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Técnicas de Reforço Menos Correntes de Estruturas de Betão

Technical Report · January 2002


DOI: 10.13140/RG.2.1.1585.7128

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Jorge de Brito
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APONTAMENTOS DA CADEIRA DE INSPECÇÃO E
REABILITAÇÃO DE CONSTRUÇÕES

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA CONSTRUÇÃO

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE


DE COIMBRA

TÉCNICAS DE REFORÇO MENOS CORRENTES DE ESTRUTURAS DE BETÃO

Jorge de Brito

Janeiro de 2002
Prefácio

Estes apontamentos pretendem ser um apoio aos


alunos do Curso de Mestrado em Ciências da
Construção da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra, no
domínio das técnicas de reforço de construções
que possuam estrutura de betão armado e pré-
esforçado e onde tenham sido detectadas
anomalias estruturais ou funcionais.
O texto foi dividido fundamentalmente em seis
partes, sendo a primeira dedicada ao reforço com
sistemas FRP, a segunda ao reforço por
introdução de perfis metálicos, a terceira ao
reforço com recurso a pré-esforço, a quarta ao
reforço por introdução de novos elementos
estruturais resistentes, a quinta a outros tipos de
reforço e a sexta à análise da estrutura após a
intervenção.
Os apontamentos basearam-se fundamentalmente
em dois textos do mesmo autor, “Reabilitação de
Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado.
Volume 3” [20] e “Reabilitação de Estruturas de
Betão Armado e Pré-esforçado. Volume 4” [21],
Relatórios DEC. AI 13/88 e AI 14/88, do Centro
de Mecânica e Engenharia Estruturais (CMEST -
IST).
ÍNDICE

1. Considerações gerais 1
2. Reforço com sistemas FRP 3
2.1. Introdução 3
2.2. Técnicas de execução 4
2.2.1. Preparação do substrato 4
2.2.2. Aplicação do material 5
2.3. Critérios de redimensionamento 9
3. Reforço por introdução de perfis metálicos 13
3.1. Introdução 13
3.2. Técnicas de execução 15
3.3. Pilares 16
3.4. Paredes 22
3.5. Vigas 24
3.6. Lajes 26
3.6.1. Flexão 26
3.6.2. Punçoamento 30
3.7. Critérios de redimensionamento 31
3.7.1. Critérios gerais 31
3.7.2. Pilares 32
3.7.3. Vigas 37
3.7.4. Lajes 38
4. Reforço com recurso a pré-esforço 39
4.1. Introdução 39
4.2. Técnicas de execução 41
4.3. Reforço à flexão 45
4.4. Reforço ao esforço transverso 49
4.5. Critérios de redimensionamento 50
5. Reforço por introdução de novos elementos estruturais resistentes 52
5.1. Introdução 52
5.2. Técnicas de execução 53
5.3. Substituição de elementos deficientes 55
5.4. Criação de novos elementos 57
5.5. Critérios de redimensionamento 67
6. Outros tipos de reforço 71
6.1. Introdução 71
6.2. Criação ou eliminação de ligações internas 71
6.3. Introdução de deslocamentos impostos 77
7. Análise da estrutura após a intervenção 79
7.1. Introdução 79
7.2. Análise estrutural 79
7.3. Avaliação da eficácia da intervenção 81
7.4. Campos de investigação necessária 83
8. Conclusões 86
9. Referências 88
Mestrado em Ciências da Construção Disciplina de Inspecção e Reabilitação de Construções
Técnicas de reforço menos correntes de estruturas de betão por Jorge de Brito

TÉCNICAS DE REFORÇO MENOS CORRENTES DE ESTRUTURAS


DE BETÃO

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

No âmbito do presente curso de mestrado, dedicaram-se diversos documentos à


reabilitação das construções, com forte ênfase nos aspectos estruturais do betão, como
material estrutural preponderante em Portugal. Assim, referiu-se a problemática da
metodologia de intervenção, os materiais e técnicas usados na reparação e ainda as técnicas de
reforço mais correntes e sedimentadas na prática: o encamisamento das peças danificadas ou
de resistência / rigidez insuficientes com novo material de carácter cimentício; a colagem /
rebitagem de chapas metálicas pelo exterior das referidas peças. Para além dos documentos
incluídos na bibliografia oficial desta disciplina do curso de mestrado, refira-se ainda a
existência de um documento sobre as técnicas de reforço referidas [22], que poderá também
ser útil na análise das mesmas.

No presente documento, vão ser tratadas as técnicas de reforço menos correntes de


estruturas de betão. Assim referir-se-ão a colagem de produtos compósitos (sistemas FRP)
pelo exterior, a introdução de perfis metálicos comerciais como complemento da resistência
e/ou rigidez dos elementos estruturais originais, a utilização do pré-esforço exterior
(geralmente para controlo de deformações), o reforço global da estruturas com a inserção de
novos elementos estruturais de grande resistência e/ou rigidez e ainda técnicas menos
correntes como a criação ou eliminação de ligações internas ou a introdução de deslocamentos
impostos. Para cada técnica de reforço, referir-se-ão as suas principais características, os
processos construtivos e, sempre que possível, os critérios de redimensionamento.

Tal como referido anteriormente, define-se como técnica de reforço (em oposição a
técnica de reparação, objecto de descrição aprofundada em outros documentos no âmbito do
presente curso) uma técnica cuja intenção é aumentar a capacidade resistente e/ou a rigidez
em relação ao seu nível inicial de projecto. A estrutura deverá, após a execução do reforço, ser
objecto de uma análise aprofundada que permita avaliar a eficácia da intervenção. Refira-se,

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no entanto, que essa análise, se apenas analítica e não baseada em ensaios de carga globais, é
ela própria ainda relativamente pouco eficaz no estado actual do conhecimento.

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Técnicas de reforço menos correntes de estruturas de betão por Jorge de Brito

2. REFORÇO COM SISTEMAS FRP

2.1. Introdução

Em documento deste mesmo curso, foram sumariamente descritos os chamados


sistemas FRP, constituídos por compósitos de resinas e fibras, estas últimas de carbono (as
que têm maiores potencialidades e as únicas sobre as quais o actual documento incide), vidro
ou outros materiais. Foi também referido que os elementos de reforço se podem apresentar
sob a forma de cordões (de pequena aplicação na prática - Fig. 1, à esquerda), mantas (Fig. 1,
à direita), tecidos (Fig. 2, à esquerda) e laminados (Fig. 2, à direita - pré-fabricados). Podem
ser utilizados tanto no reforço de edifícios (Fig. 3, à esquerda) como no de estruturas especiais
(Fig. 3, à direita).

Fig. 1 [18] - Utilização de sistemas CFRP em reforço de estruturas: em cordões (à esquerda) e


em mantas (à direita)

Fig. 2 [18] - Utilização de sistemas em reforço de estruturas: em tecidos (à esquerda) e em


laminados (à direita)

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Técnicas de reforço menos correntes de estruturas de betão por Jorge de Brito

Fig. 3 [18] - Recurso a sistemas CFRP no reforço de uma laje de edifício (à esquerda) e de um
viaduto (à direita)

2.2. Técnicas de execução

Independentemente do tipo de sistema (laminados ou mantas / tecidos), a execução dos


reforços que recorrem aos sistemas CFRP consistem fundamentalmente em duas operações: a
preparação do substrato e a aplicação do material de reforço. Os elementos são colados à
estrutura existente através de resinas, sendo que, no caso dos laminados, a aplicação da resina
precede a fixação e aplicação do material, enquanto que, nos caso das mantas e dos tecidos,
são aplicadas várias camadas de resina.

2.2.1. Preparação do substrato

O substrato no qual vai ser aplicada a resina não deve apresentar betão degradado,
delaminado, fendilhado, com armaduras expostas ou sintomas de corrosão. Se existirem
fendas, estas deverão ser seladas e, sempre que possível, injectadas. Outras irregularidades
consideráveis, que possam resultar em forças de desvio importantes, deverão ser pré-niveladas
pela aplicação de argamassa epoxídica (funcionando como filler).

Apesar de rectilínea (as irregularidades devem ser controladas a 5 mm em 2 m - Fig. 4, à


esquerda - de forma a limitar a espessura da resina adesivo), pretende-se que a superfície do
betão fique rugosa, deixando semi-expostos os agregados grossos (Fig. 4, à direita). Para tal,
pode-se recorrer, no caso dos laminados, à passagem com um martelo de agulhas (Fig. 5, à

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esquerda), a jacto de água (Fig. 5, ao centro) ou a jacto de areia (Fig. 5, à direita). Para as
mantas, pode-se recorrer ao lixamento (Fig. 6, à esquerda) ou ao arredondamento das arestas
(Fig. 6, ao centro) para raios não inferiores a 10 mm. No caso dos tecidos, a passagem com
um esmeril (Fig. 6, à direita) e o arredondamento das arestas são possíveis.

Fig. 4 [18] - À esquerda, controlo das irregularidades e, à direita, aspecto rugoso do substrato
de betão após a sua preparação

Fig. 5 [18] - Preparação do substrato de betão para laminados: por picagem com martelo de
agulhas (à esquerda), por jacto de água (ao centro) e por jacto de areia (à direita)

2.2.2. Aplicação do material

Após a limpeza do substrato, aplica-se o primário, cujas funções são melhorar a


resistência superficial do betão (garantindo uma tensão de arranque de pelo menos 1.5 MPa,
verificada através de em ensaio de pull-off - Fig. 7, à esquerda e ao centro) e limitar a
absorção da resina epoxídica pelo betão (Fig. 7, à direita, relativa a um laminado). Refira-se
que a resina aqui descrita é o chamado adesivo, que tem de apresentar um módulo de

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Técnicas de reforço menos correntes de estruturas de betão por Jorge de Brito

elasticidade ao corte extremamente elevado para garantir a transmissão de esforços entre o


compósito e o betão. Já se referiu também o primário e o filler, existindo ainda as resinas de
saturação ou impregnação, parte intrínseca do próprio sistema e funcionando como
aglutinante, e as pinturas de protecção, referidas mais adiante.

Fig. 6 [18] - Preparação do substrato de betão para mantas e tecidos: por lixamento (à
esquerda), por arredondamento das arestas (ao centro) e por picagem com esmeril (à direita)

Fig. 7 [18] - À esquerda, preparação do ensaio de pull-off do betão após aplicação do


primário, ao centro, execução do ensaio numa fase posterior e, à direita, representação
esquemática da ligação laminado - betão

No caso dos laminados, segue-se a limpeza da superfície dos mesmos que irá ficar em
contacto com a resina recorrendo a um solvente (Fig. 8, à esquerda) e a aplicação nessa
mesma face da resina (Fig. 8, ao centro), cuja espessura deve ser controlada por forma a não
ultrapassar os 2 mm (devido à grande deformabilidade da resina, uma espessura elevada
diminui drasticamente a eficácia do funcionamento conjunto do reforço com o betão). Passa-
se então à fixação dos laminados, que consiste na sua aplicação através de rolos (Fig. 8, à

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direita) e no controlo da qualidade e posicionamento. Existem alguns cuidados específicos na


aplicação. É preciso limitar a 4% a humidade do substrato durante a aplicação do reforço ou,
em alternativa, utilizar um adesivo que garanta um bom desempenho sobre uma base húmida.

