação da Europa e dos
domínios ultramarinos dos países europeus.
Também o “ângulo flanqueado” variou e foi alvo de discussão, sobre-
tudo quando tinha de se projectar uma fortificação irregular, dado que
cada ângulo interno teria forçosamente uma abertura diferente.
Outros elementos em evolução foram a “linha rasante” e a “linha fi-
xante”, pois era necessário reservar nas cortinas um espaço que se des-
tinava a defender o “flanco segundo”. Cada face tinha de ser pensada
independentemente das restantes. Esteve também em uso o orelhão, que
até vinha já do século XVI, recorrentemente. Assim, o flanco do baluar-
te era construído de modo a formar o que se chama “flanco retirado”, e
137
were either simple citadels or independent forts, since they were inter-
twined with each other and eventually with traditional walls or even
with terrain incidents, lakes or water lines.
From a theoretical point of view, the national engineers, and we might
start by referring the opinions of the 17th-century Chief Engineer Luís
Serrão Pimentel, which foresee the construction or maintenance of ur-
ban nuclei within the strongholds, although always conditioned to mar-
tial functions. Furthermore, this author clearly explained that in sites
already featuring a settlement, a new fortress could not have the regu-
larity and rationality of another that built in a completely vacant place.
Going once again back to the system now being evoked, we may see
that, at their angles, the fortress must feature bulwarks and circle eve-
rything with a ditch and covered pathways on its counterscarp. As a
complement, some external works could be performed, which had sev-
eral developments, according to situations: every case was a particular
case. One essential element was the curtains’ set, meaning, the straight
part that lies between two flanks of a bulwark, which, with them, consti-
tuted the fortress’ line unit. The curtain, as we well know, is composed
of the rampart, an embankment of earth raised to a convenient height,
the parapet, with merlons and gun platforms, the banquette, the interior
scarp, the external scarp with its line which delimits it and unites it with
the parapet. Normally, above the line and below the gun platforms, the
round path was built, featuring a parapet and connected at the bulwarks’
angles to bartizans.
The bulwark is the key to the all set. It is made up of faces, which vary
in shape and dimensions, according to their authors and which were the
object of lively debates in the 17th and 18th century treaties. The flanks
had the mission to defend the curtains, the opposite bulwarks’ faces
and the ditch. Their orientation changed. The perpendicular flank to
the curtain, for instance, started to be very usual, very common in the
works by Serrão Pimentel and Bar-le-Duc. Nevertheless, it seems that
the oblique type provided a bigger defense. In Count Pagan’s treaty, it
was drawn perpendicularly to the defense line originating in the op-
posite bulwark, being that Sebastien Le Preste, commonly known as
a parte saliente era arredondada, donde lhe adveio o nome. Este flanco
devia acolher uma bateria com o “canhão traditore”, que deveria atingir
o inimigo no momento em que este eventualmente atravessasse o fosso.
Se é verdade que no Reino são raros, são frequentes em todo o espaço
ultramarino, logo a começar em Ceuta, cujas reformas foram levadas a
cabo também em 1541, pelo italiano Benedetto de Ravena, que estava
então a trabalhar para o imperador Carlos V, em Gibraltar, logo do outro
lado do Estreito homónimo.
Não encontramos em Almeida qualquer baluarte com orelhões, como já
se tinham feito em 1541 em Ceuta e Mazagão, orelhões que tinham por
finalidade esconder os flancos e proteger as suas baterias. No entanto,
os flancos de todos eles são suficientemente grandes para poderem ter
um número muito elevado de canhões
Aos baluartes eram dados nomes, sobretudo por questões funcionais,
pois era necessário designá-los quer em situação de quietude quer em
momento de guerra, e sobretudo nestas ocasiões era conveniente que
não houvesse confusões, quando se faziam deslocar tropas ou arma-
mento. Assim, os comandantes ou outra entidade baptizavam-nos com
designações que fossem facilmente reconhecíveis, a maioria das vezes
com nomes de santos, não raramente por haver por perto alguma igreja
ou capela da mesma invocação. Os baluartes em Almeida têm os se-
guintes nomes: Santo António, junto do revelim homónimo e onde fica
a porta com a mesma invocação, e depois os de São Pedro, da Cruz ou
de São Francisco (com nova entrada), de São João de Deus, de Santa
Bárbara e finalmente do Trem ou de Nossa Senhora de Brotas.
Uma das partes mais importantes das fortificações abaluartadas seis-
centistas e setecentistas são as obras exteriores. Destinavam-se a tornar
mais difícil o acesso à praça, a partir do interior da qual tudo o que dizia
respeito à defesa tinha que ser coordenado. A mais relevante das peças
que se integram nas ditas obras exteriores, já em uso na nossa arquitec-
tura militar em meados de Quinhentos, como se comprova através do
que foi construído em Mazagão, era o revelim, que servia para cobrir
as portas e cortinas, e que era construído no fosso, em frente delas,
possuindo contraguardas ou conservas; é uma peça arquitectónica com-
posto por faces, flancos e gola. Almeida, como praça canónica, possui
revelins de grandes dimensões e poder defensivo, posto que nem todos
exactamente com o mesmo desenho.
Uma obra parecida com o revelim é a meia-lua, que servia para cobrir os
baluartes e podia ser mais extensa, ganhando nesse caso a denominação
de contra-guarda. Um dos mais notáveis dos que ainda restam e que era
também um dos mais poderosos, situa-se na Amazónia, em São José de
Macapá. Também os revelins de Almeida, como os das outras praças,
à semelhança do que acontecia com os baluartes, tinham designações,
dadas também segundo o mesmo tipo de critérios. Aqui existem os de
Santo António, como dissemos, onde fica a porta homónima, e que é o
de maiores dimensões, o da Brecha, o da Cruz, onde se abre a porta com
o mesmo nome, dos Amores, o revelim Doble ou reducto, exactamente
por ser composto por um reduto interior e por uma contraguarda de
protecção, e finalmente o revelim do Paiol.
Uma obra de engenharia que era destinada a ocupar pontos salientes,
a tenalha simples, compõe-se de dois ramais e dois ângulos salientes.
Quando os ramais estreitam para o centro da praça dá-se-lhes o nome
de “cauda de andorinha”. Já a tenalha composta é uma variante também
Marquis de Vauban granted it with, granted it with an angle of 100º in
relation to the curtain, a shape that become popular and that was wel-
comed in every Fortification in Europe and in the overseas domains of
European countries.
The “flanked angle” also varied and was an object of discussion, mainly
when an irregular fortification, given that every internal angle would
mandatorily have a different opening.
Other elements in evolution include the “grazing line” and the “fixat-
ing line”, because the curtains needed to have a space reserved for the
defense of the “second flank”. Each face was thought of independently.
There was also the use of the flanking wall, which had been a recurrent
practice since the 16th century. Thus, the bulwark’s flank was built as to
form the so-called “retired flank” and the protuberant part was round,
which gave it its name. This flank was supposed to lodge a battery with
the traditore cannon, which should strike the enemy when the ditch was
eventually crossed. If it is true that these are scarce in the Kingdom,
they are pretty frequent throughout the overseas territory, starting in
Ceuta, whose reforms were also accomplished in 1541 by the Italian
Benedetto de Ravena, who was working for Emperor Charles V, in Gi-
braltar, right across the homonymous Strait.
In Almeida, we are not able to find any bulwark with a flank curtain,
as those performed in 1541 in Ceuta and Mazagan, flank curtains that
had the objective of hiding the flanks and protected the batteries. Nev-
ertheless, all flanks are big enough to hold a considerable amount of
canons.
The bulwarks were given names, mainly for functional issues, because
one needed to call for them during peace and during war and particu-
larly during the latter situations, there wasn’t any room for confusions,
when troops and weapons are being moved. Thus, commanders or other
entities would baptize them with easily recognizable names, most of
the times with the name of saints, because usually a church of chapel of
the same name could be found near the site. Almeida’s bulwarks have
the following names: Santo António (Saint Anthony), next to the ho-
monymous ravelin and where the door with the same name is located,
and then the names of São Pedro (St Peter), of Cruz (Cross) and of São
Francisco (St Francis) (with a new entrance), of São João de Deus (John
of God), of Santa Bárbara (St Barbara) and finally of Trem (Train) or
Nossa Senhora de Brotas (Our Lady of Light).
One of the most important parts of the bulwarked fortifications of 16th
and 17th century are the external works. They were meant to difficult the
access to the stronghold and, from its interior, everything related to the
defense would have to be coordinated. The most relevant of the pieces
integrating these Works, already being used in our military architecture Plan du Siége d’Almeida par L’armée
Française de Portugal en 1810.
usada, mas com três ângulos salientes. É curioso notar que nas plantas de Macapá. Almeida’s ravelins, as in other strongholds and in other
in the 16th century, as can be seen by the works in Mazagan, was the 4522_XI-2-19-28 (DIE/GEAEM) conservadas de fortificações do Reino e de além-mar há a indicação da bulwarks, also had names given according the same type of criteria.
ravelin, which covered the doors and curtains and which was built on existência e sobretudo de projectos de tenalhas, quase sempre projectos Here, we can find the ravelins of Santo António (Saint Anthony), as we
the ditch, featuring counterguards; it is an architectonical piece com- muito ambiciosos, mas a sua construção, na maioria dos casos não saiu said, next to the homonymous door and which is the biggest, of Brecha
posed of faces, flanks and neck. Almeida, as a canonic stronghold, has do papel, não passou de meras intenções. (Breach), of Cruz (Cross), where a door is opened sharing this name,
ravelins of great dimension and defensive power, given the fact that not Neste sistema abaluartado regular, em que a praça-forte de Almeida se of Amores (Loves), the Doble ravelin or redoubt, precisely for being
all have exactly the same design. integra e até se destaca, tiveram grande voga os hornaveques, ou “obra composed by an interior redoubt and by a protection counterguard, and,
A work similar to the ravelin is the demi-lune, which covered the corna”, a nacionalização do nome original em holandês, constituída por finally, the ravelin of Paiol (Magazine).
bulwarks and which could be more ample, thus gaining the name of uma grande composição avançada com dois ramais, com um baluarte An engineering work which was meant to occupy the bulged points,
counterguard. One of the most remarkable examples, which was also inteiro e com dois meios baluartes dos lados. Como elementos integran- the simple tenaille, has two redans and two bulged angles. When the
one of the most powerful, is located in Amazon Rainforest in São José tes possuía também uma tenalha, em frente das cortinas, no fosso que redans grow narrower towards the stronghold’s centre, they’re called
138 139
lhe ficava mais baixo e que podia ter flancos, mas que não foi muito
usado pelos engenheiros portugueses. Uma das “obras cornas” mais di-
vulgadas, mas só através de plantas, é a do Forte das Cinco Pontas do
Refice, obra do período de domínio holandês, que foi substituída por
outra de estrutura mais sólida, e com um programa mais tardicional,
com quatro baluartes de ângulo, projecto levado a cabo por Alves de
Sousa, a mando do governador António Luís Gonçalves da Câmara,
pouco depois da sua chegada a Pernambuco em 1689 10. Outra é a que
Gregório Taumaturgo de Brito projectou, cerca de 1755, para a fortale-
za de São Sebastião da Ilha de Moçambique, mas que também não foi
executada, mas da qual também há um projecto 11.
Outros elementos de grande importância das praças-fortes eram as por-
tas, pois como muito bem escreveu João Campos, “… são estruturas em
que, por se tratar de um núcleo de fragilização da cortina da muralha,
se reforçam com unidades integradas nas funções de passagem e de
segurança …”. Assim, ”…os cuidados com o projecto são vastos…”12.
Luís Serrão Pimentel também entendia as portas – aliás na sequência
de outros tratadistras – como elementos emblemáticos, como símbolos
de poder ou domínio, o que implicava a adopção de ordens adequadas,
concretamente a toscana ou a dórica 13. As portas da praça-forte de Al-
meida eram originalmente apenas duas, a porta de São Francisco ou da
Cruz, e a porta de Santo António. Actualmente há mais uma entrada,
mas que foi feita há cerca de duas décadas, aproveitando o caminho
consolidado da antiga poterna do baluarte de São João de Deus para
permitir a viação moderna, rompendo-se então a muralha primitiva.
Interessam-nos, naturalmente, apenas as duas que resultaram do plane-
amento inicial, e que foram as que efectivamente estiveram em serviço
enquanto a fortificação teve importância estratégca. Sendo das mais
complexas, compõem-se de duplo sistema de controlo, ou seja, de por-
tas externas e de portas interiores. A sua estrutura é excepcionalmente
robusta e também teve uma clara função de reforço defensivo, pois de
outro modo não teriam sido realizadas com aquartelamentos dotados de
casamatas 14.
A localização destas duas portas não pode ser atribuída a uma intenção
de livre planeamento do engenheiro que traçou o perímetro muralhado,
pois de facto elas correspondem a outras que existiam na fase anterior,
e que estão bem documentadas no levantamento feito por Duarte Dar-
mas, logo nos primeiros anos do século XVI.
Na praça-forte de Almeida ainda existem diversas poternas, duas com-
pletas, uma que talvez nunca tenha sido completada, e há ainda notí-
cia de uma quarta. Estas poternas eram entradas ou saídas que apenas
deveriam funcionar quando as portas principais da fortaleza estavam
fechadas, nomeadamente em situação de guerra, tendo por isso uma
serventia restrita, permitindo ao mesmo tempo uma rápida comunica-
ção entre o perímetro interior da fortaleza e os revelins avançados, tudo
isto feito com bastante segurança. Anote-se que Antoine de Ville, na
edição de 1628, chama “portas falsas” a estes dispositivos 15, e em 1680
10 Pedro Dias, História da Arte Luso-Brasileira. Urbanização e Fortificação, Coimbra, 2004, p. 164 e segs.
11 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Gorlfo Pérsico, Lisboa, 2008, p. 27.
12 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, Almeida, 2007, p. 18.
13 Luís Serrão Pimentel, Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares,
& Irregulares, Lisboa, 1680, p. 147.
14 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, p. 23.
15 Antoine de Ville, Les fortifications du Chevalier Antoine de Ville, contenant la manière de fortifier
toute sorte de places tant regulierement, qu’irregulierement, Lyon, 1628, p. 167.
Laisne’s line. In the composed tenaille, we can see three salient angles.
It is quite remarkable to see that in the conserved plans of fortifications
in the Kingdom and overseas, there is the indication of the existence
and mainly of projects of tenailles, very ambitious projects most of the
times, but their construction never left the paper, was never more than
a mere motivation.
Within this regular bulwarked system, where Almeida’s stronghold
can be integrated and emphasized, hornworks were highly popular, the
English form from the Dutch, made up of two long curtains, with an
entire bulwark or with two demibastions on the sides. It also featured
a tenaille, in front of the curtains, on the lower ditch and which could
have flanks; nevertheless, it was not very used by Portuguese engineers.
One of the most famous hornworks, although only though plans, can be
found in Forte das Cinco Pontas do Refice, a work from the Dutch do-
main period, which was replaced for another solider structure, obeying
a more traditional plan, with four angle bulwarks, projected by Alves
de Sousa, according to the orders of governor António Luís Gonçalves
da Câmara, soon after he arrived in Pernambuco in 168910. Another
example is the one projected by Gregório Taumaturgo de Brito, around
1755, for the fortress of São Sebastião da Ilha de Moçambique, which
also failed to be executed, but which also features a plan11.
Other elements of great importance in strongholds were the doors, be-
cause as João Campos superbly explained: “… these are structures that,
because they are a nucleus of embrittlement of the walls’ curtain, are
reinforced as integrated units when fulfilling the functions of passage
and safety….”. Therefore, “… the cares with the project are ample…
”12. Luís Serrão Pimentel also perceived doors – as well as other writ-
ers of treaties – as being emblematic elements, symbols of power and
mastery, which forced the adoption of orders, such as the Tuscan or the
Doric orders13. Almeida’s stronghold doors were originally only two,
São Francisco’s door and Santo António’s door. Currently, there is one
more point of entrance, built over two decade ago, taking advantage
of the existing path of the old postern of São João de Deus’ bulwark to
allow for modern road traffic, breaking, at the time, the primitive wall.
We’re particularly interested in the two resulting from the initial plan-
ning and which effectively served while the fortification had a strategic
importance. Very complex in structure, they are composed of a double
control system, that is, of external doors and interior doors. Their struc-
ture is exceptionally robust and also had a clear function of defensive
reinforcement, because, otherwise, they would not feature cantonment
with casemates14.
The location of these two doors can’t be attributed to a free planning
intention by the engineer responsible for the walled perimeter, because,
in fact, they correspond to others which previously existed and which
are well documented in the survey performed by Duarte Darmas, early
16th century.
Almeida’s stronghold further has several posterns, two complete, one
probably unfinished and there is also notice of a fourth one. These pos-
10 Pedro Dias, História da Arte Luso-Brasileira. Urbanização e Fortificação, Coimbra, 2004, p. 164.
11 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Gorlfo Pérsico, Lisboa, 2008, p. 27.
12 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, Almeida, 2007, p. 18.
13 Luís Serrão Pimentel, Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares,
& Irregulares, Lisboa, 1680, p. 147.
14 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, p. 23.
140
Luís Serrão Pimentel designa-os como postigos, na linha de uma tradi-
ção medieval.
Encontramos aqui outras construções, como é o caso dos grandes quar-
téis, que ficam junto do baluarte de São Pedro e o palácio do coman-
dante. Outras dependências estão incorporadas em revelins ou em balu-
artes: é o caso das fontes ou nascentes que ficam no baluarte de Nossa
Senhora de Brotas, ou do Trem, já que aí também foi edificado o trem
de artilharia, o armazém da pólvora, situado no revelim que ficou as-
sim conhecido, e as casernas acasamatadas, situadas no baluarte de São
João de Deus. Estas já foram alvo de um magnífico estudo monográfico
da autoria de João Campos, são um elemento de primeiríssimo interesse
para a História da Fortificação Abaluartada, e não apenas portuguesa
mas europeia. De facto, trata-se de um conjunto com 20 salas, todas
abobadadas, com áreas que variam entre os 18 e os 120 m2, e com uma
largura média de 4,4 metros, com excepção do compartimento que fica
do lado noroeste, que tem cerca de 7 metros, enquanto o comprimento
varia entre os 3,8 e os 27 metros. Praticamente metade têm acesso a par-
tir de um pátio rectangular, com 22 por 11 metros, que tem comunica-
ção com a zona interna da fortaleza através de um corredor abobadado
com 28 metros de extensão. Para se fazer uma ideia da grandiosidade
deste dispositivo, note-se que estamos em presença de algo com uma
área de 9000 m2 a que correspondem os limites exteriores do pentá-
gono, e 2700 m2 da área bruta abobadada. A área útil do interior das
referidas divisões é de 1180 m2, a que tem que se somar mais 120 m2
do corredor 16.
Devemos ter em conta que a Fortificação Abaluartada era apenas uma
parte de um conjunto mais vasto de saberes que enformavam a guerra
moderna, que não se bastava apenas com construções que podemos de-
signar como passivas, mas também tinha a componente da construção
activa. Não só os sitiados faziam as suas defesas, como era essa a prá-
tica dos sitiantes. A duração dos cercos levou a que fossem construídas
estâncias, baterias e verdadeiras fortalezas, em torno da praça que se
atacava. Também se faziam estruturas mais leves, como barreiras ou
tranqueiras de madeira, de pau-a-pique, e trincheiras de terra, criando-
se caminhos que ficavam a salvo do inimigo através da conjugação da
profundidade do leito com a altura feita com a terra retirada do solo.
Mas este é um tema que interessa mais ao estudo da tática militar e
menos ao nosso caso em estudo, que é a fortaleza de Almeida.
3. Uma obra exemplar
Por tudo o que acima dissemos, parece que terá ficado claro que a for-
taleza de Almeida é uma obra exemplar, não só pela sua dimensão, mas
também pela excelência do seu traçado, que constitui um verdadeiro
reportório do que de mais avançado se fazia no Ocidente e nos territó-
rios ultramarinos das potências europeias, desde a primeira metade do
século XVII até ao início do século XIX. São muitas as soluções que
engenheiros portugueses e estrangeiros ao serviço da Coroa Portuguesa
aqui construiram, e foram ainda muito mais as soluções extraordinárias
que chegaram a ser projectadas, e de que há documentação nos nossos
arquivos, mas que, por uma razão ou outra, não foram por diante.
16 João Campos, Almeida. As coberturas das casamatas, Almeida, 2006, pp. 21-22.
141
terns were entries and exits, which should only function when the main
fortress doors were closed, particularly during war situation, thus hav-
ing a restrict access, while allowing, at the same time, for a quick com-
munication between the fortress’ interior perimeter and the advanced
ravelins, all actions performed under great security measures. Let us
mention that Antoine de Ville, in 1628 edition, calls “fake doors” to
these devices15 and, in 1680, Luís Serrão Pimentel calls them “man-
holes”, obeying a medieval tradition.
We are able to find other constructions here, as the Great Barracks, next
to São Pedro’s bulwark and the Comander’s Palace. Other dependen-
cies are incorporated into the ravelins or on the bulwarks: this is the
case of the fountains or springs located at Nossa Senhora de Brotas
(or Trem’s, because an artillery train was built here) bulwark, the gun-
powder magazine, located at the ravelin that took this name, and the
casemated caserns, located at São João de Deus’ bulwark. These were
already the object of a wonderful monographic analysis conducted by
João Campos; they are an element of key importance for the History
of Bulwarked Fortification, not only Portuguese, but also European. In
fact, we are talking about a set of 20 vaulted rooms, which areas rang-
ing from 18 to 120 m2 and with an average width of 4.4 meters, with the
exception of the northwestern compartment, which is about 7 meters,
while the length ranges from 3.8 to 27 meters. Virtually half of these
compartments can be accessed through a rectangular patio, 22 by 11
meters, which communicates with the fortress’ internal area, through a
28 meters long domed corridor. To have an idea of how big this device
is, let us notice that we stand before something with an area of 9000 m2,
corresponding to outer limits of the pentagon and 2700 m2 of domed
gross area. The interior useful area of these divisions is of 1180 m2,
which can be increased with more 120 m2 from the corridor16.
We must bear in mind that the Bulwarked Fortification was just part of
a wider set of knowledge which shaped modern war, which couldn’t
be satisfied with constructions which might be called passive; it also
had the component of active construction. Not only those under siege
made their defenses; the besiegers also had that practice. The duration
of sieges forced the construction of fortalices, batteries and true for-
tresses, around the stronghold under attack. Lighter structures were also
built, such as wooden barriers or walls, of wattle and daub, and earth
trenches, thus creating path that would be safe from enemies by con-
jugating the bed’s depth with the height made with the collected earth.
But this is a theme more interesting to military tactics, rather to our
study case, the fortress of Almeida.
3. An exemplar work
For all mentioned above, it seems quite clear that Almeida’s fortress is
an exemplar work, not only for its dimension, but also for the excellence
of its display, which is a true repertoire of the most advanced techniques
performed on the West and on the overseas territories of European na-
tions, from the first half of the 17th century to the beginning of the 19th
15 Antoine de Ville, Les fortifications du Chevalier Antoine de Ville, contenant la manière de fortifier
toute sorte de places tant regulierement, qu’irregulierement, Lyon, 1628, p. 167.
16 João Campos, Almeida. As coberturas das casamatas, Almeida, 2006, pp. 21-22.
Não é indiferente o excelente estado em que se encontra todo o conjun-
to de Almeida, e também não o é o facto de, dentro do perímetro de-
fensivo, existir uma urbe que convive de forma modelar com as estru-
turas antigas, respeitando-as, conservando-as, estudando-as e dando a
conhecê-las, e restaurando-as constantemente, além de que o Município
tem ciclicamente actividades que congregam milhares de nacionais e de
estrangeiros, para evocar momentos marcantes da história almeidense.
A fortaleza de Almeida não é um monumento morto, cristalizado, um
simples objecto de admiração e veneração, o que já não seria pouco.
Mas vai muito mais além. Aqui podemos constatar como, sem grandes
recursos económicos, numa zona tradicionalmente deprimida, só há
dois ou três anos com boas acessibilidades, é possível manter viva uma
obra destas características e dimensões. E não falta mesmo um Centro
de Estudos de Arquitectura Militar, que vem congregando especialistas
de todo o Mundo, para ver a obra em pedra e para ver a obra cultural
que, paulatinamente, se vai erguendo, com alicerces tão fortes como os
da própria fortaleza.
Um Museu de Sítio, um Centro de Interpretação, um picadeiro, um
conjunto de publicações, nomeadamente uma revista especializada que
é dada à estampa em Português e em Inglês, são outros factores de
valorização. O Turismo – com a existência de uma Pousada de grande
qualidade, de um comércio tradicional ainda não maculado por impor-
tações que descaracterizaram já a maioria do país – é aqui factor de um
desenvolvimento sustentado. A existência de outros pólos de interesse,
quer no campo artístico quer no campo paisagístico, dispersos por uma
área envolvente de várias dezenas de quilómetros, pode e deve poten-
ciar Almeida como um polo aglutinador e, simultaneamente, irradia-
dor, criando empregos especializados, ao mesmo tempo que preserva a
identidade regional.
Outro elemento da maior importância são as obras de restauro que têm
estado a ser levadas a cabo nos últimos anos, nomeadamente nas casa-
matas a que acima nos referimos, e que causam espanto e admiração, e
que em muitos pormenores técnicos são verdadeiramente únicas. Estes
trabalhos, dirigidos e acompanhados por técnicos altamente especiali-
zados, podem e devem servir na formação daqueles que desejam de-
sempenhar idênticas tarefas nas muitas outras fortificações abaluartadas
do nosso país, e até de outros, que necessitam de cuidados urgentes e
semelhantes.
E não menos importante é a integração de Almeida num vasto grupo de
cidades e vilas que possuem monumentos do mesmo género, de grande
relevo, a começar pela vizinha e fronteira Ciudad Rodrigo, cuja cola-
boração intermunicipal é exemplar e tem dado frutos bem visíveis, em
ambos os lados da raia beirã.
Porém, não podemos descontextualizar a praça-forte de Almeida, pois
ela é uma peça só que se integra num vasto conjunto de fortalezas que
se estendem da foz do Rio Guadiana até à foz do Rio Minho, e cujos
pontos altos são, para além dela, Elvas e Valença, do lado português.
Esta realidade tem como um espelho à sua frente, e praticamente, a cada
grande fortificação lusa corresponde outra espanhola, numa dialética tí-
pica da guerra estática, que se praticou durante toda a Época Moderna.
Em Almeida deram-se igualmente acontecimentos importantes no
campo militar, alguns imensamente trágicos, nomeadamente durante
as Invasões Francesas, cujas refregas são anualmente relembradas, em
century. Many are the solutions presented that Portuguese and foreign cuidadas reconstituições que ocorrem em finais de Agosto, e em que vasions, whose confrontations are celebrated every year in careful re-
engineers serving the Portuguese Crown built on this site and many oth- participam contingentes de participantes internacionais organizados. enactments that take place at the end of August, with the participation
ers were the extraordinary solutions projected, which are documented in Porém, não foi menor a importância, e até simbólica, que esta fortaleza of tons of international organized participants. Nevertheless, the impor-
our archives that, for one reason or another, didn’t follow through. teve durante as Lutas Liberais, já em pleno século XIX. tance that this fortress had during the Portuguese Civil War, already in
The excellent preservation state of the entire set of Almeida is remark- A criação de uma rede de fortalezas raianas portuguesas e espanholas, the 19th century, was also extremely great and even symbolic.
able, as is the fact that, within the defensive perimeter, there is a conur- exemplares, de qualidade técnica e modernidade indiscutíveis, possuido- The creation of a network of Portuguese and Spanish frontier fortresses,
bation happily living together with ancient structures, respecting them, ras de projectos de conservação, recuperação, quando fôr o caso, e de ani- of insurmountable technical quality and modernity, having preserva-
studying them and making them noticed and constantly repairing them, mação cultural, além de projectos de estudos académicos aprofundados, tion, rehabilitation (whenever needed) and cultural recreation projects,
apart from the fact that the Municipality cyclically promotes activities multidisciplinares e transnacionais, apresenta-se-nos como uma priorida- apart from deep academic, multidisciplinary and transnational studies,
that gather thousands of national and foreign citizens to celebrate ex- de, que, no entanto, poderia ser cimentada, com a elevação de todo este appears as a priority that, nevertheless, could be cemented with the el-
traordinary moments of Almeida’s history. riquíssimo espólio da memória colectiva a Património da Humanidade, evation of this rich collection of collection memory to World Herit-
Almeida’s fortress is not a dead, crystallized monument, a simple object classificação atribuída pela UNESCO a monumentos e sítios de especial age, a classification given by UNESCO to monuments and sites with
of admiration and veneration, which would already be sufficient. But it significado. Não temos dúvidas de que Almeida será neste processo uma a particular meaning. Undoubtedly, Almeida will serve, in this entire
soars even higher. Here, we may see how, without great economic re- mais-valia, uma das mais fortes razões para todo o programa que aparece process, as an added value, one of the strongest reasons for the program
sources, in a traditionally beaten area, with good accesses since two or delineado acima, e que está já a ser posto em prática. outlined above and which is already being put into practice.
three years now, it is possible to maintain alive a work with these char- A classificação como Património da Humanidade dá aos monumentos e The classification as World Heritage grants visibility to monuments and
acteristics and dimensions. And there is even a Centro de Estudos de sítios visibilidade, funcionando como chancela de qualidade e, ao mesmo sites, functioning as a quality stamp and, at the same time, it makes
Arquitectura Militar (Military Architecture Studies Department), which tempo, responsabiliza as autoridades nacionais e regionais, pois alarga-se national and regional authorities responsible, because it broadens the
has gathered world experts, who come to see the stone works and to o sentido patrimonial que, sendo de uma pequena comunidade, passa a sense of heritage that, being within a small community, starts to belong
witness the cultural work that gradually begins to grow, with founda- pertencer a uma região ou mesmo a um país, e a todo o Orbe. to a region or even to a country and to the entire Orb.
tions as strong as the fortress’.
A Site Museum, an Interpretation Centre, a riding arena, a group of
publications, particularly a specialized magazine, which is printed both
in Portuguese and in English are other appreciation factors. Tourism –
along with the existence of a high quality Hostel, of traditional shops
still untainted by importations that have already disfigured the majority
of the country – is a factor of a sustained development.
The existence of other poles of interest, both artistic and landscape,
scattered around a surrounding area which occupies several tens of kil-
ometers, will and should potentiate Almeida as a gathering and, simul-
taneously, irradiating pole, creating specialized jobs, while maintaining
its regional identity.
Another major element is the restoration works carried out for the
last years, particularly on the casemates, which we mentioned earlier,
that cause shock and awe and that, in many technical details, are truly
unique. These works, directed and accompanied by highly qualified
technicians can and should serve in the training of those who desire to
perform similar tasks on other bulwarked fortifications of our country
or even other countries, which are in need of urgent and similar cares.
And it is not less important the integration of Almeida within a vast
group of cities or villages that have identical monuments, of great em-
phasis, starting by the neighboring and frontier city of Ciudad Rodrigo,
whose intercity collaboration is a true example and has paid off on both
sides of the frontier at Beira.
Nevertheless, we can’t take Almeida’s stronghold out of its context, for
it is a piece that can only be integrated within a vast group of fortress
going from Guadiana’s mouth to Minho’s mouth, with highlights in,
apart from Almeida, Elvas and Valença, on the Portuguese side. This
reality has a mirror in front and every great Portuguese fortification
has virtually a Spanish correspondent, in a typical binary of static war,
which was active during the Modern Age.
Almeida was also the stage for important events within the military Historiador – Professor Catedrático da Universidade de Coimbra
scope, some of which deeply tragic, particularly during the French In- Historian – Chair Professor of the University of Coimbra
142 143
3.8 A PAISAGEM HISTÓRICA DE ALMEIDA
Rui Carita
A construção do actual complexo da Praça-forte de Almeida insere-se
nas concepções de defesa alargada da centralização dos Estados Moder-
nos Europeus dos meados do século XVII aos inícios do XVIII, consti-
tuindo um soberbo exemplo de conservação, manutenção e disponibi-
lização como património edificado vivo de grande qualidade formal. O
trabalho de manutenção e conservação geral levado a efeito nos últimos
anos do perímetro amuralhado e do tecido edificado urbano interior,
apoiado na constituição de um Centro de Estudos de Arquitectura Mi-
litar, já com inúmeras publicações de grande qualidade, servida por um
dos mais importantes acervos de cartografia manuscrita, elaborado ao
longo de séculos e dos núcleos museológicos do Museu Militar de Al-
meida, assim como de meios informáticos de comunicação, enquadra-
se num contexto geral destinado a dotar todo o conjunto edificado de
condições de sustentabilidade, de inovação e desenvolvimento, que
possam fazer face à actual tendência de desertificação das zonas mais
interiores do Continente Europeu.
O conjunto hoje existente de perímetro fortificado encontra-se em grande
parte isolado de construções anexas dissonantes, como teria sido na sua
concepção militar dos séculos XVII e XVIII, constituindo assim o que se
designa por uma Paisagem Urbana Histórica, a Historic Urban Lan-
dscape. O conjunto é ainda dotado de um magnífico conjunto de portas
de aparato e de instalações militares de apoio, hoje adaptadas a funções
3.8 THE HISTORIC LANDSCAPE OF ALMEIDA
Rui Carita
The construction of the current complex of Almeida’s garrison town can be
associated with the conception of a broaden defence of the centralization of
European Modern States during the 17th century and early 18th century, thus
becoming a superb example of preservation, maintenance and availability
of living built heritage of great formal quality. The general maintenance and
preservation works carried out over the last year on the walled perimeter and
on the urban interior buildings, supported by the constitution of a Military
Architecture Studies Department and numerous high quality publications,
having with of the most important collections of handwritten cartography,
which was elaborated over the centuries, and the museological nuclei of Mu-
seu Militar de Almeida (Almeida’s Military Museum), as well as informa-
tion technology means. Thus, it can be framed with a general context meant
to provide the all built set with sustainability, innovation and development
conditions that may invert the current desertification trend in more interior
areas of the European Continent.
Today’s set of fortified perimeter is greatly isolated from dissonant ad-
ditional constructions, as it would have been in its military conception
during the 17th and 18th centuries, thus becoming what is called as His-
toric Urban Landscape. The set is also gifted with a magnificent group of
apparatus doors and supporting military facilities, which today have been
adapted to civilian functions, such as the Studies Department, museum
facilities, among others. The entire interior urban fabric has also been get-
144
civis, de Centros de Estudo e de instalações museológicas, e outras. Todo
o tecido urbano interior tem igualmente merecido uma muito especial
atenção em não alterar a volumetria e enquadramento geral, adaptando-o
progressivamente a uma vivência de contemporaneidade que continue a
permitir a sua habitabilidade e sustentabilidade neste século XXI.
A classificação do complexo da Praça-forte de Almeida como Patrimó-
nio da Humanidade justifica-se assim pela qualidade geral do conjunto
abaluartado, isolado e sobrelevado na paisagem, como Paisagem Ur-
bana Histórica, assim como ainda apoiado em revelins dobrados ou
meias-luas e alguns dos antigos caminhos cobertos, com especial re-
levo para a qualidade do conjunto de Portas Monumentais e complexas
instalações de guarda das mesmas. Acresce ainda a qualidade geral do
conjunto edificado urbano interior, que conseguiu manter a maior parte
das outras instalações militares, com especial destaque para os paios,
quartéis, edifício da Câmara Municipal, da antiga Misericórdia, Igreja e
Capelas, roda-dos-expostos, assim como residências senhoriais e outras
de menos aparato, e parte da pavimentação dos séculos XVII e XVIII.
A classificação apresenta assim o reconhecimento geral para um espírito de
construção defensiva de longa duração, o estilo abaluartado, que perdurou
por vários séculos, para além do apoio ao esforço de conservação e manuten-
ção desenvolvidos, e ainda a motivação para a continuação dos trabalhos em
curso, servindo de exemplo às largas faixas das várias raias europeias, que
passam hoje por idênticos e complexos problema de desertificação, face à
capacidade de captação da população pelos grandes centros urbanos.
A Praça-forte de Almeida
A fortificação de Almeida encontra-se documentada desde os inícios
do século XVI, quando foi desenhada e levantada, a mando do rei D.
Manuel, nos meados do ano de 1509, por Duarte de Armas, filho de Rui
Lopes de Vieiros, um dos escrivães da Torre do Tombo. O castelo e a
povoação de Almeida são desenhados com duas vistas e já com a nova
barbacã, indicada com tendo sido feita de novo, o que de facto aconte-
cera em 1508. Essa obra foi executada pelo mestre Francisco Danzilho
e vistoriada depois por Mateus Fernandes, mestre da Batalha e Martim
Lourenço de Évora. Como curiosidade, num dos desenhos do exemplar
da Torre do Tombo, Duarte de Armas faz-se representar a cavalo, frente
a Almeida, com um criado a pé, que parece sempre o ter acompanhado
nesta longa peregrinação pela raia, pois que aparecem ambos em outros
desenhos, sempre empunhando longos piques. Estas lanças parecem ter
servido de bitolas, devendo corresponder a uma braça craveira, cerca de
dois metros e vinte centímetros, embora nos desenhos ainda pareçam
maiores. Os desenhos das vistas das fortalezas são acompanhados no
final do trabalho de quase todas as respectivas plantas, com a indicação
do comprimento dos vários panos de muralha e das alturas das torres,
tudo em braças.
Esta fortaleza tardo-medieval resistiu muitos anos, como cidadela da nova
fortificação maneirista e barroca dos séculos XVII e XVIII, mas haveria
de perecer com o célebre cerco de Almeida, em 26 de Agosto de 1810. As
forças franco-espanholas do general Massena, em mais uma tentativa de in-
vasão de Portugal continental, iniciaram o cerco à praça de Almeida nesse
dia 26 de Agosto e os primeiros tiros caíram dentro do antigo castelo me-
145
ting a special attention by not allowing changes to the volume and gen-
eral framing, being progressively adapted to a contemporary life, which
still allows it to be inhabited and sustained on the 21st century.
The classification of the complex of Almeida’s Fortress as World Herit-
age is thus justified by the general quality of the bulwarked set, isolated
and raised on the landscape, as Historic Urban Landscape, as well as still
supported in ravellins or demilunes and in ancient covered pathways, with
a special emphasis for the quality of the Monumental Gates sets and the
complex guard facilities in them. The general quality of the interior urban
built set must also be added, which was able to maintain a great part of
other military facilities, such as magazines, barracks, the building of the
City Hall, of the ancient Misericórdia, Churches and Chapels, the found-
ling wheel, as well as noble residences and other less great and part of the
17th and 18th centuries pavements.
The classification is, therefore, the general recognition of a defensive long
term construction spirit, the bulwarked style, which endured for centuries,
beyond the support and efforts made towards its preservation and mainte-
nance and beyond the motivation to continue the works in progress, thus
acting as an example for other broad strips of the numerous European fron-
tiers, which now face identical and complex desertification problems, con-
sequence of the effect big urban centres have on the population.
Almeida Fortress
The fortification of Almeida has been documented since early 16th century,
when it was projected and erected, by order of King D. Manuel, around
1509, by Duarte de Armas, son of Rui Lopes de Vieiros, one of the clerks
in Torre do Tombo. The castle and the hamlet of Almeida are drawn with
two views and already a new barbican, with the indication of being made
once again, as in fact happened in 1508. This work was executed by Master
Francisco Danzilho and later supervised by Mateus Fernandes, Batalha’s
master, and Martim Lourenço, from Évora. An interesting fact is that, in
one of the drawings kept in Torre do Tombo, Duarte de Armas is represent-
ed on horse, facing Almeida, with a servant standing next to him, who ap-
parently followed him through this long pilgrimage over the frontier, since
they both appear in other drawings, always armed with long pikes. These
spears seem to have been used as measures, corresponding to a fathom or
two meters and twenty centimetres, although they seem even bigger in the
drawings. The drawings from the fortress’ views are followed, at the end of
the work, by almost all respective plans, indicating the length of different
curtain walls and height of the towers, using fathoms as a measure unit.
This Late Medieval fortress endured for many years as the citadel of the
new Mannerist and Baroque fortification of the 17th and 18th centuries,
but it would eventually perished under the notorious siege to Almeida,
on 26th August 1810. General Massena’s French and Spanish troops, in
yet another attempt to invade Continental Portugal, began the siege to Al-
meida’s garrison on that day and the first shots fell inside the ancient me-
dieval castle. There was some unprotected gunpowder there, to be used
for the town’s immediate defence, which caught fire and caused an explo-
sion of the rest of the gunpowder in store. Nevertheless, the set would be
rapidly rebuilt over the following years, given the strategic importance of
this town at the time, maintaining its initial formal characteristics.
 Fachada da actual Câmara Municipal, construida
Facade of the present City Hall, erected as the
Duarte de Armas, “Livro das Fortalezas”, códice A, fl. 128v e fls. 73v e 74
(Fac-símile do Ms.159 da Casa Forte do IAN/TT, c. 1508-1510).
o desenho da Porta Magistral de Santo António
remembers the design of the Magisterial Gate
como Corpo da Guarda Principal
Principal Corps of Guard
A fachada da Igreja da Misericórdia lembra
The facade of the Church of Misericórdia
of Santo António
dieval. Encontrava-se ali alguma da pólvora a céu aberto, para servir para a
defesa imediata da praça, que incendiando-se, provocou a explosão de toda
a restante que se encontrava armazenada. O conjunto seria, no entanto, ra-
pidamente reconstruído nos anos seguintes, dada a importância estratégica
desta praça para a época, mantendo as suas iniciais características formais.
O ensino da fortificação
A fulgurante expansão portuguesa iniciada em 1415 com a conquista da pra-
ça magrebina de Ceuta e continuada nos anos seguintes com o povoamento
dos arquipélagos atlânticos, assim como com a ocupação de novas praças na
costa de África, levou à criação de novas necessidades no campo da defesa e
do urbanismo dos novos núcleos urbanos. Se as antigas técnicas práticas de
arruar acompanharam os descobrimentos portugueses, as novas técnicas mi-
litares decorrentes do desenvolvimento das novas armas de fogo tiveram de
dar origem a novos conhecimentos. Já nos finais do século XV se ensaiaram
novas disciplinas de apoio ao poder e à decisão régia, patentes no desenvol-
vimento da cartografia e, muito especialmente, na fantástica operação que
representou o planeamento em Lisboa da ocupação de São Jorge da Mina,
em 1482, no golfo da Guiné, a muitos milhares de quilómetros de distância.
O ensino da fortificação em Portugal processara-se de forma mais ou me-
nos empírica até aos meados do século XV, mas progressivamente, esse
assunto teve de ser encarado de uma forma diferente. Face à nova situação
passaram a ser chamados a reunirem-se na corte portuguesa vários grupos
de técnicos, a fim de darem parecer sobre essas matérias e, dessas reuniões,
se fez sentir a necessidade de uma maior troca de conhecimentos. A partir
dos finais do século XV passaram a leccionar-se aulas nas instalações da
Casa da Mina e da Índia, de certo e de início, de forma algo informal, mas
passando nos meados do século XVI para o Paço da Ribeira já numa uma
outra forma, onde receberam aulas os moços fidalgos da corte e o próprio
príncipe D. Sebastião. A institucionalização desta Aula foi feita em 1577,
tendo sido nomeado para lente, em 1594, o italiano Filipe Terzio.
A aula de fortificação do Paço da Ribeira funcionou assim entre os finais
do século XVI e os meados do seguinte com Filipe Terzio e Mateus do
Couto, tio e sobrinho. Paralelamente, algumas aulas seriam também dadas
no colégio jesuíta de Santo Antão, como as de matemática e era também no
Colégio que se davam muitos dos pareceres sobre a fortificação. Por essas
datas, por exemplo, leccionava em Santo Antão, o padre Ignacio Stafford,
autor de Várias obras mathematicas compuestas por El P.Ignacio Stafford,
147
The teaching of fortification
The staggering Portuguese expansion, initiated on 1415 with the conquest of
the Maghrebi trade centre in Ceuta and continued over the following years
with the colonization of the Atlantic archipelagos, as well as with the occupa-
tion of new positions over the African coast, lead to the creation of new ne-
cessities in the areas of the defence and urbanism of new urban nuclei. If the
ancient road-making techniques accompanied the Portuguese Discoveries,
the new military technical caused by the development of new fire weapons
originated new knowledge. At the end of the 15th century, new disciplines to
support the royal power and decisions were already being rehearsed, which
can be seen in the development of cartography and, particularly, in the fantas-
tic operation which represented the planning in Lisbon of the conquest of São
Jorge da Mina, in 1482, in Guinea’s Gulf, many miles away.
The teaching of fortification in Portugal occurred in a more or less empirical
fashion until the middle of the 15th century, but this matter was progressively
perceived differently. Considering the this new situation, several groups of
technicians were summoned for meetings on the Portuguese Court, in order
to give opinions on these matters and these meetings caused a growing need
for a bigger exchange of knowledge. From late 15th century on, some lessons
began to be taught in Casa da Mina e da Índia, most certainly in an informal
fashion in the beginning, but, in the middle of the 16th century, they started
to be taught in the Paço da Ribeira, in a completely different fashion, being
that these were attended by noble young men of the Court and by prince D.
Sebastião himself. This Subject became official in 1577 and the Italian Filipe
Terzio was nominated the teacher in 1594.
The fortification class held in Paço da Ribeira remained in functioning until
the end of the 16th century and the middle of the following century, with
Filipe Terzio and Mateus do Couto, uncle and nephew. In parallel, some
classes were also held in Colégio Jesuíta de Santo Antão, such as mathemat-
ics and also many opinions on fortification were given here. Around these
dates, for example, father Ignacio Stafford taught in Santo Antão, the author
of Várias obras mathematicas compuestas por El P.Ignacio Stafford, Mestre
de Mathematica en El Colegio de S.Anton de La Compañia de Jesus y no
acabadas por causa de la muerte del dicho padre. Lisbon, year of 1638. This
work, today exhibited in Biblioteca Nacional de Lisboa, contains a table with
58 definitions on fortification and a chapter called De la Architectura Militar
(“On Military Architecture”).
Over the decades, the Portuguese rose fortified cities throughout the coast
of the Atlantic and Indic Oceans, as well as in the Atlantic islands. The theo-

Mestre de Mathematica en El Colegio de S.Anton de La Compañia de Je-
sus y no acabadas por causa de la muerte del dicho padre. Lisboa, añno
1638. Este trabalho, hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa, contém uma
tabla com 58 definições de fortificação e um capítulo intitulado De la Ar-
chitectura Militar.
Ao longo dessas décadas os portugueses foram levantando cidades forti-
ficadas ao longo das costas dos oceanos Atlântico e Índico, assim como,
progressivamente, nas ilhas atlânticas. O domínio teórico desses conhe-
cimentos eram das várias cidades italianas, eternamente em guerra entre
si e com os vários poderes instalados no Mediterrâneo, mas a efectiva
prática em Portugal era quase sempre entregue aos técnicos locais.
A primeira grande reforma da construção defensiva ocorreu nos domínios
ultramarinos da corte portuguesa nos meados do século XVI, com a cons-
trução do complexo de Mazagão, no Norte de África, a actual El Jadida,
mas já se ensaiava igualmente no Estreito de Ormuz, frente ao Oceano
Índico. Face ao crescente poder do Império Turco, igualmente por esses
anos se inicia a fortificação da foz do Rio Tejo, na entrada da barra de
Lisboa, com a construção da fortaleza de São Julião da Barra, sinal da
mudança de paradigma da segurança da coroa portuguesa.
[Autor desconhecido] Almeida:
Planta da Praça de Almeida na qual estão
marcados os ataques de 1762.
- Escala [não determinada].
– [post 1762].
- 1 documento: ms., color. ; 46 x 35 cm.
29-1-2-2 (DIE/GEAEM)
retical mastery of this knowledge belonged to the several Italian cities, in an
eternal war amongst themselves and with several powers instituted along the
Mediterranean, but the effective practice in Portugal was always the respon-
sibility of local technicians.
The first great reform in defensive constructions took place in the overseas
dominium of the Portuguese court, in the middle of the 16th century, with the
construction of the Mazagan complex, on the North of Africa, currently El
Jadida, but some works were already being rehearsed on the Strait of Hor-
muz, in front of the Indic Ocean. In face of the growing power of the Turkish
Empire, these years witnessed the beginning of the construction of the fortifi-
cation in Tagus’ mouth, in the entrance to Lisbon’s bar, with the construction
of the Fortress of São Julião da Barra, a sign of a shift on the safety paradigm
of the Portuguese Crown.
The “Provedoria” (manager) of Royal Works
To meet the challenges of many and distant construction sites, there was the
need to create a body able to control these works, also responsible for the
148
Adaptação do Convento das Franciscanas de Nossa Senhora do Loreto a Hospital Militar
Adaptacion of the convent of the Franciscans of Our Lady of Loreto to the Military Hospital
A Provedoria das Obras Reais
Para fazer face a tão complexos e distantes estaleiros de obras, houve mes-
mo necessidade de criar um órgão para controlo de todas essas obras, igual-
mente responsável pela circulação e pagamento dos técnicos de fortificação
no espaço dos domínios portugueses. Nesse sentido se reestruturaram as
funções do provedor das obras reais, lugar entregue em 1525 a Pero de Car-
valho e depois aos seus descendentes, João de Carvalho e Gonçalo Pires de
Carvalho, assim como foi criado um órgão central, uma provedoria-mor
das obras reais, à frente da qual veio a ser colocado Álvaro Pires e que pas-
sou a coordenar toda a circulação documental desse imenso esforço.
A provedoria ficou entregue a Álvaro Pires, que havia trabalhado no Nor-
te de África, onde fora armado cavaleiro pelo conde de Redondo e que
passara em Lisboa a escrivão da Casa da Mina. Seguia assim as pisadas
do pai, André Pires, que fora também “escrivão das terças”, capelas, hos-
pitais, albergarias e mercearias, imposto municipal destinado às questões
de defesa, assim como encargos pios, de que produziu o Regimento das
Obras Terças, publicado em 1515 pelo impressor Valentim Fernandes.
Superintendia já então este influente funcionário sobre um certo número
dos projectos de arquitectura em curso pelos dinheiros da fazenda real e
também sobre os vários arquitectos encarregados de os levar acabo. André
Pires aparece na época de D. Manuel a despachar os assuntos referentes
a importantes mestres-de-obras, como o mestre das obras do mosteiro da
Batalha, Mateus Fernandes (I), quando em 1508 foi mandado inspeccionar
com Martim Afonso o serviço que Francisco Danzilho fazia em Almeida,
como já referimos, assim como Castelo Bom e Castelo Rodrigo, e quando
em 1514 tratou da reformulação da fortaleza de Salvaterra.
A estruturação da provedoria das obras e fortificações deve ter surgido na se-
quência da reestruturação da Mesa do Desembargo do Paço, sucessivamente
pela legislação de 1534 e de 1553, de que vieram a resultar os regimentos de
1564 e de 1568, situação que não foi de modo algum passível, levando, inclu-
sivamente, alguma resistência dos velhos desembargadores, que, mediante a
nomeação de um presidente da Mesa, se sentiam de certa forma afastados da
figura real. No entanto a data chave da reestruturação dos sistemas defensivos
ultramarinos portugueses ocorreu com a queda da praça magrebina de Santa
Cruz do Cabo de Guer em 1541. A perca de Santa Cruz representou uma total
viragem na política militar em Marrocos e se até então o gabinete real havia
hesitado nas medidas a tomar em relação à presença portuguesa no Norte de
África, a partir daqui opta-se indiscutivelmente pela fortificação de Mazagão,
constituída em verdadeira “praça de guerra”.
As actividades específicas e diferenciadas desta provedoria devem ter-
se iniciado em 1551, quando se enviou o famoso arquitecto Inofre de
Carvalho ao Oriente, “por mestre das obras que lá mandar fazer o Viso-
rei e governador das ditas partes” e em 1552, com o envio de Isidoro
de Almeida aos Açores, onde se planearam as fortalezas de São Brás
em Ponta Delgada e São Sebastião em Angra. No entanto as fortalezas
que se vieram a levantar não correspondem ao espírito de Isidoro de
Almeida e datam com certeza de alguns anos depois, decorrentes do
seguinte grande desastre militar, que se deu na cidade do Funchal, na
ilha da Madeira com o ataque francês de Outubro de 1566.
Se até então as incursões francesas no Brasil não tinham despertado conve-
nientemente a corte portuguesa, o ataque à primeira cidade da expansão e a
poucos dias de viagem de Lisboa, lançou o pânico na capital e teve mesmo
149
movements and payments to the fortification technicians within the Portu-
guese dominium. In this sense, the functions of the “Manager” of Royal
Works (Provedor das Obras Reais) were restructured, a place occupied by
Pero de Carvalho in 1525 and, later, by his descendents João de Carvalho
and Gonçalo Pires de Carvalho. In the same way, the Major Commission
for the Royal Works was created, lead by Álvaro Pires who starting to su-
pervise the movement of documents related to this immense effort.
The Commission was handed to Álvaro Pires, who had worked in the North
of Africa, where he was made a knight by Conde de Redondo, later to be-
come a clerk in Lisbon’s Casa da Mina. He followed his father’s footsteps,
who was also “the clerk of terças”, chapels, hospitals, hostels and grocers, a
municipal tax for defence-related issues, as well as religious charges, thus
producing the Regimento das Obras Terças, published in 1515 by the printer
Valentim Fernandes. This influent worker already supervised, at the time, a
certain number of architecture projects in course with public moneys and
some of the architects in charge of their execution. André Pires appears dur-
ing King D. Manuel’s reign, in charge of matters related to important master
builders, such as Mateus Fernandes (I), the master builder for Monastery of
Batalha, when, in 1508, he was sent to supervise, together with Martim Afon-
so, the works Francisco Danzilho had been performing in Almeida, as was
already referred, as well as Castelo Bom and Castelo Rodrigo and, in 1514,
he was in charge of the renovation works in Salvaterra’s fortress.
The structure of the Commission of Works and Fortifications must have fol-
lowed the restructuring of the Mesa do Desembargo do Paço, by the legisla-
tion of 1534 and 1553, which resulted with the ordinances of 1564 and 1568,
a situation than was less than pacific, because it had to face the resistance of
some old judges that face with the nomination of a President would pull them
apart from the Court. Nevertheless, the key date from the restructuring of the
overseas Portuguese defensive systems was the loss of the Maghrebi trading
post of Santa Cruz do Cabo de Guer, in 1541. Santa Cruz’ loss represented
a turning point on the military policy developed in Morocco and if the royal
cabinet hesitated in the measures it took regarding the Portuguese presence in
Northern Africa, from here on there is the clear option for the fortification of
Mazagan, transformed into a real “war garrison”.
The specific and diversified activities of this commission must have started
in 1551, when the famous architect Inofre de Carvalho was sent to the East
“to be the master builder of the works the Viceroy and Governor of those
parts demands” and, in 1552, after Isidoro de Almeida was sent to the Azores,

