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UMA INTRODUCAO A HISTORIA DA GEOMETRIA *
PROJETIVA
Abramo Hefes
1. As Origens
0 Renascimento (aproximadamente de 1400 DC a 1600 DC) foi un
pertodo marcado por profundas transformacées do pensamento humano.
Em particular, as Artes Plasticas e a Geometria, dois campos com
estreitas ligagdes e cristalizados por mais de doze séculos, passa
ram por uma revolucdo que as libertou do jugo do classicismo grego
antigo.
A representagdo de figuras estaticas na pinturae na escul
tura gregas, com grande preocupacgado estética quanto 3 forma, — mas
sem nenhum ontelido dramatico, foi gradualmente cedendo lugar para
a representacao de. cenas de e¢ao onde os personagens refletiam os
seus estados emocionais.
Os artistas passaram a necessitar de técnicas e conceitos no
vos para gue a sua obra se tornasse uma boa representagio da reali
dade, ou muitas vezes de sua fantasia.
A Geometria Euclidiana, com as suas nocgdes de semelhangca e&
de equivalencia de figuras mediante as congruéncias, nao era capaz
de atender 3s novas necessidades. Foi entdo surgindo, de modo intui
tivo, a nocie de Perspectiva nos trabalhos dos pintores do inicio
do século 18.
A primeira sistematizacao matematica do conceito de perspec
tiva, foi feita em 1435 pelo italiano Leone Battista Alberti. A idéia
(*) Estas so notas de uma palestra proferide na_reuniao regional da S.8.N.
en comemoragao dos 20 anos do Curso de Matematica da Universidade Federal
do Espirito Santo, Vitdria Gutubro de 1985.
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de Alberti foi a de simplificar o complexe mecanismo da visio. A
grosso modo, a visdo humana & o processamento das duas imagens pla
nas, ligeiramente deslocadas uma em relacdo a outra, formadas uma
em cada 6Tho. 9 cérebro entao recria a sensacao de tridimensionali
dade.
A proposta de Alberti foi a de pintar o que um sé dlho ve,
recuperando na tela @ sensagao de profundidade com um Jago de luz
e sombra e com 2 diminuicdo da intensidade da cdr em funcio da dis
tancia.
0 modélo matematico @ simples. Entre 0 d1ho e 0 objeto a ser
pintado, forma-se um cone de ratios luminosos, chamado de Cone de tua
gem ou de Paojecao. A pintura & entao idealizada como uma segao des
te cone pelo piano da tela. Este método & chamado de Secue de Pro
fegao. Como a tela nfo & transparente, ela deve ser posta desloca
da em relagdo ao cone de imagem. Alberti deu entao uma série de re
gras para transportar para a tela o que estaria na secao plana do
cone. Fato notavel, € que olhando para a pintura, tem-se a mesma
sensacéo que se teria se se olhasse para a cena pois, os raios que
emanam do quadro simulam os rajos que emanariam do objeto. Claro es
t& que, tomando duas secées diferentes da mesma projecao, obtem-se
duas representactes da mesma realidade.
Uma pergunta natural que se apresenta a este ponto @, quais
so as propriedades comuns a duas secdes de uma mesma projecdo? Tais
propriedades séo chamadas de Pacjetivas. Por exempio, a incidéncia
de pontos e retas sé propriedades projetivas enquanto que, as se
codes de uma mesma projecao nao preservam, distancias, angulos e tam
pouco nocées t&o caras & Geometria Euctidiana tats como, paralelis
mo de retas e semelhanca de figuras (veja figura 1).
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BTE
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Isto foi o ponto de partida para uma nova geometria, chama
da de Geometaia Praojetiva. ‘
As idéfas projettvas apareceram de modo bem yago peta pri
meira vez en 1604 no livre Stica Astronémica de autoria de Kepler.
+ Apolénio e Arquimedes haviam observado que o cTrculo, a elipse, a
parabola, a hipérbole e 0 par de retas concorrentes podiam ser ob
tidos por sec%o de um cone circular reto, Kepler foi mais longe no
tando que cada uma destas curvas pode ser deformada continuamente
numa das outras. Ao varfar continuamente o plano da secéo, o cir
culo se transforma numa elipse que se transforma numa parabola pa
ra a seguir se transformar numa hipérboie, Kepler deu a seguinte
explicago: da elipse para o parabola, um dos focos "vai para 0
infinito” para na hipérbole reaparecer do outro lado. A nocdo de
ponte no infinito s6 seria esclarecida mais tarde.
Fig. 2