Fig. 8 [18] - À esquerda, limpeza do laminado com solvente e, ao centro, aplicação e controlo
da espessura da resina adesivo e, à direita, aplicação do laminado com recurso a rolos

Os laminados devem ficar, após aplicados, o mais planos possível recorrendo a resinas
de regularização do substrato de forma a evitar forças de desvio (Fig. 9, à esquerda) ou cunhas
de rotura (Fig. 9, à direita). Embora os laminados, por não permitirem curvatura, estejam
vocacionados para reforço de lajes e vigas (em betão, aço ou madeira) à flexão (Fig. 10, à
esquerda), podem ser utilizados para reforço ao esforço transverso da introdução de elementos
adicionais de amarração em mantas (Fig. 10, ao centro) ou em peças metálicas (Fig. 10, à
direita).

Fig. 9 [18] - Situações a evitar na aplicação de laminados: forças de desvio (à esquerda) e


cunha de rotura (à direita)

A sequência de aplicação das mantas e tecidos é a seguinte: é aplicado o primário (Fig.

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11, à esquerda); o substrato é reparado / regularizado com argamassa epoxídica (Fig. 11, ao
centro); é aplicada a primeira camada de resina para colagem (undercoating) (Fig. 11, à
direita); são aplicadas as mantas ou os tecidos (Fig. 12, à esquerda); é aplicada a resina de
impregnação (overcoating) (Fig. 12, ao centro); é aplicado revestimento de protecção ao fogo
e aos ultra-violetas (Fig. 12, à direita).

Fig. 10 [18] - Reforço com laminados: à flexão simples (à esquerda) e ao esforço transverso
(ao centro, com mantas e, à direita, com mantas e cantoneiras metálicas)

Fig. 11 [18] - Fases da aplicação das mantas e tecidos: aplicação do primário (à esquerda),
reparação do substrato (ao centro) e undercoating (à direita)

Fig. 12 [18] - Fases da aplicação das mantas e tecidos: aplicação do reforço (à esquerda),
overcoating (ao centro) e aplicação da protecção (à direita)

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A aplicação das mantas e tecidos tem de ser muito cuidada para garantir uma boa adesão
ao betão, levando a eventual rotura por flexão para o interior do mesmo. Entre outros, podem-
se citar questões como a deficiente impregnação das fibras (Fig. 13, à esquerda) e o deficiente
preparação do substrato, dando origem a bolhas (Fig. 13, à direita). Para além de funcionarem
como complemento dos laminados (Fig. 10, ao centro e à direita, e Fig. 14, à esquerda), as
mantas e tecidos estão particularmente vocacionados para o reforço de pilares através de um
efeito de confinamento (Fig. 14, à direita)

Fig. 13 [18] - Sintomas de má execução em mantas e tecidos: na impregnação das fibras (à


esquerda) e na preparação do substrato (à direita)

Fig. 14 [18] - Reforço com mantas e tecidos: em complemento a laminados (à esquerda) e em


cintagem de pilares (à direita)

2.3. Critérios de redimensionamento

O recurso a sistemas CFRP, materiais com resistências e módulo de elasticidade


elevadíssimos, no reforço de estruturas e elementos de betão permite o aumento, simultâneo

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ou não, de duas características: a resistência, devido a um acréscimo de material resistente à


tracção ou à compressão (no caso dos laminados) ou a um efeito de confinamento (Fig. 15, à
esquerda - caso das mantas e tecidos); a ductilidade, devido a esse mesmo efeito de
confinamento, que impede o betão fracturado de se desagregar e conduzir à ruína prematura
dos elementos (Fig. 15, à direita).

Fig. 15 [18] - Aumento da resistência (à esquerda) e da ductilidade (à direita) dos elemento


reforçados com laminados, mantas ou tecidos de CFRP

Como critérios gerais, é recomendado que o acréscimo de resistência conseguido com o


reforço não ultrapasse os 50% da capacidade resistente da peça antes do reforço, que seja
garantida um coeficiente de segurança da capacidade resistente residual (isto é, na
eventualidade de o elemento de reforço deixar completamente de contribuir para a resistência
do conjunto por uma acção de fogo, vandalismo ou explosão) em relação às acções previstas
nessas circunstâncias entre 1.0 e 1.2 e ainda que se tome medidas relativamente a modos de
ruína prematura dentro dos possíveis [19] (Fig. 16).

Deve ser garantido um controlo de qualidade de todo o processo, muito baseado em


ensaios de aderência (pull-off e torque) e corte (simples ou duplo) e de tracção pura dos
CFRP. A zona de ancoragem é a mais sensível, sendo necessário optar entre garantir essa
ancoragem apenas por colagem ou com recurso a meios e materiais auxiliares (Fig. 17).

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Fig. 16 [19] - Tipos de ruína possíveis do reforço

Fig. 17 [19] - Hipóteses de amarração das extremidades dos laminados

No dimensionamento à flexão simples, deve ser adoptado um coeficiente de


monolitismo inferior à unidade (e o coeficiente de minoração em relação às tensões deve ser
de 1.5 [18]) e feita uma verificação em serviço (controlo de abertura de fendas e de
deformadas), muito semelhante ao preconizado no reforço por colagem de chapas metálicas
(Fig. 18). A selecção adequada do módulo de elasticidade (afectado de um coeficiente de
comportamento igual a 1.0 para laminados, 1.1 para mantas e 1.2 para tecidos [18]) e da

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extensão na rotura (sugere-se valores de 8‰ para laminados e mantas e 6‰ para tecidos [18],
valores muito inferiores aos que se conseguem obter em ensaios de tracção pura) do CFRP é a
chave do problema e deve ter em conta o estado de tensões e extensões dos materiais
existentes no início do reforço (por exemplo, para ter em conta a contribuição da armadura
existente, a extensão nos compósitos dificilmente poderá ultrapassar os 2 a 2.5‰). Em
alternativa, poderá ser considerado um cálculo plástico, em que se ignore a contribuição da
armadura existente, mas desde que se faça um controlo rigoroso ao nível das deformadas e
fendilhação.

Fig. 18 [18] - Verificação de vigas reforçadas à flexão simples

No dimensionamento ao esforço transverso, o cálculo segundo o modelo de treliça


modificado limita à partida as extensões dos compósitos a valores da ordem dos 2 a 3‰. O
cálculo deverá ser feito, à semelhança do que acontece para o reforço por adição de varões
e/ou chapas metálicas, pela consideração da contribuição resistente das parcelas do betão, dos
estribos existentes e do elemento de reforço, esta última afectada de um coeficiente de
comportamento da ordem dos 0.8 a 0.9. É fundamental assegurar a amarração das mantas ou
tecidos na região de compressão da secção, para o que poderá ter de se recorrer a peças
metálicas complementares (fig. 10, à direita) ou ao embebimento das mantas / tecidos em
resina.

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3. REFORÇO POR INTRODUÇÃO DE PERFIS METÁLICOS

3.1. Introdução

São tratadas neste capítulo as soluções de reforço por solidarização ou incorporação de


perfis metálicos comerciais na peça existente nos lugares adequados eventualmente
complementada pela introdução de chapas metálicas coladas, soldadas, chumbadas ou
rebitadas. As dimensões da peça existente não sofrem alterações apreciáveis na generalidade
dos reforços deste tipo (ainda que não em todos), à parte eventuais camadas de protecção
contra o fogo e a corrosão dos perfis ou chapas sem capacidade resistente própria.

Com este tipo de reforço, pretende-se em geral aumentar a capacidade resistente à flexão
composta e ao esforço transverso em pilares e vigas, a capacidade resistente ao corte e a
solidarização em paredes e modificar o sistema estrutural de apoio em lajes.

O principal problema deste tipo de reforço, tal como acontecia nos casos anteriores [22],
é a dificuldade em conseguir um funcionamento conjunto eficaz das peças existentes e dos
perfis metálicos de reforço. No caso particular de pilares, essa ligação é fundamental para
evitar problemas de varejamento nos perfis que resultariam do facto de estes não estarem
solidarizados ao betão existente. Por vezes, um reforço deste tipo em que tudo parece estar em
ordem vem a ter problemas quando posto em carga por deficiências na execução do mesmo.
No entanto, a partir do instante em que se garante o monolitismo da peça reforçada, o seu
cálculo é muito semelhante ao cálculo de um elemento estrutural novo e em particular ao de
peças reforçadas por colagem de armaduras [22].

Neste tipo de reforço, põe-se com mais premência um problema adicional que tem a ver
com os eventuais efeitos secundários do reforço de uma determinada peça estrutural nos
restantes elementos, mesmo quando estes não se encontram muito próximos. A alteração da
distribuição de esforços e de rigidezes deve ser cuidadosamente tomada em conta num cálculo
automático que simule a situação estrutural pós-reforço para verificar a necessidade de
eventuais reforços adicionais nas peças mais afectadas pela acção de reabilitação da estrutura.

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As principais vantagens deste tipo de reforço são [1] [2]:

 se for adequadamente executado, permite uma melhoria sensível da capacidade resistente


e da ductilidade da peça ainda que seja menos eficaz que o reforço por encamisamento
sob o ponto de vista de uniformidade de tensões e resistência;
 rapidez de execução e de colocação em carga da estrutura reforçada;
 manutenção da secção existente na maioria dos casos a menos do que atrás foi referido;
 possibilidade de manter em serviço a estrutura a reforçar.

As principais desvantagens são [2]:

 elevado custo;
 possibilidade de criação de efeitos secundários na zona dos nós e nas peças adjacentes
não reforçadas;
 mão-de-obra relativamente especializada;
 necessidade de grande controlo na execução;
 necessidade de proteger todas as peças metálicas (perfis, chapas, conectores, buchas, etc.)
contra o fogo e a corrosão através da colocação de revestimentos exteriores de materiais
adequados (muitas vezes betão armado com uma armadura de pele) (Fig. 19);
 perigo de concentração de tensões de corte nas lajes entre troços de pilar reforçados se
não for dada continuidade a esses mesmos reforços.