repercussões em Valadolid e Madrid. Para o Funchal foram de imediato
despachados vários fortificadores com experiência nas fortalezas do Norte
de África e num curto espaço de tempo procediam-se a obras da responsa-
bilidade do novo órgão da provedoria das fortificações e obras reais, sendo
toda a correspondência assinada por Álvaro Pires.
Logo nos finais de 1566 ou inícios de 1567 estava na Madeira o mestre das
obras reais Mateus Fernandes (III), com um alvará preliminar de fortifica-
ção, passado por Álvaro Pires e, na Primavera seguinte vinham à Madeira
mais dois habilitados fortificadores de origem italiana, para trabalharem
com ele, capitão Pompeu Artidi, irmão do célebre cartógrafo Cúrzio Arditi
e de Fábio Arditi, secretário do cardeal Farnésio, e o engenheiro Tomás
Benedito, ambos de Pézaro. Estes militares seguiram depois para os Aço-
res, onde Tomás Benedito dirigiria as obras de construção da fortaleza de
São Brás de Ponta Delgada com o mestre Pedro de Maeda e que seria a
primeira fortaleza regular abaluartada portuguesa. Dos trabalhos realizados
na Madeira, em princípio, a três, ficou uma admirável planta do Funchal,
hoje na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e surgiria depois o regimento
de fortificação do Funchal enviado por Álvaro Pires em 1572.
Nestas décadas temos já indicações de Álvaro Pires centralizar grande parte
dos assuntos respeitantes às grandes obras reais de fortificação. São assim
mandados escrever por si os documentos de aquisição de uma série de ter-
renos junto da fortaleza de São Julião da Barra, a pedido dos proprietários,
pois que com as obras ali a decorrerem, os não podiam semear. A provisão
de autorização para a venda, de 1562, encontra-se assinada pela rainha D.
Catarina e na carta de venda, aparece como testemunha o engenheiro-mor
Miguel de Arruda, “cavaleiro fidalgo da minha casa e mestre e vedor das
ditas minhas obras”. Do seguinte ano de 1567 é o envio à cidade do Porto
de Simão de Ruão, para “para tirar o sítio do porto dela e tomar as in-
formações que para isso forem necessárias”, assinando depois de Álvaro
Pires, o Cardeal Infante em nome do jovem rei D. Sebastião.
A actividade da provedoria das obras reais passava pelo controlo sobre a
circulação e o pagamento dos técnicos militares de fortificação, mas tam-
bém pelos projectos dos mesmos, todos controlados em Lisboa e só sus-
ceptíveis de alteração mediante autorização régia. Em breve igualmente
passam à responsabilidade da provedoria a circulação dos bombardeiros,
como em Abril de 1560, quando se manda passar a confirmação de Fran-
cisco Dias como bombardeiro de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel nos
Açores, anulando uma nomeação local para António Fernandes. Álvaro Pi-
where the fortresses of São Brás in Ponta Delgada and São Sebastião, in An-
gra, were planned. Nevertheless, the fortress later built don’t correspond to
the spirit of Isidoro de Almeida and are most certainly from some years later,
a consequence of the great military disaster that occurred in Funchal, in the
island of Madeira, when the French attack in October 1566.
If until this point the French incursions on Brazil were important enough
to draw the attention of the Portuguese Crown, the attack made to the
first city of the expansion, only a few days of journey from Lisbon,
spread the panic in the capital and had repercussions in Valladolid and
Madrid. Several fortifiers were immediately sent to Funchal, who had
some experience in the fortresses of the North of Africa and, in a short
period of time, some works started to be performed under the respon-
sibility of the new body of the “Manager” of fortifications and royal
works, being that all letters were signed by Álvaro Pires.
On late 1566 or early 1567, the royal master builder, Mateus Fernandes
(III), was in Madeira, with a preliminary permit of fortification, written
by Álvaro Pires and, the next spring, another two skilled Italian fortifiers
arrived in Madeira, to work with him: Capitan Pompeu Artidi, brother of
the well-known cartographer Cúrzio Arditi and of Fábio Artidi, secretary
for Cardinal Farnesio, and engineer Tomás Benedito, both from Pézaro.
These militaries then went to the Azores, when Tomás Benedito became
the foreman on the construction works of the fortress of São Brás de Ponta
Delgada, along with the Master Pedro de Maeda, which would become the
first Portuguese regular bulwarked fortress. Of all the works performed in
Madeira, by three people, an admirable chart of Funchal endured, today
located at Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, and later the ordinance of
Funchal’s fortification, by Álvaro Pires in 1572, was also found.
On these decades, one already knows that Álvaro Pires centralized a great
deal of the subjects related to great royal works of fortification. Thus, he
orders the writing of the documents acquiring a number of terrains next
to the fortress of São Julião da Barra, following the owners’ requests, who
were unable to farm the land because of the works taking place. The sales’
authorization, in 1562, is signed by Queen D. Catarina and, in the sales’
permit, the chief engineer Miguel de Arruda acts as a witness, “a noble
knight of my house and master and inspector of my works”. On the fol-
lowing year, 1567, Simão de Ruão is sent to Porto “to study the location
of its port and to obtain information deemed as necessary”, then signed
by Álvaro Pires, the Prince Cardinal on behalf of King D. Sebastião.
The activity of the Comission of royal works was related with the control on
the movements and payments of the military fortification technician, but also
for their projects, all controlled in Lisbon and which could only be changed
with a royal consent. Soon, the “Manager” would also be responsible for
the movements of bombers, as of April 1560, when Francisco Dias becomes
the bomber of Ponta Delgada, in the island of São Miguel in the Azores, thus
annulling a local nomination of António Fernandes. Álvaro Pires signs the
documentation on the king’s behalf, as “noble of my house and servant of my
Exchequer and of the Main “Manager” of my kingdom”.
During the 1562’s siege to Mazagan, the organisation’s commitment
was truly recognised. The news of the relief was inclusively euphori-
cally celebrated by the Council gathered at the time in Trento. One must
emphasise that, during Mazagan’s siege, 500 Portuguese managed to
resist 150.000 Muslims; if, on the one hand, the credit of Portuguese
fortifications was recognised, on the other hand, it reveal Marrakech as
150
Quartel projectado para Praça de Almeida, dois
alçados e um corte (a).
Tinta sobre papel aguarelado, 42 x 32 cm.
Miguel Luís Jacob (?), 1762 (c.)
Direcção do Serviço de Engenharia, GEAEM,
cota 561-1-2-2.
Estado-Maior do Exército.
Drawings for the barracks to the Almeida Fror-
tress, two elevations and a section (a).
Ink on paper colloured,42 x 32 cm.
Miguel Luís Jacob (?), 1762 (c.)
Direcção do Serviço de Engenharia, GEAEM,
cota 561-1-2-2.
Estado-Maior do Exército.
Nicolau de Langres
res assina a documentação em nome do rei, como “fidalgo de minha casa e
escrivão de minha fazenda e da Provedoria Mor de meus reinos”.
Deve ter sido, entretanto, durante o cerco de Mazagão de 1562, que esta
organização viu o seu empenhamento verdadeiramente reconhecido. A
notícia do descerco, inclusivamente, foi euforicamente saudada pelo
Concílio então reunido em Trento. Saliente-se que no cerco de Maza-
gão, onde 500 portugueses conseguiram resistir a 150.000 marroqui-
nos, se por um lado afirmou o crédito das fortificações portuguesas, por
outro também revelou o reino de Marraquexe como potência militar,
dispondo já também de “um ytaliano gramde emgenheiro de guerra de
combater fortallezas”, como se informou na época para Lisboa.
A circulação dos técnicos internacionais não deixou de levantar proble-
mas, dado colocar em oposição o sentido prático construtivo local, apu-
rado ao longo de séculos, às novas concepções teóricas da fortificação
internacional. Os técnicos italianos encontravam-se de passagem e des-
conheciam por completo as realidades locais, criando continuamente pro-
blemas aos comandos e, não poucas vezes, seriam mal recebidos, como
aconteceu com Pompeu Arditi e Tomás Benedito em Mazagão, motivan-
do uma queixa do governador de que os técnicos portugueses ali em ser-
viço eram tão ou mais competentes que os engenheiros italianos.
A provedoria das fortificações tinha passado assim a controlar todas as
obras do vasto império português, distribuindo regimentos, directivas e
plantas por todos os engenheiros militares, recebendo depois as várias
propostas e respondendo com as suas correcções. Data assim dos mea-
dos e finais do século XVI a internacionalização do maneirismo inter-
nacional, numa divulgação até então nunca atingida, podendo dizer-se
que pela primeira vez na história internacional, foi possível divulgar
directivas arquitectónicas e urbanísticas quase à escala universal.
As alterações da Restauração de 1640
A situação estratégica e política portuguesa ao longo do século XVI e início
do XVII não afectou a pacata Almeida, primeiro, porque as grandes directi-
vas da expansão e dos interesses portugueses estavam virados para as novas
conquistas e domínios ultramarinos e, em segundo, porque todo o século
XVI registou no contexto da península uma perfeita aproximação dos reinos
de Portugal e Castela, levando, inclusivamente, as duas coroas a terem o mes-
mo rei nos finais do século. A segurança das fronteiras entre um e outro reino
não foi assim questão que se colocasse. A situação, no entanto, viria a mudar
radicalmente em 1640 com a separação das duas Coroas.
Com a aclamação de D. João IV em Dezembro de 1640 abriu-se um
novo quadro político-militar, onde a principal preocupação foi a afir-
mação da soberania sobre o território metropolitano, levando, inclu-
sivamente, a que toda a situação dos restantes domínios ultramarinos
passasse quase para um segundo plano. Para o controlo das principais
medidas militares constituiu-se o Conselho da Guerra, órgão formado
por homens de franca experiência castrense. Os conselheiros trabalha-
vam no Paço e preparavam consultas de carácter militar, que subme-
tiam à decisão do Monarca. Este Conselho recebia também os decretos
e outras resoluções reais para efeitos de execução, como sejam as no-
meações de oficiais e alistamento de tropas, projectos de arranjo das
fortificações e outras matérias, que se prendiam à organização militar.
151
a military potency, which already has “a great Italian war engineer able
to fight fortress”, as was then informed in Lisbon.
The movements of international technicians were still a problem, be-
cause it opposed local constructive practical sense, which has grown
stronger over the years, to new theoretical conceptions of international
fortifications. The Italian technicians were only passing by and were
completely unaware of local realities, creating continuous problems
with the supervisors and, often, they were poorly received, as happened
to Pompeu Arditi and Tomás Benedito in Mazagan, a visit that motivat-
ed a complaint by the Governor stating that the Portuguese technicians
located there were as or more competent than the Italian engineers.
The “Manager” of fortification thus began to control the works in the entire
and vast Portuguese empire, distributing ordinances, directions and plants to
military engineers, later receiving some proposal and answering back with
their corrections. Therefore, in the middle and late 16th century, the interna-
tionalisation of international mannerism began and, in a never before wit-
nessed divulgation process, even on international history, it became possible
to publicize architectonical and urban instructions, almost on a global scale.
The alterations of 1640’s Restoration
The Portuguese strategic and political situation throughout the 16th cen-
tury and early 17th century went by without affecting quiet Almeida first
because the great instructions for the Portuguese expansion and inter-
ests were focused on new overseas conquests and domains and then
because the 17th century was witness, within the Peninsula, to a perfect
approach between the kingdoms of Portugal and Castile, which even
culminated in both kingdoms sharing the same king at the end of the
century. Thus, the issue of frontier safety between one kingdom and the
other was not even a problem. This situation, however, would radically
change on 1649, with the separation between both Crowns.
With King João IV acclamation on December 1640, a new political-
military framework was opened, where the main concern was affirming
the sovereignty over the metropolitan territory, putting the entire situ-
ation of the overseas colonies out of active consideration. To control
some of the major military policies, a War Council was instituted, a
body formed by men with an ample experience in warfare. The coun-
 O Governador de Praças, tradução portuguesa do Tratado de Antoine de Ville
O Governador de Praças, portuguese translation of the Treaty by Antoine de Ville
As primeiras directivas foram assim para a reforma em larga escala do sistema
defensivo continental europeu, com uma ampla campanha de fortificação da
raia terrestre, à época ainda com castelos medievais, principalmente na frontei-
ra mais exposta: a alentejana e a beirã, mas também nas zonas vitais de Lisboa
e do Porto, assim como a reformulação das principais fortificações ao longo
da restante costa. O território continental foi dividido em províncias militares,
concentrando assim nas sedes de governo de armas os principais meios. Para
a província da Beira foi de imediato nomeado um governador, D. Álvaro de
Abranches e um dos principais esforços foi a nova fortificação de Almeida, tra-
balho então entregue ao tenente-coronel de Cavalaria João Saldanha e Sousa.
Para este vasto esforço foram chamados a Portugal vários engenheiros
militares franceses e holandeses. Os primeiros técnicos a que se recorreu
foram os padres jesuítas e professores no colégio de Santo Antão, Simão
Fallonio e João Pascásio Cosmander, encarregados dos primeiros projec-
tos de fortificação. O padre Simão Fallonio teria ficado essencialmente
em Lisboa a coordenar os primeiros trabalhos, tendo o padre Cosman-
der sido enviado para as praças do Alentejo, onde foi assistido por Jean
Gillot, contratado em 1641. Sendo ambos oriundos da Flandres, Gillot
deve ter sido contratado por indicação daquele padre jesuíta, talvez pela
fama de que gozava de ter sido discípulo de Descartes.
Em finais de 1641 também se teria contratado o engenheiro francês Char-
les Lassart, que em Fevereiro do ano seguinte vistoriava a fortificação
de Lisboa, sendo nomeado engenheiro-mor em Março e seguindo pouco
depois para o Alentejo. Igualmente para o Alentejo e entre muitos outros,
ainda seria contratado outro engenheiro francês, Nicolau de Langres,
onde se haveria de confrontar com o padre Cosmander e ambos com o
engenheiro-mor. Em causa estavam os desenhos para os perfis das novas
cinturas abaluartadas das principais praças fronteiriças e as enormes des-
pesas que as mesmas acarretavam. Alguns destes engenheiros acabariam
por morrer em combate e entre Vila Viçosa, Badajoz e Olivença, onde
trabalhavam. Acresce que Cosmander e Langres foram mortos ao serviço
de Castela, para onde se tinham transferido, enquanto Gillot morreu ao
serviço de Portugal, em 1657, demonstrando assim a fragilidade e o peri-
go do contrato destes mercenários.
Os principais projectos de fortificação foram assim entregues a técnicos
estrangeiros, embora o seu acompanhamento tivesse sido levado a efeito
de colaboração com portugueses. Como seria de esperar os confrontos fo-
ram imensos, não só com os governos de armas das diversas províncias,
colocados perante megalómanas obras para as quais não havia disponi-
bilidades económicas para a sua concretização, como entre os próprios
técnicos, muitas vezes enfeudados a puras questões de prestígio pessoal.
Acrescia ainda que a maior parte destas obras envolviam pesados cus-
tos para as populações locais, com largas expropriações e demolições de
tecido urbano, assim como com a cativação de largas faixas de terrenos
limítrofes de cultivo, a partir de então sujeitos a serventias militares.
Com a implantação da dinastia de Bragança, logo em 1641 passou a
trabalhar no Paço o então cosmógrafo Luís Serrão Pimentel, antigo alu-
no do colégio de Santo Antão e, por decreto de 13 de Maio desse ano,
foi instituída uma Aula de Artilharia e Esquadria e, a 12 de Julho de
1647, uma aula de fortificação, então designada Aula de Fortificação e
Architectura Militar. Esta Aula começou por funcionar entre as trasei-
ras do Paço Real e a Ribeira das Naus, mas pouco depois, entre 1651 e
1675, a aula passaria a designar-se Academia Militar da Corte.
cillors worked on the Palace and prepared military proposals that were
later put for the monarch’s approval. This Council also received the
decrees and other royal resolutions that needed to be performed, such
as the nomination of officials and troops enlistments, fortification repair
projects and other subjects also related to military organization.
The first instructions were, therefore, made towards the large scale re-
form of the European continental defensive system, with a broad cam-
paign of fortification of land frontier¸ which still featured, at the time,
medieval castles, particularly on the more exposed frontier: in Alentejo
and Beiras, but also in vital areas such as Lisbon and Porto, as well as
the reformulation of the rest of the main coastal fortifications. Continen-
tal territory was divided into military provinces, thus focusing the main
means on the headquarters of the government of arms. A governor was
immediately nominated for Beira’s province, D. Álvaro de Abranches,
and one of the main efforts was a new fortification in Almeida, a work
then given to Lieutenant-Colonel of Cavalry João Saldanha e Sousa.
Towards this vast effort, several French and Dutch military engineers
were summoned to Portugal. The first technicians being consulted were
the Jesuits priests and the teachers of Colégio de Santo Antão, Simão
152
Luís Serrão Pimentel foi nomeado para reger a Aula de Fortificação e Ar-
quitectura Militar em 1647, vindo a editar no fim da vida o material reco-
lhido para as suas aulas, pronto para publicação em 1678, quando faleceu
por acidente e onde constam apostinhas de lições, orçamentos, pareceres
sobre obras e críticas aos engenheiros militares estrangeiros. A ideia era a
criação de um método lusitano de fortificação, de certa forma original, no
que não teria sido muito bem sucedido, dada a amálgama de dados apre-
sentada. No entanto, não deixa de apresentar em linhas gerais a originalida-
de dos métodos portugueses, capazes de beber na experiência dos demais,
adaptando-se continuamente a novas situações, ao contrário da maioria dos
especialistas internacionais, que pretendiam alterar as condições locais para
implantação dos modelos teóricos de que eram portadores.
As congéneres aulas jesuítas no colégio de Santo Antão mantiveram-se, en-
tretanto, leccionaram ao longo desse século o já citada padre Simão Fallo-
nio, autor da fortaleza de Santiago de Sesimbra, em 1642 e do Compendio
spiculativo das Spheras Arteficial,..., editado em Lisboa, no ano de 1639,
assim como mais tarde o padre Luis Gonzaga, autor do Tratado da Archi-
tectura Militar, “Mandado ditar por ordem do Augustim. Dom Pedro 2º em
sm. de Sto. Antão e mandado ensinar a todos os seus filhos”.
A construção da nova Praça-forte de Almeida
O projecto de fortificação de Almeida, que deve ter sido iniciado logo
pelos anos 40, com o governador de armas conde de Abranches e o
mestre de campo Fernão Teles Cotão, tendo o inicial projecto de João
Saldanha e Sousa sido depois reformulado por Charles Lassart e regis-
tando a obra também a presença de um outro engenheiro francês, Pierre
Jules de Saint-Paul. As dificuldades foram, por certo, muitas e não só de
verbas, pelo que numa informação do conde de Mesquitela, em 1661,
era apontado que a fortificação ainda não possuía fosso, assim como a
vila ainda não estava toda amuralhada, o que só deve ter acontecido nos
anos seguintes. Nos anos seguintes as obras de Almeida prosseguiram
em ritmo mais acelerado, tendo o engenheiro Pierre Jules de Saint-Paul,
entretanto, sido substituído por Diogo Truell, que se manteria à frente
das obras por 15 anos. Seria então substituído por Jerónimo Velho de
Azevedo, que ficaria em Almeida até pouco depois de 1701, assistindo
à destruição parcial da praça com a explosão corrida em 1695.
153
Quartel das Esquadras. Século XVIII
Barracks, 18th century
Fallonio and João Pascásio Cosmander, in charge of the first fortification
projects. Father Simão Fallonio was essentially in Lisbon supervising the
first works, while father Cosmander was sent to the strongholds in Alen-
tejo, where Jean Gillot, hired in 1641, assisted him. Being that both came
from Flanders, Gillot would have been appointed by that Jesuits priest,
maybe because he was known for being a disciple of Descartes.
At the end of 1641, the French engineer Charles Lassart was also hired, who
on February of the following year was supervising Lisbon’s fortification,
being appointed Chief Engineer in March and, after a while, he departed
to Alentejo. Another French engineer, among many others, was also hired
for Alentejo – Nicolau de Langres – where he had an argument with priest
Cosmander and both with the chief engineer. The cause was the sketches
for the profiles of the new bulwarked belts of the main frontier strongholds
and the enormous costs they represented. Some of these engineers would
end up killed in battle, between Vila Viçosa, Badajoz and Olivença, where
they worked. One must also add that Cosmander and Langres were killed
while working for Castile, to where they were transferred after Gillot was
killed while working for Portugal, in 1657, thus demonstrating the frailty
and peril associated with the contracting of these mercenaries.
The main fortification projects were, thus, handed to foreign techni-
cians, although their follow-up was made with the Portuguese collabo-
ration. As expected, the confrontations were enormous, not only with
the governments of arms of different provinces, faced with megalo-
maniac works which simply couldn’t be afforded, but also within the
technicians themselves, many times related to mere issues of personal
prestige. One might also add that the majority of these works involved
heavy costs for the locals, with large land expropriations and demoli-
tions on the urban fabric, as well as the capture of large strips of the sur-
rounding farming fields, subjected, from then on, to military services.
With the implementation of the House of Braganza, in 1641, the then cos-
mographer Luís Serrão Pimentel, a former student of the Colégio de Santo
Antão, started working on the Palace and, by a decree of 13th of May of
the same year, a Class on Artillery and Framing was instituted and, on 12th
July 1647, a class on fortification, back then called Class on Fortification
and Military Architecture. This Class started off by functioning at the back
of the Royal Palace and on Ribeira das Naus, but a little after that, between
1651 and 1675, the class started to be called Court’s Military Academy.
Luís Serrão Pimentel was nominated to regulate the Class on Fortification and
Military Architecture in 1647, later, at the end of his life, editing the material
he collected for his classes, which was ready to be published in 1678, when
he was killed in an accident, and contained lessons’ annotation, budgets, opin-
ions on works and critiques to foreign military architectures. The idea was to
create a Lusitanian method of fortification, somewhat original, which wasn’t
very successful, considering the amalgam of presented data. Nevertheless, it
still presents, in broad notions, the originality of Portuguese methods, able to
retrieve the experience of others, being continuously adapted to new situations,
as opposed to the majority of international experts, which always wanted to
change local conditions to implement the theoretical models they carried.
The homologous Jesuits classes in Colégio de Santo Antão were kept and,
throughout the centuries, many were the teachers: the already mentioned
priest Simão Fallonio, author of the fortress of Santiago in Sesimbra, in
1642, and of Compendio spiculativo das Spheras Arteficial, edited in Lisbon
on 1639, and, later, priest Luis Gonzaga, author of Tratado da Architectura
O projecto seguiu as grandes linhas da fortificação abaluartada interna-
cional, com um polígono de seis lados, rematado por seis baluartes que
formam uma estrela quase regular e envolvem a antiga povoação, mas
adaptando-se muito bem ao terreno e mantendo no interior, inclusiva-
mente, o antigo castelo tardo-medieval, que passou a funcionar como
cidadela. Foram utilizados vários projectos de autores internacionais,
como, muito provavelmente, de Antoine Deville, dadas as semelhanças
das portas levantadas com alguns desenhos do mesmo técnico francês.
O projecto geral, no entanto, foi de vários técnicos, como sempre acon-
tecia, sofrendo ainda alterações nas épocas seguintes.
Ao longo da segunda metade do século XVII foram assim chamados a
Portugal inúmeros técnicos militares e as obras produzidas devem ter sido
efectivamente inovadoras, pois não só o país veio a resistir às sucessivas
invasões espanholas, como algumas plantas das obras levadas a cabo pas-
saram a figurar nos principais trabalhos então editados em França. Entre
1642 e 1643 esteve em Portugal o marechal de campo francês Blaise
François de Pagan (autor de Les Fortifications du Comte de Pagan, Paris,
1645), assim como mais tarde, Allain Manesson Mallet, também francês,
onde teria sido “Ingenieur des Champs & Armées du Roy de Portugal,
nomé Sergent Major d’Artilherie dans la Province d’Alentejo”, como de-
pois se intitulou, tendo editado ambos os trabalhos que viram em Portu-
gal, sinal de serem então o que de mais actualizado se fazia.
As linhas gerais das fortificações levantadas encontram-se dentro das direc-
tivas da escola holandesa, na qual à época se filiava a escola de fortificação
francesa, mas adaptados localmente pelos técnicos portugueses, na sequên-
cia de uma longa prática de fortificação que vinha do século anterior. Ao
longo da segunda metade do século XVII a fortificação francesa foi incor-
porando as inovações holandesas, depois teorizadas pelo célebre Sebastian
Le Preste, marquês de Vauban, nos seus trabalhos de 1680 e 1706. As forti-
ficações levantadas, especialmente na fronteira portuguesa da Beira, como
é exemplo a praça-forte de Almeida, mas também na do Alentejo, como
Beja, Campo Maior e Elvas, apresentam assim características mistas das
chamadas escolas holandesa e francesa, mas e ao mesmo tempo, uma certa
flexibilidade e adaptação ao terreno específicas da tradição portuguesa.
As reformas dos finais do século XVII e ao longo do XVIII
Nos finais do século XVII uma explosão destruíra parcialmente as muralhas
de Almeida, obrigando à reformulação de toda a cintura, embora se man-
tivessem algumas das obras anteriores, como parte das portas. O início da
reconstrução, no entanto, deve datar de alguns anos depois, na sequência do
decreto de 24 de Dezembro de 1732, que criou a academia militar de Almei-
da. A campanha de obras deve ter tido início em 1735, tendo para tal estado
na praça-forte o engenheiro-mor Reino Manuel de Azevedo Fortes, principal
responsável pela reformulação e cujo projecto foi então passado ao papel por
um dos seus adjuntos, José Fernandes Pinto de Alpoim, depois um dos mais
influentes engenheiros da época seguinte no Norte de Portugal.
A importância de Almeida para a corte portuguesa levou mesmo à estadia ali
por oito meses do Engenheiro-Mor, entre 1737 e 1738, embora em 1747 sai-
bamos que as obras ainda não estivessem terminadas. A engenharia militar e
a fortificação foram lideradas nos inícios do século XVIII pela figura de Ma-
nuel de Azevedo Fortes, que estudara em Espanha, no Colégio Imperial de
Militar, “The dictation of which was ordered by Augustim. Dom Pedro 2nd in
Santa Maria de Sto. Antão and ordered to be taught to all his children.”
The construction of the new Stronghold in Almeida
The project of fortification of Almeida, probably initiated during the 40s,
with Conde de Abranches, as the Governor of arms, and Fernão Teles
Cotão, as the field master, being that the initial project by João Saldanha e
Sousa was later reformulated by Charles Lassart; the presence of another
French engineer should also be noted - Pierre Jules de Saint-Paul. The
difficulties were plenty, for certain; not only related to money, since that
in information coming directly from Conde de Mesquitela in 1661, it was
said that the fortification still didn’t have a ditch and the village was not
yet walled, which only happened in the following years. On the following
years, Almeida’s works registered a faster pace, being that the engineer
Pierre Jules de Saint-Paul was replaced by Diogo Truell, who would be in
charge of the works for 15 years. He then was replaced by Jerónimo Velho
de Azevedo, who would remain in Almeida until 1701, having witnessed
the partial destruction of the stronghold during the 1695’s explosion.
The projected obeyed the great guidelines of international bulwarked for-
tification, with a six-side polygon, closed by six bulwarks forming an
almost regular star and involving the ancient hamlet, while being very
well adapted to the terrain and keeping inside the ancient Late medieval
castle, which began to function as a citadel. Several projects by interna-
tional authors were used, as, quite probably, of Antoine Deville, given the
similarities of the doors with some drawing by the French technician. The Madrid e na Universidade de Alcalá, seguindo para França, onde frequentou The reforms of late 17th century and throughout the 18th century
general project was, nevertheless, by several technicians, as they always a Universidade de Paris e daí para Itália, onde chegou a concorrer e ser aceite
were, suffering further alterations in the following periods of time. na cadeira de Filosofia da Universidade de Siena. Regressado a Portugal, At the end of the 17th century, an explosion would partially destroy Almei-
During the second half of the 17th century, several military technicians sucedeu em 1720 a Serrão Pimentel no cargo de engenheiro-mor do Reino. da’s walls, thus imposing a reformulation of the entire belt, although some
were, therefore, summoned unto Portugal and the works produced must Estabelecida a paz com Castela, quase nos finais do século XVII, os in- elements of previous works were kept, such as part of the doors. The be-
have been effectively innovative, because not only the country was able teresses portugueses tinham-se voltado essencialmente para o Brasil e ginning of the reconstruction, nevertheless, dates back to a few years later,
to resist the successive Spanish invasion attempts, some of the work plans para a tentativa de manutenção das fantásticas fronteiras desenhadas pela after the decree of the 24th December 1732 was published, which created
were also now featured on the main French publications. Between 1642 expansão bandeirante e que definiam para Portugal um terço da América Almeida’s military academy. The work campaign should have begun on
and 1643, the French field marshal Blaise François de Pagan (author of Latina. Vai ser essencialmente nesse quadro que se vai desenvolver a en- 1735 and, for that reason, the Chief engineer of the Kingdom – Manuel de
Les Fortifications du Comte de Pagan, Paris, 1645) was in Portugal, and genharia e a arquitectura militar portuguesas, o que teve depois importan- Azevedo Fortes – was present in the stronghold, who was the main respon-
later it was Allain Manesson Mallet’s turn, also French, where he would tes reflexos no entendimento do território continental português. sible for the reform and whose project was then put into paper by one of his
have been “Ingenieur des Champs & Armées du Roy de Portugal, nomé Data assim da época de D. Pedro II e depois do engenheiro-mor Manuel assistants, José Fernandes Pinto de Alpoim, who later became one of the
Sergent Major d’Artilherie dans la Province d’Alentejo”, as he later de Azevedo Fortes a alteração fundamental da prática do ensino em geral most influent engineers in the following years in the North of Portugal.
called himself, having published both works they saw in Portugal, which e da fortificação e do urbanismo português, que passa da anterior “cultura Almeida was so important to the Portuguese Crown that the Chief en-
is a clear signal that they were the most modern elements of their time. de latitude” que informara o período anterior, de fixação essencialmente gineer, between 1737 and 1738, stayed there for eight months, although
The general guidelines for built fortifications were according to the instruc- costeira, para uma nova “cultura de longitude”, teorizada como já referido the works weren’t concluded by 1747. Military engineering and for-
tions of the Dutch School, which was at the time affiliated with the school por Jaime Cortesão e onde se iria privilegiar a penetração no imenso territó- tification were lead, in the beginning of the 18th century, by Manuel
of French fortification, but locally adapted by Portuguese technicians, rio ultramarino do Brasil. Essa época era já anunciada militarmente com a de Azevedo Fortes, who had studied in Spain, in Colégio Imperial de
after a long practice of fortification inherited from the previous century. organização da Junta dos Três Estados, da qual passaram a ficar dependen- Madrid and in Universidade de Alcalá, later moving to France, where
Throughout the second half of the 17th century, French fortifications began tes esses assuntos. Seria esta Junta, por exemplo, a determinar a tradução he attended the university in Paris and from there on to Italy, where he
incorporating the Dutch innovations, later theorised by the famous Sebas- e publicação de dois importantes trabalhos dessa área: o Governador de applied and was accepted on the subject of Philosophy in the University
tian Le Preste, marquis de Vauban, in his works of 1680 and 1706. The Praças de Antoinne Deville e o célebre manual de Fortificação de Johann of Siena. After coming back to Portugal, he succeeds, in 1720, to Serrão
built fortifications, particularly on the Portuguese frontier of Beira (a clear Friedrich Pfeffinger, com a compilação dos principais métodos de fortifica- Pimentel on the position of Chief engineer of the Kingdom.
example is the stronghold in Almeida) but also the one of Alentejo (such as ção utilizados na Europa e ainda acompanhado com um glossário. After peace was established with Castile, almost at the end of the 17th
Beja, Campo Maior and Elvas), thus present mixed characteristics from the As traduções e edições na primeira década do século XVIII foram en- century, the Portuguese interests changed their focus unto Brazil and unto
Dutch and French schools, but and at the same time, a certain flexibility and tregues a Azevedo Fortes e a Manuel da Maia, como consta dos proces- the attempt to maintain the fantastic borders drawn during the bandei-
terrain adaptation, very specific of Portuguese tradition. sos individuais de ambos e o formato final de publicação vulgarizou a rante’s expansion and which defined Portugal has being a third of Latin
154 155
uma nova maneira de trabalhar muito mais prática. As edições saíram
em verdadeiros “livros de bolso”, ou manuais e sem especiais luxos
gráficos, anunciando já uma época nova para os engenheiros militares.
Com a instituição da Real Academia da História, em 1721, integrada
por Manuel de Azevedo Fortes, ainda editou, em 1722, o Tratado do
modo mais fácil e o mais exacto de fazer as cartas geográficas, cuja
divulgação teve uma excepcional importância, não só no âmbito da car-
tografia, mas também na do urbanismo em geral. Passou-se de uma
certa dependência dos meios náuticos, bússola e corda, e daí a ligação
do ofício engenheiro-mor ao de cosmógrafo-mor, para a utilização de
outro tipo de meios mais modernos.
No final dessa década editavam-se os dois volumes O Engenheiro Por-
tuguês, em 1728 e 1729, já somente da autoria de Azevedo Fortes e
num formato próximo dos anteriores, deixando-se assim definitivamen-
te os pomposos álbuns de fortificação dos séculos XVI e XVII, para se
passarem a utilizar verdadeiros manuais, capazes de serem manusea-
dos no campo e transportados na mochila. A cópia dos desenhos era um
trabalho amplamente utilizado desde sempre na prática da fortificação,
da arquitectura e do urbanismo, e recomendado nos manuais em causa,
procedimento didáctico essencial em todos os tempos para a compreen-
são da teoria. O reforço dado então a esta prática, indicam que o traba-
lho do engenheiro militar tinha deixado de ser predominantemente de
gabinete, situado nas cidades costeiras e passava para o interior.
A reformulação da praça de Almeida que chegou aos nossos dias é
assim, provavelmente, muito mais devedora do trabalho de Azeredo
Fortes nas primeiras décadas do século XVIII, que das anteriores cam-
panhas de obras e espelha uma outra forma de entender a fortificação
e a urbanização. Em 1744, Azevedo Fortes ainda editou uma Lógica
Racional, Aritmética e Geométrica, dois anos antes do Verdadeiro Mé-
todo de Estudar de António Verney, editado em 1746, sendo já uma ver-
dadeira obra polémica e de fins especificamente didácticos e filosóficos,
combatendo a cada passo a velha lógica escolástica tradicionalmente
ensinada nas escolas jesuítas portuguesas e abrindo caminho para a ex-
tinção da Companhia e para a reforma geral do Ensino em Portugal
empreendida três décadas depois.
Nos meados do século XVIII alteram-se as condições políticas euro-
peias, com a constituição do Pacto de Família, passando, uma vez mais,
a configurar-se novo confronto entre Portugal e Espanha e voltando a
praça-forte de Almeida a constituir uma das principais preocupações de
segurança do território português. Em meados de 1762 chamava-se a
Portugal o conde-reinante Guilherme de Schaumbourg Lippe, que assu-
miu o comando do exército, embora não conseguindo impedir a entrada
de tropas espanholas pela fronteira de Trás-os-Montes e ocupação de
Almeida, que se revelou um dos pontos estratégicos de toda manobra
militar desses meses de guerra.
Com a seguinte reforma do conde de Lippe, surgem a partir do decreto
de 10 de Maio de 1763 aulas de artilharia, sempre associadas à ar-
quitectura militar, nas sedes dos principais regimentos e, a 9 de Maio
de 1764, o conde visitava pessoalmente Almeida para se inteirar das
obras em curso. A praça-forte de Almeida já havia sido objecto de um
relatório do brigadeiro engenheiro João Alexandre de Chermont, em
Maio de 1762, altura em que se critica o complexo caminho de ronda,
revestido de “parapeitos interior e exteriormente de toscas e mortais
America. Within this framework, the Portuguese military engineering
and architecture are developed, which later had important repercussions
on the understanding of the Portuguese continental territory.
Therefore, during King Pedro II and after the Chief engineer Manuel de
Azevedo Fortes, the fundamental alteration in teaching methods, in gen-
eral, and in Portuguese fortification and urbanism takes place, which goes
from the previous “latitude culture”, which shaped the previous period, with
a mainly coastal fixation, towards a new “longitude culture”, theorised by
Jaime Cortesão and privileging the penetration of the immense overseas ter-
ritory of Brazil. This period had already been military announced with the
organisation of the Junta dos Três Estados, which began supervising these
affairs. This Junta was responsible, for example, for the translation and publi-
cation of two important works on this area: Antoinne Deville’s The Governor
of a Fortress and the famous manual on Fortification by Johann Friedrich
Pfeffinger, featuring a collection of the main fortification methods used in
Europe and accompanied by a glossary.
The translations and publications during the first decade of the 18th century
were given to Azevedo Fortes and Manuel da Maia, as stated by the informa-
tion on the individual processes, and the final publication format guaranteed
a new way of working, much more practical. The editions were true “pocket
book”, or manuals, without special design luxuries, already announcing a new
age for military engineers. With the institution of Real Academia da História,
in 1721, of which Manuel de Azevedo Fortes was a member, still published,
in 1722, the Tratado do modo mais fácil e o mais exacto de fazer as cartas
geográficas, the promotion of which had an remarkable importance, not only
on the scope of cartography, but also in urbanism in general. A certain degree
of dependence on nautical means, compass and rope, and, therefore, the con-
nection between the position of Chief Engineer and of Chief Cosmographer,
was abandoned in detriment of the use of other more modern means.
At the end of the decade, two volumes were published – O Engenheiro Portu-
guês – in 1728 and 1729, now only by Azevedo Fortes and in a format close
to the previously published books, thus leaving behind the fancy fortification
albums of the 16th and 17th centuries in detriment of the use of true manuals,
which could be handled on field and carried in a bag. The copy of the draw-
ings had been widely used in fortification, architecture and urbanism and it
was recommended on the manuals being discussed, which is an essential di-
dactical procedure for the understanding of theory. The reinforcement given
to this practice indicates that the work of the military engineer was no longer
done from cabinets on coastal cities, but rather inland.
The reformulation of Almeida’s stronghold, which can be seen today, is prob-
ably a mark of the work of Azevedo Fortes during the first decades of the 18th
century, rather than a mark from the previous work campaigns and it shows
another way of understanding the fortification and the urbanization proc-
ess. In 1744, Azevedo Fortes further published Lógica Racional, Aritmética
e Geométrica, two years before the Método de Estudar of António Verney,
published in 1746, being already a truly polemic work and with specifically
didactic and philosophical purposes, fighting at each step the old scholastic
logic traditionally taught in the Portuguese Jesuit schools and opening the
way for the Company’s extinction and for the general reformulation of Edu-
cation in Portugal, performed three decades later.
In the middle of the 18th century, the European political conditions have
changed, with the constitution of the Pacto de Família, thus arising, once again,
a new confrontation between Portugal and Spain and Almeida’s stronghold
156
alvenarias de pedra e barro e quase rasos”. Mais tarde o marechal de
campo Francisco Mac-Lean citaria que as obras para reparar os estragos
de 1762 já haviam custado mais de vinte e nove contos de réis, a que se
teria então de somar a construção dos novos quartéis e outras então em
curso, vindo ali a trabalhar o engenheiro Jacques Funck, que passaria
no final da década para o Brasil.
A importância de Almeida é patente nos finais do século XVIII com a
presença de uma série de importantes engenheiros ali a trabalharem,
como Anastácio António de Sousa Miranda e Martinho de Sousa Al-
buquerque Alves, assim como em 1801, ali trabalhava Maximiano José
Serra, depois um dos mais importantes engenheiros portugueses das
futuras Linhas de Torres. A fortificação portuguesa dos meados do sé-
culo XVIII, colocada várias vezes à prova numa série de conturbadas
situações políticas e embora nem sempre capaz de responder às amea-
ças colocadas, mostrou-se no entanto sumariamente eficaz. A situação
mudou, no entanto, nos inícios do século seguinte, essencialmente pela
total alteração dos pressupostos políticos para que foram edificadas as
fortificações em causa.
As alterações políticas europeias que levaram à invasão do território na-
cional por desproporcionadas forças conjuntas da França e da Espanha
eram uma premissa que até então não se tinha colocado como possível.
Com a 3.ª Invasão Francesa e a Corte Portuguesa já refugiada no Bra-
sil, os primeiros tiros das forças do general Massena, a 26 de Agosto
de 1810, iriam atingir o velho castelo medieval de Almeida, no qual
estavam os paióis, provocando a destruição quase total do mesmo e,
consequentemente, o colapso da praça-de-guerra. Nos anos seguintes,
no entanto, os estragos viriam a ser minimamente reparados.
Ao longo do século XIX o interesse militar da praça de Almeida foi di-
minuindo progressivamente e, com o mesmo, também o povoamento de
toda esta zona, ligado que estava, directamente, à guarnição da antiga
praça-forte. Este aspecto, no entanto, preservou de certa forma o con-
junto, que não foi assim objecto de especial pressão urbanística, mas, ao
mesmo tempo, também sem o seu total abandono, conseguindo chegar
aos nossos dias num estado de conservação deveras invejável. Basta
comparar-se o seu estado de conservação com a congénere fortaleza
de Nossa Senhora da Conceição, em território castelhano, totalmente
abandonada, para se avaliar o esforço de manutenção dispendido.
157
becoming once again one of the main security concerns on Portuguese terri-
tory. In the middle of 1762, Portugal summoned the reining count Guilherme
de Schaumbourg Lippe, who took control of the army’s command, although
he was not capable of stop the entrance of Spanish troops from the Trás-os-
Montes frontier and the occupation of Almeida, which turned out to be one
of the strategic points of all the military maneuvers in those months of war.
With Lippe’s reform, the decree of 10th of May of 1763 causes the appearance
of artillery classes, always associated with military architecture, in the main
regiments’ headquarters and in 9th of May of 1764, the count visits Almeida to
become aware of the works in progress.Almeida’s stronghold had already been
submitted to a report by Brigadier Engineer João Alexandre de Chermont, in
May 1762, on which the complex watchman path was criticized, with “para-
pets, on the inside and on the outside, made of rough and deadly brickworks
of stone and clay, and almost flat”. Later, the Field-Marshall Francisco Mac-
Lean will quote that the works to repair the wreckage of 1762 had already cost
more than twenty-nine contos de réis, to what one should also add the con-
struction of new barracks and others still in progress, where engineer Jacques
Funck came to work, who would spend the final part of the decade in Brazil.
The importance of Almeida becomes clear at the end of the 18th century,
with the presence of a series of important engineers working there, such as
Anastácio António de Sousa Miranda and Martinho de Sousa Albuquerque
Alves, as well as in 1801, with the presence of Maximiano José Serra, who
would later become one of the most important engineers of the future Lin-
has de Torres. The Portuguese fortification in the middle of the 18th century
was tested for several times in a series of disturbing political situations and,
although it failed to respond to all threats, it showed, nevertheless, to be sum-
marily effective. This situation was, nevertheless, changed in the beginning
of the following century, especially as a consequence of the complete shift on
the political assumptions that first built those fortifications.
The European political alterations, which led to the invasion of the national
territory by the disproportioned joint armies of France and Spain, were a
premise considered impossible until that time. With the 3rd French Invasion,
having the Portuguese Court already fled to Brazil, the first shots of General
Massena’s troops, on 26th August 1810, would hit the ancient medieval cas-
tle of Almeida, where the magazines were located, almost causing the entire
destruction of the site and, as a consequence, the collapse of the stronghold.
During the following years, however, the damages were minimally repaired.
Throughout the 19th century, the military interest of Almeida’s fortress progres-
sively diminished and the hamlet also grew smaller, which was directly con-
nected to the garrison of the old fortress. Nevertheless, the set was somehow
preserved by this reason, not being the object of a special urban pressure but,
at the same time, without being completely abandoned, enduring until now in
a truly remarkable preservation state. A comparison with the preservation state
of its homologous fortress of Nossa Senhora da Conceição, in Spain, now com-
pletely abandoned, is enough to assess the efforts spent with its maintenance.
Historiador – Professor Catedrático da Universidade da Madeira
Historian – Chair Professor of the University of Madeira
3.9 Portugal tem uma “estrela”
Rui Ramos Loza
De maior poder destrutivo que os canhões das tropas napoleónicas é o
poder do abandono e do esquecimento.
Quinze tópicos para uma reflexão em sete andamentos:
1 – O valor patrimonial da estrela
2 – Numa “rota de invasões”
3 – O património como recurso – da guerra á paz
4 – Uma estrela no Côa
5 – Dentro da estrela – Almeida
6 – Uma ideia forte – uma ideia com fortaleza
7 – Uma estrela portuguesa no mundo.
A “Estrela” de Almeida
1 – O valor patrimonial da estrela
O valor de Almeida como fortaleza abaluartada, com forma de uma
estrela de definição geométrica rigorosa, integra um grande número de
parâmetros significativos.
Não só a sua geometria e arquitectura, mas também a sua paisagem e
localização, a sua história militar o seu passado remoto, o valor do edifi-
cado que encerra, entre muitos outros aspectos intrínsecos e de relação,
influem fortemente no valor deste bem patrimonial que é o monumento
abaluartado de Almeida.
2 – Uma localização criteriosa
Olhando as cordilheiras da península, entre Guadarrama e as alturas
Cantábricas das Astúrias, abre-se um corredor. Um corredor de rios e
de povos que formam a bacia do Douro.
Com as suas margens planas e os vales dos seus afluentes, este território
geográfico coincide, quase rigorosamente, com Castilla /Léon.
Nas suas cabeceiras o Douro aproxima-se do Ebro e, assim, os dois rios
criaram o continuum de espaços que liga a meseta, inclinada para o
Atlântico com a vertente mediterrânica.
Este é um corredor de invasões, de exércitos e de povos, ao longo da
pré-história, da história e da actualidade.
É por aqui que circulam as mercadorias portuguesas no seu percurso
terrestre para todo continente europeu. É por aqui que circulam os emi-
grantes que desde há muitas décadas trabalham na França, na Alema-
nha, no Luxemburgo, na Suíça, nas suas peregrinações anuais á pátria.
É também por aqui que passam muitos dos turistas que usam a via ter-
restre para percorrer a Europa e a Península com destino a Portugal.
Aqui, mesmo ao lado da Estrela de Almeida, e ainda dentro do mesmo
município, Vilar Formoso, que hoje já não é fronteira, foi durante déca-
das o posto de passagem (e paragem) obrigatório do principal canal de
fluxos terrestres entre Portugal e o Mundo.
Almeida não está aqui por acaso!
Almeida está aqui, porque aqui é a porta de Portugal e as portas têm de
ser assinaladas, guardadas e protegidas. Claro que Portugal tem outras
portas, em Lisboa, no Porto (e noutros portos) tem portas de mar e,
noutros caminhos, tem outras portas do lado de terra, como em Cha-
ves e em Elvas, mas, no caminho mais curto entre Irum e Lisboa fica
Almeida.
159
3.9 PORTUGAL HAS A “STAR”
Rui Ramos Loza
More powerful for destruction than the Napoleonic cannons is the pow-
er of abandon and forgetfulness.
Fifteen topics for a reflection in seven moves
1 – The value of the star
2 – In the “Invasions” route
3 –Heritage as a resource – from war to peace
4 – A star in the Côa valley
5 – Inside the star - Almeida
6 – A strong idea – an idea with fortress
7 – A Portuguese star to the world.
THE “STAR” OF Almeida
1 – The value of the star
The value of Almeida as a bulwarked fortification, shaped as a star of
a rigorous geometrical definition, mainly integrates a large number of
significant parameters.
Geometry and architecture, but also landscape, the placement, its military
history, its remote past, and the value it contains inside walls, among
many other aspects, strongly influence the value of this heritage place.
2 – The very special place for a star
Looking at the Peninsulas’ mountain ranges, from Guadarrama to the
Cantabrian heights of Asturias, a corridor is opened. A corridor of riv-
ers and peoples forming Douro’s basin. With its flattened banks and
tributaries’ valleys, this geographical territory is almost coincident with
Castile/León.
On its source, Douro gets close to Ebro and, hence, both rivers create a
continuum space connecting the Meseta, leaning towards the Atlantic,
with the Mediterranean region.
This is a corridor of invasions, of peoples and of armies, throughout
Prehistory, History and current times.
This is the route through which Portuguese goods take their terrestrial
path to the European continent. This is the route used by immigrants,
who, for many decades, work in France, Germany, Luxembourg, Swit-
zerland, in their annual pilgrimage to their homeland. Also through here
come many of the tourists who travel by land throughout Europe to
reach Portugal.
Almeida is not here by any hazard!
Almeida is here because it is the gate of Portugal, and gates must be
visible and protected. Portugal has, of course, other doors, in Lisbon, in
Porto and in other ports with sea gates and, in other routes, it has land
doors, such as Chaves and Elvas, but between them the shortest path
from Irun to Lisbon is Almeida.
For being such a vulnerable point on the territory’s natural geography,
Portugal needed to implement here an ever more strong reference of
the entry place, of the boundary to be trespassed only by those who are
welcomed.
The fortress with its magnificent doors opened is a welcoming star, but,
with its doors closed, whenever needed, was a serious and effective
warning on the entry’s sovereignty on the country.
Sabemos nós isso, mas sabia-o também Massena, na rota de tantos ou-
tros condutores das tropas e dos povos que assaltaram a península na
idade do bronze ou depois da queda do Império Romano.
Sabiam também a importância desta rota portugueses e castelhanos
sempre que a história nos empurrou para as guerras da independência
ou da restauração.
Por ser um ponto vulnerável na geografia natural do território foi necessário
Portugal implantar aqui uma referencia cada vez mais forte do lugar de en-
trada, do limite daquilo que só pode ser transposto por quem é bem vindo.
A fortaleza com as suas magníficas portas abertas é uma estrela de aco-
lhimento e de chegada ou de partida, mas com as suas portas fechadas,
sempre que foi preciso, constituiu um aviso sério e eficaz de domínio
da entrada no país.
3 - Numa “Rota de Invasões”
Antes, as invasões de tropas inimigas, no futuro as de amigos, curiosos,
visitantes e turistas.
Olhando a Ibéria, enquanto macro-espaço peninsular, e os seus sistemas
orográficos e hídricos, podemos encontrar alguns “corredores” propí-
cios á progressão para oeste de qualquer formação que provenha das
passagens oriental ou ocidental pirenaicas.
Tendo a Norte e a Sul cordilheiras importantes, o vale do Douro é, como
já foi referido, um dos corredores mais tensos entre o litoral português e
a passagem Basca ou Catalã.
Mas na Fronteira Portuguesa o Douro deixa de ser um vale aberto para
se tornar num canhão de arribas intransponíveis. Fica, assim, vedada a
entrada por esses cerca de cem quilómetros de fronteira molhada.
Mais a Sul o Tejo “repete”, de certo modo, o obstáculo, restando como
abertura franca do reino a raia seca entre esses dois rios principais. O
mesmo acontece nos troços finais do Minho e do Guadiana.
Para os limites do reino português, desenhados a fio de espada no nas-
cimento da nacionalidade, foi imperioso acompanhar essas linhas de
fronteira por fortificações acasteladas que garantissem a vigilância, o
controle e o combate permanentes face ao vizinho/inimigo. Dessa linha
de castelos medievais ficaram memórias, vestígios e existências que
testemunham a sua importância.
Do mesmo modo como se defendeu a costa de invasores e piratas também
se defendeu essa realidade histórica que é a mais velha fronteira estável
da Europa, resistente a alterações significativas desde há oito séculos.
A sua demarcação e o seu reconhecimento no terreno dependiam, ob-
viamente, da existência desses castelos, que, em geral, se viam de uns
para os outros e podiam acorrer, sempre que justificadamente chama-
dos, em socorro mútuo e colectivo.
Deste sistema de vigilância e defesa ressaltam três pontos de especial
relevância, tanto na Idade Média como mais tarde:
Primeiro Chaves, entre o Minho e o Douro, segundo Almeida, entre o
Douro e o Tejo e terceiro Elvas, entre o Tejo e o Guadiana. Outros cas-
telos, praças e fortalezas, vilas e cidades completavam a rede dos locais
fronteiriços contra Espanha, desde o século XII.
A estrela de Almeida, “aparece” assim, sobre esta linha, num dos troços
mais abertos da fronteira portuguesa, não só perante incursões caste-
lhanas como perante invasões que pudessem vir da Europa trans-pire-
naica.
3 – In the “Invasions” route
Before, the invasions of enemy troops!
Now and in the future, the invasions of friends, curious, visitors and
tourists.
Being surrounded to the North and South by important mountain ranges,
Douro’s valley is one of the tensest corridors between the Portuguese
Coast and the Basque or Catalan passage.
But on the Portuguese Border, the Douro ceases to be an open valley
to become a canyon with insuperable slopes. The entry made by these
nearly one hundred kilometres of wet border is, therefore, prohibited.
To the south, Tejo “repeats”, in some way, the obstacle, which means
that the free entrance on the kingdom could only be made by the dry
frontier between these two main rivers. The same happens in the final
parts of Minho and of Guadiana.
Towards the limits of the Portuguese kingdom, designed at the end of
a sword during the birth of the nation, it was imperative to accompany
these borderlines with castled fortifications, in order to ensure the mon-
itoring, control and fight against the permanent neighbour / enemy.
From this line of medieval castles, memories, vestiges and existences
are left, that testify to its importance.
As the coast was defended from pirates and invaders, this historical
reality was also defended, which is the oldest European stable frontier,
resisting to significant changes for eight centuries.
Its delimitation and its recognition on the field were obviously dependent of
the existence of such castles, which, in general, saw each another and which
could response, when properly called, to mutual or collective distress calls.
Of this system of surveillance and defence, three points of particular
importance can be highlighted, both in the Middle Ages and later:
First Chaves, between Minho and Douro rivers, then Almeida, between
Douro and Tejo rivers, and thirdly Elvas, between Tejo and Guadiana
Rivers. Other castles, citadels and fortresses, villages and cities complet-
ed the network of border location against Spain, since the 12th century.
Almeida’s star thus appears over this line, in one of the most open part
of the Portuguese frontier, not only open to Castilian incursions but also
to invasion, which might come from the Trans-Pyrenees Europe.
On the main Portuguese land frontier, epicentre to Porto and Lisbon,
Almeida inherited its strategic location.
Being, as it is, on an Iberian and European travel route, it is worth to put
an emphasis on this star, on its role of marking the entry, to welcome, to
welcome and inform those who enter and exit.
Almeida, with its high architectural and heritage value, might and
should be a milestone to exhibit the historical and cultural frontier
which still endures, even after the customs and the political frontiers
have collapsed.
4 - Noticeable Medieval records
There was already a castle before the star.
Since our national boundary was born, since the independence was con-
quered by Afonso Henriques the boundary line of the limits with León
and then with Castile begins to be drawn and defended with a line of
castles, from Minho to Guadiana.
The independence and the settlement of terrestrial borders are two in-
separable actions, with the need for political and military intervention
160
4 - Antecedentes medievais de relevo
Já havia castelo antes da estrela
Desde o nascimento da nossa fronteira nacional, desde a independência
conquistada por Afonso Henriques, que a corda dos limites com Leão
e depois com Castela se vai desenhando e defendendo com uma linha
de castelos desde o Minho ao Guadiana, marcada, sobretudo pelas rea-
lizações de templários, hospitalários e outras ordens militares, e depois
pela coroa sob D. Dinis.
A independência e a marcação da fronteira terrestre são dois actos in-
dissociáveis, com especial necessidade de intervenção política e militar
nos tramos onde a geografia natural menos ajudava a partir limites.
Toda esta raia seca entre o Douro Internacional e o Tejo está guarnecida
por um alinhamento de castelos erguidos na primeira dinastia, distantes
de poucas léguas uns dos outros, nunca a mais de uma jornada de via-
gem a pé ou de uma possibilidade de “ida e volta” a cavalo.
Este dimensionamento do território, apropriado para os meios de desloca-
ção e de guerra medievais vai marcar a nossa malha urbana até á actualida-
de, e a maior parte dos centros urbanos fronteiriços, de primeira e de segun-
da linhas, ainda preserva (e exibe) pelo menos em parte, os seus castelos.
No século XVI o castelo é redesenhado e acrescido, já com preocupações
determinadas pelo surgimento da artilharia. De facto, a mudança dos meios
militares leva á reconstrução, no mesmo local, de uma obra renascentista
que incorpora os avanços da engenharia militar do período manuelino.
Assim se reafirma a importância deste lugar como porta que tem de ser guar-
dada, parando qualquer tentativa de assalto ao reino por parte de Castela.
Mas o progresso da engenharia militar não cessa de produzir novos
modelos e com a prolongada guerra da independência que se segue á
restauração de 1640, Almeida assume um papel determinante, agora
num contexto de pleno desenvolvimento das técnicas de construção
abaluartada, já que a artilharia pesada, nascida no mar a bordo das naus
e caravelas portuguesas, sobretudo desde D.João II, com especial im-
portância em todo o Índico, a partir de quinhentos, adquire uma impor-
tância determinante em terra com a construção de fortalezas concebida
para a eficaz operação dos campos de tiro da pirobalística pesada.
Nesta fase, o raio de acção e a influência deste tipo de grandes bases
estratégicas, substitui a rede de proximidade dos castelos medievais e
concentra importantes meios militares, profissionalizados, com capaci-
dade de dissuasão, de intervenção e de reacção rápida.
Almeida, concentra, assim, o papel de numerosas praças medievais, e
guarda toda a linha da frente entre o Douro e o Tejo, com a especial mis-
são de fechar a “porta” que dá acesso ao “corredor” do Mondego, única
passagem entre as cordilheiras da Serra da Estrela e do maciço que vai
da Lapa ao Caramulo com Leomil, Montemuro e Freita, que, no fundo,
separa a bacia hídrica do Douro das do Vouga e do Mondego.
O castelo que existia antes da fortaleza e que ficou dentro dela, de plan-
ta trapezoidal e torreões redondos nos quatro encontros das cortinas,
reconstruído no tempo de D. Manuel I, foi destruído durante a terceira
invasão napoleónica, conduzida por Massena, vítima de uma mega ex-
plosão porque abrigava o principal paiol da praça e foi atingido pelo
bombardeamento dos sitiantes.
No plano arqueológico o castelo de Almeida está presente e identificá-
vel na sua geometria, nos fossos e na qualidade do aparelho de pedra da
sua construção com enormes silhares de granito.
161
on the courses where natural geography failed to assist in drawing the
line.
The dry frontier between the International Douro and Tejo is garnished
by an alignment of castle built during the first dynasty, with only a few
miles between them, a distance never bigger than a walking journey or
a “round trip” by horse.
This dimensioning of the territory, appropriate according to the trans-
portation available and the medieval wars, marks our urban fabric to
these days and the majority of border urban centres, on first and second
line, still preserves and exhibits, for the most part at least, its castles.
Almeida was born by the end of XIIIth century
In the beginning of the 16th century, Almeida’s castle is redesigned and
expanded, already showing some specific concerns motivated by the
arising of artillery. In fact, the change in military means leads to the
reconstruction, in the same place, of a Proto-Renaissance fortification,
which incorporates the first advances of military engineering of the
Manueline period.
But progresses in military engineering doesn’t cease to produce new
models and, with the long Independence War following 1640’s Restora-
tion, Almeida takes on a determinant role, now within a context of full
development of bulwarked constructions’ techniques, because the heavy
artillery, born on the open sea on Portuguese carracks and caravels, with
a particular importance in the Indian Ocean since the beginning of the
16th century, assumes a vital importance on land with the construction of
fortresses conceived for efficient activities of field of fire.
At this stage, the influence range of this type of great strategic bases
replaces the close net of medieval castles and concentrated important
military means, professionalised, capable of deterring, intervening and
react rapidly.
Hence, Almeida concentrates the part played by numerous medieval
squares and guards the entire frontline between Douro and Tejo, with
the special mission of closing the “door” providing access to Mondego,
the only passage between the mountain ranges of Serra da Estrela and
the stone solid going from Lapa to Caramulo, with Leomil, Montemuro
and Freita, which, at the background, separated Douro’s water basins
from those of Vouga and Mondego.
The castle was there before the fortress and was kept inside of it, with a
trapezoidal floor plant and round turrets on the four curtain angles, re-
built during the reign of King D. Manuel I, but it was destroyed during
the third Napoleonic invasion, lead by Massena, the victim of a huge
explosion because it served as a shelter for the citadel’s main magazine
and so it was struck by the besiegers’ bombardment.
5 - A drawing of rigour and wisdom.
Geometry and topography
The drawing of Almeida’s star meets the modern principles of a mili-
tary structure, based on the activity of heavy artillery, with a conception
specifically based on the assurance of angles of fire, for the attacks as
well as for its own defence.
Respecting the geometrical drawing and the principles of regularity and
symmetry, this fortress takes advantage, nevertheless, of the terrain’s
morphology and is adapted to an irregularity, which, in an imaginative
fashion, grants with a unique singularity.
Esse castelo foi, no período medieval, o centro de uma povoação amu-
ralhada que ultrapassa os seus limites primitivos quando a fortaleza
alarga o território da praça fortificada.
5 - Um desenho de rigor e sabedoria
Geometria e topografia.
O desenho da Estrela de Almeida cumpre os princípios modernos de
uma estrutura militar baseada na actuação da artilharia pesada, com
uma concepção que se baseia especificamente na garantia dos ângulos
de tiro, tanto para o ataque como para a sua própria defesa.
Respeitando o desenho geométrico e princípios de regularidade e si-
metria esta fortaleza aproveita, no entanto, a morfologia do terreno e
adapta-se a uma irregularidade que, de forma imaginativa, lhe confere
uma enorme singularidade.
Aliando o respeito pela doutrina da engenharia militar da época com o
compromisso da topografia e a necessidade de realização rápida e efi-
caz, o desenho da praça forte de Almeida resulta enriquecido pela varia-
ção do comprimento das suas cortinas e pela extensão diversa dos seus
bastiões, com realce para o de Santo António que faz face ao declive
para poente, ganhando um desenvolvimento que o atira para o exterior
do círculo abstracto onde se inscreve a estrela.
Com uma malha interior irregular, já que a fortaleza não nasce do zero,
mas da praça medieval, Almeida congrega uma diversidade de morfo-
logias que lhe conferem um especial interesse não só histórico como
urbanístico e paisagístico.
Ao desenho da planta há que acrescentar toda a qualidade do projecto ma-
terializado na construção, com especial realce para o valor arquitectónico
e construtivo das suas portas duplas (São Francisco e Santo António)
6 - Uma construção inexcedível
A estrela resiste ao olhar atento do pedreiro.
Mas Almeida não é só qualidade arquitectónica e respeito pelos princípios
e motivações da engenharia militar. É, também, um excelente exemplo de
bem construir, com uma primorosa realização dos aparelhos de pedra, com a
execução rigorosa de estereotomias complexas, com a inclusão de elementos
construtivos de pormenor cuidado que nunca perdem a oportunidade de afir-
mar a sua utilidade bélica, austera, resistente e tecnicamente madura.
As coberturas das casamatas ou das guarnições das portas, com toda a so-
fisticação devida á impermeabilização absoluta exigida a compartimen-
tos onde o uso da pólvora não admitia qualquer oportunidade de perda da
estanqueidade, constituem exemplos de referência da arte de construir.
Concebida e realizada para defender o reino a fortaleza de Almeida exi-
giu um esforço total na sua concepção e realização. O tempo e a sua
participação nos principais acontecimentos militares da nossa história
de independência comprovam a sua eficácia e utilidade, merecendo re-
ferencia e veneração os seus autores e construtores.
7 - Um papel efectivo desempenhado na sua função bélica
Enquanto praça forte, foi forte.
Construída para fechar o caminho aos invasores do reino, a estrela de
Almeida, com o alcance da sua artilharia e dos seus regimentos, duran-
te séculos, defendeu esta porta da nossa fronteira. Entre muitos outros
episódios, foi, sobretudo, na guerra da restauração e depois, na terceira
Allying the respect for the doctrine of military engineering at the time
with the compromise of topography and the need for a quick and effec-
tive execution, the drawing of Almeida’s Garrison Town is enriched by
the variation of the length of its curtains and by the diverse extension
of its bastions, with a particular emphasis for Santo António’s, facing
the western slope, gaining a development which throws it outside the
abstract Circle inscribing the star.
With an irregular interior fabric (since the fortress is born from the
medieval hamlet), Almeida congregates a diversity of morphologies,
which confer it with a special interest, not only historical, but also urban
shape and landscape.
To the floor plant’s drawing one must also add the entire quality of the
project, made real on the construction, with a special emphasis on the
architectonical and constructive value of its double doors (São Fran-
cisco and Santo António).
6 - An insurmountable construction.
The star resists the mason’s watchful gaze
But Almeida is not entirely about architectonical quality and respect for
the principles and motivations of military engineering. It is also an excel-
lent example of good construction, with a superb execution of brickworks,
with the rigorous execution of complex stereotomy, with the inclusion of
constructive elements with careful details, which never lost the opportu-
nity to state their war utility, rigid, resistant and technically mature.
The bunkers’ or the doors’ covering, with an absolute sophistication
for the total waterproofing demanded by compartments where the use
of gunpowder left no room for the loss of waterproofing, are reference
examples of the art of building.
Conceived and executed to defend the kingdom, Almeida’s fortress
called for a grand effort in its conception and execution. The time and
its participation on the main military events of our independence his-
tory prove its effectiveness and usefulness, and, therefore, its authors
and constructors deserve a reference.
7 - An effective role on its war function.
Strong as Garrison Town
Built to close the path of the kingdom’s invaders, Almeida’s star, along
with the reach of its artillery and regiments, defended, for centuries,
these doors of our border. During the Restoration war and again, in the
third French Invasion, Almeida had the chance to prove its part and its
capacity to deliver the mission trusted.
Therefore, Almeida and its fortress are not today merely important
architectonical and urban spots; they are also a land of tribute,
which we must pay to their constructors, masons, and engineers,
and to their defenders, militaries and militiamen.
The fortress can only effectively fulfil its defensive part when its forces,
dwellers and defenders could act inside and outside its walls, facing
Castilians and French on these slopes and valleys of Beira Alta, from
Côa to Buçaco, barring the way or delaying the invasion.
8 - The epic Sacrifice for Homeland
In that ultimate fight of Almeida against Massena, in 1810, the citadel
only fell after the catastrophic explosion of its main powder magazine
162
invasão francesa, que Almeida teve a ocasião de comprovar o seu papel
e a sua capacidade para cumprir a missão que lhe foi confiada.
Por isso Almeida e a sua fortaleza, não é hoje, apenas, um impor-
tante sítio arquitectónico e urbanístico, mas, também, uma terra
de tributo que devemos prestar aos seus construtores pedreiros e
engenheiros e aos seus defensores, militares e milicianos.
A fortaleza só pôde cumprir, eficazmente, o seu papel de defesa na me-
dida em que as suas forças, os seus habitantes e defensores puderam
actuar dentro e fora das muralhas, enfrentando castelhanos e franceses
por essas encostas e vales da Beira Alta, do Côa ao Bussaco, barrando
o caminho ou atrasando a invasão.
8 - O sacrifício épico pela pátria
A explosão do paiol na resistência contra a invasão napoleónica.
Nessa luta derradeira de Almeida contra Massena, em 1810, a praça caiu,
só depois da explosão, catastrófica, do seu paiol situado no castelo. Almei-
da cedeu assim, inevitavelmente ao cerco e ao assalto, mas, mais que o
combate, foi o desastre que imolou indeterminado número de vítimas que
terão sido milhares, já que poucas casas ficaram de pé dentro da Praça.
Militares e civis morreram juntos nesse episódio fatídico e heróico de
um povo que resistiu e, apesar do infortúnio, venceu. Almeida cedeu á
explosão do paiol, mas contribuiu, ainda assim, para um determinante
desgaste e atraso dos invasores.
Almeida cumpriu o destino da estrela!
9 - Uma preservação global e autêntica.
O castelo perdeu-se, mas a estrela salvou-se.
Massena atingiu o paiol e fez desaparecer o castelo, mas a fortaleza,
apesar do cerco, que a metralhou a balas e bombas de canhão, ficou!
A sua importância viria a perder-se, exactamente pela mesma razão que
a fizera nascer: a mudança dos modos da guerra.
Mas, se a sua importância militar caiu até à perda de toda a sua função
bélica, salvou-se e permanece a sua importância como obra de arte,
como estrela abaluartada, como herança carregada de engenharia e ar-
quitectura exemplares e como local de memória de acontecimentos que
nenhuma geração, presente ou futura, pode esquecer.
Através das últimas décadas, com a dedicação dos seus habitantes, com o
cuidado prestado pelas suas instituições e com o esforço de muitas equipas
que, de um modo ou de outro, têm preservado a fortaleza e a vila intramuros,
Almeida soube transportar, do passado até aos nossos dias, esta construção
magnífica que conserva, no essencial, o inteligente traçado da sua fundação.
Sem abastardamentos as construções vão encontrando novos usos, e
as próprias dependências das muralhas, requalificadas, acolhem agora
nobres funções viradas para o turismo, a cultura e a animação, como o
posto de turismo nas Portas de S. Francisco, o museu nas casamatas (a
abrir ainda em 2009), o picadeiro nos quartéis da infantaria e o centro
de estudos nas Portas de Santo António.
São estas funções nobres que fazem acreditar numa estrela de paz, agora
útil, na sua qualidade, não para fechar portas e guerrear invasores, mas
para se abrir á atracção de visitantes e moradores que podem usufruir
deste bem único, precioso e raro que é o património abaluartado.
Isento, pela interioridade, de uma pressão urbanística predadora, a vila de
Almeida, no seu conjunto, e a Praça-forte em particular ostentam, felizmente,
163
in the castle. Hence, Almeida inevitably caved in to the siege and to the
assault, but, more than combat, disaster immolated an undetermined
number of victims, which were presumably thousands, since little was
left standing inside the walls.
Almeida caved in to the magazine’s explosion, but, even still, it con-
tributed for a considerable wear and delay in the invaders. Militaries
and civilians were killed in this fatal and heroic event of a people who
resisted and, despite the misfortune, won.
9 - A global and authentic preservation.
The castle was lost, but the star was saved.
Massena hit the magazine and caused the castle’s disappearance, but
the fortress, in spite of the siege that strafed it with cannon bullets balls
and bombs, endured!
Its importance then lost, exactly by the same reason that caused its
birth: the changes in warfare. But if its military importance collapsed
until the loss of its entire war function, its importance as a work of art
was saved and endured, as a bulwarked star, as an heritage loaded with
immaculate examples of engineering and architecture and as a venue of
memory of events that no generation, present or future, can forget.
Throughout the last decades, with the dedication of its inhabitants, with the
care paid by its institutions and with the effort of many teams that, in one
way or another, have preserved the fortress and the “intramural” village;
Almeida knew how to carry, from the past until our days, this magnificent
construction which essentially preserves its initial intelligent layout.
Without being corrupted, the constructions find new uses and the wall
dependences themselves, after being rehabilitated, now lodge noble func-
tions, tourism, culture and recreation-oriented, such as the tourism stand on
S. Francisco Doors, the Museum in the bunkers, the Manage in the Trem’s
Bulwark and the Study Department in the Santo António’s Doors.
These noble functions create the belief in a star of peace, now useful in
its quality not of closing doors and skirmishing with the invaders, but
rather to open it to visitors and inhabitants, who may enjoy this unique,
precious and rare asset which is the heritage.
Exempt from a predatory urban pressure, for being upcountry, Almeida’s
village, as a whole, and the Citadel, in particular, happily demonstrate an
unusual state of preservation for monuments of such importance, which are
generally the object of intrusions or deplorable architectonical surroundings.
Not only the circumstances, but also the will of its governors allow for
this excellent state of conservation, which now deserves to be appreci-
ated and explored, with the responsibility sense each period of time
demands of the future.
Fortunately, in Almeida, the stars have lined in the universe so that no
destruction factor could harm the intelligence, know-how and effort of
its constructors and defenders.
10 - A balanced system of monument and landscape
Like a great ship, the star crowns the territory
The fortress and the town inside appear in this high plane cut by the Côa
valley, as part of the balanced landscape of the place. Only the presence
of the water reservoir and the missing castle might appeal to a return to
the past, as still now the fine volume of the ensemble show the value of
the work made by mankind over the landscape built by god.
um grau de preservação invulgar em monumentos desta importância, geral-
mente objecto de intrusões ou vizinhanças arquitectónicas deploráveis.
Não só as circunstâncias, como a vontade dos seus governantes permiti-
ram este excelente grau de preservação que, agora, faz sentido valorizar e
explorar com a responsabilidade que cada tempo exige face ao futuro.
Fortalezas de semelhante significado, podemos ver “por aí”, cortadas por
linhas de caminho de ferro, submersas em vizinhos e mastodônticos cen-
tros comerciais, ou, simplesmente, derrubadas pela incúria do abandono.
Em Almeida, felizmente, a estrela e os astros conjugaram-se no universo
para que nenhum desses factores de destruição tivesse deitado a perder a
inteligência, o saber e o esforço dos seus construtores e defensores.
10 - Um equilibrado sistema de monumento e paisagem
Como grande navio, a estrela coroa o território.
A fortaleza, e a vila que encerra, aparecem nesta meseta, acidentada pelo
Côa, como parte integrante da paisagem equilibrada do sítio. Só o depósito
de água e a falta do castelo podem fazer apelo a um regresso ao passado,
porque ainda agora a implantação e o volume criterioso do conjunto se afir-
mam como valorização, pela mão do homem, na paisagem que Deus fez.
Obra obediente a imperativos balísticos, pelo bom senso da sua realiza-
ção, e pela economia que sempre impôs a construção militar, não afirma
no sítio, mais do que o indispensável para agir como praça de guerra,
mas também não se faz desaparecer e, assim, surge como coroamento
da linha de festo que domina a passagem do rio, afinal o verdadeiro
obstáculo a condicionar a transposição através da magnífica ponte de
cantaria que os franceses demandaram e que Almeida defendeu.
11 - O património como recurso – da guerra à paz
Sem utilidade bélica a estrela tem um papel a desempenhar
Duzentos anos depois do seu desempenho mais relevante, para que
pode servir a estrela de Almeida? Esta será a questão central da sua
sustentabilidade e da sua vida futura.
Temos de percorrer os séculos passados para compreender o bem que
chega até nós, e temos que adivinhar os tempos futuros para lhe dar a
justificação da sua permanência.
Não basta ficar por ficar!
Obviamente que seria possível dizer sustente-se, proteja-se e salvaguar-
de-se, pela sua memória, pelo seu valor histórico e cultural e também,
obviamente pelo seu valor como obra-prima da arte de construir abalu-
artada, mas seria redutor olhar o monumento apenas como resíduo fós-
sil do passado, perdido na imensidão dos séculos do futuro e das suas
incertezas, sustentado “apenas” pela obrigação de guardar recordações
e respeito pelos seus construtores e pelos seus defensores.
A Estrela de Almeida vale muito mais do que isso.
Como peça rara (única!) a fortaleza (e os conjuntos que envolve e que a
envolvem) deve ser olhada, não, apenas, como um peso e um custo que
a comunidade, local e nacional, tem a obrigação de proteger e salvar,
mas, sobretudo, como um recurso que o país tem necessidade de explo-
rar, com inteligência e respeito.
Os construtores de Almeida desenharam e elevaram esta estrela para re-
sistir á guerra e a inimigos apostados na sua destruição. Apesar dos da-
nos do desastre da explosão do paiol, a estrela resistiu a esse propósito
e chega até nós intacta naquilo que tem de mais essencial. Importante,
Obedient to ballistic imperatives the work of Almeida, leaded by the
wisdom of its creators and by the economy the military buildings ever
imposed. So it does not impose over the place, more than what is needed
to act as a war fabric, but it doesn’t disappear and so emerges crowning
the highs that dominate the passage in the river, itself the very obstacle
with the elegant classic stone bridge the French army demanded and
Almeida defended.
11 - Heritage as a resource – From war to peace
On the utility of “heritage”
Two hundred years after its most relevant performance, what is Alme-
ida’s star good for? This will be the core issue of its sustainability and
future life.
Centuries must be travelled to understand the good that comes to us
and future times will surely provide it with the justification for its per-
manency.
It is not enough to endure just for the sake of it!
One might obviously say Let it be sustained, protected and safeguard-
ed: for its memory, its historical and cultural value and also, obviously,
for its value as a masterpiece of the bulwarked construction art; but it
would be minimizing to look at the monument merely as a fossil residue
of the past, lost in the magnitude of future centuries and their uncer-
tainties, “only” sustained by the obligations of keeping memories and
respect for its builders and defenders.
The star of Almeida worth much more than that.
As a rare piece (unique!), the fortress (and the sets that it involves and
that involve it) must be regarded not as a dead weight or a cost, which
the local and national community has the obligation to protect and save, no futuro, é que resista á fúria calada das gerações que se esquecem do of the homeland, against Napoleonic armies, exposing its defenders
but rather as a resource that the country needs to explore, with intel- suor e da inteligência dos seus construtores, do saber dos seus autores e to fire and sacrifice.
ligence and respect. da força e coragem dos seus defensores. With symbol like such, a “brand” is constructed! With strong symbols
Almeida’s constructors drew and elevated this star to resist to war and De maior poder destrutivo que os canhões das tropas napoleónicas like such, a strong “brand” is constructed.
to the enemies seeking its destruction. Regardless of all the damage é o poder do abandono e do esquecimento. Together with many other demonstration of our frontier, with emphasis
caused by all the disasters, the star resisted to this objective and comes Sem atribuir á estrela de Almeida uma utilidade presente e futura, given to Elvas and not forgetting Valença and Chaves, Almeida is a
to us intact in what is more essential. In future, it is important to resist to diferente da dos seus propósitos bélicos iniciais, ela correrá, sem- vitally important asset in the representation of Portugal as a country, as
the silent fury of the generations which have forgotten about the sweat pre, o forte risco de cair, sem o estrépito das bombardas, mas sob o an Atlantic, Iberian and European, but independent country, gifted with
and intelligence of its constructors, of the knowledge of its authors and silêncio ruinoso e prolongado do desprezo. a territory that, for eight hundred years, was granted in these places, in
of the strength and courage of its defenders. Cada geração terá, portanto, o direito e a obrigação de lhe encon- this line, in the line of frontier fortification and castles, against external
Abandonment and forgetfulness has a much bigger destructive trar o uso mais ajustado ao seu tempo. forces, with a close and far origin.
power than the cannons of Napoleonic troops. Sobre a principal fronteira terrestre portuguesa, epicêntrica relativa- This symbolism of Almeida now needs to be transformed into heritage
Without attributing to Almeida’s star a present and future use, dif- mente a Porto e Lisboa, Almeida herda a sua localização estratégica. Só facts, in development processes, in national and international visibility
ferent from the initial war function, it will always take to serious por abandono esta estrela se transformou num sítio periférico, interior, and in a revenue source for its own sustainability.
risk of collapse, without stampede of cannons, but under a ruinous isolado e mal conhecido. In peace, people get together and live together. After the weapons are
and elongated silence of despise. Almeida precisa de uma bandeira com a sua estrela. stored in museums, Almeida now needs to project its architecture, its
Each generation must, therefore, have the right and the obligation Mas, se, no passado, Almeida foi uma porta para se fechar, agora, e gastronomy, its landscape, its waters and flocks, to open its doors, its
to find which use is more adequate to their time. cada vez mais no futuro, será uma porta para se abrir. houses, streets and ruins to visitors and tourists, enabling the under-
Almeida is a symbol and, like such, it should be shown to all, national Estando, como está, sobre um percurso ibérico e europeu de viagens standing of these great, strong walls, armed with tubular pieces, which
and international citizens. A symbol, first of all, of the struggle for vale a pena a aposta desta estrela no seu papel de assinalar a entrada, de can be explained by the fact that here is a people who want to own their
independence of a people. A symbol of the capacity of this people to dar as boas-vindas, de acolher e informar quem entra e quem sai. land and their culture.
limit, since the nation’s beginning, the territory inside Portugal, dis- Com o seu elevado valor patrimonial e arquitectónico Almeida pode, e After its military calling was stopped, Almeida now needs to find its
tinguishing it from other peninsular kingdoms (León, Castile, Spain). deve, ser um marco obrigatório a mostrar a fronteira histórica e cultural que cultural dimension, opening itself to the world and announcing with its
It is also a symbol of reconquest and of the capacity for modern ma- permanece, mesmo quando caem as fronteiras alfandegárias e politicas. museums and hot-springs, with its horses and manages, with archaeolo-
terialisation, on the dry frontier side of a military and architectonical Almeida é um símbolo, e, como tal, deve ser mostrada a todos, nacio- gies and architectures, with its inexhaustible green tray, covering glacis,
piece of great performance. Furthermore, it is a symbol of the defence nais e estrangeiros. ravelins, ditches and bulwarks.
164 165
Símbolo, antes de mais, da luta pela independência de um povo. Símbo-
lo da capacidade deste povo demarcar, desde o princípio da nacionali-
dade, o território que está dentro de Portugal, distinguindo-o dos outros
reinos peninsulares (Leão, Castela, Espanha). É também um símbolo da
restauração e da capacidade de realização moderna, do lado da fronteira
seca, de uma peça arquitectónica e militar de grande desempenho. É
ainda um símbolo da defesa da pátria, contra os exércitos napoleónicos,
expondo os seus defensores ao fogo a ao sacrifício.
É com símbolos destes que se constrói uma “marca”! É com símbolos
fortes como estes que se constrói uma “marca” forte.
Juntamente com muitas outras manifestações da nossa fronteira, com destaque
para Elvas e sem esquecer Valença e Chaves, Almeida é um bem de impor-
tância essencial na demonstração de Portugal como país, como país atlântico,
ibérico e europeu, mas independente, dotado de território que, em oitocentos
anos foi garantido nestes sítios, nesta linha, na corda de fortificações e cas-
telos de fronteira, contra forças exteriores de origem próxima ou longínqua.
Este simbolismo de Almeida e da sua estrela necessita agora de ser
transformado em factos patrimoniais, em processos de desenvolvimen-
to, em visibilidade nacional e internacional e em fonte de recursos para
a sua própria sustentabilidade.
Em paz, os povos acercam-se e convivem. Guardadas as armas nos museus,
Almeida, agora, precisa é de dar projecção á sua arquitectura, á sua gastro-
nomia, á paisagem, ás águas e aos rebanhos, abrindo as suas portas, as suas
casas, ruas e ruínas aos visitantes e turistas, facultando-lhes a compreensão
destas muralhas, grandes, fortes, armadas de bocas de fogo, que se explicam
porque aqui há um povo que quer ser dono do seu solo e da sua cultura.
Passada a sua vocação militar Almeida precisa de encontrar a sua di-
mensão cultural, abrindo-se ao mundo e anunciando-se com os seus
museus e termas, com os seus cavalos e picadeiros, com arqueologias e
arquitecturas, com o seu inesgotável tabuleiro verde cobrindo os glacis,
os revelins, fossos e baluartes.
12 - Uma estrela no Côa
Mas Almeida é também uma estrela no Côa.
De facto passa no sopé da sua encosta o rio que é pátria das gravuras
rupestres ao ar livre, com maior significado na história da arte. Estará
por determinar um enorme conjunto de factos que (há mais de 25 000
anos) trouxeram (tão cedo!) para estas paragens os povos que se fixa-
ram e tiveram aqui o seu solar.
Resultado das glaciações e do carácter excepcional do clima, neste vale
protegido, se concentram milénios de presença paleolítica do homem
moderno que, para além de sobreviver, soube deixar registada, em arte,
a sua passagem e permanência.
Da mesma água que beberam estes povos gravadores da rocha bebem
agora os habitantes e visitantes de Almeida.
Esta é uma referência essencial.
Almeida é do Côa porque a fronteira é do Côa. Mas o Côa, sabe-se hoje,
é mais que um rio, é mais que um vale! O Côa é, de facto, um útero de
civilização; primitivo, é certo, mas indiscutível pela sua importância na
história dos povos e na história da arte.
A estrela de Almeida está onde está, a coroar a cabeceira desse Côa
pré-histórico, paleolítico e neolítico, romano, medieval e moderno, pa-
trimónio mundial da lista da UNESCO.
12 – A star in the Côa Valley
But Almeida is also a star in Côa.
In fact, on its foothill, runs the river which is the home for rock en-
graved drawing of Palaeolithic Art, with a major significance on history
of mankind.
Still undetermined is a large set of facts that (more than 25000 years
ago) motivated, since an early age, people to come to these locations,
where they set their homeland.
A result of glaciations and the remarkable character of the climate on
this protected valley, millennia of Palaeolithic presence of modern
mankind are concentrated that, apart from merely surviving, registered
art during their long passage.
Almeida’s inhabitants and visitors now drink the same waters these
rock-engraving people drank.
This is an essential reference.
Almeida belongs to Côa because the frontier belongs to Côa. But Côa,
as it is known today, is more than a river, is much more than a valleys!
Côa is, in fact, a womb of civilization: primitive, of course, but with an
indisputable importance on the history of peoples and on the History
of Art.
Almeida’s star is where it is, crowning the summit of this Pre-historical,
Palaeolithic and Neolithic, Roman, medieval and modern Côa, itself
world heritage in the UNESCO list.
13 – Inside the star – ALMEIDA
Almeida is not an empty star. It has people, house and it has a soul.
Almeida has memories and places for those memories. Almeida hasn’t
forgotten about the castle, or the mother church, it hasn’t forgotten
about the siege or Côa’s battle. Beyond its walls, Almeida is a village, 13 - Dentro da estrela - Almeida of war were to fall unto these people and unto these barren, windy, thin
inside and outside the fortress. Almeida não é uma estrela vazia. Tem gente, tem casas e tem alma. grounds, only drenched in sweet and in the amazing survival effort of
Inhabited and living the “intramural” town suffers as the entire planet Almeida tem memórias e sítios dessas memórias. Almeida não esque- peoples of peace that, for millennia now, have transformed this valley of
the changes of economy and environment, of energies and the globali- ceu o castelo, nem a matriz, não esqueceu o cerco nem a batalha do Côa. Côa, which quietly streams at the bottom, into art.
zation of ideas and commerce. Para além das muralhas Almeida é uma vila, dentro e fora da fortaleza. Almeida’s star, a fortress’ shape almost rigorous in its ability to free
The walls don’t close their gates to the changes of the world, because Habitada e viva, a vila intramuros de Almeida sofre com todo o planeta a drawing for each bastion, asymmetrical and irregular on its internal
these changes as unstopped winds cross the walls and bulwarks and as transformações da economia e do ambiente, das energias e da globa- structure, surrounded by esplanades, immaculately protected by mili-
enter through the doors either they are open or closed, doesn’t matter. lização das ideias e do comércio. tary interdictions, has the shape of a fortress and also its strength.
Important to the present grand-grand-sons of the heroes of 1810 is to As muralhas já não fecham as suas portas ás mudanças do mundo, por- So intact and so authentic and yet so much city and so much life, the
understand what Almeida will be in this future, different from anything que as mudanças do mundo, como ventos imparáveis galgam as corti- star is, unquestionably, a landmark, a symbol of recognition, identity,
known, and unpredictable, full of combats so hard as those of the past nas e baluartes e entram pelas portas, abertas ou fechadas, tanto faz. and character.
wars that didn’t defeat their soul. E não vale a pena aos seus descendentes, aos que ainda lá se fecham, Almeida is a star and the star is Almeida.
tentar resistir. Mais importante será perceberem a mudança e compre- It is important now to find its strength as an idea and its calling as Peace
14 – A strong idea – an idea with fortress enderem o que poderá ser Almeida neste futuro diferente e imprevisível, fortress.
The fortress, the castle, the in wall village, the esplanades, the ditches, cheio de desafios e de combates tão duros como os das guerras que não First of all, facing Spain, that reunion of kingdoms descending from
and the landscape. conseguiram matar-lhes a alma. Asturias to León, from Navarre to Old Castile, from Aragon to New
The out wall village as part of the touristic site. Castile, now looking at Portugal as an Atlantic façade. Here, these two
To look inside and outside. 14 - Uma ideia forte – uma ideia com fortaleza worlds meet, Iberian and Celtic, Roman and Lusitanian, Visigoths and
On the border of an Iberia and of a border-free Europe, in the open, dry A fortaleza, o castelo, a vila intramuros, as esplanadas, os fossos e a Suebi. Here also meet the people of both hemispheres, once divided in
and plateau frontier, in the modern and ancient road from Meseta to Lusi- paisagem. Tordesillas.
tania, the aggressive shape of bulwarks, like an arrow, now represents the A vila extramuros como parte do sítio turístico. In this star of Almeida, almost forgotten by the hustle and bustle of
masterpiece of moulding ranks of masonry works until the ideal set for Olhar para dentro e para fora. people, now in peace, without customs or barriers, without passports,
war manoeuvres is in place, since they don’t offend any particular army Na fronteira de uma Ibéria e de uma Europa sem fronteiras, na raia aberta, without the guards’ debaucheries, may Europeans and foreigners live in
(which will no longer take this road), which would no longer need to seca e planáltica, na estrada moderna e antiga da meseta para a Lusitânia, a peace, exploring the angles and niches of bulwarks, of bunkers, of the
come across mountain ranges if, one day and once again, the damnation forma, agressiva, dos baluartes em flecha representa agora a obra-prima de gates of Santo António and of São Francisco.
166 167
afeiçoar fiadas de cantaria até formar o conjunto ideal de manobras guer-
reiras que já não ofendem nenhum exército (que já não virá por aqui) que
já não precisa de atravessar entre as cordilheiras, que passará por cima, que
passará ao largo, se, um dia, a maldição das guerras, novamente, cair sobre
estas gentes e estes chãos áridos, ventosos e descarnados, regados apenas
por suor e pelo esforço inaudito de sobrevivência dos povos de paz que,
desde há milénios, vêm transformando em arte este vale do Côa que corre
sossegado lá muito no fundo.
A estrela de Almeida, forma de fortaleza, quase rigorosa na sua capaci-
dade de libertar um desenho para cada bastião, assimétrica e irregular
na inteligência da sua estrutura interna, rodeada por esplanadas imacu-
ladamente protegidas pelas proibições militares, tem a forma de forta-
leza e a força também.
Tão intacta e tão autêntica, ao mesmo tempo tão cidade e vida, a estrela
é, sem dúvida, uma marca, um símbolo de reconhecimento, de identi-
dade e carácter.
Almeida é uma estrela e a estrela é Almeida.
Importa, agora, encontrar a sua força como ideia e a sua vocação como
fortaleza de Paz.
Antes de mais frente a Espanha, essa reunião de reinos que descem das Astú-
rias a Leão, da Navarra a Castela a Velha, de Aragão, da Castela a Nova, e que
olha Portugal como fachada Atlântica. Aqui se encontram estes dois mundos
ibéricos e celtas, romanos e lusitanos, visigodos e suevos. Aqui se encontram
também os povos dos dois hemisférios repartidos em Tordesilhas.
Nesta estrela de Almeida, quase esquecida pelo apressado das gentes,
agora em paz, sem alfândegas e sem barreiras, sem passaportes, sem o
devassamento dos guardas, podem fraternizar europeus e estrangeiros,
correndo os ângulos e recantos dos baluartes, das casamatas, das portas
de santo António e de São Francisco.
Por essas esplanadas e por esses fossos, verdes, frescos, podem correr
as crianças e os pássaros, num silêncio de canhões calados, mudos pela
sua velhice e pelo seu despropósito, pedagógicos pela expressão real do
seu peso, da sua idade e das suas marcas, fiéis á coroa que ostentam.
Raramente uma fortaleza é estrela tão geométrica, tão simétrica, ajus-
tada ao sítio e á ideia do grande navio, encalhado no festo da colina,
dominante de todo o alredor, centro de irradiação de fogos e de heróis,
centro da atenção e de retenção do inimigo que não podia deixar nas
suas costas tal “nau”, armada de peças grossas, capaz de proteger mi-
lhares de tropas e seus cavalos e reforços.
Quando tal estrela existe não pode ser evitada.
Bem o quis Massena, mas não pode deixar de atrasar os seus planos,
perdendo o tempo e a oportunidade e, assim cavando, nesta estrela de
Almeida, a sua derrota do Bussaco.
Ponto obrigatório de passagem para quem queria entrar, por aqui ou por
terras à volta, a estrela de Almeida, só porque existe, desenha um vasto
território, que não é seu, mas onde o seu braço, chegando, impôs a linha
de demarcação, o “limes” para aquém do qual Portugal é.
A estrela de Almeida existe ali porque é ali é a fronteira, mas a fronteira
é ali porque ali há Almeida!
15 - Uma estrela portuguesa para o mundo.
Almeida é uma estrela perdida nos mapas grandes onde o mundo não en-
contra as terras pequenas, porque são pequenas, ou então porque se apa-
Across these esplanades and fresh, green ditches, may the children and
birds run free, in a silence of soundless cannons, mute of old age and
lack of purpose, educational for really expressing their weight, their age
and their marks, ever faithful to the crown they bear.
Hardly is a fortress such a geometrical, symmetrical star, adjusted to
place and to the idea of a ship trapped on the hill’s top, mastering the
environs, the centre of the birth of fires and heroes, the centre of atten-
tion and retention of enemies that couldn’t turn their back on such a
“carrack”, armed with heavy pieces, capable of protecting thousands of
troops, horses and reinforcements.
When such a star exists, it cannot be avoided. Massena wanted it in-
deed, but he was forced to delay his plans, loosing time and opportunity
and thus, in this star of Almeida, digging the grave of victory.
A mandatory passage for those wanting to enter through here or through
adjacent lands, the star of Almeida, simply because it exists, draws an
ample territory, which is not its own, but where its reaching arm im-
posed the line of demarcation, the limes, beyond which is Portugal.
The star of Almeida exists there because that is where the frontier is
located, but the frontier is there because that is where Almeida is!
15 – A Portuguese star to the world
Almeida is a lost star on big maps, where the world is unable to find
small lands, because they’re small or because they are deleted in their
own forgetfulness of the part they might have in the world.
On the map of stars are Havana and La Valleta, Cartagena de Indias,
Mozambique, Teresin and others more, such as Princes of Beira or Or-
muz. Almeida doesn’t feature on this map because it was forgotten,
omitted, because its glow was faded by the lights of the glowing, dense,
urban, and vibrant world, miles apart from the serene tranquillity of
sleeping cannons and curtains and lazy bastions.
But Almeida deserves and needs to be on the map of stars.
And Portugal, the country and the economy, also needs that the star of
Almeida is among all the maps in the world. It is not only a problem for
Almeida’s people if their star remains forgotten, set aside, away from
circuits; it is rather the problem of the country these walls and people
defended against the French (and more than that) and that now can help
defend against remoteness and obscurantism, against stillness and the
exhaustion of resources and ideas.
After all, Almeida is only two hours away from Porto and three from
Madrid or Lisbon. But it is equally two hours away from Valladolid or
Zamora and one hour away from Salamanca or Ávila. Almeida’s re-
moteness problem is not on its location. It’s in the right place!
Almeida’s remoteness problem lies in the forgetfulness and stunning
of memories, lost in urban labyrinths, unable to find, in the open field,
the star.
It is necessary to light it up!
To achieve such a thing, one needs to involve local and central govern-
ment organisms, one needs the supervision of those holding the culture,
the economy, the tourism, the territory and regional development. It is
necessary to gather financial and human resources, art, skills and af-
fection.
Almeida’s fortress, with its intrawalls village and its protection area,
with its population and with the life it supports, is an asset of value
168
gam no seu próprio esquecimento do papel que podem ter no mundo. for all mankind, unique, of high historical and artistic value, a cultural
No mapa das estrelas estarão Havana e La Valleta, Cartagena das Índias, Mo- heritage of strength for its community and for the nation holding it,
çambique, Teresin e outras como o Príncipe da Beira e Ormuz. Almeida não preserved in essence and managed locally, thus representing an heritage
está nesse mapa por esquecimento, por omissão, por ter o seu brilho apagado that must be actively safeguarded and appreciated.
pelas luzes do mundo aceso, denso, urbano e vibrante, afastado da tranquili-
dade serena dos canhões adormecidos e das cortinas e bastiões preguiçosos.
Mas Almeida merece e precisa de estar no mapa das estrelas.
E Portugal, país, cultura e economia, precisa também que a estrela de
Almeida entre em todos os mapas do mundo.
Não é um problema só dos de Almeida se a sua estrela está esquecida,
marginal, longe dos circuitos, é um problema do país, que estas mura-
lhas e as suas gentes defenderam contra “os franceses” (e não só) e que,
agora, pode ajudar a defender contra o isolamento e o obscurantismo,
contra o imobilismo e o esgotamento de recursos e de ideias.
Afinal Almeida está a duas horas do Porto e a três de Madrid ou de
Lisboa. Mas está a uma hora de Viseu, de Valladolid, de Ávila ou de
Zamora. O problema do isolamento de Almeida não está na sua locali-
zação. Ela está no sítio certo!
O problema do isolamento de Almeida está no esquecimento e no ator-
doamento das memórias que se perdem nos labirintos urbanos e não
sabem encontrar, no campo aberto, a estrela. Necessário é iluminá-la!
Para tal é preciso o envolvimento da administração local e central, é
necessário o olhar de quem segura a cultura, a economia, o turismo, o
território e o desenvolvimento regional. É preciso reunir recursos finan-
ceiros e humanos, arte, engenho e afecto.
A fortaleza de Almeida, com a sua vila intramuros e a sua área de protec-
ção, com a sua população e toda a vida que suporta, é um bem de valor para
toda a humanidade, único, de elevado significado histórico e artístico, he-
rança cultural de relevo para a sua comunidade e para a nacionalidade onde
se insere, preservada no seu essencial e gerida localmente, representando
um património que tem de ser activamente salvaguardado e valorizado.
Arquitecto – Investigador
Architect – Researcher
169