Fig. 19 [1] - Revestimento dos perfis metálicos para protecção contra o fogo

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3.2. Técnicas de execução

Referem-se de seguida algumas das precauções a tomar para garantir a eficácia deste
tipo de reforço.

As superfícies de betão da peça existente que irão estar em contacto com os perfis
metálicos devem ser picadas ou sujeitas a um jacto de areia para garantir a limpeza de
líquidos, partículas facilmente desagregáveis, leitada superficial ou pó que possam diminuir o
efeito de aderência que se pretende [1]. Tal como acontece em relação ao tipo de reforço por
chapas coladas [22], é fundamental eliminar macro-rugosidades nessas superfícies para não
haver grandes variações na espessura do ligante [2]. Há também vantagem em eliminar as
arestas vivas do betão existente para conseguir que as faces interiores dos perfis metálicos de
canto (cantoneiras) encaixem o melhor possível nos cantos da peça [2].

O material mais adequado para ligante é uma argamassa epoxídica não retráctil
adequada às circunstâncias [1]. De facto, para conseguir uma união perfeita da base e do perfil
metálico, é necessário um material de alta resistência à compressão que actue como elemento
intermédio entre o aço e o betão, criando um colchão rígido que transmita as cargas e elimine
os contactos pontuais. Se não se conseguir esta união, os perfis metálicos só entrarão em carga
após o esgotamento da capacidade resistente do betão. Os cuidados na utilização da argamassa
epoxídica são extensamente referidos em [22], pelo que não serão aqui referidos.

Conseguida a união dos perfis metálicos à peça existente, pode haver necessidade de
solidarizar os perfis entre si por chapas metálicas laterais. Estas podem ser soldadas por
pontos aos perfis metálicos conferindo assim um efeito de caixão ao reforço, melhorando a
resistência ao esforço transverso da peça reforçada e contribuindo para a formação de um
estado triaxial de tensões no betão existente. A ligação das chapas aos perfis pode também ser
conseguida através de colagem por resinas epoxi (com as precauções referidas em [22]e [23]),
por recurso a rebitagem, conectores, buchas de expansão ou parafusos pré-esforçados [2].

Vai-se referir em separado as técnicas relativas a pilares, paredes, vigas e lajes.

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3.3. Pilares

É neste elemento estrutural que este tipo de reforço tem sido mais utilizado em face das
suas características individuais. A técnica mais corrente consiste na colocação de cantoneiras
nos quatro cantos do pilar solidarizadas lateralmente por meio de chapas metálicas ou varões.
As partes superior e inferior do reforço terminam em capitel e base metálica respectivamente
(Figs. 20, 21 e 22).

Fig. 20 [1] - Reforço de pilar com recurso a perfis metálicos

Após a preparação dos cantos do pilar existente, solidariza-se as cantoneiras utilizando


uma argamassa epoxídica. Conseguida a união entre o capitel e as vigas ou a laje superior e
entre a base e a laje inferior ou a sapata (por intermédio de resinas epoxi, argamassas de alta
resistência com inertes metálicos ou argamassa de cimento expansivo [2]), encaixa-se os
extremos superior e inferior das cantoneiras ao capitel e à base e liga-se por soldadura por
pontos. As chapas metálicas são depois ligadas aos perfis em geral também por soldadura por
pontos. Verificado todo o conjunto, procede-se de seguida à soldadura de todo o reforço

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preenchendo os espaços entre os pontos de soldadura [2] (Fig. 23).

Fig. 21 [3] - Reforço de pilar com recurso a perfis metálicos

Os vazios e intervalos entre o esqueleto do reforço metálico e o pilar existente podem


ser preenchidos com argamassa epoxídica ou de cimento não retráctil [2].

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Fig. 22 [4] - Reforço de pilar com recurso a perfis metálicos

Fig. 23 [1] - Reforço de pilares com recurso a perfis metálicos

As chapas metálicas podem ser pré-esforçadas o que permite aumentar o confinamento


do pilar existente ao mesmo tempo que aumenta a aderência dos perfis por introdução de
atrito. Esse pré-esforço pode ser conseguido por meios mecânicos ou por colocação das
chapas a quente (200 a 400 ºC [1]). Qualquer dos procedimentos complica assinalavelmente a
montagem e, em geral, só raras vezes se consegue na prática o objectivo pretendido [1]. Daí
que seja mais seguro contar apenas com as tensões laterais introduzidas pelo efeito de Poisson
devido às tensões de compressão adicionais [1].

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A maior dificuldade consiste na solidarização dos troços reforçados do pilar através das
vigas e lajes dos pisos. Esta solidarização é fundamental para não criar pontos sensíveis nos
nós de ligação. Quando a laje a atravessar é aligeirada de vigotas pré-esforçadas e não existe
nenhuma viga ou vigota num dos alinhamentos do pilar, podem utilizar-se chapas metálicas
que atravessam a laje de lado a lado em duas faces postas. Para tal, fazem-se rasgos nas
abobadilhas cerâmicas e soldam-se as chapas metálicas de cada lado da laje [1] (Fig. 24).

Fig. 24 [1] - Continuidade do reforço metálico através de placas metálicas

Em alternativa e quando existem vigas segundo qualquer dos alinhamentos dos pilares,
pode-se utilizar vergalhões soldados aos cantos das cantoneiras e de cada lado da laje [1]. Os
vergalhões estão colocados de tal forma que a execução dos furos por onde passarão não
interfira com as vigas mas apenas com as lajes (Fig. 25).

Este tipo de reforço pode também ser conseguido à custa de perfis em U que são depois
soldados nas pontas e em toda a altura de maneira a formar um caixão fechado com um
espaço livre entre os perfis e o pilar existente que é depois preenchido com betão não retráctil
ou expansivo colocado in-situ (Fig. 26).

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Fig. 25 [1] - Continuidade do reforço metálico através de vergalhões

Fig. 26 [2] - Reforço de pilar com perfis metálicos em U soldados nas pontas

Este método tem, para além do inconveniente de se gastar mais aço, a desvantagem
adicional de não se poder garantir a aderência perfeita entre o aço e o betão. Daí que seja
recomendado que a máxima resistência que se pode considerar com esta solução mista seja de
4/3 da carga que os perfis por si sós são capazes de suportar [1].

Uma solução em caixão pode também ser conseguida com chapas metálicas soldadas
nos cantos e em toda a altura (Fig. 27) ou com chapas semi-cilíndricas soldadas nas
extremidades. Pelas razões já apontadas, são soluções pouco utilizadas. Apresentam os
inconvenientes adicionais de levarem ao aumento da secção dos pilares e serem
eventualmente inaceitáveis do ponto de vista estético.

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Fig. 27 [5] - Reforço de pilar com perfil metálico em caixão

Tal como nas outras soluções de reforço, é conveniente descarregar o pilar ao máximo
antes de o reforçar eliminando pelo menos as sobrecargas de utilização. Se se considerar que
no pilar existente está a actuar a carga N, ao se realizar o reforço com o pilar sob carga, o
reforço só entrará em carga para incrementos positivos da carga N. Para um incremento ∆N, o
pilar inicial suportará uma carga N + α ∆N (0 < α < 1) superior à original que o pode levar à
rotura. Se o pilar inicial resiste, o reforço apenas suportará a carga (1 - α) ∆N. No entanto, se
se der a rotura do pilar existente, o reforço passará a estar sujeito à carga total N + ∆N, para a
qual eventualmente não estará dimensionado, dando-se a sua rotura também [1]. Esta análise é
provavelmente pessimista em relação à realidade já que ignora a capacidade resistente residual
das peças após a rotura convencional, mas deve ser tomada em conta. Daí que alguns autores
[1] defendam que, neste tipo de reforço, o aço de reforço deva ser calculado para resistir à
totalidade dos esforços verticais transmitidos ao pilar. Outros argumentos a favor desta regra
de dimensionamento empírica são a pequena economia que se consegue quando se entra com
a contribuição do pilar existente em termos de resistência global (quando comparada com os
altos custos de execução) e também o facto de se estar do lado da segurança.

Como regra geral, sempre que se reforce um troço de pilar deve-se reforçar todos os tro-
ços do mesmo pilar que lhe sejam inferiores até à sapata a não ser que estes sejam de boa qua-
lidade e de resistência mecânica superior à do troço reforçado após esse mesmo reforço [1].

Recomenda-se que, neste tipo de reforços, a secção total do aço do pilar (armadura exis-
tente + perfis metálicos + eventual armadura de reforço em varão) seja inferior a 6% da secção

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total do betão do pilar (secção existente + eventual betão de reforço ou recobrimento) [2].

Em ensaios efectuados nos Laboratórios J. Torrontegui [6], comparou-se o


comportamento de pilares não reforçados, pilares reforçados por encamisamento e pilares
reforçados por introdução de perfis metálicos. Nos primeiros, a rotura deu-se na parte superior
o que é lógico pela pior consolidação e pelo efeito da segregação nessa zona. Nos segundos, a
rotura não se deu no reforço mas sim na laje de baixa qualidade como consequência da
pressão transmitida pelo troço superior de betão e pela armadura adicional. Nos terceiros,
apareceram fissuras na parte superior tal como nos pilares não reforçados dando-se o
punçoamento da laje ao se aumentar a carga. A carga de punçoamento é portanto suportada
pela resistência de corte do betão da laje ao longo do contorno do pilar. Daí a vantagem em
utilizar uma argamassa epoxídica como capa intermédia entre as bases e capitéis metálicos e o
betão das lajes assim como a necessidade de conseguir um ajuste perfeito entre o reforço e as
lajes superior e inferior.

Ainda que seja mais um método de escoramento do que propriamente um reforço, pelo
seu carácter definitivo vai-se também apresentar a seguinte técnica [7]. Consiste na descarga
parcial do troço de pilar deficiente por aplicação de macacos hidráulicos entre lajes e na
inserção de dois ou mais perfis metálicos verticais que passarão a resistir a parte da carga total
do pilar. As escoras são em geral tubos cilíndricos que poderão posteriormente ser revestidos
em betão com rede de galinheiro ou malha electrossoldada para melhorar a resistência ao fogo
e o aspecto estético (Fig. 28). Como vantagens deste método, há a sua simplicidade e rapidez
de execução e a sua relativa eficácia. Como desvantagens, tem o considerável espaço de laje
ocupado e o facto de as escoras poderem não ser eficazes na transferência de momentos a não
ser que sejam introduzidos dispositivos resistentes à tracção em ambos os seus topos (por
exemplo, sob a forma de placas metálicas chumbadas através de furos executados nas lajes e
preenchidos com epoxi) [7].

3.4. Paredes

O tipo de reforço que de seguida se vai descrever tem uma aplicação muito mais
vulgarizada em paredes de alvenaria de pedra pouco resistente e argamassa do que em paredes

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de betão armado devido à maior facilidade de execução de roços para introdução dos perfis
metálicos.

Fig. 28 [7] - Escoramento definitivo de um pilar

Fig. 29 [8] - Reforço de paredes com recurso a perfis metálicos

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O principal problema é a garantia da ligação dos perfis metálicos à estrutura existente


tomando em conta, por outro lado, os efeitos secundários introduzidos pela presença dos
perfis. Isto consegue-se com recurso a chapas de ligação soldadas, rebitadas, aparafusadas ou
chumbadas aos perfis metálicos e à secção existente [8]. Daí a extraordinária importância que
tem a pormenorização destas ligações (Fig. 29).

A técnica consiste na abertura de roços na parede existente segundo os eixos onde se


colocarão as cantoneiras metálicas de reforço. Esses roços devem ser tratados de forma a
eliminar todos os líquidos e gorduras, leitada superficial, partículas facilmente desagregáveis e
pó para melhorar a sua aderência. São depois preenchidos com argamassa epoxídica ou de
cimento não retráctil após o que se coloca as cantoneiras que devem ser prensadas enquanto a
argamassa endurecer e ter sido objecto de tratamento adequado das superfícies de colagem. As
cantoneiras são depois recobertas com betão não retráctil de forma a voltar a dar à parede a
sua espessura original [9]. Em alternativa, pode-se utilizar esta técnica na solidarização de
elementos (por exemplo, pilares) complementada eventualmente com o recurso a chapas
metálicas coladas (Fig. 30).

Fig. 30 [9] - Reforço de pilares por solidarização de elementos

3.5. Vigas

Este tipo de reforço tem pouca tradição em vigas por nem sempre ser realizável na

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prática e por a sua eficácia deixar muito a desejar. De facto, é muito difícil garantir uma
aderência plena entre a viga existente e os perfis metálicos de reforço pelo que estes não
trabalham em conjunto com a secção existente mas sim de uma forma independente ainda que
com compatibilização de deformadas. Logo, a resistência total é a soma das resistências
individuais e não a resistência monolítica do conjunto [1] (Fig. 31, à esquerda).

A técnica de reforço consiste na introdução de cantoneiras nos cantos da viga na face


mais traccionada que são objecto de um tratamento semelhante ao que foi atrás descrito para
os pilares. Estas cantoneiras são amarradas à parte superior da viga através de chapas
metálicas soldadas que atravessam a laje (Fig. 31, à direita). A largura destas deve ser no
máximo de 0.25 m sendo o seu espaçamento muito variável já que só tem uma função de
amarração e não rigidificadora como acontece nos pilares em que as chapas transversais
evitam a encurvadura das cantoneiras. Por vezes, contraventa-se o conjunto do reforço por
meio de chapas diagonais formando uma espécie de treliça [1].

Fig. 31 - Reforço de viga à flexão com recurso a perfis metálicos: à esquerda, sem
funcionamento monolítico [24]; à direita, com solidarização total como o elemento existente
[1]

Em alternativa, e se não houver problemas de pé direito ou de índole estética, pode-se


utilizar uma solução bastante mais simples e que consiste na colocação de um perfil metálico
sob a viga existente. A viga deve ser escorada em apoios na laje de cada lado da viga e, se
possível, esse escoramento deve ser activo no sentido de permitir descarregar pelo menos
parte das cargas permanentes actuantes na viga existente. A ligação do perfil metálico à viga
existente não obriga a cuidados especiais pois no seu cálculo assume-se que a viga nova e a
antiga não têm qualquer interacção funcionando em paralelo. No entanto, é indispensável a

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injecção do espaço entre a viga existente e o perfil com argamassa de cimento não retráctil ou
expansivo (complementada com a introdução de cunhas metálicas) para garantir que de facto
as cargas verticais são transmitidas à viga metálica [10]. Em complemento, esta pode ser
chumbada à viga existente. Especial cuidado deve ser tomado com os apoios da viga metálica
que devem ter uma entrega suficiente, ser pormenorizados com critério e dimensionados para
a máxima reacção vertical prevista na viga metálica. Estes apoios são em geral executados
com recurso a cantoneiras metálicas complementadas com chapas laterais soldadas ao perfil
[10] (Fig. 32).

Fig. 32 [10] - Reforço de viga por introdução de um perfil metálico (apoio do mesmo no pilar
existente)

3.6. Lajes

3.6.1. Flexão

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Este tipo de reforço tem o mesmo objectivo em lajes que um método de reforço por
encamisamento em lajes referido em [22] e que consiste na redução dos vãos de cálculo da
laje e respectivos esforços de cálculo por introdução de novas vigas, constituindo-se num
novo reticulado estrutural. Esta solução é obviamente inestética e deve, na medida do
possível, ser disfarçada, para isso aproveitando o facto de ter de se conceber uma protecção
dos perfis contra a corrosão e o fogo. Pode também levantar problemas se houver fortes
limitações de pé direito.

Tal como nos restantes tipos de reforço em lajes, é fundamental descarregar ao máximo
a estrutura existente antes da execução do reforço e escorá-la convenientemente durante os
trabalhos. É muito importante que as vigas de reforço acompanhem a deformação dos
pavimentos desde o início da instalação das novas cargas pois, se tal não acontecer, estes
podem atingir deformações inconvenientes antes de mobilizarem as vigas de reforço. Para tal,
é necessário solidarizar os perfis metálicos à laje existente num conjunto monolítico não
bastando garantir o seu funcionamento em paralelo [11].

Duas hipóteses se põem em relação à colocação relativa das vigas metálicas e laje
existente: ou aquelas estão embebidas nesta ou se lhe situam inferiormente. No primeiro caso,
o trabalho de execução é mais complicado mas há melhores garantias de funcionamento
conjunto efectivo. São realizadas aberturas nas lajes de largura superior à dos banzos dos
perfis. As superfícies cortadas devem ser objecto de um tratamento semelhante ao atrás
descrito para garantir uma boa aderência. São chumbados varões em forma de U deitado com
um espaçamento relativamente pequeno que são depois soldados à alma dos perfis. São
também aí soldados esquadros de apoio da laje. Após se barrar com resina epoxi as superfícies
da laje existente anteriormente tratadas, realiza-se a betonagem dos troços de laje entra a laje
existente e os perfis metálicos com betão de alta resistência e não retráctil. Se for necessário,
pode-se associar perfis metálicos em paralelo que são ligados por chapas metálicas soldadas
[11] (Fig. 33).

No método alternativo, os trabalhos são bastante menos complicados mas há menor


garantia do monolitismo do todo. A laje existente não é mexida, sendo os perfis metálicos
colocados inferiormente a esta (Fig. 34). Para garantir uma aderência perfeita (bastante

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discutível neste tipo de reforço), a face traccionada da laje é tratada de forma a eliminar
substâncias que possam dificultar essa mesma aderência e é injectado o intervalo entre a laje
existente e o perfil metálico após a introdução de cunhas metálicas [1]. É indispensável a
utilização de outros meios de ancoragem adicionais como, por exemplo, rebites, chumbadores,
conectores ou buchas de expansão [2].

Fig. 33 [11] - Pormenores de execução do reforço de uma laje por introdução de perfis
metálicos nela embebidos

Fig. 34 [1] - Reforço de uma laje por introdução de vigas adicionais constituídas por perfis
metálicos

Em ambos os métodos, é imperioso fazer uma análise incremental em termos de


esforços na laje existente. Em particular, é necessário verificar se os momentos negativos que
surgem na laje sobre as novas vigas devidos às cargas aplicadas após a execução do reforço

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não serão superiores, em valor absoluto, aos momentos positivos nas mesmas secções devidos
às cargas existentes aquando da colocação em serviço desse mesmo reforço. Caso tal
aconteça, deve ser verificada a armadura superior da laje nessas mesmas secções e reforçada
se for necessário. Os apoios das novas vigas devem ser objecto de cuidado especial tal como
foi referido em 2.5.

Em tabuleiros de pontes, e se não houver problemas de gabarito, pode-se optar por uma
solução de reforço bastante inestética, ocupando muito espaço mas também muito eficaz.
Consiste na execução de uma treliça sob o tabuleiro após a descarga deste e capaz de absorver
uma parte importante dos esforços devidos às sobrecargas de utilização (Figs. 35 e 36). A
treliça será obviamente constituída por perfis metálicos comerciais, deverá ser
convenientemente contraventada vertical e transversalmente e cuidado especial deve ser
tomado na ligação ao tabuleiro [4].

Fig. 35 [4] - Reforço do tabuleiro de uma ponte com uma viga-treliça

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Fig. 36 [4] - Reforço do tabuleiro de uma ponte com uma viga I complementada com
carlingas

Utiliza-se também um reforço deste tipo para servir o objectivo de rigidificar a estrutura
em relação às acções horizontais por criação de um diafragma horizontal distribuidor de
esforços e que permite a compatibilização de deslocamentos dos diversos elementos
estruturais verticais. Para tal, recorre-se a elementos metálicos dispostos na diagonal das lajes
e de execução semelhante à das outras técnicas aqui referidas [12].

Os reforços em lajes, neste como nos outros tipos, são em geral anti-económicos sendo
na maioria dos casos preferível demolir e fazer de novo. Isto deve-se aos grandes custos em
geral associados às técnicas de reforço e ao facto de muitas vezes obrigarem a reforços em
peças adjacentes, por exemplo, por aumento das cargas permanentes.

3.6.2. Punçoamento

A resistência ao punçoamento pode também ser objecto de reforço específico por


introdução de perfis metálicos (Fig. 37).

Fig. 37 [1] - Reforço ao punçoamento por introdução de perfis metálicos

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Para tal, as bases e capitéis já atrás referidos podem ser dimensionados já tomando em
conta esse efeito de acordo com os métodos de verificação convencionais. Para garantir
melhor a transmissão de tensões nessas zonas, a argamassa pode ser injectada. Em alternativa,
podem-se utilizar capitéis metálicos com o único objectivo de aumentar a resistência ao
punçoamento por aumento do perímetro de contorno crítico (Figs. 38 e 39). Esta solução é
eficaz se se conseguir garantir uma transmissão de tensões eficaz mas pode ser inaceitável do
ponto de vista estético [7]. É conveniente que as bases do reforço do pilar no troço
imediatamente superior ao dos capitéis tenham a mesma superfície que estes [1].