Na página anterior, skyline com o sítio de
Almeida, visto a partir da margem esquerda do
Rio Côa.
Em baixo, treixo da vila intramuros.
In the opposite page, skyline of the Almeida site
seen from the left margin of the Côa river.
Bellow a strecht of the intrawall citadel.
170
3.10 A PaiSAGEM DE ALMEIDA
Teresa Andresen
Almeida insere-se numa paisagem essencialmente planáltica, rematada
a poente pelo vale encaixado do rio Côa que atravessa o concelho cor-
rendo de sul para norte. Na fronteira com Espanha, corre a ribeira de
Tourões, afluente do rio Águeda. Predominam as formações graníticas
de texturas variadas mas com grande uniformidade sob o ponto de vista
da composição mineralógica. A fortaleza encontra-se sobre o bordo de
um complexo xisto-migamatítico que se estende em direcção ao vale
do Côa e apresenta uma extensão de cerca de 5 km e 2 km de largura.
A precipitação é escassa sendo os valores médios anuais da ordem dos
600 mm podendo atingir os 300mm.
Território outrora bastante povoado, hoje apresenta uma baixa densida-
de populacional e os sinais do abandono agrícola estão bem patentes. O
padrão da paisagem regista grande heterogeneidade de parcelas tendo
por base a agricultura de sequeiro onde a cultura do centeio prevalece
lado a lado com extensas áreas ocupadas por matos e algumas manchas
de áreas florestais. É constituída por vários tipos de habitates naturais
tais como os cursos de água corrente com comunidades de macrófitos
dulciaquícolas (3260), cursos de água mediterrânicos permanentes com
arrelvados higronitrófilos de Paspalo-Agrostion verticillati ladeados por
cortinas arbóreas ribeirinhas de Salix e Populus alba (3280), matos baixos
espinhosos mediterrânicos (4090); arrelvados xerófilos (6220), pra-
dos de fenos dominados por Arrhenatherum elatius Subsp. Bulbosum
171
3.10 THE LANDSCAPE OF ALMEIDA
Teresa Andresen
Almeida can be included in an essentially plateau-like landscape, topped
to the west by river Côa’s fitted valley, which goes across the council,
streaming from south to north. On the frontier with Spain, the Tourões’
streamlet runs free, a secondary river of Águeda. The formations in
granite are abundant, with varied textures but greatly uniform in what
concerns the mineralogical composition. The fortress lies on the edge
of a schist-migmatitic complex, which flows towards Côa’s valley and
which is 5 km long and 2 km wide. Rain is quite scarce and the average
annual values go around 600 mm and they might even reach 300 mm.
A territory highly populated on the past, today it has a low population den-
sity and the signs for rural abandonment are quite evident. The landscape’s
pattern records a great heterogeneity of parcels, which the predominance
of dry farming, where the culture of rye still prevails side by side with wide
areas taken over by the wilderness and some spots of forest. It is made up
by several types of natural habitats, such as water courses featuring cul-
tures of fresh water macrophytes (3260), permanent Mediterranean water
courses of Paspalo-Agrostion verticillati grasslands, framed on the sides
by riverside tree curtains of Salix and Populus alba (3280), low Mediter-
ranean thorny bushes (4090), xerophile grasslands (6220), hay meadows
dominated by Arrhenatherum elatius Subsp. Bulbosum (6510), groups of
ash trees (91BO), groups of oaks of the Quercus pyrenaica type (9230) and
ripiculous and swampy woods of alders and willows (91EO).
 Diagramas da compreensão da estrutura
A OCUPAÇÃO DO SOLO O relevo, a hidrografia e as áreas classificadas geomorfológica da paisagem.
Em baixo, à esquerda, Almeida vista a partir do
plateau da “Meseta” que termina na margem
direita do rio Côa
Fontes: Fontes:
CLC2000 - IA MDT - INAG
Rede Natura 2000 - ICN Rede Natura 2000 - ICN
Diagrams with the comprehension of the
Hidrografia – INAG Hidrografia – INAG geomorphological structure of the landscape.
S/ESCALA S/ESCALA Bellow left, Almeida seen from the plateau of
“Meseta”, which and at the right margin of the
Côa river

Territórios artificializados Curva 700 m

Áreas agrícolas com culturas anuais Sítio Douro Internacional

Culturas permanentes e pastagens Sítio Malcáta

Zonas agrícolas heterogéneas 0 - 15

(6510), freixiais (91BO), carvalhais de Quercus pyrenaica (9230) e
bosques ripícolas ou paludosos de amieiros e salgueiros (91EO)
Folhosas 15 - 25
É de registar a presença de valores florísticos e faunísticos de interesse
Resinosas e floresta > 25 comunitário sendo que o concelho de Almeida se insere nos Sítios da
com mistura de várias espécies Rede Natura do Douro Internacional e da Malcata.
Matos
A fortaleza ou a cidadela de Almeida é um marco notável numa paisa-
gem onde a vista se perde no céu tal a extensão da planura. Pinho Leal
Espaços florestais degradados
ou em transição
(1873) refere que “ Do castello da villa desfructa-se uma linda vista.
D’elle se vê a cidade da Guarda, as villas de Castello Rodrigo, Castello
Zonas icendiadas recentemente
Bom, Trancoso e territórios de 11 bispados portugueses e hespanhois:
Lamego, Guarda, Coimbra, Vizeu, Braga, Miranda, Porto, Coria, Ciu-
dad Rodrigo, Placencia e Salamanca.”
A fortaleza é um marco na paisagem mas é também ela a paisagem
pois confere significado e constrói distinção própria de um território de
A LITOLOGIA fronteira marcado pela planura imensa, de cor sazonal que oscila entre
os ocres dourados e os verdes cinzas sobre a qual pousa a vastidão ce-
leste. A marca do homem na paisagem é muito antiga embora discreta
e traduz-se num verdadeiro puzzle de parcelas onde pontuam árvores
Fontes:
Litologia – Atlas do Ambiente (IA)
Hidrografia – INAG
S/ESCALA isoladas, pedregulhos, bosques, pombais, muros, aldeias. Almeida é
mais do que uma fortaleza é de facto uma paisagem cultural que teste-
munha a relação do homem com os elementos naturais onde a solidão
humana, a escassez de recursos e a abundância de espaço se confrontam
e convivem. Em Almeida, paisagem de fronteira numa terra que mais
parece de ninguém, a fortaleza simboliza a arte de saber esperar pelo
Cascalheiras de planalto, arcoses desconhecido em permanente atitude de alerta. Aqui, a paisagem, como
da Beira Baixa, o tempo, não tem idade.
arenitos, calcários
One should register the presence of flora and fauna values bearing a
communitarian interest, since Almeida’s council is included on the
Sites of Rede Natura of Douro Internacional and Malacata.
The fortress and the stronghold of Almeida is a remarkable landmark
within a landscape where the view is lost on the plateau’s reach. Pinho
Leal (1873) refers that “From the Castel of the village, a beautiful view
is enjoyed. From it, one can see Guarda, the villages of Castello Ro-
drigo, Castello Bom, Trancoso and the territories from 11 Portuguese
and Spanish bishoprics: Lamego, Guarda, Coimbra, Vizeu, Braga, Mi-
randa, Porto, Coria, Ciudad Rodrigo, Placencia and Salamanca.”
The fortress is a landmark on the landscape but it is, in itself, the land-
scape, because it adds meaning and it constructs a own distinction of a
frontier territory marked by an immense plainness, with a color chang-
ing with seasons and oscillating between golden earth tones and grey
greens, over which the celestial vastness resides. Man-made marks on
the landscape are ancient, although discrete, and there are translated
into a true puzzle of parcels, punctuated by lonely trees, boulders,
woods, pigeon house, walls, and villages. Almeida is much more than
a fortress; in fact, it is a cultural landscape that testifies the relation
of mankind with natural elements, where human loneliness, the lack
of resources and the abundance of space are confronted and forced to
live together. In Almeida, a frontier landscape on a land that seems to
belong to no one, the fortress is the symbol of art of knowing to wait
for the unknown in a permanent alert attitude. Here, landscape, as time,
has no age,

Granitos e rochas afins

Xistos, grauvaques
(Complexo xisto-grauváquico)

Professora Catedrática – Investigadora

Chair Professor – Researcher

172 173

Ao longe, a pequena proeminência
é Almeida, no lado de lá da fronteira
natural do Vale do Côa
The far small elevation is Almeida site,
in the opposite side of the natural frontier
of the Côa Valley
174
4. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA
E ARQUITECTÓNICA DA OBRA
ABALUARTADA DE ALMEIDA
João Campos
4.1 – Dos Antecedentes Estratégicos do Sítio
A fronteira política com Espanha não tem relevância geográfica quando
comparada com a marca morfológica que se acaba de passar, vindo de
Ocidente, vencida a garganta natural do Côa e chegados ao plateau da
Meseta Ibérica. A escassos 2,5 quilómetros, o rio dirige-se para Norte,
quase 250 metros abaixo do nível em que se implanta a Fortaleza de
Almeida.
A ribeira de Tourões, a 7 quilómetros para Nascente de Almeida (que
seca no Verão e há muito deixou de ter os simpáticos habitantes que
lhe deram nome), é insignificante ao lado do vale cavado do grande
afluente do Douro.
Deixando a agreste orografia de Ocidente, o planalto que começa na
bordadura da falda direita do Côa, apresenta aqui a cota média de 750
metros. Vinte quilómetros a Norte, onde surgem os acidentes da mar-
gem esquerda do rio Douro, é a serra da Marofa, com altitudes que não
chegam a atingir os 1000 metros. Para Sul, a umas doze léguas, o Ma-
ciço Central da Meseta também não se alcandora excessivamente, com
os seus máximos de 1075 metros na Malcata e de 1000 na Serra das
Mesas. E para Nascente fica uma vasta superfície de aplanação, com
suaves declives de vales muito abertos.
A cota mais alta de Almeida é de 761,5 metros, na Praça Alta do Balu-
arte de Nossa Senhora das Brotas, e a mais baixa desce aos 739 metros,
no interior do Baluarte de S. João de Deus.
O sítio herda a anterior fixação medieval como ponto estratégico fun-
damental, cuja data de ocupação recua fundo nos séculos anteriores à
nacionalidade portuguesa.
A escolha de D. Dinis desse esteio plantado no território adentro do rei-
no vizinho, para com ele firmar o limite da soberania, reafirma a impor-
tância dessa marca geográfica, sentinela perscrutante da paisagem, em
testemunho da mais longeva quietude de limites políticos entre Estados,
permanecendo praticamente inviolável há mais de sete séculos.
E fora justamente no castelo medieval de Almeida que, no começo do
século XVI, o rei D. Manuel mandou operar a mais importante obra
175
4. HISTORICAL AND ARCHITECTURAL
CHARACTERIZATION
OF ALMEIDA’S BULWARKED WORK
João Campos
4.1 – About the Strategical background of the Site
The political border with Spain is not geographically relevant when
compared with the morphological mark that has just happened, from
the West, having won the Côa natural gorge and arrived to Iberian Me-
seta plateau. Just 2.5 km ahead, the river goes straight North, almost
250 metres under the level on which Almeida’s Fortress is located.
The Tourões brook, 7 km North of Almeida (which dries in summer and
which has lost the friendly inhabitants that named it a long time ago),
seems insignificant when side by side with the plunged valley of the
great contributing river of Douro.
Leaving behind the Western barren orography, the plateau beginning in
the Côa right shore edge presents the medium counter value of 750 me-
tres. Twenty kilometres north, where the rocky left bank of river Douro
can be seen, the Marofa mountain range, with heights under 1000 me-
tres. Going south, approximately twelve leagues from there, the Central
Meseta is not at an excessively great height, reaching amaximum height
of 1075 metres of Malcata and 1000 metres of the Mesas mountain
range. At North we can see a broad planed surface, with smooth slopes
of wide open valleys.
Almeidas’ highest counter value is of 761.5 metres, the stronghold for
Nossa Senhora das Brotas’ bulwark, and its lowest counter value is of
739 metres, inside S. João de Deus’ bulwark.
The place inherits the previous medieval settlement as a primary stra-
tegic point, which occupation date goes centuries back, previous to the
Portuguese nationality.
King D. Dinis opted for this pillar settled on the territory almost inside
the neighbouring Kingdom, to confirm the sovereignty limits, reaffirms
the importance of that geographic mark, the sentinel that watches over
the landscape, testifying the longest quietness of political boundaries
between Countries, remaining truly unbreakable from more than seven
centuries.
And it was in the Almeida’s medieval castle that, in the beginning of the
16th century, King D. Manuel ordered the most important military work

militar do seu reinado executada no território continental português
(aparte o caso especial da Torre de Belém), ao produzir a espectacular
transformação do sistema defensivo pré-existente naquilo que se con-
sidera ser a mais significativa peça da arquitectura militar de transição
para o abaluartado.
A João Salgado de Araújo, cronista do tempo da edificação, também
não escapou (“Sucessos Militares das Armas Portuguesas em Suas
Fronteiras”, Lisboa, Oficina de Paulo Craesbeck, 1644, pp. 101-102)
estar“Almeida nua campinha muyto rasa, que descobre por alcance
de uista hua legoa, & com ser terra chão, se vem da Villa de Almeida
terras de onze bispados”.
4.2 – Sobre o Desenho e a Grandeza da Obra de Almeida
Sobre a Fortaleza de Almeida, obra fundamental do sistema abaluartado
português, remontando ao século XVII, não dispomos de iconografia
coeva dos seus inícios. Já as referências documentais escritas são bas-
tantes relativamente aos intervenientes na execução das ordens reais,
assim imprimindo à decisão da edificação um desígnio fundacional da
própria restauração da Independência política nacional.
A primeira planta que se conserva data de 1736. Porém, o monumen-
to, ele próprio, transporta significações que nos elucidam sobre algumas
componentes da sua existência. E se as pedras que o conformam, obvia-
mente, hão-de em larga medida reportar-se já a trabalhos de reparação e
de conservação que os séculos mais recentes impuseram (face aos des-
mandos das guerras, à inclemência dos tempos e à incúria dos homens),
meditaremos sobre a circunstância de que o que temos perante nós ser um
imenso objecto arquitectónico quase perfeito, isto é, regenerado. Quer-se
dizer, recuperado dos traumas e das feridas, recompondo os tecidos origi-
nais. E isso foi possível porque a origem estava onde devia estar e como
devia ser, isto é, pertence ao tempo em que se ordenou fazer-se, que foi
em 1641 por D. João IV, dando ordens a Charles Lassart.
O acto técnico fundacional, quer dizer, a superior compreensão do sítio e
a aplicação da trigonometria para a regulação do traçado primacial da for-
of its Kingdom made in the Portuguese continental territory (besides
the special case of Torre de Belém), performing a spectacular transfor-
mation in the pre-existent defensive system into what is considered the
most important work of military architecture of transition to the use of
bulwarks.
João Salgado de Araújo, the chronicler during the construction period,
also noticed (“Sucessos Militares das Armas Portuguesas em Suas
Fronteiras”, Lisbon, Oficina de Paulo Craesbeck, 1644, pp. 101-102)
that “Almeida was in a very flat plateau, which uncovers because it has
over a mile in sight and, from the terrain, the lands from eleven bisho-
prics can be seen from the Village of Almeida”.
4.2 – Concerning the Design and Greatness of Almeida’ Work
On Almeida’s Fortress, primary work of the Portuguese bulwarked sys-
tem that dates back to the 17th century, we do not have contemporane-
ous iconography of its beginning. There are plenty written documental
references related with the interveners of the royal orders performance,
so attributing to the construction decision a foundation design of the
national political Independence restoration itself.
The first preserved plan dates from 1736. However, the monument itself
carries a significance which enlightens us about some components of its
existence. And if the rocks which confirm it, clearly, will fundamentally
report to restoration and conservation works imposed by the recent cen-
turies (due to the malpractice of war, the severity of the times and the
neglect of men), we will meditate on the fact that what we have here
is a huge architectural object almost perfect, that is regenerated. Want
to be said, recovered from the trauma and wounds, recomposing the
original tissues. This was possible because the core was where it should
be and how should be, meaning, belongs to the time when was ordered
its construction, which was in 1641 by King D. João IV, giving orders
to Charles Lassart.
The foundation technical act, meaning, a higher understanding of the
site and the application of trigonometry for regulating the fortification
176
tificação, isso foi no início e é seiscentista. Vem do saber francês, trans-
portado na compilação do Tratado de Antoine de Ville. A maior evidência
é a Porta Magistral de S. Francisco, cuja construção reporta o desenho
gravado pelo “Chevalier” toulousiano no frontespício da sua obra.
As datas que aparecem gravadas nas pedras que se espalham por diver-
sos locais da Porta Interior de S. Francisco, ou da Cruz, pertencem aos
séculos xvii e XVIII, mostrando que a construção teve lugar em duas
fases: “Olhando para o tecto verificamos que há duas pedras marcadas
com datas, certamente as chamadas pedras de fecho. A da parte velha
tem a data bem visivel de 1661, enquanto que a da parte nova parece
ser 1748” (J. Vilhena de Carvalho, “Almeida – Subsídios para a sua
História”, Vol. I, p. 39).
Anastácio António de Sousa Miranda, Sargento-Mor com exercício de
Engenheiro na Praça de Almeida, em documento datado de 13 de Agos-
to de 1796 e que se conserva no Arquivo Histórico Militar, elaborou
uma conscienciosa análise do valor da máquina de guerra, apontando-
lhe as vantagens e os defeitos.
No capítulo das vantagens, reconhece que “não he comandada de lado
algum, e ainda q. de frente della para a parte de Nascente, em distan-
cia de tresenta e sessenta toesas, o terreno he bastante elevado; Com
tudo, sempre lhe he alguma cousa inferior não obstante porém, sempre
recebe dele os prejuízos, que abaixo serão declarados, juntamente com
as outras circunstancias que para isso concorrem todo o mais q. da
Praça se descobre em distancia de alcance de artilharia he comandado
por ella. O terreno que fica em frente dos Baluartes de Nª. Sª. das Bro-
tas, de Sta. Bárbara, de S. João de Ds. e de S. Francisco; por ser em
grande distancia muito descoberto da Praça, e cheio de muitas veias de
pedra dura obrigando assim os expugnadores a principiar muito longe
as suas obras de ataque, a fazellas mais altas em diferentes partes e
abrirem com maior dificuldade as suas Trincheiras, serve a desani-
malos de empreender de dirigir por aqueles lados os seus ataques e
procurar outra frente mais fraca q. se pode fortalecer por diferentes
meios; ou enfim a não fazerem mais de dois ataques, o que he bastante
vantajoso; pois com isto a Guarnição he menos incomodada e as suas
forças menos repartidas.
Em todo o recinto da Praça o Reparo tem trinta e quatro pés de altura,
contados do fundo do Foço; cuja altura he suficiente, e não permite que
com facilidade seja montado por escada”,
Quanto aos defeitos, referiremos apenas matéria aplicável ao conjunto
das obras que trazemos aqui à colação. Anotamos, pois: “Como os ter-
raplenos dos Baluartes, e Cortinas não estão no mesmo nível e ainda a
respeito de si mesmo, só estão os dos Baluartes e os de quatro Cortinas,
ficando duas, huma q. se prende com os Baluartes de Sto. António e S.
Pedro; outra com os de Sta. Bárbara e S. João de D., com grande obli-
quidade, e fronteiras ao terreno acima referido, que he mais elevado, e
isto em razão da maior parte da Praça ficar sobre a ladeira da colina,
por este motivo as duas ditas Cortinas são infiadas daquele sítio, e o
Flanco esquerdo do Baluarte de S. João de D. batido de revés.(…) A
excepção dos Revelins que cobrem as portas, e o q. cobre a cortina que
fica entre o Baluarte de Sta. Bárbara e o de S. João de D. cujo Revelim
he doble os mais são defeitoozos; não tirão das faces dos Baluartes q.
os flaqueem todo o fogo que podião tirar, se as suas próprias fossem
bem dirigidas, e por isso tam bem não cobrem os flancos.(…)”
177
primary path, that was in the beginning and it is from the 17th century.
With a French origin, it was transported in the compilation of the Treaty
of Antoine de Ville. The greatest mark is the Magistral Gate of St. Fran-
cisco, which construction reports the written design of the toulousain
“Chevalier” in the frontispiece of its work.
The dates which are embossed in the stones scattered around the Inter-
nal Gate of S. Francisco, or of the Cruz, belong to the 17th and 18th cen-
turies, showing that the construction was made in two phases: “looking
the ceiling we note two stones inscribed with dates, surely the so-called
key-stones. The date in the old part has the well seen date of 1661, and
that one in the newest part seems to be 1748” (J. Vilhena de Carvalho,
“Almeida – Subsídios para a sua História”, Vol. I, p. 39).
Anastácio António de Sousa Miranda, Sergeant Major - Engineer in
Almeidas’ Stronghold, in a document dated from 13th of August 1796
(see op. cit. pp. 42-45) and which is preserved in the Military Historical
Archive, prepared a conscientious examination of the war machinery,
pointing the advantages and defects.
In the advantages chapter, he admits that “it is not commanded from
anywhere, although from in front of it facing North, three hundred and
sixty toises away, the ground is pretty high; Nevertheless, every time that
something inferior notwithstanding, always receives the losses from it,
which will declared below, together with the other circumstances which
play a part in all the rest which is discovered from the Stronghold away
from the artillery range commanded by it. The ground in front of Nossa
Senhora das Brotas’ bulwark, of St.Bárbara, of S. João de Ds. and of
S. Francisco; once it is far away from de stronghold, and filled with
hard rock veins imposing to the attackers that they commence their at-
tack strategies pretty far away from there, made it higher in different
parts and open their trenches with a greater difficulty, which works as
a deterrent for them avoiding they take that path for their attack and
they have to search a weaker front which can be defended with different
means; or don’t do more than two attacks, which a great advantage;
therefore the Garrison it is not so disturbed and its strengths are less
scattered. Across the Stronghold, the Repair is thirty-four feet height,
counting from the bottom of the ditch; which has enough height and
easily climbed with a ladder”,
Concerning the defects, we will only refer matters relevant to all the
works that we brought here on agenda. So, we have marked up: “As the
bulwarks fills, and Curtains are not at the same level and still concerning
to itself, there are only those from the bulwarks and those from the four
Curtains, remaining just two, one related with the Sto. António and S.
Pedro bulwarks; another related with the Sta. Bárbara and S. João de D.,
with great inclination, and boundaries to the land quoted above, which
is at a greater height, and this is because great part of the Stronghold
stands over the hillside, and also because of this the Curtains are stuck in
that place, and the S. João D. bulwarks’ left Wing built backwards. (…)
Except from the ravelins which cover the doors, and the one that covers
the curtain which is between the Sta. Bárbara Bulwark and the S. João D.
whose ravelin is double and all the others have defects; do not take from
the Bulwarks front that cover all the fire they can take, if their own were
well directed, and also because of that don’t cover the flanks. (…)”
“The covered pathway which involves all the stronghold ground is made
of strongholds with prominent weapons and reentrances with beams in

“O caminho coberto que envolve todo o recinto da praça compõe-se de
praças de armas salientes e reintrantes com traveses de desenfiamento
em alguns pontos, barbetes, cortaduras de saída para a campanha e ban-
quetas formadas de uma fiada de grossas lajes com parapeito revestido
em parte de cantaria e no resto de alvenaria de pedra e barro”.
4.3 – Dimensionamento Geral da Grande Obra
O perímetro das fortificações, medido pelo parapeito do caminho cober-
to (o qual existe, ou é reconstituível conjecturalmente, em praticamente
todo o circuito), atinge o extraordinário comprimento de 3 180 metros.
A medição feita pela corda da magistral é de 2 442 metros, o que representa
uma relação de pouco mais de dois terços da medida da estrela externa.
As cristas das muralhas e as áreas dos diferentes revelins dão os seguin-
tes números:
– Revelim dos Amores ou da Horta do Governador – 206 metros e uma
superfície de 2 463 m2;
– Revelim da Cruz ou S. Francisco – 285 metros, com uma área de 4
607 m2;
– Revelim da Tasqueira ou da Brecha – 255 metros de perímetro e 3
619 m2 de área;
– Revelim de Santo António – 555 metros de contorno para uma área
de 18 071 m2;
– Revelim do Paiol ou de Santa Bárbara – 293 metros e uma superfície
de 4 595 m2;
– Revelim do Doble – 135 metros na tenalha interior e 375 metros na
luneta ou meia-lua externa, respectivamente com as áreas de 1 032 e de
4 619 m2.
O somatório das medidas dos perímetros da magistral com os das cris-
tas dos revelins avançados (2103 metros) atinge a extraordinária dimen-
são de 4 545 metros.
Será ainda interessante comparar os seguintes valores de áreas:
– Área urbana medida fora das golas dos baluartes e dos terraplenos
das cortinas, correspondendo a um perímetro de 1292 metros – 11,83
hectares;
– Área bruta contida pelas muralhas, medida pelo perímetro dos 6 ba-
luartes e respectivas cortinas – 19,94 hectares. A superfície dos revelins
atinge 3,90 hectares, pelo que os espaços muralhados somam uma área
global de 23,84 hectares;
– Área global dos fossos – 97 hectares, o que equivale a dizer que a
muralha da contra-escarpa dos fossos enquadra uma cintura defensiva
com uma área de 33,54 hectares;
– Área global das fortificações, medida pelo caminho coberto – 37,52
hectares;
– Área geral, incluindo os glacis, medida até à via circundante da Praça-
forte – 63,92 hectares, medida pela via de cintura externa (num períme-
tro de 3272 metros).
Estamos certamente perante valores expressivos da grandiosidade da
obra militar em presença, tanto mais notável quanto se comparar a pro-
porcionalidade entre alguns dos dados significantes, como por exemplo
a relação entre a escassa área urbana disponível e os valores das super-
fícies que a obra militar atinge.
1 - Baluarte de Santa Bárbara ou Praça Alta
2 - Baluarte de São João de Deus
3 - Baluarte de São Francisco
4 - Baluarte de São Pedro
5 - Baluarte de Santo António
6 - Baluarte de Nossa Senhora das Brotas ou do
Trem
some points, barbets, exit cutting doors for the campaign and banquets A - Revelim dos Amores
formed by a string of large slabs with a parapet partially covered in ou da Horta do Governador
B - Revelim da Cruz ou de S. Francisco
ashlar masonry and the rest covered in stone or brick masonry. C - Revelim da Tasqueira ou da Brecha
D - Revelim de Santo António
E - Revelim do Paiol ou de Santa Bárbara
1
F - Revelim Doble
4.3 – General Dimensions of the Great Work
F
The fortifications perimeter, as measured by the parapet of the covered E
path (which exists, or can presumably be rebuild in virtually the entire
circuit), reaches the extraordinary length of 3180 metres.
The measurement made by magistral line is of 2442 meters, which rep-
resents a ratio of just over two thirds of the measure of the star outside.
The crests of the walls and the areas of the different ravelins provide the
following numbers:
– Ravelin of Amores or of the Horta do Governador – 206 metres and
an area of 2463 m2;
2
– Ravelin of Cruz or S. Francisco – 285 metres, with an area of 4607 m2;
– Ravelin of Tasqueira or of the Brecha – perimeter of 255 metres and
an area of 3619 m2; 6
– Ravelin of Santo António – contour of 555 metres for an area of
18071 m2;
– Ravelin of the Powder Magazine or of Santa Bárbara – 293 metres
and an area of 4595 m2;
– Ravelin Doble – 135 metres in the inside tenaille and 375 metres in the A
external lunette or demi-lune, with respective areas of 1032 and 4619 m2;
– The sum of the perimeters of the magistral with the crests of advanced
ravelins (2,103 metres) reaches the extraordinary size of 4545 metres.
It will also be interesting to compare the values of areas:
– The urban area measured outside bulwarks’ necks and curtains’ fills,
with a perimeter of 1,292 meters - 11.83 hectares; D
– The gross area taken by the walls, measured through the perimeter of
the 6 bulwarks and respective curtains – 19.94 hectares. The ravelins
surface reaches 3.90 hectares, and the walled spaces form a global area
3
of 23.84 hectares.
– The gross area of the ditches – 97 hectares, it is the same to say that
the wall of the ditches counterscarp has a defensive pathway with an
area of 33,54 hectares;
– The gross area of the fortifications, measured by the covered path – 5
37.52 hectares;
– General area, including the glacis, measured until the surrounding
path of the Stronghold – 63.92 hectares, by the external pathway (in a
perimeter of 3272 metres). 4 B
We are indeed looking at values that express the greatness of this mili-
tary work, and even more remarkable when we compare the propor-
tionality between some of the significant data, for example the rela-
tion between the limited available urban area and surface values of this C
military work.
But if we make an analysis effort to examine the effort dimension, we
may just consider that the sum of the perimeter, about 4 and a half miles
multiplied by an average height from about 7 meters for repairs, give us a
masonry area in granite ashlars which reaches 30 000 square meters of con-
struction, to which we should add the interior curtains of some walls fills.
178

Mas se procedermos a um esforço de análise para aquilatarmos a dimensão
do esforço, basta termos presente que o referido somatório do perímetro, com
cerca de 4 quilómetros e meio, multiplicado por uma altura média admissível
da ordem dos 7 metros para os reparos, dá-nos uma área de alvenaria em
silhares de granito que atinge os 30 000 metros quadrados de construção, a
acrescer ainda dos panos interiores de alguns dos terraplenos das muralhas.
4.4 - Sobre a Forma de Almeida
No panorama das fortificações abaluartadas portuguesas, Almeida apre-
senta, derivado da sua peculiar geometria, o mais elevado esforço cons-
trutivo de uma praça-forte portuguesa. Em termos gerais pode dizer-
se que, aproximativamente, por cada metro quadrado de área urbana
dentro do recinto fortificado, houve que construir um metro quadrado e
meio de excepcionais muralhas de pedra.
Esta realização teve que ser devidamente projectada, posto que facil-
mente se compreende a vastidão do empreendimento e a ousadia da sua
realização técnica.
O hexágono é a forma orgânica por excelência, aquela que permite a
perfeita realização racional da colmeia que as abelhas laboriosamente
“O Engenheiro Português”, Manoel de Azevedo
Fortes, Lisboa, Manuel Fernandes da Costa, 1229,
Tomo II, Estampa 3
A – Revelim
B – Revelim com Flancos
C – Meia-Lua
D – Conserva ou Contraguarda a cobrir as faces
do Baluarte
E – Tenalha Simples
F – Tenalha Composta
H – Hornaveque
I – Obra Coroa
K – Obra Corna Coroada
L – Tenalha Moderna
M – Tenalha Moderna com Flancos
Bo – Revelim Moderno
O – Contraguarda ou Conserva
P – Praça de Armas dos Ângulos Salientes
Ss – Sem Traveses
22 – Traveses com Banqueta e Parapeito à prova
de mosquete
Y – Cortadura (Trincheira com Fosso)
X – Cavaleiro
4.4 – Concerning Almeida’ Form
Concerning the bulwarked Portuguese fortresses, Almeida presents,
due to its peculiar geometry, the greater constructing effort of a Portu-
guese stronghold. Generally one can say that, approximately, for each
square meter of urban area within the fortified ground, had to be built
one square and a half meter of exceptional stone walls.
This achievement had to be properly designed, once it is easy to un-
derstand the greatness of the work and the eagerness of its technical
completion.
The hexagon is the organic form per excellence, the one which allows
achieving the rational perfect realization of the hive that the bees labori-
ously weave in their meticulous cocoons. Therefore, the most finished
example and shaped in the beautiful print of the Manuel de Azevedo
Fortes’ Treaty, is the exemplifier “fortified hexagon by different meth-
ods, and with all sorts of outside works.”
However, there are not many hexagonal repairs performed throughout
the world, beginning with the early example of the radio concentric
founder (although not bulwarked) from Palma Nuova, in the end of
the 15th century. And Almeida, one of the most magnificent practical
examples of the bulwarked theory, being an almost regular hexagonal
180
“Traçado hipotético do perímetro original da
fortaleza, com sete baluartes. Note-se que a área
de defesa seria idêntica à conseguida com as obras
exteriores que foram realizadas. No século XVIII,
a frente do revelim de Santa Bárbara esteve
temporariamente protegida por uma obra exterior
complementar – uma conserva ou contraguarda
– que ampliava a área de defesa sobre o terreno
exterior.” (Desenho e legenda in “A Fortaleza de
Almeida – Uma perspectiva arquitectónica”, Ana
Luísa Quinta, ed. Câmara Municipal de Almeida,
2008, p. 139).
“Hypothetic original perimeter drawing for the
fortress, considering seven bulwarks. One notes
that the defence area would be identical to the one
attained with the external works further made. In
the 18th century, the Saint Barbara ravelin front
was temporarily protected with a complementary
external work – a conserve or counterguard –
which amplified the defence area over the exterior
spot.” (Drawing and legend in “A Fortaleza de
Almeida – Uma perspectiva arquitectónica”, Ana
Luísa Quinta, ed. Câmara Municipal de Almeida,
2008, p. 139).
tecem nos seus rigorosos casulos. Por isso, o exemplo mais acabado,
bem plasmado na bela gravura do Tratado de Manuel de Azevedo For-
tes, é o exemplificador “Exagono fortificado por differentes methodos,
e com toda a sorte de obras exteriores”.
Não obstante, não há muitos reparos hexagonais executados por esse
mundo fora, a começar logo pelo precoce exemplo radioconcêntrico
fundador (ainda que não abaluartado) de Palma Nuova, já nos finais do
século XV. E Almeida, um dos mais exímios exemplares práticos da
teoria do abaluartado, sendo um hexágono quase regular terá, não obs-
tante, o seu traçado teórico inicial sido baseado no heptágono. A ter em
conta as informações de João Salgado de Araújo (“Sucessos Militares
das Armas Portuguesas em Suas Fronteiras”, Lisboa, Oficina de Paulo
Craesbeck, 1644), o registo que existe nos dois exemplares existentes
na Biblioteca Nacional confirmam que os obras da fortaleza abaluartada
de Almeida estavam já iniciadas em Maio de 1644, com um traçado
para sete reparos, ordenado por Charles Lassart e posto em prática por
Pierre Gilles de Saint Paul.
Mas logo em 1646, a 9 de Julho, o Rei dava o seu aval a uma redução
sensível do traçado. Para tal decisão não terão deixado de contar as ra-
zões de ordem prática que a morfologia levantava para a configuração
heptagonal previamente projectada.
Parece certo que os primeiros redutos a serem levantados foram os ba-
luartes da Cruz e o de S. João de Deus: defendiam o flanco menos pro-
tegido do sítio, o campo aberto sobre a campanha e já fora da protecção
directa do castelo medieval.
O aconchego da cintura abaluartada evitava a orografia mais complexa
da bordadura que, justamente no quadrante Poente, se debruça sobre o
vale do Côa, cingindo-se mais ao castelo medieval – e daí resultando
um baluarte a menos para o que veio a concretizar-se. Em consequên-
cia, as cortinas entre Santa Bárbara e Nossa Senhora das Brotas e entre
esta e o baluarte de Santo António tornam-se desmesuradas, gerando
uma disposição algo defeituosa na regularidade da magistral de seis
pontas.
Na acepção que Antoine de Ville desde logo sublinha, a razão de ser
da forma da fortificação resulta de uma exigência teórica basilar: todas
as suas partes deviam “ser flanqueadas, quer dizer que não haja lugar
algum na Praça que não seja visto pelos lados”, isto é, defendido com
o armamento disponível, peças de artilharia e mosquetes.
A disposição radial dos pentágonos de cada um dos seis baluartes seria regu-
lada pelo alcance de um tiro de mosquete, o que representaria, em meados do
século XVII, o máximo de uns 750 pés, isto é, à roda dos 200 metros.
A definição logística da organização de uma Praça-forte assentava em
pressupostos práticos que decorriam do dimensionamento da castra-
mentação a edificar, aferida pelo número de homens em armas. Antoine
de Ville situava um valor médio da guarnição de uma fortificação na
base de 400 a 500 soldados por baluarte. Quer isto significar que Almei-
da deveria ser um enorme quartel de uns 3 000 homens.
A escolha da sua implantação representa, por isso, um acto primacial da mais
alta importância, pelas implicações várias que acarreta, seja no que se reporta
à construção em si mesma, seja ao aspecto essencial da disponibilidade de
água para as vastas carências de uma tão agigantada população a servir.
Dentro do recinto muralhado encontram-se muitas habitações com po-
ços, alguns deles ainda com serventia de água. As designadas casamatas
181
will, however, its original theoretical layout been based on the hepta-
gon. Concerning the information of João Salgado de Araújo (“Suces-
sos Militares das Armas Portuguesas em Suas Fronteiras “, Lisbon,
Oficina de Paulo Craesbeck, 1644), the register that exists in two copies
in the National Library confirmed that the works of the Almeidas’ bul-
warked fortress had already begun in May 1644 with a layout for seven
repairs, ordered by Charles Lassart and implemented by Pierre Gilles
de Saint Paul.
But immediately in 1646, at the 9th of July, the King gave his assent to a
small reduction of the layout. For this decision contributed the practical
reasons that were raised by the morphology concerning the heptagonal
configuration previously proposed.
It seems certain that the first redoubts to be raised were the Cruz and S.
João de Deus bulwarks: which defended the less protected wing of the
place, the open field over the campaign and out of the direct protection
of the medieval castle.
The protection of the bulwarked pathway avoided the more complex
orography of the border that, precisely in the West quadrant, focuses
on the Côa valley, being limited to the medieval castle – resulting in a
bulwark less for what came to be realized. Consequently, the curtains
between Santa Barbara and Nossa Senhora das Brotas and between the
last one and the Santo Antonio bulwark become excessive, leading to
an imperfect disposition in the regular provision of the six points mag-
isterial.
Antoine de Ville’s interpretation immediately emphasizes the reason
behind the fortification shape, which results of an important theoretical
demand: all parts must “be flanked, meaning that all locations within
the Stronghold can be seen from all sides”, that is, defended with the
available armament, artillery pieces and muskets.
The radial layout of the pentagons of each one of the six bulwarks
would be regulated by the reach a musket’s shot, which would repre-
sent, in the middle of 17th century, the maximum distance of 750 feet,
that is, around 200 meters.
dispõem de um poço no pátio de entrada (que mantém água todo o ano
e serve para regular o nível freático do local), para além de uma mina
que vai buscar o nascente junto da escarpa interior da cortina entre o
baluarte e o de S. Francisco, trazendo água para o interior de uma das
salas abobadadas, a que se acede a partir da galeria de entrada. Fora das
muralhas existem três fontes públicas.
A abundância e qualidade da água foram, sem dúvida, razão de peso
para a escolha do sítio como apropriado a uma fortificação com a com-
pleição de Almeida. E o relato primeiro da grande aposta estratégica
(João Salgado de Araújo, Sucessos militares das armas portuguesas
em suas fronteiras, Lisboa, Paulo Craesbeek, 1644, pp. 101-102), não
deixa de sublinhar que“Tem esta Villa mais de 40 poços de agoa, de que
se pode beber. He abondante de paõ vinho & gado”.
4.5 – O Quadrante Norte/Nascente
O flanco virado a Norte / Nascente dá-nos o perfil mais complexo e diver-
sificado do conjunto das obras muralhadas da Praça-forte de Almeida.
Nesse quadrante alinham-se o altaneiro baluarte de Santa Bárbara, com
a sua praça alta, em contraste com o distendido baluarte de S. João de
Deus, sendo visualmente dominado do alto daquele. De permeio apre-
senta-se um belíssimo revelim avançado com duplo sistema de fosso,
separado pela majestosa distância do fosso que medeia até à extensa
cortina obliquada da magistral.
Centraremos a nossa análise no que mais se relaciona com o carácter
notável da arquitectura destas três pontas da “estrela” de Almeida, jun-
tamente com a das Portas da Praça-forte (que faremos a seguir à expo-
sição sobre este quadrante dos reparos).
The logistic definition of a Stronghold’s organization is set on practi-
cal assumptions that were originated on the castramentation’s size, as-
sumed by the number of soldiers. Antoine de Ville situated the average
value for a fortification’s garrison on the number of 400 to 500 soldiers
per bulwark. This means that Almeida featured enormous barracks of
about 3000 men.
The choice for its implementation is, therefore, a primordial act of utter
importance, for the consequences it holds, not only related to the actual
construction, but also on the essential aspect of making water available
for the enormous needs of such a huge population.
Within the walled enclosure, many houses can be found with wells, some
of which can still obtain water. The casemates have a well on the entrance
patio (which has water all year round and it is used to regular the phreatic
level of the site), alongside a mine which uses the fountain near the curtain’s
interior escarpment between the bulwark and S. Francisco’s, which brings
water inside one of the vaulted rooms, which can be accesses through the
opening gallery. Three public fountains lay outside the walls.
The abundance and quality of water were, undoubtedly, a very strong
reason for the site’s election as being appropriated for a fortification
like Almeida’s. And the account on the great strategic option (João
Salgado de Araújo, Sucessos militares das armas portuguesas em suas
fronteiras, Lisboa, Paulo Craesbeek, 1644, pp. 101-102) says that “This
Village has more than 40 water wells, which is drinkable. Bread, wine
and cattle are also abundant”.
4.5 – The Northern/Eastern quadrant Uma simples pedra no ponto mais alto 4.5.1 – O Baluarte de Santa Bárbara Within this quadrant, we are able to see the high-rising Santa Bárbara’s
das fortificações é o memorial de uma vida jovem e bulwark, with its high stronghold, contrasting with the extended S. João
especialmente significativa: lembra o sobrinho
The flank facing North/East gives us a more complex and diversified do Comandante Inglês, o General que aqui Contam-se neste Baluarte (que é o de maior altitude da Fortaleza) 23 de Deus’ bulwark, which is visually dominated by the height of the first.
profile of the walled works’ set of Almeida’s Stronghold. viu morrer John Beresford, Tenente do Corpo canhoneiras (4 voltadas para o baluarte de Nossa Senhora das Brotas, In between, we are able to see a beautiful advanced ravelin with a dou-
de Armas Luso-Inglesas, na sequência da Batalha
de Cuidad Rodrigo, em 19 de Janeiro de 1812, ou do Trem, 7 na face do mesmo lado e 10 da face oposta, e ainda 2 ble ditch system, separated by the majestic ditch distance that interferes
com 21 anos de idade cruzando fogo para o lado da cortina que liga ao baluarte de S. João de until reaching the great oblique curtain of the magisterial door.
A simple stone in the highest point of the
Deus) e uma plataforma junto do ângulo saliente. Let us focus our analysis on what is more related to the remarkable
fortification in the memorial of a young and Paralelamente à face direita está uma plataforma cavaleira com lajea- aspect of the architecture behind these three tips of Almeida’s “star”,
specially meaninggull life: it reminds the nevew do, própria para lançamento de morteiros, podendo disparar para três di- together with the analysis of the Doors of the Stronghold (which will
of the British Commander, the General who
saw fall to death John Beresford, Lieutenent of recções cardeais. Existe igualmente uma plataforma a cota mais baixa, follow the essay on this quadrant of repairs).
the Portuguese-British Army, after the battle of também com obra a cavaleiro, lajeada, rematando e articulando de modo
Cuidad Rodrigo, in the 19th January of 1812, with
21 years old. sui generis a relação com a cortina. Neste ponto, a situação topográfica
contígua do espaço interior das muralhas tinha uma especial qualificação, 4.5.1 – Santa Bárbara’s Bulwark
dada a privilegiada relação com o grande aquartelamento que lhe era con-
tíguo na malha urbana, a qual veio a ser alterada pela construção de um 23 gun platforms (4 facing Nossa Senhora das Brotas or Trem’s Bul-
estabelecimento hoteleiro nos meados da década de 1980. wark, 7 on the face of the same side and 10 on the opposite side and 2
No centro do baluarte dispunha-se um paiol (com três compartimentos) crossing fire for the side of the curtain that connects to S. João de Deus’
e na gola ainda se divisam vestígios arqueológicos de uma capela da bulwark) can be seen on this bulwark, as well as a platform near the
invocação da padroeira dos artilheiros. bulging angle.
Parallel to a right face, there is a noble platform with slabs, ready for mor-
tar shooting and able to shoot into three main directions. There is equally
4.5.2 - O Baluarte de S. João de Deus a lower platform, also oblique and with slabs, trimming and articulating
in and unique way the relationship with the curtain. At this point, the con-
A ter-se concretizado o programa de arquitectura militar organizado na pro- tiguous topographical situation of interior space of the walls had a special
posta do Engenheiro-mor do Reino Manoel de Azevedo Fortes, em 1736 (e qualification, given the privileged relationship with the great barracks,
que, para além de um revelim duplo nos Amores, ainda abarcava uma es- which was adjacent to it in the urban network, and that was changed by
pécie de outro doble, numa interessante e originalíssima posição defensiva the construction of a hotel in the middle of the 1980s.
182 183
intermédia para a obra exterior de Santo António, configurando uma luneta
com controle de passagem, frente às Portas Magistrais do mesmo nome),
Almeida sobrevalorizaria, em muito, o alcance notável que, ainda assim,
adquire no conjunto, incompleto mas vasto, que estamos a analisar.
De todo o modo, para o baluarte de S. João de Deus estava reservada uma
função militar privilegiada, com um aquartelamento que a Planta daquele
ano apresenta com um postiço sobreponível para o piso superior.
Do ponto de vista da teoria expendida em “O Engenheiro Português”, Azeve-
do Fortes desejaria a realização do que ele chamava “Cavaleiro” ou “Baluarte
Dobrado”, assistindo-se assim a um quadrante da fortificação complexifica-
do, de desenho sistematicamente duplicado na protecção que cada compo-
nente fazia de si própria e por relação ao dispositivo defensivo colateral, fosse
obra exterior, fosse o baluarte de Santa Bárbara, com a sua grande elevação
natural contraposta a um altaneiro baluarte de S. João de Deus.
Não há dúvida, porém, que apesar de nunca se ter concretizado o “Ca-
valeiro”, o baluarte de S. João de Deus foi sempre um ponto fulcral do
sistema fortificado de Almeida. Com ou sem casamatas (mas com ex-
tenso programa de abóbadas), com ou sem cavaleiro, mas com o maior
número de canhoneiras de todos os bastiões (28, para além de dispor de
plataforma no ângulo saliente e de obra de cavaleiro, com lajeado para
morteiros, no flanco direito). A distribuição de fogo posicionava-se com
At the centre, the bulwark had a magazine (with three compartments)
and on the neck some archaeological vestiges can still be found of a
chapel in order of the patroness of gunners.
4.5.2 – S. João de Deus’ Bulwark
After the coming to life of the military architecture program organized
on the proposal of Manoel de Azevedo Fortes, the Kingdom’s Chief-
Engineer, in 1736 (and that, beyond the double ravelins on Amores, it
still embraces a species of another doble, in an interesting and original
middle defensive position for Santo António’s exterior work, thus con-
figuring a lunette with passage control, in front of the Magisterial Door
“PLANTA // DA // PRAÇA DE ALMEIDA // Com
with the same name), Almeida would come to really under appreciate as obras exteriores e interiores addicionadas e
the remarkable range that, even still, it has on the incomplete but vast de // terminadas pelo Engenheiro-mor do Reino
Manuel de // Azevedo Fortes // Riscada pelo Ca-
group, which is currently being analyzed. ppitam José Fernandes Pinto de Alpoym, // Anno
In any event, S. João de Deus’ bulwark was reserved for a privileged de 1736”.
military function, with barracks that feature a overlapping fake struc- “PLAN // OF THE // FORTRESS OF ALMEIDA //
ture for the upper level, according to that year’s Plant. With the exterior and interior works added and //
From the theory explained in “O Engenheiro Português”, Azevedo determined by the Chief-Engineer of the Kingdom
Manuel de // Azevedo Fortes // Drawn by Captain
Fortes “ desires to accomplish he calls the “Knight” or “Double Bul- José Fernandes Pinto de Alpoym // Year of 1736”.
184

5 peças cruzando para o baluarte de Santa Bárbara, 11 para a face con-
tígua e 7 do outro lado, sendo as restantes 5 posições para a protecção
da cortina que liga ao baluarte de S. Francisco.
A condição construtiva do reparo é ainda bastante boa, designadamente ofe-
recendo-nos a berma bem estabilizada no sopé do fosso e, ao nível da corda,
com cerca de um metro de largura em boa alvenaria de granito, o caminho
de ronda acompanhando todo o parapeito, tudo em bom estado (ao contrário
de outras localizações, em que desapareceu), fazendo a interligação entre as
elegantes guaritas que pontuam os ângulos da geometria do baluarte.
A mais antiga planta integral da Fortaleza que se conserva é, como dis-
semos, aquela de 1736, desenhada sob responsabilidade de Manuel de
Azevedo Fortes (1660/1749), o afamado autor do tratado de fortificação
em dois tomos “O Engenheiro Português” (Lisboa, 1728/29).
wark”, thus enabling one to witness a complex fortification quadrant,
with a systematically double design for the protection that each piece
made of itself and by the relationship with the collateral defensive de-
vice, whether an exterior work or Santa Bárbara’s bulwark, with its
great natural elevation against a high bulwark of S. João de Deus.
Undoubtedly, although the “Knight” was never accomplished, São João
de Deus’ bulwark was always a fulcra point on Almeida’s fortified sys-
tem. Without or without casemates (but with an extensive program of
vaults), with or without knight, but with a greater number of gun plat-
forms on all bulwarks (28, beyond having a platform on the bulging and
oblique angle, with slabs for mortars on the right flank). The fire dis-
tribution was positioned in 5 pieces crossing towards Santa Bárbara’s
bulwark, 11 towards the contiguous face and 7 towards the other side,
186
“Riscada” pelo Capitão José Fernandes Pinto de Alpoim, a “Planta da Pra-
ça de Almeida / Com as obras interiores e exteriores addicionadas e de /
terminadas pelo Engenheiro-mor do Reino Manuel de / Azevedo Fortes”
apresenta um elevado interesse, dado o registo de medidas construtivas de
alto coturno que se encontravam planeadas nessa data (e que até já viriam de
tempo anterior), as quais, adicionadas ao extraordinário trabalho realizado,
confeririam à obra final uma qualidade extraordinariamente acrescida.
Basta lembrar que a grande obra que sempre era apontada como fazen-
do jus à compleição necessária ao baluarte de S. João de Deus, também
aparece apontada na legenda da Planta de 1736 como o “cavalleiro de
novo projectado”. E esta componente da obra militar que, pelos vistos,
já havia sido, irá ser ainda outra ou outras vezes projectada, como nos
belíssimos desenhos de 1801, a que mais à frente nos referiremos.
Por ora, importa chamar a atenção para a complexidade antevista no
desenho desse cavaleiro “de novo” pensado, e a levantar no baluarte ali
chamado “de S. João de Deus. Seus subterrâneos”. O desenho parece
apontar no sentido de uma construção de grande complexidade, cuja
ideia primeira seria a de resolver a questão altimétrica, dada a cota de
implantação do baluarte. Esse objectivo só era alcançável através da
edificação de um aquartelamento formando uma plataforma elevada.
De interesse, ainda, a notação para dotação de Quartéis de Infantaria
(que mais tarde se hão-de fazer noutro estilo e noutra localização) “para
suprir a sua falta nos terraplenos”. Por outro lado, a forma edificada e a
organização do Cavaleiro em relação à gola do baluarte, em nada corres-
pondem ao projecto que será parcialmente concretizado décadas após.
De reter, deste importante documento, o facto de a forma do Cavaleiro pro-
jectado não corresponder ao projecto que será parcialmente concretizado.
Para o final das hostilidades da chamada Guerra Fantástica, mais precisa-
mente a 20 de Março de 1762, João Alexandre de Chermont regista o estado
da fortificação em consequência da Guerra dos Sete Anos, grafando um “Ba-
luarte de S. João de Deus, ou dos Subterrâneos”, com a gola aberta, talvez
por a sua preocupação se cingir ao estado das muralhas propriamente ditas.
Mas é de apontar que o espaço interno do baluarte surja nas diversas
representações, a partir desse registo, quase sempre preenchido com o
mesmo tipo de geometria, isto é, a generalidade da iconografia passa a
transmitir a imagem de um pátio rectangular encerrado.
A questão da designação atribuída às salas construídas no baluarte tem,
hoje-em-dia, uma importância relativa.
A importância da coincidência (que sempre há-de convir) entre a razão
de ser de uma designação e a função leva-nos, no caso do baluarte de S.
João de Deus, a especular sobre se as potenciais casamatas não terão,
efectivamente, ficado por fazer – e, assim, o nome apenas consubstan-
ciar algo desejado mas somente começado e de cujo projecto se desiste
por, entretanto, deixar de se mostrar útil. Referimo-nos não somente à
repetida intenção de reforma construtiva do baluarte, mas sobretudo aos
sinais de obra iniciada que existem em duas das salas abobadadas, nas
quais se denota a disposição de uma simétrica progressão a meio das
faces dos flancos externos do pentágono.
Para nós essas marcas pertencem a um programa de instalação de peças de
artilharia, fazendo tiro sobre os fossos e os campos, menos guarnecidos,
de ambos os lados do baluarte (reconhecidamente o menos defendido dos
do conjunto da Praça-forte), o qual assim passaria, efectivamente, a pos-
suir as casamatas de que seria carente para um eficiente desempenho...
187
being that the other 5 positions protected the curtain connecting to S.
Francisco’s bulwark.
The constructive condition of the repair is still quite good, inclusively
offering us the well stabilized edge at the foot of the ditch and on the
rope level, about a meter wide in good granite masonry, the walkway
accompanies the entire parapet, all in good condition (unlike other loca-
tions, where they gone missing), establishing the link between the elegant
sentry towers that punctuate the corners of the geometry of the bulwark.
The oldest full plant of the Fortress preserved to our days, as we have
said, dates back to 1736, designed under the responsibility of Manuel
de Azevedo Fortes (1660/1749), the author of the famous treaty on
fortification, in two volumes, O Engenheiro Português” (Lisbon ,
1728/29).
“Corrected” by Capitan José Fernandes Pinto de Alpoim, the “Planta
da Praça de Almeida / Com as obras interiores e exteriores addi-
cionadas e de / terminadas pelo Engenheiro-mor do Reino Manuel
de / Azevedo Fortes” has a particular interest, given the record of
high quality constructive measures that were planned at the time (and
that would come from earlier stages), which, after being added to the
extraordinary work being performed, gave the final work an extraor-
dinary quality.
Just remember that the great work that was always pointed out as do-
ing justice to the necessary completion of S. João de Deus’ bulwark is
also indicated in the caption for the 1736 plant in 1736 as the “knight
projected once again.” And this component of the military work that,
apparently, had already been projected, would be projected over and
over and over again, such as in the beautiful drawings in 1801, which
will be referred later on.
For now, it is important to call attention to the anticipated complexity of
the design of this “once more” thought knight and that would be raised
on the bulwark called “S. João de Deus. Seus subterrâneos”. The draw-
ing seems to point in the sense of a construction of great complexity,
witch first idea would bee to solve the altimetric question, because of the
level of the bulwark implantation. This objective only would be reached
by means of building a barrack attainning an upraised platform.
Also interesting is the notation for the appropriation of Quartéis de In-
fantaria (which will later assume a different style and another location)
“to suppress its lack of embankments”. Moreover, the built form and
organization of the Knight in relation to the bulwark’s neck, in no way
represent the project that will be partially accomplished decades later.
To be retained, from this important document, is the fact that the shape of
the Knight does not match the project that will be partially achieved.
Towards the end of hostilities of the so-called Guerra Fantástica, more
precisely on 20th March 1762, João Alexandre de Chermont notes the
state of the fortification, as a result of the Seven Years War, recording
a “S. João de Deus’ Bulwark or of the Subterrâneos” with an opened
neck, perhaps because hisconcern is limited to the state of the walls.
But the point is that the internal space of the bulwark arises in different
representations, from that same record, almost always filled with the
same type of geometry, i.e., the majority of iconography starts transmit-
ting the image of a closed rectangular courtyard.
The question of the name given to the rooms built within the stronghold
id today of relative importance.

No belo desenho de João Bernardo Real da Fonseca, mostrando os ata-
ques do Cerco dos Espanhóis durante o Cerco da Guerra Fantástica, em
1762, o baluarte de S, João de Deus aparece com o desenho das instala-
ções do seu interior designadas como “Quartéis Subterrâneos”.
Esta denominação não será a que convém melhor ao rigor do edificado, posto
que as vinte salas abobadadas que foram construídas não são mais o que o
piso térreo do Cavaleiro pensado para o baluarte. Esse conjunto aparece, com
algum lapso, relativamente bem explícito no “Plano de la Plaza de Almeida
situada en la Comarca de Piñel”, levantada em 15 de Março de 1763, com
apreciável rigor topográfico e utilíssimo benefício toponímico, por Don An-
tónio de Gaver, a mando do Comandante do Exército de ocupação.
(Vem a talhe de foice reter a informação da fonte espanhola sobre a dimen-
são do aglomerado e do estado a que tinha ficado reduzida Almeida, após
a interferência portuguesa nas beligerâncias franco-inglesas: “constaba su
población de 660 fuegos, com 2 350 vezinos pêro com el estrago de las
Bombas hán quedado arruinados los dos terzios de la habitacion”).
4.5.2.1 – Projectos Inacabados
O projecto do grande Cavaleiro que, pelo menos documentalmente, parece
estar no pensamento de todos os intervenientes nas obras de melhoramento
«PLANTA DA PRAÇA DE // ALMEIDA // No
estado em que a achei no dia 20 de // Março
1762 em que a ella cheguei // João Alexandre De
Chermont».
The importance of the coincidence (which will always be convenient) be-
tween the reason for a name and the position leads to speculate, on the case of
S. João de Deus’ bulwark, whether the potential casemates would effectively
remained unfinished – and, thus, the name only substantiates something de-
sired but that was only started and whose project fails because meanwhile, it
was rendered useless. This is not only a reference to the repeated intention of
the bulwark’s constructive reform, but mainly to the signs of a work that was
started and which left behind two vaulted room, on which one could see the
layout of a symmetrical progression in the middle of the pentagon’s external
flanks faces.
For us, these marks belong to a program of installation of artillery piec-
es, shooting over ditches and fields, which were less garrisoned, on
both sides of the bulwark (admittedly the least defended of the entire
Stronghold), which would thus in fact feature casemates that would be
lacking for an efficient performance...
On João Bernardo Real da Fonseca’s drawing, showing the attacks of
the Spanish siege during the Guerra Fantástica, in 1762, S. João de
Deus’ bulwark appears with the drawing of their interior facilities under
the name of “Quartéis Subterrâneos – Underground Barracks”.
This name is not the most convenient regarding the rigor of the buildings,
since the twenty vaulted rooms that were built are merely the ground floor
of the Knight considered for the bulwark. This set appears, with some dis-
188

da Praça-forte de Almeida (pelo menos desde a planta de Manuel de Azevedo
Fortes, de 1736), terá dominado as intenções, como mais uma vez reporta a
“Planta Ichnografia” de António Bernardo da Costa, com a indicação de “Ca-
zas matas a prova de Bomba” (o que permaneceria em projecto) e a indicação
de “Transito das Abóbedas”, isto é, a galeria / corredor do pátio do baluarte.
Face ao rigor do projecto apresentado em 1801, a vontade de dar finaliza-
ção ao Cavaleiro revelava-se constante. Escrevem os Oficiais Engenheiros
Anastácio de Souza Miranda e Maximiano da Serra: “fazendo-se no mesmo
Cavaleiro, Cazernas à prova de Bomba correspondentes a outras, que actu-
almente existem por baxo do Terrapleno do mesmo Baluarte” – isto é, justa-
pondo instalações em elevação do piso térreo (como mostram claramente os
desenhos), já realizado a cota inferior à do terrapleno da muralha.
O ambicioso programa de construção com vários níveis, sobrelevando-
se cerca de 3 metros em relação ao caminho de ronda do baluarte, e
dispondo de um terraço com acabamento anti-bomba (isto é, com laje-
ados planos de pedra destacados da estrutura construtiva inferior), foi
interrompido por razões que talvez importe alguém um dia estudar.
traction, relatively explicit in the “Plano de la Plaza de Almeida situada en
la Comarca de Piñel”, surveyed on 15th March 1763, with a considerable
topographic accuracy and a useful toponymy benefit, by Don Antonio de
Gavere, at the behest of the Commander of the occupation Army.
(Following these facts, comes the information from a Spanish source on
the agglomerate’s dimension and the state to which Almeida was reduced
after the Portuguese interference of the French-English war: “constaba
su población de 660 fuegos, com 2 350 vezinos pêro com el estrago de las
Bombas hán quedado arruinados los dos terzios de la habitacion”).
4.5.2.2 – The remarkable stone coverings of the “Casemates”
The complex is made up of 20 rooms, all arched, with surface areas of
18 to 120 m2. Their average width is around 4.44 metres (apart from the
West / North angle compartment, whose bay is in the order of 7 metres),
while the length ranges from 3.80 to 27 metres.
190
«PLANO DE LA PLAZA DE ALMEIDA SITUADA EN LA COMARCA DE PINEL // Dom Antonio de
Gaver. Peñaranda de Bracemonte, Marzo 15 de 1763.// Se levanto este Plano por orden del Ex.mo Señor
// Conde de Aranda Theniente General de los Ejer //
citos de S. Mg.de y Comandante del Ejercito en Portugal.» (Parcial).
Poderemos, por ora, extrapolar sobre o possível desinteresse em dar-lhe
acabamento, invocando outra hipótese justificativa, que não a costumada
razão de “falta de verbas”: afinal, a Praça foi refeita depois das Invasões
Francesas, sendo em geral acrescentados melhoramentos muito significa-
tivos. É o caso dos complexos das Portas de S. Francisco e das Portas de
Santo António, as quais foram modernizadas com um sofisticado sistema
de cobertura anti-bomba – aí se postergando (como sobre a abóbada da
galeria / corredor do baluarte de S. João de Deus) qualquer preenchimento
com volumes de aterro que desse continuidade aos caminhos de ronda.
Provavelmente, a razão mais sólida para esse desinteresse terá sido a da
constatação de uma obsolescência dos princípios da estratégia militar até
então vigente: era o tempo de um “design” novo da guerra, com exércitos
colossais em movimento, evoluindo, com perdas controladas, ao lado de
posições defensivas inamovíveis e que, simultaneamente, se constituíam
em alvos cada vez mais fáceis para as desenvolvidas técnicas da artilharia.
«PLANTA DA PRAÇA DE ALMEIDA //
COM SEUS ATAQUES (1762) // O Ajudante
da Cavalaria de Almeida João Bernardo Real
da Fonseca a fez.»
«PLANTA ICHNOGRAPHIA DA PRAÇA
DE ALMEIDA »,
António Bernardo da Costa, fins do século XVIII.
191
«PLANOS // E PERFIS // DE HUM //
CAVALEIRO QUE O EX.Mº SENHOR //
GUSTAVO ADOLFO HER // CULES
DE CHERMONT // MARECHAL DE CAMPO
DOS // REAES EXERCITOS, E GOVER //
NADOR DA PRAÇA DE AL //MEIDA //MAN-
DOU PROJETAR PELOS OF //ficiaes
Engenheiros, o Tenente Coronel // ANTÓNIO
ANASTÁCIO DE SOU // ZA E MIRANDA,
e o sargento Mor // MAXIMIANO JOSÉ DA
SER // RA, para se fazer no Baluarte de S. João //
de Deos da mesma Pra //ça (…) Almeida1 22 de
Agosto de 1801.» Piso Térreo / Ground Floor.

«PLANO DAS CAZERNAS DO CAVALEIRO»

// «PLANO DA BATERIA À BARBETA DO
CAVALEIRO». Piso(s) elevado(s) e cobertura
(Upper level(s) and roof.

«PERFIL CORTADO PELA LINHA AB. //

PERFIL CORTADO PELA LINHA CD. //
PERFIL CORTADO PELA LINHA EF.»

Em 1811, o “Esboço” do Tenente Coronel Caula e do Major Neves da Costa
anota, no baluarte em referência, “Cazamates em bom estado”, sem insisti-
rem no desenho do pátio. Fica aqui também a menção: “NB. De 718 moradas
de Cazas, comprehendidas antigamente no Recinto desta Praça, só existem
180 habitáveis”. Tinha sido grande a destruição imposta a Almeida.
Em 1811-12, o Plano do Coronel Engenheiro Pedro Folque volta a não
dar qualquer indicação para o interior do bastião. Parece que o tempo se
suspende na expectativa de uma decisão de empreitada…
Pelos finais de 1812, segundo informa José Vilhena de Carvalho, “o
governador da Praça chamava a atenção das autoridades militares para
a falta que existia em Almeida de lugares à prova de bomba”, lamen-
tando-se sobre “os subterrâneos do baluarte de S. João de Deus, deno-
minados casamatas, que eram extremamente escuros e húmidos. A fim
de melhorar as casamatas, mandou tirar a terra a dois compartimentos
[refere-se à parte exterior sobre os mesmos, os quais na altura se apre-
sentavam com as abóbadas sem coberturas], conseguindo diminuir a
humidade, mas a infiltração das águas continuava. Para melhorar esta
situação, mandou construir no seu interior uma armação de madeira
coberta de coiros de bois, para assim se poder guardar a pólvora em
caso de ataque. Era este um dos grandes defeitos da praça, apontado por
todos os engenheiros que a examinavam e reclamado por todos os go-
«ESBOÇO // DO // PLANO E PROFIZ
DA PRAÇA DE ALMEIDA // Para
mostrar o estado de ruína em que se acha
pelo effeito das minas pratica // das pelos
Franceses em Maio e pelos Aliados em
Junho de 1811, assim como para // indicar
as obras projectadas para reparação das
brexas, e pôr a dita Praça // ao abrigo
de hum golpe de mão. // Pelos Officiaes
do Real Corpo de Engenheiros // O Tenente
Coronel Caula e Major Neves Costa.»
Almost half the compartments (9) can be directly accessed from the
practically rectangular patio (around 21x11 metres), which links to
the inside of the Fortress through a tunnel / corridor, which is equally
arched along its length of 28 metres.
This connection occurs from one of the corners of the patio to the neck
of the bastion, here taking on the character of a façade continuing the
internal face of the wall – thus dissimulating at first sight, and then sur-
prising the visitor, upon perceiving such a wide extension and unusual
architectural solution.
In truth, the area demarcated by the exterior perimeter of the bulwarked
pentagon reaches 9000 m2, with 2700 m2 of covered area. The surface
area of the inside of the rooms is 1180 m2, plus 120 m2 corresponding to
the tunnel / corridor, making a total of 1300 m2.
The project for a large Cavalier in S. João de Deus Bulwark was, hence,
interrupted, given that the war in Almeida also never came about.
What did happen, however, was to finish what had been started, produc-
ing an extraordinary covering to provide good tightness and good use
condition to the vast compartments.
As such, halfway between a roof and an anti-bomb flagstone the op-
tion was made for a solid protection, building a Cyclopean construction
principle, reminding one of the most atavistic kind of roof architecture
194
«PLANO DA PRAÇA D’ALMEIDA»,
Coronel Engenheiro Pedro Folque (1811-12)
vernadores, que tinha desde há umas décadas” (“Almeida – Subsídios
para a sua História”, vol. II, 1988, p. 14).
Nas plantas mais recentes, uma delas com a data de 1836 (exactamente
cem anos após a data do primeiro documento apresentado nesta recen-
são), traçada pelo Tenente Engenheiro Alexandre João Botelho de Vas-
concelos e Sá, ostenta-se já o jardim público no lugar do antigo Castelo,
chamando a atenção para as edificações abarracadas (pertencentes ao
Ministério da Guerra e em ruínas) sobre um dos lados da cobertura das
edificações do Baluarte, e não representando as salas abobadadas de um
dos lados do rectângulo do pátio.
As terras tinham sido retiradas para realizar obras, entre o fim da Guerra
Peninsular e 1836, tendo-se decidido realizar a cobertura sobre as abóba-
das das salas do Baluarte de S. João de Deus, expectantes de uma solução
conveniente desde, como supomos, havia umas cinco dezenas de anos.
4.5.2.2 – As notáveis coberturas de pedra das “Casamatas”
O conjunto construído no interior dos terraplenos do baluarte compõe-se de
20 salas, todas com abóbadas de berço, com áreas úteis que variam de 18
a 120 m2, sendo que a medida média do vão se situa nos 4,44 metros (com
195
in megalithic cultures, from the monolith tables of pre-historic dolmens
to the mountain shelters of shepherds.
The solution adopted is, therefore, something known from time immemo-
rial in the world of Architecture and, in an erudite, programmed and typified
way, dating back more than two thousand five hundred years. (Let us refer
the example of Delphi where, in the sacred site of Apollo, as well as what
happened in the temples, in the ruins of the roof of the Great Portico of the
Etolians, dating back to the 3rd century BC, stones are still there in its concave
form, with embedding teeth for fitting in the drainage gutter. Another exam-
ple is found in a lost valley of Cappadocia, close to Caiseri, in Central Turkey,
in an old 18th-century church, currently undergoing conservation work on the
stone roof, with wings and canals, gutters and ridges, all in marble, making
the roof (see photos).
Nothing new, indeed, for the building of a roof (bomb-proof) of the
barracks of São João de Deus Bulwark: a demanding construction pro-
gramme of more than 2500 m², carried out with meticulous care and
technical versatility by the country granite masons, achieving a roof fit
for Cyclops, and as such definitively closing the vaulted construction,
with wings, canals, summits, gutters and large stone gargoyles.
That was how we inherited this building with a tumultuous past, en-
compassing over two and a half centuries…

excepção do compartimento do ângulo Poente / Norte, cujo vão é da ordem
dos 7 metros), ao passo que o comprimento vai de 3,80 a 27 metros.
Quase metade daqueles compartimentos (9) tem acesso directo a partir
de um pátio praticamente rectangular (grosso modo com 21x11 metros),
o qual comunica com o interior da Fortaleza por meio de uma galeria /
corredor, igualmente abobadada nos seus 28 metros de extensão.
Esta ligação ocorre desde um dos cantos do pátio até à gola do bastião,
aqui assumindo o carácter de fachada de continuidade da face interna
da muralha – assim dissimulando à primeira vista, e depois provocando
a surpresa ao visitante, ao franquear-lhe a percepção de um tão extenso
e inusitado programa arquitectónico.
Na verdade, a área delimitada pelo perímetro exterior do pentágono
abaluartado atinge 9000 m2, respeitando 2700 m2 à área bruta dos espa-
«PLANTA DE ALMEIDA // Alexandre João
Botelho de Vasconcelos e Sá Tenente Engenheiro
a levantou e fez em 1836».
4.5.3 – About the new look of the Bulwark’s Roofs
On the proposed measures for the intervention, the recovering of the roofs
was assumed, maintaining them visible – according to the original plans.
We are acting on a monument of particular importance, meaning that
we should refrain from systems or solutions that spoil or even negate
the working condition of the building and which safeguard as far as
possible the authenticity of the Heritage. The implications of any inter-
vention with big intrusive impacts, which are difficult to reverse, should
be pondered with extreme caution. As fotografias do lado direito pertencem à Fortaleza de Almeida. Em cima, canal de drenagem da The photos in the right side belong to the Fortress of Almeida. On top, the drainage channel of the
Considering the importance, size and complexity of the issues, we believed cobertura da Porta Exterior de Santo António; Em baixo, imagem do telhado de pedra, com a caleira covering of the External Gate of Santo António; Bellow one image of the stone roof, with the gutter
that a proper evaluation and decision-making process was recommended que conduz a água para a gárgula do pátio. Acompanha a foto de cima uma outra com um pormenor da whitch conducts the water to the patio gargoyle. The photo obove is accompained by another one
Stoa dos Etolianos em Delfos (Grécia); Em baixo, duas imagens da reparação do telhado de mármore showing a detail of the Stoa of the Etholians in Delphi (Greece); The two images showing the repairing
for the careful restoration of the previous construction conditions, cleaning de uma Mesquita (antiga Igreja Ortodoxa) na Capadócia (Turquia) of a marble covering were made in a Mosque (ancient Orthodox Church) in Capadocia (Turkey)
196 197
ços cobertos. A área útil do interior das salas é de 1180 m2, acrescida de
120 m2 correspondente à galeria / corredor, num total de 1300m2.
O projecto de um grande Cavaleiro no Baluarte de S. João de Deus
fora interrompido, posto que a guerra em Almeida também nunca mais
houve.
Deu-se, porém, remate ao que estava começado. Não deitando terra
sobre as pedras das abóbadas, antes fazendo uma cobertura que forne-
cesse estanquidade e boa condição de uso aos vastos compartimentos
realizados – os quais (quem sabe?) poderiam voltar a ter que acolher
refugiados de futuros ataques…
Então, a meio caminho entre um telhado e um lajeado anti-bomba (que
não fariam, quer um quer outro, muito sentido, dada a geometria do
complexo e a cota em que se situa a cobertura), ter-se-á optado por uma
protecção sólida, realizando um princípio construtivo ciclópico, fazen-
do lembrar o que de mais atávico existe como realização arquitectónica
de coberturas em territórios de cultura megalítica, desde as mesas das
antas pré-históricas aos abrigos de montanha para os pastores.
A solução adoptada é, portanto, qualquer coisa conhecida desde sem-
pre no mundo da Arquitectura e, de uma forma erudita, programada
e tipificada, desde há mais de dois mil e quinhentos anos. Veja-se os
exemplos de Delfos onde, no recinto sagrado de Apolo, para além do
que acontecia nos templos, nas ruínas da cobertura do Grande Pórtico
dos Etolianos, datando do séc. III a.C., se descobrem pedras talhadas
em forma de canal, com dentes de encaixe na caleira de drenagem, ou,
num vale perdido da Capadócia, perto de Caiseri, na Turquia Central,
encontramos uma antiga igreja do século XVIII, em plenas obras de
conservação da cobertura em pedra, com abas e canais, caleiras e cume-
eiras, tudo em mármore, no lugar do telhado (ver fotografias).
Nada de novo, de facto, para uma empreitada de cobertura (à prova de
bomba) das casernas do Baluarte de S. João de Deus: um exigente pro-
grama construtivo de mais de 2500 m2, executado com grande apuro e
versatilidade técnica pelos canteiros do granito beirão, conseguindo um
telhado digno de Ciclopes, e desta forma encerrando, definitivamente, a
construção abobadada, com abas, canais, cumes, caleiras e gárgulas de
pedra de grandes dimensões.
Foi assim que herdámos esta atribulada construção, com dois séculos
e meio…
4.5.3 – Sobre as coberturas reabilitadas do Baluarte
Nas medidas propostas para a intervenção levada a cabo impôs-se a re-
cuperação da generalidade das coberturas, mantendo-as à vista – como
seria originalmente.
Estamos agindo sobre um monumento de particular importância, pelo
que nos devemos coibir de lhe antepor sistemas ou próteses que desme-
reçam, ou mesmo neguem, quanto está em condições e pode continuar
operativo, salvaguardando o máximo da autenticidade do património
em apreço. Devem ser criteriosamente ponderadas as implicações de
uma atitude de intervenção com fortes impactos intrusivos e de difícil
reversibilidade.
Considerando a importância, a dimensão e a complexidade das ques-
tões, procedeu-se ao restauro cuidado das condições construtivas an-
of the flagstones and cannels with careful re-closing of the joints, in addi-
tion to observing a principle of drainage (namely in the walkways) making
them watertight relative to the curtain walls on the end of the rooms.
As such, we want to stress the importance of the field of restoration
– advocating it in the renovation of the roofs of the “casemates”, in ap-
proximately 2/3 of the gross area in question.
The remaining of the surface is made up of the eight smallest rooms of
the building, on the Western side. Five of these rooms have an entrance
to the tunnel / corridor, and have suffered a high degree of damage with
regard to the original roof system.
In these cases we suggested a two sloped hard box of limestone mortar, drain-
ing water to the longitudinal gutters that lead to the gargoyles of the patio
– which as such will continue to work fully. Over these block’ surfaces we
propose a finishing with new stone slabs, which can easily be identified.
The Historical-Military Museum inside the “Casemates” obliged the
installation of technical devices and infrastructures, located under a
new esplanade. By that way it was given a solution to one of the most
affected areas of the roofs, without misunderstanding the principles of
the authenticity or the reversibility of the entire ensemble.
By another way, it was added value and attractive power to the most
significant bastion of the Almeida Stronghold.
4.6 – The Remarkable Double Ravelin
The high design qualification that is placed, from an early time, on this quad-
rant of the fortified enclosure, led to a beautiful architectural piece which is
called Double ravelin, which is, as far as I know, the unique example on the
Iberian Peninsula. The most curious is that this type of military device, a true
aggressive war machine, allowed for a great versatility in movements, which
is also foreseen for the symmetrical position of the Double Ravelin.
In reality, the ravelin located next to S. Francisco’s bulwark, also called
Horta do Governador or Amores “is made up of a small rebound de-
veloping crests of about 120 meters, with a covered neck, cut towards
the contiguous counterscarp, a 9.5 meters wide ditch, scarps and cov-
ered counterscarps, without access ramps” – according to (cf. Vilhena
de Carvalho, 1993, vol. I, pp. 31-32) the 1853 report, elaborated by
the commission in charge of studying the stronghold and composed of
Staff Coronel of Artillery Manuel Ignácio Ferreira and the Staff Gradu-
ated Capitan of Engineering Joaquim António Dias. The ramp was con-
structed later, as one might see by surveys and collected images.
This advanced work joins their ditches with the main ditch of the main
wall, as it happens between each of the remaining bulwarks pairs of the
stronghold hexagonal layout.
In the aforementioned report (cf. op. cit. pp. 41-42), featuring a symmetrical ar-
chitectural piece which is opposite to the curtain that connects S. João de Deus
to Santa Bárbara, it has been said that “the ravelin Doble consists of a small
flanks lunette and total development of ridges of about 180 meters, lined neck,
gap of 14 meters wide with cliffs and coated counter-cliffs and, as the last one, Desenho do Projecto Geral de Reablitação do
without ramps or access stairs to the general ditch of stronghold. Comprises a Baluarte de S. João de Deus (2006-2009), vendo-
se as coberturas das “Cassamatas”
central redoubt with a development of crests of 80 meters, ditch of 6.5 meters
wide with scarps and lined counter-scarps; the communication between the Drawing of the General Project for the Rehabilita-
tion of S. João de Deus Bulwark (2006-2009),
redoubt and ravelin it was made through a vaulted postern opened in the right noting the roofs of the “Casemates”
198 199
teriores, a limpeza de lajes e caleiras com refechamento cuidadoso das
juntas, para além da observação de um princípio de drenagem (nomea-
damente nos caminhos de ronda) que complete a estanquidade relativa
às paredes de topo das salas.
Queremos com isto significar que é o domínio do restauro que importa
realçar – advogando-o, na intervenção de reabilitação das coberturas
das “casamatas”, em cerca de 2/3 da área bruta em causa.
A restante superfície é composta pelas oito salas mais pequenas do conjunto,
do lado Poente. Cinco dessas salas têm entrada pela galeria / corredor, e apre-
sentam um grau elevado de destruição do sistema original de cobertura.
Nesses casos apontamos para a conformação de uma caixa maciça de ar-
gamassa de cal, formando pendentes de duas águas que canalizam para as
caleiras que funcionam até às gárgulas do pátio – as quais assim se manterão contra-escarpas revestidas e, como o anterior, sem rampas nem escadas de side of the redoubt and a bridge over the ditch that currently does not exist.”
integralmente em funcionamento. Sobre esses maciços propomos uma fina- acesso para o fosso geral da Praça. Compreende um reduto central com The underground passage, in an elbow form, which of course would serve as
lização com revestimento pétreo novo, facilmente identificável. desenvolvimento de cristas de 80 metros, fosso de 6,5 metros de largura shelter/barracks for the guards, also adds a small shelter room for gunpowder.
O Museu Histórico-Militar das “Casamatas” implicou a instalação de com escarpas e contra-escarpas revestidas; a comunicação entre o reduto Commonly called the “Hospital of Blood”, it seems obvious the functional
infraestruturas, localizadas sob uma nova esplanada. Desse modo solu- e o revelim fazia-se por uma poterna abobadada aberta na face direita do inadequacy of the location and space for a medical and sanitary purposes.
cionou-se uma das áreas mais problemáticas da degradação das antigas reduto e uma ponte sobre o fosso que hoje não existe”. The ravelin land served as the cemetery, standing out, among the three
coberturas, sem pôr em causa os princípios da autenticidade ou da re- A passagem subterrânea, em cotovelo, que por certo serviria de abrigo funeral headstones which are preserved but slightly abandoned, the
versibilidade de todo o conjunto. Por outro lado, foram acrescentados / aquartelamento para o corpo da guarda, agrega também uma pequena one from the disturbed Lieutenant-King which capitulated the Strong-
valor e poder de atracção ao mais significativo bastião da Fortaleza de sala de resguardo da pólvora. Popularmente chamado de “Hospital de hold in the Siege of 1810. The words inscribed in the stone are: MA-
Almeida. Sangue”, parece óbvia a inadequação funcional da localização e do es- NOEL / FER.DA CUNHA / CAVALEIRO PRO / FESSO DA ORDEM
paço para uma finalidade médico-sanitária. / D S.BENTO D’AVIZ / CONDECORADO / COM A CRUZ Nº 3 / DA
O terreno do revelim serviu como cemitério, destacando-se, dentre as GUERRA PENIN- / SULAR CORONEL / TEN. REI DA PRA / ÇA
4.6 – O Notável Revelim Doble três lápides funerárias que se conservam meio abandonadas, a do justi- D’ALMEIDA TEM / DO 56 ANNOS DE / IDADE E 37 DE SER / VIÇO
çado Tenente-Rei que capitulou a Praça no Cerco de 1810. Os dizeres SEN NOTA / FALECEO NESTA / PRAÇA NO DIA 21 / DE FEVEREI /
A elevada qualificação projectual que é colocada, desde cedo, neste qua- inscritos na pedra referem: MANOEL / FER.DA CUNHA / CAVALEIRO RO DE / 1841 (Manoel Fer. Da Cunha, Mor Knight of the
drante do recinto fortificado, conduziu à realização de uma belíssima peça PRO / FESSO DA ORDEM / D S.BENTO D’AVIZ / CONDECORADO / Order of S.Bento D’aviz, awarded with the Cross no.
arquitectónica que consiste no denominado Revelim Doble, o qual é, tan- COM A CRUZ Nº 3 / DA GUERRA PENIN- / SULAR CORONEL / TEN. 3 of the Peninsular War, Colonel Liet. Of Almeida’s
to quanto julgamos saber, exemplar único na Península Ibérica. O mais REI DA PRA / ÇA D’ALMEIDA TEM / DO 56 ANNOS DE / IDADE E Stronghold, 56 years of age and 37 on duty, with-
curioso é que este tipo de dispositivo militar, autêntica máquina de guerra 37 DE SER / VIÇO SEN NOTA / FALECEO NESTA / PRAÇA NO DIA out a annotation, passed away on this stronghold
desafiadora, pela versatilidade de movimentos que permitia, aparece igual- 21 / DE FEVEREI / RO DE / 1841. on 21st February 1841).
mente prevista para a posição simétrica do Revelim Doble consumado.
Na realidade, o revelim que se dispõe para o lado do baluarte de S.
Francisco, chamado da Horta do Governador ou dos Amores, “é consti-
tuído por um pequeno redente com desenvolvimento de cristas de cerca
de 120 metros, com gola revestida e cortada na direcção das contra-
escarpas contíguas, fosso de 9,5 metros de largura, escarpas e contra-
escarpas revestidas, sem rampas nem escadas de acesso” – de acordo
(cf. Vilhena de Carvalho, 1993, vol. I, pp. 31-32) com o relatório de
1853 elaborado pela comissão encarregada de estudar a praça de guerra,
e constituída pelo Coronel do Estado Maior de Artilharia Manuel Igná-
cio Ferreira e pelo Capitão graduado do Estado Maior de Engenharia
Joaquim António Dias. A rampa veio a ser construída mais tarde, como
se constata dos desenhos do levantamento e das imagens recolhidas.
Esta obra avançada interliga os seus fossos com o fosso geral das mura-
lhas principais, tal como acontece entre cada um dos restantes pares de
baluartes do traçado hexagonal da Praça-forte.
No atrás mencionado relatório (cf. op. cit. pp. 41-42), caracterizando a
peça arquitectónica simétrica que fica defronte à cortina que liga S. João
de Deus a Santa Bárbara, diz-se que “o revelim Doble é formado por uma
luneta de pequenos flancos e desenvolvimento total de cristas de cerca de
180 metros, gola revestida, fosso de 14 metros de largura com escarpas e

200 201
 Quadrante Norte/Nascente Baluarte de Santa Bárbara,
Revelim Doble e Baluarte de S. João de Deus
Northern/Eastern Quadrant Bulwark of Santa Bárbara
Ravelin Doble and Bulwark of São João de Deus
Praça-Forte de Almeida – Localização
Fortress of Almeida – Lacalization

LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY
Planta geral do conjunto (páginas seguintes)
General plan of the ensemble (next pages)

203
 Perfil Profile 1

Perfil Profile 2

206
Perfil Profile 3

Perfil Profile 4
Perfil Profile 5

Perfil Profile 6
 5 – AS PORTAS DA PRAÇA-FORTE 5 – THE GATES OF THE FORTRESS

5.1 – PORTADA 5.1 – ENTRANCE

Assim se espera que Almeida se torne em exemplo de referência fre-
quente em estudos especializados, tanto mais quanto o complexo arqui-
tectónico que se oferece à pesquisa é, efectivamente, um dos mais com-
pletos exercícios de desenho do sistema militar abaluartado. Além disso
o recinto fortificado alberga um inestimável espécime arqueológico da
arquitectura militar de transição, além de no concelho se valorizarem
exemplares medievais da arquitectura militar raiana.
E é ainda justo dizer que logo ali, do outro lado da fronteira, para nem
ser preciso falar de Ciudad Rodrigo, eis que numa quase simetria de
espelho se posta o belo exemplar do Fuerte de la Concepción, espécie
de irmão um pouco mais novo, de uma linhagem desavinda pela arte
da guerra – o todo se apresentando como universo de investigação que
assim se complementa. Exclusivamente dedicado à função castrense,
o desenho do Fuerte de la Concepción “correspondia ao protótipo da
cidade utópica renascentista, o que tornou esta fortaleza a única deste
tipo, que se conserva na Península, segundo Fernando de la Flor. Daqui
partiu em 1664 o Conde de Osuna para conquistar Almeida, durante a
Guerra da Restauração, que se seguiu à Revolução do 1º de Dezembro
de 1640. Foi derrotado, motivando a que os próprios espanhóis destru-
íssem o forte” (Adriano Vasco Rodrigues, “História Breve da Engenha-
ria Civil”, O. Eng./R. Norte, Porto, 2006).
As portas da arquitectura abaluartada tinham um carácter de afirmação
pública, ostentando os atributos próprios da altivez do aquartelamento.
Eram peças muito cuidadas, seja do ponto de vista formal, seja quanto
aos princípios construtivos, nos quais se incorporavam as atenções par-
ticulares mais avançadas do universo teórico da edificação da época.
A encomenda de D. João IV para a concretização de uma máquina de
guerra que, por si só, constituísse um símbolo do recobro e da salva-
It’s expected that Almeida becomes an example to be frequently men-
tioned in specialized studies, because the architectonic complex offered
for research effectively is one of the most complete drawing exercises
of the fortified military system. Besides, the fortified space harbours an
invaluable archaeological specimen of transitory military architecture,
and, moreover, the administration values the mediaeval specimens of
borderer military architecture.
And it’s fair to say that right over there, on the other side of the border,
not even mentioning Ciudad Rodrigo, in an almost reflected symmetry
there is the beautiful example of Fuerte de la Concepción, a kind of a bit
younger brother of a litigious lineage due to the art of war – the whole
presenting itself as a investigation universe that is complementary. Exclu-
sively dedicated to its castral function, the Fuerte de la Concepción de-
sign “corresponded to the prototype of an utopic renaissance city, which
made this fortress the only one of this kind still preserved in the Iberian
Peninsula, according to Fernando de la Flor. It was from this fortress that
in 1664 the Count of Osuna departed in order to conquer Almeida, du-
ring the Restoration War, which followed the Revolution of 1st December
1640. He was defeated, which lead to the destruction of the fortress by
the Spaniards themselves” (Adriano Vasco Rodrigues, “História Breve
da Engenharia Civil”, O. Eng./R. Norte, Porto, 2006).
The gates of fortified architecture had a nature of public affirmation,
displaying the attributes suitable to the haughtiness of the quarters.
Those were very carefully designed, either formally and regarding the
building codes, which included the most advanced particular attention
of the theoretical universe of construction of that period.
The commission of D. João IV for the construction of a war machine
that by itself symbolized the recovery and protection of National In-

“… deve ser no aspecto exterior algum tanto rude para que represente
austeridade, & horror significando assim ser a Praça invencível, & for-
midável a seus inimigos...”