Fig. 38 [7] - Reforço ao punçoamento por introdução de perfis metálicos

Fig. 39 [1] - Reforço ao punçoamento por introdução de perfis metálicos

3.7. Critérios de redimensionamento

3.7.1. Critérios gerais

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O cálculo das peças reforçadas por introdução de perfis metálicos apresenta poucos
aspectos novos em relação aos referidos em relação ao reforço por encamisamento e por
colagem de armaduras em [22]. Tal como referido, o principal problema em todos os métodos
de reforço que implicam a adição de novos materiais ou componentes é garantir o seu
funcionamento conjunto com a peça inicial existente. Aceitando que tal acontece, surge outro
problema que é o da forma de estimar a contribuição dos materiais existentes para a
resistência final da peça reforçada. No entanto, não se voltará aqui a referir essa problemática
por ter sido já extensamente discutida [22].

3.7.2. Pilares

No dimensionamento de pilares à compressão simples, pode-se utilizar exactamente a


mesma linha de raciocínio, formulação e conclusões referidas em [22] quer no que se refere à
análise independente da história de cargas quer na análise incremental das mesmas.

No dimensionamento de pilares à flexão composta, pode-se utilizar um raciocínio


semelhante ao seguido em [22] no cálculo de vigas reforçadas por colagem de chapas
metálicas à flexão composta. Por outras palavras, pode-se recorrer às tabelas existentes com
ligeiras adaptações (Fig. 40).

Fig. 40 - Exemplo de aplicação de um pilar reforçado por introdução de perfis metálicos (flexão
composta) descarregado totalmente antes da aplicação do reforço

A formulação é a seguinte:

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a,eq = (As,i fsyd,i a,i + As,r fsyd,r a,r) / ((As,i + As,r) fsyd,r) ≈

≈ (A´s,i fsyd,i a,i + A´s,r fsyd,r a,r) / ((A´s,i + A´s,r) fsyd,r)

ω = ((As,i + As,r) fsyd,r) / (b h fcd,i)

β = (A´s,i + A´s,r) / (As,i + As,r)

Dados os valores de cálculo NSd e MSd, vem:

υ = NSd / (b h fcd,i

µ = MSd / (b h2 fcd,i)

Das tabelas normais, tira-se ω em função de υ, µ, β e do aço dos perfis, valor que é
comparado com o calculado acima.

Recorreu-se à hipótese de que o pilar existente seria completamente descarregado antes


da execução do reforço pelo que a totalidade dos esforços de cálculo é já aplicada no pilar
reforçado. Se tal não acontecer, isto é, se houver cargas aplicadas no pilar existente antes de o
reforço ser efectivado, a situação é outra pois vai haver desigualdade nas extensões da
armadura inicial e na de reforço. É então necessária uma análise incremental de extensões para
confirmar a hipótese de que ambas as armaduras atingem o respectivo patamar de cedência.
Para tal, e adoptando a hipótese simplificativa de que aeq ≈ a,i ≈ a,r (Fig. 41), faz-se:

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Fig. 41 - Exemplo de aplicação de um pilar reforçado por introdução de perfis metálicos


(flexão composta) descarregado apenas parcialmente antes da aplicação do reforço

em que:
N0, M0 - esforço normal e momento flector de cálculo associados às acções que actuam

no pilar antes do funcionamento efectivo do reforço, não afectados dos


coeficientes de majoração;
∆N, ∆M - esforço normal e momento flector de cálculo associados às acções que podem
actuar o pilar após a entrada efectiva em funcionamento do reforço tais que N0

+ ∆N = NRd e M0 + ∆M = MRd.

Na prática, só se põe duas hipóteses de atingir um estado limite último de flexão


composta no pilar reforçado (já que a hipótese de o aço dos perfis metálicos atingir a extensão
correspondente ao estado limite último convencional antes de a armadura existente o fazer não
tem qualquer viabilidade):

1) εc,i = 3,5‰

Neste caso, o método atrás referido com recurso a uma armadura total equivalente é
ainda válido se ocorrerem simultaneamente as seguintes condições:

fsyd,i / Es,i ≤ εs,i ≤ 10,0‰

fsyd,r / Es,r ≤ εs,r ≤ 10,0‰

2) εs,i = 10,0‰

Neste caso, o método atrás referido é ainda válido se ocorrerem simultaneamente as


seguintes condições:

fsyd,r / Es,r ≤ εs,r ≤ 10,0‰

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No entanto, o desenvolvimento dos actuais programas de cálculo de secções ao estado


limite último de flexão composta de forma a tomar em conta a evolução da secção e da carga
ao longo do tempo seria o método ideal de cálculo deste tipo de secções.

O Bulletin nº 162 do C.E.B. [2] dá as seguintes recomendações práticas provisórias para


o redimensionamento de pilares:

As,tot ≤ 6% Ac,tot

em que:
As,tot - secção total da armadura longitudinal (pré-existente + adicional);

Ac,tot - secção total de betão (pré-existente + adicional, se houver).

Fig. 41 [2] - Recomendações práticas no reforço de pilares por introdução de perfis metálicos

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É recomendado que se confine a secção pré-existente por meio de chapas metálicas


soldadas os chumbadas aos perfis longitudinais para conferir um melhor comportamento de
conjunto, permitir a transmissão mais efectiva de tensões de atrito e induzir um estado triaxial
de tensões no betão pré-existente [2].

Outras recomendações são indicadas esquematicamente na Fig. 42.

No mesmo documento [2], são ainda fornecidas expressões analíticas para cálculo das
tensões de confinamento lateral introduzidas na secção pré-existente pela colocação de chapas
metálicas soldadas ou chumbadas aos perfis longitudinais. Estas devem-se essencialmente a
três efeitos:

Fig. 43 [2] - Tensões de confinamento conferidas pelas chapas metálicas e devidas à


deformação diferencial por efeito de Poisson

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 deformação diferencial por efeito de Poisson devido às tensões axiais adicionais de


compressão (Fig. 43);
 pré-esforço das chapas;
 pré-aquecimento das chapas.

As recomendações de índole prática relacionadas com as armaduras adicionais


transversais (não só sob a forma de chapas mas também sob a forma de espirais de armadura
em varão) incluem [2]:

 a necessidade de um pequeno espaçamento (25 a 100 mm em função da técnica


utilizada);
 tomar:

fsyd,r = fsyd,r´ / 2 ou Vwd,r = Vwd,r´ / 2

em que:
fsyd,r - valor de cálculo da tensão de cedência à tracção da armadura de reforço a

utilizar nos cálculos;


fsyd,r´ - valor de cálculo da tensão de cedência à tracção da armadura de reforço;

Vwd,r - valor de cálculo da capacidade resistente da armadura de reforço ao esforço

transverso a utilizar nos cálculos;


Vwd,r´ - valor de cálculo da capacidade resistente da armadura de reforço ao esforço

transverso calculada como se a secção fosse monolítica.

3.7.3. Vigas

No dimensionamento de vigas reforçadas à flexão por este método e como já foi


referido, não é de esperar um comportamento monolítico da viga reforçada pelo que esta deve
ser dimensionada para a hipótese mais desfavorável. Esta corresponde a um funcionamento
em paralelo da viga inicial e dos perfis. Quer isto dizer que a viga inicial terá de ser verificada

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pelo métodos correntes para resistir não só aos momentos provocados pelas acções actuantes
antes da execução do reforço mas também a uma parcela dos momentos devidos às acções
aplicadas após a colocação efectiva em funcionamento desse mesmo reforço. Esta parcela
corresponde à relação entre a rigidez da viga inicial e a da viga após o reforço. Por seu lado,
os perfis metálicos apenas serão solicitados por uma parcela dos momentos devidos às acções
aplicadas após a colocação efectiva em funcionamento do reforço correspondente à relação
entre a rigidez desses mesmos perfis e a da viga após o reforço.

3.7.4. Lajes

Finalmente, o dimensionamento das lajes reforçadas por este método deve ter em conta
os esforços devidos às acções actuantes antes da execução do reforço, aplicadas na laje com as
suas condições de apoio iniciais, aos quais são somados os esforços devidos às acções
aplicadas após a entrada efectiva em funcionamento do reforço, com as novas condições de
apoio devidas à existência das novas vigas. A laje será dimensionada pelos métodos correntes
para os momentos totais em cada secção. Quanto às vigas metálicas, elas devem ser
dimensionadas pelos métodos correntes em peças metálicas para a reacção das lajes devida às
acções aplicadas após a entrada efectiva em serviço do reforço.

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4. REFORÇO COM RECURSO A PRÉ-ESFORÇO

4.1. Introdução

São tratadas neste capítulo as soluções de reforço que recorrem à imposição de uma pós-
tensão em cabos de pré-esforço exteriores ou interiores à peça a reforçar. O traçado dos cabos
é criteriosamente escolhido para, em estruturas isostáticas, impor uma deformação de sinal
contrário à das acções permanentes existentes e, em estruturas hiperstáticas, somar a esse
mesmo efeito o do momento hiperstático. As dimensões das peças existentes não sofrem
praticamente qualquer alteração ainda que os cabos de pré-esforço devam ser protegidos da
corrosão e do fogo e, quando exteriores, ser disfarçados por razões de índole estética.

Com este tipo de reforço, pretende-se em geral aumentar a capacidade resistente à flexão
e ao esforço transverso assim como diminuir flechas excessivas em vigas (Fig. 44) e lajes
sendo a sua aplicação noutros elementos estruturais muito pouco comum.

Fig. 44 [1] - Reforço e eliminação de deformação de uma viga

O principal problema deste tipo de reforço é a pormenorização das zonas de ancoragem


onde serão aplicadas grandes cargas segundo o eixo do pré-esforço e surgirão tensões de
tracção normais a esse mesmo eixo para as quais a peça existente não estará eventualmente
preparada. Quando as zonas de ancoragem são executadas simultaneamente com o reforço ao

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lado da secção existente, é necessário garantir o funcionamento monolítico desta com aquelas.
Em complemento, deve ser tomado um cuidado especial na pormenorização dos desviadores
de direcção do cabo.

As principais vantagens deste tipo de reforço são [1] [4]:

 permite actuar sobre os elementos deficientes sem ter de os descarregar; os elementos


recuperam a sua forma inicial ao mesmo tempo que o pré-esforço vai entrando em carga;
 permite gerar as forças que asseguram o equilíbrio e a resistência da estrutura ao mesmo
tempo que elimina as suas deformações de carácter permanente; nos outros tipos de
reforço, o reforço só pode ser eficaz à custa de deformações adicionais da peça existente,
deformações essas que a podem inutilizar do ponto de vista da sua funcionalidade;
 manutenção da secção existente a menos do que atrás foi referido;
 rapidez e facilidade de execução e de colocação em carga da estrutura reforçada.

As principais desvantagens deste tipo de reforço são [2]:

 elevado custo;
 mão de obra especializada;
 possibilidade de criação de efeitos secundários em particular nas zonas de ancoragem e
nos elementos adjacentes não reforçados;
 necessidade de proteger todos os cabos contra o fogo e a corrosão;
 esteticamente inaceitável na maioria dos casos (Fig. 45).

Fig. 45 [9] - Disfarce do cabo de pré-esforço exterior por realização de roços na peça existente

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4.2. Técnicas de execução

Refere-se de seguida algumas das precauções a tomar para garantir a eficácia deste tipo
de reforço.

O traçado dos cabos deve procurar reproduzir o mais fielmente possível o anti-funicular
das cargas exteriores para ter o seu rendimento máximo, o que nem sempre é possível. De
facto, na prática, é muito mais fácil impor traçados rectilíneos que parabólicos. A disposição
em anti-funicular dos cabos melhora também as características resistentes do elemento ao
esforço transverso devido à componente vertical do esforço normal no cabo ainda que, se esta
medida não for suficiente, se possa aumentar a resistência local através de estribos ou varões
inclinados pós-tensionados [1].

Quando a principal função do reforço é a diminuição de flechas consideradas excessivas


(por exemplo, para elementos de caixilharia sensíveis), deve-se ter em conta o carácter de
permanência das cargas. Quando se realiza prematuramente uma acção de reabilitação deste
tipo, ela será ineficaz pois, a médio prazo, poderão surgir novamente flechas excessivas. É
necessário também verificar se não se dão perdas de tensão desproporcionadas nos cabos de
pré-esforço devidas à fluência do elemento pré-existente que é, na maioria dos casos,
constituído por betão de qualidade inferior. O mesmo problema se pode por em relação às
perdas nos dispositivos de ancoragem, em particular em vãos curtos [2].

Os desviadores de direcção devem ser concebidos de forma a diminuir as tensões locais


na peça existente (Fig. 46) e ser dimensionados para a totalidade da força de desvio [4].

Fig. 46 [1] - Pormenor de desviador de direcção concebido para reduzir as tensões locais no
betão

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Se forem considerados septos parciais, devem ser amarrados convenientemente à peça


existente, sendo recomendável utilizar coeficientes de segurança superiores aos habituais [1].
No caso particular dos septos, pode-se garantir uma aderência adequada entre o septo e a peça
pré-existente recorrendo aos meios seguintes [4]: criação de uma rugosidade razoável na
secção de betão existente (formação de dentes ou de outras macro-rugosidades); aplicação de
colas apropriadas do tipo epoxi (acompanhada de um tratamento prévio adequado dessa
mesma secção para eliminação de macro-rugosidades, partículas facilmente desagregáveis,
leitada superficial e pó) na superfície de ligação entre os dois betões; introdução de forças de
aperto convenientemente dimensionadas (por exemplo, através de varões roscados ou pré-
esforçados). No dimensionamento e execução dos septos, toma-se as seguintes precauções [4]:
adoptar uma força de corte na superfície de ligação entre os dois betões igual a três vezes a
força exercida pelo cabo; introduzir o pré-esforço por patamares de 5 a 10 toneladas; não
adoptar cabos com mais de 30 a 50 toneladas por amarração.

O atrito entre os cabos e os desviadores de direcção (Fig. 47) deve ser mínimo a fim de
não se gerar tensões excessivas perigosas mesmo para os próprios cabos.

Fig. 47 [4] - Desviadores de direcção

Para evitar fenómenos de vibração nos cabos utilizados em reforços de pontes com
possibilidade de entrar em ressonância pela passagem sobre a estrutura de sobrecargas móveis,
devem ser previstos dispositivos adequados. Tem-se constatado que, para vãos correntes de
pontes, a frequência própria de vibração da estrutura está por vezes muito próxima da dos
cabos pós-tensionados. [4] Corre-se portanto o risco de estes entrarem em ressonância
gerando tensões adicionais importantes. Pela introdução dos dispositivos representados

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esquematicamente na Fig. 48, diminui-se o comprimento de vibração dos cabos eliminando


assim o problema de uma forma simples e eficaz.

Fig. 48 [4] - Dispositivos para diminuição da frequência de vibração dos cabos de pré-esforço
exterior de reforço em pontes

As zonas de ancoragem (Fig. 49) devem ser verificadas da forma regulamentar tomando
em conta não só a máxima pressão local no betão mas também as tracções laterais geradas
pelo desvio das isostáticas de compressão nessas zonas. Se forem construídas de raiz para o
efeito (Fig. 50), deverão ser pormenorizadas convenientemente e ser assegurada a sua
interacção com a peça existente sem causar estragos nesta. Se for utilizada, uma zona
existente como zona de ancoragem, é necessário verificar se tem armadura transversal
suficiente e, caso tal não aconteça, reforçá-la, por exemplo, por encamisamento. Quando se dá
a amarração numa carlinga intermédia, é necessário verificar a segurança da ligação da
carlinga à alma da viga pois pode suceder que a armadura da carlinga não tenha entrega
suficiente, provocando, quando da introdução do pré-esforço, o seu arrancamento [2].

Fig. 49 [2] - Ancoragens dos cabos de pré-esforço de reforço em pontes

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Fig. 50 [2] - Pormenores de zonas de ancoragens dos cabos de pré-esforço de reforço em


pontes

Em muitas circunstâncias, é difícil aplicar o pré-esforço nas cabeças de ancoragem ou


porque estas são inacessíveis aos macacos hidráulicos ou por coincidirem com paredes que
impeçam a colocação e imposição de carga nos macacos. Noutras ocasiões, são os desviadores
de direcção que criam forças de atrito excessivas que tornam difícil dar pré-esforço numa
ponta. Para resolver estes problemas, utiliza-se conectores que permitem dar um esticamento
central e simultâneo dos dois troços de cabo e que permitem também empalmar cabos que se
tenham rompido com o auxílio de um troço de cabo adicional [1] (Fig. 51).

A utilização de zonas de ancoragem intermédias tem as suas vantagens e desvantagens


em relação à utilização de ancoragens apenas nas extremidades. Como vantagens, o facto de

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não ter de se interromper a circulação em pontes para a sua execução e a diminuição das
perdas por atrito. Como desvantagens, a sua execução mais difícil e a introdução de forças
concentradas parasitas na estrutura existente [4].

Fig. 51 [1] - Reparação de um cabo de pré-esforço por intermédio de conectores

Todos os cabos, zonas de ancoragem, desviadores de direcção e outro material anexo


deve ocupar um espaço mínimo para não criar problemas de índole estética. Em simultâneo,
os cabos de pré-esforço devem ser protegidos contra a corrosão (Fig. 52) e contra o fogo
através de recobrimentos em betão projectado, vermiculite, amianto ou placas de estafe.

Fig. 52 [4] - Protecção dos cabos de pré-esforço de reforço

Devido ao seu carácter especializado, este tipo de reforço só poderá ser executado por
empresas com grande experiência no ramo.

Vão-se referir separadamente as técnicas referentes ao reforço à flexão e ao esforço


transverso.

4.3. Reforço à flexão

Ainda que por vezes cara, esta solução de reforço é praticamente a única possível em

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situações em que a estrutura apresenta um aspecto muito deteriorado e principalmente


naquelas em que não há possibilidade de a descarregar. É também a solução ideal quando o
problema é mais de deformações excessivas (estado limite de utilização) do que propriamente
de falta de resistência da peça. Este tipo de reforço pode ser complementado com uma
injecção prévia das fendas de flexão na peça existente.

O pré-esforço pode ser completamente exterior ao sistema inicial ou ser-lhe pelo menos
parcialmente interior (Fig. 45). Este último processo apenas redistribui de modo diferente os
esforços na estrutura. Utiliza-se para o fecho de fendas nalgumas secções de uma estrutura
cuja resistência global é suficiente para as solicitações previstas [4]. No entanto, tem como
inconvenientes a dificuldade em realizar os furos por onde passarão os cabos e o perigo de, ao
o fazer, danificar ou cortar algum varão da armadura existente.

O método mais corrente de realização deste reforço consiste pura e simplesmente na


criação de zonas de ancoragem e na introdução de desviadores de direcção nos pontos mais
adequados para conseguir um traçado de cabo que reproduza o mais aproximadamente
possível o anti-funicular das cargas permanentes (Figs. 53, 54 e 55). Se houver necessidade de
realizar furos na estrutura existente, estes deverão ser preenchidos com argamassa de cimento
expansivo após a introdução e colocação em carga dos cabos de pré-esforço [2]. Com a
excepção dos cuidados redobrados atrás mencionados relacionados com as zonas de
ancoragem e de desvio da trajectória, não há quaisquer disposições construtivas particulares
que não sejam comuns aos trabalhos de pré-esforço correntes.

Fig. 53 [1] - Pré-esforço de uma consola com recurso a desviadores de direcção e a um


conector

É muito frequente a colocação de tirantes formados por barras de aço de alta resistência
roscadas nas suas extremidades, encostadas às faces laterais da viga e colocadas em carga por

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meio de aperto de roscas que transmitem a sua tensão a dispositivos de ancoragem adequados
(Fig. 56). Estes são geralmente constituídos por cantoneiras metálicas chumbadas, roscadas ou
pré-esforçadas contra a alma da viga [1].

Fig. 54 [1] - Pré-esforço por pontos intermédios permitindo uma redução substancial nas
perdas por atrito nos desviadores de direcção

Fig. 55 [1] - Pormenores de execução de um reforço com pré-esforço no tabuleiro de uma


ponte

Fig. 56 [1] - Pré-esforço de uma viga através de tirante roscado

Através de um dispositivo semelhante, pode-se dar um pré-esforço a lajes com


problemas de fendilhação ou deformação excessivas (Fig. 57).

É, no entanto, necessário verificar as vigas à torção devido ao elevado valor das cargas
aplicadas.

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Fig. 57 [1] - Pré-esforço de uma laje através de tirante roscado

Uma outra técnica de reforço deste tipo é a adoptada quando se pretende suprimir um
troço de pilar para aumentar o vão livre num determinado piso por razões de índole
arquitectónica. Para que a estrutura não sofra grandes danos, é necessário que seja introduzida
na base dos troços superiores uma reacção vertical igual ao esforço normal no troço suprimido
o que é conseguido à custa da força de desvio de um cabo de pré-esforço (Fig. 58).

Fig. 58 [1] - Supressão de um pilar para aumento do vão livre

Ainda que não se possa considerar propriamente um reforço de flexão, refere-se também
a técnica de cintagem em paredes de reservatórios baseada na utilização de conectores. A fim
de reduzir as perdas de pré-esforço, a colocação em carga é feita em três secções sendo o cabo
guiado por meio de cantoneiras [9] (Fig. 59).