“... its exterior appearance must be a bit rude so that it represents austerity
& horror, indicating to its enemies that the Stronghold is invincible &
great...”

(“Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regula-

res, & Irregulares…”, Luís Serrão Pimentel, Lisboa, António Craesbeeck
de Mello, 1680, p. 318).

“…o seu aspecto deve ser hórrido, que mostre fortaleza, e a sua archite-
tura robusta: ordinariamente se servem os architetos da ordem Toscana
ou da Dórica, que tendo mais galhardia, nem por isso é mais fraca...”

“… its aspect must be horrid, showing fortitude, and its architecture ro-
bust: the architects frequently use the Tuscan or Doric order, although
they are more graceful, that does not mean they are weaker...”

(“O Engenheiro Portuguez…”, Manuel de Azevedo Fortes, Lisboa, Offi-

cina de Manoel Fernandes da Costa, 1728, tomo II, p. 292).

212 213
guarda da Independência Nacional, terá sido endereçada a Lassart em
1641. Com ele vieram de França dos melhores especialistas de então,
munidos dos instrumentos teóricos mais actualizados, e primordialmen-
te o Tratado de Antoine de Ville, o mais completo repositório gaulês dos
princípios e métodos construtivos da arquitectura militar da época.
O nome mais referenciado quanto aos primórdios do traçado e implanta-
ção da fortificação é o de Pierre Gilles de Saint-Paul, embora se atribua
a autoria das Portas de São Francisco (ou da Cruz) a Pierre Garsin.
A prova mais evidente da utilização de um dos mais precoces e avança-
dos documentos teóricos pré-vaubanianos, é-nos dada pela configura-
ção mesma do alçado da Porta Magistral da Cruz. Na verdade, é incon-
testável a similitude deste e do desenho do frontispício de “Les Fortifi-
cations du Chevalier Antoine de Ville Tholosain”, assim atestando, com
a realização de Almeida, uma posição de Portugal na vanguarda da arte
da fortificação daquele tempo.
5.2 – PORTA DE UMA PRAÇA-FORTE
As Portas, como representação do poder e manifestação de excelência
estética são sempre sublinhadas nos escritos dos diferentes autores.
O nosso maior Tratadista do século XVII escrevia que “nos Portaes de al-
guas antigas Cidades se punhaõ Estatuas armadas, e esculpiaõ as bandeiras,
e despojos dos inimigos vencidos, ou outros sinaes significativos de emprezas
grandes representando a Cidade inexpugnável, antiga, e triumphal.
Por esta razaõ convem que sua fabrica seja da ordem Toscana ou da
Dórica das cinco a que a Architectura Civil está reduzida: da Toscana
por ter muito de forte, e robusta apta a sustetar todo o peso grave (diz
Vicenzo Scammozzi) e que por tanto semelha o modo agigantado da
Dorica por ser de corpo, partes e membros fortes, e galhardos repre-
sentãdo muito do modo Herculeo, por cuja causa foi pellos antigos
Architectos dedicada a Hercules” (“Methodo Lusitanico de Desenhar
as Fortificaçoens das Praças Regulares, & Irregulares…”, Luís Serrão
Pimentel, Lisboa, António Craesbeeck de Mello, 1680, pág. 147).
O número de portas de uma Praça-forte tende a ser, pelas vulnerabilida-
des que acarretam no seu estabelecimento e pelas exigências na respec-
tiva colmatação, no número mais reduzido possível.
Almeida tem apenas duas, somando assim oito portais (além de outros
vãos com encerramento vertical no interior das passagens).
Do conjunto dessas aberturas, só os pórticos exteriores são estilistica-
mente assinaláveis, sendo que a primazia é devida às Portas Magistrais da
Cruz, isto é, ao portal externo das Portas Interiores de São Francisco.
Exigindo extremos cuidados do ponto de vista da defesa, não deixavam
porém de conter pontos de grande vulnerabilidade, pelo que o seu número
deveria reduzir-se ao essencial:“he necessario que se fação quãtas me-
nos poderem ser: dirseha, que fazer poucas portas, he tirar a huma Praça
muytos cómodos e ventagens; mas tambem se deve confessar, que quâtas
menos ha, menos corpos de guarda haverà, sendo necessarios para impe-
dir as entreprezas” (Johann Pfeffinger, Fortificaçam Moderna ou Recom-
pilaçam de differentes Methodos de Fortificar, de que Usão na Europa os
Espanholes, Francezes, Italianos & Hollandezes, Lisboa, 1713, pág. 254).
Únicos elementos que estabelecem pontes entre dentro e fora, entre o
mundo externo e a comunidade do aquartelamento, as Portas são os
dependency had apparently been sent to Lassart in 1641. Along with
himself, he brought from France the best specialists of that period, who
had the most up-to-date theoretical tools, and principally the Treaty of
Antoine de Ville, the most complete French compilation of the cons-
truction principles and methods of that period’s architecture.
The most mentioned name regarding the origin of the sketch and execu-
tion of fortifications is Pierre Gilles de Saint-Paul, although the author-
ship of the Gates of São Francisco (or of Cruz) is given to Pierre Garsin.
The clearer proof of use of one of the most premature and advanced
pre-vaubanian theoretical documents is presented to us by the confi-
guration of the façade of the Magisterial Gate of Cruz. The similarity
between this and the design of the frontispiece of “Les Fortifications du
Chevalier Antoine de Ville Tholosain” it is unquestionable, confirming,
with the construction of Almeida, an advanced position of Portugal in
the art of fortification of that time.
5.2 – GATE OF A FORTRESS
The Gates, as a representation of power and a manifestation of aesthetic
excellence, are always underlined in the texts of several authors.
Our bigger author of treatises of the 17th century wrote “at the Portals
of some ancient Cities there were armed Statues, and carved flags, and
spoils of the defeated enemies, or other significant signs of great deeds,
portraying the City as invincible, ancient and triumphant.
For this reason it is wise that the building procedure is executed ac-
cording to the Tuscan or Doric order, from the five to which Civil Ar-
chitecture is reduced to: the Tuscan because it is very strong, and ro-
bust apt to support great weight (says Vicenzo Scammozzi) and being
so, it’s similar to the Doric greatness because it has strong body, parts
and limbs, and gracious portrayed in an Herculean way, being that the
reason why the ancient architects dedicated it to Hercules.” (“Metho-
do Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares, &
Irregulares…”, Luís Serrão Pimentel, Lisboa, António Craesbeeck de
Mello, 1680, page147).
The number of gates in a fortress tends to be the lowest possible, due to
the vulnerability they mean and the necessity to reduce that vulnerability.
Almeida only has two, which means it has eight portals (in addition to
other spans with vertical closure inside the passages).
Among these openings, only the exterior porticoes are stylistically re-
markable, owing their excellence to the Magisterial Gates of Cruz, that
is, to the external portal of the Interior Gates of São Francisco.
Although they demanded extreme caution in the defence, they had spots
of great vulnerability, which is the reason why those should be as few as
possible: “It is necessary that we build as few as possible: one could say
that building fewer gates is to extract a lot of advantages from a Stron-
ghold; but one should also confess that the fewer there are, the fewer
guarding companies are needed, since these are necessary to prevent any
attacks.” (Johann Pfeffinger, Fortificaçam Moderna ou Recompilaçam de
differentes Methodos de Fortificar, de que Usão na Europa os Espanho-
les, Francezes, Italianos & Hollandezes, Lisboa, 1713, page 254).
The only links between the interior and exterior worlds, the Gates are
the system’s most significant urbanistic component, with immediate
214
componentes urbanísticos mais relevantes do sistema, com imediatos
reflexos na organização do espaço, no traçado da rede viária e no posi-
cionamento geral dos dispositivos e equipamentos militares e civis.
Os primeiros desses dispositivos são, justamente, as Portas. São elas os
pontos onde se focalizam as atenções construtivas mais depuradas, não
apenas no que respeita à concepção técnica construtiva defensiva, mas
pelo exercício global da disciplina da Arquitectura e das preocupações
da Estética.
“O logar mais próprio para as portas he o meyo da cortina, porque assim
fica defendida dos dous flancos” (Pfeffinger, op. cit. pág. 253). Mas ter-se-á
em conta que falar de portas de uma fortaleza abaluartada é desmultiplicar
o número, visto que se se refere ao dispositivo que franqueia a verdadeira
entrada no recinto muralhado,“por diamte das portas sempre he necessario
que haja hum Revelim que as cubra, e na entrada deve haver hua estacada,
depois hua cancella, e logo hua ponte firme, e no fim desta outra levadiça,
e mais ao diante a porta: e os corpos de guarda se faraõ nos lugares con-
venientes”, tal como estatui Antoine de Ville na página 166 do seu Tratado.
E,“se o Revelim he revestido, se lhe faz huma porta, e mais atraz huma
ponte levadiça de balança, e ahi deve haver um outro corpo de guarda
com sua estacada” (“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville,
contenans la maniere de fortifier toute sorte de places tant regulierement,
qu’irregulierement…”. Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628, pág. 304).
5.3 – CARACTERÍSTICAS SEGUNDO A TRATADÍSTICA
As portas eram, portanto, edificações com um elevado grau de complexida-
de, dispondo de compartimentos para albergar primordialmente funções de
defesa, cuja designação corrente é a de “corpo de guarda”, devendo aten-
der-se a que “o numero dos corpos de guarda he à proporção dos logares,
que naõ podem passar sem elles; e a sua grandeza à proporçaõ do numero
da guarniçaõ” (Pfeffinger, op. cit., pág. 255). Já Antoine de Ville estipula
que cada corpo de guarda compreenda 60 homens por turno.
Para o desempenho cabal do seu papel as portas carecem de verificação
quanto à tipologia de certos espaços, devidamente acondicionados: “Cada
corpo de guarda deve ter ao menos huma ou duas chaminés com huma ta-
rima de taboado ao comprido, levantada da terra da parte da muralha 4
pés, e da parte de baxo 3, e largo 7 té 8 pés para descanço dos Soldados. O
cabo da guarda tem o seu aposento separado, não sendo official de pouco
carácter, e sendo-o fica no mesmo lugar, em que o mais corpo de guarda”
(Pfeffinger, op.cit., pág. 356). A habitabilidade da edificação tinha que ser
garantida, contando-se com funções de higiene e limpeza, tomando em linha
de conta factores tão importantes como a possível confecção de alimentação,
a existência de latrinas (aproveitando o relacionamento fácil com o fosso), a
salvaguarda de humidades (para a saúde dos ocupantes e, obrigatoriamente,
por causa do bom desempenho da pólvora que nela se guardasse), etc..
O esmero com a construção era o maior:“No que toca à sua fábrica,
deve ser feita de abobada debaixo do Reparo, e em volta, para que o
petardo, ou canhaõ não leve duas portas de huma vez se acaso estive-
rem em linha recta”. (Pfeffinger, op. cit., pág. 254).
As recomendações por motivos de segurança eram sistematicamente tidas
em conta: “as portas dos Corpos de guarda devem sempre ser do sitio do
rastrilho para dentro, e se alghua janella do Corpo de guarda ficar delle
215
expression in space organization, in the layout of the roads and in the
general positioning of both military and civil devices and equipment.
The first of those devices are precisely the Gates. They are spots where
the most detailed construction attention is focused, not only concerning
the defensive technical conception, but also by the global exercise of
Architecture and Aesthetic concern.
“The proper place for the gates is the middle of the curtain, becau-
se the gate is defended on both flanks” (Pfeffinger, op. cit. page 253).
But it should be taken into account that when we talk about gates of
a vaulted fortress we increase the number, since it reports to the de-
vice that opens the true entrance of the enclosed space, “there must
be a Ravelin in front of the gates, which covers them, and at the en-
trance there must be a palisade, followed by a barred gate, and a ste-
ady bridge afterwards, and at the end of this there must be another
drawbridge and right ahead there must be the gate: and the guarding
companies’ stations shall be done at the appropriate places”, just
like Antoine de Ville establishes in the page 166 of his Treaty. And,
”if the Ravelin is covered, it must have a door, and behind it should
be a drawbridge, and there has to be another guard quarters with its
palisade” (“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville, conte-
nans la maniere de fortifier toute sorte de places tant regulierement,
qu’irregulierement…”, Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628, page 304).
5.3 – CHARACTERISTICS ACCORDING TO THE TREATISES
Therefore, the gates were a highly complex building, with compart-
ments that lodged mainly defence functions, usually called “guard
quarters”. It should be noticed that “the number of guarding companies
is proportional to the locations, which can’t be left without them; and
their dimension should be set according to the size of the garrison”
(Pfeffinger, op. cit., page 255). Antoine de Ville says that each guard
quarters should have 60 men per shift.
In order to fulfil their function, the gates need the typology of certain
spaces, duly conditioned, to be checked out: “Each guard quarters should
have at least one or two chimneys with a lengthwise wooden platform,
risen 4 feet from the ground on the wall side, and 3 feet below, and 7 to
8 feet wide so the Soldiers can rest. The company’s corporal has his own
separate lodging, because he’s a high official, but if he’s not he stays
with the rest of the guard quarters” (Pfeffinger, op. cit., page 356). The
building’s habitability had to be granted, having for that sake hygiene and
cleaning services, considering such important factors like food prepara-
tion, existence of latrines (profiting from the proximity with the ditch),
protection for humidity (for the sake of the occupants’ health and, essen-
tially for the good performance of the stored powder, etc.).
There was a great refinement put into the construction: “Concerning the
building procedure, it should have a vaulted span under and around the
rampart, so that the bomb or cannon doesn’t destroy two gates at once
if they are in line”. (Pfeffinger, op. cit., page 254).
Advice about safety measures were systematically taken into account:
“the guard quarters’ doors should always be in line with the sliding
grating door or behind that line, and if any window should by any chan-
ce be outside that line, it must be protected with heavy iron grating”.
para fora será gradada com boas grades de ferro”. (“Methodo Lusitanico
de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares, & Irregulares…”, Luís
Serrão Pimentel, Lisboa, António Craesbeeck de Mello, 1680, pág. 156).
Edifícios permanentemente habitados e vigiados, com funcionamento
por turnos, por eles era escrutinada obrigatoriamente a quota-parte do
movimento que escolhia a direcção de cada Porta.
O próprio tráfego era regulamentado nos tratados de fortificação:“He
necessario que os carros entrem por ordem, para que naõ embaracem
as portas. Nas Praças bem guardadas vi observar o seguinte: deixaõ-se
entrar tantas carretas, quantas podem caber no transito de hua porta
a outra, e para passarem dahi, em quanto o fazem, se fecha a porta
mais exterior, e assim sucessivamente tendo sempre parte das portas
fechada, em quanto outras estaõ abertas; isto se obsrvará todo o mais
resto do dia”. (“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville, con-
tenans la maniere de fortifier toute sorte de places tant regulierement,
qu’irregulierement…”, Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628, pág. 247).
“As portas se não fechaõ senão logo depois do sol posto, e nunca se deve
esperar que anoiteça, ao menos nas Praças fronteiras. Quãdo vay chegan-
do a hora se toca hum sino para apressar os que estão de fóra, que entrem;
Depois de fechadas as portas, as chaves se levaraõ logo a casa do Gover-
nador, que as deve guardar fechadas em algua parte perto da sua cama”
(…)
“Para a abertura das portas se guardará a ordem seguinte. Depois de
ser manhaã clara se tocará o tambor, e as sentinellas viraõ ao corpo da
guarda da porta, e as dos outros corpos da guarda das muralhas farão
o mesmo, e todos pegaràõ nas armas, esperando que o Sargento mor,
ou outro Official em seu lugar venha com as chaves” (Antoine de Ville,
op. cit., pág. 245-246).
(“Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regu-
lares, & Irregulares…”, Luís Serrão Pimentel, Lisboa, António Craes-
beeck de Mello, 1680, page 156).
The share of traffic moving towards each Gate was obligatorily inspec-
ted in those buildings which were permanently inhabited or guarded,
operating by shifts.
The traffic itself was also regulated in fortification treatises: “It is ne-
cessary that the carts enter orderly so that they do not jam the gates. In
heavily guarded Strongholds I saw the following: there are only allowed
to be inside as many carts as those needed to fill the transit from one
door to another, and to allow them to move from there, while they do it,
the external door is closed, whilst the others stay opened; this happens
all day long”. (“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville, con-
tenans la maniere de fortifier toute sorte de places tant regulierement,
qu’irregulierement…”, Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628, page 247).
“The gates are closed only at sunset, and one shall never wait for ni-
ghtfall to do so, at least at the border Strongholds. As the time appro-
aches one should ring a bell to rush those who are outside to come
inside; After the gates are closed, the keys are immediately taken to
the Governor’s house, who shall kept them locked somewhere near his
bed».
(…)
“The next command shall be saved in order to open the gates. After
dawn one shall play a drum, and the guards shall come to the gate guard
quarters, and the other guards from the other wall guarding companies
shall do the same, and all of them shall pick up their weapons, waiting
for the Sergeant, or other official shall bring the keys” (Antoine de Vil-
le, op. cit., page 245-246).
É certo que as Portas encontram algum sentido no relacionamento com a
pré-existência urbana medieval, muito bem retratada nos desenhos de Du-
arte d’Armas, fazendo confluir às Portas de São Francisco os caminhos da
zona raiana, e às de Santo António os do lado do Côa e a ligação ao antigo
arrabalde.
Ao contrário do que seria expectável numa praça de guerra deste tipo,
o traçado urbano guarda muito das marcas de uma organicidade medie-
val, com a Rua Direita, estruturante dos outros percursos, seguindo um
desenho paralelo ao que seria a antiga cerca medieval, indo hipotetica-
mente da Rua do Arco à Rua do Touro.
A descentração que as Portas revelam relativamente ao partido hexago-
nal do traçado abaluartado, embora tenha originado um eixo funcional,
não gerou uma expressão imagética afirmada, a qual acabou, nas últi-
mas décadas – com a entrada em funcionamento da “Porta Nova” – por
se tornar ainda mais diluída (ou mesmo equívoca).
A designada “Porta Nova”, perfurando o terrapleno da muralha ao lado do
baluarte e da poterna de São João de Deus, veio equilibrar, no quadrante
oposto, a localização que privilegiara, no século XVII, a banda do Sul.
of Duarte d’Armas, joining the Gates of São Francisco with the roads
of the bordering region, and the Gates of Santo António with the roads
along the Côa side and the former outskirts.
Contrarily to what it would be expected in a stronghold of this kind,
the urban sketch still keeps a lot of the traces of the mediaeval order,
with Rua Direita, marking other courses, following a path parallel to an
ancient mediaeval fence, possibly starting at Rua do Arco and ending
at Rua do Touro.
The deviation from the centre revealed by the Gates in comparison to
the hexagonal design of the fortification, although creating a functional
axis, it did not generate a marked imagery, which became even more di-
luted in the latest decades – with the construction of the “New Gate”.
The so-called “New Gate”, piercing the wall rampart near the bastion
and the postern of São João de Deus, balanced, from the opposite side,
the privileged location used in the 17th century for the other gates, which
was the South side.

5.4 – DUAS PORTAS E MAIS UMA 5.4 – TWO GATES PLUS ONE MORE

Originalmente, são apenas duas as portas de acesso ao interior da Praça-
Forte de Almeida, a elas se tendo juntado, há pouco mais de vinte anos,
uma terceira entrada inscrita no pano da muralha. Elas constituem, sem
dúvida, os elementos de carácter urbano de mais marcante presença
arquitectónica, transmitindo indelevelmente uma relação imagética, ou
até mesmo semiótica, com quem entra.
Os complexos edificados dos acessos, nos dois pontos originais da cin-
tura de muralhas, situam-se nos baluartes de São Francisco e de Santo
António, sendo este o maior revelim avançado da fortificação, fazendo
face ao lado mais vulnerável da fortaleza.
Em cada um daqueles bastiões verifica-se um desdobramento da função
de controlo que as portas desempenhavam, não apenas para servirem de
abertura e de encerramento, mas também como núcleos especiais da de-
fesa. Assim, existe a edificação das Portas Exteriores (em ambos os casos
nas faces dos revelins virados ao Côa) e a das Portas Interiores (sime-
trizando o pano de muralha que antepara e se protege por cada um dos
revelins de cada lado do acesso).
As Portas da Praça-forte de Almeida estão realizadas com aquartela-
mentos de casamatas. Nas quatro frentes com que se oferecem a quem
entra concentram toda a carga decorativa, a qual é reforçada pela lhane-
za dos paramentos murários das paredes da fortificação.
Originally, there are only two gates that grant access to the Almeida
Stronghold interior. Around twenty years ago, a new gate has been
added to those two, indented in the wall. They are, without any doubt,
the most remarkable architectonic elements with urban characteristics,
indelibly transmitting an imagery or even semiotic relationship with
those who enter.
The access edifices, in both original locations of the wall, are at the
bastions of São Francisco and Santo António, being the latter the most
advanced ravelin of the fortification, facing the most vulnerable side of
the fortress.
In each one of those bastions there is a development of the control func-
tion the gates performed, not only serving as an opening and closing
device, but also as special defence core. Thus, there is the edifice of the Foto de conjunto com os dois complexos
edificados das Portas de São Francisco ou da
External Gates (in both cases the ravelins face the Côa river) and the Cruz, a partir do baluarte de São Pedro. Pode
Internal Gates (in symmetry with the wall that is protected by each of observar-se claramente a relação entre o interior
e o exterior da fortificação, o desenho dos fossos
the ravelins on each side). e as pontes de acesso actuais.
The Almeida Stronghold Gates have quarters with casemates. On the
four sides there is a heavy ornamental load, intensified by the pleasant- Conjoined photo with the two built complexes of
the Gates of Sao Francisco or of Cruz, seen from
ness of the wall parameters of the fortification. the Sao Pedro bastion. It can be clearly observed
It’s a given fact that the Gates find some sense in the relationship with the relation between the interior and the exterior
of the stronghold, the design of the ditches and the
the urban mediaeval pre-existence, very well portrayed in the drawings present bridges to accede to.

216 217
PORTAS DE SÃO FRANCISCO OU DA CRUZ
GATES OF SÃO FRANCISCO OR OF CRUZ

Praça-forte de Almeida – Localização

Fortress of Almeida – Localization

LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY
I
Planta geral e perfil do conjunto das Portas de São Francisco
General plan and profile of the conjoined Gates of São Francisco

218
5.5 – AS PORTAS DE SÃO FRANCISCO OU DA CRUZ 5.5 – THE GATES OF SÃO FRANCISCO OR OF CRUZ

5.5.1 Portas Exteriores 5.5.1 Exterior Gates

As Portas Exteriores de S. Francisco integram a cintura exterior dos
revelins de defesa da Praça-Forte de Almeida, constituindo, para quem
chega, o ponto focal da relação da cidadela militar com o exterior.
A sua construção data do terceiro quartel do século XVII, apresentando
características construtivas notáveis, por certo corrigidas ou adiciona-
das aquando da renovação da praça de guerra após a devastação sofrida
com a 3ª Invasão Napoleónica.
A técnica construtiva, de dupla abóbada protegida com cobertura anti-bomba
de lajeado assente com sistema geo-amortecedor, antepara a esplanada da
entrada principal da vila e, após transposição de um primeiro fosso defensivo,
conta com dois compartimentos desiguais separados por uma passagem.
O conjunto assemelha-se a uma casamata, pelo adossamento que as ter-
ras do baluarte avançado realizam com o próprio volume da construção
em forma de cripta, percorrível ao nível da cobertura em duas águas.
The Exterior Gates of S. Francisco are a part of the exterior belt of defen-
sive ravelins of Almeida’s Stronghold. For those who arrive, they are the
focusing spot of the relationship between the citadel and the exterior.
The walls were built in the third quarter of the 17th century, revealing
remarkable construction characteristics, surely corrected or added on
the occasion of the renovation of the stronghold after the devastation
caused by the Third Napoleonic Invasion.
The construction technique, with double vault protected by an anti-bomb
covering made with slabs fixed by a geological shock-absorber system,
protects the village main entrance walkway and, after crossing the first
defensive ditch, it has two uneven compartments divided by a passage.
This set resembles a casemate, due to the addorsed effect caused by the
advanced bastion and the volume of the crypt-like construction, which
can be crossed at the covering level.

As abóbadas de berço albergavam uma sala de armas e uma sala de
comando, no qual estacionava o oficial de dia ou de quarto. Possui um
trânsito rectilíneo, com um corpo de guarda do lado direito da entrada,
com quarto separado para o oficial.
As Portas Exteriores de São Francisco, ou do Revelim da Cruz, ganha-
ram o seu corpo de guarda e trânsito abobadados apenas tardiamente,
no século XIX, com o refazimento da cintura das muralhas prejudica-
das pelo cerco das tropas de Massena. Antes teria apenas uma pequena
construção que poderia abrigar um posto avançado da guarda.
Apresenta um pórtico toscano virado à campanha, de grande simpli-
cidade, com arquitrave, friso e cornija, sobre a qual se sobrepõe um
brasão que encosta à guarita. A composição é balizada superiormente
por duas pilastras estreitadas, relativamente às que conformam os lados
do portal. A rematar havia fogaréus que desapareceram.
O edifício foi objecto de um “projecto de impermeabilização”, realiza-
do em 1997 pelo Arq. Luís da Costa Pereira, tendo o caderno de encar-
gos referências à utilização de refechamentos de juntas sob pressão pelo
sistema “pointing”, de injecções de caldas cimentícias reo-plásticas e
de resinas poliéster em alvenarias, bem como de verniz de protecção de
The barrel vaults sheltered a weapons room and a command room,
where the day or on duty officer stayed. It has a straight passage, with
a guard quarters on the right handside of the entrance, with a separate
bedroom for the officer.
The Exterior Gates of the Ravelin of Cruz, or São Francisco, only got
a guard quarters and vaults at a late stage, in the 19th century, with the
reform of the walls damaged by the siege of Massena’s troops. Before
that those may only have a little construction able to shelter an ad-
vanced garrison.
This Gate has a very simple Tuscan portico facing the encampment,
with an architrave, a frieze and cornice, on top of which there is a coat
of arms near the sentry-box. This composition is marked by two pilas-
ters on top, comparatively to those that mark the sides of the portal.
There where also torches but those have disappeared.
This building was the target of a “waterproofing project”, carried out in
1997 by Architect Luís da Costa Pereira. It was mentioned in the speci-
fications that the junctions would be closed under pressure using the
“pointing” system, through the injection of plastic cement and polyester
resin in masonry, as well as stone protection varnish. However, in the

220 221
pedra. Não obstante, apenas estão considerados nas medições os “refe-
chamentos interiores e exteriores de pedra sob pressão, com argamassa
de baixo teor de hidróxido de cálcio”, “injecção de caldas orgânicas em
função da concentração de infiltrações” e “injecção de caldas inorgâni-
cas de baixo teor em hidróxido de cálcio”.
O conjunto, se bem que desequilibrado, por falta de construção do lado
esquerdo do alçado, retira grande efeito cénico da sua situação topo-
gráfica, ligeiramente alteada como convinha, resguardando a bela Porta
Magistral. O enquadramento dos muros de espera que dão sequência
às guardas da ponte sobre o primeiro fosso, bem como os pináculos
decorativos que se lhe ajuntaram (provavelmente nos anos 40 do século
XX), conferem eficácia à definição duma percepção axial da entrada na
cidadela, contribuindo positivamente para uma integração dos valores
patrimoniais.
Nos desenhos que se apresentam, justamente para a área aberta que a
composição dos pináculos enquadra, desenhou-se um apontamento do
que poderá ser a resolução do desenho urbano e da disciplina da circu-
lação automóvel na Esplanada de entrada da Praça-forte.
measurements there are only mentioned “the under pressure closing of
interior and exterior stones, using mortar low on calcium oxide”, “in-
jection of organic weld according to the extent of the infiltrations” and
“injection of inorganic weld low on calcium hydroxide”.
The set, even if unbalanced because it doesn’t have any structures on
the left handside of the façade, removes the great scenic effect of its
topographic location, slightly elevated, protecting the beautiful Mag-
isterial Gate. The framing of the walls that follow the bridge guards
over the first ditch, as well as the ornamental pinnacles that were added
(probably during the 40’s of the 20th century), grant efficiency to the
definition of an axial perception of the citadel entrance, having a posi-
tive effect on the integration of the patrimonial values.
On the presented drawings, precisely for the open area that the pinna-
cles frame, there is an annotation of that which can be the resolution of
the urban plan and vehicle circulation on the Esplanade at the entrance
of the Fortress.
222
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY

III
Cortes transversais AA e BB
Transversal Sections AA and BB

IX
Alçados externos, desde a esplanada exterior e pelo fosso
External elevations, from the exterior esplanade and by the ditch

IV
Cortes transversais AA e BB
Transversal Sections AA and BB

II V X
Planta do piso Alçado interno Alçados externos, desde a esplanada exterior e pelo fosso
Ground plan Internal elevation External elevations, from the exterior esplanade and by the ditch

VI VII VIII
Cortes Longitudinais CC e DD Alçado lateral e secção pelo fosso Cortes Longitudinais CC e DD
Longitudinal Sections CC and DD Lateral elevation and section across the ditch Longitudinal Sections CC and DD

224 225
5.5.2 Portas Interiores ou Magistrais
Pierre Garsin integrou a equipa de técnicos franceses que trabalhava
em Almeida em 1660, sendo-lhe atribuída intervenção directa nos tra-
balhos (vd. Rafael Moreira, “Do Rigor Teórico à Urgência Prática”, in
«História da Arte em Portugal, Vol. 8 – O Limiar do Barroco», Pub.
Alfa, Lisboa, 1986, pág. 82). As datas que são assinaladas como res-
peitantes à construção das Portas Interiores de São Francisco, em que
o papel do engenheiro francês, após a sua passagem pelo Pernambuco,
terá sido importante, estão balizadas entre 1661 e 1676.
O alçado do pórtico de honra da Praça-forte, seguindo a ilustração do trata-
do de Antoine de Ville, apresenta frontão em arco abatido quebrado assente
sobre um par de colunas toscanas de cada lado do vão, as quais por sua
vez nascem de um pedestal comum. Quer este quer os fustes das colunas
e os panos entre elas, bem como o tímpano do frontão são ostensivamente
marcados por estereotomia almofadada contendo forte decoração, realiza-
da por meio de perfurações regulares cilíndricas nos silhares de granito.
5.5.2 Interior or Magisterial Gates
Pierre Garsin was a part of the team of French technicians who worked
at Almeida in 1660 (vd. Rafael Moreira, “Do Rigor Teórico à Urgência
Prática”, in «História da Arte em Portugal – O Limiar do Barroco»,
Pub. Alfa, Lisboa, 1986, page 82). He is said to be the one who worked
directly on the tasks. The construction of the Interior Gates of São Fran-
cisco, which had a great involvement by Garsin after the return of the
French engineer from Pernambuco, is dated between 1661 and 1676.
At the time, the Governor of the Beira Province was D. Álvaro de
Abranches and the works were under the general supervisão of Archi-
tect David Álvares (Alexandre Alves, “Artistas e Artífices nas Dioceses
de Viseu e Lamego”, Viseu 2001, page 64).
The Stronghold’s portico of honour façade, following the rules of An-
toine de Ville’s treaty, displays the pediment with a three-centred arch
placed over a pair of Tuscan columns on each side of the span, which
are raised from a common pedestal. Both these and the column shafts
226
O portal é encimado por uma composição escultórica de aparato, con-
tendo um brasão coroado com elegante peça saliente e bem ornamen-
tada, e miniaturas de bombas, barris de pólvora, estandartes e bocas de
artilharia.
A extensão do cenário frontal escamoteia a inexistência de compartimen-
tos construídos do lado direito do alçado, desenvolvendo-se a planta em
caprichosa curva, quase desenhando um “S”, mas deixando – o que é
contra a regra – um ângulo de visionamento entre o exterior e o interior.
(Quando se analisa em detalhe o alçado interior parece evidenciar-se
que a situação do portal não estará no eixo de simetria da composição,
dando a impressão de um certo apressar no acabamento da obra, quiçá
mesmo abandonando a concretização de compartimentos que poderia
haver do lado oposto à casa da guarda que foi realizada – e onde, afinal,
teria sido natural que se tivesse complementado um programa constru-
tivo fazendo jus à importância global do conjunto realizado, incluindo
a importante cobertura antibomba que abriga a plástica sinuosa da abó-
bada do trânsito).
227
and the curtain between them, as well as the pediment tympanum, are
deeply marked by padded sterotomy with heavy decoration, made
through regular cylindrical piercing on the granite ashlars.
At the top of the portal there is a sumptuous sculpture, with a crowned
coat of arms including a graceful prominent and well ornamented part,
and miniatures of bombs, gunpowder barrels, banners and artillery.
The size of the frontal scenario hides the inexistence of compartments
on the right handside of the façade, expanding the draft in a capricious
curvature, almost drawing an “S”, but leaving – which is against the
rules – an angle through which is possible to see from the inside to the
outside and vice-versa.
(When one analyses the detail of the interior façade, it seems to become
clear that the location of the portal is not in symmetry with the axis of
the building, what suggests that the conclusion of the construction was
rushed, or even the cancellation of the construction of compartments that
should have been built on the opposite side to the guard quarters – where
would have been natural to complete a constructive plan that would have

A Casa da Guarda, onde actualmente se encontra instalado o Posto de
Turismo (projecto de instalação do Arq. Costa Pereira, c. 1998), apre-
senta curiosos detalhes construtivos, demonstrativos das adaptações
realizadas para a concretização das particularidades do programa de-
fensivo, nomeadamente na relação entre as transições das paredes orto-
gonais para as curvas, em correspondência com o movimento do tecto,
em abóbada de berço, no acesso.
Um pequeno compartimento (com uma janela de pequena dimensão e
alteada, em relação ao pavimento da rua) serviria como posto de deten-
ção. Para além do espaço amplo, onde pontua uma enorme lareira, um
quarto do oficial de turno reservava para si uma das outras janelas. A
restante, com a fresta do alçado do fosso, fazia a ventilação transversal
do espaço maior das instalações.
Aqui esteve instalado o Comissariado inglês após as Invasões Francesas.
Em consequência dos fortes estragos causados pelo Cerco, pela grande
explosão de Agosto de 1810, e pelas pelejas posteriores, a fortaleza teve
um recobro lento e penoso. Um dos pontos mais sofridos, e que por
mais tempo ostentou as sequelas da Guerra Peninsular, foi justamente a
entrada de São Francisco, com a Porta Magistral fora de serviço durante
larguíssimo período de tempo.
Há muito por descobrir no que se refere à história da fortificação de
Almeida: as fontes escritas são omissas ou ainda não estão reveladas.
Mas o documento que é o próprio monumento mostra-nos que o acesso
pelas Portas da Cruz ocorreu antes de se restabelecer o percurso a cota
alta sobre o fosso.
Na realidade, sem contar com o caminho que, descendo do revelim ao fos-
so, subia de seguida a escarpa para o Largo da Cerdeira, junto do baluarte
de S. Francisco (devidamente inscrito na representação de 1811, de autoria
do Tenente-coronel Caula e do Major Neves Costa), é a própria alvenaria
que indica a existência de uma rampa para o movimento na Porta Interior,
fazendo o movimento oposto ao da descida anterior, desde o Revelim.
Mas já em 1813 (por ofício de 7 de Junho), Beresford mandava projec-
tar a recuperação das Portas da Cruz (orçamento de madeiras da “gran-
“ESBOÇO // DO // PLANO E PROFIZ DA PRAÇA DE ALMEIDA // Para mostrar o estado de ruína
em que se acha pelo effeito das minas pratica // das pelos Franceses em Maio e pelos Aliados em
Junho de 1811, assim como para // indicar as obras projectadas para reparação das brexas, e pôr
a dita Praça // ao abrigo de um golpe de mão. // Pelos Officiaes do Real Corpo de Engenheiros // O
Tenente Coronel Caula e Major Neves Costa”
“SKETCH // OF // PLAN AND PROFILE OF ALMEIDA STRONGHOLD // To show the state of ruin
in which it’s in caused by the mines // of the French in May and by the Allies in June of 1811, as well
as to // indicate the planned works to repair the gaps, and get he mentioned Stronghold // safe from
an attack. // By the Officials of the Royal Corps of Engineers // The Lieutenant Colonel Caula and
Major Neves Costa”
Plano da Ponte de Madeira para a serventia // no fosso das // Portas da Cruz da Praça d’Almeida
A. agoada vermelha indica obra de pedra / amarela de madeira. D. Estrado que deve ser coberto
com hum Pavimento B, feito de // argamaça forte e ceixo meudo guarnecido com fiadas de Enxilha-
ria. E. Travijamento da Ponte. Pedro Folque, // Coronel Engenheiro, 1813.
Draft of the Wooden Bridge for servitude // in the ditch of the // Gates da Cruz of Almeida Stronghold
A. red paint marks the stone work / the yellow one marks wood work. D. Platform that shall be
covered with Pavement B, made with // strong mortar and gravel with lines of ashlar-masonry.
E. Bridge Framework. Pedro Folque, // Colonel Engineer, 1813.
made justice to the global construction, including the important anti-
bomb covering that protects the Transit vault’s plastic sinuosity)
The Guard House, where the Tourist Information Office is located now-
adays (installation drawing by Architect Costa Pereira, c.1998), shows
interesting construction details, illustrative of the adaptations done in
order to fulfil the characteristics of the defensive plan, namely the rela-
tion between the transitions from orthogonal to curved walls, connected
to the ceiling, in barrel vault at the access.
A small compartment (with a little window, above the usual level) would
serve as prison. Besides a wide space, where a big fireplace stands out,
the shift official quarters had one of the other windows. The only one
left, with the ditch façade gap, operated as transverse ventilation for the
rest of the accommodation space.
After the French Invasions, the English Commissariat has been in-
stalled there.
As a consequence of the great damage caused by the Siege, by the great
explosion of August 1810, and by the previous fights, the fortress had
a slow and painful recovery. One of the most damaged spots was pre-
cisely the São Francisco entrance, which caused the Magisterial Gate to
be out of commission for a long time.
There’s still a lot to be discovered about the history of Almeida fortifica-
tion: written sources are incomplete or not yet revealed. But the document
that is the monument itself shows us that the access by the Gates of Cruz
happened before the route at the high level above the ditch was restored.
Apart from the road that, going down the ravelin to the ditch, went up
the slope to Largo da Cerdeira, near the bastion of São Francisco (duly
mentioned in the 1811 illustration by Lieutenant-colonel Caula and Ma-
jor Neves Costa), it’s the masonry itself that shows the existence of a
ramp towards the Interior Gate, on the opposite direction of the former
slope, from the Ravelin.
But in 1813 (by decree of 7 June), Beresford ordered a project to recover
the Gates of Cruz (estimate of timber for the “great bridge”, hardware,
masonry, pavements, timber for the “little bridge”, for the drawbridge
228
de ponte”, ferragens, alvenarias, pavimentos, madeiras para a “pequena
ponte”, para a ponte levadiça e para as portas, tudo no total de 1983$820
réis, incluindo mão-de-obra – dados recolhidos de J. Vilhena de Carva-
lho, op. cit., págs. 16-18). A obra, porém, não foi executada.
A não utilização do tráfego pelas Portas de S. Francisco implicava, desde
1811, a exclusividade do uso das Portas de Santo António, em cujas casas de
guarda se armazenavam as reservas de pólvora. A função de paiol e o movi-
mento geral faziam incorrer as Portas em constante ameaça de explosão.
Decidiu-se, por isso, em Fevereiro de 1815, reconstruir, no exterior, o
Paiol da Torrezilha, juntamente com a reabilitação do acesso de São
Francisco (para tanto chegando os moradores a quotizarem-se). Mas,
mais uma vez, as obras não tiveram prossecução.
As coberturas das Portas (quer as da Cruz, quer as de Santo António)
continuavam com severos problemas de infiltrações ainda em 1822,
apesar de o próprio rei ter autorizado as obras de reparação desde 1818
(cf. J. Vilhena de Carvalho,op. cit., pág. 38 e segs.). Não obstante, devi-
do às condições do Inverno de 1822/23, os trabalhos não só não arraca-
ram como se agravou substancialmente o estado geral das edificações.
Em 1824, cumprindo ordens reais, seguiu em Junho um destacamento
do Real Corpo de Engenheiros para providenciar a empreitada urgente
de Almeida, mas a única componente que parece ter tido concretização
foi a substituição das pontes levadiças das Portas de Santo António (id.,
ibid., págs. 46-47).
231
and for the gates, totalling 1983$820 réis, including work force – data
gathered by J. Vilhena de Carvalho, op. cit., pages 16-18). However, the
task was not carried out.
Not using the Gates of São Francisco for traffic meant, since 1811, that
the Gates of Santo António were the only ones being used, and the gun-
powder reserves were kept at its guard quarters. Serving as a powder
magazine as well as the general movement greatly increased the con-
stant risk of explosion at the Gates.Therefore, it was decided, in Febru-
ary 1815, that the Magazine of Torrezilha (outside the fortress) should
be rebuilt, along with the rehabilitation of the access through the Gates
of São Francisco (the inhabitants even raised some money). But once
more, the task was not carried out.
The covering of the Gates (both of Cruz and Santo António) continued to
have severe infiltration problems in 1822, even though the king himself au-
thorized the repairs since 1818 (cf. J. Vilhena de Carvalho, op. cit., page 38
and following.). Nevertheless, due to the severe winter of 1822/23, the task
not only didn’t start but the condition of the buildings became even worse.
In 1824, following royal orders, a group of the Royal Body of Engineers
was sent to provide the urgent task work of Almeida, but the only part
that seems to have been done was the replacement of the drawbridges
of the Gates of Santo António (id., ibid., pages 46-47).
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY

XII XV
Cortes Longitudinais EE e FF Corte transversal GG
Longitudinal Sections EE and FF Transversal Section GG

XI XIII XVI
Planta do piso Cortes Longitudinais EE e FF Alçados externo e interno
Ground Plan Longitudinal Sections EE and FF External and internal elevations

XIV XVII
Alçado lateral Alçados externo e interno
Lateral elevation External and internal elevations

232 233
5.6 - AS PORTAS DE SANTO ANTÓNIO
As Portas de Santo António foram executadas entre 1661 e 1676. (No
conjunto apresentam gravadas as datas de 1674, 1676, 1773, 1791, 1797
e 1801. Mais do que diferentes épocas de construção, registam uma se-
quência de obras de reparação, encontrando-se os anos correspondentes
ao século XVIII dispersos pelos vários componentes anexos).
As Portas Exteriores de Santo António encontram-se numa situação
curiosa quanto à forma como produzem o efeito esperado para protec-
ção da entrada da fortaleza, a partir do lado mais alcantilado da banda
do Côa.
É um pouco o factor distância que contribui para a relativa sensação de
cumprir algum papel relevante no domínio da efectiva defesa da entra-
da no perímetro da cerca abaluartada. Ao contrário do que sucede nas
Portas de São Francisco, a cota de implantação das portas do Revelim
5.6 - THE GATES OF SANTO ANTÓNIO
The Gates of Santo António have been built between 1661 and 1676.
(They have the following dates engraved in them: 1674, 1676, 1773,
1791, 1797 and 1801. More than construction dates, these are a se-
quence of repairing dates. The dates regarding the 18th century can be
found on several adjacent components).
The External Gates of Santo António are in an interesting situation as
to the way they produce the expected protection effect of the fortress
entrance, from the steepest side of the Côa river flank.
It’s the distance that contributes to the relative sensation of having a
relevant role in the defence of the entrance in the perimeter of the for-
tification. Contrarily to what happens with the Gates of São Francisco,
the elevation of the gates of Santo António Ravelin isn’t enough to ef-
ficiently cover the Interior Gates.
Tal como nos acessos de São Francisco,
as Portas de Santo António desdobram-se
em dois complexos edificados, com um
fosso duplo que isola o revelim avançado.
As duas entradas na Fortaleza de Almeida
constituem o mais notável exemplo de portas
de fortificações realizadas em Portugal.
Like São Francisco entrance, the Gates of
Santo António are multiplied in two built
complexes, with a double ditch isolating
the advanced ravelin. The two entrances in
Almeida Fortress constitute the most notable
example of gates constructed in Portuguese
fortifications.
234
de Santo António não chega a cobrir, com sentida eficácia, as Portas
Interiores.
A análise da iconografia existente sobre Almeida, e designadamente o traça-
do de 1736, de autoria de Manuel de Azevedo Fortes, considera a inscrição
de um Revelim no Revelim hoje existente, com um perfil que se sobreporia
às cotas das coberturas das Portas, isto é, tratar-se-ia de um Cavaleiro.
A planta, “riscada pelo Cappitam José Fernandes Pinto de Alpoym”,
apresenta com algum detalhe a “Planta da Praça de Almeida com as
obras interiores e exteriores addicionadas e determinadas pelo Enge-
nheiro-mor do Reino Manuel de Azevedo Fortes”, dando-nos em le-
genda a indicação de se dever considerar um “Revelim e Cavaleiro e
em cortadura” no fim da ponte dormente que traz das Portas Interiores
de Santo António.
Teríamos, deste modo, um sistema triplo de entrada com uma posição
fortificada que serviria como pivot contra o ataque de forças sitiantes,
uma espécie de desdobramento do revelim em doble, mas duma feição
altaneira e em articulação directa com o sistema de portas e de fossos. A
ser verificável esta hipótese, então poder-se-ão explorar pistas de enten-
dimento para o facto de não existirem (até há poucas décadas) paredes
de alvenaria nos troços interiores da escarpa de ambos os lados da ponte
dormente da Porta Magistral – continuando a área expectante para rea-
lização da ideia de Manuel de Azevedo Fortes? –, ou da razão de ser do
muro de contenção paralelo à cortina do Revelim virada a Sul. E, assim
talvez, obter um sentido de explicação para o desmesurado dimensiona-
mento de um baluarte cuja topografia parece não fazer sentido como re-
duto defensivo ou grande praça de armas, e que, em qualquer situação,
teria que estar convenientemente protegido dos ataques inimigos.
235
The existing iconography analysis about Almeida, namely the sketch
of 1736 by Manuel de Azevedo Fortes, reflects over an inscription on
an existing Ravelin about a former Ravelin, with a profile that would
overlay the coverings of the Gates, meaning that it was a Cavalier.
The drawing, “made by Captain José Fernandes Pinto de Alpoym”, re-
veals in good detail the “Draft of Almeida Stronghold with interior and
exterior buildings added by the kingdom’s Chief Engineer, Manuel de
Azevedo Fortes”, indicating in a subtitle that there are a “Ravelin and
Cavalier and in section display” at the end of the dormant bridge that
comes from the Interior Gates of Santo António.
This way, we should have a triple system of entry with a fortified po-
sition that would serve as a pivot against the attack of the besieging
forces, in some sort of unfolding of the ravelin into two, but in a el-
evated manner and in direct articulation with the gate and ditch system.
If this hypothesis is true, then any leads towards the understanding of
the absence (until a few decades ago) of masonry walls in the inte-
rior sections of the slope on both sides of the Magisterial Gate bridge
should be explored – maintaining the unoccupied area where Manuel de
Azevedo Fortes idea should be implemented? –, or even the reason why
the contention wall, parallel to the south curtain of the Ravelin exists.
Maybe then the existence of the oversized bastion, which topography
doesn’t seem to have any grounds as a defence device that would have
to be protected from enemy attacks, could make some sense and get
some justification.
PORTAS DE SANTO ANTÓNIO
GATES OF SANTO ANTÓNIO

Praça-forte de Almeida – Localização

Fortress of Almeida – Localization

LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY
XVIII
Planta geral e perfil do conjunto das Portas de Santo António
General plan and profile of the conjoined Gates of Santo António
5.6.1 Portas Exteriores
A organização das Portas do Revelim (onde ainda existem, na face ex-
terna, as portas de madeira originais), dispõe-se simetricamente em re-
lação ao eixo de entrada, sendo antecedida de uns muros de alvenaria de
pedra encurvados que dificultam a percepção longínqua do vão.
O trânsito, rectilíneo, dispõe de rastrilho que subdivide o espaço num
primeiro momento defensivo emoldurado por 16 seteiras para fogo de
mosquete, fusil ou bacamarte, caso os invasores tivessem passado a
ponte do fosso – e para a qual se orientam dois conjuntos de quatro
posições de tiro de cada lado do pórtico, para além de todo o poder de
fogo possível a partir da cobertura.
A composição da porta é despida de excessiva preocupação de tipo for-
mal, podendo resumir-se à marcação de duas pilastras sem qualquer
embasamento, rematadas por uma cornija, a qual abriga igualmente o
elemento decorativo central que é constituído por um brasão com as
armas nacionais coroado, como na restante heráldica da Praça-forte.
Identicamente às outras três portas externas da Fortaleza, uma guarita
encima e fecha o encontro das duas pendentes da cobertura.
Do levantamento arquitectónico do alçado do pórtico externo das Portas
Exteriores ressalta, porém, um tratamento seguro da composição, em
que a simplificação dos elementos reforça a importância da proporção
das pilastras lisas e da cornija simplificada que corre sobre as mesmas.
No interior merece atenção a simplificada forma de execução da mu-
dança dimensional de vão das abóbadas de ambos os compartimentos
que ladeiam o trânsito. Quer um quer outro destes espaços (destinados
aos Corpos da Guarda e a prisão) possuem lareiras, para além de, no
lado esquerdo da entrada, existir um compartimento quadrangular com
5.6.1 Exterior Gates
The Gates of the Ravelin (where they still exist, on the external side, the
original wooden doors), are symmetrically positioned to the entrance
axis, preceded by masonry stone walls with a curvature that make it
difficult to see the span.
The traffic, in a straight line, has a sliding grating door that divides
the space in a defensive room framed by 16 embrasures for musket,
blunderbuss or fusil shooting, in case the attackers passed the ditch –
towards which there are two sets of four shooting positions on each side
of the portico, in addition to the possible firepower from the covering.
The gate does not reveal any formal preoccupation, reduced to two pi-
lasters without any embedment, completed with a cornice, which also
shelters the central ornamental element composed by the national coat
of arms, like the rest of the heraldry of the stronghold.
Like the three other external gates of the fortress, it has a sentry-box
atop of it and closes the encounter of the two covering pendants.
The architectonic survey of the external portico façade of the Exterior
Gates points out that a safe treatment of the composition, in which the
simplification of the elements intensifies the significance of the plain
pilaster proportions and the simple cornice which goes on top of them.
Inside, the simplified execution of the dimensional change of the vault
span on each compartment that flank the transit is worthy of some atten-
tion. Both spaces (designed for the Guard Quarters and for the prison)
have fireplaces, in addition to a quadrangular compartment with safety
ventilation on the left handside of the entrance, designed to serve as
magazine. Next to the interior façade there’s a quadrangular sentry-box
with a superior pyramidal pinnacle.
238
ventilação de segurança, destinado a paiol. Adossado à fachada interior
existe uma guarita de planta quadrada e remate superior piramidal.
É particularmente notória a riqueza construtiva do sistema duplo da co-
bertura, com lajeado plano à prova de bomba, simultaneamente articula-
do com um engenhoso sistema de garantia de estanquidade, relativamen-
te às infiltrações ainda possíveis do exterior – o que permitia um grau
higrométrico controlado, não apenas para o aquartelamento das tropas,
como também para a estabilidade da pólvora que seria armazenada no
compartimento quadrangular estanque que as instalações possuem.
O vão do compartimento à esquerda de quem entra na Praça-forte, era
igual ao que lhe fica defronte. Conquanto se não conheça a razão, nem
a época, da evolução verificada, o projecto de reablitação recentemente
terminado optou por não restaurar a condição original.
A reabilitação das Portas Exteriores de Santo António, destinadas a aí
instalar um “Centro de Estudos da Arquitectura Militar”, foi levada a
efeito em meados de 2007, de modo a dinamizar um programa de acti-
vidades que imponha Almeida no quadro de referências sobre o estudo
e a divulgação do património ímpar de que o Concelho se orgulha, com
projecto do gabinete técnico do autor destas linhas.
Um aspecto particularmente assinalável é a subsistência das portas exte-
riores, com as suas ferragens quase intactas. Trata-se de um portal com
madeiras cuja idade se aproxima das duas centúrias, fazendo jus à ade-
quação do material, mesmo em condições climatológicas particularmente
desfavoráveis. O restauro e valorização das duas folhas de madeira, com
o respectivo postigo, são aspectos a reclamar merecida atenção.
Outra questão merecedora de apreço é o estado, apreciavelmente bom,
do par de latrinas que equipam este espaço abobadado (e que dispunha
de piso sobradado). O projecto levado a cabo recuperou a função sani-
tária para o local.
239
The construction sumptuousness of the double system of the covering
is remarkable, with bomb proof slabs, simultaneously linked with an
ingenious system that guarantees tightness against any possible infil-
trations – what allowed for a controlled hygrometry, not only for the
troop’s quarters, but especially for the stability of the gunpowder kept
in the quadrangular compartment.
The left compartment entrance was like the one right across of it. Al-
though the reason and period of its evolution are still unknown, the
recently finished rehabilitation project opted not to restore its original
condition.
The rehabilitation of the Exterior Gates of Santo António, where it was
intended to be installed a “Centre of Studies of the Military Architec-
ture”, was executed in mid 2007, so that it would be possible to boost
an activities program which could get Almeida to be a reference of the
study and diffusion of the singular heritage the Municipality is proud
of, with plans by the office of this text’s author.
A particularly remarkable aspect is the preservation of the exterior
gates, with its hardware almost intact. It’s a wooden portal almost two
centuries old, which proves the material suitability, even in particularly
harsh weather conditions. The restoration and valorisation of the two
sheets of wood, with its hatch, are aspects worthy of some attention.
Another point worthy of some appreciation is the condition, noticeably
good, of the two latrines equipping this vaulted space (and that had a wood-
en pavement). The executed project recovered this sanitary function.
Enquadramento da vista interna da Porta Exterior de Santo António, com alguns dos Internal framing of the Exterior Gate of Santo António, with some of the figurants of
figurantes da recriação histórica do “Cerco de Almeida” tomando posições no revelim the historical recreation of the “Almeida Siege” taking positions in the ravelin (August
(Agosto de 2006). 2006).
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY

Porta Exterior
Exterior Gate

XXI XXIV XXVII

Cortes Longitudinais HH, II e JJ Cortes Transversais KK, LL e MM Alçado externo pelo fosso
Longitudinal Sections HH, II and JJ Transversal Sections KK; LL and MM External elevation by the ditch

XIX
Planta do piso
Ground plan

XXII XXV XXVIII

Cortes Longitudinais HH, II e JJ Cortes Transversais KK, LL e MM Alçado interno
Longitudinal Sections HH, II and JJ Transversal Sections KK; LL and MM Internal elevation

XX XXIII XXVI XXIX

Planta do mezanino Cortes Longitudinais HH, II e JJ Cortes Transversais KK, LL e MM Alçado lateral
Mezzanine plan Longitudinal Sections HH, II and JJ Transversal Sections KK; LL and MM Lateral elevation

244 245
 5.6.2 Portas Interiores
O edifício das Portas Interiores de Santo António revela-se como uma das
mais interessantes construções militares de Almeida, apresentando uma
panóplia de situações de arrojo arquitectónico que o tornam num caso de
estudo ímpar.
A morfologia da implantação no terreno apresenta uma extraordinária con-
figuração altimétrica, com uma curva apertada associada a uma inclinação
acentuada no troço do trânsito junto à saída. Tal dispositivo construtivo ser-
ve para obviar aos inconvenientes de uma desprotecção do Revelim e das
suas Portas Exteriores, e igualmente cumprindo com o princípio consabido
de que “he necessario que se façaõ taõ baxas que naõ sejaõ descubertas da
campanha” (Johann Pfeffinger, “Fortificaçam Moderna ou Recompilaçam
de differentes Methodos de Fortificar, de que Usão na Europa os Espaho-
les, Francezes, Italianos & Hollandezes”, Lisboa, 1713, pág. 263).
A composição do conjunto é bastante diferenciada, com a sala da prisão
(à esquerda de quem entra) oferecendo uma volumetria mais contida, por
contraposição à grande casa do corpo da guarda (à direita). A altura atingida
com o desenvolvimento do perfil transversal do trânsito é deveras inusita-
da. Por isso, o aquartelamento das tropas beneficiou de um piso sobradado
entre a porta da face interna e o rastrilho, subsistindo quatro colunas para-
lelipipédicas e as escadas de granito.
O rastrilho posiciona-se obliquamente ao eixo da via de acesso e a abóbada
de berço do tecto realiza um movimento radial apertado, de grande qualida-
de construtiva, ao desenhar a aproximação ao pórtico da face externa.
Tratando-se de um local que disponibilizaria cómodos para bastantes ho-
mens, compreende-se que seja este o núcleo que tenha chegado até nós com
maior número de latrinas, com a particularidade de se dispor de instalação
sanitária no piso superior que também existia no grande compartimento
da guarda. Os dois espaços principais de cada lado da passagem coberta
possuem lareira.
Por razões construtivas, as paredes do trânsito foram concebidas por meio
de arcos formando nichos, o que confere maior estabilidade para os es-
forços da cobertura (em tudo idêntica à das Portas Exteriores) e acrescida
resistência, pela formação de contrafortes, à função de suporte de terras do
lado esquerdo da entrada na cidadela.
A particular realização da edificação – que oferece a cobertura antibom-
ba praticamente à cota do plateau superior do reparo – acaba finalmente
por produzir um alçado extremamente bem integrado no pano da muralha.
Aí o alçado da Porta Magistral adquire todo o protagonismo, com uma
composição erudita, onde igualmente sobressai a qualidade do aparelho do
paramento de alvenaria de granito, mostrando do lado esquerdo (onde não
existem instalações) a existência de silhares que, no contrafiamento do de-
senho, se dispõem em contraventamento, assim perfazendo a estabilidade
mesma de uma vasta extensão murária.
As pilastras do portal, com os elementos canónicos da base, capitel e en-
tablamento (desdobrando-se este em arquitrave, friso e cornija), fazem
inscrever a composição na ordem dórica. É particularmente assinalável a
composição do friso por triglifos, enquanto que as métopas se adornam de
espirais e flores. A arquitrave está decorada por filetes de gotas que rema-
tam os triglifos do friso.
A composição do pórtico em apreço, datando de pouco tempo antes da
construção da Misericórdia de Almeida, evidencia sinais de influência es-
246 247
5.6.2 Interior Gates
The building of the Interior Gates of Santo António is one of the most
interesting military constructions in Almeida, revealing a great archi-
tectonic audacity that makes it a singular study case.
The morphology of its insertion in the field reveals an extraordinary
altimetric configuration, with a marked curvature associated to a pro-
nounced slope in the section of the transit near to the exit. Such con-
struction device is useful in order to avoid the problems that the lack
of protection of the Ravelin and its Exterior Gates could raise, and also
to fulfil the known fact that “is necessary that one makes those so low
that they are not out of the covering” (Johann Pfeffinger, “Fortificaçam
Moderna ou Recompilaçam de differentes Methodos de Fortificar, de
que Usão na Europa os Espaholes, Francezes, Italianos & Hollandez-
es”, Lisboa, 1713, page 263).
The set’s composition is quite diverse, with the prison room (on the
left handside of the entrance) with small dimensions, in opposition to
the big room of the guard quarters (on the right handside). The height
attained with the development of the transverse profile of the transit is
truly unusual. That’s the reason why the troop’s quarters have a wooden
pavement between the internal side of the door and the sliding grating
door, only remaining four quadrangular columns and the stone stair-
way.
The sliding grating door is slanted in relation to the access path axis and
the semicircular vault has a tight radial movement, with great construc-
tion quality, drawing the convergence with the external side portico.
Since this is a place that would be able to accommodate quite enough
men, it’s understandable that this core has more latrines, with the sin-
gularity of having sanitary installations on the upper floor as well as in
the guard compartment. Both spaces on each side of the passage have
fireplaces.
For construction reasons, the transit walls have been built using arches
which form niches, granting more stability and solidity for the covering
(identical to the one on the Exterior Gates), through the formation of
buttresses, to counterweight the lands on the left handside of the citadel
entrance.
The singular execution of the construction – that granted the bomb proof
covering almost at the level of the superior plateau of the rampart – also
offers a façade which is extremely well integrated into the wall curtain.
That’s where the Magisterial Gate façade gains all its magnificence,
with an erudite composition, as well as the quality of the ornamented
masonry device, showing the existence of ashlars on the left handside
(where there are no installations) which are arranged in such a way that
it contributes for the equilibrium and restraint of the stability of a vast
extension of the wall.
The portal pilasters, with canonical elements on the base, the capital
and the entablature (composed by the architrave, frieze and cornice)
make this building a Doric order one. The composition of the frieze by
triglyphs, while the metopes are ornamented with spirals and flowers,
are particularly remarkable.
The composition of this portico, dated a little before the construction of
the Church of Misericórdia of Almeida, shows signs of stylistic influ-
ence, also shown at Chapel of Menino Jesus, at the Conventual Church.
tilística, identificável também na Capela do Menino Jesus, na Igreja Con-
ventual. A verificação de tais afinidades, sobretudo na realização das portas
da arquitectura militar, denuncia a versatilidade dos engenheiros militares
desta época na divulgação do classicismo na arquitectura portuguesa.
Como sempre acontece nas Portas de Almeida, a guarita cilíndrica ocupa o
ponto de simetria na cota mais elevada, interrompendo o frontão triangular.
Um brasão coroado, já muito erosinado, está colocado sobre o vão.
A face interna da edificação das Portas Interiores, tal como na do Revelim
ou nas do conjunto da Cruz, são de uma total contenção formal.
Como foi visto atrás, conjugado com o estado de inoperacionalidade das
Portas de S. Francisco após 1811, a exclusividade do uso das Portas de
Santo António (cujas Casas de Guarda tinham a função de paiol) e o movi-
mento geral fazia incorrer as Portas em constante ameaça de explosão – o
que implicava repetida mas inconsequente atenção.
Em 1824, cumprindo ordens reais, seguiu em Junho um destacamento do
Real Corpo de Engenheiros para providenciar a realização de trabalhos ur-
gentes e já anteriormente determinados para Almeida, mas a única compo-
nente que parece ter tido concretização foi a substituição das pontes leva-
diças das Portas de Santo António (orçamentada em 100$000 réis, a que se
deduziria o valor da mão de obra dos militares), trabalhos realizados em
1825, depois de aprovados em 12 de Janeiro deste ano. Pelo interesse da
descrição que antecede a especificação do caderno de encargos transcreve-
se (do Arquivo Histórico Militar, a partir de J. Vilhena de Carvalho, op. cit.,
pág. 47) essa memória, a qual ajuda a compreender alguns aspectos do que
se encontra hoje no local (por exemplo, os refundados para encaixe das
guardas nos umbrais dos pórticos):
“REAL CORPO DE ENGENHEIROS
Orsamento de quanto importará o fazerem-se dormentes as duas Pontes
levadiças das Portas de Stº António da Praça de Almeida.
IDEIA GERAL A RESPEITO DESTA OBRA
As pontes levadiças dictas pelo seu estado de ruína de que tem sido cauza
o tempo, a passagem de carros e cavalgaduras, precizavão ser reedifica-
das; porem attendendo-se ao estado, emque a Praça se acha, e às consi-
derações que sobre ella há, he melhor fazerem-se dormentes por ser mais
durável, e menos dispendioso; para o que he necessario fazer caixas na
cantaria, em que descanção as soleiras das Portas do Recinto, ed Revelim,
aonde entrem huuns dos extremos das vigas dos gradamentos, que devem
ficar de nível com os gradamentos das Pontes dormentes; assentar-lhe o
solho; deitar-lhe terra e construir-lhe calçada em hum espaço na Ponte do
Recinto de 18 palmos de comprimento e 20 de largura; fazer-lhe as guar-
das, e caixas de cantaria, à qual estão unidas as hombreiras das Portas,
para entrarem huuns dos extremos dos corremãos das mesmas guardas,
devendo ficar alinhadas pelos das guardas das Pontes dormentes.
(…)
A Real Fazenda economizará 20$200 rs. empregando nesta obra Mestre,
apontador e operarios do Batalhão de Artífices Engenheiros, reduzindo-se
a despesa a 79$800 reis.
Quartel na Praça de Almeida, 17 de Novembro de 1824.
Cazimiro José Fernandes
1º Ten. do R. C. de Eng.ros”.
Só depois desta fase se passou para as pontes em alvenaria, compacta e
sequente, em pedra, em data que não pudemos apurar.
249
Such affinities, mainly in the execution of the gates of military architec-
ture, show the versatility of the military engineers of that period in the
diffusion of classicism in Portuguese architecture.
Like in every other Gate in Almeida, this one has a round sentry-box
that is located in a symmetry point in the highest level, interrupting the
triangular pediment. A highly eroded crowned coat of arms is located
above the span.
The internal side of the Interior Gates building, like the one on the
Ravelin or on the of Cruz set, is formally simple.
Like it was said before, the fact that the Gates of São Francisco were
out of order after 1811, the exclusive use of the Gates of Santo António
(functioning as magazine as well) and the general movement caused
these Gates to be in continuous danger of explosion – which implied
that they needed continuous attention, but without any practical con-
sequences.
In 1824, following royal orders, a detachment of the Royal Body of En-
gineers went to Almeida in order to execute urgent works, which were
supposed to have been done before. Nevertheless, it seems that the only
thing that got done was the replacement of the drawbridges at the Gates
of Santo António (with an estimate of 100$000 réis, which included the
military work force), in 1825, after being approved in January 12th of
that year. We will transcribe that record (from Arquivo Histórico Mili-
tar, by J. Vilhena de Carvalho, op. cit., page 47) due to the description
that precedes the specification of the building contract, which helps us
understanding some of the aspects that can be found on the spot nowa-
days (holes carved in the stone used to encase the parapets into the
portico door jambs, for instance):
“ROYAL BODY OF ENGINEERS
Estimate for the replacement of two drawbridges at the Gates of Santo
António in Almeida.
GENERAL IDEA ABOUT THESE WORKS
The mentioned drawbridges will need to be replaced because they are
in terrible conditions due to the weather, the movement of carts and
horses; however, having in mind the conditions of the Stronghold, and
the considerations made about it, it will be better if we make beam
drawbridges so that they will be less expensive and last longer; for that
purpose we will need to make ashlar boxes, where the Precinct Gate
sills and the Ravelin will rest, where one of the edges of the railing
beams can be placed, which should be levelled with the railings of the
beam Bridges; laying the floor; fill it with dirt and build a pavement 18
palms long and 20 wide at the.Precinct Bridge; build its parapets and
ashlar boxes, linked to the Gate sills, so that the edges of the parapets
can be placed there, aligned with the ones of the dormant Bridges.
(…)
The Royal Treasury will save 20$200 réis by using a Master, overseer
and workers of the Artisan Engineers Battalion, reducing the expenses
to 79$800 réis.
Almeida Headquarters, November 17th 1824.
Cazimiro José Fernandes
1st Lieutenant of the Royal Body of Engineers”.
It was only after this stage that the stone masonry bridges were made,
in an unknown date.
No decurso das obras recentes de reabilitação das Portas Exteriores de San-
to António houve ocasião de verificar a existência de dispositivos e de en-
caixes talhados na pedra sob a soleira do pórtico exterior, correspondentes
ao funcionamento do tabuleiro amovível sobre o fosso. Da observação na
altura realizada, e tanto quanto o traçado do levantamento arquitectónico
pode indiciar, é possível que tais dispositivos (sustentando o encontro e a
rótula do plano levadiço) tenham sido realizados no local onde existiam,
do ponto de vista morfológico e geotécnico, as melhores condições de solo
para fundar, com o máximo de segurança, uma porta da fortificação.
Não esqueçamos que, no caso de Almeida, a configuração dimensional dos
volumes dos terraplenos das muralhas tem sobretudo a ver com a sábia
escolha do sítio para a implantação do grande hexágono abaluartado – visto
ser impensável uma concepção na base do manuseamento dos volumes de
terra que o preenchimento dos terraplenos exigiria.
Na realidade, a secção transversal (que atinge sempre dezenas de metros)
dos reparos da fortaleza é constituída por terreno natural, muitas vezes de
rocha branda – o que facilitava a modelação dos fossos – ou eventualmente
de rocha mais dura, bem necessária quando se tratava de dispor de uma boa
fundação.
De todo o modo, a perspectiva de pesquisas, seja das fontes escritas, seja
no terreno, está em aberto para que se avalie correctamente o significado do
Revelim e da sua precisa configuração.
A recuperação dos espaços das Portas Interiores, destinados a actividades
de recepção e de convívio promovidas pelo Município, teve lugar em 2002,
com projecto de autoria do Arquitecto João M. Marujo.
A dinâmica a alcançar, potenciando a sustentabilidade do próprio patri-
mónio construído, terá que entender-se num quadro mais amplo de sobre-
vivência de um legado histórico e cultural de valor superlativo, fazendo
jus à excelência de quanto foi obrado pelo Santo da invocação das Portas,
especialmente tendo em conta as ajudas que deu nas batalhas da Guerra da
Restauração: por essa razão, Santo António foi eleito padroeiro de diversos
regimentos e, de acordo com Henrique C. Ferreira de Lima (“Santo Antó-
nio Militar”, Boletim do A.H.M., Lisboa, 1939, vol. IX, págs. 233-251),
passando a integrar oficialmente o Exército nacional, progredindo desde o
posto de soldado até atingir, no século XIX, num suceder de promoções e
de aumento progressivo do soldo respectivo, a patente de general.
251
During the recent rehabilitation works at the Exterior Gates of Santo
António, it was possible to verify the existence of devices and carved
indentations in the stone under the threshold of the external portico,
related to the operation of the movable bridge roadway above the ditch.
According to what was observed at the time, and to the extent that the
architectonic survey can show, it’s possible that such devices (support-
ing the junction and the hinge of the movable bridge) have been made
where there were the best soil conditions, from a morphological and
geotechnical point of view, to make the Gate foundation with utmost
security.
We cannot forget that the dimensional configuration of the wall ram-
parts volume is related to the wise choice of the location where the
hexagonal fortification was built – since a conception based on moving
the amount of soil needed to fill the ramparts would be inconceivable.
The fortress trenches’ transverse section (extended through dozens of
meters) is made with natural terrain, many times of soft rock – which
made it easier to shape the ditches - or eventually harder rock, neces-
sary when a good foundation was needed.
Anyway, the research perspective of both written sources and fieldwork,
is open so that the meaning of the Ravelin and its exact configuration
can be correctly evaluated.
The recovery of the Interior Gates space, destined for the reception and
social interaction activities promoted by the Municipality, was done in
2002, with plans by Architect João M. Marujo.
The objective of this dynamic, enhancing the preservation of the built
patrimony, has to be understood in the wider context of survival of his-
torical and cultural legacy of great value, matching the excellence of
the actions of the Saint the Gates are dedicated to, especially taking into
account the help he provided during the battles of the Restoration War:
for that reason, Santo António has been elected patron of several regi-
ments and, according to Henrique C. Ferreira de Lima (“Santo António
Militar”, Boletim do A.H.M., Lisboa, 1939, vol. IX, pages 233-251), he
officially became a part of the National Army, progressing from soldier
up to general in the 19th Century, in a sequence of promotions and pay
raises.
253
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY

Porta Interior ou Magistral

Interior or Magistral Gate

XXX XXXIII
Planta do piso Cortes Longitudinais NN, OO, PP, QQ
Ground Plan Longitudinal Sections NN, OO, PP, QQ

XXXI XXXIV
Cortes Longitudinais NN, OO, PP, QQ Cortes Longitudinais NN, OO, PP, QQ
Longitudinal Sections NN, OO, PP, QQ Longitudinal Sections NN, OO, PP, QQ

XXXII XXXV
Cortes Longitudinais NN, OO, PP, QQ Alçado externo
Longitudinal Sections NN, OO, PP, QQ External elevation

254 255
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY

Porta Interior ou Magistral

Interior or Magistral Gate
5.7 - A “PORTA NOVA” 5.7 - THE “NEW GATE”

XXXVI
Corte e alçado RR, mostrando as relações entre os níveis das instalações
Section and elevation RR, showing the relations between levels of the installations
Razões funcionalistas, porventura questionáveis mas, por certo nalgum
aspecto trazendo vantagem, levaram a Direcção-Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais, nos anos 80, a proceder à criação de um acesso
novo à cidadela de Almeida.
Para tanto foi escolhido o eixo (já consolidado na vida local) do percur-
so da poterna do baluarte de S. João de Deus.
A concretização do acesso, de acordo com o sentimento da época, regis-
tou respeito pelo perímetro da Fortaleza, realizando-se uma passagem
de grandes proporções na muralha, em vez de um corte – o que criaria
uma difícil solução de continuidade ao nível do caminho de ronda. E
é justo reconhecer que, interpretando a morfologia do sítio, a inserção
desse enorme vazio teve lugar onde menos perturbação poderia fazer.
A bem dizer, havendo justificação para dotar Almeida dessa acessibi-
lidade, a opção tomada, quanto ao lugar, parece ter sido a que menor
impacto negativo poderia causar.
Menos de uma geração após a ousada interrupção do circuito centenário
de muralhas, a Câmara Municipal procedeu a trabalhos de reconfigura-
ção da imagem da passagem existente desde 1985, com base no projec-
to de autoria do gabinete coordenado pelo autor.
In the 80’s, functionality reasons, questionable one may say, but surely
having some kind of advantage, lead the Direcção-Geral dos Edifícios
e Monumentos Nacionais to the construction of a new access to the
Almeida citadel.
The axis of the path of the postern of S. João de Deus bastion (which use
was already consolidated by the locals) was chosen for the purpose.
The execution of the access respected the Fortress perimeter, according to
that period sensibility, opening a big passage in the wall instead of a cut
– which would have made it difficult to grant the continuity of the chemin-
de-ronde. It’s only fair to recognize that, interpreting the location morphol-
ogy, the insertion of that void was made in the place where it would have
less impact. If there really was the need for that access in Almeida, the
location choice seems to have been the one with less negative impact.
Less than one generation after the bold interruption of the centenary
wall circuit, the Municipality executed reconfiguration works of the
passage’s image, existent since 1985, based on a proposal designed by
the office coordinated by the author.
Without neglecting the disturbance that the concrete construction is, its
visual expression was reduced, mainly in the excessive interference in

XXXVII XXXIX
Cortes Transversais SS Cortes Transversais UU
Transversal Sections SS Transversal Sections UU

XXXVIII XL
Cortes Transversais TT Alçado interno
Transversal Sections TT Internal elevation

256 257

Sem postergar a intromissão que a obra de betão armado constituiu,
reduziu-se a sua expressão visual, sobretudo na interferência excessiva
que as padieiras salientes dos pórticos apresentavam. A alvenaria de
pedra foi reposta na sua prévia singeleza, e na extensão máxima possí-
vel, incluindo a fundamental devolução da leitura integral da corda da
fortaleza na cortina da muralha entre os baluartes de São João de Deus
e de Santa Bárbara.
Agregando-se à intervenção na designada “Porta Nova”, impor-se-
á todo um trabalho de dinamização dos espaços do fosso e o uso da
passagem pedonal da poterna do Baluarte – até porque o gabarito da
passagem automóvel não facilita a existência de passeios para peões.
Estes são assim convidados a fazer o percurso da passagem histórica,
reforçando as características positivas de um dos pontos mais utilizados
da rede viária da cidadela.
Simultaneamente almeja-se uma nova aproximação a uma contempora-
neidade, a qual se revele amável no contacto com os utentes da “Porta
Nova”, através do uso dos materiais e suas formas, “vestindo” o peque-
no túnel existente.
Os materiais convocados são reduzidos, destacando-se o granito e o
revestimento parcial com azulejos (de autoria do Pintor José Emídio),
jogando subtilmente com os circunstantes num diálogo potenciado pela
luz que vai modelando o Tempo.
Nesta página, regista-se o estado prévio do sítio,
antes da abertura da passagem automóvel na
cortina da muralha da fortificação, e uma foto de
1985, durante a construção do túnel em betão.
Na parte inferior mostram-se duas imagens com
a aparência interna (à esquerda) e externa (à di-
reita) da “Porta Nova”, antes da reconfiguração
finalizada em Julho de 2007.
Em cima, documenta-se o início da intervenção
operada, a qual conduziu aos resultados que se
apresentam nas páginas seguintes.
In this page it is registered the former state of the
place, before the opening of the car’s passage
in the curtain of the fortification, and a photo of
1985, during the construction of the concrete tun-
nel. In the lower part, two photos are shown, with
the internal appearance (left side) and the external
one (right side) of the “New Gate”, before the
reconfiguration finished in July 2007.
Above, it is documented the beginning of the
intervention carried on, which lead to the results
presented in the next pages.
the porticoes prominent lintels. The stone masonry was restored to its
previous simplicity and to the maximum possible size, including the
fundamental restoration of the integral perception of the fortress cordon
in the wall curtain between the São João de Deus and Santa Bárbara
bastions.
In the scope of the intervention on the so-called “New Gate”, it is nec-
essary to implement the dynamics of the ditch and the use of the com-
partments of the pedestrian passage at the Bastion postern – because
the size of the vehicle passage does not allow for the existence of side-
walks. Therefore, the pedestrians are invited to go through the path of
the historic passage, enhancing the positive characteristics of one of the
most used spots of the road system of the citadel.
Simultaneously, we aim for a new approach to a contemporaneity,
which reveals itself as kind in the contact with the users of the “New
Gate”, through the use of materials and its shapes, “dressing” the little
existent tunnel.
There were used few materials, where the granite and the partial coating
with azulejos stand out (by Painter José Emídio), subtly playing with
the bystanders in a dialogue boosted by the light shaping Time.
258
“PORTA NOVA” E POTERNA DE SÃO JOÃO DE DEUS
“NEW GATE” AND POSTERN OF SÃO JOÃO DE DEUS LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO ARCHITECTURAL SURVEY

Praça-forte de Almeida – Localização

Fortress of Almeida – Localization

XLIII
Alçado externo
External elevation

XLII XLIV
Plantas do nível superior e do piso Corte Longitudinal VV da poterna
Upper level and ground plans Longitudinal Section VV of the postern

XLV XLVI XLVIII

Cortes Longitudinais WW e XX mostrando os Cortes Longitudinais WW e XX mostrando os Alçado interno da “Porta Nova” e da Poterna
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO alçados das paredes do túnel alçados das paredes do túnel Internal elevation of the “New Gate” and the Postern
ARCHITECTURAL SURVEY Longitudinal Sections WW and XX showing the Longitudinal Sections WW and XX showing the
elevations of the walls of the tunnel elevations of the walls of the tunnel
XLI
Planta geral com o posicionamento das duas passagens na cortina entre os baluartes de Santa Bárbara e de São João de Deus,
junto do ângulo do flanco deste
General plan showing the relative position of both passages in the curtain between Santa Bárbara and São João de Deus
bastions, near the angle of the flank of this one

261
5.8 POSTIGOS E POTERNAS
Almeida ostenta ainda algumas folhas das portas de encerramento dos
portais exteriores das Portas da Praça-forte, em madeira de carvalho.
Nessas portas, uma vez encerrada a cidadela, teria que se esperar pelo
dia seguinte para a prática da vida quotidiana.
Não obstante, a funcionalidade da Fortaleza implicava contactos com o
exterior. Então, “em hua das meyas Portas se faz o postigo pello qual de
noite, e quando assim convem se entra, e sahe, e commumente as Rondas,
Centinelas, e correyos por se escusar abrir as Portas grandes que he mais
perigoso. O ditto postigo terá o seu vaõ 3. pés de alto, e 2 1/2 de largo.
Começará a hum pé de alto em huma das meyas portas grandes desde
o liminar, ou cousoeira, com que desta atè o alto do postigo seraõ 4. pès
e a pequena porta com que este vaõ se fecha será da mesma grossura, e
do mesmo modo chapeada, e fortalecida”. (“Methodo Lusitanico de De-
senhar as Fortificaçoens das Praças Regulares, & Irregulares…”, Luís
Serrão Pimentel, Lisboa, António Craesbeeck de Mello, 1680, pág. 159).
Estes postigos, também chamados “portas de homem”, têm um uso
importante, a que se associam outros pontos de comunicação, indis-
pensáveis à articulação funcional do recinto muralhado com as obras
avançadas: “Finalmente será necessario ver se a Praça tem as portas
falsas, de que necessita para as sortidas, e defensas das obras exte-
riores, e naõ as havendo na Praça, he preciso se lhe façaõ, porque se
não podem escusar: o lugar em que se fazem he mais próprio detraz do
orelhaõ, ou espalda do flanco, ou no extremo da cortina junto ao flan-
co, porque alli servem para descer aos flancos baixos, falsas bragas,
cofres, e outras defensas que se fazem no fosso; e eu acho que ficaõ
aqui melhor as portas falsas, do que no meyo das cortinas, como mui-
tos querem”. (“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville, con-
tenans la maniere de fortifier toute sorte de places tant regulierement,
qu’irregulierement…”, Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628, pág. 167).
A designação de postigo sofre alguma evolução desde a arquitectura
vertical das muralhas da Idade Média: enquanto nesta geralmente se
refere a uma porta de pequena dimensão, dando sequência funcional
para arruamento pouco importante na estrutura urbana, na arquitectura
militar moderna tem a acepção acabada de explicar.
Por seu turno, a porta falsa equivale quase sempre, no modelo da fortifi-
cação medieval, a um vão para a fuga, mais ou menos bem dissimulada,
no caso de se optar pelo abandono da defesa.
No dispositivo abaluartado, a designação de porta falsa tem uma apli-
cabilidade desadequada: embora seja inscrita no plano da escarpa de
modo discreto e protegido, a comunicação com o exterior valida o rela-
cionamento imprescindível entre o recinto principal e as obras avança-
das, possibilitando a articulação de movimentos de defesa e de ataque.
Além disso, devido à secção dos terraplenos, está-se mais em presença
de uma passagem construída com dois vãos (na face externa e na face
interna), muitas vezes associada a outros dispositivos de defesa ou de
infraestruturas da Praça-forte.
Por isso, a designação técnica que se atribui às incorrectamente chama-
das portas falsas, ou passagens resguardadas nos terraplenos das mura-
lhas, é a de poternas.
As poternas tinham servidão restrita do ponto de vista militar, dando
funcionalidade a procedimentos que só deveriam interessar ao aquarte-
5.8 HATCHES AND POSTERNS
Almeida still displays some sheets of oak wood in the closing doors
on the external portals of its Gates. On those gates, once the citadel is
closed, one would have to wait for the next day so the daily life could
be resumed.
Notwithstanding, the administration of the Fortress implied contacts
with the exterior. Then, “in one of the half-doors an hatch should be
done so that at night, and when it is suitable one can enter and exit,
commonly Patrols, Sentries and postmen, without having to open the
big Doors which is more dangerous. The mentioned hatch shall be 3
feet high and 2 1/2 wide. It will start at one feet high from the floor in
one of the big half doors, in other words, from the floor to the top of
the hatch it will have 4 feet and the little doors with which this span is
closed will be as thick and covered and strengthened”. (“Methodo Lusi-
tanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares, & Irregu-
lares…”, Luís Serrão Pimentel, Lisboa, António Craesbeeck de Mello,
1680, page 159).
These hatches, also called “man’s doors”, have an important function,
together with other points of communication, essential to the functional
connection of the fortification with the frontward works: “Finally, it is
necessary to verify if the Stronghold has false doors, which are needed
to defend the advanced works, and in their absence, it is necessary that
they are made, because they are essential: the best place to build them
is behind the orillion or in the edge of the curtain near the flank, because
they are useful in order to get to the low flanks, faussebrayes, cofrets,
and other defensive devices built in the ditch; and I think that these are
the best places to build false doors, and not the middle of the curtains,
like many think”. (“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville,
contenans la maniere de fortifier toute sorte de places tant reguliere-
ment, qu’irregulierement…”, Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628, page
167).
The designation of the hatch has had some evolution since the vertical
walls architecture of the Middle Age: this refers to a small door, giving
functional sequence to a minor street in the urban structure, and in mod-
ern military architecture it has the meaning mentioned before.
The false door is equivalent in most cases, in the model of mediaeval
fortification, to an escape span, more or less concealed, in case of need
to abandon the defence. In the bulwarked fortification, the designation
of false door has an inadequate applicability: although it is inserted in
the escarpment in a discrete and protected fashion, the communication
with the exterior validates the indispensable relationship between the
main precinct and the advanced works, making the articulation of de-
fence and attack movements possible.
Besides that, due to the ramparts section, we are in the presence of a
passage built with two doors (on the internal and external sides), fre-
quently associated to other defence devices or infrastructures of the
Stronghold. For that reason, the technical designation attributed to the
incorrectly called false doors or sheltered passages on the wall ram-
parts, is postern.
The posterns had a restricted servitude from the military point of view,
giving functionality to some procedures that should only concern the
quarters, once the Stronghold gates were closed. Their localization
262
lamento, uma vez encerradas as portas da Praça-forte. A sua localização
facilitava, por relações de proximidade, a comunicação rápida e prote-
gida entre o perímetro interior e os revelins avançados.
Em Almeida não se tem por certo o número de poternas que existiram,
subsistindo duas que ainda servem de passagem, e uma terceira que se
desconhece se alguma vez chegou a completar-se. Há, porém, notícia
de pelo menos uma mais, a qual estabeleceria a ligação entre o baluarte
do Trem e o Revelim do Paiol, mas da qual não se descortinam marcas
no local (vd. M. Margarida S. T. da Conceição, “Formação do Espaço
Urbano em Almeida (Séculos XVI – XVIII) – Da Vila Cercada à Praça
de Guerra”, dissertação de mestrado, U.N.Lisboa, F.C.S.H., 1997, nota
de rodapé, pág. 398: “…uma abertura escondida no Trem de Artilharia,
à qual se acede através de uma longa escada de ligação à galeria acasa-
matada respectiva”).
263
made the communication between the inner perimeter and the advanced
ravelins faster and safer, due to their proximity.
We don’t know the exact number of posterns that existed in Almeida,
but only two exist nowadays, which are still used as a passage, and a
third one that we don’t know if it ever has been finished. However there
is news of the existence of at least another one, which established the
connection between the bastion of Trem and the Ravelin of Paiol, but
there aren’t any signs on the site (vd. M. Margarida S. T. da Conceição,
“Formação do Espaço Urbano em Almeida (Séculos XVI – XVIII) –
Da Vila Cercada à Praça de Guerra”, masters dissertation, U.N.Lisboa,
F.C.S.H., 1997, footnote, page 398: “… a hidden opening at the bastion
of Nossa Senhora das Brotas, which can be reached through a long
staircase that connects it to the respective casemated gallery”).
5.8.1 A POTERNA DE SÃO JOÃO DE DEUS
A passagem que se situa a Poente / Norte do Baluarte de São João de
Deus é rectilínea e apresenta dois compartimentos rectangulares, tal
como a passagem abobadados com bons silhares de granito.
As portas de madeira ainda se encontram no local, esperando recupera-
ção, embora já não se encontrem funcionais.
A pedra de fecho da padieira do pórtico interior da passagem apresenta
gravada a data de 1797.
A recuperação da imagem da designada “Porta Nova”, acompanhada da
reabilitação dos espaços dos fossos na proximidade do Revelim Doble e
da reanimação esperada em torno do baluarte de São João de Deus, por
certo imporá a adopção de uma atitude de recuperação da passagem,
sendo esta uma as mais usadas consuetudinariamente, e a que maior
carga urbana de uso funcional continua a possuir.
5.8.1 POSTERN OF SÃO JOÃO DE DEUS
The passage located West / North of the Bastion of São João de Deus
is rectilinear and displays two rectangular compartments, as well as a
vaulted passage made with good granite ashlars.
The wooden doors are still there, waiting for recuperation, although
they are not functional.
The lintel stone of the internal elevation of the passage has engraved
the date of 1797.
The recuperation of the “New Gate’s” image, along with the rehabilita-
tion of the spaces of the ditch near the Ravelin Doble and the expected
reanimation around the bastion of São João de Deus, will certainly im-
pose the adoption of a recovery attitude towards the postern, since this
is one of the most commonly used, and the one with the biggest urban
load of service.
POTERNAS DA HORTA DO GOVERNADOR E DE SÃO PEDRO
POSTERNS OF HORTA DO GOVERNADOR AND SÃO PEDRO

Praça-forte de Almeida – Localização

Fortress of Almeida – Localization

LEVANTAMENTO
ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY
XLVIII
Planta geral da poterna da Horta do Governador,
ligando a gola do baluarte de São Francisco ao
ângulo do flanco deste com a cortina que liga ao
baluarte de São João de Deus
General plan of the postern of Horta do Governador,
connecting the collar of the bulwark of São Francisco
near to the angle of the flank of that one with the
curtain going until São João de Deus bastion

XLIX
Planta geral da poterna de São Pedro, ligando o
ângulo interno do baluarte a um ponto inconclusivo
na plataforma ao nível da escarpa do fosso
General plan of the postern of São Pedro, connecting the
internal angle of the bastion to a non conclusive point in
the level of the platform of the ditch escarpment

264
 5.8.2 A POTERNA DA HORTA DO GOVERNADOR
Ainda hoje continua a verificar-se o uso, como campo hortícola, do fosso
pegado à cortina entre os baluartes de São João de Deus e de São Fran-
cisco. Naturalmente, a natureza do solo e o abrigo das agressividades cli-
matéricas de que o espaço usufrui devido às muralhas, aliado à existência
de nascente de água, sempre foi motivo para o aproveitamento do espaço
com fins agrícolas, a ponto de a passagem praticada nesta zona das mura-
lhas continuar a ser denominada de Poterna da Horta do Governador.
A comunicação desenha uma curva muito bem lançada, abobadada, en-
cerrável por portas de duas folhas em ambos os topos, embora actual-
mente não estejam em condições de uso.
Do lado interno existe uma solução de interligação entre duas partes
do jardim infantil que existe no local que desvaloriza o vão da poterna.
A partir do nível do terrapleno da muralha, uma escada conduz a um
compartimento que aproveita da parede do túnel da poterna, embora
não haja indícios de interligação entre a passagem e este acesso à mu-
ralha. A sala rectangular, com uma janela construída como seteira ou
simplesmente para ventilação, poderá ter sido destinada ao aprovisiona-
mento de pólvora e para descanso da guarnição encarregada da defesa
desta parte da fortificação.
266 267
5.8.2 POSTERN OF HORTA DO GOVERNADOR
The ditch located near the curtain between the bastions of São João de
Deus and São Francisco is still used as a farming field. Naturally, the
soil quality and the protection against the weather changes offered by
the walls, along with the existence of a water spring, as always been a
reason for the utilization of this space for agricultural purposes, and this
is why the passage located in this sector of the wall is still called Pos-
tern of Horta do Governador (in Portuguese horta do governador means
kitchen garden of the governor).
The passage has a well designed vaulted curvature, closed with two sheet-
ed doors on both extremities, although they can’t be used nowadays.
There is an interlocking solution, from the internal side, between the
two sections of the playground placed on the spot that undervalues the
postern span.
There is a stairway starting at the wall rampart descending to a compart-
ment that is also a part of the postern tunnel wall, although there are no
signs of connection between the passage and the mentioned stairs. The
rectangular room, which has a window built as an embrasure or simply
for ventilation, may have been used as a gunpowder storage room and a
rest room for the garrison that defended this section of the fortification.
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY
L réis em 15/4/1813), tendo depois o Marechal Beresford ordenado a
Corte Longitudinal YY da Poterna
Longitudinal Section YY of the Postern
LI
Planta da Poterna da Horta do Governador
Plan of the Postern of Horta do Governador
LII
Alçado interno
Internal elevation
5.8.3 A POTERNA DE SÃO PEDRO
Após o grande desastre de Agosto de 1810 e subsequentes tempos de
ocupação francesa, os trabalhos de reconstrução empreendidos come-
çaram em diversas frentes, porém com um ritmo muito lento, povoado
de dúvidas sobre o próprio mérito da continuidade da Praça-forte no
esquema de defesa da fronteira nacional.
Mas a poterna de São Pedro é um dispositivo que nunca terá chegado a
ser completado. Não obstante, segundo documentos do Arquivo Histó-
rico Militar, invocados por José Vilhena de Carvalho (op. cit., pág. 16),
dado que a poterna do baluarte de S. Pedro ficara intransitável com os
acontecimentos da invasão napoleónica, foi a mesma objecto de obras
de recuperação de um pedaço de abóbada (orçamentada em 184$000
continuação da passagem da poterna até se encontrar com a saída do
sistema de drenagem de águas da Praça, no fosso (Ofício de 6/9/1813).
O belo desenho com o projecto para a construção das latrinas, datado de
1766, de autoria de Miguel Luís Jacob, contextualiza muito claramen-
te a infraestruturação urbanística pretendida. E, embora desconheça se
a bateria de sanitários teve efectiva consecução, na realidade existem
duas saídas (que ainda realizam a descarga de águas pluviais das ruas
desta zona da cidadela) junto do canto interno da escarpa do recinto
muralhado do baluarte de São Pedro.
Uma daquelas saídas corresponde à condução das águas que faria, apro-
ximadamente, o trajecto livre do encaminhamento das águas pela pen-
dente natural junto ao lado Poente/Sul do Quartel das Esquadras, tal
como é parcialmente feito, hoje-em-dia, pelo pavimento do túnel da
passagem. A outra, do outro lado do ângulo da escarpa, poderia corres-
ponder ao ponto idealizado para a drenagem dos efluentes das latrinas.
A ordem de Beresford parece não ter sido consumada. Ainda hoje de-
paramos com a inóspita situação de um lanternim aberto na abóbada
de berço da passagem e da súbita paragem da fábrica do túnel, de boa
alvenaria de granito aparelhado. Um declive acentuado assinala uma
saída improvisada para o plano intermédio do baluarte, sensivelmente à
cota da parede do fosso, parecendo a boca de uma toca.
O desenho com o perfil do levantamento que aqui se apresenta explica
como seria eventualmente fácil ter completado a Poterna de São Pedro,
ela também complementada com instalação de um compartimento de
apoio no nível superior, incrustrado no terrapleno, abobadado e de boa
condição construtiva (incluindo cobertura de pedra e drenagem superfi-
cial com gárgulas para escoamento de águas).
LIII
Corte Transversal ZZ
Transversal Section ZZ
268 269
5.8.3 POSTERN OF SÃO PEDRO
After the disaster of August 1810 and the following French occupa-
tion period, the reconstruction works started in several places, but at a
very slow pace, because there were many doubts about the advantage
of keeping the Stronghold of Almeida in the national border defence
plan.
But the postern of São Pedro is a device that perhaps has never been
finished. Notwithstanding, according some documents of the Military
Historical Archive, mentioned by José Vilhena de Carvalho (op. cit.,
page 16), since the postern of the bastion of São Pedro had been made
impassable by the incidents of the Napoleonic invasion, it has been the
subject of recuperation works of a section of its vault (with an estimate
of 184$000 réis in 15/4/1813). After that, Marshal Beresford ordered
the expansion of the postern passage up to the intersection with the exit
of the water drainage system, in the ditch.
The beautiful sketch for the latrine building project, in 1766, by Miguel
Luís Jacob, clearly frames the intended urban infrastructure. And, al-
though it is not known if the sanitary set has been executed, there are
two exits (which are still used to unload the pluvial water from the
streets of this section of the citadel) near the inner corner of the wall’s
escarpment of the bastion of São Pedro.
One of those exits matches the water direction that would have been
made by the water trajectory through the natural falls near the West/
South side of the Squadron Quarters, like it is partially made today by
the passage tunnel pavement. The other exit, on the other side of the
escarpment corner, could have been the spot designed for the drainage
of the latrine sewage.
Beresford’s order does not seem to have been executed. At the present
time there is still the strange skylight opened in the barrel vault of the
passage as well as the sudden ending of the tunnel structure, made with
good masonry of prepared granite. A pronounced slope marks an im-
provised exit towards the middle level of the bastion, roughly at the
height of the ditch wall, looking like the exit of a burrow.
The drawings, including the survey profile presented here, explain how
it would have been easy to finish the Postern of São Pedro. Like the
other posterns, this one also has a complementary room on the upper
level, built in the rampart, vaulted and with good construction condi-
tions (including stone covering and superficial drainage with gargoyles
for water drainage).
 LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO
ARCHITECTURAL SURVEY

LIV
Corte Longitudinal ZaZa da Poterna
Longitudinal Section ZaZa of the Postern

LV
“Latrinas” / “Latrines” Planta da Poterna de São Pedro
Miguel Luís Jacob, 1766. Plan of the Postern of São Pedro

271
6 – DOS TRATADOS E SOBRE OS TRATADISTAS
Jerónimo Velho de Azevedo, Sargento-mor que orientou os trabalhos
de fortificação de Almeida a partir de 1680, em substituição de Diogo
Truel de Cohn, inaugura uma presença mais constante de técnicos por-
tugueses à frente das grandes obras.
Em 1641, com Lassart, Gilles de Saint-Paul ou Pierre Garsin, fora a
primazia da sistematização teórica de Antoine de Ville que imperara
na sábia adaptação do sítio à geometria que importava respeitar numa
concepção revolucionária de um recinto muralhado.
No último quartel do século XVII, a importância do que já fora feito, na
base das ideias e conhecimentos maioritariamente carreados pelos fran-
ceses (a quem D. João IV se dirigira no esforço da reconquista da Inde-
pendência Nacional), e o desenvolvimento que a Tratadística da constru-
ção militar conhecera, criaram um escol de técnicos portugueses apto a
ombrear, em conhecimentos e capacidade de execução, com os princípios
mais exigentes da arte da construção, sem prejuízo de também continuar
a ser um ponto de atracção para nomes estrangeiros que nela se viram
envolvidos, desde os franceses e ingleses ao sueco Jacques Funck.
Almeida assistiu, precisamente por intermédio de Jerónimo de Azeve-
do, à criação de uma “Aula de Fortificação”, autorizada a funcionar
pelo rei – o que traduz a singularidade das teorias, dos métodos e das
práticas usadas no importante estaleiro de Riba-Côa. Para termos uma
noção da sua escala basta referir que o perímetro exterior das muralhas
ronda os 3000 metros, possuindo um sistema completo de fossos cuja
largura varia entre os 10 e os 62 metros, ocupando uma superfície que
ultrapassa os 65 hectares.
A expressão da dimensão da fortificação, associada ao quadro inovador
da resolução teórico-prática de um geometria altamente exigente, leva
a que Almeida seja considerada a “(…) praça com mais forte originali-
dade no quadro da arquitectura seiscentista portuguesa (…)”, tal como
refere Rafael Moreira no ensaio já acima citado (História da Arte em
Portugal, Vol. 8, 1986, pág. 82).
Quando se inicia o magistério da fortificação em Almeida sai em Lisboa
a edição de um monumental tratado, composto por Luís Serrão Pimen-
tel, cuja importância foi determinante.
E a atenção dada à formação de pessoal técnico qualificado foi sen-
do sucessivamente renovada: em Dezembro de 1732, D. João V criou
em Viana [do Castelo], Elvas e Almeida, Academias Militares para se
prepararem Engenheiros (…): …e os discípulos q. nas Academias se
aplicarem p. seguir a profissão de Engenheiros não subirão aos postos
sem serem examinados, e o serão para todos os postos, de Tenente-
Coronel para cima, se supõe não necessitarem já de exame, o qual se
fará pelo Enhgenheiro-Mor do Reino e mais examinadores na presença
dos Ministros do Conselho de Guerra e Junta dos Três Estados, a que
se ajuntarão outras pessoas militares, nas ocasiões em que Cª. Exª. for
servido nomeallos (…) Rei - 1818 (cf. J. Vilhena de Carvalho, op. cit.,
pág. 38 e segs.).
Para além de Pimentel, e de uma já apreciável quantidade de autores
do século XVII, muitos outros correram mãos, nas dezenas e dezenas
de edições que continuaram a sair por todo o século de Setecentos: ho-
landeses, espanhóis, franceses, alemães, ingleses, italianos, arquitectos
e filósofos, matemáticos e engenheiros, militares e paisanos, jesuítas e
protestantes, nas línguas nacionais e em traduções – como o de Johann
Pfeffinger, publicado por ordem real em 1713 em Lisboa, com tradução
6 – ABOUT THE TREATISES AND THEIR AUTHORS
Jerónimo Velho de Azevedo, First Seargeant who led the works of the
Almeida fortification since 1680, replacing Diogo Truel de Cohn, sets
off a bigger presence of Portuguese engineers leading big works.
In 1641, with Lassart, Gilles de Saint-Paul or Pierre Garsin, the theory
of Antoine de Ville had ruled the wise adaptation of the location to the
geometry that should be respected in the ground-breaking conception
of a walled precinct.
In the last quarter of the 17th century, the relevance of what had been
already made as a base of the ideas and knowledge mainly led by the
French (whom D. João IV had approached in the effort for the resto-
ration of National Independence), and the development that the mili-
tary construction Treatise had suffered, created an elite of portuguese
technicians who were capable of matching , concerning knowledge and
execution capacity, with the most demanding principles of the construc-
tion art, without prejudice of continuing to be an attraction point for
foreign names that were involved in it, from the French and English to
the Swedish Jacques Funck.
Almeida witnessed at that date, precisely through Jerónimo de Azevedo,
the creation of a “Class of Fortification”, authorized by the king – which
translates the singularity of the theories, methods and practices used in
the important Riba-Côa building yard. In order to have an idea of its
scale, we only need to mention that the exterior perimeter of the walls has
approximately 3000 meters, having a complete system of ditches with a
width between 10 and 62 meters, taking up more than 65 hectares.
The dimension attained by the fortification, associated to the innovative
theoretical and practical solution of a highly demanding geometry, gets
Almeida to be considered the “(…) fortress with the strongest original-
ity of the 17th century architecture (…)”, like Rafael Moreira says on
the above-mentioned essay (História da Arte em Portugal, Vol. 8, 1986,
page 82).
When that class started in Almeida, a monumental treatise of crucial
importance was edited in Lisbon, composed by Luís Serrão Pimentel.
The attention given to qualified technical staff formation has been
successively renewed: in December 1732, D. João V created Military
Academies at Viana [do Castelo], Elvas and Almeida, in order to train
Engineers (…): …and the disciples who enrol in the Academies in or-
der to become Engineers will not get to their ranks without being exam-
ined, and this will be done for all ranks although for Lieutenant-Colonel
and higher ranks it is not supposed to be necessary, which will be made
by the senior Engineer of the kingdom and the other examiners in the
presence of the War Council and Council of the Three States, whom
other military people will join, when it is necessary to appoint them
(…) King- 1818 (cf. J. Vilhena de Carvalho, op. cit., pages 38 and fol-
lowing). Besides Pimentel and a remarkable number of authors of the
17th century, others have read the dozens of editions that continued to
be printed throughout the 17th century: Dutch, Spanish, French, Ger-
man, English, Italian, architects and philosophers, mathematicians and
engineers, military and civilian, Jesuits and protestants, in national lan-
guages and translations – like the one of Johann Pfeffinger, published
by royal order in 1713 in Lisbon, translatedby Manuel da Maia with the
title “Fortificaçam Moderna ou Recompilaçam de differentes Methodos
de Fortificar, de que Usão na Europa os Espaholes, Francezes, Italianos
& Hollandezes”, a very interesting and extensive treatise that collected
272
de Manuel da Maia, sob o título de “Fortificaçam Moderna ou Recom-
pilaçam de differentes Methodos de Fortificar, de que Usão na Euro-
pa os Espaholes, Francezes, Italianos & Hollandezes”, interessante e
expandido tratado que reunia informação prática e explicação teórica
acerca da produção veiculada pelos grandes nomes da tratadística de
Seiscentos, desde Pagan e de Ville a Blondel e Marolois, até Vauban.
No apogeu da produção portuguesa chega, em 1728 / 29, a publicação de
“O Engenheiro Portuguez”, de autoria de Manuel de Azevedo Fortes.
6.1 ANTOINE DE VILLE
Antoine de Ville nasceu em Toulouse em 1596, tendo morrido em 1674.
Em 1626 recebeu o título de “Chevalier” da Ordem de S. Maurício
e S. Lázaro. Com Errard de Bar-le-Duc (1554–1610) e Blaise Pagan
(1604–1665) forma a primeira grande escola francesa, e mesmo euro-
peia, de arquitectura militar moderna, depois das inovações ensaiadas
pelos italianos de Quinhentos.
Por seu turno, a obra destes autores é o fundamento da acção excepcio-
nal de Sebastien Preste le Vauban (1633–1707), com uma excepcional
projecção que vai fazer perdurar o método abaluartado pelos séculos
XVIII e XIX.
O tratado de Antoine de Ville é um dos primeiros a pôr a tónica de
uma pragmática da fortificação abaluartada, como sistema unitário e
complexo.
A edição contém 55 quadros com gravuras de grande apuro, realizadas
pelo próprio de Ville, ele mesmo desenhador e gravador de talento, cuja
arte inscreveu sabiamente ao lado das questões técnicas – e assim pro-
jectando-a para uma difusão que atraía mais interessados que o restrito
público especializado.
As preocupações maiores de Antoine de Ville vão, no seu tratado, para
a construção das muralhas, salientando a importância da qualidade do
solo para a implantação da fortificação e para a modelação dos terraple-
nos. Recomenda já o uso do revestimento dos reparos com pavimenta-
ção, em virtude dos efeitos do impacto das balas de canhão.
Porém, temas como a construção de abóbadas, cisternas, ou da edificação
das portas de acesso não aparecem desenvolvidos no seu livro. É, por
isso, ainda mais interessante a circunstância de a Praça-forte de Almeida
ostentar a concetização de um desenho isolado (de puro efeito estético)
de Antoine de Ville, que ornamentava a portada de uma das produções
teóricas mais significativas da arquitectura militar de Seiscentos.
Para o devido registo, ficam as referências da edição original do Tratado
que estará na base da configuração basilar da Praça-forte de Almeida:
“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville, contenans la ma-
niere de fortifier toute sorte de places tant regulierement, qu’irregu-
lierement… Avec l’ataque, et les mooyens de prendre les places par
l’intelligence, sedition, surprise, stratageme, escalade : les effescts de
diverses sortes de petards, pour faire sauter les portes… Plus la de-
fense, & l’instruction generale pour s’empescher des surprises… Le
tout represente en cinquante-cinq planches, avec leurs plantes, pros-
pectives, & paisages. Le discours est preuvé par demonstrations, expe-
riences, raisons communes, & physiques, avec les reports des histoires
anciennes, & modernes. Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628.”
273
practical information and theoretical explanation about the production
spread by the great authors of treatises of the 16th century, since Pagan
and Ville to Blondel and Marolois and to Vauban.
At the peak of the Portuguese production it is published, in 1728/29, “O
Engenheiro Portuguez”, by Manuel de Azevedo Fortes.
6.1 ANTOINE DE VILLE
Antoine de Ville was born in Toulouse in 1596 and died in 1674. In 1626
he received the title of “Chevalier” of the Order of S. Maurício and S.
Lázaro. Along with Errard de Bar-le-Duc (1554-1610) and Blaise Pa-
gan (1604-1665) he constitutes the first French great school, and even
European, of modern military architecture, after the innovations done
by the Italians in the 16th century.
The work of these authors is the basis of the exceptional action of Se-
bastien Preste le Vauban (1633-1707), with an extraordinary projection
that will make the fortification method last throughout the 18th and 19th
centuries.
The treatise of Antoine de Ville is one of the first to emphasize the for-
tification pragmatics, as a unitary and complex system.
That edition has 55 illustrations with great refinement, made by de Ville
himself, being a talented draughtsman and engraver, whose art he wise-
ly inserted alongside the technical matters – propelling it so that it can
attract more interested people than the restricted specialized public.
The major preoccupations of Antoine de Ville are, in his treatise, the
construction of the walls, highlighting the importance of soil quality to-
wards the implantation of the fortification, and the shaping of the ram-
parts. He recommends the use of covering of the ramparts with pave-
ment, due to the effects of the impact of cannon balls.
However, themes like vault construction, cisterns, or the construction
of access gates are not discussed on his book. For that reason, it is even
more interesting the fact that the Almeida Fortress displays a concreti-
zation of an isolated drawing by de Ville (originally with an aesthetic
purpose), which decorates the gateway of one of the most significant
theoretical productions of the military architecture of the 16th century.
For the record, the text of the original edition of the Treatise which is
the basis for the configuration of the Almeida Stronghold is transcribed
below:
“Les Fortifications du Chevalier Antoine de Ville, contenans la ma-
niere de fortifier toute sorte de places tant regulierement, qu’irregu-
lierement… Avec l’ataque, et les mooyens de prendre les places par
l’intelligence, sedition, surprise, stratageme, escalade : les effescts de
diverses sortes de petards, pour faire sauter les portes… Plus la defense,
& l’instruction generale pour s’empescher des surprises… Le tout re-
presente en cinquante-cinq planches, avec leurs plantes, prospectives,
& paisages. Le discours est preuvé par demonstrations, experiences,
raisons communes, & physiques, avec les reports des histoires ancien-
nes, & modernes. Lyon, Chez Irenee Barlet, 1628.”
His authorship traces for the bulwarked fortification of Pula (drawn for
the Republic of Venice and nowadays belonging to Croatia), is a well
conserved example of an experience achieved in the Adriatic by the
French Engineer.
O traço de sua autoria para a fortificação abaluartada de Pula (desenhada
para a República de Veneza e hoje integrada na Croácia), é um exemplo
bem conservado de uma experiência adriática do Engenheiro francês.
A sua obra escrita influenciou, por certo, o futuro marquês de Vauban, o
grande engenheiro de Luís XIV de França, nomeadamente o tratado “Les
Fortifications”, publicado em 1628, uma meia dúzia de anos antes do
nascimento de Sébastian le Preste. Também o “De la Charge des Gouver-
neurs des Places” (1640) terá tido grande importância, visto ter sido um
best-seller com a última reedição prática em 1856, e tendo sido mantido
em aplicação no Exército Francês até ao Segundo Império.
De Ville foi o primeiro autor francês a defender o projecto das contra-
minas na concepção construtiva dos baluartes.
“O Governador de Praças por Antoine de Ville
Tolozano, traduzido na língoa Portugueza por
ordem de Sua Magestade”, Lisboa, na Oficina de
António Pedroso Galram, 1708. Tradução
de Manuel da Maia ou, mais provavelmente,
de Manoel de Azevedo Fortes.
“O Governador de Praças por Antoine de Ville
Tolozano, traduzido na língoa Portugueza por
ordem de Sua Magestade”, Lisbon, Oficina of
António Pedroso Galram, 1708. Translation by
Manuel da Maia or, more probably,
by Manoel de Azevedo Fortes.
His written work surely influenced the future Marquis de Vauban, the
great engineer of Louis XIV of France, namely the treaty “Les Fortifica-
tions”, published in 1628, some half a dozen years before the birthday
of Sébastien le Preste. Also his book “De la Charge des Gouverneurs
des Places” (1640) would have great importance, as it was a best-seller
(last practical reprint in 1856), which application still was maintained
under the Second Empire.
De Ville was the first French author postulating the prevision of coun-
termines in the constructive conception of the bulwarks.
LES // FORTIFICATIONS // DV CHEVALIER // ANTOINE
DE VILLE // THOLOSAIN. // AVEC // L’Ataque & la Defense // des Places. // A LYON // Chez Philippe
Bercé. // Au Temps // 1641. (reprodução de uma reedição, 13 anos após a data da edição original)
LES // FORTIFICATIONS // DV CHEVALIER // ANTOINE
DE VILLE // THOLOSAIN. // AVEC // L’Ataque & la Defense // des Places. // A LYON // Chez
Philippe Bercé. // Au Temps // 1641. (reproduction of a re-edition, 13 years after the original edition)
274

6.2 – LUÍS SERRÃO PIMENTEL
Em Portugal, o primeiro grande tratadista da arquitectura abaluartada
foi Luís Serrão Pimentel, de quem se publicou, em 1680, o monumental
“Methodo Lvsitanico de desenhar as fortificaçoens das praças regula-
res, e irregulares, fortes de campanha, e outras obras pertencentes a
architectura militar distribuido em duas partes operativa, e qualifica-
tiva”, em grande parte constituindo um criterioso repositório do que de
melhor se produzira na Europa nas anteriores décadas.
Nascido em Lisboa em 1613, faleceu no ano anterior ao da edição da
sua obra. Serrão Pimentel conseguira de D. João IV, em 1641, a criação
da “Aula de Fortificação e Arquitectura Naval”, na Ribeira das Naus,
mais tarde transferida para o Terreiro do Paço (13 de Julho de 1647)
com a designação de Academia Militar, da qual foi o primeiro Lente.
A sua acção foi muito relevante no contexto das batalhas da Restaura-
ção, quer na acção militar, quer na condução de trabalhos de fortifica-
ção, tendo desempenhado as funções de Cosmógrafo-mor (desde 1641)
e de Engenheiro-mor do Reino (a partir de 15 de Julho de 1673) e de
Tenente-General de Artilharia. Dirigiu os trabalhos do cerco de Bada-
joz, participando na retomada de Évora e na batalha de Ameixial.
Teve intervenção nos projectos de concepção ou de adaptação de varia-
das fortificações, tais como Montemor-o-Novo, Alcácer do Sal, Évora,
Setúbal, Sesimbra, Estremoz, etc., e melhorou outras (Vila Viçosa, Te-
rena, Monsaraz, Mourão, Elvas, Campo Maior, Avis, Crato, Portalegre,
Alegrete, Marvão, Castelo de Vide e Nisa).
Pese embora a enunciada pretensão de nos dar um repositório de uma
arte própria de edificação nacional, muito bem está quando nos dá uma
revisão comentada – e por vezes adaptada às condições portuguesas –
do que de mais relevante e provado se fez ao nível teórico-prático na
Europa de então. Sem recuar excessivamente ao saber dos clássicos,
invoca sobretudo os mais próximos e contemporâneos, revelando uma
segurança exemplar na invocação dos diversos autores, sempre cuidan-
do de uma exigente anotação à margem com a citação da fonte.
A panóplia de autores que domina impressiona. Dos nomes que afloram,
desde Tito Lívio ao romano tardo-antigo Flávio Vegecio Renato, que publi-
cou o seu De Re Militari na segunda metade do século IV e, como Vitrúvio,
se tornou popular nos começos do Renascimento, podemos citar, depois do
incontornável Serlio (1537), ainda alguns nomes com obras publicadas nos
finais do século XVI (Buonaiuto Lorini, 1597; Cristóbal de Rojas, 1598;
Diogo González de Medina Barba, 1596-1600) e, entrando por Seiscentos
até ao que de mais actual existia nos dias do autor, destacam-se: Wilhelm
Schaffer Dilich, Kriegssbuck, 1608; Vincenzo Scamozzi, L’Idea della Ar-
chittetura Universale, 1615; Antoine de Ville, Les Fortifications, 1628;
Adam Freitag, L’Architecture Militaire ou La Fortification Nouvelle, 1631;
Nicolaus Goldmann, Elementorum Architecturae Militaris, 1643; Matthias
Dogen, Architecture Militaris Moderna, 1647; George Fournier, Architec-
ture Militaire ou Fortification Moderne, 1649, etc..
6.3 – MANUEL DE AZEVEDO FORTES
Manuel de Azevedo Fortes nasceu em Lisboa em 1660, tendo falecido
em 1749. Estrangeirado, foi educado desde os dez anos de idade no
6.2 – LUÍS SERRÃO PIMENTEL
Luís Serrão Pimentel is the first great treatise author of the fortifica-
tion architecture in Portugal, who published in 1680, the monumental
“Methodo Lvsitanico de desenhar as fortificaçoens das praças regulares,
e irregulares, fortes de campanha, e outras obras pertencentes a archi-
tectura militar distribuido em duas partes operativa, e qualificativa”,
constituting a careful selection of the best of what had been written in
Europe in the previous decades.
Born in Lisbon in 1613, he died a year before his book was published.
Serrão Pimentel had obtained from D. João IV, in 1641, the creation of
“Class of Fortification and Naval Architecture”, at Ribeira das Naus,
later on transferred to Terreiro do Paço (13th July 1647) with the desig-
nation of Military Academy, where he was the first Don.
His actions were very relevant in the context of the battles of Restora-
tion, both in military action and in the performance of his duties as First
Cosmographer (since 1641) and First Engineer of the Kingdom (since
15th July 1673) and Lieutenant-General of Artillery. He directed the
works at the siege of Badajoz, participating in the recapture of Évora
and in the Ameixial battle. He intervened in the conception or adaptation
plans of several fortifications, such as the ones at Montemor-o-Novo,
Alcácer do Sal, Évora, Setúbal, Sesimbra, Estremoz, etc., and improved
others (Vila Viçosa, Terena, Monsaraz, Mourão, Elvas, Campo Maior,
Avis, Crato, Portalegre, Alegrete, Marvão, Castelo de Vide e Nisa).
Although he wanted to give us a compilation of an art of national con-
struction, he did well when he gives us an annotated revision – some-
times adapted to the portuguese conditions – of the most relevant and
proven things that had been made in Europe from a theoretical and
practical scope. Without going all the way back to the knowledge of the
classics, he summons the closest and contemporary authors, revealing
an exemplary safety in that process, always making excellent annota-
tions on the margin along with the citation of the source.
The set of authors he knows is impressive. The names e mentions
comprise, from Tito Lívio to the late roman Flávio Vegecio Renato,
who published De Re Militari in the second half of the 4th century
and, like Vitrúvio, only became popular in the beginning of the Ren-
aissance, we can mention, after the inevitable Serlio (1537), some au-
thors who published their books in the late years of the 16th century
(Buonaiuto Lorini, 1597; Cristóbal de Rojas, 1598; Diogo González
de Medina Barba, 1596-1600) and from the 16th century up to the time
of Serrão Pimentel, some names stand out: Wilhelm Schaffer Dilich,
Kriegssbuck, 1608; Vincenzo Scamozzi, L’Idea della Archittetura Uni-
versale, 1615; Antoine de Ville, Les Fortifications, 1628; Adam Freitag,
L’Architecture Militaire ou La Fortification Nouvelle, 1631; Nicolaus
Goldmann, Elementorum Architecturae Militaris, 1643; Matthias Dog-
en, Architecture Militaris Moderna, 1647; George Fournier, Architec-
ture Militaire ou Fortification Moderne, 1649, etc..
6.3 – MANUEL DE AZEVEDO FORTES
Manuel de Azevedo Fortes was born in Lisbon in 1660 and died in
1749. As an Enlightenment man , he studied at the Colégio Imperial de
276
METHODO // LVSITANICO // DE // DESENHAR
AS FORTIFICAÇOENS DAS // Praças
Regulares, e Irregulares, // FORTES
DE CAMPANHA, E OUTRAS OBRAS //
PERTENCENTES // A // ARCHITECTURA
MILITAR // DISTRIBUIDO EM DUAS PARTES
// OPERATIVA, E QUALIFICATIVA. // AO //
MVITO ALTO, E PODEROSO // PRINCIPE
// DOM PEDRO // NOSSO SENHOR // POR
LVIS SERRAÕ PIMENTEL // ENGENHEIRO
MOR, E COSMOGRAFO MOR DO REYNO, E
SENHORIO DE // Portugal, Tenente General da
Artilheria em qualquer das Provincias do Reyno.
// EM LISBOA. // Com as licenças necessarias.
// Na Impressaõ de Antonio Craesbeeck de Mello
Impressor de S. Alteza. // Anno 1680.
The method «Lusitanico» to draw fortifications
of the regular and irregular strongholds, forts and
other kind of works belonging to the military
architecture, divided in to parts, operative and
qualitative, dedicated to the Highness and
Powerfull Prince Dom Pedro Our Lord by Luís
Serrão Pimentel, Chief-Engineer and Chief-
Cosmographer of the Kingdom and Possessions
of Portugal, Lieutenant General of Artillery in
anyone of the Provices of the Kigdom. In Lisbon.
With all the necessary licenses. In the typography
of Antonio Craesbeeck de Mello printer of His
Highness. Year 1680.
O ENGENHEIRO // PORTUGUEZ : // DIVIDIDO
EM DOUS // Tratados. // TOMO PRIMEYRO,
// QUE COMPREHENDE A GEOMETRIA
PRATICA // sobre o papel, e sobre o terreno:
o uso dos instrumentos // mais necessarios aos
Engenheiros:
o modo de desenhar, // e dar aguadas nas plantas
Militares; e no Apendi- // ce a Trigonometria
rectilínea. // OBRA MODERNA, E DE GRANDE
UTILIDADE // para os Engenheiros, e mais
officiaes Militares, // Composta // Por MANOEL
DE AZEVEDO // FORTES, // ACADEMICO Colégio Imperial de Madrid, e depois na Universidade de Alcalá de Madrid from the age of 10 on, and then at the University of Alcalá de
DA ACADEMIA REAL DA HISTORIA //
Portugueza, Cavalleiro professo na Ordem
Henares e no Collège de Plessis, em França. Henares and at the Collège de Plessis, in France.
de Christo, Bri- // gadeiro de Infanteria dos Mais tarde ocupou uma cátedra de Filosofia na Universidade de Siena, Later on, he occupied a Philosophy cathedra at the University of Siena,
Exercitos de Sua Magestade, e // Engenheiro mór em Itália. in Italy.
destes Reynos, &c. // // LISBOA OCCIDENTAL
: // Na Officina de MANOEL FERNANDES DA Em 1719 é nomeado Engenheiro-mor do Reino, publicando em 1728 / In 1719 he was nominated First Engineer of the Kingdom and in 1728/29
COSTA; // Impressor do Santo Officio // M.DCC. 29 o seu largo tratado, em dois tomos “O Engenheiro Portuguez”. he published his vast treatise in two tomes, “O Engenheiro Portuguez”.
XXVIII //Com todas as licenças necessarias.
Em 1734 reconstrói Campo Maior e em 1735 intervém em Estremoz, In 1734 he reconstructs Campo Maior an in 1735 intervenes at Estrem-
The Portuguese Engineer, divided in two Olivença, Elvas e Campo Maior, sobretudo na concretização dos paióis oz, Olivença, Elvas and Campo Maior, mostly executing the magazines
Treatises.
Tome First, which comprehends the practical
destas Praças da raia alentejana. of these Strongholds of the border of Alentejo.
Geometry about the paper and the terrain, the É de sua “determinação”o traçado primeiro e completo que em 1736 In 1736 he’s the author of the first and complete plan that gives us the
use of the instruments more necessary to the nos dá a configuração setecentista da “Planta da Praça de Almeida, 17th century configuration of the “Draft of Almeida Stronghold, with its
Engineers, the way of drawing and colouring the
military plans, and in the Appendix the rectilinear com as obras interiores e exteriores addicionadas e determinadas pelo Interior and Exterior works added and determined by the First Engi-
Trigonometry for Engineers and other military Engenheiro-mor do Reino Manuel de Azevedo Fortes, riscada pelo Ca- neer of the Kingdom, Manuel de Azevedo Fortes, made by Captain José
Officers.
Composed by Manoel de Azevedo Fortes.
ppitam José Fernandez Pinto de Alpoym”. Fernandez Pinto de Alpoym”.
Academic of the Portuguese Royal Academy of
History, professed knight of the Christ Order,
Brigadier of Infantry of His Majesty’s Armies,
and Chief-Engineer of these Kingdoms, etc..
Western Lisbon, in the typography of Manoel
Fernandes da Costa, printer of the Santo Ofício.
MDCCXXVIII. With all the necessary licenses.
277
 7 – PLANO DE GESTÃO
DA FORTALEZA DE ALMEIDA
Rui Ramos Loza
7.1 – Modelo de Gestão
7.2 – Contributos para a Caracterização da Vila Intramuros
(Com ilustração cartográfica)
7.2.1 – Documentação exemplificativa da análise e sistematização da informação
produzida na cidadela de Almeida
7.3 – Linhas de Estratégia
Eixo 1 – População, Recursos Humanos e Empreendedorismo
Medida 1.1 – Travar o envelhecimento e a desertificação
Medida 1.2 – Assegurar o acesso de toda a população à Escolaridade
Obrigatória
Medida 1.3 – Proporcionar à população o acesso a Formação Profissional
Medida 1.4 – Promover o desenvolvimento habitacional no CH, melhorando
as condições de habitabilidade
Medida 1.5 – Incentivos à fixação da população jovem no Centro Histórico
Medida 1.6 – Criação de infra-estruturas e equipamentos sociais
Medida 1.7 – Desenvolvimento de actividades culturais que permitam uma
evolução positiva e contínua de inter-relacionamento social
Medida 1.8 – Criação de espaços e ocupações de tempos-livres para os jovens
Medida 1.9 – Estabelecimento de parcerias e cooperações com vista a diagnosticar
e identificar as respectivas soluções para os problemas das populações
Medida 1.10 – Incentivos ao aumento da Taxa de Natalidade
Medida 1.11 – Prevenir situações de marginalidade juvenil
Medida 1.12 – Reter na região população activa e qualificada
Eixo 2 – Salvaguarda e Valorização do Património
Medida 2.1 – Incentivar a participação das entidades privadas em iniciativas
de acção social
Medida 2.2 – Incentivos aos proprietários de edifícios do Centro Histórico
Medida 2.3 – Criação de mecanismos regulamentares para o enquadramento
das intervenções no Centro Histórico
Medida 2.4 – Remodelação/Dinamização urbanística do Centro Histórico
Medida 2.5 – Propor usos e respectivas intervenções para os diferentes
espaços do Centro Histórico
Medida 2.6 – Procurar dar resposta aos casos de degradação urbanística que
necessitem de uma intervenção urgente
Medida 2.7 – Adequar o ordenamento do trânsito a uma nova funcionalidade
Medida 2.8 – Criar zonas de estacionamento adjacentes ao Centro Histórico
Medida 2.9 – Proporcionar funcionalidade, lúdica ou outra, aos espaços ou
edifícios de interesse histórico e patrimonial;
Medida 2.10 – Implementar medidas que sustenham a desertificação
de edifícios no Centro Histórico
Medida 2.11 – Implementar medidas que impeçam especulação imobiliária
no Centro Histórico
Medida 2.12 – Manter o equilíbrio entre as diferentes funções ou usos
a proporcionar aos edifícios
Medida 2.13 – Remodelação da iluminação pública no Centro Histórico
Medida 2.14 – Remodelação do Pavimento, mais urgente em casos pontuais
Medida 2.15 – Conservação, Manutenção e Limpeza permanente da Muralha
Medida 2.16 – Definição de percursos / circuitos pedonais e de bicicleta
Maqueta da Fortaleza
Model of the Fortress
279
7 – MANAGEMENT PLAN
OF THE ALMEIDA FORTRESS
Rui Ramos Loza
7.1 – Management Model
7.2 – Contributions to the Characterization of the Inner Town
(with illustrated charters)
7.2.1 – Exemplificative documentation of the information analysis and
systematization produced on Almeida’s citadel
7.3 – Strategic Guidelines
Axis 1 – Population, human resources and entrepreneurship
Measure 1.1 – Stop the demographic aging and desertification
Measure 1.2 – Access of the entire population to education
Measure 1.3 – Access to vocational training
Measure 1.4 – Housing development on the Historical Centre
Measure 1.5 – Incentives to retain young people on the Historic Centre
Measure 1.6 – Creation of infrastructures and social equipments
Measure 1.7 – Development of cultural activities that allow for a positive
and continuous evolution of social inter-relations
Measure 1.8 – Creation of spaces and occupation of spare times facilities
for young people
Measure 1.9 – Establishment of partnerships and cooperation agreements
in order to diagnose and identify the respective solutions for the
populations’ problems
Measure 1. 10 – Incentives to increase Birth Rates
Measure 1.11 – Juvenile crime prevention
Measure 1. 12 – Retain the active and qualified population on the region
Axis 2 – Safekeeping and appreciation of heritage
Measure 2.1 - To entice the participation of private entities in social
action initiatives
Measure 2.2 - Incentives to owners of buildings in the Historical Centre
Measure 2.3 – Creation of legislative mechanisms to the Historic Centre
intervention
Measure 2.4 – Urban Remodeling/Promotion of the Historic Centre
Measure 2.5 – To propose uses and interventions for different spaces within
the Historic Centre
Measure 2.6 – To try to answer the situation of urban degradation demanding
an urgent intervention
Measure 2.7 – To adequate road traffic to new functions
Measure 2.8 – To create parking areas near the Historic Centre
Measure 2.9 – To provide a recreational or other functionality to areas the
or buildings of historic and heritage interest;
Measure 2.10 – To implement measures sustaining the desertification
of buildings within the Historic Center
Measure 2.11 – To implement measures preventing land speculation within
the Historic Centre
Measure 2.12 – To maintain the balance between different functions or uses
given to buildings
Measure 2.13 – Remodeling of street lightning on the Historic Centre
Measure 2.14 – Remodeling of the Pavement, more urgent in isolated cases
Measure 2.15 – Conservation, Maintenance and permanent Cleaning of the Wall
Measure 2.16 – Definition of walking and biking paths/circuits
Eixo 3 – Desenvolvimento Económico e Exploração do Turismo
Medida 3.1 – Maior divulgação do Concelho / Vila / Centro Histórico a nível
nacional
Medida 3.2 – Maior acompanhamento dos turistas por técnicos especializados:
roteiros pré-definidos
Medida 3.3 – Abertura ao público
Medida 3.4 – Aumento do tempo de permanência dos turistas
Medida 3.5 – Exploração turística de áreas exteriores ao centro histórico
Medida 3.6 – Produtos que vão de encontro à procura turística
Medida 3.7 – Conservação e revitalização de usos e costumes
Medida 3.8 – Gastronomia tradicional da região
Medida 3.9 – Características naturais e desenvolvimento do Turismo Rural
Medida 3.10 – Sistemas de incentivos à iniciativa privada
Medida 3.11 – Conversão de estabelecimentos comerciais
Medida 3.12 – Desenvolver a atractividade na imagem dos estabelecimentos
comerciais do Centro Histórico
Medida 3.13 – Ligação do Comércio ao Turismo / Lazer
Medida 3.14 – Investimento promocional no Centro Histórico
Medida 3.15 – Aposta na produção e comercialização de produtos tradicionais
Medida 3.16 – Aposta na certificação de qualidade
Medida 3.17 – Potenciar o investimento dos emigrantes que regressam à região
Medida 3.18 – Desenvolvimento de uma dinâmica e conómica alternativa
7.4 – Programa de Acções
7.4.1 – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do património cultural
7.4.1.1 – Desenvolvimento da auto-estima
7.4.1.2 – Desenvolvimento de novos negócios
7.4.2 – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do património natural
7.4.3 – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos humanos
7.5 – Prevenção de Riscos
7.5.1 – Principais Riscos Naturais
– Meteorológicos
– Geológicos
– Sísmicos
7.5.2 – Principais Riscos com origem nas Actividades Humanas
– Os incêndios
– A sobrecarga e/ou usos desajustados dos edifícios
– O abandono (com as patologias que lhes estão associadas)
– O abuso cultural (com práticas desajustadas de arquitectura
e/ou engenharia)
– Poluição hídrica e atmosférica
7.6 - Área de Protecção
Axis 3 – Economic development and tourism exploitation
Measure 3.1 – Bigger Promotion of the Council/Village/Historic Centre
on a national level
Measure 3.2 – Specialized technicians guiding tourists
Measure 3.3 – Opening to the public
Measure 3.4 – To increase the duration of tourists’ stays
Measure 3.5 – Touristic Exploitation of external areas of the Historic Centre
Measure 3.6 – Products that meet the touristic demand
Measure 3.7 – Preservation and regeneration of traditions
Measure 3. 8 – Regional traditional gastronomy
Measure 3.9 – Natural Characteristics and development of Natural Tourism
Measure 3.10 – Incentive system to private investment
Measure 3.11 – Requalification of shops
Measure 3.12 – To develop the attractiveness of the shops’ images
on the Historic Centre
Measure 3.13 – Connection between Commerce to Tourism/Leisure
Measure 3.14 – Promotional investment of the Historic Centre
Measure 3. 15 – Emphasis on the production and marketing of traditional products
Measure 3. 16 – Promotion of quality certification
Measure 3.17 – To potentiate the investment of emigrants returning to the region
Measure 3.18 – Development of dynamic economic alternatives
7.4 – Action Program
7.4.1 – Safeguard and development of the cultural heritage resources
7.4.1.1 – Development of self-pride
7.4.1.2 – Development of new activities
7.4.2 – Safeguard and development of the natural resources
7.4.3 – Safeguard and development of human ressources
7.5 – Risk Prevention Programme
7.5.1 – Main Natural Risks:
– Meteorological
– Geological
– Seismic
7.5.2 – Main Risks With Human activities origin
– Fires
– Overload and/or inadequate use of buildings
– Abandon (with the pathologies usually associated to it)
– Cultural abuse (with inadequate architecture and engineering practices)
– Water and air pollution
7.6 - Buffer Zone
280
7.1 – Modelo de Gestão
O complexo constituído pela Fortaleza de Almeida, respectiva área de
protecção e Centro Histórico intra-muros exige uma gestão de proxi-
midade, activa e enquadrada por uma estratégia clara de revitalização e
salvaguarda do bem patrimonial.
Essa estratégia ganha agora substância, e formulação explicita, com o Plano
de Gestão da Fortaleza que adiante designaremos por PGF de Almeida.
Entenda-se este plano como uma figura dinâmica que visa instalar, no
terreno, todo um processo de planeamento e gestão, com carácter in-
tegrador e com visão estratégica.
Este PGF será apreciado, até á aprovação, pelas entidades locais e na-
cionais com responsabilidade e poder vinculativo sobre a fortaleza, a
vila intramuros e área de protecção.
Importará, acima de tudo a sua aprovação nos órgãos deliberativo e
executivo do município e no Instituto de Gestão do Património Arqui-
tectónico, sem prejuízo da consulta a todas as entidades que estes dois
organismos considerem pertinentes.
O PGF de Almeida não deverá, no entanto, ser formatado em nenhuma das
figuras de planeamento existentes no quadro jurídico nacional, para evitar a
sua cristalização num mero Plano de Pormenor ou Plano de Salvaguarda.
Estas figuras de planeamento poderão ser usadas em qualquer oportunidade,
se as necessidades de gestão urbanística ou patrimonial o justificarem, para
a totalidade ou parte da área abrangida. No entanto, o que este bem implica,
no presente, e exige ás entidades que têm a missão de o desenvolver como
sítio patrimonial vivo e sustentável, é um documento aberto, flexível, de certo
modo “experimental”, que permita unir esforços e coordenar intervenções.
O Plano de Gestão, configura assim uma fórmula de “Plano Estratégi-
co” e contém, por isso, um Programa de Acções.
A gestão tem de assentar, antes de mais, numa parceria entre os habitantes, o
município, as empresas privadas e a administração central, sem esquecer o
papel relevante que pode advir da presença dos níveis regionais do estado.
Esta parceria, alargada, tem de construir e assumir um compromisso de
aprovação e implementação de uma estratégia comum para a salvaguar-
da e sustentabilidade do conjunto.
O valor patrimonial em presença não permite que os moradores, ou
qualquer nível da administração, se isole da resolução dos enormes de-
safios que se levantam ao desenvolvimento local, e por essa razão, o
processo de plano/gestão que se propõe tem um carácter integrador.
Pretende-se, assim, colocar qualquer politica sectorial, respeitante a
Almeida, sob uma mesma linha de objectivos, de modo a economizar
esforços, mobilizar parcerias e potenciar resultados.
A montagem de uma estrutura integradora, deve, neste caso, assentar e
centrar-se sobre o Gabinete Técnico que a autarquia mantém e utiliza,
resultante do trabalho do GTL (Gabinete Técnico Local) que funcionou
entre 2001 e 2003.
Importa, envolver este órgão num “pleno institucional” representativo,
capaz de desenvolver as iniciativas necessárias á salvaguarda activa e
ao desenvolvimento do conjunto.
No “deserto institucional” da região, só o município tem expressão,
representatividade, energia e (alguns) meios para fazer nascer e vingar
uma nova estrutura de salvaguarda e desenvolvimento do sítio classifi-
cado de Almeida.
281
7.1 – Management Model
The Almeida Fort complex, the respective protected area and Historical
Centre within its walls, needs personalized management, an active and
a clear revitalization and the safeguarding of its heritage.
With the management plan for Almeida’s Fortress, known henceforth
as AFMP, this strategy gains substance and an explicit formulation.
This plan is intended to be dynamic. The whole process of manage-
ment and planning will be integrated and strategic, and it will be set
up on site.
This MAP will be valued, until approved by local and national entities
with the responsibility and full contractual authority over the fort, the
village within the walls and the protected area.
The formal approval will be given by the deliberative and executive
municipal entities and by the Instituto de Gestão do Património Arqui-
tectónico, with prior consultation to all entities that these two organiza-
tions consider pertinent.
The MPAF will not be formatted in any of the existing national judicial
figures, to avoid its fragmentation into a mere Detailed or Salvaging
Plan.
These planned figures could be used in any opportunities, if the urban or
heritage management justifies it, for the total or part of the relative area.
In the mean time, what this implies, at the moment, and expects of the
entities with the mission of developing a live heritage which is sustain-
able, is an open document, flexible and in a certain way ‘experimental’,
that permits the joining of forces and co-ordinate interventions.
The Management Plan thus configures a formula of a “Strategic Plan”
and, therefore, it holds an Action Program.
The management must be settled, first of all, on a partnership among
inhabitants, the council, private companies and central administration
organs, without forgetting the relevant part played by the presence of
the regional levels of the State.
This broaden partnership must build and assume a commitment of ap-
proval and implementation of a common strategy towards the set’s safe-
keeping and sustainability.
The value of the heritage does not allow residents or other any level of
administration to become isolated from the resolution of the huge chal-
lenges posed by local development and, for that reason, the proposed
process of planning/managing has an integrating character.
Thus, the intention is to place all sectarian policies related to Almeida
under the same line of goals, as to economize efforts, to mobilize part-
nerships and to enforce results.
The setting of an integrating structure must, in this case, be grounded and cen-
tered at the Gabinete Técnico (Technical Office) that the local government
unit maintains and uses and which results from the work of GTL (Gabinete
Técnico Local – Local Technical Office), active between 2000 and 2005.
It is important to integrate this body on a representative institutional
plenitude, capable of developing the necessary initiatives towards the
active safekeeping and the development of the set.
Within the region’s “institutional desert”, only the council has a voice,
representativeness, energy and (some) means to give birth and to nur-
ture a new structure towards the safekeeping and the development of
the site classified as Almeida.
Mas o município não poderá fazer todo o caminho sozinho! São essen-
ciais os contributos dos serviços da administração central e regional, da
sociedade local e do meio empresarial.
As muralhas não “pertencem” ao município, pois são Monumento Nacio-
nal, os habitantes têm carências que não encontram resposta na adminis-
tração local, e há problemas cujo território extravasa o do concelho.
As dinâmicas económicas mais significativas para a sustentabilidade de
Almeida dependem, sobretudo, de politicas do governo para o interior,
para o mundo rural, para o património e para o turismo, referindo aqui,
apenas alguns dos sectores que têm de convergir numa estratégia única
de salvaguarda e desenvolvimento de Almeida.
O modelo de gestão que aqui se desenha inclui uma plataforma de articula-
ção entre os serviços locais, a população, os serviços da administração central
relevantes, as empresas da região e entidades exteriores ao concelho com es-
pecial incidência em actividades importantes para o desenvolvimento local.
O Parque Arqueológico do Côa, será um bom exemplo de uma entidade
que situada fora, poderá, ainda assim, contribuir de forma significativa
para o desenvolvimento desta cidade estrela.
As entidades responsáveis pela conservação e manutenção do patrimó-
nio, devem, também, estar vinculadas e presentes no órgão de gestão.
A CCDRC é também parceiro incontornável do desenvolvimento regional.
Mas esta articulação implica liderança. Por isso, a Câmara Municipal
de Almeida terá de assumir um papel activo e de forte contributo na
formação e na continuidade deste órgão.
Assim, de forma esquemática, o modelo mais eficaz, dentro do pragma-
tismo que a escassez de recursos obriga, será a criação (recriação!), dentro
do Município de uma equipa de gestão, simplificada, executiva e profis-
sionalizada, que terá de rodear-se das parcerias necessárias para executar a
estratégia aprovada no Plano de Gestão, constituindo-se, desse modo numa
verdadeira agência de sustentabilidade e desenvolvimento de Almeida.
Essa parceria deve materializar-se num “Conselho Geral de Coorde-
nação” (CGC) onde cada instituição deverá exprimir-se formalmente e
vincular-se ao Plano de Gestão da Fortaleza de Almeida (PGF).
Este órgão deverá construir a estratégia, definir a linhas gerais de actua-
ção e aprovar o planeamento das acções a realizar em cada triénio.
Por sua vez, o órgão executivo, na dependência directa do Presidente da
Câmara terá a missão de implementar o processo de planeamento/gestão
que confira ao conjunto classificado a robustez e sustentabilidade necessá-
rias á sua continuidade, concretizando a estratégia aprovada pelo CGC.
Este órgão executivo será, ao mesmo tempo, um órgão de gestão e mo-
nitorização do sítio e uma “Agência” de desenvolvimento integrado.
Ser-lhe-á pedido que reúna os consensos e os recursos das diversas par-
cerias para realização dos programas aprovados pelo município e pelos
restantes centros de decisão, locais, regionais e nacionais.
Cabe a este órgão projectar Almeida no exterior, através de iniciativas
e de parcerias que promovam a procura, de modo a desenvolver as ac-
tividades económicas, sociais, culturais e lúdicas.
Este órgão de gestão a que chamamos “Agência para a Salvaguarda
de Almeida” (ASA), terá de gerir o Centro Histórico, as muralhas e a
área de protecção e de promover o seu desenvolvimento sustentável, na
óptica da defesa da qualidade de vida dos seus habitantes e da qualidade
cultural do património á sua guarda.
Transformar o património em recurso é o seu desafio central.
But the council must not walk alone! The contributions of the services
of central and regional administration are essential, as well as those
from local society and from corporate partners.
The walls do not “belong” to the council, since they’re a National Monu-
ment, the residents have needs that can’t be answered by the local admin-
istration and there are problems that go beyond the council’s territory.
The most significant economic dynamics for Almeida’s sustainability
mainly depend on government policies for the rural areas, for the rural
world, for heritage and tourism, only referring some of the industries
that must work together towards a unique strategy of safekeeping and
development of Almeida.
The management model being drawn here includes a connection plat-
form between local services, the residents, the relevant central admin-
istration services, the region’s companies and outside entities, with par-
ticular emphasis on those important for local development.
Côa Valley Archaeological Park will be a good example of an entity
that, although located outside, might, even though, significantly con-
tribute towards the development of this star city.
The entities in charge of the preservation and maintenance of heritage
must also be linked and represented in the management structure.
CCDRC is also an insurmountable partner for regional development.
But this joint work implies leadership. For that reason, Almeida’s City
Hall will have to assume an active part and give a strong contribution in
the formation and continuation of this structure.
Thus, in a scheme, the most effective model with the pragmatism im-
posed by the lack of resources will be the creation (recreation!) in the
Council of a simplified, executive and professionalized management
team, which must be surrounded by the necessary partnerships to ex-
ecute the strategy approved in the management Plan, thus becoming a
true agency of sustainability and development of Almeida.
This partnership should be materialized in a “Conselho Geral de Co-
ordenação - General Coordination Council” (GCC), where each
institution should formally express and join the Almeida Fortress Man-
agement Plan (AFMP).
This body should be in charge of building the strategy, of defining the
general procedural guidelines and of approving the action plan to be
performed in each triennium.
On its turn, the executive body, directly depending on the Mayor, would
have the mission to implement the planning/managing process that pro-
vides the classified set with the necessary robustness and sustainability
for its continuity, materializing the strategy approved by GCC.
This executive body will also be a structure in charge of the management
and supervision of the site and an “Agency” for integrated development.
It will be asked to gather consensus and resources from the multiple
partnerships for the performance of the programs approved by the
council and by the rest of decision centers, whether these are local,
regional or national.
This body will be responsible for projecting Almeida to the world,
through initiatives and partnerships able to promote the demand, as to
develop economic, social, cultural and recreational activities.
This management body called “Agência para a Salvaguarda de Al-
meida” (ASA -Almeida Safekeeping Agency) would have to manage
the Historical Centre, the walls and the buffer zone and to promote its
282
Trata-se portanto de instalar uma dinâmica, mais do que um sistema de
protecção.
Essa dinâmica assenta, acima de tudo, no esforço que é necessário de-
senvolver, junto de todos os interessados, para dar uso ás construções,
criar actividades, incrementar o turismo, animar a fortaleza e o centro
histórico, proteger a paisagem e o meio natural, e, com isso, fixar popu-
lação, melhorar a qualidade de vida dos habitantes, aumentar o grau de
satisfação dos visitantes e turistas.
A ASA, com competências específicas para a salvaguarda do sítio clas-
sificado e respectiva área de protecção não poderá ser alheada das com-
ponentes urbanísticas da totalidade do território urbanizado de Almei-
da, no entanto, não poderá ultrapassar os seus limites de competências,
nem conflituar com os programas e serviços que se desenvolvem fora
da sua área de intervenção.
Para isso é necessário, desde já, prevenir sobreposições de tarefas e
preparar meios de articulação.
Não se pretende, com a discriminação positiva do centro histórico,
criar nenhuma marginalização da vila extra-muros. Pelo contrario, o
que se pretende é induzir, a partir do centro histórico, visto como re-
curso de desenvolvimento, uma maior coesão urbanística e funcional
sobre a vila extra-muros. Por outro lado pretende-se, também, que o
desenvolvimento de novas capacidades na vila e no concelho se reper-
cutam na capacidade do centro histórico gerar mais actividade em toda
a região.
Almeida, a sua vila, as muralhas e o centro histórico, estão basicamente
dotadas das infra-estruturas essenciais, nomeadamente electricidade,
água, saneamento, comunicações e ligações ao exterior. Falta ainda
densificar e diversificar a rede de equipamentos de proximidade e a
oferta turística, nomeadamente no que diz respeito ao alojamento.
O desafio actual, será muito mais dirigido para o desenvolvimento do
que para a execução de obras infra-estruturais. Quer isto dizer que o
principal esforço da “ASA” deverá dirigir-se ás pessoas, ás novas dinâ-
micas que é necessário criar e desenvolver, á nova atitude de “acredi-
tar” que é essencial para a mobilização das vontades locais.
O modelo de gestão que tem de ser implantado, para sustentabilidade do
sítio, tem que desafiar o espírito criativo e empreendedor da juventude
de Almeida fomentando projectos, iniciativas, empresas e acontecimen-
tos que ajudem a por Almeida nos mapas das fortalezas, dos castelos,
dos destinos turísticos, dos lugares atractivos... no mapa das estrelas.
Um órgão de gestão com este desafio terá de ser dotado de iniciativa,
poder de decisão, capacidade de diálogo com parcerias diversificadas,
implantação no sítio e na sua gente e diplomacia suficiente para atraves-
sar os conflitos normais de todos os processos de transformação.
Será um órgão de gestão para “não deixar tudo na mesma”. Terá, pelo
contrário, de desafiar a inovação, o risco, e a aceitação de novos desa-
fios, conduzindo um processo que é de mudança.
Só pode ser um órgão ligeiro, flexível, e desburocratizado. Com muito
pouca gente e enormes desafios a ASA exigirá um esforço persistente e
tenaz dos seus agentes. Importa que sejam capazes.
Esta agência terá de articular-se também com a rede das demais forta-
lezas da fronteira Portugal/Espanha. Será essa rede que ampliará o im-
pacto de todo o esforço local, conferindo-lhe uma dimensão nacional,
trans-nacional e internacional.
283
sustainable development, regarding the quality of life of its residents
and the cultural quality of the heritage under its wing.
Transforming heritage in a resource is the central challenge.
Therefore, the important thing is to implement a dynamics more than a
protection system. This dynamics would be mainly supported on the ef-
fort to be developed, near those interested, to provide use to the construc-
tions, to create activities, to boost tourism, to animate the fortress and the
historical center, to protect the landscape and the natural environment
and, along with that, to fixate the population, to improve the quality of life
of residents, to increase the level of satisfaction of tourists and visitors.
ASA, which has specific competences for the safekeeping of the classified
site and of its buffer zone, must not put aside from the urban reality within
the entire urban territory of Almeida; nevertheless, it may not surpass its limit
of competence nor to conflict with programs and services being developed
outside its intervention area. For that reason and from the start, one needs to
prevent the overlapping of tasks and to prepare means of communication.
One does not intend, with the positive discrimination of the histori-
cal center, to marginalize the village located outside the walls. On the
contrary, one want to induce, from the historical centre, which is seen as
development resource, a bigger urban and functional cohesion over the
village located outside the walls. On the other hand, one also desires for
the development of new skills for the village and for the council, which
will have consequences on the historical centre’s capacity in generating
more activity for the entire region.
Almeida, its village and the historical centre are basically gifted from
essential infrastructures, namely electricity, water, sewerage, commu-
nications and connections with the outside world. What is in fact lack-
ing is the densification and diversification of proximity equipments and
tourism supply, namely in what lodging is concerned.
The current challenge would be directed at developing rather than ex-
ecuting infrastructural works. The same goes to say that ASA’s main
effort will be directing the new people and the new dynamics that need
to be created and developed, the new attitude of “believing”, which is
essential for the mobilization of local motivations.
The management model that should be implemented, towards the site’s
sustainability, need to challenge the creative and entrepreneurial spirit
of Almeida’s youths, inciting projects, initiatives, companies and events
that help transform Almeida into a reference point of fortresses, castles,
touristic destinations, attractions… to transform it into a star.
A management body that faces this challenge must be gifted with initia-
tive, decision power, able to dialogue with several entities, implemen-
tation on site and on its people and diplomacy enough to cross normal
conflicts springing for all transformation processes.
It will be a management body that “won’t leave things equal”. On the
contrary, it will have to challenge innovation, risk and the acceptance of
new challenge, driving a changing process.
It can only be a light, flexible and without bureaucracies. Lacking the staff
and facing enormous challenges, the ASA will demand a persistent and
tenacious effort from its agents. What matters is that they are capable.
This agency must also be connected with the fortress network of the
Portuguese/Spanish border. That same network will amplify the impact
of the effort made locally, giving it a national, transnational and inter-
national dimension.
Esta responsabilidade exigirá de Almeida que assuma a sua dimensão
de património que está para além da sua importância local, por isso é
fundamental o papel “diplomático” que o Conselho Geral de Coordena-
ção (CGC) terá de desempenhar.
Primeiro é necessário que toda a região fronteiriça do Côa reconheça,
na fortaleza e vila de Almeida a sua estrela chave na defesa histórica da
fronteira e no desenvolvimento de novos recursos turísticos.
Depois é necessário que a “região”, centrada na CCDRC, reconheça
Almeida como um factor de desenvolvimento que deve ser transfor-
mado de potencial em realidade. Isto exige projectos e investimentos,
para além de uma visão alargada e global do papel da fronteira e das
“portas”, nomeadamente na sua relação com Castilla/Léon.
Finalmente é determinante que o governo do país, na sua dimensão cen-
tral e descentralizada, assuma Almeida como peça chave para o desenvol-
vimento nacional a partir do uso inteligente do património, dentro daquilo
que é o bem, mais lato, das fortificações abaluartadas da nossa fronteira.
Fazer passar estas três mensagens, será o papel central do CGC. Dar
força á realidade será o papel central da ASA.
Com estes dois níveis de gestão, com o plano de gestão e com o proces-
so de planeamento aqui proposto Almeida poderá colocar o brilho da
sua estrela no mapa do património da humanidade.
7.2 – Contributos para a Caracterização da Vila Intramuros
Almeida não é uma estrela vazia. Tem gente, tem casas e tem alma.
Almeida tem memórias e sítios dessas memórias. Almeida não esque-
ceu o castelo, nem a matriz, não esqueceu o cerco nem a batalha do Côa.
Para além das muralhas Almeida é uma vila, dentro e fora da fortaleza.
Desde há vários anos um Gabinete Técnico Local (GTL) tem vindo a
estudar e a intervir sobre o território, sobre o edificado e sobre a arqui-
tectura da vila e hoje é possível elaborar toda uma estratégia de gestão
assente em estudos aturados que vão da história ao urbanismo e da ar-
quitectura às actividades e à sociedade.
De um largo conjunto de cartas de análise produzidas pelo intenso tra-
balho de terreno do GTL é possível destacar algumas das que melhor
ajudam a compreender o sítio, a sua realidade, as suas dinâmicas e os
seus desafios para o presente e para o futuro.
Trata-se de cartas de caracterização temática que constituem como que
uma radiografia do povoado que ocupa o interior da estrela e dos seus
habitantes e utentes.
A primeira carta que merece especial referência é a do estado de con-
servação do edificado, que permite avaliar a extensão dos edifícios de-
gradados, fornecendo uma imagem favorável já que, se verifica que, na
sua larga maioria se podem incluir nas classes de “bom” e “razoável”,
sendo pouco expressiva a presença nas classes de “mau” e “ruína”.
O facto de grande parte das construções estar ocupada, sobretudo com
habitação e o facto de o município ter apoiado campanhas de recupera-
ção terá aqui os seus reflexos.
A segunda carta que incluímos refere-se ao número de pisos dos edifí-
cios onde se pode constatar que, na sua esmagadora maioria têm um a
dois pisos, o que é natural num aglomerado onde predomina a constru-
ção de habitação unifamiliar.
This responsibility will demand Almeida to assume its dimension of
heritage that is beyond its local importance and, therefore, the “diplo-
matic” part that the Conselho Geral de Coordenação (CGC) will play.
First, it is necessary that the entire frontier region of Côa recognizes
that the fortress and the village of Almeida is its main star in the his-
torical defense of the frontier and on the development of new touristic
resources.
Afterwards, it is necessary that the regions, centered on CCDRC, recog-
nizes Almeida as a development factor that must be transformed from
potential to real power. This calls for projects and investments and also
for a broader and global vision of frontier and of “doors”, particularly
in their relationship with Castile/León.
Finally, it is vital that the government, in its central and decentralized
dimension, assumes Almeida as a key piece for the national develop-
ment though the intelligent use of heritage, within what is the greater
good, wider, of bulwarked fortifications of our border.
To get these three messages across will be CGC’s central responsibility.
To animate reality will be ASA’s central role. With these two manage-
ment levels, with the management plan and with the planning process
proposed, Almeida will be able to give some shine to its star, placing it
on the map of world heritage.
7.2 – Contributions to the characterization of the Inner Town
Almeida is not an empty star. It has people, houses and it has a soul.
Almeida has memories and places for those memories. Almeida didn’t
forget the castle, or the mother church, it hasn’t forgotten about the
siege or Côa’s battle. Beyond its walls, Almeida is a town, inside and
outside the fortress.
From some years now, a Technical Office has been studying and inter-
vening on the territory, on the built works and on the village’s archi-
tecture. For that reason, it is possible to elaborate today an entire man-
agement strategy on the grounds of persistent studies that range from
history to urbanism and from architecture to activities and to society.
Of a broad set of analysis charts produced, some that best help to under-
stand this place might highlight its reality, dynamics, and challenges in
the present and in the future.
These are thematic characterisation maps, which constitute an “x-ray”
of the village inside the star and of its inhabitants and users.
The first map calls for a special reference and it deals with the preserva-
tion condition of the built works, which allows for an assessment of the
range of depredated buildings by giving a favourable image, since, in
their vast majority, buildings can be rated as “good” and “reasonable”
and only a few rate as “bad” or “in ruin”.
CÂMARA MUNICIPAL DE ALMEIDA
The fact that most constructions are occupied, mainly used as housing, PLANO DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ALMEIDA
and that City Hall supported recovery projects has obvious reflections AGOSTO DE 2002
on this point.
The second chart to be included refers to the number of stories in buildings, PLANTA
1
which shows that, in its vast majority, buildings have one or two stories, DE ENQUADRAMENTO
Framing Plan – Municipal Master Plan (P.D.M.)
which is perfectly natural in a cluster where one-family dwellings prevail.
One might consider that the military principle of not exposing visible ELEMENTOS COMPLEMENTARES
targets (a reference to siege artillery) is respected to this day, not so Complementary Elements
GABINETE TÉCNICO LOCAL
EDIFÍCIO DO QUARTEL DAS ESQUADRAS, N.º 5
284 6350 ALMEIDA
Telef. 271 571 993
gtlalmeida@mail.telepac.pt
1 – REDE VIÁRIA ROAD PLAN 0 250 m 500 m
E.N. 332 National Route 332
E.N.340 National Route 340
Estradas Municipais Municipal Roads
Arruamentos urbanos Urban Streets
Caminhos Rurais e Agrícolas Rural and Farms Paths
Limites: P.C.R.C.H.A.
Limits: P.C.R.C.H.A.
2 – REDE HIDROGRÁFICA HYDROLOGICAL NET
Ribeira das Alvercas River Alverca