Na referência [9], apresenta-se um curioso exemplo de reparação e reforço de uma


estrutura danificada numa zona localizada pelo choque de uma viatura. A solução escolhida
consistiu na construção em estaleiro de um troço pré-fabricado com todas as armaduras
necessárias à sua utilização futura. Este foi depois colocado em obra e solidarizado com a
restante estrutura por intermédio de betonagem in-situ e pré-esforço. Antes da colocação do
troço pré-fabricado, foi eliminada na estrutura existente toda a parte danificada e executados
os furos necessários para a introdução dos cabos de pré-esforço (Fig. 60).

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Fig. 59 [9] - Reforço da parede de um reservatório por pós-esforço de cintagem

Fig. 60 [13] - Corte transversal do tabuleiro da ponte mostrando a zona reforçada

4.4. Reforço ao esforço transverso

Como já foi atrás referido, o próprio reforço à flexão contribui para aumentar a
resistência ao esforço transverso através da componente vertical do pré-esforço de sentido
contrário ao do esforço transverso introduzido pelas cargas exteriores. Se for α o ângulo que,
numa determinada secção, o traçado médio do cabo faz com a horizontal, e se for P o valor do
esforço normal total no cabo resultante descontado de todas as perdas instantâneas e diferidas,
o valor de cálculo do esforço transverso actuante nessa secção pode ser diminuído da parcela
N sen α ≈ N tg α.

Um método muito corrente de reforço ao esforço transverso em vigas e lajes consiste em

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formar uma espécie de treliça cujas diagonais (tirantes) são elementos activos pós-tensionados
e cujas bielas de compressão são formadas pelo betão (Fig. 61). As zonas de ancoragem
conseguem-se com chapas metálicas nas faces superior e inferior [1].

Fig. 61 [1] - Reforço de uma viga ao esforço transverso por recurso a pré-esforço

Os varões de reforço são muito frequentemente colocados na vertical em particular em


tabuleiros de pontes em caixão (Fig. 62). Chama-se a atenção para o facto de este dispositivo
só ser aplicável em secções não fissuradas ou com reduzida fissuração (abertura das fendas
inferior a 0.5 mm). Mesmo nesse caso, este dispositivo deve ser complementado com a
injecção das fendas com resinas epoxi, injecção essa executada após o aperto dos estribos
activos. Este aperto deve ser convenientemente controlado por intermédio de chave
dinamométrica [4].

Fig. 62 [4] - Reforço de um tabuleiro de ponte com deficiência de resistência ao esforço


transverso

4.5. Critérios de redimensionamento

Desde que convenientemente executado, o cálculo deste tipo de reforço não tem nenhum

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aspecto novo em relação ao cálculo habitual de estruturas armadas pré-esforçadas com pré-
esforço não aderente. Mesmo quando o cabo está solidarizado à estrutura existente pela
camada de recobrimento e protecção, deve-se assumir a hipótese da sua não aderência porque
esta é de facto muito discutível e porque se está do lado da segurança.

Nunca é de mais realçar os cuidados que há que ter nas zonas ancoradas sejam elas de
betão pré-existente ou de betão novo ligado ao pré-existente e nos desvios de direcção do
cabo.

No caso de as secções a reforçar não se encontrarem fendilhadas, o dimensionamento é


feito como se se tratasse de uma obra nova [4].

No caso de a secção apresentar fendilhação mas esta não ultrapassar 0.5 mm, ainda se
pode, com algumas precauções no respeitante aos coeficientes de segurança a adoptar,
dimensionar a estrutura como obra nova [4].

Se e secção apresentar fendas de largura superior a 0.5 mm, há que introduzir para cada
caso concreto coeficientes de redução das características estruturais do elemento (secção,
inércia, etc.) [4]. Tal como já foi referido anteriormente, a grande dificuldade consiste em
estimar as resistências residuais dos materiais pré-existentes.

Nota-se que, no caso de secções fendilhadas, os esforços de compressão desenvolvidos


pelos cabos de pré-esforço se transmitem pelas zonas não fendilhadas o que pode conduzir a
tensões de compressão exageradas nessas zonas. Quando a estrutura a reforçar era já pré-
esforçada, são os cabos já existentes e já injectados, conjuntamente com as armaduras
passivas que absorvem as tensões de compressão geradas pelo pré-esforço adicional [4].

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5. REFORÇO POR INTRODUÇÃO DE NOVOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS


RESISTENTES

5.1. Introdução

São tratadas neste capítulo as soluções de reforço que correspondem à demolição total e
reconstrução de elementos estruturais pré-existentes assim como as que correspondem à
introdução de elementos estruturais adicionais onde antes não existiam nenhuns. No 1º caso,
as dimensões da peça pré-existente poderão ou não ser mantidas consoante o grau de
capacidade resistente que se pretende dar ao novo elemento, sendo, no entanto, preferível do
ponto de vista arquitectónico manter as dimensões iniciais. No 2º caso, deve-se tentar que os
novos elementos resistentes preencham espaços anteriormente ocupados por elementos não
estruturais (paredes de alvenaria de enchimento) de forma a não alterar a arquitectura original.

Com este tipo de reforço, pretende-se aumentar as capacidades resistentes mais


características de cada elemento estrutural ou melhorar a solidarização global da estrutura, em
particular na resistência a acções horizontais.

Tal como acontece em todos os tipos de reforço, o principal problema é conseguir


solidarizar os novos elementos à estrutura pré-existente de forma a conseguir um
funcionamento conjunto do todo. Se não lhe for dada a devida atenção através de um cálculo e
pormenorização adequados das ligações, poder-se-ão verificar roturas nessas mesmas ligações
quando a estrutura reforçada for solicitada pelas acções previstas que obrigaram à execução do
reforço (por exemplo, o sismo).

Neste tipo de reforço, os materiais mais utilizados são o betão de cimento portland
normal (eventualmente projectado) e as armaduras em varão, por vezes complementados com
perfis metálicos. Nas ligações, recorre-se ao betão projectado, betão de cimento não retráctil
ou expansivo, argamassas epoxídicas e resinas epoxi [14].

Daí que o cálculo das estruturas reforçadas por este método não apresente quaisquer
particularidades em relação ao cálculo de estruturas correntes em betão armado se, de facto,

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houver uma garantia absoluta do funcionamento efectivo das ligações.


As principais vantagens deste tipo de reforço são [7] [12]:

 se for adequadamente executado, permite uma melhoria sensível da capacidade resistente


dos elementos reforçados;
 permite melhorar radicalmente o comportamento da estrutura às acções horizontais;
 recorre a mão-de-obra menos especializada em relação às outras técnicas de reforço;
 permite reduzir drasticamente os esforços nos elementos pré-existentes por transmissão
daqueles aos novos elementos (Fig. 63).

Fig. 63 [1] - Redução dos esforços nos pilares existentes por introdução de paredes resistentes

As principais desvantagens deste tipo de reforço são [2] [7] [12]:

 impossibilidade de manter em serviço a totalidade da estrutura a reforçar;


 elevado custo;
 longo período de execução;
 possibilidade de criação de efeitos secundários nos elementos não reforçados;
 eventuais problemas de incompatibilidade com o projecto de arquitectura inicial.

5.2. Técnicas de execução

Referem-se de seguida algumas das precauções a tomar para garantir a eficácia deste
tipo de reforço.

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Antes de se proceder à demolição do elemento estrutural a substituir devem ser


descarregados todos os elementos que nele apoiam. Há que prever um escoramento eficaz de
cada lado da peça a demolir, dimensionado para resistir a todas as acções que solicitavam essa
mesma peça. A acção dos escoramentos sobre os elementos adjacentes (em particular, o
problema do punçoamento que pode ser minorado através da introdução de bases rígidas de
dimensões adequadas na base e no topo das escoras) deve ser quantificada e verificados esses
mesmos elementos para as respectivas capacidades resistentes residuais. Devem também ser
analisados os eventuais efeitos desfavoráveis da eliminação temporária da peça ou peças a
substituir após a sua demolição.

Os trabalhos de demolição têm de ser efectuados com as precauções necessárias para


evitar ou pelo menos minorar os estragos nos elementos adjacentes. As armaduras dos
elementos a substituir e que os ligavam à restante estrutura não devem ser danificadas por
poderem vir a servir para amarração das novas armaduras.

As superfícies de ligação dos materiais pré-existentes com os novos materiais devem ser
objecto de um tratamento cuidado. Para tal, devem ser picadas para criar uma superfície
rugosa e sujeitas a um jacto de areia para eliminar pó, gorduras, óleos, leitada superficial,
partículas facilmente desagregáveis e tudo o que possa contribuir para diminuir a eficácia da
ligação. Se houver vantagem nisso, deve-se criar dentes na superfície de ligação da peça
existente para melhorar a resistência ao corte da ligação. Outras formas de melhorar essa
mesma ligação consistem na utilização de chumbadores, varões soldados à armadura existente
e à nova, varões roscados ou pré-esforçados ou mesmo empalme de armadura nova na pré-
existente [14]. As superfícies de ligação devem ser barradas com uma camada de resina epoxi
antes da betonagem. O betão utilizado deveria de preferência ser não retráctil ainda que tal
medida possa encarecer excessivamente os trabalhos em face dos grandes volumes
envolvidos. Para debelar um pouco o efeito da retracção, deve-se utilizar relações
água/cimento o mais baixas possível, recorrendo a plastificantes se necessário. As superfícies
exteriores dos novos elementos devem ser curadas durante pelo menos 10 dias.

No caso particular de novas paredes resistentes construídas com o intuito de conferir

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uma maior solidarização à estrutura, as zonas em que é mais difícil garantir uma betonagem
eficaz são a base e o topo. Na base, é necessário garantir uma adequada entrega do betão e das
armaduras de reforço. No topo, é preciso que a resistência do novo betão seja mobilizada para
o que se torna fundamental eliminar qualquer descontinuidade resultante da retracção e da
possível presença de uma camada de leitada que sobrenade durante a betonagem. Por isso, é
aconselhável a utilização de betão de cimento expansivo nessas zonas [12].

Quando se constrói novas paredes resistentes, uma das precauções mais importantes é
garantir a continuidade dos varões verticais dos vários troços entre lajes. Só assim se poderá
garantir um funcionamento dos vários troços de parede como um todo na resistência às acções
horizontais. O método mais eficaz parece ser a execução de furos nas lajes através dos quais
passam os varões que são depois injectados com resinas epoxi [8].

É fundamental evitar a ocorrência de deformações inconvenientes nas peças da estrutura


suportadas pelos apoios substituídos assim como conseguir condições de fundação idênticas
tanto para os apoios existentes como para os novos apoios para evitar a ocorrência de
assentamentos diferenciais.

Vão-se referir separadamente as técnicas relativas à substituição de elementos


resistentes e à introdução de novos elementos.