3 – REDE ELÉCTRICA ELECTRICAL NET

Linhas de Média Tensão Medium Tension Power Lines
Posto de Transformação Particular Private Electric Power Station
Posto de Transformação Público Public Electric Power Station

4 – REDE DE ÁGUAS WATER NET

Adutoras Principais Main Conducts
Depósito Cistern
Estação Elevatória Elevation station

5 – REDE DE ESGOTOS SEWERAGE NET

Colectores (troços e limites) Conducts (lines and limits)
E.T.A.R.
Fossa Séptica

6 – REGULAMENTO REGULATIONS

CAPÍTULO II – ÁREA URBANA E URBANIZÁVEL CHAPTER II – URBAN AND BUILDABLE AREA

Área Urbana e Urbanizável Urban Area
Área de Construção Condicionada Area with conditioned construction
Área sujeita a Plano de Pormenor Area needing a detailed plan
Indústria Industry

CAPÍTULO III – ÁREA RURAL CHAPTER III – RURAL AREA

Áreas de uso Agrícola e/ou Florestal a Manter Farming and/or Forest Use to be maintained

CAPÍTULO II E III – GRANDES ÁREAS DE EQUIPAMENTOS CHAPTER II AND III- LARGE AREAS OF EQUIPMENTS
Equipamentos Existentes Existing Equipments
Equipamentos Propostos Proposed Equipments
Espaço Livre Público Existente Existing Public Free Space
Espaço Livre Público Previsto Proposed Public Free Space

CAPÍTULO IV – ÁREAS DE SALVAGUARDA ESTRITA CHAPTER IV – AREAS WITH STRICT SAFEGUARD

Reserva Agrícola Nacional (R.A.N.) National Agriculture Reserve (R.A.N.)
Reserva Ecológica Nacional (R.E.N.) National Ecological Reserve (R.E.N.)
Área Especial de Protecção Area of Special Protection

CAPÍTULO V – DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES CHAPTER V – COMPLIMENTARY DISPOSITIONS

Limites da Área de Protecção às Muralhas de Almeida Limits of the Protection Area of the Almeida Fortifications
D.L. nº. 129/77 de 29/09 Decree-Law nr.129/77, 29th Sept.
Decreto nº. 14 985 de 3/02/28 Decree nr. 14 985, 3rd Feb.1928
Decreto nº. 28 536 de 22/03/38 Decree nr. 28 536, 22nd Mars 1938
Z.P. – D.G. 2ª Série nº. 97 de 24/04/62 Protection Zone – D.G. 2nd Series nr.97, 24th April 1962

Limite de área de Protecção às Escolas Limit of the Protection Area of the Schools
D.L. nº. 37 575 de 8/10/49 Decree-Law nr.37 575, 8th Oct.1949

CÂMARA MUNICIPAL DE ALMEIDA

Limite do Domínio Público Hídrico Limit of the Hydrological Public Domain
D.L. nº. 468/71 de 5/11 Decree-Law nr.468/71, 5th Nov. PLANO DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ALMEIDA
AGOSTO DE 2002
Limite da Zona Crítica de Incêndio Limit of the Critical Fire Zone
D.L. nº. 55/81 de 18/12 (muito sensível) Decree-Law nr.55/81, 18th Dec. (high risk) CARTA DE
ORDENAMENTO – P.D.M.
Zona Vitivinícola da Região Demarcadade Castelo Rodrigo (abrange toda área em estudo)
Viticultural Zone of the Nominated Region of Castelo Rodrigo (includes all the study area)
D.L. nº. 335/89 de 4/10 Decree-Law nr.335/89, 4th Oct.
C.E.E. Directiva nº. 2 239/86 do Conselho E.E.C. Directive of the Council nr. 2 239/86
PLANNING CHART – MUNICIPAL MASTER PLAN
(P.D.M) 2
D.L. nº. 259-A/87 de 26/08 Decree-Law nr.259-A/87, 26th Aug. ELEMENTOS COMPLEMENTARES
Complementary Elements
UNIDADES OPERATIVAS DE PLANEAMENTO OPERATIVE UNITS OF PLANNING GABINETE TÉCNICO LOCAL
Plano de Pormenor de Salvaguarda de Almeida Detailed Plan of Safeguard of Almeida EDIFÍCIO DO QUARTEL DAS ESQUADRAS, N.º 5
6350 ALMEIDA
Telef. 271 571 993
Plano de Pormenor para a Vila de Almeida Detailed Plan of the City of Almeida gtlalmeida@mail.telepac.pt
 1 – VIZINHANÇA DE VIAS RODVIÁRIAS PROXIMITY OF ROAD SYSTEM 0 1000 m
IP5 – D.L. 64/83 DE 3/02 (50m) IP5 - Decree-Law nr.64/83, 3rd Feb.
Estradas Nacionais – D.L. 13/71 de 23/01 National Routes - Decree-Law nr.13/71, 23rd Jan.
Estradas Municipais – Lei 2 110 de 19/08/61 Municipal Streets – Law 2 110, 19th Aug.,1961

2 – VIZINHANÇA DE VIAS FERROVIÁRIAS PROXIMITY OF RAILWAY LINES

D.L. 39780 de 21/08/54 (1,5m) Decree-Law nr. 39 780, 21st Aug.,1954 (1,5m)

3 – DOMÍNIO PÚBLICO HÍDRICO PUBLIC HYDROLOGICAL DOMAIN Área de Intervenção

Águas não Navegáveis – D.L. 468/71 (10m) Non-navigatable waters – D.L. 468/71 (10m) Intervention Area

4 – VIZINHANÇA DOS CURSOS DE ÁGUA PROXIMITY OF WATER COURSES

D.L. 89/87 de 26/2 (5m “non aedificandi”, 5 a 10m protecção) Decree-Law nr.89/87, 26th Feb. (5m non aedificandi, 5 to 10 m protection)

5 – ALBUFEIRAS DAM RESERVOIR

Albufeira Prevista: Foreseen reservoir
– D.L. 2/88 de 20/01 Decree-Law nr.2/88, 20th Jan.
– D.L. 502/71 de 18/11 Decree-Law nr.502/71, 18th Nov.
– 200m Protecção 200m Protection
– 50m Área Reservada 50m Reserved Area

6 – VIZINHANÇA DE NASCENTES MINERO-MEDICINAIS E CAPTAÇÃO DE ÁGUA PÚBLICA

PROXIMITY OF MINERAL AND MEDICAL WATER SPRINGS AND PUBLIC CAPTATION OF PUBLIC WATERS
Fonte Santa: “Holy Fountain”:
D.L. 84/90; 85/90; 86/90; 90/90, de 16/03 Decree-Laws nrs. 84/90; 85/90; 86/90;90/90, 16th Mars

Captação de Água: Water Captation:

Decreto Nº 15 401 de 17/04/28 Decree nr. 15 401, 17th April, 1928
(50ha de Área Reservada Circ. 50m de Raio) (50ha of reserved area, with radius circa 50m)

7 – VIZINHANÇA DE LINHAS DE ALTA TENSÃO PROXIMITY TO HIGH TENSION POWER LINES

D.L. 1/92 de 18/02 Decree-Law nr.1/92, 18th Feb.
D.L. 466/76 de 5/06 (corredor de 15m) Decree-Law nr.466/76, 5th June (corridor with 15m)
D.R. 90/84 de 26/12, em situações especiais pelo D.R. 46 647 Decree-Law nr.90/84, 26th Dec., in special situations Decree-Law nr.46 647

8 – SERVIDÕES RÁDIO-ELÉCTRICAS RADIO-ELECTRICAL SERVITUDES

D.L. 597/93 de 7/11 Decree-Law nr.597/93, 7th Nov.
D.L. 181/70 de 28/04 Decree-Law nr.181/70, 28th April

9 – VIZINHANÇA DE MARCOS GEODÉSICOS PROXIMITY OF GEODESIC MARKS

D.L. 143/82 de 26/04 (raio de 15m) Decree-Law nr.143/82, 26th April (radius 15m)

10 – VIZINHANÇA A ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PROXIMITY OF SCHOOLS

D.L. 37 575 de 8/10/49 Decree-Law nr.37 575, 8th Oct., 1949

11 – VIZINHANÇA À FRONTEIRA PROXIMITY OF THE BORDER

D.L. nº. 22/87 de 13/01 (100 metros da Linha de Fronteira e 60m dos Serviços Aduaneiros)
Decree-Law nr.22/87, 13th Jan. (100m from the border line and 60m from Toll Services)

12 – PROTECÇÃO AOS RECURSOS MINEIROS PROTECTION OF MINERAL RESOURCES

D.L. 88/90; 89/90; 90/90 de 16/03 Decree-Law nrs.88/90, 89/90, 90/90, 16th Mars

13 – ZONAS CRÍTICAS DE INCÊNDIO CRITICAL ZONES OF FIRE

D.R. 55/81 de 18/12 (classificação – muito sensível) Decree-Law nr.55/81, 18th Dec. (classification – highly sensitive)

14 – ÁREAS ARDIDAS BURNED AREAS

D.L. nº. 327/90 de 22/10 Decree-Law nr.327/90, 22nd Oct.

15 – VIZINHANÇA DE MONUMENTOS NACIONAIS E IMÓVEIS DE INTERESSE PÚBLICO

PROXIMITY OF NATIONAL MONUMENTS AND BUILDINGS OF PUBLIC INTEREST
Monumentos Nacionais National Monuments
Castelo de Castelo Bom Castle of Castelo Bom
1 Decreto nº. 35 443 de 21/01/46 Decree nr.35 443, 21st Jan., 1946

Castelo de Castelo Mendo Castle of Castelo Mendo

2 Decreto nº. 35 443 de 21/01/46 Decree nr.35 443, 21st Jan., 1946

Muralha de Almeida Fortifications of Almeida

3 D.L. 129/77 de 29/9 Decree-Law nr.129/77, 29th Sept.
Decreto nº. 14 985 de 3/02/28 Decree nr.14 985, 3rd Feb., 1928
Decreto nº. 28 536 de 22/03/38 Decree nr.28 536, 22nd Mars, 1938
Z.P. D.G. 2ª Série nº. 97 de 24/04/62 Protection Zone – D.G. 2nd Series nr 97, 24th April, 1962

Imóveis de Interesse Público Buildings of Public Interest

Aldeia de Castelo Mendo Village of Castelo Mendo
4 Decreto nº. 29/84 de 25/06 Decree nr.29/84, 25th June
CÂMARA MUNICIPAL DE ALMEIDA
5
Pelourinho de Castelo Mendo Pillory of Castelo Mendo PLANO DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ALMEIDA
Decreto nº. 23 122 de 11/10/33 Decree nr.23 122, 11th Oct., 1933 AGOSTO DE 2002

6
Pelourinho de Vale de Coelha Pillory of Vale de Coelha
Decreto nº. 23 122 de 11/10/33 Decree nr.23 122, 11th Oct., 1933 OUTRAS
CONDICIONANTES - P.D.M.
3
Pelourinho de Castelo Bom Pillory of Castelo Bom
7 Decreto de nº. 23 122 de 11/10/33 Decree nr.23 122, 11th Oct., 1933 OTHER CONDIONALITIES – MUNICIPAL
MASTER PLAN (P.D.M.)
Sepulturas escavadas na Rocha Malpartida Graves embedded in Stone Malpartida
8 Desp. SEC-IPPAR 09/91 Desp. SEC-IPPAR 09/91 ELEMENTOS COMPLEMENTARES
16 – ZONA VITIVINÍCOLA DA REGIÃO DEMARCADA DE CASTELO RODRIGO Complementary Elements
VITICULTURAL ZONE OF THE DEMARKED REGION OF CASTELO RODRIGO GABINETE TÉCNICO LOCAL
D.L. nº. 335/89 de 4/10 Decree-Law nr.335/89, 4th Oct.
C.E.E. Directiva nº. 2 239/86 do Conselho E.E.C. Directive of the Council nr. 2 239/86 EDIFÍCIO DO QUARTEL DAS ESQUADRAS, N.º 5
D.L. nº. 259-A/87 de 26/06 Decree-Law nr.259-A/87, 26th June 6350 ALMEIDA
Telef. 271 571 993
Limite de Concelho Limits of the Municipality gtlalmeida@mail.telepac.pt
0 500 m

Área de Intervenção
Intervention Area

Solos Ran
R.A.N. Soils

CÂMARA MUNICIPAL DE ALMEIDA

PLANO DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ALMEIDA
AGOSTO DE 2002

EXTRACTO DA RAN - P.D.M.

4
EXTRACT OF THE NATURAL AGRICULTURE
RESERVE (R.A.N.) – MUNICIPAL MASTER PLAN
(P.D.M.)

ELEMENTOS COMPLEMENTARES
Complementary Elements

GABINETE TÉCNICO LOCAL

EDIFÍCIO DO QUARTEL DAS ESQUADRAS, N.º 5
6350 ALMEIDA
Telef. 271 571 993
gtlalmeida@mail.telepac.pt
0 500 m

Área de Intervenção
Intervention Area

Leitos dos Cursos de Água e Zonas Ameaçadas pelas cheias

Summit of Water Courses

Cabeceiras das Linhas de Água

Projected Dam Reservoirs

Áreas de Máxima Infiltração

Paths of the Water Courses and Zones in Flooding Danger

Albufeiras Projectadas
Areas of Maximum Infiltration

CÂMARA MUNICIPAL DE ALMEIDA

PLANO DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ALMEIDA
AGOSTO DE 2002

EXTRACTO DA REN - P.D.M.

5
EXTRACT OF NATURAL ECHOLOGICAL
RESERVE (R.E.N.) – MUNICIPAL MASTER PLAN
(P.D.M.)

ELEMENTOS COMPLEMENTARES
Complementary Elements

GABINETE TÉCNICO LOCAL

EDIFÍCIO DO QUARTEL DAS ESQUADRAS, N.º 5
6350 ALMEIDA
Telef. 271 571 993
gtlalmeida@mail.telepac.pt
Poder concluir-se que o princípio militar de não expor alvos visíveis que sir-
vam de referência à artilharia de cerco, ainda hoje é respeitado, não pelas ra-
zões militares que estão na sua origem, mas pela tradição e pela compreensão
da importância do equilíbrio volumétrico para a qualidade do conjunto.
A terceira carta que incluímos transmite a reflexão feita pelo GTL sobre
a prioridade das intervenções necessárias, escalonadas em três níveis: o
desejável, o necessário e o urgente.
Refira-se que o número e significado das intervenções qualificadas
como urgentes é significativo, estando presente em quase todos os quar-
teirões e em alguns edifícios representativos como os quartéis.
Outra carta de relevante interesse para qualificação arquitectónica deste
bem é a que representa as tipologias construtivas, classificadas em “tra-
dicional”, “mista” e “actual”.
A presença de construções de tipologia construtiva tradicional ou mista
é predominante, o que confere uma grande unidade ao tecido urbano.
A carta que representa o tipo de utilização dos edifícios é da maior re-
levância para a compreensão da vila, do seu património, das dinâmicas
e do “metabolismo” urbano.
Grande parte dos edifícios estão ocupados com habitação, mas apenas
uma parte destes se destina exclusivamente a esta função. De facto
um grande número dos edifícios habitacionais acumula outras funções
como o comercio, os serviços e a indústria. Nos edifícios não habita-
cionais podemos encontrar equipamentos, serviços, comercio, turismo
e associações destes como comercio e serviços.
Há, no entanto, que registar a presença de muitos edifícios sem uso, ou
usados como anexos e ainda como habitação temporária. Estas catego-
rias são expressão de um baixo nível de vitalidade, que obriga a uma re-
flexão de carácter estratégico sobre a sustentabilidade socioeconómica
de Almeida, entendida no âmbito do centro amuralhado, de toda a vila
e do próprio concelho e região.
A carta seguinte traduz o resultado da acção do município no apoio
á recuperação de fachadas por parte dos proprietários. Verifica-se que
numerosos edifícios tiveram as suas fachadas recuperadas em resultado
deste programa de enorme significado para a imagem do centro históri-
co e para a valorização dos edifícios e do ambiente urbano.
A carta da estrutura verde é eloquente na demonstração do grau de pro-
tecção da fortaleza e da sua envolvente.
Para além de uma estrutura interna, de jardins urbanos, os bastiões, os
fossos, os revelins e os glacis permanecem permeáveis, revestidos de um
coberto vegetal herbáceo, de prados e algumas culturas (nos glacis).
Toda esta envolvente verde, que corresponde ao respeito, durante séculos,
por um território de interesse exclusivamente militar se prolonga pelas áreas
agrícolas, agro-florestais e de pastorícia da paisagem envolvente da vila.
A pequenez dos arrabaldes extramuros e a sua baixa densidade de im-
plantação contribuem, também, para a predominância do espaço verde,
para além do monumento e da sua área de protecção.
A rede viária e sua hierarquização está explicitada na carta seguinte.
Determinada pela “circunvalação” á estrela e pelas suas três portas.
Esta estrutura tem um nível interior, que corresponde ao tecido me-
dieval e moderno, e uma estrutura exterior, de distribuição e ligações
interurbanas de época contemporânea.
Almeida está bem servida de acessos rodoviários, considerando os ní-
veis de tráfego existentes e previsíveis.
much for the military reasons which originated it, but for tradition and
for the understanding of the importance of volumetric balance in the
quality of the set.
The third chart to be included transmits the reflection made on the pri-
ority of the interventions needed, differentiated into three levels: desir-
able, necessary and urgent.
Let it be said that the number and meaning of intervention rated as ur-
gent is significant, with a presence in almost every block and in some
meaningful buildings, such as the barracks.
Another chart with a relevant interest this asset’s architectonical recov-
ery is the one representing constructive typologies, classified as “tradi-
tional”, “mixes” and “current”.
The presence of buildings with a traditional or mixed typology prevails,
thus granting a great unity to the urban fabric.
The chart representing the type of use given to buildings is the most
relevant to understand the village, its heritage, its dynamics and urban
“metabolism”.
The majority of buildings are used for housing purposes, but only a part
is exclusively occupied with this function. In fact, a great number of
residential buildings accumulate other functions, such as trade, services
and industry. In commercial buildings, equipments, services, trade, tour-
ism and mixtures of these, such as trade and services, can be found.
One must, nevertheless, register the presence of many buildings with-
out use or which are used as storage or even as secondary houses. These
categories the consequence of a low level of vitality, which forces a
strategic reflection on Almeida’s socioeconomic sustainability, per-
ceived within the walled centred, within the entire village and within
the council and the region.
The following chart translated the result of the municipality concern-
ing the support to facades’ recovery by the owners. A large number of
buildings had their facades recovered as a consequence of this program,
with an enormous meaning for the historical centre’s image and for the
appreciation of buildings.
The chart regarding the green structure speaks for itself in shwoing the
protection level of the fortress and its surroundings.
Beyond an internal structure, of urban gardens, bastions, ditches, rave-
lins and glacis are still permeable, covered in an herbal vegetation cover
of meadows and with some harvest cultures (on the glacis).
All these green environs, corresponding to the respect, maintained for
centuries, for a exclusively military territory, is prolonged in farming,
agro-forestry and shepherding areas of the village’s surrounding land-
scape.
The smallness of the outskirts outside the walls and a low implementa-
tion density also contribute towards the predominance of green spaces,
apart from the monument and its protection area.
The road system and its hierarchy are made explicit in the following
chart. Determined by the “circular road” to the star and by its three
Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Estado de Conservação / State of Conservation Bom Good
doors, this structure has an internal level which corresponds to the me-
ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA
dieval and modern fabric and an external structure of contemporaneous D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Razoável Acceptable
Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928
routes, to distribute and connect. Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938
Mau Bad
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62
Almeida is well served of road access, considering predictable and esti-
mated traffic levels. Inside the walled village, the network is quite small Ruínas Ruins
but, even though, enough for the inhabitants’ comfort. Inacabado Unfinished
294
No interior da vila muralhada a rede é de calibres diminutos, mas, mes-
mo assim, suficiente para o conforto dos moradores.
Uma carta temática de interesse para a apreciação do valor arquitectónico
do conjunto edificado intramuros é a de caracterização das coberturas.
Quase invariavelmente cerâmicas estas apresentam diversos tipos de
telha de “canudo”, “aba/canudo” e “marselha”.
As coberturas em materiais inconvenientes serão raras excepções que
vale a pena, quanto antes erradicar, mas que não assumem qualquer
significado na imagem do conjunto.
Vale a pena referir o especial significado da cobertura das casamatas, em
pesadas lajes de granito, constituindo uma protecção “anti-bomba”.
Por serem de carácter específico estas coberturas são objecto de capí-
tulo próprio.
Como resultado do levantamento e análise realizados pelo GTL é apre-
sentada também uma carta de avaliação do interesse arquitectónico do
edificado, com a referencia a alçados, chaminés, conjuntos, volumes,
escadas, muros, portas e outros elementos relevantes.
Esta carta demonstra sobretudo o interesse dos conjuntos e a expressão
significativa dos edifícios com valor. De facto, apenas muito poucos são
registados como não tendo nenhum elemento de referência.
A carta de ocupação do edificado fornece a informação de todos os edifí-
cios têm uma ocupação total ou parcial, depreendendo-se daí que há todo
o interesse particular e público na sua manutenção e que há também em
muitos edifícios uma disponibilidade parcial para mais ocupação.
Para alem destas cartas de interesse directamente mais relevante para o
valor patrimonial do sítio, outras foram realizadas que registam aspectos
mais particulares da sua infra-estruturação ou de características de menor
impacto. Referimo-nos concretamente à seguintes: área de implantação,
área total de construção, tipo de equipamento, tipo de comercio, rede de
abastecimento de água, rede de esgotos, conservação das coberturas, es-
cala, insolação, intervenções propostas, tipo de pavimento, estado de con-
servação do pavimento, número de pessoas por edifício, infra-estruturas
eléctricas, tipo de beirado, cor do edificado, tipo de intervenção, rede de
iluminação pública, rede telefónica e mobiliário urbano.
Não sendo este documento o local apropriado para o estudo de todas
estas cartas, vale a pena a sua referência, como indicador do grau de
conhecimento que existe, levantado pelo GTL, sobre a vila intramuros
de Almeida, informação que será do maior interesse e relevo na gestão
do bem patrimonial em causa.
The theme chart characterising the roofs is quite interesting for ap-
preciating the architectonical value of the intrawalls buildings. Almost
invariably ceramic, the roofs present different types of tiles, such as
“tube”, “flap/tube” and “Marseille”.
The roofs made with inconvenient material are rare exceptions, which
should be eradicated as soon as possible, but which don’t have any rel-
evance in the set’s image.
Worth referring is the special meaning of the bunkers’ coverage, with
heavy granite slates, thus making an “anti-bomb” protection. Since they
have a specific character, this coverage will occupy a chapter on its own.
As a result of the survey and analysis performed, a chart assessing the
architectonical interest of buildings is presented, with references to
façades, chimneys, sets, volumes, stairs, walls, doors, and other rel-
evant elements.
This chart mainly emphasis the interest of sets and the meaningful ex-
pression of buildings with values. In fact, only a few are registered as
not having any reference element.
The chart related to the buildings’ occupation offers some information
on all the building totally or partially occupied, which maybe be used
as a starting point to understand that there is private and public inter-
est in maintaining it and that some buildings are partial available to be
further occupied.
Beyond these interest charts, which are more directly connected to the
location’s heritage value, others were performed that register more spe-
cific details of its infrastructure or characteristics with less impact. A
reference is made particularly to the following: implementation area,
total area of construction, equipment type, commerce type, water sup-
ply network, sewage system, roofs’ conservation, scale, insolation, pro-
posed interventions, pavement type, conservation condition of pave-
ments, number of people per building, electric systems, eaves type, col-
our of buildings, intervention type, public lighting systems, telephonic
system and street furniture.
This document is not the proper location to study these charts but their
reference is worth as indicators of the existing knowledge on the in-
trawall village of Almeida, information which will be highly interesting
and relevant for the management of the heritage asset in study.
Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Número de Pisos / Number of levels 1 Piso 1 Level
ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA
D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 2 Pisos 2 Levels
Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928
Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938
3 Pisos 1 Levels
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62
4 Pisos 1 Levels
296
Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Prioridade de Intervenção / Priority of Intervention Dispensável Unnecessary Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Tipologia Construtiva / Constructive Tipology Tradicional Vernacular

ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA

D.L. nº129/77 de 29/09
Decreto nº 14985 de 3/02/1928
Decreto nº 28536 de 22/03/1938
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62
Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Necessário Necessary D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Mista Mixed
Decree nr.14985, 3/02/1928 Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928
Decree nr. 28536, 22/03/1938 Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938
Urgente Urgent Actual Modern
Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62 Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62
Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Tipo de Utilização / Type of Using Habitação Unifamiliar Unifamiliar dwelling Equipamentos Equipments Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Recuperação de Fachadas / Façade Restorations Programa de Program
Recuperação of façade
ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA Anexos Annexes Serviços Services ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA de Fachadas restorations
D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977
Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928 Habitação Colectiva Multifamiliar dwelling Comércio Commerce Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928
Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938 Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62 Habitação Temporária Temporary dwelling Comércio e Serviços Commerce and Services Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62
Habitação e Comércio Dwelling and Commerce Turismo em Espaço Rural Rural House Tourism

Habitação e Serviços Dwelling and Services Sem Uso Without use

Habitação e Indústria Dwelling and Industry

Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Estrutura Verde / Green Structure Verde de Public Use Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Hierarquização da Rede Viária Via Distribuidora Local Local Distributor Road Bolsa de Estacionamento Parking Area Unformal
Uso Público Green Area Road Net Hierarchy Sem Marcação
ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA Via Colectora Local Local Collector Road
D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Circulação em Ambos Both senses drive
Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928 Verde de Private Use Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928 Via de Acesso Local Local Access Road os Sentidos
Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938 Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938
Uso Privado Green Area
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62 Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62
Via de Acesso Pedonal Pedestrian Access Road Circulação no Sentido One sense drive
Indicado
Bolsa de Estacionamento Parking Area Formal
Com Marcação Circulação Condicionada Conditioned circulation
Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Tipo de Cobertura Aba e Canudo Tile “aba e canudo” Fibrocimento Amianto Limites / Limits P.C.R.C.H.A. Interesse Arquitectónico Alçados Façades Ilusionismos
Type of Roof Covering Architectural Interest
ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA ÁREA DE PROTECÇÃO PROTECTION AREA
D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Canudo Tile “canudo” Granito Granite D.L. nº129/77 de 29/09 Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Chaminé Chimeney Muro Wall
Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928 Decreto nº 14985 de 3/02/1928 Decree nr.14985, 3/02/1928
Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938 Decreto nº 28536 de 22/03/1938 Decree nr. 28536, 22/03/1938
Canudo / Aba e Canudo Mixed traditional tile Marselha French tile Conjunto Global Nenhum None
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62 Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62 Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62

Canudo / Marselha Mixed traditional/french Plana Flat roof Edifício Singular Singular Building Porta Door

Chapa Metalic Telha de Cimento Cement tile Escala Scale Volume Volume

Limites / Limits P.C.R.C.H.A.
ÁREA DE PROTECÇÃO
D.L. nº129/77 de 29/09
Decreto nº 14985 de 3/02/1928
Decreto nº 28536 de 22/03/1938
Z.P. - D.G. 2ª Série nº 97 de 24/04/62
7.2.1 – Documentação exemplificativa da análise e sistematização
da informação produzida na cidadela de Almeida
Antes de passarmos à definição das Linhas de Estratégia e da Proposta
de Medidas de Intervenção para uma gestão sustentada do bem a ins-
crever na Lista do Património Mundial, registamos seguidamente um
resumo de documentação técnica produzida.
Os elementos aqui reunidos representam uma pequena parte dos materiais
técnicos que foram executados. Na verdade, todo o território dentro de mu-
ros da Fortaleza e no seu imediato contorno, está devidamente registado.
A partir desta base de dados dispomos das condições para a gestão urba-
nística e para a monitorização de cada parcela do espaço urbano.
Às cinco plantas com identificação das características construtivas e
funcionais de cada elemento cadastral nas diferentes zonas (tendo sido
identificados sete diferentes agrupamentos de espaços/quarteirões),
junta-se uma planta de condicionantes oficial (actualizada, nº 6), na
qual já se estabelecem níveis de protecção ao bem a classificar – os
quais se encontram em vigor.
Não obstante, neste dossiê e no seu Plano de Gestão, é proposta uma
alargada “Buffer Zone” de protecção ao Património Mundial (conforme
Planta no capítulo próprio final).
Das centenas de fichas de caracterização que constituem a base de dados do
Gabinete Técnico do Município, apresenta-se uma selecção com a reprodu-
ção de 14 exemplos (folhas A4-frente e verso devidamente preenchidas).
Finalmente, reproduzimos igualmente 8 folhas pertencentes ao Regula-
mento do Plano de Salvaguarda do Centro Histórico, através das quais
se pretende transmitir o didactismo introduzido, com vista a uma con-
veniente adaptabilidade dos princípios técnicos defendidos às preten-
sões dos interessados na intervenção sobre o substracto construído da
cidadela de Almeida.
Ocupação do Edificado / Use of the Constructions Parcial Partial
PROTECTION AREA
Decree-Law nr. 129/77, 29/09/1977 Total Total
Decree nr.14985, 3/02/1928
Decree nr. 28536, 22/03/1938
Protection Zone – 2ª Série nº 97, 24/04/62
307
7.2.1 – Exemplificative documentation of the information analysis
and systematization produced on Almeida’s citadel
Before defining Strategic Guidelines and Proposal of Intervention Mea-
sures towards a sustained management of the asset which will be en-
rolled on the World Heritage List, a synopsis of the technical documen-
tation produced will be provided.
The elements gathered here represent a small part of the technical mate-
rials that were elaborated. In truth, the entire territory within the fortress
walls and on its immediate contour is properly registered.
From this database, the conditions for urban management and for the
monitoring of each parcel of the urban space are made available.
The five plans identifying the constructive and functional characteris-
tics of each cadastral element on different areas (seven different groups
of spaces/blocks were identified) are joined by an official plan of condi-
tionings (updated, nr. 6), on which the protection levels of the asset are
established, which is currently in force.
Notwithstanding, on this dossier and on its Management Plan, a broad-
en Buffer Zone of the World Heritage is proposed (according to a Plan
on the appropriate and final chapter).
Of the hundreds of characterization files composing the database of the
Municipal’s Technical Office, a selection reproducing 14 examples is
reproduced (front and back A4 sheets, properly filled out).
Finally, 8 pages belonging to the Regulation of the Plan for the Safeguard
of the Historic Centre are also reproduced, through which one intends to
transmit the introduced didactics, aiming at a convenient adaptability of
the defended technical principles to the desires of those interested on the
intervention over the built substrate on Almeida’s citadel.
GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO
TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL

E–01 — 172 m2 172 m2 1 E — — — 100 I Monumento Nacional

E–02 — 31 m2 31 m2 1 E — — — 100 I Monumento Nacional
E–03 — 868 m2 868 m2 1 E — — — 100 R Monumento Nacional
E–04 — 2557 m2 2607 m2 1 E — — — 100 B Monumento Nacional
E–05 — 546 m2 546 m2 1 E — — — 100 R Monumento Nacional
E–06 — 282 m2 282 m2 1 E — — — 100 B Monumento Nacional
E–07 — 757 m2 757 m2 1 E — — — 100 B Monumento Nacional
E–08 — 456 m2 456 m2 1 E — — — 100 B Monumento Nacional
E–09 — 1876 m2 1949 m2 2 E — — — 100 B Monumento Nacional Imóvel
F–01 202 m2 404 m2 2 H 100 — — — B Acompanhamento
—
F–02 222 m2 222 m2 1 A/H/C 100 100 — — R Imóvel Acompanhamento
F–03 384 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
F–04 — 16 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
F–05 357 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
F–06 — 3 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–01 — 208 m2 416 m2 2 H 100 — — — C.E.D/D.T Imóvel sem interesse
G–02 — 276 m2 276 m2 1 A 100 — — — C.E.D/D.T Imóvel sem interesse
G–03 — 240 m2 480 m2 2 H/C 100 50 — — D.A/D.T Imóvel sem interesse
G–03A — 14 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–04 — 387 m2 774 m2 2 H 100 — — — B/D.T Imóvel sem interesse
G–05 — 421 m2 842 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel sem interesse
G–06 — 405 m2 810 m2 2 H/C/S 100 50 50 — C.E.D/D.T Imóvel sem interesse
G–07 328 m2 656 m2 2 E/C/S — 100 100 100 B Imóvel sem interesse
G–07A — 95 m2 95 m2 1 E/C/S — 100 100 100 B Imóvel sem interesse
G–07B 117 m2 117 m2 1 E/C/S — 100 100 100 R Imóvel sem interesse
G–08 351 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–08A — 37 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–09 23 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–10 — 163 m2 326 m2 2 H 100 — — — I Imóvel sem interesse
G–11 — 186 m2 372 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem interesse
G–12 — 109 m2 218 m2 2 H/C 100 — — — D.P/B Imóvel sem interesse
G–13 — 163 m2 326 m2 2 H/C 100 50 — — C.E.D Imóvel sem interesse
G–14 — 136 m2 272 m2 2 H/C 100 50 — — C.E.D Imóvel sem interesse
G–15 — 1480 m2 2232 m2 2 E — — — 100 B/D.P Imóvel sem interesse
G–16 — 1031 m2 1294 m2 2 E — — — 100 B Imóvel sem interesse
G–17 — 420 m2 840 m2 2 E/H/C/S 100 50 100 100 B Imóvel sem interesse
G–18 210 m2 420 m2 2 H 100 — — — R Imóvel sem interesse
—
G–18A 210 m2 420 m2 2 H 100 — — — R Imóvel sem interesse
G–19 — 139 m2 278 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem interesse
G–20 — 117 m2 234 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem interesse
G–21 140 m2 280 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem interesse
—
G–21A 29 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–22 — 212 m2 424 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem interesse
G–22A — 48 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–23 — 146 m2 292 m2 2 H 100 50 50 — D.A/D.T Imóvel sem interesse
G–24 — 118 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–25 — 196 m2 343 m2 2 H — — 100 — C.E.D Imóvel sem interesse
G–26 — 1223 m2 2446 m2 2 E/S — — 100 100 B/D.T Imóvel Acompanhamento
G–27 489 m2 638 m2 2 E/S — — 100 100 R/B Imóvel Acompanhamento
G–27A — 50 m2 50 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–27B 30 m2 30 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–28 — 95 m2 95 m2 1 C — 100 — — I Imóvel sem interesse
G–29 200 m2 400 m2 2 H 100 — — — B Imóvel Acompanhamento
G–30 — 104 m2 104 m2 1 A — — — — B Imóvel sem interesse
G–31 156 m2 156 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem interesse
G–32 407 m2 407 m2 1 C/S — 100 100 — D.A Imóvel sem interesse
G–33 — 80 m2 80 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–34 30 m2 30 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–35 — 253 m2 506 m2 2 S — — 100 — I Imóvel sem interesse
G–36 21 m2 21 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
—
G–37 500 m2 832 m2 2 H/C/S 100 50 50 — I Imóvel sem interesse
G–38 — 167 m2 167 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–39 — 41 m2 41 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–40 — 34 m2 34 m2 — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–41 — 169 m2 338 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel sem interesse
G–42 199 m2 398 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel sem interesse
G–43 — 112 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–44 70 m2 70 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem interesse
G–45 — 80 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–46 134 m2 255 m2 2 H 100 — — — B/D.T Imóvel sem interesse
—
G–47 319 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–48 — 266 m2 532 m2 2 H 100 — — — I Imóvel sem interesse
G–49 56 m2 56 m2 1 H 100 — — — B Imóvel Acompanhamento
G–50 — 64 m2 64 m2 1 H 100 — — — R Imóvel Acompanhamento
G–51 185 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–52 — 7 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
G–53 — 108 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem interesse
 GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO
TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL

A–01–01 153 m2 91 m2 91 m2 1 H 100 — — — R Imóvel Sem Interesse A–08–19 39 m2 39 m2 78 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–01–02 75 m2 75 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–08–20 79 m2 158 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
206 m2
A–01–03 306 m2 27 m2 27 m2 1 H 100 — — — R Imóvel Sem Interesse A–08–20 A 49 m2 49 m2 1 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–01–03 A 70 m2 70 m2 1 H 100 — — — B Imóvel Sem Interesse A–08–21 38 m2 76 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
569 m2
A–01–04 382 m2 764 m2 2 H/E/S 100 — 100 100 R Imóvel de Qualidade A–08–21 A 33 m2 66 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–01–04 A 880 m2 30 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse A–08–22 99 m2 99 m2 198 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–01–05 115 m2 115 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento A–08–23 93 m2 93 m2 186 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–01–06 229 m2 458 m2 2 H/E 100 — — 100 B Imóvel de Acompanhamento A–08–24 82 m2 82 m2 164 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
462 m2
A–01–06 A 57 m2 57 m2 1 A — — — — B Imóvel Sem Interesse A–08–25 38 m2 38 m2 76 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel Sem Interesse
A–01–07 69 m2 53 m2 106 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–08–26 35 m2 35 m2 70 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel Sem Interesse
A–01–08 52 m2 52 m2 52 m2 1 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–08–27 62 m2 62 m2 124 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–01–09 41 m2 41 m2 82 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–08–28 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse
99 m2
A–01–10 118 m2 118 m2 236 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–08–28 A 53 m2 106 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–01–11 85 m2 85 m2 170 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–08–29 51 m2 51 m2 51 m2 1 A/C 100 100 — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–01–12 63 m2 63 m2 126 m2 2 H/E 100 — — 100 B Imóvel de Acompanhamento A–08–30 8 m2 8 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
A–02–01 33 m2 66 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–08–31 30 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento
96 m2
A–02–01 A 63 m2 63 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–08–32 48 m2 48 m2 96 m2 2 H/C/S 100 — 100 — B Imóvel de Acompanhamento
A–02–02 32 m2 32 m2 96 m2 3 H/C/S 100 50 100 — B Imóvel de Acompanhamento A–08–33 93 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — R Construção Prevista
A–02–03 31 m2 31 m2 93 m2 3 H/C/S 100 50 100 — R Imóvel de Acompanhamento A–09–01 44 m2 44 m2 88 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–02–04 39 m2 39 m2 78 m2 2 H/C/S 100 50 100 — B Imóvel de Acompanhamento A–09–02 32 m2 32 m2 96 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–02–05 34 m2 34 m2 102 m2 3 H/C/S 100 50 100 — B Imóvel de Acompanhamento A–09–03 83 m2 166 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
128 m2
A–02–06 63 m2 63 m2 126 m2 2 H/C/S 100 50 100 — R Imóvel de Acompanhamento A–09–03 A 24 m2 24 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–02–07 193 m2 155 m2 310 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–09–04 173 m2 346 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
225 m2
A–02–08 63 m2 63 m2 126 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–09–04 A m2 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–02–09 81 m2 162 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–09–05 62 m2 62 m2 124 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
431 m2
A–02–09 A 83 m2 83 m2 1 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–09–06 92 m2 59 m2 118 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–02–10 39 m2 39 m2 78 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–09–06 A 33 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
A–02–10 A 22 m2 22 m2 44 m2 2 H 100 — — — R Imóvel Sem Interesse A–09–07 17 m2 17 m2 34 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–02–11 49 m2 21 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse A–09–08 70 m2 70 m2 140 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–02–12 45 m2 45 m2 90 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–09–09 56 m2 — — — — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–02–13 24 m2 24 m2 48 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–09–09 A 36 m2 — — — — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
—
A–03–01 40 m2 40 m2 80 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–09–09 B 19 m2 — — — — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–03–02 41 m2 41 m2 82 m2 2 H/S 100 — 100 — B Imóvel de Acompanhamento A–09–09 C 6 m2 — — — — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–03–03 59 m2 59 m2 118 m2 2 H/S 100 — 100 — B Imóvel de Acompanhamento A–09–10 20 m2 100 m2 5 E — — — 100 R Imóvel de Qualidade
28 m2
A–03–04 103 m2 103 m2 206 m2 2 H/S 100 — 100 — B Imóvel de Acompanhamento A–09–10 A 8 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
A–03–05 41 m2 41 m2 1 H/A 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse A–09–11 — 68 m2 — — — — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
327 m2
A–03–05 A 48 m2 48 m2 1 H/A 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse A–09–12 104 m2 91 m2 144 m2 2/1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–04–01 47 m2 47 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse A–09–13 1403 m2 0) 475/950 0) 950/1500 2 — 100 — — 100 D.T Construção Prevista
A–04–02 29 m2 29 m2 116 m2 4 E — — — 100 R Rel. Interesse Arquitectónico A–10–01 35 m2 35 m2 35 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–04–03 31 m2 31 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse A–10–02 96 m2 96 m2 192 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–04–04 47 m2 47 m2 47 m2 1 E — — — 100 R Imóvel de Qualidade A–10–03 65 m2 65 m2 130 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–04–05 4927 m2 4927 m2 4927 m2 — — — — — — R Monumento Nacional A–10–04 64 m2 64 m2 128 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–05–01 67 m2 134 m2 2 H/C/S/E 100 25 100 100 R Imóvel de Qualidade A–10–05 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–05–01 A 83 m2 83 m2 1 H/C/S/E 100 25 100 100 R Imóvel de Qualidade A–10–06 74 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–05–01 B 620 m2 87 m2 174 m2 2 H/C/S/E 100 25 100 100 R Imóvel de Qualidade A–10–07 40 m2 40 m2 80 m2 2 H 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento
A–05–01 C 98 m2 98 m2 1 H/C/S/E 100 25 100 100 R Imóvel de Qualidade A–10–08 269 m2 121 m2 242 m2 2 H 100 — — — R/D.P Imóvel de Acompanhamento
A–05–01 D 148 m2 148 m2 1 H/C/S/E 100 25 100 100 R Imóvel de Qualidade A–10–09 170 m2 132 m2 264 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–06–01 289 m2 71 m2 71 m2 1 E — — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–10–10 58 m2 58 m2 116 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–07–01 72 m2 72 m2 114 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–11 57 m2 51 m2 102 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–07–02 100 m2 100 m2 200 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–12 84 m2 84 m2 168 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–07–03 23 m2 23 m2 46 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–13 23 m2 46 m2 2 H/C/E 100 50 — 100 R Imóvel de Qualidade
149 m2
A–07–04 72 m2 52 m2 104 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–14 50 m2 100 m2 2 H/C/E 100 50 — 100 R Imóvel de Qualidade
A–07–05 61 m2 61 m2 183 m2 3 H/C/S/E 100 50 100 100 B Imóvel de Acompanhamento A–10–15 18 m2 18 m2 36 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–07–06 72 m2 72 m2 216 m2 3 H/C/S/E 100 50 50 100 B Imóvel de Acompanhamento A–10–16 62 m2 62 m2 124 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–07–07 103 m2 103 m2 206 m2 2 H/C/S/E 100 50 100 100 R Imóvel de Acompanhamento A–10–17 49 m2 98 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–07–08 68 m2 68 m2 136 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento A–10–18 108 m2 46 m2 46 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–08–01 58 m2 58 m2 116 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento A–10–19 13 m2 13 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–08–02 35 m2 35 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–20 37 m2 37 m2 74 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
70 m2
A–08–02 A 35 m2 35 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–21 28 m2 28 m2 56 m2 2 H 100 — — — B Imóvel Sem Interesse
A–08–03 36 m2 36 m2 36 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–10–22 21 m2 42 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
34 m2
A–08–04 72 m2 72 m2 72 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–22 A 13 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
A–08–05 34 m2 34 m2 68 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–10–23 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–08–06 46 m2 46 m2 92 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–10–24 37 m2 37 m2 78 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–08–07 36 m2 36 m2 72 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–10–25 156 m2 80 m2 160 m2 2 H 100 — — — D.P Imóvel Sem Interesse
A–08–08 47 m2 47 m2 94 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento A–10–26 73 m2 73 m2 146 m2 2 H 100 R Imóvel de Acompanhamento
A–08–09 44 m2 44 m2 61 m2 2 H/C 100 50 — — D.A Imóvel Sem Interesse A–10–27 43 m2 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–08–10 180 m2 180 m2 1 A — — — — R Imóvel de Qualidade A–10–28 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
86 m2
A–08–10 A 77 m2 77 m2 1 A — — — — R Imóvel de Qualidade A–10–29 43 m2 129 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–08–11 199 m2 398 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Qualidade A–10–30 98 m2 98 m2 196 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
2224 m2
A–08–12 21 m2 21 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento A–10–31 77 m2 77 m2 77 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–08–12 A 8 m2 8 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento A–11–01 36 m2 36 m2 72 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–08–12 B 22 m2 22 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento A–11–02 58 m2 58 m2 116 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
A–08–13 44 m2 44 m2 88 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento A–11–03 85 m2 85 m2 170 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–08–14 57 m2 57 m2 1 H/E 100 — — 100 C.E.D Imóvel de Acompanhamento A–11–04 98 m2 98 m2 196 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–08–15 340 m2 55 m2 110 m2 2 H/E 100 — — 100 R/D.T Imóvel de Acompanhamento A–11–05 61 m2 61 m2 122 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse
A–08–16 169 m2 338 m2 2 H/E 100 — — 100 R Rel. Interesse Arquitectónico A–11–06 32 m2 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
A–08–17 90 m2 180 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento A–11–07 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
111 m2
A–08–17 A 7 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse A–11–08 148 m2 148 m2 296 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel Sem Interesse
A–08–18 55 m2 110 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
104 m2
A–08–18 A 22 m2 22 m2 1 A — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
Uso Permitido: A - Anexo; C - Comércio; E - Equipamento; H - Habitação; S - Serviços
Tipo de Intervenção: A - Ampliação; B - Beneficiação; CED - Correcção de Elementos Dissonantes; DA - Demolição/Alteração; DP - Demolição Parcial; DT - Demolição Total; l - Isento; R - Recuperação
 GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO
TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL

B–12–01 46 m2 45 m2 90 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–18–02 50 m2 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento

B–12–02 85 m2 65 m2 130 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–18–03 44 m2 44 m2 88 m2 2 H/C 100 100 — — B Imóvel Sem Interesse
B–12–03 60 m2 60 m2 120 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–18–04 29 m2 29 m2 58 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento
B–12–04 71 m2 27 m2 54 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–18–05 53 m2 53 m2 106 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento
B–12–05 54 m2 54 m2 108 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–18–06 56 m2 32 m2 64 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 D.A Imóvel Sem Interesse
B–12–06 127 m2 254 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–18–07 44 m2 44 m2 88 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento
205 m2
B–12–06 A 37 m2 37 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–18–08 60 m2 60 m2 180 m2 3 H/C/S 100 30 100 — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–07 97 m2 194 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–18–09 57 m2 57 m2 171 m2 3 H/C/S 100 30 100 — B Imóvel de Acompanhamento
236 m2
B–12–07 A 79 m2 79 m2 1 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–18–10 601 m2 601 m2 601 m2 1 S/E — — 100 100 R Rel. Interesse Arquitectónico
B–12–08 104 m2 98 m2 196 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–18–11 72 m2 72 m2 144 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–09 144 m2 288 m2 2 S/E — — 100 100 R Imóvel de Acompanhamento B–18–12 141 m2 282 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
587 m2
B–12–09 A 443 m2 886 m2 2 S/E — — 100 100 D.A Imóvel Sem Interesse B–18–12 A 237 m2 16 m2 32 m2 2 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–10 43 m2 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–18–12 B 37 m2 74 m2 2 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–11 37 m2 37 m2 74 m2 2 H/C/S 100 50 100 — B Imóvel de Acompanhamento B–18–13 149 m2 149 m2 298 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–12 79 m2 79 m2 158 m2 2 H/C/S 100 50 100 — R Imóvel de Qualidade B–18–14 102 m2 102 m2 204 m2 2 H/C/S 100 50 50 — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–13 32 m2 64 m2 2 H/C/S 100 50 100 — R Imóvel de Acompanhamento B–19–01 118 m2 118 m2 354 m2 3 H/C/S/E 100 30 50 50 B/D.A Imóvel de Acompanhamento
46 m2
B–12–13 A 14 m2 14 m2 1 H/C/S 100 50 100 — D.A Imóvel Sem Interesse B–19–02 50 m2 50 m2 100 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
B–12–14 150 m2 300 m2 2 H/C/S 100 50 100 — R Imóvel de Acompanhamento B–19–03 89 m2 89 m2 267 m2 3 H/C 100 50 — — D.A Imóvel Sem Interesse
251 m2
B–12–14 A 11 m2 11 m2 1 H/C/S 100 50 100 — D.A Imóvel Sem Interesse B–20–01 94 m2 94 m2 188 m2 2 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–12–15 65 m2 130 m2 2 H 100 — — — B/D.T Imóvel de Acompanhamento B–20–02 80 m2 240 m2 3 H/C 100 65 — — R Imóvel de Acompanhamento
111 m2 100 m2
B–12–15 A 12 m2 12 m2 1 H 100 — — — D.T Imóvel Sem Interesse B–20–02 A 20 m2 60 m2 3 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento
B–12–16 39 m2 39 m2 39 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–03 31 m2 31 m2 93 m2 3 H/C 70 30 — — I Imóvel de Acompanhamento
B–12–17 66 m2 66 m2 132 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–20–04 24 m2 48 m2 2 H/E 100 — — 100 I Imóvel de Acompanhamento
B–12–18 60 m2 60 m2 120 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–20–04 A 102 m2 306 m2 3 H/E 100 — — 100 I Imóvel de Acompanhamento
197 m2
B–12–19 18 m2 18 m2 36 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–04 B 16 m2 16 m2 1 A — — — — I Imóvel Sem Interesse
B–12–20 23 m2 23 m2 46 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–04 C 5 m2 5 m2 1 A — — — — I Imóvel Sem Interesse
B–12–21 22 m2 22 m2 44 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–05 17 m2 17 m2 51 m2 3 H/E 100 — — 100 B Imóvel de Acompanhamento
B–12–22 44 m2 44 m2 88 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–06 71 m2 71 m2 142 m2 2 H/C 70 30 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–23 67 m2 67 m2 134 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–20–07 103 m2 52 m2 104 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–24 42 m2 42 m2 84 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–08 37 m2 37 m2 74 m2 2 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–12–25 37 m2 37 m2 74 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–09 49 m2 49 m2 147 m2 3 H/C 100 30 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–12–26 39 m2 39 m2 78 m2 2 H 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento B–20–10 97 m2 291 m2 3 H/C 100 40 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–12–27 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — B Imóvel Sem Interesse B–20–1O A 167 m2 10 m2 10 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento
87 m2
B–12–27 A 44 m2 44 m2 1 H/A 100 — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–20–10 B 37 m2 74 m2 2 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–12–28 40 m2 40 m2 80 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–11 160 m2 320 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–1B–01 46 m2 46 m2 92 m2 2 H 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento B–20–11 A 260 m2 39 m2 39 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento
B–1B–02 241 m2 117 m2 351 m2 3 H/C/S/E 100 50 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–20–11 B 19 m2 38 m2 2 A — — — — B Imóvel Sem Interesse
B–1B–03 355 m2 710 m2 2 S/E — — 100 100 B Rel. Interesse Arquitectónico B–20–12 133 m2 133 m2 266 m2 2 H/C 100 50 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–1B–Q3 A 894 m2 102 m2 204 m2 2 S/E — — 100 100 B Imóvel Sem Interesse B–20–13 52 m2 52 m2 156 m2 3 H 100 — — — B Imóvel Sem Interesse
B–1B–03 B 27 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse B–20–14 150 m2 150 m2 300 m2 2 H/C 50 50 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–1B–04 46 m2 46 m2 138 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento B–20–14 A 114 m2 114 m2 228 m2 2 H/C 50 50 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–1B–05 34 m2 34 m2 102 m2 3 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–20–15 238 m2 476 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
B–14–01 277 m2 277 m2 553 m2 2 H/S 100 — 100 — R Imóvel de Qualidade B–20–15 A 332 m2 55 m2 110 m2 2 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–14–02 224 m2 224 m2 436 m2 2 S — — 100 — B Imóvel de Qualidade B–20–15 B 7 m2 7 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–14–03 268 m2 268 m2 536 m2 2 S — — 100 — B Imóvel de Acompanhamento B–20–16 141 m2 423 m2 3 H/C 70 30 — — R Imóvel de Qualidade
190 m2
B–15–01 62 m2 62 m2 124 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 R Imóvel de Acompanhamento B–20–16 A 49 m2 49 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–15–02 32 m2 32 m2 64 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–20–17 19 m2 19 m2 57 m2 3 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–15–03 37 m2 37 m2 74 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 R Imóvel de Acompanhamento B–21–01 28 m2 28 m2 56 m2 2 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento
B–15–04 33 m2 33 m2 66 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–21–02 52 m2 52 m2 104 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
B–15–05 51 m2 51 m2 102 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 R Imóvel de Acompanhamento B–21–03 56 m2 112 m2 2 H 100 — — — R/B/D.A Imóvel de Acompanhamento
215 m2
B–15–06 63 m2 63 m2 127 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 D.A Imóvel Sem Interesse B–21–03 A 112 m2 112 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–15–07 65 m2 65 m2 130 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 R Imóvel de Acompanhamento B–21–04 45 m2 45 m2 90 m2 2 H/C 100 100 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–15–08 45 m2 45 m2 90 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–21–05 86 m2 258 m2 3 H/S/E 100 — 20 100 B Imóvel de Qualidade
161 m2
B–15–09 34 m2 34 m2 68 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel Sem Interesse B–21–05 A 75 m2 150 m2 2 A — — — — I Imóvel de Qualidade
B–15–10 51 m2 51 m2 102 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–21–06 73 m2 73 m2 146 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
B–15–11 30 m2 30 m2 60 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel Sem Interesse B–21–07 83 m2 83 m2 166 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento
B–16–01 1306 m2 1306 m2 2531 m2 2 C/S/E — 50 50 100 R Rel. Interesse Arquitectónico B–21–08 143 m2 429 m2 3 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento
293 m2
B–17–01 36 m2 36 m2 72 m2 2 H/C 50 100 — — B Imóvel de Acompanhamento B–21–O8 A 18 m2 18 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–17–02 56 m2 56 m2 168 m2 3 H/C 100 50 — — B/D.T Imóvel de Acompanhamento B–21–09 461 m2 306 m2 530 m2 2 E — — — 100 I Imóvel de Acompanhamento
B–17–03 54 m2 54 m2 108 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento B–21–10 45 m2 45 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
B–17–04 68 m2 136 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento B–21–11 463 m2 926 m2 2 S/E — — 100 100 B Imóvel de Qualidade
B–17–04 A 194 m2 31 m2 62 m2 2 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–21–12 110 m2 110 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
1065 m2
B–17–04 B 52 m2 52 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento B–21–12 A 83 m2 83 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–17–05 128 m2 384 m2 3 H/C/S/E 100 70 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–21–13 48 m2 48 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento
B–17–05 A 37 m2 37 m2 1 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–21–14 398 m2 398 m2 1 E — — — 100 B Imóvel de Qualidade
815 m2 408 m2
B–17–05 B 27 m2 27 m2 1 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–21–14 A 10 m2 40 m2 4 E — — — 100 B Imóvel de Acompanhamento
B–17–05 C 50 m2 50 m2 1 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–21–15 160 m2 320 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
B–17–06 436 m2 872 m2 2 E — — — 100 B Imóvel de Qualidade B–21–15 A 353 m2 32 m2 32 m2 1 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
B–17–06 A 28 m2 56 m2 2 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento B–21–15 B 53 m2 106 m2 2 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse
561 m2
B–17–06 B 9 m2 18 m2 2 A — — — — D.A Imóvel Sem Interesse B–21–16 91 m2 182 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
189 m2
B–17–06 C 15 m2 15 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento B–21–16 A 5 m2 — — — — — — — D.T Imóvel Sem Interesse
B–17–07 239 m2 239 m2 239 m2 1 E — — — 100 B Rel. Interesse Arquitectónico B–21–17 53 m2 53 m2 106 m2 2 H/C 100 50 — — C.E.D Imóvel Sem Interesse
B–17–08 115 m2 230 m2 2 H 100 — — — R/B Imóvel de Acompanhamento B–21–18 58 m2 58 m2 58 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
333 m2
B–17–O8 A 46 m2 46 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento B–21–19 118 m2 118 m2 118 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–17–09 84 m2 168 m2 2 H/S 100 — 50 — R/D.A Imóvel de Acompanhamento B–21–20 48 m2 48 m2 96 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
303 m2
B–17–09 A 145 m2 290 m2 2 H/C/S/E 100 50 50 100 D.A Imóvel de Acompanhamento B–21–21 11 m2 11 m2 11 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
B–17–10 132 m2 264 m2 2 C/S/E — 50 100 100 B Imóvel de Acompanhamento B–21–22 91 m2 91 m2 182 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
285 m2
B–17–1O A 34 m2 68 m2 1 C/S/E — 50 100 100 D.A Imóvel Sem Interesse B–21–23 111 m2 95 m2 190 m2 2 H/C 100  50 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–17–11 50 m2 50 m2 150 m2 3 H/C 100 30 — — B/D.T Imóvel de Acompanhamento B–21–24 59 m2 59 m2 118 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
B–18–01 50 m2 50 m2 100 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 R Imóvel de Acompanhamento
Uso Permitido: A - Anexo; C - Comércio; E - Equipamento; H - Habitação; S - Serviços
Tipo de Intervenção: A - Ampliação; B - Beneficiação; CED - Correcção de Elementos Dissonantes; DA - Demolição/Alteração; DP - Demolição Parcial; DT - Demolição Total; l - Isento; R - Recuperação
 GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO
TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL

C–22–01 227 m2 175 m2 350 m2 2 H/C/S/E 100 50 100 100 R/D.T Imóvel de Acompanhamento C–24–15 128 m2 256 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
C–22–02 88 m2 81 m2 243 m2 3 H 100 — — — R/C.E.D Imóvel de Acompanhamento C–24–15 A 84 m2 84 m2 1 I — — — — D.A Imóvel sem Interesse
317 m2
C–22–03 252 m2 252 m2 504 m2 2 H/C/E 100 50 — 100 B/D.T Imóvel de Acompanhamento C–24–15 B 28 m2 28 m2 1 I — — — — D.A Imóvel sem Interesse
C–22–04 73 m2 73 m2 146 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–24–15 C 76 m2 76 m2 1 I — — — — D.A Imóvel sem Interesse
C–22–05 177 m2 131 m2 262 m2 2 H/E 100 — — 100 B Imóvel de Acompanhamento C–24–16 26 m2 26 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel sem Interesse
C–22–06 115 m2 115 m2 345 m2 3 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento C–24–17 118 m2 236 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
315 m2
C–22–07 36 m2 36 m2 72 m2 2 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento C–24–17 A 30 m2 30 m2 2 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–22–08 120 m2 82 m2 164 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento C–24–17 B 10 m2 10 m2 1 A 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–22–09 94 m2 72 m2 216 m2 3 H/C 100 30 — — R Imóvel de Acompanhamento C–24–18 25 m2 50 m2 2 H/E/S 100 30 30 — I Imóvel de Acompanhamento
207 m2
C–22–10 236 m2 223 m2 669 m2 3 H/S/E 100 — 100 100 R Imóvel de Qualidade C–24–18 A 41 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem Interesse
C–22–11 79 m2 79 m2 158 m2 2 H/C 100 50 — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento C–24–19 149 m2 149 m2 298 m2 2 H 100 — — — I/D.T Imóvel de Acompanhamento
C–22–12 113 m2 69 m2 138 m2 2 H/C 100 50 — — B/D.A Imóvel de Acompanhamento C–24–20 112 m2 224 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–22–13 67 m2 67 m2 201 m2 3 H/C 100 30 — — B Imóvel de Acompanhamento C–24–20 A 87 m2 174 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
360 m2
C–22–14 58 m2 58 m2 174 m2 3 H 100 — — — B/D.A Imóvel de Acompanhamento C–24–20 B 46 m2 92 m2 1 A 100 — — — D.A Imóvel sem Interesse
C–22–15 35 m2 35 m2 70 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–24–20 C 14 m2 14 m2 1 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–22–16 92 m2 92 m2 184 m2 2 H/E/S 50 50 100 — B Imóvel de Acompanhamento C–24–21 60 m2 60 m2 120 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–22–17 75 m2 62 m2 62 m2 1 H/S 100 — 100 — R Imóvel de Acompanhamento C–24–22 52 m2 52 m2 156 m2 3 H/E/S 100 30 100 — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
C–22–18 87 m2 77 m2 154 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento C–24–23 58 m2 58 m2 116 m2 2 H/E/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–01 121 m2 121 m2 1 C — 100 — — B Imóvel de Acompanhamento C–24–24 38 m2 38 m2 1 A 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
284 m2 95 m2
C–23–02 124 m2 248 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–24–25 57 m2 57 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse
C–23–03 34 m2 34 m2 68 m2 2 H/C 100 50 — — D.A Imóvel sem Interesse C–24–26 96 m2 96 m2 192 m2 2 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–04 113 m2 226 m2 2 H/E/S 100 40 40 — B Imóvel de Acompanhamento C–24–27 72 m2 72 m2 144 m2 2 H/E/S 100 30 30 — D.A Imóvel sem Interesse
C–23–04 A 31 m2 31 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–25–01 150 m2 150 m2 300 m2 2 H/E/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
192 m2
C–23–04 B 11 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem Interesse C–25–02 47 m2 47 m2 94 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–04 C 9 m2 9 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–25–03 41 m2 41 m2 82 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
C–23–05 120 m2 240 m2 2 H/E/S 100 40 40 — R Imóvel de Acompanhamento C–25–04 57 m2 57 m2 171 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–05 A 189 m2 19 m2 19 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento C–25–05 44 m2 44 m2 132 m2 3 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–05 B 24 m2 24 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento C–25–06 73 m2 73 m2 146 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–06 62 m2 186 m2 3 H/E/S 100 40 100 — D.P Imóvel sem Interesse C–26–01 66 m2 66 m2 132 m2 2 H/E/S 100 40 40 — R Imóvel de Acompanhamento
86 m2
C–23–06 A 24 m2 48 m2 2 A — — — — D.P Imóvel sem Interesse C–26–02 43 m2 43 m2 129 m2 3 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–07 84 m2 84 m2 252 m2 3 H 100 — — — R Imóvel de Qualidade C–26–03 46 m2 46 m2 138 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–08 129 m2 258 m2 2 H/S/E 100 — 100 100 B Imóvel de Qualidade C–26–04 46 m2 138 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
63 m2
C–23–08 A 79 m2 158 m2 2 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–04 A 17 m2 34 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–08 B 805 m2 53 m2 106 m2 2 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–05 151 m2 151 m2 302 m2 2 H/C 100 50 — — R Imóvel de Qualidade
C–23–08 C 81 m2 81 m2 1 A — — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–06 81 m2 162 m2 2 H 100 — — — I/D.P Imóvel de Qualidade
185 m2
C–23–09 64 m2 64 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento C–26–06 A 73 m2 73 m2 1 A/C 100 100 — — I Imóvel de Acompanhamento
C–23–10 51 m2 204 m2 4 H/C/E 80 20 — 80 R Imóvel de Qualidade C–26–07 85 m2 85 m2 170 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
69 m2
C–23–10 A 18 m2 54 m2 3 H/C/E 80 — — 80 R Imóvel de Acompanhamento C–26–08 20 m2 20 m2 1 H/E/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–11 72 m2 72 m2 216 m2 3 H/C 70 30 — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–08 A 128 m2 52 m2 52 m2 1 H/E/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–12 71 m2 71 m2 213 m2 3 H/C 100 30 — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–08 B 56 m2 56 m2 1 H/E/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–13 65 m2 65 m2 195 m2 3 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento C–26–09 33 m2 66 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel sem Interesse
C–23–14 126 m2 126 m2 378 m2 3 H/C/S/E 100 30 100 100 R Imóvel de Qualidade C–26–10 242 m2 27 m2 54 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–15 43 m2 43 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–10 A 29 m2 29 m2 1 A 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–16 242 m2 139 m2 278 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–11 59 m2 51 m2 102 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–23–16 A 20 m2 20 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–12 171 m2 59 m2 118 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–23–17 29 m2 58 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–13 32 m2 32 m2 32 m2 1 H/E/S 100 100 100 R Imóvel de Acompanhamento
91 m2
C–23–18 22 m2 44 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–13 A 17 m2 17 m2 17 m2 1 H/E/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
C–24–01 127 m2 254 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–14 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
155 m2 115 m2
C–24–01 A 13 m2 13 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–14 A 32 m2 32 m2 1 A 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–24–02 26 m2 26 m2 26 m2 1 E/S — 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento C–26–15 78 m2 78 m2 78 m2 1 H/E/S 100 100 100 — D.A Imóvel sem Interesse
C–24–03 17 m2 17 m2 17 m2 1 H/E/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento C–26–16 103 m2 103 m2 206 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Qualidade
C–24–04 71 m2 71 m2 142 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–17 101 m2 101 m2 101 m2 1 A/C 100 100 — — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–05 53 m2 53 m2 106 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–18 81 m2 81 m2 81 m2 1 A/C 100 100 — — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–06 43 m2 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–19 57 m2 57 m2 114 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–24–07 43 m2 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento C–26–20 111 m2 111 m2 222 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–24–08 46 m2 27 m2 27 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Qualidade C–26–21 97 m2 71 m2 142 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
C–24–09 42 m2 84 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Qualidade C–26–22 102 m2 69 m2 69 m2 1 H/E/S 100 100 100 — R Imóvel de Qualidade
97 m2
C–24–09 A 42 m2 84 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Qualidade C–26–23 39 m2 39 m2 39 m2 1 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–10 132 m2 264 m2 2 C/E — 100 — 100 B Rel. Interesse Arquitectónico C–26–24 18 m2 18 m2 36 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
C–24–10 A 25 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem Interesse C–26–25 22 m2 22 m2 22 m2 1 A 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento
536 m2
C–24–11 163 m2 163 m2 1 C/E — 100 — 100 B Rel. Interesse Arquitectónico C–26–26 44 m2 44 m2 88 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–11 A 42 m2 42 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–27 30 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–12 26 m2 26 m2 52 m2 2 H/C 60 40 — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–28 63 m2 63 m2 126 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–13 139 m2 278 m2 2 H/C 100 50 — — I Imóvel de Acompanhamento C–26–29 54 m2 54 m2 108 m2 2 H/C 100 100 — — B Imóvel de Acompanhamento
222 m2
C–24–13 A 37 m2 37 m2 1 A — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–30 42 m2 42 m2 84 m2 2 H/E/S 100 50 50 — B Imóvel de Acompanhamento
C–24–14 131 m2 262 m2 2 H/C 100 50 — — B Imóvel de Acompanhamento C–26–31 37 m2 74 m2 2 H/C 100 30 — — B Imóvel de Acompanhamento
63 m2
C–24–14 A 32 m2 32 m2 1 I — — — — D.A Imóvel sem Interesse C–26–31 A 20 m2 40 m2 2 H 100 — — — D.P Imóvel sem Interesse
C–24–14 B 100 m2 100 m2 1 A — — — — R Imóvel de Acompanhamento
438 m2
C–24–14 C 19 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem Interesse
C–24–14 D 15 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem Interesse
C–24–14 E 59 m2 59 m2 1 I — — — — D.A Imóvel de Acompanhamento
Uso Permitido: A - Anexo; C - Comércio; E - Equipamento; H - Habitação; S - Serviços
Tipo de Intervenção: A - Ampliação; B - Beneficiação; CED - Correcção de Elementos Dissonantes; DA - Demolição/Alteração; DP - Demolição Parcial; DT - Demolição Total; l - Isento; R - Recuperação
 GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO GEOIDEN- ÁREA DA ÁREA MÁXIMA DE N.º MÁX. USO % MÁXIMA DE TIPO DE CLASSIFICAÇÃO
TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL TIFICADOR PARCELA IMPLANTAÇÃO CONSTRUÇÃO DE PISOS PERMITIDO HAB. COM. SERV. EQUIP. INTERVENÇÃO DO IMÓVEL

D–27–01 106 m2 106 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–30–14 45 m2 45 m2 90 m2 2 H/C 100 50 — — R Imóvel de Acompanhamento
196 m2
D–27–01 A 62 m2 62 m2 1 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–30–15 27 m2 27 m2 54 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
D–27–02 98 m2 98 m2 98 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–30–16 26 m2 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
D–27–03 33 m2 33 m2 33 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–30–17 65 m2 130 m2 2 H/C 100 100 — — B Imóvel de Acompanhamento
100 m2
D–27–04 27 m2 27 m2 27 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–30–17 A 35 m2 35 m2 1 A/C — 100 — — D.A Imóvel sem Interesse
D–27–05 56 m2 56 m2 56 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–30–18 36 m2 36 m2 72 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel sem Interesse
D–27–06 67 m2 67 m2 67 m2 1 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento D–30–19 102 m2 102 m2 102 m2 1 A/C — 100 — — I Imóvel de Acompanhamento
D–27–07 251 m2 149 m2 298 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel sem Interesse D–30–20 35 m2 35 m2 1 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento
70 m2
D–27–08 26 m2 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–30–20 A 35 m2 35 m2 1 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento
D–27–09 97 m2 194 m2 2 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento D–30–21 35 m2 35 m2 35 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
185 m2
D–27–09 A 51 m2 102 m2 2 A/H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento D–30–22 49 m2 49 m2 49 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–27–10 53 m2 53 m2 106 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–30–23 34 m2 34 m2 68 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
D–27–11 37 m2 37 m2 111 m2 3 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–30–24 32 m2 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
D–27–12 74 m2 74 m2 148 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–30–25 254 m2 508 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
D–27–13 130 m2 260 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–30–25 A 42 m2 84 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
230 m2 1841 m2
D–27–13 A 75 m2 75 m2 1 A 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–30–25 B 9 m2 9 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–27–14 47 m2 47 m2 94 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–30–25 C 34 m2 34 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–27–15 154 m2 308 m2 2 H/E 100 — — 100 I Imóvel de Qualidade D–30–26 146 m2 146 m2 292 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
293 m2
D–27–15 A 139 m2 139 m2 1 A 100 — — — I Imóvel de Qualidade D–30–27 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–27–16 107 m2 214 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–30–28 97 m2 97 m2 194 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
158 m2
D–27–16 A 8 m2 8 m2 1 A 100 — — — DA Imóvel sem Interesse D–30–29 88 m2 88 m2 264 m2 3 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
D–27–17 54 m2 54 m2 108 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel sem Interesse D–30–30 46 m2 46 m2 92 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–27–17 A 50 m2 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — D.A Imóvel sem Interesse D–30–31 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–27–18 54 m2 54 m2 108 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–30–32 25 m2 25 m2 50 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–27–19 17 m2 34 m2 2 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento D–30–33 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–27–19 A 55 m2 18 m2 18 m2 1 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento D–30–34 25 m2 25 m2 50 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–27–19 B 20 m2 20 m2 1 H/C 100 100 — — R Imóvel de Acompanhamento D–30–35 56 m2 56 m2 112 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–01 312 m2 303 m2 606 m2 2 H 100 — — — I/D.A Imóvel de Acompanhamento D–31–01 15 m2 15 m2 15 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–02 260 m2 133 m2 266 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–31–02 48 m2 48 m2 48 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–03 115 m2 115 m2 230 m2 2 H/C 100 100 — — R/D.A Imóvel de Acompanhamento D–31–03 32 m2 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–04 82 m2 82 m2 164 m2 2 H/C 100 40 — — B Imóvel de Acompanhamento D–31–04 53 m2 53 m2 53 m2 1 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–05 73 m2 73 m2 146 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–31–05 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
52 m2
D–28–06 108 m2 108 m2 216 m2 2 H 100 — — — I/B Imóvel de Acompanhamento D–31–05 A 22 m2 22 m2 1 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
D–28–07 68 m2 68 m2 136 m2 2 H/C/S 100 100 100 — I Imóvel de Acompanhamento D–31–06 28 m2 28 m2 56 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–08 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem Interesse D–31–07 80 m2 160 m2 2 H/C 100 40 — — B Imóvel de Acompanhamento
113 m2 103 m2
D–28–08 A 63 m2 126 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem Interesse D–31–07 A 5 m2 5 m2 1 A 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–09 64 m2 64 m2 128 m2 2 H/C/S 100 40 40 — B Imóvel de Acompanhamento D–31–08 64 m2 128 m2 2 H/C 100 40 — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento
164 m2
D–28–10 342 m2 342 m2 1026 m2 3 C/S/E — 50 100 100 B/D.A Imóvel de Acompanhamento D–31–08 A 100 m2 100 m2 1 A 100 — — — D.A Imóvel sem Interesse
D–28–11 122 m2 244 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Qualidade D–31–09 69 m2 69 m2 138 m2 2 H/C 100 40 — — C.E.D Imóvel sem Interesse
250 m2
D–28–11 A 91 m2 182 m2 2 H/C/S 100 20 20 — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–31–10 59 m2 118 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel sem Interesse
75 m2
D–28–12 19 m2 19 m2 38 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–31–10 A 16 m2 16 m2 1 A 100 — — — DA Imóvel sem Interesse
D–28–13 23 m2 23 m2 23 m2 1 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento D–31–11 40 m2 40 m2 80 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–14 14 m2 14 m2 28 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–31–12 148 m2 296 m2 2 H 100 — — — C.E.D/D.P Imóvel de Acompanhamento
D–28–15 44 m2 44 m2 44 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–31–12 A 322 m2 32 m2 32 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–16 25 m2 25 m2 1 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento D–31–12 B 30 m2 30 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
52 m2
D–28–17 27 m2 27 m2 1 H/C/S 100 100 100 — B Imóvel de Acompanhamento D–31–13 32 m2 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–18 32 m2 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–31–14 35 m2 35 m2 35 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–19 43 m2 43 m2 86 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–32–01 2374 m2 1379 m2 3995 m2 3 E — — — 100 I Imóvel de Acompanhamento
D–28–20 37 m2 37 m2 74 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–33–01 19 m2 19 m2 19 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–21 88 m2 88 m2 176 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–33–02 57 m2 57 m2 114 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–22 25 m2 25 m2 50 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem Interesse D–33–03 50 m2 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–28–23 85 m2 85 m2 170 m2 2 H 100 — — — B Imóvel sem Interesse D–33–04 32 m2 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–24 23 m2 23 m2 46 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–33–05 35 m2 35 m2 70 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–25 47 m2 47 m2 94 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–33–06 41 m2 41 m2 82 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–26 56 m2 56 m2 112 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–33–07 46 m2 46 m2 92 m2 2 H 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento
D–28–27 41 m2 41 m2 82 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–33–08 26 m2 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento
D–28–28 41 m2 41 m2 82 m2 2 H 100 — — — A Imóvel de Acompanhamento D–33–09 57 m2 57 m2 114 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–28–29 213 m2 133 m2 266 m2 2 H/C/S 100 25 25 — I Imóvel de Qualidade D–33–10 50 m2 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — B/D.A Imóvel sem Interesse
D–28–30 442 m2 366 m2 732 m2 2 H/S/E 100 — 100 100 R Rel. Interesse Arquitectónico D–33–11 51 m2 51 m2 102 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–28–31 154 m2 308 m2 2 H/C 100 50 — — R Imóvel de Qualidade D–33–12 173 m2 346 m2 2 H/C/S/E 100 100 100 100 B Imóvel de Acompanhamento
362 m2 290 m2
D–28–31 A 38 m2 38 m2 1 A/H/C 100 100 — — D.A Imóvel sem Interesse D–33–12 A 49 m2 — — — — — — — D.T Imóvel sem Interesse
D–28–31 B 48 m2 48 m2 1 A/H/C 100 100 — — R Imóvel de Qualidade D–33–13 35 m2 35 m2 70 m2 2 H 100 — — — DA Imóvel sem Interesse
D–28–31 C 362 m2 33 m2 33 m2 1 A/H/C 100 100 — — D.A Imóvel sem Interesse D–33–14 56 m2 56 m2 102 m2 2 H/S 100 — 100 — B Imóvel sem Interesse
D–28–31 D 6 m2 6 m2 1 A/H/C 100 100 — — D.A Imóvel sem Interesse D–33–15 60 m2 60 m2 120 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–29–01 20 m2 20 m2 40 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–33–16 42 m2 42 m2 84 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–29–02 58 m2 58 m2 58 m2 1 C/E — 100 — 100 R Imóvel de Qualidade D–33–17 55 m2 55 m2 110 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–29–03 44 m2 44 m2 88 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–33–18 30 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–29–03 A 71 m2 71 m2 142 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–33–19 30 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–29–04 51 m2 51 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–33–20 55 m2 55 m2 110 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
71 m2
D–29–04 A 20 m2 20 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–33–21 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–29–05 52 m2 52 m2 104 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–01 41 m2 41 m2 41 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–29–06 34 m2 34 m2 68 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–02 30 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — I Imóvel de Acompanhamento
D–29–07 25 m2 50 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–34–03 25 m2 25 m2 50 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
50 m2
D–29–07 A 25 m2 50 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–34–04 31 m2 31 m2 62 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–29–08 42 m2 42 m2 42 m2 1 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–05 30 m2 30 m2 60 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–01 78 m2 78 m2 1 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento D–34–06 29 m2 29 m2 58 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–02 60 m2 60 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento D–34–07 85 m2 85 m2 170 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Qualidade
D–30–03 424 m2 60 m2 60 m2 2 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento D–34–08 40 m2 40 m2 80 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–30–36 40 m2 40 m2 1 H/E 100 — — 100 R Imóvel de Acompanhamento D–34–09 34 m2 34 m2 68 m2 2 E — — — 100 R Rel. Interesse Arquitectónico
D–30–36 A 7 m2 7 m2 1 H/E 100 — — 100 D.A Imóvel sem Interesse D–34–10 27 m2 27 m2 54 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–04 30 m2 30 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento D–34–11 71 m2 71 m2 71 m2 1 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
82 m2
D–30–04 A 26 m2 52 m2 1 H/C/S 100 100 100 — — Construçao Prevista D–34–12 40 m2 40 m2 80 m2 2 H/C/S 100 100 100 — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–05 101 m2 101 m2 202 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–34–13 58 m2 58 m2 116 m2 2 H 100 — — — — Construção Prevista
D–30–06 42 m2 42 m2 126 m2 3 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–14 34 m2 34 m2 68 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–07 20 m2 20 m2 60 m2 3 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento D–34–15 51 m2 51 m2 102 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–08 33 m2 33 m2 66 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–16 27 m2 27 m2 54 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–09 56 m2 56 m2 112 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–17 28 m2 28 m2 56 m2 2 H 100 — — — R Imóvel de Acompanhamento
D–30–10 50 m2 50 m2 100 m2 2 H 100 — — — C.E.D Imóvel de Acompanhamento D–34–18 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — A Imóvel sem Interesse
52 m2
D–30–11 26 m2 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–19 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — A Imóvel sem Interesse
D–30–12 26 m2 26 m2 52 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–20 45 m2 45 m2 90 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
D–30–13 32 m2 64 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento D–34–21 49 m2 49 m2 98 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
43 m2
D–30–13 A 11 m2 22 m2 2 H 100 — — — B Imóvel de Acompanhamento
Uso Permitido: A - Anexo; C - Comércio; E - Equipamento; H - Habitação; S - Serviços
Tipo de Intervenção: A - Ampliação; B - Beneficiação; CED - Correcção de Elementos Dissonantes; DA - Demolição/Alteração; DP - Demolição Parcial; DT - Demolição Total; l - Isento; R - Recuperação
320 321
322 323
324 325
326 327
328 329
330 331
332 333
334 335
336 337
7.3 – Linhas de Estratégia
As linhas estratégicas que se apresentam constituem orientações que
deverão ser seguidas com o objectivo de proporcionar um desenvol-
vimento socioeconómico sustentado capaz de promover a salvaguarda
activa da Fortaleza de Almeida, do seu Centro Histórico, da própria
Vila de Almeida e do concelho.
Cada linha estratégica poderá dar origem a diferentes medidas ou ac-
ções que deverão orientar a gestão no seu desenvolvimento concreto
em cada programa anual e pluri-anual. O conjunto de propostas que
aqui se apresenta visa a promoção e continuidade de um processo de
mudança, o que pressupõe, antes de mais a existência de uma forte
vontade politica de provocar essa mudança, depois a adesão e parti-
cipação activa dos cidadãos, a capacidade de mobilização de recursos
patrimoniais, financeiros e humanos, e sobretudo uma estratégia firme
de mudança, capaz de se sobrepor ás resistências que a mudança sem-
pre provoca.
Um processo de mudança em Almeida não necessita de ser “uma pro-
funda revolução” para poder desencadear oposições reacções de defesa
do “stato quo”. De facto podemos, facilmente prever que, os habitantes
acostumados a sobreviver com recursos escassos e, em grande parte
dependentes de recursos exteriores, não se sintam preocupados com a
sustentabilidade futura, preferindo acreditar que o futuro, tal como o
passado e o presente, lhes irá facultar os meios necessários á sua qua-
lidade de vida.
Importa, no entanto, criar mecanismos para salvaguarda de cenários
bem mais prováveis e menos fáceis de sustentabilidade. Almeida, an-
tes de mais deve preparar-se para contar com a sua própria iniciativa
na preservação e exploração dos seus recursos, sendo visível que não
poderá contar com importância militar, industrial, comercial ou de ser-
viços da região.
O recurso patrimonial que é a fortaleza, a sua paisagem, o seu centro
histórico e os recursos naturais que a envolvem terão de ser os princi-
pais eixos de composição de um processo de mudança que seja, obvia-
mente, um processo de desenvolvimento com viabilidade no curto e no
longo prazo.
Esta sustentabilidade da exploração da fortaleza depende de um grande
número de medidas que se agregam em grandes eixos de desenvolvi-
mento:
Eixo 1 – População, recursos humanos e empreendedorismo
Eixo 2 – Salvaguarda e valorização do património
Eixo 3 – Desenvolvimento económico e exploração do turismo
Eixo 1 – População, recursos humanos e empreendedorismo
Medida 1.1 – Travar o envelhecimento e a desertificação
Uma das formas de implementar esta medida será através da melhoria
das condições de vida das populações, de forma a evitar que os mais
jovens emigrem.
A melhoria das condições de vida da população passa, entre outros aspec-
tos, pelo acesso à educação, a equipamentos e serviços de saúde adequa-
dos, à mobilidade e acessibilidades, e ao acesso a serviços públicos.
7.3 – Strategic Guidelines
The strategic lines presented here, are guidelines to be followed with
the objective to promote a sustained socioeconomical development able
to promote the active safekeeping of the Fortress of Almeida, of its His-
torical Centre, of the Village of Almeida and it’s council.
Each strategic line generates different measures and actions that should
guide the management of their real development in annual and multian-
nual programs.
The group of proposals set here intend to promote and continue a
changing process, which, first of all, assumes that there is a strong
political will for that change, after that comes to adherence and active
participation of citizens, the ability to mobilize heritage, financial and
human resources and particularly a strong change strategy, capable of
smothering the resistances always caused by change.
A change process in Almeida does not need to be a “deep revolution”
to be able to set off chain reactions for the “status quo”. In fact, we may
easily foresee that the residents, using to live on scarce resources and
greatly dependent on external resources, will not be concerned with
future sustainability, but rather believing that the future, just as the past
and the present, will provide them with the necessary means for their
quality of life.
It is important, nevertheless, to create mechanisms for safekeeping the
scenarios that are more probable and less easy to sustain. First of all, Al-
meida must be prepared to count on its own initiative of preserving and
exploiting resources, while it is quite visible that it cannot count on the
military, industrial, commercial or service importance of the region.
The enormous heritage resource that is the fortress, its landscape, the his-
torical center and the natural resources surrounding it, must be the main
axis of the composition of a change process that will, obviously, be a
development process with viability on the short and on the long run.
This sustainability of the fortress’ exploitation depends on a great number
of measures which may be grouped into great axes of development:
Axis 1 – Population, human resources and entrepreneurship
Axis 2 – Safekeeping and appreciation of heritage
Axis 3 – Economic development and tourism exploitation
Axis 1 – Population, human resources and entrepreneurship
Measure 1.1 – Stop the demographic aging and desertification
One of the ways to implement this measure will be improving the living
conditions of the population, preventing young people from emigration.
The improvement of living conditions of the population means, among
other things, the access to education, equipment and adequate health
services, mobility and accessibilities, and the access to public services.
Support for families in need should take place through a correct diagnosis,
with the identification of possible solutions within the context of social
action. By becoming part of a strategy for the future, the people avoid,
whenever possible, resorting to emigration. Furthermore, the creation of
incentives to stimulate the investment in the region is essential, because
in addition to answers to local needs (services and trade), will also lead to
the creation of jobs, essential to the socio-economic development.
338
O apoio às famílias mais carenciadas deverá realizar-se através de um
correcto diagnóstico com a identificação de possíveis soluções no âm-
bito da acção social. A população ao sentir-se inserida numa estratégia
de futuro, evitará, na medida do possível, recorrer à emigração. Por
outro lado, a criação de estímulos ao investimento económico na região
é fundamental, porque além de trazer respostas a necessidades locais
(serviços e comércio), irá, também, induzir a criação de postos de tra-
balho, essenciais ao desenvolvimento sócio-económico.
Esta medida é importante uma vez que implica, por um lado, o desen-
volvimento de um conjunto de acções de enquadramento para idosos
(faixa predominante) e, por outro lado, o desenvolvimento de acções
dirigidas à faixa minoritária das crianças e jovens, de modo a criar con-
dições para o crescimento destas faixas etárias. Neste âmbito é crucial
reter na região o máximo possível de população em idade activa, desen-
volvendo um conjunto de acções concertadas.
Medida 1.2 – Assegurar o acesso de toda a população à Escolaridade
Esta acção tem como principal objectivo assegurar que todos os jo-
vens finalizem a escolaridade obrigatória, combatendo os abandonos
precoces da actividade escolar, sendo necessário o desenvolvimento
de um trabalho de sensibilização e mobilização junto dos estabeleci-
mentos de ensino. Quanto mais elevado for o nível de ensino da popu-
lação menor será a probabilidade do desemprego, já que, a par com o
aumento das qualificações, aumenta também o empreendedorismo e a
iniciativa empresarial. A dinâmica económica desta região encontra-
se directamente relacionada com o nível de instrução e de literacia da
sua população.
Medida 1.3 – Acesso à Formação Profissional
De modo a complementar o ensino oficial importa desenvolver ac-
ções de formação profissional de forma sistemática, dando resposta às
necessidades da população com diferentes níveis de instrução e com
diferentes actividades profissionais. Esta formação dirigida a todos os
níveis profissionais, desde os menos qualificados até técnicos superio-
res visa permitir o desenvolvimento dos recursos humanos e das suas
competências profissionais, nomeadamente na condução de iniciativas
promotoras de desenvolvimento.
Medida 1.4 – Promover o desenvolvimento habitacional no CH
Impedir a desertificação do Centro Histórico é essencial à sua revita-
lização. Assim, a recuperação urbanística terá de ser acompanhada de
uma revitalização social. Para que essa revitalização tenha sucesso, é
essencial a participação da população, sendo necessário envolvê-la,
desde o início, em todo o processo de mudança.
A melhoria em termos de imagem e do próprio conforto, irá concorrer
para reduzir a saída contínua de residentes do Centro Histórico e inver-
ter o processo de desertificação. Assim, todos os programas que apoiem
medidas de intervenção enquadráveis no Centro Histórico de Almeida
devem ser ponderados, na medida em que esta área é uma mais-valia da
Vila e do Concelho.
Dentro desta medida uma acção a implementar será a criação de con-
dições para que os compradores interessados em imóveis do Centro
Histórico para residência permanente vejam facilitada a sua iniciativa.
339
This is a very important measure, because it involves, on one hand, the
development of a set of actions that act as a framework for the older
population (the majority) and, on the other hand, the development of
actions directed to the minority of children and youths, in order to cre-
ate conditions for the growth of these age groups. In this context it is
crucial to retain within the region the maximum number of still active
people by developing a series of concerted actions.
Measure 1.2 – Access of the entire population to education
This action is to ensure that all young people receive compulsory edu-
cation, fighting against the early abandonment of school activity; thus,
it is necessary to develop a work of awareness-raising and mobiliza-
tion near the teaching facilities. The higher the educational level of the
population, the lower the probability of unemployment is, since the
increase in qualifications also increases the entrepreneurship and entre-
preneurship. The economic dynamics of this region is directly related to
the level of education and literacy of its population.
Measure 1.3 – Access to vocational training
In order to complement compulsory education, it is important to develop
vocational training courses on a regular basis, which are able to respond
to the needs of the population with different levels of education and
various professional activities. The training aimed at all professional
levels, from unskilled professionals to senior technicians, is motivated
to allow the development of human resources and their professional
skills, particularly in leading development with promoting initiatives.
Measure 1.4 – Housing development on the Historical Centre.
To prevent the desertification of the Historic Center is essential to its re-
vitalization. Thus, the urban recovery must be accompanied by a social
revitalization. If one wants this new life to be successful, the participa-
tion of the population is essential and there is the need to involve it,
from the start, on the entire process of change.
The improvement in terms of image and the actual comfort will con-
tribute to reduce the continuous exodus of residents from the Historic
Center and to reverse the desertification process. Thus, all programs that
support the intervention measures that can be executed in the Historic
Center of Almeida should be considered, as this area is an advantage of
the Village and Council.
Within this measure, an action to be implemented is the creation of
conditions for investors interested in buying real estate on the Historic
Centre, for permanent residence purposes, so that their initiative is sup-
ported and made easier.
Measure 1.5 – Incentives to retain young people on the Historic
Centre.
In addition to counter the exodus from the Historic Center of the
young people who currently live there, we must attract new residents.
Improving the attractiveness of the historic center is essential to fixate
this population, as well as the dissemination and implementation of the
goodwill of the Historic Centre.
Encouraging the conversion of obsolete housing in new residential de-
velopments, more attractive to young people, may be decisive.
Medida 1.5 – Incentivos à fixação da população jovem no CH
Além de contrariar a saída do Centro Histórico de jovens que actual-
mente aí residem, há que atrair novos residentes.
A melhoria da atractividade do Centro Histórico é essencial para fixar
esta população, assim como, a divulgação e implantação de uma ima-
gem de “marca” do Centro Histórico.
O incentivo à reconversão de habitações obsoletas em novas fórmulas
residenciais mais apelativas para os jovens pode ser determinante.
Medida 1.6 – Criação de infra-estruturas e equipamentos sociais
Além da melhoria das condições de habitabilidade, a existência de um
conjunto diversificado de equipamentos é fundamental e não se restrin-
ge, obviamente, apenas ao interior da Fortaleza, sendo, nomeadamente,
uma questão regional.
É, no entanto, no próprio Centro Histórico da Vila que se encontram
grande parte dos equipamentos actualmente existentes (essencialmente
comércio e serviços públicos), mas a carência de novos equipamen-
tos (sociais, económicos e lazer entre outros), constituirá um factor de
atractividade para reter e fazer crescer a população residente.
A existência de equipamentos sociais que dêem resposta a idosos, jo-
vens e crianças é um imperativo para a salvaguarda da população e para
a sustentabilidade da fortaleza e do centro histórico de Almeida.
Medida 1.7 – Desenvolvimento de actividades culturais que permitam
uma evolução positiva e contínua de inter-relacionamento social
Esta medida prende-se essencialmente com a animação sociocultu-
ral (festas, feiras, exposições, etc.) que é imprescindível na partilha e
manutenção de valores culturais, no convívio e participação em grupo
em diferentes actividades, desenvolvendo relações sociais permanen-
tes e saudáveis. Através desta medida, existe também a possibilidade
de atrair ao Centro Histórico de Almeida, população de outras regiões,
sendo uma forma de promoção e divulgação. Por outro lado, constata-
se já uma forte participação da população em eventos de animação na
Vila, quer por parte dos seus residentes quer por parte de pessoas pro-
venientes das localidades limítrofes.
Medida 1.8 – Criação de espaços e ocupações de tempos-livres para
os jovens
A ocupação dos jovens de Almeida, nos seus tempos livres está insufi-
cientemente enquadrada por programas e equipamentos capazes de os
motivar para a as actividades saudáveis como o desporto e os eventos
culturais.
O turismo, os desportos radicais, os jogos tradicionais, ao lado de toda
uma programação contemporânea das novas tecnologias e da sociedade
aberta e global do nosso tempo são necessariamente recursos que im-
porta mobilizar para fixar e reter a juventude de Almeida.
Um tiro de canhão, ao nascer e outro ao por do sol, assinalando a hora
de “abertura” das portas da fortaleza a toda a praça e ás redondezas
pode ser um programa que, envolvendo militares, poderá contar com
a formação de jovens das escolas e animar o dia a dia dos habitantes,
turistas e visitantes.
Outros eventos semanais, ou de regularidade frequente, que impliquem
preparação, ensaio e montagem de animações poderão ser, para os jo-
Measure 1.6 – Creation of infrastructures and social equipments
Besides the improvement of living conditions, a diverse range of equip-
ment is essential and cannot, of course, be restricted to the interior of
the fortress, being in fact a regional issue.
Nevertheless, in the actual Historic Center of the town can the major-
ity of available equipment be found (mainly trade and services), but
the lack of new equipments and facilities (social, economic and leisure
equipments, among others), is a factor against the site’s attractiveness
to retain and to increase the number of residents.
The existence of social equipments that provide effective answer to old
and young people and to children is mandatory for the safekeeping of
the population and for the sustainability of the fortress and of the his-
torical center of Almeida.
Measure 1.7 – Development of cultural activities that allow for a
positive and continuous evolution of social inter-relations.
This measure is primarily concerned with the sociocultural recreation
(festivals, fairs, exhibitions, etc.), which is essential in maintaining and
sharing of cultural values, in the coexistence and group participation in
various activities, developing social healthy and permanent relation-
ships. Through this measure, there is the possibility of bringing, to the
Historic Center of Almeida, people from other regions, as a form of
promotion and dissemination. Moreover, there is already a strong par-
ticipation of the population in the events in the village, either residents
or people coming from neighboring towns.
Measure 1.8 – Creation of spaces and occupation of spare times
facilities for young people
The occupation of the young people of Almeida, during their free time
is not sufficiently defined by programs and equipment able to motivate
them towards healthy activities such as sport and cultural events.
Tourism, extreme sports, and traditional games, side by side with a
contemporary programming of new technologies and the global open
society of our days are resources that must be necessarily used to fixate
and retain Almeida’s youths.
A cannon-shot at dawn and at sunset, signing to its residents and neigh-
bors the “opening” of the fortress’ doors might be a program that, while
involving militaries, may count with the training of young students and
to brighten the daily life of residents, tourists and visitors.
Other weekly events, or regularly frequent, involving preparation, test-
ing and assembly of recreational events may be, for the youngsters of
Almeida, a leisure and, at the same time, useful occupation, teaching,
above all else, discipline, creativity, citizenship and initiative.
Measure 1.9 – Establishment of partnerships and cooperation
agreements in order to diagnose and identify the respective solu-
tions for the populations’ problems
This measure highlights the need to establish partnerships to better di-
agnose problems and to develop a strategy to address them by promot-
ing community involvement, participation, contribution, technical and
financial and shared responsibility.
Thus, the creation of public infrastructure restoring the available build-
ings, such nursing homes, day centers, recreation centers for youths,
340
vens de Almeida, uma ocupação lúdica e ao mesmo tempo útil, sendo,
sobretudo, pedagógica da disciplina, da criatividade, da cidadania e da
iniciativa.
Medida 1.9 – Estabelecimento de parcerias e cooperações com vista
a diagnosticar e identificar as respectivas soluções para os proble-
mas das populações
Através desta medida é relevada a necessidade do estabelecimento de
parcerias com vista a melhor diagnosticar os problemas e definir uma
estratégia de resolução dos mesmos promovendo o envolvimento da
comunidade, a participação, a contribuição, técnica e financeira e a par-
tilha de responsabilidades.
Assim, a criação de infra-estruturas públicas recuperando o edificado
disponível, como por exemplo, os lares de idosos, centros de dia, cen-
tros de tempos livres para os jovens, jardins de infância, ensino pré-
escolar, terão de ser acompanhados de serviços adequados e de técnicos
especializados, de modo a assegurar um apoio concreto e contínuo aos
grupos sociais que importa mobilizar.
O desenvolvimento de actividades na área da acção social só terá êxito
se se efectivar uma articulação dos esforços das diferentes entidades.
Medida 1.10 – Incentivos ao aumento da Taxa de Natalidade
Os incentivos ao aumento da taxa de natalidade sendo essenciais a ní-
vel nacional, são-no ainda mais para a Região da Beira Interior Norte
e concelho de Almeida. Apesar de estarem previstos na nova Lei de
Bases da Segurança Social, carece também de medidas municipais num
concelho com a estrutura etária debilitada pelo envelhecimento como
é o de Almeida.
Os incentivos municipais à natalidade não são inéditos, tendo já sido
adoptados por municípios do interior e que consistem na atribuição de
um prémio (em princípio monetário) pelo nascimento de uma criança,
podendo este incentivo assumir diferentes formas, quer no tipo de pré-
mio quer na forma de o atribuir (por exemplo, consoante o número de
filhos).
Medida 1.11 – Prevenir situações de marginalidade juvenil
Apesar da população juvenil não ser uma faixa etária predominante na
região também necessita de atenção, na medida em que o desenvolvi-
mento comportamental nestas faixas é muito importante na formação
da personalidade do adulto.
O interior do país não apresenta problemas de marginalidade social
como as regiões sobre-densificadas do litoral e outros grandes centros
urbanos, contudo, o desenvolvimento de um trabalho ao nível da pre-
venção é fundamental.
Medida 1.12 – Reter na região população activa e qualificada
Um dos problemas da Região é conseguir reter população em idade
activa, sobretudo a de mais elevada qualificação.
Os jovens começam por se deslocar para os estabelecimentos de ensino
superior (ou outros) noutras regiões e, a partir daí, já só regressam, ape-
nas temporáriamente, nos fins-de-semana e férias.
Para apresentar um desenvolvimento sustentado, a região necessita de re-
cursos humanos qualifica dos, de forma a que o seu conhecimento técnico
se reflicta no desenvolvimento socioeconómico. Em Almeida e no Centro
341
kindergartens, and pre-school education facilities must be accompanied
by adequate services and technical expertise in order to ensure a con-
tinuous and practical support to the important social groups.
The development of activities related to social action will only succeed
if an effective coordination of efforts of different entities takes places.
Measure 1. 10 – Incentives to increase Birth Rates
Incentives to increase the birth rate are essential on a national level and
are even more important in the region of northern Beira Interior and
in the council of Almeida. Despite these are set on the new Guidelines
Law of Social Security, some municipal measures can still be applied,
within a council weakened by the aging of the population as Almeida.
Municipal incentives for the birth are not unprecedented and have been
adopted by rural municipalities, which consist of awarding of a grant
(normally money) by the birth of a child, being that it can take different
forms, either in the form of grant or in the way to allocate it (eg, accord-
ing to the number of children).
Measure 1.11 – Juvenile crime prevention
Although youths are not a predominant age group in the region, they
also require attention, since the behavior development in these brackets
is very important for the shaping of the adult personality.
The interior of the country does not present problems related to social
exclusion as the overpopulated areas regions on the coast and on other
major urban centers, however, the development of a prevention work
is essential.
Measure 1. 12 – Retain the active and qualified population on the
region
One of the problems of the region is to retain population, especially
those featuring higher qualifications.
Young people begin to move to higher education facilities (or other)
elsewhere, and from there on, they only return, temporarily, for the
weekend and vacations.
To make a sustainable development, the region needs qualified human
resources so that their expertise is reflected in the socio-economic de-
velopment. Almeida and in the Historic Center has a very low level of
education (36.5% of residents of the historic center only have primary
education and 10.4% in the History Center still cannot read or write!).
For this reason, there are several and growing difficulties in finding a
job, and the entrepreneurship is also significantly reduced, while the
fear of risk increases.
Here, in addition to the effort in the development of activities directly
related with tourism, we should invest in training, geared to different
age groups, with particular concern to the fight against illiteracy.
Axis 2 – Safekeeping and appreciation of heritage
Measure 2.1 – To entice the participation of private entities in social
action initiatives
In terms of equipment and social activities, in addition to public in-
vestment, there is the possibility of private nonprofit organization to
take action on these areas, benefitting from support, and, therefore, its
Histórico, verifica-se um nível de instrução muito baixo (36,5% dos resi-
dentes do Centro Histórico possuem apenas o 1º ciclo e 10,4% ainda no
Centro Histórico não sabe ler nem escrever !) pelo que as dificuldades,
em termos de emprego, crescem consideravelmente, reduzindo-se, tam-
bém, a iniciativa empresarial e aumentando o medo do risco.
Neste domínio, para além do esforço no desenvolvimento de activi-
dades relacionadas directamente com o turismo, importa investir em
formação, dirigida aos diversos escalões etários, com especial preocu-
pação no combate á iliteracia.
Eixo 2 – Salvaguarda e valorização do património
Medida 2.1 – Incentivar a participação das entidades privadas em
iniciativas de acção social
Ao nível dos equipamentos e actividades sociais, além do investimento
público, existe a possibilidade de as entidades privadas sem fins lu-
crativos que actuem nessas áreas, beneficiarem de apoios, sendo assim
necessária a sua divulgação e incentivo através da participação em par-
cerias. O objectivo é o aproveitamento da melhor forma possível dos
apoios públicos dirigidos a equipamentos e a actividades para os mais
desfavorecidos.
Cabe aqui referir que, tal como para outras funções, deve ser mobili-
zado o parque construído existente, recuperando e adaptando edifícios,
hoje vazios ou sub-ocupados.
A escala das respostas necessárias não implicará, na generalidade dos
casos, grandes construções novas, muito exigentes de recursos para a sua
criação, manutenção e funcionamento, e bastará um uso criterioso de ca-
sas existentes para poder satisfazer a maior parte das necessidades.
Este sentido da reabilitação do edificado aplica-se também aos equipa-
mentos turísticos e a outros negócios que se pretende ver instalados.
Não só o tempo de resposta pode ser encurtado, como o envolvimento da
população mais efectivo, pois poderão os proprietários dos edifícios, as-
sim, obter destes um rendimento que agora lhes escapa e que continuaria
a escapar-lhes se os novos equipamentos fossem construídos de raiz.
Medida 2.2 – Incentivos aos proprietários de edifícios do CH
Esta medida tem como objectivo apoiar os residentes e proprietários
do Centro Histórico na remodelação dos seus alojamentos. Desta for-
ma, existe a possibilidade de beneficiar socialmente as famílias e pro-
prietários mais carenciados e simultaneamente promover a melhoria da
imagem do Centro Histórico. Por outro lado, verifica-se maior prepon-
derância de incentivos à remodelação e beneficiação de imóveis quando
estes se inserem em núcleos históricos como é o caso.
Programa SOLARH: O SOLARH é um programa de apoio financeiro
especial, destinado a financiar sob a forma de empréstimo a conceder
pelo INH (Instituto Nacional de Habitação), a realização de obras de
conservação ordinária ou extraordinária e de beneficiação nos seguintes
casos:
– em habitação própria permanente de indivíduos ou agregados familia-
res (que preencham um conjunto de requisitos);
– em habitações devolutas de que sejam proprietários os municípios, as
instituições particulares de solidariedade social, as pessoas colectivas
de utilidade pública administrativa que prosseguem fins assistenciais e
as cooperativas de habitação e construção;
dissemination and promotion through participation in partnerships is
needed. The aim is to use in the best possible way the public grants for
equipments and activities for the poor.
It should be noted that, as for other functions, the buildings already
constructed should be mobilized, restoring and adapting buildings, now
empty or under-occupied.
The scale of needed responses will not imply, in most cases, major new
constructions, very demanding of resources for its establishment, main-
tenance and operation, and a judicious use of the existing houses will
suffice to meet most needs.
This sense of rehabilitation of the constructions should also be applied
to tourism facilities and other businesses that will be installed.
Not only the response time can be shortened, with a more effective in-
volvement of the population, because the owners of the buildings may
thus obtain an income, which does not exist nowadays and that still
would not exist if the new equipment were built from scratch.
Measure 2.2 – Incentives to owners of buildings in the Historical
Centre
This measure wants to support residents and owners of the Historical
Centre in remodeling their proprieties. Thus, there is the possibility to
benefit the most disadvantaged families and owners, while improving
the image of the Historical Center. Moreover, there is greater prepon-
derance of incentives for renovation and upgrading of buildings when
they belong to groups such as historical.
Programa SOLARH: SOLAR his a special financial support program,
meant to fund, as a loan granted by IHRU (Instituto da Habitação e
da Reabiltação Urbana – Housing and Urban Rehabilitation Institute),
conservation works, both ordinary and extraordinary, as well as im-
provement works on the following cases:
– in own permanent house of individuals or families (who meet certain
criteria);
– in vacant houses, owned by councils, private charity institutions, legal
persons of administrative public utility who provide support to the com-
munity and housing and construction cooperatives;
– in vacant houses, owned by individuals.
Programa RECRIA: This program does not cover a great number of
cases on Almeida’s Historic Centre, since it is meant for rented houses,
which are predominant in our area of intervention.
Anyway, RECRIA means Regime Especial de Comparticipação na Re-
cuperação de Imóveis Arrendados (Special Subsidy Regimen for the Re-
covery of Rented Houses) which aims to fund the works for the conser-
vation and improvement, enabling the recovery of degraded houses and
buildings, by granting incentives given by the State and the Councils
The landlords and owners of dwellings have access to RECRIA, pro-
vided that the rent was the object of an extraordinary correction, as well
as the tenants and the municipalities, which replace the landlords, in
order to perform works on the houses with low rents.
Programa REHABITA: Regime de Apoio à Recuperação Habitacion-
al em Áreas Urbanas Antigas (Support Regimen to the Recovery of
Houses in Old Urban Areas) which is, in fact, an extension of the Pro-
grama Recria and that aims to financially help City Halls in recovering
ancient urban areas.
342
– em habitações devolutas de que sejam proprietárias pessoas singu-
lares.
Programa RECRIA: Este programa não é aquele que enquadra um
maior número de casos no Centro Histórico de Almeida, uma vez que
se destina a imóveis arrendados que não são muito predominantes na
nossa Área de Intervenção.
De qualquer forma, o RECRIA é o Regime Especial de Comparticipa-
ção na Recuperação de Imóveis Arrendados, que visa financiar a execu-
ção das obras de conservação e beneficiação, que permitam a recupera-
ção de fogos e imóveis em estado de degradação, mediante a concessão
de incentivos pelo Estado e pelos Municípios.
Tem acesso ao Recria, os senhorios e proprietários de fogos cuja renda
tenha sido objecto de correcção extraordinária, assim como os inquili-
nos e os municípios, que se substituam aos senhorios, na realização das
obras em fogos com rendas susceptíveis daquela correcção.
Programa REHABITA: Regime de Apoio à Recuperação Habitacio-
nal em Áreas Urbanas Antigas que consiste numa extensão do Progra-
ma Recria e visa apoiar financeiramente as Câmaras Municipais na re-
cuperação de zonas urbanas antigas.
Medida 2.3 – Criação de mecanismos regulamentares para o en-
quadramento das intervenções no Centro Histórico
Esta medida tem como objectivo padronizar as intervenções que ve-
nham a ser realizadas no Centro Histórico, criando regras claras que
sejam facilmente assimiladas e aceites pela população local.
Neste âmbito, é importante o diálogo com os residentes do Centro
Histórico, de forma a que compreendam o motivo da existência de um
mecanismo de regulação e apoio técnico, demonstrando que a preser-
vação e a inovação/conforto podem coexistir, desde que as interven-
ções propostas apresentem qualidade. Esta será uma das áreas mais
problemáticas e onde será muito importante, a existência de um elo de
ligação entre os técnicos e a população, transmitindo-se aos residentes
o porquê da necessidade de algumas restrições técnicas e, por outro
lado, também transmitir aos técnicos algumas das ideias e aspirações
da população.
O desafio primordial, num processo de mudança, é envolver todos os
protagonistas nesse processo, na medida em que as pessoas ao se senti-
rem envolvidas na mudança (por exemplo, terem oportunidade de ma-
nifestar opiniões; participar em reuniões; ver vingar as suas propostas
etc.), terão tendência para se tornarem menos reagentes. Por outro lado,
ao existir legislação clara, para todos cumprirem, a população sentirá
menos injustiça. De referir, que esta situação aplica-se não só aos re-
sidentes, como também aos empresários do Centro Histórico (ex.: re-
gulamentação das placas publicitárias, da ocupação da via pública, da
emissão de música ou de ruídos, etc.).
Medida 2.4 – Remodelação/Dinamização urbanística do CH
Apesar de, através do Programa das Aldeias Históricas, se ter contri-
buído bastante para a melhoria da imagem do Centro Histórico, esta
medida servirá, ainda, não apenas para recuperar algumas áreas ou edi-
fícios que apresentam algum estado de degradação, como também para
melhorar a funcionalidade do próprio Centro Histórico, de modo a que
as suas potencialidades possam ser exploradas da melhor forma.
343
Measure 2.3 – Creation of legislative mechanisms to the Historic
Centre intervention
This measure aims to standardize the interventions to be implemented
in the Historic Center, creating clear rules that are easily assimilated
and accepted by the local population.
In this context, it is important to dialogue with the residents of the his-
toric center, so that they understand the reason for the existence of a
mechanism of regulation and technical support, showing that the pres-
ervation and innovation/ comfort can coexist, provided that the pro-
posed interventions present some quality. This will be one of the most
problematic areas and where it will be very important, the existence of
a link between the technicians and the people, conveying to the resi-
dents the reason behind the need for some technical restrictions and,
secondly, to also provide some technical of ideas and aspirations of the
people.
The key challenge, within a process of change, is to involve all actors in
this process, the extent to which people that feel involved in the change
(for example, they have the opportunity to express opinions, participate
in meetings, see their proposals come to life,…), will tend to become
less reactive. Furthermore, the existence of clear legislation, that every-
one should accomplish, will make people feel less injustice. One should
refer that this applies not only to residents but also to entrepreneurs
within the Historic Center (eg, regulation regarding advertising signs,
occupation of public roads, production of music and noise, etc.).
Measure 2.4 – Urban Remodeling/Promotion of the Historic Centre
Although, through the Program of the Historic Villages, a large contri-
bution was made towards the improvement of the image of the Historic
Center, this measure will be used not only to recover some areas or
buildings that are somewhat degraded, but also to improve the func-
tionality of the actual Historic Centre, so that their potential can be best
exploited.
Measure 2. 5 – To propose uses and interventions for different spac-
es within the Historic Centre
This measure serves to suggest new features for the different spaces
within the Historic Center of Almeida. Along with the new features, the
necessary interventions will also be offered. Thus, some road improve-
ment works, facilities and tree plantation could be proposed for some
areas, which may also have consequences in the planning of traffic and
even new “cores” within the actual Center.
Measure 2. 6 – To try to answer the situation of urban degradation
demanding an urgent intervention
Intervention actions to find solutions and correct the highly degraded
areas of the Historic Center is required. This involves contacting the
owners to find possible solutions, including the ways to finance support
to the reconstruction for owners who have economic difficulties.
Measure 2.7 – To adequate road traffic to new functions
As indicated, the urban redesign may have consequences on the road traffic
planning. However, in any form, some actions will have to be taken regard-
ing motor traffic within the Historic Center. With the increase of the motori-
Medida 2.5 – Propor usos e respectivas intervenções para os dife-
rentes espaços do Centro Histórico
Esta medida tem como objectivo sugerir novas funcionalidades para os
diferentes espaços no Centro Histórico de Almeida. A par com as novas
funcionalidades serão propostas as respectivas intervenções necessá-
rias. Assim, poderão ser propostas repavimentações, equipamentos e
arborizações, para algumas áreas, também podendo haver consequên-
cias ao nível do ordenamento do trânsito e, ainda novas “centralidades”
dentro do próprio Centro.
Medida 2.6 – Procurar dar resposta aos casos de degradação urba-
nística que necessitem de uma intervenção urgente
Definir acções de intervenção que permitam corrigir e encontrar solu-
ções para as áreas do Centro Histórico bastante degradadas. Esta medi-
da pressupõe um contacto com os proprietários com vista a encontrar
soluções possíveis, nomeadamente encontrar formas de financiamento
ou de apoio à remodelação para os proprietários que apresentem difi-
culdades económicas.
Medida 2.7 – Adequar o ordenamento do trânsito a uma nova fun-
cionalidade
Tal como já foi referido, a remodelação urbanística poderá ter conse-
quências no ordenamento do trânsito. Contudo, de qualquer forma, ter-
se-ão que tomar algumas medidas relativamente à circulação automóvel
no Centro Histórico. Com o aumento da taxa de motorização, a situação
no Centro poderá complicar-se. É urgente que se delimitem as áreas
destinadas a estacionamento, de forma a que não haja um envolvimento
constante entre pessoas e veículos quer em circulação quer em estacio-
namento desordenado. Por outro lado, esta medida pretende incentivar
as pessoas a andar mais a pé pelo Centro Histórico, usufruindo mais
das suas características urbanísticas e arquitectónicas e beneficiando a
sua saúde.
Medida 2.8 – Criar zonas de estacionamento adjacentes ao CH
No sentido de tornar viável alguns condicionamentos da circulação au-
tomóvel no Centro Histórico, há que criar primeiro zonas de estaciona-
mento adjacentes à área, onde as pessoas possam deixar o carro para
assim circularem pedonalmente. Um exemplo de uma acção dentro des-
ta medida é o arranjo urbanístico proposto para a zona do Hospital de
Sangue, que além de se destinar a uma zona de estacionamento, servirá
também como espaço de lazer (espaço de realização de festas e feiras) e
de descanso para os grupos de turistas que visitam a Vila.
Contudo, as áreas de estacionamento deverão situar-se em pontos es-
tratégicos, que permitam/obriguem as pessoas a circular a pé nas ruas
onde existem estabelecimentos comerciais, de modo a beneficiar (e não
a prejudicar) a actividade comercial.
Medida 2.9 – Proporcionar funcionalidade, lúdica ou outra, aos es-
paços ou edifícios de interesse histórico e patrimonial;
Neste âmbito, pelas análises efectuadas junto da população residente,
verifica-se uma maior valorização ao nível das recuperações quando
estas apresentam um fim/objectivo específico. Tomando como exemplo
a recuperação do picadeiro, frequentemente era colocada em causa a
zation rate, the situation could become very complicated. It is urgent to define
the parking areas, so that there is a constant engagement between people and
vehicles, whether these are circulating and disorderly parked. Moreover, this
measure aims to encourage people to walk more in the Historic Center, en-
joying its urban and architectonical features and improving their health.
Measure 2.8 – To create parking areas near the Historic Centre
To enable some constraints on car traffic within the Historic Center, we
must first create adjacent parking areas to the area, where people can
leave the car and engage in a walk. An example of an action within this
measure is the urban arrangement proposed for the area of the Hospital
de Sangue, which will be destined to a parking area that will also serve
as recreational space (space for the organization of festivals and fairs)
and a resting area for groups of tourists who visit the Village.
However, the areas for parking must be located in strategic points, al-
lowing / requiring people to travel on foot in the streets with shops, in a
way to benefit (and not to harm) business activities.
Measure 2.9 – To provide a recreational or other functionality to
areas the or buildings of historic and heritage interest;
In this context, according to the analysis made near the resident popula-
tion, there is greater appreciation of rehabilitations when these have a
purpose / specific objective. Taking the recovery of the riding arena as
an example, the profitability of the investment made there was often
questioned, so after its opening and operation, its recovery could finally
be appreciated. In addition, it appears that restored public spaces and
buildings that have a historic and architectural interest have a higher
demand when they have active roles. If empty, these spaces quickly
became degraded. Some examples of this change include the Doors of
Santo António, the Casemates and the Gunpowder store.
Measure 2.10 – To implement measures sustaining the desertifica-
tion of buildings within the Historic Center
This measure is quite important in order to stop the ruin of the Historic
Center. This area is undermined by the fact that there are many buildings
acting as second homes, with occupancy only during the vacations. This
is negatively reflected in the Historic Center, as some streets are virtually
desert and, on the other hand, who really wants to live permanently in the
Historical Center has some difficulty in finding accommodation available.
Measure 2.11 – To implement measures preventing land specula-
tion within the Historic Centre
Considering what was previously mentioned, although the price of prop-
erty has increased, there is a great interest in purchasing property in the
Historic Center. Typically, the property remains vacant until the owner
decides to rehabilitate it only to occupy it for 15 or 30 days per year or
it remains vacant until the owner sells at a much higher price. Most resi-
dents of the village still prefer building and residing outside the walls.
Measure 2.12 – To maintain the balance between different func-
tions or uses given to buildings
This measure aims to maintain the balance between the different oc-
cupations of buildings, meaning, to prevent the excessive tertiarization
344
rentabilidade do investimento aí realizado, pelo que após a sua abertura
e funcionamento, a sua recuperação é mais valorizada. Por outro lado,
também se verifica que os espaços e edifícios públicos recuperados com
interesse histórico e arquitectónico têm maior procura quando assumem
funções activas. Enquanto devolutos estes espaços rapidamente voltam
a degradar-se. Alguns exemplos desta mudança são as Portas de Stº
António, as Casamatas e o Paiol da Pólvora.
Medida 2.10 – Implementar medidas que sustenham a desertifica-
ção de edifícios no Centro Histórico
Esta medida é importante, no sentido de travar a desvitalização do Cen-
tro Histórico. Esta área é prejudicada pelo facto de se verificarem mui-
tos edifícios de segunda residência, com ocupação, apenas, para férias.
Esta situação reflecte-se negativamente no Centro Histórico, uma vez
que se encontram algumas ruas quase sem residentes e, por outro lado,
quem quer realmente viver, permanentemente, no Centro Histórico tem
alguma dificuldade em encontrar um alojamento disponível.
Medida 2.11 – Implementar medidas que impeçam especulação
imobiliária no Centro Histórico
Decorrendo do anteriormente referido, embora o preço dos imóveis
tenha subido, verifica-se grande interesse na aquisição de imóveis no
Centro Histórico. Normalmente, o imóvel adquirido acaba por ficar de-
voluto até o proprietário decidir recuperá-lo para o ocupar só 15 ou 30
dias por ano ou fica devoluto até o proprietário o conseguir vender por
um preço bastante mais elevado do que o comprou. A maioria dos resi-
dentes da Vila ainda prefere construir e residir extra-muros.
Medida 2.12 – Manter o equilíbrio entre as diferentes funções ou
usos a proporcionar aos edifícios
Esta medida tem como objectivo manter o equilíbrio entre as diferen-
tes ocupações dos edifícios, ou seja, impedir a excessiva terciarização
do Centro Histórico, com diminuição significativa da área residencial,
originando a desertificação da zona fora dos horários de funcionamento
dos estabelecimentos comerciais, o que, por sua vez, se traduz na sen-
sação de insegurança nos períodos nocturnos.
Por outro lado, há também que manter o Centro Histórico como zona
privilegiada de comércio e serviços, com o ambiente típico de uma sede
de concelho, onde se verifica a afluência dos residentes das localidades
limítrofes. Por conseguinte, o objectivo desta medida é de que o Cen-
tro Histórico mantenha o equilíbrio entre a função residencial, terciária
(comércio e serviços) e de lazer, de modo a manter-se permanentemente
vivo e dinâmico.
Medida 2.13 – Remodelação da iluminação pública no CH
No seguimento das medidas anteriores, esta medida é muito importan-
te, uma vez que a iluminação pública do Centro Histórico necessita
de uma remodelação. Neste momento, as luminárias encontram-se em
mau estado de conservação, na medida em que algumas já não têm
lâmpadas e onde a estrutura de vidro já partiu e caiu, outras por seu
lado, encontram-se em risco de cair, traduzindo alguma insegurança
para a população. A melhoria da iluminação traduzir-se-á num aumento
considerável da atractividade do Centro Histórico. Por outro lado, será
345
of the Historic Center, with a significant decline of residential areas,
causing the area to become deserted after the working hours, which in
turn, is reflected on the feeling of insecurity at night.
Furthermore, we must maintain the Historical Center as privileged area
of trade and services, with the typical environment of the council’s main
city, where we can see the influx of residents from neighboring towns.
Therefore, the objective of this measure is that the History Center main-
tains a balance between the residential, tertiary (trade and services) and
leisure functions, so as to remain always alive and dynamic.
Measure 2.13 – Remodeling of street lightning on the Historic Centre
Following the previous measures, this measure is very important, since
the lighting of the historic center needs a renovation. At the moment, the
lamps are in a bad state of conservation, in that some have no bulbs and
where the structure of glass already broke and fell, others, for their part,
are at risk of falling, which is somewhat dangerous for the population. An
improved lighting will be translated into a considerable increase in the at-
tractiveness of the Historical Center. On the other hand, a continuity will
be provided to the work of scenic lighting developed on Walls.
Measure 2.14 – Remodeling of the Pavement
The pavement’s recovery in some areas of the Historic Center is also need-
ed in order to promote pedestrian comfortable movement. Within the scope
of survey made by questionnaire, people often referred this measure, being
Rua da Muralha one of the most referred for the irregularity of the pave-
ment. Moreover, there are other spaces where the floor must be renovated
to enhance recreational activities (eg, Praça Dr. Casimiro Matias).
Measure 2.15 – Conservation, Maintenance and permanent Clean-
ing of the Fortress Masonary
Being the Wall the main point of tourist attraction in town, for its specific
architectural and historical features and for its classification as National
Heritage, its ongoing maintenance is essential. So, as we have previ-
ously seen, this is an issue highly requested by the village’s residents,
who rightly claim for a better maintenance. Moreover, in addition to
cleaning, on some points, the wall needs some conservation work.
Measure 2.16 – Definition of walking and biking paths/circuits
This measure also falls under the classification of the area, which is al-
ready mentioned in other previous measures and which is related with
the existence of spaces solely intended for pedestrians, so that people can
enjoy the best of this delightful area that is the Historic Center. In this
context, the definition and structuring of cycling circuit infrastructures is
also a measure of continuity / compatibility with the walkways.
Axis 3 – Economic development and tourism exploitation
Measure 3.1 – Bigger Promotion of the Council/Village/Historic
Centre on a national level
The urban and architectural quality of the Historic Center of Almeida,
particularly due to very specific characteristics of its Wall, classified as
National Heritage, is an argument of first importance in transforming
Almeida in a place of tourist attraction.
proporcionada uma continuidade ao trabalho de iluminação cénica de-
senvolvido nas Muralhas.
Medida 2.14 – Remodelação de Pavimentos
A recuperação do pavimento em alguns espaços do Centro Histórico é
necessária também como forma de promover a circulação pedonal em
condições de conforto. No âmbito da aplicação do inquérito por ques-
tionário, a população referiu com frequência esta medida, sendo a Rua
da Muralha a mais referida pela irregularidade do pavimento. Por outro
lado, existem outros espaços onde o pavimento deveria ser remodelado,
para potenciar actividades lúdicas (ex.: a Praça Dr. Casimiro Matias).
Medida 2.15 – Conservação, Manutenção e Limpeza permanente
da Muralha
Representando a Muralha o principal ponto de atractividade turística
da Vila, pelas suas características arquitectónicas e históricas particu-
lares e como Monumento Classificado como Património Nacional, a
sua manutenção permanente é indispensável. Assim, como já pudemos
anteriormente verificar, esta é uma questão bastante referida pelos re-
sidentes da Vila que reclamam, justamente, uma melhor manutenção.
Por outro lado, além da limpeza, em alguns pontos precisa de algumas
obras de conservação.
Medida 2.16 – Definição de percursos / circuitos pedonais e de bicicleta
Esta medida também se insere no âmbito da qualificação da área, ou
seja, já foi referido em outras medidas anteriores que a existência de
espaços destinados exclusivamente a peões é muito importante, de for-
ma a que as pessoas possam usufruir da melhor forma deste espaço
aprazível que é o Centro Histórico. Neste âmbito, também a definição e
infra-estruturação de circuitos para bicicleta será uma medida de conti-
nuidade/compatibilidade com os percursos pedonais.
Eixo 3 – Desenvolvimento económico e exploração do turismo
Medida 3.1 – Maior divulgação do Concelho / Vila / Centro Histó-
rico a nível nacional
A qualidade urbanística e arquitectónica do Centro Histórico de Almeida,
nomeadamente pelas características muito particulares da sua Muralha,
classificada como património nacional, é um argumento de primeira im-
portância na transformação de Almeida num local de atracção turística.
A sua divulgação é um ponto crucial para uma correcta exploração des-
te sítio.
Sendo o turismo uma actividade económica de primordial interesse
para o futuro, importa elaborar para Almeida um estudo da viabilida-
de turística.
Importa conhecer, com objectividade, as potencialidades que se podem
mobilizar, estudar o perfil de turistas que se pretende captar, desenvol-
ver um plano de comunicação que permita divulgar Almeida nos meios
capazes de promover fluxos.
Tratando-se, essencialmente de turismo cultural e turismo de natureza,
importa definir objectivos quanto á qualidade do turismo que se deve
incentivar e daquele que se deve evitar.
Its promotion is a crucial point for the correct exploitation of this site.
Being tourism an economic activity of primary interest for the future, it
is important to elaborate a study of touristic viability for Almeida.
It is important to know with objectivity the potential that can be mo-
bilized, to study the profile of the tourists who we want to attract, to
develop a communication plan that allows promoting Almeida near the
means capable of promoting,fluxes.
This is essentially cultural tourism and nature tourism, and, therefore, it
is important to define targets as to the quality of tourism that should be
encouraged and that one that should be avoided.
The transformation of a natural and heritage resource into a tourist resort
requires safeguarding the heritage being used. It is known that mass tour-
ism can become (and often is) an active predator that, little by little, de-
stroys the reason behind the travel and the stay. This risk requires preven-
tive measures and a proper targeting of campaigns to conquer markets.
An important aspect of the study to be conducted will be the annual
programming of events that can give visibility to the site and the region,
and at the same time, allow to tourist to stay for longer periods.
This study should be associated to a diagnosis on the current and poten-
tial lodging capacity.
From the start, lodging should be considered a priority, particularly the
one recovery and using the existing constructions instead of the con-
struction of new equipments.
It is important to organize a diffuse network of lodging, to be created on
buildings available on the village inside the walls, with a single reserva-
tion central, also with a single support service, which could emphasize
small and medium initiatives of lodging promotions.
From the rental of small apartments to the “bed and breakfast” sets and
even small hotels, which, by themselves, would find it very difficult
to find viability, whether by the size of the buildings or the investment
volume; when put together, these may well serve as a powerful offer,
capable of producing “quality” and to reach demand segments of great
interest and, eventually, inaccessible if each service tries to achieve the
same service levels on its own.
Measure 3.2 – Specialized technicians guiding tourists
This measure is extremely important as a means to have the tourists ex-
ploring the best attractions within the Historic Center. In implementing the
survey by questionnaire prepared by GTL, the population actually referred
this particular question, saying that tourists often find themselves more or
less “lost” in the Historic Center. Thus, the existence of technical expert
staff is necessary to provide guidance and meaning to the visiting people.
Measure 3.3 – Opening to the public
The tourist operation of an asset such as the fortress and the village of
Almeida does not appear spontaneously. In the competitive world that
is the market of tourist destinations, Almeida will only “enter the map”
when it is able to transform an asset that today has nothing more than
development potential into a business.
The challenge is, especially, understanding and deploying their peo-
ple to seize the opportunity that can transform their land into a site,
very different from others. This is an important front of the project of
change.
346
A transformação de um recurso patrimonial e natural em recurso turís-
tico pressupõe a salvaguarda do bem patrimonial que é usado. É sabido
que o turismo de massas pode transformar-se (e por vezes acontece)
numa actividade predadora que, pouco a pouco vai destruindo a razão
de ser da deslocação e da permanência. Este risco obriga a medidas pre-
ventivas e a um correcto direccionamento das campanhas de conquista
de mercados.
Um aspecto importante do estudo a realizar será o de uma programação
anual de eventos que consiga dar visibilidade ao sítio e á região, e, ao
mesmo tempo, permita fixar por mais tempo o turista.
Associado a este estudo deve estar um diagnóstico da capacidade de
alojamento actual e potencial.
Desde já fica a recomendação de conferir prioridade ao alojamento que
recupere e aproveite o edificado existente, preferencialmente á constru-
ção de novos equipamentos.
É importante a organização de uma rede de alojamento difusa, a criar
nas construções disponíveis da vila intramuros, com uma central de re-
servas única, com um serviço de apoio também único, que possa dar
escala a pequenas e médias iniciativas de promoção hoteleira.
Desde o aluguer de pequenos apartamentos até aos conjuntos de “bed
and breakfast”, e mesmo pequenos hotéis, que, por si sós dificilmente
encontrariam escala viável, quer pela dimensão das construções quer
pelo volume dos investimentos, poderão assim funcionar como uma
potente oferta, capaz de produzir “qualidade” e de atingir segmentos da
procura de grande interesse e, eventualmente, inacessíveis se cada um
por si tentasse chegar aos mesmos patamares de serviço.
Medida 3.2 – Maior acompanhamento dos turistas por técnicos es-
pecializados: roteiros pré-definidos
Esta medida é extremamente importante como meio de os turistas ex-
plorarem da melhor forma os pontos de atracção turística do Centro
Histórico. Quando da aplicação dos inquéritos por questionário elabo-
rados pelo GTL, a própria população referiu esta questão, dizendo que é
frequente encontrarem-se turistas mais ou menos “perdidos” no Centro
Histórico. Assim, é necessário a existência de técnicos especializados
que orientem e dêem sentido ao que se está a visitar.
Medida 3.3 – Abertura ao público
A exploração turística de um bem como a fortaleza e a vila de Almeida
não se desenvolve espontaneamente. No mundo competitivo que é o
mercado dos destinos turísticos, Almeida só “entrará no mapa” quando
souber transformar em negocio um bem que hoje é apenas um potencial
de desenvolvimento.
O desafio passa, sobretudo pela compreensão e mobilização da sua gen-
te para a oportunidade que pode agarrar de transformar a sua terra num
sítio diferente dos outros. Esta é uma importante frente do projecto de
mudança.
Almeida, como estrela de paz, tem de se abrir, mas não basta abrir as
três portas da fortaleza. Importa é abrir os espaços que a fortaleza con-
tem como as casamatas e o seu museu, o picadeiro e o seu restaurante,
o centro de investigação e os outros locais públicos de interesse.
Mas os locais públicos, só por si, não são suficientes para fixar o turista,
o reter e o fazer voltar.
347
Almeida, as a star of peace, must be opened, but it is not enough only
to open the three doors of the fortress. It is important to open the spaces
that the fortress holds, such as the casemates and their museum, the
Riding arena and its restaurant, the investigation centre and other public
interest sites.
But public locations alone do not suffice to fixate the tourist, to retain
him/her and to make him/her return.
It is necessary to open most of the three hundred houses of Almeida!
Lodging, restaurants, trading, crafts, culture, hospitality must all be of-
fered to tourists so that them provides to Almeida the resources that
fortress, the village and the residents need to maintain and to develop.
It is not enough to simply open the doors of the walls and of the houses
if their hearts aren’t also opened to welcome strangers, people from
other languages, people of other tastes, people of other habits, other
religions, people may even conflict with some of the peacefulness of
the quiet current village.
This change is fundamental to the transformation of the sustainability of
the whole community that has depended on a military garrison, which
has depended on a rural economy, which has depended on a border and
which now sees its paradigm changed, because the border is over, farm-
ing is not enough to make a living, the garrison no longer has a reason
to exist. For its part industrialization is also not a viable and desirable
approach, with sufficient scale to generate employment and product.
Thus, tourism seems to be the economic activity that might be associ-
ated with the heritage and generate income and well-being in Almeida’s
future.
For that, their people must want it, not as a gift that someone would
miraculously bring from some place and for some reason, but rather as
the risk everyone has got to materialize by adapting proprieties, streets,
shops, costumes and energies.
Each resident has to be a guide for the new tourist who arrives. Each
resident should be trained on the history of the fortress, of the town
and of the region, in their deeds and in their stories. Each resident must
progress in learning the most common languages and in knowing the
cultures which provide the tourists.
The inhabitants of Almeida have to assume themselves as heritage of
this land and of this fortress, as descendants, the heroes who built the
fortress and defended it. With this role, of respect for the past such
of those venerable people that left us with this wonderful legacy, the
inhabitants of the village inside the walls (especially those) take on a
decisive importance for the success of a tourism project with scale and
economic ambition.
The tourist quickly says goodbye if he/she comes to Almeida to admire
the magnificent stones of the fortress. Half a day is enough to see, pho-
tograph, and produce some exclamations of surprise, some comparisons
with other things he/she already saw, “here” or “abroad”.
But if the tourists finds an open door open and someone with the desire
to welcome him/her, who tells the story of the site and the events of
past wars, of life in peace and who explains the gastronomy and the
landscape that produces it, if he/she feels the smell and taste of local
products, if he/she understands the archaeological and architectural sur-
prises, not taken from expert work, that is for books and lectures, but by
voice and the feelings of those who live within the monument, by birth
É necessário abrir grande parte das trezentas casas de Almeida! Aloja-
mento, restauração, comércio, artesanato, cultura, hospitalidade têm de
ser oferecidos ao turista para que ele ofereça a Almeida os recursos que
a fortaleza, a vila e os seus habitantes necessitam para se manterem e
para se desenvolverem.
Não basta abrir as portas das muralhas e das casas se não forem também
abertos os corações para acolher estranhos, gente de outras línguas, gente
de outros gostos, gente de outros hábitos, de outras religiões, gente que
pode, até, colidir com alguma da pacatez da vila parada que é a de hoje.
Esta mudança é fundamental para a transformação da sustentabilidade
de toda a comunidade que já dependeu de uma guarnição militar, que já
dependeu de uma economia agrária, que já dependeu de uma fronteira
e que, agora, vê mudado o seu paradigma porque a fronteira acabou, a
agricultura de subsistência é insuficiente, a guarnição já não tem razão
de existir. Por seu lado a industrialização não é, também, a perspectiva
viável e desejável, com escala suficiente para gerar emprego e produto.
O turismo aparece, assim, como actividade económica que pode associar-
se ao património e gerar riqueza e bem estar no futuro de Almeida.
Para isso é necessário que as suas gentes o queiram, não como dádiva,
que alguém vai trazer, milagrosamente, sabe-se lá de onde e porquê, mas
como aposta que cada um tem de materializar adaptando as suas proprie-
dades, as suas ruas, as suas lojas e os seus hábitos e as suas energias.
Cada habitante tem de ser um guia para o novo turista que chega. Cada
habitante deve ser instruído na história da fortaleza, da vila e da região,
nos seus feitos e nas suas estórias. Cada habitante deve progredir na
aprendizagem das línguas mais frequentes e no conhecimento das cul-
turas de origem dos turistas que mais aparecem.
Os habitantes de Almeida terão, eles próprios, que se assumir como
património desta terra e desta fortaleza, como descendentes, que são,
dos heróis que construíram a fortaleza e a defenderam. Nesse papel, de
respeito pelo passado dessa gente venerável que nos legou esta herança
magnífica, os habitantes da vila intramuros (sobretudo esses) assumem
uma importância determinante para o sucesso de um projecto turístico
com escala e com ambição económica.
Rapidamente o turista se despede se vier a Almeida admirar as magní-
ficas pedras da fortaleza. Meio dia chega para ver, fotografar, produzir
algumas exclamações de espanto, algumas comparações com outras
coisas que já viu, “cá” ou “lá fora”.
Mas, se o turista encontrar uma porta aberta e alguém que o quer rece-
ber e que lhe conta a história da terra e os acontecimentos das guerras
passadas e da vida da paz dos tempos que passam, e lhe é explicada a
gastronomia e a paisagem que a produz, se sentir os odores e os sabores
dos produtos da terra, se entender a arqueologia e os sobressaltos da
arquitectura, não pelas palavras do especialista, que isso fica para os
livros e para as conferencias, mas pela voz, e pelos sentimentos, de
quem vive dentro do monumento, por nascimento ou por opção, então o
turista fica um dia, fica mais, e se, desta vez, não pode, regressará.
Converter cada habitante num guia pode parecer um exagero, e obviamente
que não é princípio para ser tomado “á letra”, mas será o caminho mais
sólido para o sucesso. Se não forem todos mas só alguns a falar línguas, se
não forem todos a saber toda a história e a conhecer todo o monumento,
mas se alguns que conhecem mais e melhor ajudarem os menos equipados
ou os menos disponíveis, haverá, ainda assim, uma excelente capacidade
or by choice, then the tourist lingers on a day or longer and if that is not
possible, he/she will return.
To convert each inhabitant into a guide may seem an exaggeration, and
of course it is to be literally, but this will be the most robust way to
success. Not everyone needs to speak a foreign language, but if some
people speak foreign language and if some know more and better about
the monument (and these could later assist the less equipped or the less
available), an excellent response capacity will take place so that the
tourist feels at Almeida a warm welcome, the willingness to come back
and the urge to recommend to others that Almeida is an unforgettable
star on the remote places of the Portuguese/Castilian border.
This implies, before all else, a permanent communication “towards with-
in” that should take place alongside the communication “towards outside”
that must be directed for the markets that are the home of the tourists.
A training course on languages, on gastronomy, on local (and national)
history, on art and heritage, directed, above all else, to the youngsters
that should remain in the village, but that should be opened to everyone
interested. This will be a different initiative, even urgent, if Almeida is
to be developed as a touristic product.
Measure 3.4 – To increase the duration of tourists’ stays
In order to retain tourists for longer periods is not enough, of course, to
offer them a captivating hospitality. It is necessary to create animation
and activities programs that relate them to the site.
Almeida is not a tourist destination, and it does not even have the scale
and strength to become a tourist destination. Therefore, it is important
that it falls on thematic routes such as the ones of the castles, of the
forts, of the horses, of the thermal waters, of the nature, and so on, also
associating it with the Palaeolithic circuit of Côa’s Valley.
These themes already have infrastructure, such as with the military mu-
seum, the Riding arena and the spa.
In order to diversify and multiply the motives of interest, it is important
to invest on gastronomy, on wildlife, on golfing, on extreme sports, on
gaming, on regional wines, folklore, music, on the history of the pres-
ence of Sefarad Jews, so important for this frontier, among other themes
which might be developed under a touristic plan.
Increasingly, the tourist will transform from mere spectator into a par-
ticipant, an actor, a living agent on the activities that are offered. Today,
the “cultural tourists” seeks to be integrated on the events, to perform
the tasks taught by artisans, rehearse music with the musicians and the
instruments of the land visited, to learn gastronomy by taking place in
cooking events, playing with locals.
This active tourism is much stronger than the mere display of monu-
ments by promoting, on the local population, a rich exchange of sat-
isfaction and a greater ability to connect with foreigners that visit us,
who comes as an indefinite figure and who leaves with a name and
exchanged contacts, so that the bounds gained with the exchange of
knowledge and experiences are not broken.
Golfing may find in Almeida a unique setting, taking advantage of the
green landscape of esplanades, of ravelins and ditches of the fortress.
This is golden lining that should be explored in detail, with increased
cares and the assembly of complex partnerships, taking time it takes to
go from idea to project and from project to reality.
348
de resposta para que o turista sinta em Almeida o afecto de ser bem-vindo,
a vontade de voltar e o impulso de recomendar a outros que Almeida é uma
estrela imperdível nos confins da raia seca entre Portugal e Castela.
Isto implica, antes de mais, uma permanente comunicação “para dentro”
que terá de decorrer a par da comunicação “para fora” que tem de ser feita
dirigida aos “mercados” de origem dos turistas que se pretende captar.
Um programa de formação local em línguas, em gastronomia, em histó-
ria local (e nacional) em arte e património, dirigida, acima de tudo, aos
jovens que se pretende fixar, mas generalizável a todos os interessados
da vila, será uma iniciativa pertinente, e até urgente, se se quer desen-
volver Almeida como produto turístico.
Medida 3.4 – Aumento do tempo de permanência dos turistas
Para reter os turistas por períodos mais prolongados, não basta, obvia-
mente, oferecer-lhes uma hospitalidade cativante. É necessário criar
programas de animação e de actividade que os prendam ao sítio.
Não sendo Almeida um destino turístico, e não tendo sequer escala e força
para se transformar em destino turístico, importa que se insira em rotas temá-
ticas como a dos castelos, a das fortalezas, a dos cavalos, a das águas termais,
a da natureza, associando-se também á do paleolítico do Vale do Côa.
Tudo isto são temas já infra-estruturados, contando com o museu mili-
tar, o picadeiro e as termas.
Para diversificar e multiplicar os motivos de interesse importa apostar
na gastronomia, na vida selvagem, no golfe, nos desportos radicais, na
caça, nos vinhos regionais, no folclore, na música, na história da pre-
sença sefardita, tão importante nesta fronteira, entre outros temas que
um plano turístico deve desenvolver.
Cada vez mais o turista se vai transformando de mero espectador para
ser um participante, um actor, um agente vivo das actividades que lhe
são proporcionadas. Hoje o “turista cultural” procura integrar-se nos
eventos, executar tarefas que lhe ensinam os artesãos, ensaiar músi-
ca com os músicos e os instrumentos das terras visitadas, aprender a
gastronomia participando em acontecimentos culinários, jogando em
conjunto com os praticantes locais.
Este turismo activo é mais sólido do que o simples mostrar dos monu-
mentos, promovendo, na população local, um enriquecedor intercâm-
bio de satisfação e uma capacidade acrescida para se ligar ao estranho
que nos visita, que chega como figura indefinida e que parte com nome
e com troca de contactos para que não se perca o laço ganho na permuta
de saberes e experiências.
O golfe poderá encontrar em Almeida um cenário único, tirando partido
da paisagem verde das esplanadas, dos revelins e dos fossos da forta-
leza. Esse será um filão a explorar com detalhe, cuidados redobrados e
montagem de parcerias complexas, levando tempo que tiver que levar
para passar de ideia a projecto e de projecto a realidade.
Medida 3.5 – Exploração turística de áreas exteriores ao CH
O desenvolvimento turístico fora do Centro Histórico, com territórios
diversificados como as margens do Rio Côa irá reflectir-se positiva-
mente na afluência de pessoas, trazendo desenvolvimento à vila, ao
centro histórico, á fortaleza e ao concelho.
A rede de interesses, capaz de trazer, reter e fazer voltar os turistas tem
de diversificar as motivações e de fortalecer os programas e eventos
349
Measure 3.5 – Touristic Exploitation of external areas of the His-
toric Centre
The touristic development outside the historic center, with diverse areas as
Rio Côa’s banks will be positively reflected on the influx of people, bringing
evolution to the village, the historic center, the fortress and the council.
The network of interests, able to bring, retain and make tourists return
has to diversify motivations and to strengthen the programs and events
with creativity and innovation. If heritage revolves around the concept
of an “immutable” good, the animation that supports that same herit-
age must be constantly renewed and recreated, avoiding “apathy” and
“surfeit” of those who want to see more and more.
Almeida, as a tourism product, will always have the fortress as a refer-
ence, but it cannot only offer a repetition of the fortress. This statement
forces us to consider wider territories, castles and other villages, other
landscapes, other heritages that have to become a network to defend
the common interest of mutual benefit.
That network has to be carefully studied and built.
Measure 3.6 – Products that meet the touristic demand
Another measure to consider in terms of tourist activity is the provision
of traditional products in the Village, mainly arts and crafts. Almeida is
a historic town, but we cannot find, however, one single establishment
of regional crafts. Even the marketing of regional products is uncom-
mon. Most establishments within the Historic Center only sell essential
goods, which do not meet the tourist demand. Traditional products can
be occasionally found in some exhibitions and fairs.
To exploit the artifacts connected with the French Invasions might be
another economically relevant line for local crafts and commerce.
Measure 3.7 – Preservation and regeneration of traditions
Festivals and fairs should be preserved. Today, these events are still impor-
tant contributions to the economy of the region, bringing to the town, in the
case of fairs, twice a month, a diverse range of products. Besides products,
fairs bring many people from neighboring towns and therein lies its primary
importance, since they have positive consequences on the socio-economic
dynamics of Almeida. The same happens during the celebrations. These
events bring the largest number of people to the village. For this reason,
these events, among others, should be preserved and promoted.
Measure 3. 8 – Regional traditional gastronomy
There isn’t a single restaurant with a traditional ambience, both on the village
and on the Historic Centre, serving picturesque food (embutidos and buchos).
The restaurants on the village and Historic Centre serve common meals (ex-
cept rare cases) and are essentially dedicated to those who work on the village
(public servants and other professionals) and are not tourism-oriented.
This redirection will have to be done, but it will only happen if the
number of tourists can be justifiable.
Here there is an issue that is crucial for development: to know where to
begin to reverse the vicious cycle of depression and to move towards a
spiral of positive pressure.
If there aren’t any restaurants, there aren’t any tourists, but if there
aren’t any tourists, no restaurants will exist. This is the problem faced
by those who want to break the cycle.
com criatividade e inovação. Se o património gira em torno de um con-
ceito de bem “imutável”, já a animação que esse património suporta
terá de ser permanentemente renovada e recriada, evitando o “fastio” e
o “enfartamento” de quem quer ver cada vez mais.
Almeida, como produto turístico terá sempre a fortaleza como referên-
cia, mas não pode oferecer apenas a repetição da fortaleza. É esse im-
perativo que obriga a considerar territórios mais vastos, outros castelos
e aldeias, outras paisagens, outros patrimónios que têm de constituir-se
em rede para defesa do interesse comum da vantagem mútua.
Essa rede tem de ser detalhadamente estudada e construída.
Medida 3.6 – Produtos que vão de encontro à procura turística
Outra medida a considerar no plano da actividade turística, é a oferta de
produtos tradicionais na Vila, essencialmente artesanato. Sendo Almei-
da uma vila histórica, não se encontra, no entanto, a existência de um
único estabelecimento de artesanato regional. Mesmo a comercializa-
ção isolada de produtos regionais é pouco frequente. Grande parte dos
estabelecimentos do Centro Histórico comercializam apenas produtos
de primeira necessidade que não dão resposta à procura turística. Os
produtos tradicionais surgem, pontualmente, em algumas feiras.
Explorar os artefactos relacionados com as invasões francesas poderá
ser uma outra fileira com interesse económico para o artesanato e para
o comercio locais.
Medida 3.7 – Conservação e revitalização de usos e costumes
Festas e feiras devem ser preservadas. Actualmente, estes aconteci-
mentos ainda são contributos importantes para a economia da Região,
trazendo à Vila, no caso das feiras, duas vezes por mês, um conjunto
diversificado de produtos. Além dos produtos, as feiras trazem muitas
pessoas das localidades limítrofes e é aqui que reside a sua principal
importância uma vez que se reflecte positivamente na dinâmica socio-
económica de Almeida. O mesmo acontece nos períodos de festa. Es-
tes são os dois acontecimentos que maior número de pessoas trazem à
Vila. Por isso, estes eventos, entre outros, não só devem ser preservados
como promovidos.
Medida 3.8 – Gastronomia tradicional da região
Não existe na Vila e, principalmente no Centro Histórico, um só restau-
rante com ambiente tradicional, ou seja, com comida típica (os enchi-
dos e buchos). Os restaurantes da Vila e Centro Histórico servem pratos
comuns (salvo raras excepções) e destinam-se essencialmente às pesso-
as que trabalham na Vila (funcionários públicos e outros profissionais)
não se encontrando vocacionados para o turismo.
Este redireccionamento terá de ser feito, mas só acontecerá se o número
de turistas o justificar.
Aqui levanta-se uma questão determinante do desenvolvimento que é
saber por onde começar para inverter o círculo vicioso da depressão e
passar a uma espiral de pressão positiva.
Se não houver restaurantes não haverá turistas, mas se não houver tu-
ristas não haverá restaurantes. Este á o problema que se coloca a quem
pretende quebrar um processo em cadeia.
De facto, qualquer esforço isolado para inverter a situação estará con-
denado ao insucesso. Só com uma aposta estratégica de envolvimento
In fact, any isolated effort to reverse this situation is condemned to
failure. Only with a strategic challenge to involve all available resourc-
es and the coordination of measures and programs will be possible to
break the stagnation.
This reason would suffice, but there are many other reasons justifying
a development strategy.
Measure 3.9 – Characteristics and development of Natural Tourism
The Historic Center and the Region have ideal conditions for the devel-
opment of Natural Tourism since they feature not only natural charac-
teristics, particularly the landscape, but also the richness of its historical
and architectonical heritage.
The villages of the council and the surrounding are areas of environ-
mental, architectonical, heritage, ethnographic and cultural quality and
they represent an invitation to stay. There are some gifted with medi-
eval castles or traces of them, with very rich and panoramic views over
the valleys that cut the plateau.
While inhabited, Almeida villages a very friendly, rich, and rare environ-
ment, appreciated by those who are able to recognize the value of the legacy
of human occupation of this rude and difficult territory, where, despite all the
adversity, many communities have been able to adapt and live for centuries.
The affirmation and demonstration of that ability to interact with nature
are essential to answer the questions raised by our visitors and tourists
with cultural concerns.
This tourism side, which is generally directed at a different demand
from the one offered by historical centers and great monumental con-
structions, might win with the diversity of interests which is the close-
ness with the insurmountable fortress of Almeida.
Measure 3.10 – Incentive system to private investment
There are incentive schemes that should be deployed to enhance the
competitive ability of some companies in the region.
In the absence of local associative structures, it is relevant to build part-
nerships that promote information to employers and to candidates to
establish companies in order to technically support new initiatives.
The very heart of Almeida can and should be the place for an office
providing information and assistance to local and regional visitors, with
the aim of encouraging the creation of self-employment by young peo-
ple and the development of corporate initiatives, starting with tourism,
but extending to any viable area of business.
One verifies that Almeida has the need to create a body able to orientated
and supported entrepreneurs on different procedural, bureaucratic, legal
aspects, within corporate action, particularly contacts with central and re-
gional administration and on the access to European programs.
On interior regions, these aspects represent an added difficulty due to
the distance from the decision centers and the diffusion of information.
The creation of a local body, the result of partnerships supporting and
providing relevant information to those interested, on programs, paths,
contacts, legal processes and formalities, to support determined entre-
preneurs materializing their ideas.
As proposed in the management model for the Historic Center of Al-
meida, the creation of an executive body (ASA) does not justify, at
least initially, the duplication of entities. So the same body should take
350
de todos os recursos disponíveis e de articulação das medidas e progra-
mas será possível romper a estagnação.
Se outras razões não houvesse a justificar a urgência de uma estratégia
de desenvolvimento, esta bastaria.
Medida 3.9 – Características e desenvolvimento do Turismo Rural
O Centro Histórico e a Região, reúnem as condições ideais para o desen-
volvimento do Turismo em Espaço Rural uma vez que apresenta, não
apenas características naturais, nomeadamente da própria paisagem,
mas também a riqueza do seu património histórico e arquitectónico.
As aldeias do concelho e da região são espaços envolventes de qualida-
de ambiental, arquitectónica, patrimonial, etnográfica e cultural sendo
convidativas para a estadia. Não poucas são dotadas dos seus castelos
medievais ou vestígios deles e de panorâmicas muito ricas sobre os
vales que cortam o planalto.
Sendo habitadas, as aldeias de Almeida constituem um ambiente hu-
mano hospitaleiro, rico, raro e apreciado por quem sabe dar valor ás
heranças mais autenticas da ocupação humana deste território rude e
difícil, onde, apesar de toda a adversidade, muitas comunidades soube-
ram adaptar-se e viver durante séculos.
A afirmação e demonstração dessa capacidade de interagir com a natu-
reza são essenciais para a resposta ás interrogações que se levantam aos
nossos visitantes e turistas com preocupações culturais.
Esta vertente do turismo, que geralmente se dirige a uma procura dife-
rente da dos centros históricos e das grandes construções monumentais,
pode ganhar com a diversidade de interesses que constitui a proximida-
de da incontornável fortaleza de Almeida.
Medida 3.10 – Sistemas de incentivos à iniciativa privada
Existem sistemas de incentivos que devem ser mobilizados para refor-
çar a capacidade competitiva de algumas empresas da Região.
Na falta de estruturas associativas locais é pertinente a criação de parce-
rias que promovam a informação aos empresários e a candidatos á cria-
ção de empresas de modo a apoiar tecnicamente as novas iniciativas.
O próprio centro histórico de Almeida pode, e deve, ser lugar de um ga-
binete de informação e atendimento ao público local e regional com vista
ao incentivo de criação do próprio emprego por parte dos jovens e de de-
senvolvimento de iniciativas empresariais, começando pelo turismo, mas
alargando-se a qualquer área de negócio que demonstre viabilidade.
Verifica-se em Almeida a necessidade da criação de um órgão que
oriente e apoie os empresários nos diferentes aspectos procedimentais,
burocráticos, jurídicos, no âmbito de iniciativas empresariais, nomea-
damente contactos com a administração central e regional e no acesso
aos programas comunitários.
Nas regiões do interior, esses aspectos representam uma dificuldade
acrescida devido ao afastamento dos centros de decisão e de difusão de
informações. A criação de um organismo local, resultante de parcerias
que forneçam o contacto de retaguarda permitirá fornecer aos interes-
sados informações pertinentes, sobre programas, caminhos, contactos,
processos legais e formalidades, de modo a apoiar os empresários na
sua determinação de realizar as suas ideias.
Sendo proposta no Modelo de gestão do CH de Almeida a criação de um
órgão executivo (ASA) não se justifica, pelo menos numa fase inicial, a
351
over the management and development of the Historic Center, subject
to deal with different issues and also different focus areas.
The merger between both strands in the same body has serious advan-
tages, since in addition to saving resources, it reflects a greater ability
to articulate and implement a single strategy. In addition, it simplifies
the whole process of monitoring made by Almeida’s City Hall which
will only have to lead a single interlocutor.
An Investment Support Office, as a part as the Agencia para a Sal-
vaguarda de Almeida (ASA) should integrate, among other tasks:
A – General recognition of the council’s territory and monitoring ac-
cording a georeferenced database.
B – Regular contacts with municipal services, mainly on planning and
management of private works.
C – Regular contact with all Local Government Units.
D – Detailed recognition of the territory of all Local Government Units
and of their dynamics.
E – Survey on economic activities presented within the council and
their representation on the georeferenced database.
F – Survey on available resources for production activities in different
activities – agriculture, forestry and husbandry, tourism, fishing/hunt-
ing, culture/leisure, mines and quarries, crafts, etc.
G – Survey of the potential of the built heritage to recover.
3.10.8 – Survey of sites of landscape and natural interest to use and exploit.
H – Diagnosis of the economic potential of the resources identified
I – Preparation of detailed proposals for the development of new activities
J – Preparation of feasibility studies on the ideas proposed.
K – Promoters of new businesses should be received and oriented to
competent circuits.
L – Guidance provided to promoters on procedures related to the devel-
opment, approval, and funding of the proposal.
M – Monitoring of project implementation and, if necessary, technical
support for its reorganization or redirection.
N – Initiative, pro-active, to cause the appearance or the attraction of
new developers, local or foreign.
O – Promotion and affirmation of the Investment Support Office
throughout the council
P – Participation in events and venues related to municipal activity,
which allow for the demonstration of the local economic potential, such
as fairs or shows, with new audiences.
Q – Organization and coordination of actions of promotion, dissemina-
tion and clarification on the work of the Local Development Program
and available incentives.
R – Participation in regular, short and medium vocational training
courses for the staff connected with the development, promoted by the
agencies administering programs for local and regional development.
S – Participation in the coordination actions promoted by entities within
the partnership for local development.
T – Regular reporting of local development activities’ progress, with
the frequency determined by the council.
U – Availability to participate in exchange programs with other agents
of development.
V – Willingness to collaborate with other development agents in the
same region.
duplicação de entidades. Por isso deverá ser o mesmo órgão a assumir a
gestão e o desenvolvimento do Centro Histórico, sem prejuízo de se tratar
de temas diferentes e com territórios de incidência também diferentes.
A concentração das duas vertentes no mesmo órgão apresenta sérias
vantagens, pois além da economia de recursos, traduz uma maior capa-
cidade de articulação e de aplicação de uma estratégia única. Além do
mais simplifica todo o processo de acompanhamento por parte da CMA
que terá apenas de conduzir um único interlocutor.
Um Gabinete de Apoio ao Investimento, como parte da Agencia para a Salva-
guarda de Almeida (ASA) deverá integrar, entre outras as seguintes tarefas:
A - Reconhecimento geral do território do município e sua monitoriza-
ção em base de dados georeferenciada.
B – Contacto regular com os serviços municipais, principalmente nas
áreas do planeamento e gestão de obras particulares.
C – Contacto regular com todas as Juntas de Freguesia.
D – Reconhecimento detalhado do território de todas as freguesias e das
suas dinâmicas.
E - Levantamento das actividades económicas presentes no território do
município, e sua representação na base de dados georeferenciada.
F – Levantamento dos recursos disponíveis para novas actividades
produtivas, nos diversos sectores – agricultura, silvicultura e pecuária,
indústria, turismo, pesca/caça, cultura/lazer, minas e pedreiras, artesa-
nato, etc.
G – Levantamento do potencial de património edificado a recuperar.
3.10.8 – Levantamento dos locais de interesse paisagístico e de interes-
se natural a valorizar e explorar.
H – Diagnóstico do potencial económico dos recursos identificados
I – Elaboração de um caderno de propostas para o desenvolvimento de
novas actividades.
J – Elaboração de estudos de viabilização das ideias propostas.
K – Atendimento aos promotores de novos negócios e seu encaminha-
mento para os circuitos de realização competentes.
L – Orientação aos promotores sobre os procedimentos de desenvolvi-
mento, aprovação e financiamento dos projectos.
M – Acompanhamento da implementação dos projectos, e, se for neces-
sário, apoio técnico ao seu redireccionamento ou redimensionamento.
N - Iniciativa, pró-activa, no sentido de provocar o surgimento ou a
atracção de novos promotores, locais ou externos ao concelho.
O – Divulgação e afirmação do Gabinete de Apoio ao Investimento em
todo o município
P – Participação em eventos e locais de afirmação da actividade muni-
cipal e de demonstração do potencial económico local, como feiras ou
mostras, com novos públicos.
Q – Organização e animação de acções de promoção, divulgação e es-
clarecimento sobre a actividade do Programa de Desenvolvimento Lo-
cal e os incentivos disponíveis.
R – Participação regular em acções de formação para agentes de de-
senvolvimento, de curta e média duração, promovidas pelas entidades
gestoras de programas de desenvolvimento local e regional.
S – Participação nas acções de coordenação promovidas pelas entidades
que integram a parceria para o desenvolvimento local.
T – Elaboração regular de relatórios de evolução da actividade de desen-
volvimento local, com a periodicidade determinada pelo município.
Measure 3.11 – Requalification of shops
Regarding the commercial offer, Almeida Historic Centre shows obvi-
ous weaknesses on some activities. For instance, on this Historic Vil-
lage, we are not able to find a single crafts shop or traditional restaurant.
We can’t also find a baker or a laundry. Most commercial activity is
concentrated in cafes / bars and prêt-a-porter shops. Thus, out of this
group, only restaurants can be benefited from the flow of tourists, since
all other shops market, almost exclusively, essential goods.
As mentioned already, on the subjects of tourism and expansion of the
commercial network, the diversification or reconversion of some shops
is absolutely vital for the promotion of development.
Measure 3.12 – To develop the attractiveness of the shops’ images
on the Historic Centre
There is a need, in the Historical Center, to improve the quality, im-
age and attractiveness of many commercial establishments in order to
stimulate, especially, the external demand. Since most of these shops
market essential goods, they have been neglecting that care.
Measure 3.13 – Connection between Commerce to Tourism/Lei-
sure
It is important to create conditions so that the tourists can buy a bigger
volume of products or services in the village, buying souvenirs and
attending restaurants, which are more traditional and attractive. In the
strategic tourism lines, we already mentioned the importance of redi-
recting the commercial offer towards the tourists, which should act as
a complement to the historic and architectonical attraction, increasing
the turnover, if it can keep the visitors remain on the Village for longer
periods.
Measure 3.14 – Promotional investment of the Historic Centre
Promotional investment essentially means creating sociocultural activi-
ties which will increase the influx of people to the Historic Center. This
investment will have very positive consequences on trade, by promot-
ing a program of promotional activities within the Historic Center dur-
ing the shops’ opening hours, to combine business to leisure.
Measure 3. 15 – Production and marketing of traditional products.
The marketing of embutidos, as chouriças, bone chouriça, farinheita,
morcela (all different types of embutidos), tripe, cheese, will be viable
to answer the touristic demand and the demand by the village and sur-
rounding villages’ residents. However, these products are marketed
during a very specific season (on winter) because their production calls
for some specific cares, particularly with the temperature range (hot
weather ruins embutidos). On the other hand, there is a trend on the
village’s merchants to market these products during the time of the year
for fairs and outings (Feira do Fumeiro; the period for the outings made
to see the hazels blossoming) and it is uncertain to find these products,
even during the winter, at any given day or time. Therefore, because
these products are an added value for the council, one should gather
conditions towards their promotion and professional trading (with re-
spective legalized and certified activities), in such way as for the offer
is able to better respond to the demand.
352
U – Disponibilidade para participar em acções de permuta de experiên-
cias com outros Agentes de Desenvolvimento.
V – Disponibilidade para colaborar com outros Agentes de Desenvolvi-
mento na mesma região.
Medida 3.11 – Conversão de estabelecimentos comerciais
Ao nível da oferta comercial, no Centro Histórico de Almeida veri-
ficamos carências em algumas actividades. Por exemplo, nesta Vila
Histórica não se encontra um só estabelecimento de artesanato nem
um restaurante tradicional. Também não se encontra uma pastelaria de
fabrico próprio ou uma lavandaria. A maioria das actividades comer-
ciais concentra-se nas áreas dos produtos alimentares, em cafés/bares
e pronto-a-vestir. Assim, deste grupo, apenas os estabelecimentos de
restauração poderão usufruir da afluência de turistas à Vila, já que
os restantes comercializam, quase exclusivamente, bens de primeira
necessidade.
Como já foi referido nos pontos dedicados ao turismo o alargamento
da rede comercial, a sua diversificação ou a reconversão de alguns co-
mércios é absolutamente indispensável para a promoção do desenvol-
vimento.
Medida 3.12 – Desenvolver a atractividade na imagem dos estabe-
lecimentos comerciais do Centro Histórico
Verifica-se no Centro Histórico a necessidade de melhorar a qualidade,
a imagem e a atractividade de muitos estabelecimentos comerciais, de
forma a estimular, sobretudo, a procura externa. Sendo a maioria dos
estabelecimentos comerciais presentes dirigidos aos bens de primeira
necessidade, não lhes tem sido exigido esse cuidado.
Medida 3.13 – Ligação do Comércio ao Turismo / Lazer
Importa criar condições para que o turista possa adquirir na Vila um
maior volume de produtos ou serviços, comprando recordações e fre-
quentando os estabelecimentos de restauração, que sendo tradicionais
serão mais atractivos. Nas linhas estratégicas do turismo, já se referiu a
importância de redireccionar a oferta comercial para os turistas, servin-
do de complemento aos pontos de atracção histórica e arquitectónica,
aumentando os volumes de negocio, caso se consiga reter os visitantes
na Vila por períodos de tempo maiores.
Medida 3.14 – Investimento promocional no Centro Histórico
O investimento promocional significa, essencialmente, criar animação
sociocultural que, aumente a afluência de pessoas ao Centro Histórico.
Esse investimento terá consequências positivas no comercio, através da
promoção um programa de actividades de animação no Centro Históri-
co no período de funcionamento dos estabelecimentos comerciais, para
aliar as compras ao lazer.
Medida 3.15 – Produção e comercialização de produtos tradicionais
A comercialização de enchidos, como por exemplo chouriça, chouriça de
ossos, bucho, farinheira, morcela, queijo, etc., será viável para dar resposta
não só à procura turística como também à procura dos residentes na Vila e
localidades limítrofes. No entanto, estes produtos são comercializados muito
sazonalmente (no Inverno) uma vez que a sua produção artesanal implica
cuidados com as temperaturas (o clima quente estraga o enchido). Por ou-
353
Measure 3. 16 – Quality certification
Today, quality certification is indispensable for the marketing success
of a product/service. This is a way to recognize regional products on a
national scope, as in the case of embutidos, and have their consumption
enticed. Thus, contacts with the IPQ (Instituto Português da Qualidade
- Portuguese Institute of Quality) would have to be developed in order
to identify the best way to achieve this measure without adulterating
the nature craft.
Measure 3.17 – To potentiate the investment of emigrants returning
to the region
Still within the scope of incentive systems, in order to promote cor-
porate initiative, a particular attention should be paid to the return of
emigrants who were born on the Region who frequently would like to
invest within their place of birth and many times fail to do it for lack of
information and follow-up.
Measure 3.18 - Development of dynamic economic alternatives
This measure aims to take advantage of the specificities of the region,
such as its location near the border, meaning, to find a strategic area of
economic development within the region. For example, tourism, produc-
tion of traditional regional products, and the integration of these busi-
nesses with the exploitation of the fortress. The idea will be to develop a
business that presents the region’s unique characteristics and that uses the
image and the cultural strength of the fortress to be promoted.
In this case, the proximity of the region with Spain could potentiate not
only the economic aspect but also socio-cultural aspects.
The exploitation of Almeida’s star, a trademark, will help identify its
products on distant lands, where it can stand for itself.
7.4 – Action Program
The action program inserted in the Management plan of the heritage
site of Almeida aims the change of that place, as am excellence site.
Above all the will is to promote a number of actions to transform Al-
meida in a friendly place to live and to visit
With this action program the intention is to materialize the already de-
veloped concept o heritage as a resource able to improve the quality of
life, if conveniently exploited.
In that sense, the point is how to design the actions that will promote
de sustainability and attractive role to the cultural, natural and human
heritage available here.
This program is essentially organized over three the following fields of
intervention, being the biggest objectives:
X – Safeguard and development of the cultural resources
Y – Safeguard and development of the natural resources
Z – Safeguard and development of the human resources
Around each one of these big objectives there are multiple actions to do
aiming the final objective that is the improvement of the quality of life.
So here is done the split o each one.
Before anything else we define some actions to be seen as short term
concerning the concretization of the management plan, and then a
tro lado, existe a tendência para os produtores da Vila comercializarem estes
produtos apenas na altura das festas e excursões (Feira do Fumeiro; período
de excursões às amendoeiras em flor), não sendo seguro que, mesmo no In-
verno, se encontrem estes produtos à venda em qualquer dia e qualquer hora.
Por conseguinte, sendo estes produtos uma mais-valia do concelho, dever-se-
ia reunir as condições para que estes fossem promovidos e comercializados
profissionalmente (com as respectivas actividades legalizadas e certificadas),
de modo a que a oferta possa dar uma melhor resposta à procura.
Medida 3.16 – Certificação de qualidade
Hoje em dia, a certificação de qualidade é indispensável ao sucesso da
comercialização de um produto ou serviço. Esta é uma das formas de os
produtos regionais passarem a ser reconhecidos a nível nacional, como
seria o caso dos enchidos, sendo assim incentivado o seu consumo.
Deste modo, teriam que se desenvolver contactos com o IPQ (Instituto
Português da Qualidade), de modo a identificar a melhor forma de via-
bilizar esta medida sem descaracterizar a sua natureza artesanal.
Medida 3.17 – Potenciar o investimento dos emigrantes que regres-
sam à região
Ainda no âmbito da divulgação dos sistemas de incentivos, de modo a
promover a iniciativa empresarial dever-se-á ter particular atenção ao
regresso dos emigrantes naturais da Região que, frequentemente, dese-
jariam investir na sua localidade de origem e não o fazem, muitas vezes,
por falta de informação e de acompanhamento.
Medida 3.18 – Desenvolvimento de uma dinâmica económica al-
ternativa
O objectivo desta medida é o de tirar partido das especificidades da re-
gião, como por exemplo a sua localização junto à fronteira, ou seja, en-
contrar na região uma área estratégica de desenvolvimento económico.
Por exemplo, a actividade turística, a produção de produtos tradicionais
da região, e a integração destes negócios com a exploração da fortaleza.
A ideia será a de desenvolver uma actividade económica que apresente
características exclusivas da Região e que use a imagem e a força cul-
tural da fortaleza para se promover.
No presente caso, da proximidade da região com Espanha, poderá ser
potenciada não só a vertente económica como a vertente sociocultural.
A exploração da estrela de Almeida, como imagem de marca, poderá ajudar a
identificar os seus produtos em territórios distantes, onde poderá afirmar-se.
7.4 – Programa de Acções
O programa de acções que se insere no Plano de Gestão do sítio pa-
trimonial de Almeida tem por principal objectivo a transformação de
Almeida num lugar de excelência.
Pretende-se, acima de tudo, gerar um elenco de acções que permitam trans-
formar a vila de Almeida num sítio atractivo para residir e para visitar.
Procura-se com este programa de acções materializar o conceito já de-
senvolvido de que o património é um recurso que pode permitir melho-
rar a qualidade de vida, de forma duradoura, desde que conveniente-
mente explorado. Este é o grande objectivo geral do Plano de Gestão da
Fortaleza de Almeida
number of strategic guidelines as output of the GTL study, still update,
that must be adopted and brought to annual and pluri-annual action
plans
X – Safeguard and development of the cultural heritage resources
The use to local development of the heritage cultural resources as es-
sentially two faces, one towards the comprehension and appropriation
by the local inhabitants of the history and the value of the site and it’s
monuments, rising their self-pride, and the other facing the exploitation
of those resources to tourism with impact in new activities.
So, it’s possible, since now design this process in two action lines: de-
velopment of self-pride and development of new activities.
Development of self-pride
This objective focuses essentially on the need to face the citizens of
Almeida with their heritage, as something belonging to them and whose
future depends on their attitude and capacity to take to themselves that
good that only a few communities has the chance to appropriate.
This belonging intends to set the citizens in the centre of the operation
as active persons with initiative.
Being this plan a changing plan it’s crucial to be assumed and wished
by the inhabitants.
This includes, before anything else, an internal mobilization and communi-
cation action towards the inhabitants of the intra wall town, considering
His internal mobilization and communication action must be done in
place, in direct contact with the inhabitants and directed to the different
groups concerning age
So we will have the following activities:
A – Printing and marketing a short brochure, illustrated and easy to all
the local population containing the main values to mobilize them to the
rise of their quality of life
B – Direct actions promoted towards interest the main groups – shop
owners, students, and building owners, cultural agents.
C – Creation, and development, of an interactive electronic platform, to
exchange proposals, opinions and ideas to the sustainable development
of Almeida.
D – Idea contest, open to everyone, to increase the value of its heritage.
Development of new activities
In this field, essential to the sustainability of the site, what maters is to
promote actions to develop tourism activities.
We must understand the importance to that of the results of the self-pride
actions, because they are essential to link the interest of the population and
its quality of life improvement with the tourism investment. Or, in other
words, if we leave the tourism investment only in external hands, either
financially and human, we must expect the results to migrate away.
For these reasons the actions proposed in this point are not concerned
in the import of very developed models, but in the research of the own
model that permits Almeida to build a new and stable economic basis.
Knowing how fast the external investments move away, what maters
here is to establish here a strong movement to solidify projects with a
large endogenous base and lead them to the end of retaining the interest
of the investments.
354
Nesse sentido é crucial objectivar as acções que permitem dar sustenta-
bilidade e atractividade ao património que, em Almeida, está disponível
nos planos cultural, natural e humano.
Este programa organiza-se essencialmente sobre estes três grandes
campos de intervenção, que constituem os grandes objectivos estratégi-
cos do PGF de Almeida:
X – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do património
cultural
Y – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do património natural
Z – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do humanos
Em torno de cada um destes três grandes objectivos há múltiplas acções a
executar com vista á realização do objectivo final que é a melhoria da qua-
lidade de vida. Assim fazemos o exercício de desagregação de cada um.
Definimos, antes de mais algumas acções que deverão ser encaradas
como de curto prazo, directamente ligadas com a concretização do Plano
de Gestão e, seguidamente, um conjunto de linhas de estratégia que de-
correm do estudo do GTL e que, mantendo plena actualidade, deverão ser
adoptadas, traduzindo-se em planos de acções anuais e pluri-anuais.
X – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do património
cultural
A utilização para o desenvolvimento local dos recursos do património cultu-
ral tem, essencialmente duas vertentes, a primeira virada para a compreensão
e apropriação pelos habitantes locais da história e valor do sítio e dos seus
monumentos, com consequência na elevação da sua auto-estima e a outra
com o aproveitamento desses recursos para o desenvolvimento de actividade
turística, com consequências ao nível da exploração de novos negócios.
Assim, podemos, desde já, esquematizar este processo em duas linhas
de acções: o desenvolvimento da auto-estima e o desenvolvimento de
novos negócios.
Desenvolvimento da auto-estima
Este objectivo tem que ver, essencialmente, com a necessidade de confron-
tar os cidadãos de Almeida com a sua herança, com algo que lhes pertence,
e cujo futuro depende da sua atitude e disponibilidade para se apropriarem
desse bem que raras comunidades terão o privilégio de possuir.
Esta apropriação pretende colocar os cidadãos no centro da operação,
como sujeitos activos e com iniciativa.
Sendo presente plano um plano de mudança é crucial que os habitan-
tes implicados o aceitem, o assumam e o desejem.
Isto implica, antes de mais uma acção de divulgação e mobilização in-
terna, dirigida aos habitantes da vila intra-muros e extensiva a todos os
habitantes do concelho.
Esta acção de divulgação e mobilização terá de ser exercida no terreno,
em contacto directo com os habitantes, dirigida aos diversos escalões
etários, socioprofissionais e culturais.
Assim, teremos as seguintes actividades:
A – Edição e divulgação de uma brochura sucinta, ilustrada e de fácil
assimilação por toda a população do concelho com os principais ob-
jectivos e projectos do plano de gestão e com os principais valores a
mobilizar para a elevação da sua qualidade de vida.
B – Realização de acções directas de divulgação, dirigidas aos principais gru-
pos de interesse - comerciantes, estudantes, proprietários, agentes culturais.
355
In this sense the first action is towards what we call the diffuse hotel
with all the complementary services included.
X.1 – Mobilise and associate in a partnership the owners of several
buildings (or parts of them) to create a four star hotel, without a signifi-
cant part of new buildings.
X.2 – Elaborate a partnership contract with the owners interested in this
diffuse hotel, establishing the value each one invests in this partnership
and the benefits each one will win with its exploitation.
X.3 – Create with local partners and with local headquarters an enterprise to
the exploitation of hotel activity, with the special ability to explore the diffuse
hotel, not excluding its capacity to manage other touristic initiatives.
This enterprise must do the marketing of the hotel and all the services
concerning reservations, factoring, and the responsibilities facing the
customers and the sector authorities.
X.4 – Create a local based enterprise on services, to guarantee the good
functioning conditions of the hotel in the fields of building conserva-
tion, room service and laundry.
X.5 – Create a restaurant enterprise to support the hotel and general
public to provide meals in its own place and in the diffuse rooms, in-
cluding breakfasts.
X.6 – Develop a free-time animation program based on the local ca-
pacities.
X.7 – Create a “tourist guide” enterprise based on a partnership among
local young people that organise the explanation of the main archaeo-
logical, heritage and cultural places in Almeida and region.
X.8 – As said to the hotel, create another partnership with the shop own-
ers turned to tourist market, with the most significant local products,
displaying ground floor spaces and articulating timings and marketing.
The ideas for a “Diffuse Hotel” and a “Diffuse Shopping” inside the
walls aims to avoid new building activity with big equipments, which,
besides spoiling large amounts of investment would lay outside the ur-
ban pattern, causing more desertification inside.
Y – Safeguard and development of the natural resources
Almeida overlays, this entire border region, by the singularity of its built
heritage. However the characteristics of the territory are also important
As a land that didn’t suffer the aggressions of industrialization and ur-
banization, Almeida still presents a preserved and high value in land-
scape and ecosystem.
Territory, flora, fauna and humanity melt here, in the rural world as a
rare reality and this must be preserved and exploited. Visiting the vil-
lages, knowing its inhabitants, their agricultural practices, their prod-
ucts, its gastronomy, are aspects essential to the understanding of the
binomial consisting on the monument and its place.
With these preserved characteristics and with the new road facilities to
the main centres in both sides of the frontier, if the town and the fortress
accomplish their role of external visibility it will be possible to profit all
this resource. So actions are needed in this sense:
Y.1 – Creation of a route to visit the mail interest places in the territory
of Almeida fully illustrated and displayed in the main languages
Y.2 – Creation of a route to visit the main interest places in the region
departing from Almeida, including the Côa Valley, the border “castle
line” and the nearest Spanish villages.
C – Criação de uma plataforma electrónica interactiva para troca de pro-
postas, opiniões e ideias para o desenvolvimento sustentável de Almeida.
D – Criação de um concurso de ideias, aberto a toda a população de
Almeida para a valorização do seu património.
Desenvolvimento de novos negócios
Neste domínio, fundamental para a sustentabilidade económica do sítio,
importa, sobretudo, desencadear acções tendentes ao desenvolvimento
da actividade turística.
É fundamental, aqui, compreender que sem o resultado das acções de
valorização da auto-estima não haverá desenvolvimento turístico com
resultados favoráveis á melhoria da qualidade de vida da população
local. Isto é, se o desenvolvimento do turismo for feito apenas á cus-
ta de investimento (financeiro e humano) vindo do exterior, podemos,
obviamente, esperar que os rendimentos dessa actividade irão também,
em grande parte, migrar para o exterior.
É por essa razão que as acções propostas neste ponto de desenvolvi-
mento de novos negócios não se traduzem na importação de modelos
muito desenvolvidos mas na procura de um modelo próprio que permita
a Almeida construir uma nova base económica estável.
Sabendo-se como se movem, e com que rapidez se movem, os investimen-
tos externos importa criar aqui uma base de forte pendor endógeno para fi-
xar projectos, levá-los até ao fim e reter a recuperação dos investimentos.
Neste sentido a primeira acção dirige-se ao alojamento difuso, com to-
das as complementaridades que isso acarreta.
X.1 – Mobilizar e associar numa parceria os proprietários de edifícios
ou de partes de edifícios para a criação de um Hotel de quatro estrelas,
sem construção nova significativa, aproveitando o edificado devoluto.
X.2 – Elaborar um contrato de parceria entre os interessados em in-
tegrar o “hotel difuso”, fixando o valor com que cada um entra nessa
parceria e os benefícios a que terá direito com a sua exploração.
X.3 – Criar, com parceiros locais, e com sede local, uma empresa para
exploração hoteleira, com especial vocação para a gestão do “hotel di-
fuso”, podendo, no entanto, se houver interessados, vir a gerir outras
iniciativas (turismo de habitação fora da vila p/ exemplo).
Esta empresa deve fazer a promoção do hotel e todo o serviço de reser-
vas, contabilidade, tesouraria e responsabilização face aos clientes e ás
entidades tutelares do sector.
X.4 – Criar uma empresa de serviços de base local e sede local, para
garantir o bom funcionamento do hotel, nas vertentes de conservação e
manutenção dos edifícios, serviço de quartos e lavandaria.
X.5 – Criar uma empresa de restauração, dirigida ao hotel e ao público
em geral para fornecimento de refeições em espaço próprio e nos aloja-
mentos, nomeadamente os pequenos-almoços.
X.6 – Desenvolver um programa de animação e ocupação de tempos
livres, com base no aproveitamento de capacidades locais.
X.7 – Criar uma empresa de “guias turísticos” assente na parceria entre jovens
da população local, que organize a explicação dos principais locais de interes-
se arqueológico, patrimonial e cultural de Almeida, do concelho e da região.
X.8 – Tal como para o alojamento, criar uma parceria de espaços co-
merciais virados para o turismo, com os produtos regionais mais sig-
nificativos, disponibilizando espaços de R/C e articulando horários e
programas de divulgação conjuntos.
Y.3 – Inventory of the places available for “radical sports” and the study
to transform them in places with regular events.
Y.4 – Integration of Almeida in nature tourism networks as a comple-
ment to the spaces of the International Douro Natural Park and the In-
ternational Tejo Natural Park
Y.5 – Study, in the neighbourhood of the fortress, and close to it, the
possibility of a golf complex sealing together nature and heritage
Y.6 – Explore the thematic for Jewish (sepharad) tourism, based on the
dense history over all the region, seen, namely by the marks remaining
in many buildings in the villages around Almeida
Z – Safeguard and development of human ressources
The use of local human resources to the development of all the actions
is a focal objective, to avoid marginalization of the inhabitants of Al-
meida face any transformation process.
But the human resources available, in the present, don’t answer to the
needs of the market intended to be developed with the tourist valorisa-
tion of the site.
This leads us to a training program including new skills.
Z.1 – Action towards entrepreneurs and managers. Its necessary to rise
the existing capacity, not only to revitalise the existing firms but also to
promote new ones.
The diffuse hotel, for instance, requires a team prepared to launch, man-
age and promote it in the short and long time.
Z.2 – The proposed action in the previous point must have the collabo-
ration of specialists from the nearest universities of Portugal and Spain
(Aveiro, Coimbra, Salamanca and Valladolid, for exemple).
Z.3 – Besides the training of managers and entrepreneurs it matters to form
many other professions, namely those connected with hotel activity
Receptionists, room waiters, conservation technicians, chefs, bar and
restaurant employees, among others, are needed.
This action should lay on a partnership with the existing hostelry
schools
Z.4 – Is obligatory the training of local guides with the knowledge local
and national history, with the knowledge of the heritage of Almeida and
its building process and with the knowledge of the most relevant facts
of the fortress history and its military actions.
This training program, should be, above all, directed to interested agents
with required skills to contact with very diverse publics what means a
local formation of the trainers, as it is so specific.
3.5 – It is important an action with the local population to improve their prac-
tice in foreign languages: Spanish, English and French, seem to be the most
used by tourists and will be, probably the most of the predictable demand.
7.5 - Risk Prevention Programme
Almeida’s fortress, the intra-wall urban area and the protection perim-
eter are not currently seen as a precarious situation and they are not
currently threatened by serious risks
Notwithstanding, there are obviously some risks to be prevented, in order
to avoid the asset’s value decay. Without the concern for risk prevention,
the Management Plan may become complaisant with the devirtualization
356
As ideias do “Hotel Difuso”, e do “Centro Comercial Difuso”, dentro
das muralhas, pretende evitar a construção (nova) de grandes equipa-
mentos que, além de exigirem investimentos desmesurados, só pode-
riam ficar distantes e desinseridos da malha urbana, provocando ainda
maior esvaziamento da mesma.
Y – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos do património na-
tural
Almeida sobreleva-se em toda esta região fronteiriça pela singularidade
do património construído. No entanto as características do seu território
são, também, de importância relevante.
Por se tratar de um território que não sofreu agressões significativas da
industrialização e da urbanização, Almeida apresenta, ainda, uma pai-
sagem de valor elevado e um ecossistema muito preservado.
Território, flora, fauna e humanidade fundem-se aqui, no mundo rural,
de forma já rara, e isso pode, e deve, constituir um valor a preservar e
explorar. Visitar as aldeias, conhecer os seus habitantes, as suas práticas
agrícolas, os seus produtos e respectiva gastronomia são aspectos fun-
damentais do binómio que é o monumento e o sítio.
Com estas características preservadas e com as novas acessibilidades
aos grandes centros de ambos os lados da fronteira, desde que a vila e
a fortaleza cumpram o seu papel de visibilidade exterior, será possível
aproveitar melhor todo este recurso. Serão por isso de promover diver-
sas acções nesse sentido:
Y.1 – Criação de um roteiro de visita aos principais locais de interesse
do concelho muito ilustrado e traduzido nas línguas mais procuradas.
Y.2 – Criação de um roteiro de visita aos principais locais de interesse
da região a partir de Almeida, incluindo o Vale do Côa, a “Linha dos
Castelos” e as localidades castelhanas mais próximas.
Y.3 – Inventariação de locais de interesse para “desportos radicais” e
estudo da sua transformação em pólos de eventos regulares.
Y.4 – Integração de Almeida em redes de turismo de natureza, como
complementaridade patrimonial aos espaços do Parque Natural do
Douro Internacional e do parque Natural do Tejo Internacional.
Y.5 – Estudar, nas imediações da fortaleza, e em contacto com esta, a
possibilidade de criação de um complexo de Golfe, unindo os espaços
de natureza e património.
Y.6 – Explorar o tema do turismo sefardita, com base na densa história
presente em toda a região, nomeadamente através das marcas existentes
em inúmeras construções das aldeias do concelho.
Z – Salvaguarda e desenvolvimento dos recursos humanos
A afectação dos recursos humanos locais ao desenvolvimento das restan-
tes acções é um objectivo fundamental para evitar a marginalização dos
habitantes de Almeida face a qualquer novo processo de transformação.
Mas os recursos humanos disponíveis, no presente, não correspondem
ás necessidades do mercado que se pretende desenvolver com a valori-
zação turística do bem patrimonial do sítio.
Isso implica um programa de acções de formação, preparação, qualifi-
cação e treino em novas áreas.
Z.1 – Acção dirigida a gestores e empresários. É necessário fazer surgir e
requalificar o tecido existente, quer para revitalização das empresas que
já operam, quer para a promoção do surgimento de novas empresas.
357
of Almeida and, with progressive degradation, eventually irreversible, of
its value as an important heritage of the Country and of Mankind.
A reference is made, at this stage, to a broad concept of risks, which
include natural and human risks. This wide range is mostly due to the
fact that the asset classified as Almeida’s fortress is inhabited and ac-
tive and that its monumental nature in fact integrates a community of
a few hundred inhabitants and users, which, apart from all the benefits
provided, also comprises added risks.
Therefore, the main natural risks, with a higher or lesser prevalence in
Almeida, may be considered as follows:
– Meteorological (weather);
– Geological (erosion of escarpments and slopes);
– Seismic (small quakes).
As risks originating in human activities, the following may be emphasised:
– Fires
– Inadequate uses;
– Abandonment (with the pathologies usually associated to it, of physi-
cal, chemical and biological nature);
– Cultural abuse (with inadequate architecture and engineering prac-
tices).
The risks occurring from devitalization are transversal to the entire Man-
agement Plan and, therefore, must be treated at their points of strategy.  
7.5.1 - Main Natural Risks:
Meteorological
Weather risks are the most frequent, the most extensive and, gener-
ally, the most serious, mainly affecting roofs, chimneys and coatings of
walls and façades, apart from the falling of trees.
Although Almeida isn’t located in an area of frequent tornados or hur-
ricanes, it is sometimes hit by cyclone-like winds which produce mean-
ingful damages to buildings, having a particular impact on older or
more degraded buildings.
Apart from wind, violent rains are responsible for the advance in deg-
radation and the fight against it is not always immediate and effective,
mainly because building owners lack the economic capacity to prompt-
ly perform the needed repair works.
The loss of buildings, as a consequence of weather risks, is often related
to the origin of pathologies that, in time, produce potentially significant
damages and, sometimes, cause the collapse of entire buildings.
Geological
Almeida is on a granite solid foundation, generally changed at the sur-
face, highly stable in the areas of higher and older urban consolidation.
There are, nevertheless, sensitive points in some areas, which call for con-
tainment and monitoring cares on the solid foundations to prevent landslides
which might happen as a consequence of downpours, even casual ones.
Ice sometimes joins water and wind erosion, speeding up the chemical
and geological alteration of the rocks’ surface layer.
The vegetation cover is, however, a protector against erosion and the
significant presence of fast-growing tree cultures, such as pine or euca-
lyptus trees, is not to be found, being, therefore, consolidated. Farming
practices, mainly traditional, also protect and preserve soils.
A instalação de um hotel difuso, por exemplo, exige uma equipa prepa-
rada para o lançar, gerir e promover, no curto, médio e longo prazo.
Z.2 - A acção proposta no ponto anterior poderá, e deverá, contar com a
colaboração de especialistas das universidades mais próximas, de Portu-
gal e Espanha (Aveiro, Coimbra, Salamanca e Valladolid, por exemplo).
Z.3 – Além da formação de gestores e empresários importa formar mui-
tas outras áreas profissionais, nomeadamente as ligadas á hotelaria:
Recepcionistas, empregados de quarto, técnicos de conservação e ma-
nutenção de edifícios e instalações, cozinheiros, empregados de restau-
rante e bar, entre outros.
Esta acção deverá implicar uma parceria com escolas de hotelaria existente.
Z.4 – É indispensável a formação de guias turísticos locais, com conhe-
cimento da história da região e do país, com conhecimento detalhado
do património de Almeida e da sua construção, com conhecimento dos
factos mais relevantes da história da fortaleza e dos seus feitos bélicos.
Esta formação terá de ser, acima de tudo, dirigida a agentes interessados
e com perfil adequado ao contacto com públicos muito variados, e im-
plica uma preparação local dos formadores, por ser muito específica.
Z.5 – É importante uma acção dirigida a toda a população interessada em
melhorar a sua comunicação em outras línguas para além do português:
espanhol, inglês e francês parecem ser as mais usadas pelos turistas que
podem constituir o grosso da procura no horizonte temporal previsível.
7.5 - Prevenção de riscos
A Fortaleza de Almeida, a área urbana intra-muros e o perímetro de
protecção não apresentam, actualmente, uma situação de precariedade,
nem são ameaçados por riscos graves.
No entanto, há, obviamente, riscos que devem ser prevenidos, no sen-
tido de evitar o decaimento do valor deste bem. Sem este tipo de pre-
ocupação com a prevenção de riscos, o Plano de Gestão poderia ser
complacente com a desvirtualização de Almeida, e com a degradação
progressiva, porventura irreversível, do seu valor como herança impor-
tante para o país e para a humanidade.
Referimo-nos, neste ponto, a um conceito alargado de riscos que in-
cluem os de origem natural e os de origem humana. Esta abrangência
deve-se sobretudo ao carácter habitado e activo do bem classificado
como Fortaleza de Almeida, cuja natureza monumental integra uma co-
munidade de centenas de habitantes e utentes, com todas as resultantes
benéficas que daí advêm, mas que comportam riscos acrescidos.
Assim, podemos considerar como principais riscos de origem natural,
com incidência mais ou menos significativa em Almeida os seguintes:
– Meteorológicos (temporais)
– Geológicos (erosão de escarpas e taludes)
– Sísmicos (pequenos abalos)
Como riscos com origem nas actividades humanas podemos destacar:
– Os incêndios
– Os usos desajustados
– O abandono (com as patologias que lhes estão associadas, de natureza
física, química e biológica).
– O abuso cultural (com práticas desajustadas de arquitectura ou enge-
nharia).
The implementation location of the fortress and village – intra-walls –
is not exposed to visible degradation phenomena of a geological origin,
such as the landslide of escarpments.
Seismic
Given the nature of the solid where it is located and because it is drawn
away from the main active tectonic faults, Almeida hasn’t been seri-
ously affected by earthquakes or other telluric phenomena.
Nevertheless, sometimes small shocks are felt, not strong enough to
cause extensive damages, but capable of causing structural damages to
older and more degraded buildings, particularly in civil constructions,
since the walls’ stoutness and its preservation conditions ensure its re-
sistance to small shocks.
Although, in most cases, there aren’t any big earthquakes, its repetition
throughout the centuries on the same structures can still cause strains
affecting the solidity of frailer constructions and, as a consequence, the
rupture of their perviousness.
7.5.2 – Main Risks With Human activities origin
Fires
Although, in theory, fires in buildings could be originated by thunders
or other natural causes, this is extremely unlike. Thus, within this group
go the fires originated by human activities.
Almeida, particularly its historical centre, has luckily not suffered fires
in its buildings. Sometimes, some fires outbreaks or small fires in roofs
or parts of houses can occur, but, so far, these haven’t had irreversible
consequences in the loss of significant material assets.
For these circumstances, both reasons are at stake: first, the occupation,
which allows for the constant presence of someone when a fire outbreak
start and, for that reason, the alarm is usually sounded early on; and,
second, because there is a Fire department inside the wall, for a quick
response to fires, with an emergency team and light means and vehicles
adapted to the calibre of the intra-walls village’s narrow streets.
This emergency team, which is seen as essential, is able to react within
a few minutes to any given alarm, thus avoiding a fire outbreak from
becoming a great fire.
Apart from these active fire fighting mechanisms, there are some rules
and regulations and an active intervention by the technicians of the
National Fire Fighting Service in the assessment of all rehabilitation
projects, as to minimize the effects or fire and to ensure efficient fire
fighting procedures, whenever they sadly occur.
It is important to assure the permanence of the referred brigade, lodged
in renewed facilities within the walls’ enclosure.
The vigilance and control of vacant buildings are crucial, since they are
a specific threat because they aren’t monitored as occupied buildings. A
rigorous prevention is, therefore, important; properly interdicting and
monitoring these buildings against trespassers and keeping them clean
at all moments, while waiting for renovation and reuse.
– Overload and/or inadequate use of buildings
The inadequate use of certain buildings may put its financial value into
jeopardy. Warehouses of inflammable or corrosive goods, although with
little expression, are an aggravated risk.
358
Os riscos decorrentes da desvitalização são transversais a todo o Plano
de Gestão.
7.5.1 – Principais riscos naturais
Meteorológicos
Os temporais são os riscos mais frequentes, mais extensos e, geralmen-
te, mais graves que afectam, sobretudo, telhados, chaminés e revesti-
mentos de empenas e fachadas, além de quedas de árvores.
Embora Almeida não se localize numa rota frequente de tornados ou
furacões, por vezes á fustigado por ventos de velocidades ciclónicas
que produzem danos significativos nos edifícios com especial impacto
nos mais velhos e mais degradados.
Além dos ventos, as chuvas violentas são responsáveis pelo avanço da
degradação, e o seu combate nem sempre é imediato e eficaz, sobretudo
pela incapacidade económica dos proprietários dos prédios procederem
com rapidez ás reparações necessárias.
A perda de estanqueidade dos edifícios, como consequência de tem-
porais está, frequentemente, ligada à origem de patologias que, com a
passagem do tempo, produzem danos que podem ser significativos e,
por vezes causa de ruína.
Geológicos
Almeida reside sobre um maciço granítico, geralmente alterado á su-
perfície, muito estabilizado nas áreas de maior e mais antiga consoli-
dação urbana.
Há, no entanto, em algumas áreas, pontos sensíveis que exigem cuida-
dos de contenção e de monitorização dos maciços para prevenir desliza-
mentos de terras que podem ocorrer por efeito de chuvadas torrenciais,
mesmo que esporádicas.
Á erosão hídrica e eólica junta-se por vezes o efeito do gelo que acelera
a alteração química e geológica da camada superficial das rochas.
O coberto vegetal é, no entanto, protector da erosão, não se verificando,
de forma significativa a presença de culturas arbóreas de crescimento
rápido, como o pinhal ou o eucaliptal, sendo, por isso consolidado.
As práticas agrícolas, predominantemente tradicionais são também pro-
tectoras e conservadoras dos solos.
O local de implantação da fortaleza e a vila intramuros não estão ex-
postos a fenómenos visíveis de degradação de origem geológica como
desmoronamentos de escarpas.
Sísmicos
Pela natureza do maciço rochoso onde se implanta e pela sua localização afas-
tada das principais falhas tectónicas activas, Almeida não tem sido afectada,
de forma grave, por terramotos ou outros fenómenos de origem telúrica.
No entanto são, por vezes, sentidos pequenos abalos, sem força para
causar destruição extensiva, mas capazes de causar danos estruturais
aos edifícios mais antigos e mais degradados, sobretudo nas constru-
ções civis, já que a solidez da muralha e o seu estado de conservação
garantem a sua resistência a abalos de pequena intensidade.
Apesar de não se tratar, geralmente, de grandes tremores de terra, a
sua repetição ao longo de séculos sobre as mesmas estruturas, pode,
ainda assim, resultar em deformações que podem afectar a solidez das
359
The occupation of basements, attics and interior compartments, turned
into houses, including the activities generally associated with the dwell-
ing function, such as cooking or washing up, introduces an elevated
moisture load into the structures, with negative consequences on wood,
power systems and even stone masonry, which can be easily attacked
by chemical agents.
– Abandon (with the pathologies usually associated to it)
Abandon is the biggest risk in Almeida’s heritage site.
The majority of buildings that disappeared in the last decades just sim-
ply collapsed, as a consequence of its owners’ abandonment (or of a
drop in investments).
Uninhabited or partially occupied buildings, left there for several win-
ter/summer cycles, exposed to weather conditions, are, at the end of
only a few years, ruins of which only a part of the ashlars masonry walls
or of the good granite masonry could be reused, being lost the floor and
roof frameworks, the wooden staircases, the lath partitioning among
other constructive elements.
Now, although the majority of buildings in Almeida’s historical centre
has, supposedly, mainly stone vertical structures, there still aren’t com-
pletely immune to the effects of physical, chemical, and biological at-
tacks, if the proper recovery and preservation works aren’t performed.
The loss of preciousness in a gutter, a roof, broken glass on windows or
the destruction of a doorway is enough to permit the entrance of rain-
water in the construction.
From that moment on, if the repair works don’t happened within a brief
timeframe, it begins the mortars’ leaching and the separation of the
stone brickworks (physical pathology), the decay of woods in roofs,
floors and staircases (biological pathologies), the oxidation of grids and
other metallic elements (chemical pathology).
Even when the buildings don’t collapse or aren’t tore down (to avoid ac-
cidents), its restoration is already going to find a residual cluster of pre-
existences with an impoverished value, because they lost floors, beams,
plasters, tiles and other constructive and decorative elements of buildings.
This abandonment is translated into the loss of financial value, whether
on a cultural plan or on the excessive costs associated with the restoration,
made extraordinarily more expensive when structural elements are lost.
This risk for degradation is the biggest concern in Almeida’ Histori-
cal Center, because it is relatively long, elongated and involved in cir-
cumstances which difficult its control and combat, particularly by the
effects devitalization has produces over the past decades and the subse-
quent impoverishment of owner, rendering them incapable of regularly
perform maintenance works on the buildings.
Cultural abuse (with inadequate architecture and engineering prac-
tices)
Associated with this type of risks, which involve the attitude kept to-
ward the pre-existences, there is also the inability or limitation of some
technical crews in dealing with the issue of safeguarding in the reha-
bilitation process.
In fact, the industry as well as the universities weren’t, until a few years ago,
prepared to train their technicians to preserve stone walls, woodworks, wood-
en floors or sloping roofs and, very frequently, the attitude of the projects (and
of the works) was highly destructive in face of the problems of the restoration
of buildings in a more or less advanced state of degradation.
construções mais frágeis, e em consequência também causar a ruptura
da sua estanqueidade.
7.5.2 – Principais riscos com origem nas actividades humanas
Os incêndios
Embora, em teoria, possam ocorrer em edifícios incêndios com origem
em trovoadas ou outras causas naturais a sua probabilidade é extre-
mamente reduzida. Assim inserimos este risco no grupo dos que têm
origem nas actividades humanas.
Almeida, e, em particular o seu centro histórico, felizmente, não tem
tido grandes fogos em edifícios.
Ocorrem, por vezes, focos de incêndio ou pequenos fogos com incidên-
cia em coberturas ou partes de casas, sem consequências irreversíveis
na perda de valores patrimoniais significativos.
Para estas circunstâncias concorrem, principalmente duas razões, primeiro
a ocupação, que permite que haja sempre alguém por perto quando um foco
de incêndio começa e, por isso o alarme é, geralmente, precoce, e segundo
porque existe um dispositivo dos Bombeiros localizado no interior da mu-
ralha para primeiro ataque aos fogos com um piquete e meios ligeiros e via-
turas de gabarito ajustado ao calibre das ruas estreitas da vila intra-muros.
Este piquete, que reputamos de essencial, consegue reagir em poucos
minutos a qualquer alarme, evitando que um foco de incêndio se trans-
forme num grande fogo.
Para além destes mecanismos, de combate activo aos fogos, existe re-
gulamentação e intervenção activa dos técnicos do Serviço Nacional
de Bombeiros, na apreciação de todos os projectos de reabilitação de
modo a minimizar os efeitos dos incêndios e a permitir um combate
eficaz aos mesmos, sempre que, infortunadamente, ocorram.
Importa garantir a permanência do referido quartel, que está alojado em
condições de alguma precariedade.
A vigilância e controle sobre prédios devolutos é crucial, constituindo uma
ameaça específica, por não serem tão vigiados como os edifícios ocupados.
Importa, por isso, uma rigorosa prevenção, vedando e vigiando con-
venientemente estes edifícios contra a intrusão e mantendo-os sempre
limpos, enquanto aguardam a recuperação e reutilização.
A sobrecarga e/ou usos desajustados dos edifícios
Os usos desajustados em certos edifícios podem colocar em situação de
risco o seu valor patrimonial. Armazéns de matérias inflamáveis ou cor-
rosivos, embora com pequena expressão constituem um risco agravado.
A ocupação com habitações em caves, sótãos e compartimentos interiores,
incluindo todas as actividades próprias à função residencial, como cozi-
nhar e lavar as roupas, introduz uma elevada carga húmida nas estruturas
com consequências negativas sobre as madeiras, as redes eléctricas e até
sobre alvenarias de pedra, facilmente atacável por agentes químicos.
O abandono (com as patologias que lhes estão associadas)
O abandono é o maior risco presente no sítio patrimonial de Almeida.
Edifícios habitados, desabitados ou parcialmente ocupados, deixados,
durante vários ciclos de inverno/verão com a exposição às intempéries
são, ao fim de poucos anos, ruínas onde só se aproveitam parcialmente
as paredes de cantaria ou de boa alvenaria de granito, perdendo-se os
vigamentos de soalhos e coberturas, as escadas de madeira, a comparti-
mentação de fasquio e outros elementos construtivos.
This risk implies an effort made by several segments of society towards the
training of a new generation of technicians capable of understanding the
constructive processes already used during the different construction stages
and during previous reconstructions of buildings, of performing the correct
diagnosis and of proposing and performing the most adequate action, rein-
forcing the cultural value and the economics of financial investment.
The combat to this risk implies a strong collaboration and articulation
between several institutional entities, particularly the Local Authority,
the draughtsman offices and the construction/rehabilitation companies.
Water and air pollution
Environmental risks, also originated from human activities, are now
more monitored than in past time, but, even still, there is the possibility
of adverse effects coming from water and air pollution, affecting build-
ings and infrastructures.
Given Almeida’s location, in the Peninsula’s Atlantic façade, with winds
coming mainly from the West and Northeast (not exposed to acid rains or
other corrosive factors), locally produced pollution is the one most likely to
affect air quality, which doesn’t assume considerable proportions, given the
reduced amount of industrial and urban activity. On this subject, road traffic,
along with the burning of fossil fuels, is a much more worrying factor, calling
for some attention because it affects ashlar masonries and other façade ele-
ments, which sometimes causes the condemnable use of aggressive means of
stone washing, resulting in stone stripping by acid or water erosion.
7.6 - Buffer Zone
The site classified as Fortress of Almeida includes the walls and, as a
non-aedificandi area, all the external surrounds, which correspond to
the esplanades, with some perimeter adaptation to existing pathways.
The space inside the walls, including the village’s buildings, produced
under different periods, and rebuilt after the destruction caused by the
magazines’ disaster, during the Napoleonic War, also acts as a protec-
tion space for the walls.
But Almeida’s landscape, with its plateau-like topography, determines a huge
set of visual frames from which the village and the fortress can be observed.
This means that the fortress’ image is extremely sensitive to possible dis-
tresses, not only in its close area, but also in more distant locations.
In order to prevent any sort of damages to the set’s heritage value, the
delimitation of an external buffer zone is essential. This external protec-
tion area (or, in the international language currently used on heritage, a
“buffer zone”) should be large enough to prevent the appearance of any
buildings which might significantly change the fortress’ silhouette or
the visual frame of its landscape.
This protection is intended to prevent intrusions in two ways. On the one
hand, to prevent that, in what concerns landscape, Almeida is harmed
by cover-ups or competitive presences; and, on the other hand, to avert
that, beginning in the fortress, the landscape is negatively marked by
visual or aesthetic “noises”, which could disfavour the set’s value.
So far, there aren’t any significant disturbing elements, apart from the
pretentious water reservoir, located only a few meters from the Clock
Tower. Fortunately, this was an isolated incident, but it still manages to
reveals the type of damages that can be inflicted on a work of art with
Almeida’s morphology and location.
360
Ora, a maior parte dos edifícios de Almeida, sendo, em princípio, dotados
de estruturas verticais predominantemente pétreas, não são, memo assim,
imunes aos efeitos dos ataques físicos, químicos e biológicos quando não
são realizadas as necessárias obras de recuperação e conservação.
Basta a perda de estanqueidade numa caleira, num telhado, os vidros
partidos em janelas ou a destruição de uma portada, para deixar a água
das chuvas entrar na construção.
A partir daí, se a reparação não é realizada atempadamente, começa a
lavagem das argamassas e a desagregação dos aparelhos de pedra (pato-
logia física), o apodrecimento das madeiras de coberturas, pavimentos
e escadas (patologias biológicas), a oxidação de grades e de outros ele-
mentos metálicos (patologias químicas).
Mesmo quando os edifícios não colapsam a sua recuperação já vai en-
contrar um conjunto residual de pré-existências de valor depauperado
pela perda de soalhos, vigamentos, estuques, azulejos e outros elemen-
tos construtivos e decorativos dos prédios.
Este abandono traduz-se em perda de valor patrimonial quer no plano
cultural quer no sobrecusto que acarreta para a recuperação que encare-
ce exponencialmente quando se perdem os elementos estruturais.
Este risco de degradação é o mais preocupante no Centro Histórico de
Almeida, por ser relativamente extenso, prolongado e envolvido por cir-
cunstâncias que dificultam o seu controle e o seu combate, nomeadamente
pelos efeitos que a desvitalização produziu durante as últimas décadas.
O abuso cultural (com práticas desajustadas de arquitectura e/ou
engenharia)
Associado a este tipo de risco, que envolve a atitude face às preexistên-
cias detecta-se também a incapacidade, ou limitação, de algumas equipas
técnicas em lidar com a problemática da salvaguarda em reabilitação.
De facto, não só a indústria como também a universidade, não esta-
vam, até há bem poucos anos, habituadas a formar os seus técnicos na
preservação de paredes de pedra, de carpintarias, de pavimentos ou de
coberturas inclinadas, sendo, por isso, muito frequente uma atitude de
projecto, e de obra, muito destrutivas face aos problemas de recupera-
ção de edifícios em estado, mais ou menos adiantado, de degradação.
Este risco implica um esforço de vários sectores da sociedade na for-
mação de uma nova geração de técnicos capazes de compreender os
processos construtivos já utilizados nas diversas etapas da construção e
reconstrução anterior dos edifícios, para poderem realizar o diagnóstico
rigoroso e proporem (e realizarem) as acções mais ajustadas, com eco-
nomia de valor cultural e de investimento financeiro.
O combate a este risco implica uma forte colaboração e articulação
entre diversos domínios institucionais, nomeadamente a autarquia, os
gabinetes de projectistas e as empresas de construção/reabilitação.
Poluição hídrica e atmosférica
Os riscos de natureza ambiental, também com origem nas actividades
humanas, são hoje mais monitorizados que no passado, havendo, ainda
assim, a possibilidade de efeitos nocivos de origem atmosférica ou hí-
drica sobre os edifícios e as infra-estruturas.
Dada a localização de Almeida na fachada atlântica da península, com ven-
tos predominantes do Oeste e Noroeste, portanto não exposta a chuvas áci-
das ou outros factores corrosivos, acaba por ser a poluição produzida local-
mente a única que poderá afectar para a qualidade do ar, o que não assume
dimensão face á reduzida actividade industrial e urbanística presente.
361
But if today the village’s interior is already under protection, the exteri-
or is still quite vulnerable. In fact, there aren’t any protection measures
able to effectively (legally) avoid the growth of immeasurable objects
on the landscape, which implies a creation of a broader buffer zone.
The buffer zone currently in force is only applicable approximately to
the fifty meters outside the walls, which is evidently insufficient for the
prevention of any “urban attack”, later impossible to revert.
Almeida has “benefited”, in this sense, from the lack of constructive
pressure and, in fact, the village has grown very poorly, always at the
expenses of low density expansion, with the predominance of 2-stories
constructions. This weak pressure climate has allowed for the mainte-
nance of a high coherence of the classified group, together with the sur-
rounding urban areas, with the landscape, leaving the entire emphasis
to the bulwarked fortress.
But the near future is expected to bring a bigger constructive dynamics,
more inhabitants and visitors, more activities and, along with that, a
higher urban pressure and bigger risks for the place’s image.
For this group of reasons, the Plano de Gestão do Sítio Classificado da
Fortaleza de Almeida (Management Plan of the Site Classified as For-
tress of Almeida) has defined a surrounding area to the fortress, where
constructions must be authorised and where some volumetric restric-
tions must be imposed, in order to prevent conflicts of interests.
This buffer zone involves the fortress in all quadrants, largely form-
ing an external polygon that engrosses urban areas, areas that might
become urban and areas that cannot become urban.
As a reference, a radius of about five-hundred meters should be en-
sured, taking any point in the fortress as a starting point, in which any
new construction must bear in mind the fortress’ presence and, there-
fore, must be subordinated to it, in its volumetric and architectonical
expression, in what the set’s balance is concerned.
This limitation is assessed locally, so that in may coincide with path-
ways, terrains’ extremities or already built groups, currently facing a
standardisation process.
With this protection process of the Fortress, a large part of the Village
of Almeida (outside the walls) acts as a frame, becoming part of the
heritage’s appreciation process.
This measure must be understood as the safeguard of an asset which
is interesting to all and on which all depend, more and more, for the
socioeconomic sustainability of the region, the council and even of its
inhabitants.
If, in fact, one looks at heritage as a scarce resource which must be
preserved and explored for the benefit of the development of local and
national communities, one finds a full justification for the need to main-
tain its current characteristics, in their most essential expression, so it
can be properly explored and that depends on, for a large part, the land-
scape’s balance, in which the monument is inserted and, together with
it, forms a single entity.
The single regulatory rule to be applied within the buffer area must
contemplate the mandatory need of a favourable assessment of any vol-
umetric alteration project (new construction or extension) and of any
implementation of facilities and utilities surpassing the average height
of existing constructions (6 meters) by the management body of the site
classified as Almeida.
 Área de Protecção do Plano de Gestão
Buffer Zone of the Management Plan

O tráfego rodoviário, com a queima de combustíveis fósseis será um With this measure, a restrictive, inconvenient and inhibitive regulation
causador do enegrecimento de cantarias, azulejos e outros elementos is prevented, which could be harmful to inhabitants, owners and pro-
de fachadas, tendo como consequência, por vezes a utilização de meios moters who want to construct in Almeida.
agressivos de lavagem da pedra, com decapagem da mesma por erosão As a central concern, the Management Plan is motivated to generate
ácida ou hídrica. new activities and to promote development; therefore, it wouldn’t be
admissible, in name of the fortress, to apply a regulation which could
result in a constructive paralysis.
7.6 - Área de protecção Almeida is, exclusively, intended to grow as it did until now, without
any prejudice of the fortress’ reading, its biggest resource indeed, even
O sítio classificado como Fortaleza de Almeida inclui as muralhas e if there is a growth in constructive pressure, as expected.
tem como área “non aedificandi” toda a envolvente exterior correspon-
dente ás esplanadas, com alguma adaptação de perímetro a caminhos
existentes.
O espaço intra-muros, constituído pela vila edificada em diversas épo-
cas e reconstruída após a destruição causada pelo desastre do paiol nas
guerras napoleónicas, é também espaço de protecção ás muralhas.
Mas a paisagem de Almeida, com a sua topografia planáltica, determina
um enorme conjunto de bacias visuais de onde se pode observar o con-
junto da fortaleza e da vila. Quer isto dizer que a imagem da fortaleza
é extremamente sensível a perturbações que poderão ocorrer, não só na
sua proximidade, mas também em localizações mais remotas.
No sentido de prevenir qualquer dano sobre o valor patrimonial do con-
junto é determinante a delimitação de uma área exterior de protecção.
Esta área exterior de protecção ou, na linguagem “internacional” cor-
rentemente utilizada sobre património “buffer zone”, deve ser suficien-
temente abrangente para evitar o aparecimento de qualquer volume que
possa alterar significativamente a silhueta da fortaleza ou o enquadra-
mento visual da sua paisagem.
Esta protecção procura prevenir a intrusão em dois sentidos. Por um
lado evitar que, na paisagem, Almeida surja prejudicada por encobri-
mentos ou por presenças competitivas, e por outro evitar que a partir da
fortaleza a paisagem surja negativamente marcada por “ruídos” visuais
ou estéticos que desfavoreçam o valor do conjunto.
Até ao presente não há a registar elementos perturbadores significativos
alem do pretensioso reservatório de águas situado a poucos metros da
torre do relógio.
Trata-se de um acidente, felizmente, algo isolado, mas ainda assim re-
velador do tipo de danos a que está sujeita uma obre de arte com a
morfologia e a localização de Almeida.
Mas, se no presente, o interior da vila já está protegido, o exterior ain-
da apresenta uma grande vulnerabilidade. De facto não há medidas de
protecção que permitam evitar eficazmente (legalmente) o crescimento
de objectos desmesurados na paisagem, o que implica a criação de uma
área de protecção alargada.
A área de protecção em vigor aplica-se apenas em cerca de cinquenta
metros pelo exterior das muralhas, o que é manifestamente insuficiente
para evitar qualquer “atentado urbanístico” de reversão irresolúvel.
Almeida tem “beneficiado” neste sentido, da falta de pressão construtiva,
e, de facto, a vila tem crescido paulatinamente sempre á custa de expansões
de baixa densidade onde predominam as construções de 2 pisos. Este clima
de pressão pouco positiva tem permitido ao conjunto classificado e á ur-
banização que o envolve, manter uma coerência elevada com a paisagem,
deixando todo o destaque á importância da fortaleza abaluartada.

362
Mas esperta-se que o futuro próximo traga mais dinâmica construtiva,
mais habitantes e visitantes, mais actividades e, com isso, mais pressão
urbanística e mais riscos para a imagem do sítio.
Por este conjunto da razões o Plano de Gestão do Sítio Classificado da Forta-
leza de Almeida, delimitou uma área envolvente á fortaleza onde a edificação
deverá, em princípio, ser licenciada, mas onde deverão ser impostas algumas
restrições volumétricas, de modo a prevenir conflitos de interesses.
Essa área de protecção envolve a fortaleza em todos os quadrantes, for-
mando “grossomodo” um polígono exterior que engloba áreas urbani-
zadas, áreas urbanizáveis e áreas não urbanizáveis.
Como referência procura-se garantir que num raio de cerca de quinhentos
metros a partir de qualquer ponto da fortaleza, qualquer nova construção
tenha de atender á presença do monumento, e por isso de subordinar a sua
expressão volumétrica e arquitectónica ao equilíbrio do conjunto.
Esta delimitação é aferida localmente para poder coincidir com caminhos,
extremas de terrenos ou conjuntos já edificados em processo de colmatação.
Com este processo de protecção á Fortaleza, grande parte da Vila de
Almeida (extramuros) assume o seu papel de enquadramento, tomando
parte no processo de valorização do seu património.
Entenda-se esta medida como uma salvaguarda de um bem que interessa a
todos e de que todos dependem, cada vez mais, para a sustentabilidade sócio
económica da região, do concelho e até de cada um dos seus habitantes.
Se, de facto, olharmos o património como um recurso escasso que de-
vemos preservar e explorar para o benefício do desenvolvimento da
comunidade local e nacional, encontramos a plena justificação da ne-
cessidade de manter as suas actuais características naquilo que é mais
determinante para a sua equilibrada exploração, e isso depende, em
grande medida, do equilíbrio da paisagem onde o monumento se insere
e que, com ele, forma uma só entidade.
Como regra regulamentar única a aplicar na área de protecção deve-
rá impor-se a necessidade, imperativa, de parecer favorável a qualquer
projecto de alteração volumétrica (construção nova ou ampliação) ou
de implantação de instalações e equipamentos que ultrapassem a altura
média das construções existentes (6 metros) por parte do órgão de ges-
tão do sítio classificado de Almeida.
Com esta medida procura-se evitar uma regulamentação restritiva, in-
cómoda e inibidora, penalizadora para os habitantes, proprietários e
promotores que pretendam realizar construções em Almeida.
Tendo o Plano de Gestão, como preocupação central, gerar novas acti-
vidades e promover o desenvolvimento, não seria admissível, em nome
da fortaleza, a aplicação de um regulamento que se poderia traduzir por
uma paralisia construtiva.
Pretende-se, exclusivamente, que Almeida cresça, como até aqui, sem
prejuízos para a leitura da sua fortaleza, afinal, o seu maior recurso,
mesmo que a pressão construtiva aumente como se espera.

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 Candidatura das Fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO
CANDIDACY OF THE BULWARKED FORTIFICATIONS
OF THE PORTUGUESE-SPANISH “RAIA” (BORDER LINE)
AS WORLD HERITAGE – UNESCO

Edição Edition
Câmara Municipal de Almeida

Coordenação Coordination
João Campos

Colaboração Collaboration
João Marujo

Desenho Drawings
Jaime Campos
Paulo Veiga
Paulo Costa (CMA)

Topografia Topography
António Almeida (CMA)

História History
Paulo Amorim e Paula Sousa (CMA)

Tratamento Informático Computer Processing

Paulo Veiga

Medição e Desenho Measurement and Drawings

Jaime Campos, Paulo Veiga

Fotografia Photographs
Paulo Veiga, João Marujo, João Campos, Jaime Campos, Ribeiro de Faria

Tradução Translation
“Traduções Incríveis” – Senhora da Hora

Direcção gráfica Graphic design

Armando Alves

Pré-impressão Prepress
A. Alves – Arte e Edições, Lda.

Impressão Printing
Greca – Artes-Gráficas

Depósito legal Legal deposit ???????????

ISBN ???????????

Julho de 2009

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