5.3. Substituição de elementos deficientes

Esta solução, que implica a complexa e demorada operação de demolição de uma peça
estrutural existente (tarefa bastante difícil e onerosa na prática quando aplicada ao betão

armado - demolir 1 m3 de betão armado custa cerca do dobro de colocar 1 m3 de betão


armado numa obra de raiz) e construção de um novo elemento em substituição do inicial, não
deve ser encarada de ânimo leve. Deve ser tomada sempre como um último recurso aplicável
apenas a elementos cujo grau de danificação é de tal maneira elevado que a sua capacidade
resistente residual é já muito baixa e a sua recuperação se considera desaconselhável. Pode
ainda ser encarada quando um determinado elemento apresenta inconvenientes resultantes de
outras funções que desempenha (por exemplo, uma parede que associa funções de suporte e

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de compartimentação). Como já foi referido atrás, aplica-se com mais frequência a lajes que a
outros elementos estruturais devido ao elevado custo relativo das outras soluções em lajes pela
sua elevada superfície.

Uma vez que impõem a ocorrência de fases de construção de resistência diminuída, as


operações acima referidas devem ser levadas a efeito após um cuidadoso estudo do
faseamento de intervenção nos vários elementos.

Como já foi atrás referido, a demolição dos elementos deficientes é precedida de uma
descarga destes e de um escoramento adequado às peças adjacentes e às cargas a suportar.

Após a demolição de acordo com os métodos tradicionais, devem ser cortadas todas as
armaduras existentes excepto as que se encontram ligadas à restante estrutura que não devem
ser danificadas. São deixados troços ligados à estrutura existente de um comprimento pelo
menos igual a 1.5 vezes o comprimento de amarração regulamentar para servir de empalme às
armaduras adicionais [15]. No caso de lajes e vigas, as armaduras inferiores pré-existentes
servem perfeitamente para os efeitos pretendidos. No entanto, o mesmo poderá não se dizer
em relação às armaduras superiores que naturalmente serão inferiores às dadas pelo cálculo
para as acções na nova laje ou viga. Nesse caso, deve-se dimensionar a nova peça para um
momento no apoio igual ao momento resistente de cálculo correspondente às armaduras
superiores pré-existentes. Em alternativa, e do lado da segurança, dimensionar-se-á a nova
peça para a hipótese de apoios com liberdade de rotação ainda que se deva colocar armaduras
superiores junto aos apoios pelo menos iguais às pré-existentes [14].

No caso de pilares e paredes, é preciso muito cuidado com o escoramento para evitar
problemas de punçoamento. As armaduras existentes junto aos nós devem também ser
deixadas intactas para conferir comprimento de amarração à nova armadura e para lhe dar
continuidade entre troços. Se houver necessidade de aumentar essa mesma armadura, deve-se-
lhe dar continuidade por execução de furos através das lajes.

A execução dos novos elementos não oferece grandes particularidades em relação a


peças correntes em estruturas novas devendo, no entanto haver um controlo mais cuidado e

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precauções suplementares na cura do betão.

É muito importante verificar todos os elementos estruturais adjacentes ao reforçado se o


reforço implica um aumento das cargas permanentes como muitas vezes acontece.

5.4. Criação de novos elementos

Esta solução é bastante popular na reabilitação de edifícios antigos ou novos mas


danificados ou deficientemente calculados em zonas de alto risco sísmico. Por utilização de
elementos de solidarização global de todos os elementos de construção, consegue-se uma
distribuição de esforços mais uniforme e que explora por igual a capacidade resistente desses
mesmos elementos. Esta redistribuição de esforços pode também ser conseguida em relação às
cargas verticais por introdução de compartimentação adicional criteriosamente disposta.
Inserem-se estes dois tipos de acção num objectivo de reorientação dos esforços dentro da
estrutura de forma a dirigi-los preferencialmente para zonas ou elementos com maior reserva
de resistência ou mais facilmente reforçáveis (que podem ser elementos pré-existentes ou os
próprios elementos adicionais).

No que se refere a acções horizontais, existem fundamentalmente dois tipos de actuação


para prossecução deste objectivo e que se inserem no tipo de reforço aqui referido [12]:

 rigidificação dos pavimentos no seu próprio plano (com elementos diagonais metálicos ou
com betonagem de lâminas adicionais de betão) para lhes conferir características de
diafragma distribuidor de esforços - este tipo de acção foi já referido em [22] e 2.4
quando se descreveu soluções de reforço em laje respectivamente por encamisamento e
por introdução de perfis metálicos;
 criação de novas estruturas metálicas ou de betão armado susceptíveis de absorver as
forças horizontais aliviando os esforços sobre os elementos pré-existentes.

Na rigidificação dos pavimentos põe-se ainda a hipótese de preencher vãos


anteriormente deixados vazios por razões arquitectónicas (antigos saguões ou escadas não
utilizadas) com novas lajes desde que tal seja indispensável para conferir à estrutura a

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necessária segurança às acções horizontais e se mantenha a funcionalidade da mesma [14]. A


execução destas novas lajes não apresente problemas particulares excepto no capítulo da
ligação com a estrutura existente [2]. Para tal, todos os bordos de apoio da futura laje devem
ser descascados para colocar à vista troços tão grandes quanto possível da armadura pré-
existente nos panos de laje adjacente. Se o comprimento destas armaduras posto a descoberto
for suficiente (pelo menos, 1.5 vezes o comprimento de amarração regulamentar em situações
correntes), as armaduras da nova laje podem ser-lhes ligadas por empalme. Caso contrário,
dever-se-ia recorrer à soldadura dos varões adicionais aos pré-existentes no que se deve tomar
precauções para evitar que eventuais aços estirados a frio percam, ao serem soldados, as
propriedades que lhes foram conferidas pelo tratamento térmico [2]. Se mesmo esta medida
não for possível, haverá necessidade de chumbar os varões da nova laje aos apoios para o que
se recorrerá a furos posteriormente preenchidos com resina epoxi (de profundidade de 10 a 15
vezes o diâmetro do varão [2]). Em qualquer dos casos, a nova laje deve ser dimensionada
para as cargas verticais como se estivesse simplesmente apoiada nos quatro bordos. As
superfícies de betão deixadas à vista pelo descasque devem ser tratadas de forma a eliminar
quaisquer substâncias que possam diminuir a aderência entre o betão pré-existente e o novo.
Em complemento, dever-se-á aplicar-lhes uma camada de resina epoxi antes de proceder à
betonagem da nova laje [2]. Esta deverá ser objecto de cuidados especiais, em particular na
cura do betão, para evitar os efeitos desfavoráveis de uma eventual retracção exagerada. Os
elementos adjacentes à nova laje devem ser verificados tomando em conta o incremento das
acções verticais (peso da nova laje e respectiva sobrecarga de utilização).

A incorporação de novos elementos estruturais em edifícios existentes pode mudar


drasticamente o comportamento dinâmico da estrutura como um todo durante a ocorrência de
um sismo e provocar considerável redistribuição das forças internas entre os elementos
resistentes a acções horizontais. Para tal, é necessário garantir as condições mais favoráveis
através das seguintes medidas [12]:

 evitar grandes concentrações de forças em partes e em elementos específicos da estrutura


com pequena capacidade resistente;
 melhorar a distribuição das forças em elementos existentes ou novos através da
diminuição dos efeitos de torção e de irregularidades na distribuição de rigidezes;

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 conferir resistência, rigidez e ductilidade suficientes aos elementos individuais e melhorar


a resistência ao sismo da estrutura como um todo;
 conferir resistência adequada às ligações entre a estrutura existente e o novo elemento
estrutural para transmissão de forças;
 conferir compatibilidade em termos de rigidez entre a estrutura existente e os novos
elementos.

Os novos elementos devem ser de preferência contínuos ao longo de toda a altura do


edifício para lhe conferir maior resistência. No entanto, se tal não for conveniente, devem pelo
menos ser contínuos até um determinado nível, não sendo de admitir a introdução de paredes
resistentes a um determinado nível sem que estes prossigam até às fundações [2] (Fig. 64). As
novas paredes resistentes devem ter pelo menos a mesma rigidez de eventuais paredes pré-
existentes [2].

Fig. 64 [2] - Só a solução c) é correcta por não corresponder a mudanças bruscas na rigidez
em altura dos novos elementos resistentes e por estes serem executados até às fundações sem
interrupções

As paredes resistentes podem ser conseguidas de várias formas [12]:

 em betão armado monolítico com a estrutura existente, para o que será necessário
conceber a sua ancoragem nos pisos e nas fundações; as paredes podem ser exteriores
(Fig. 65) ou interiores (Fig. 66) ao edifício existente; as primeiras têm a vantagem de
serem um impedimento menor à normal utilização do edifício; podem ser paralelas às
empenas (Fig. 65) ou perpendiculares a elas formando contrafortes; as segundas podem
ou não preencher completamente o pano de alvenaria entre pilares sendo comum a

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solução de rigidificação da caixa de escadas; quando as paredes são interiores, é


aconselhável utilizar betões de cimento expansivo;
 em betão armado com perfis metálicos embebidos ligados monoliticamente à estrutura
existente (Fig. 67) o que tem as vantagens de reduzir a quantidade de betão (e
consequentemente a retracção) e permitir a existência de aberturas na nova parede
resistente [12];
 em betão armado formando painéis pré-fabricados em estaleiro o que tem as vantagens de
permitir um melhor controlo de fabrico e diminuir o problema da retracção mas tem uma
série de desvantagens: grande dificuldade em conseguir assegurar um bom funcionamento
do conjunto (em particular, na ligação entre os painéis e as lajes existentes); dificuldade
de colocação e manobra (equipamento muito pesado e susceptível de danificar a estrutura
existente), etc. [12]; os painéis podem ser exteriores (Fig. 69) ou interiores à estrutura
existente; a utilização de faixas pré-fabricadas horizontais tem a vantagem de as juntas
serem comprimidas pelas cargas gravíticas e a desvantagem de ter de se criar muitas
ligações da armadura principal vertical [12] (Fig. 68);
 treliça constituída por perfis metálicos adicionais eventualmente coberta por betão ou
alvenaria para protecção contra o fogo e a corrosão (Fig. 70) o que tem as vantagens da
rapidez de construção e da utilização de elementos estruturais leves [12]. Pode funcionar
simultaneamente à compressão e à tracção (perfis metálicos) (Fig. 71) ou só à tracção
(tirantes pré-esforçados) (Fig. 72). É necessário pormenorizar convenientemente as
ligações entre a treliça e a estrutura existente.

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Fig. 65 [16] - Reforço de uma nova estrutura em relação às acções horizontais por adição de
uma parede resistente exterior

Fig. 66 [16] - Ligação da nova parede resistente interior betonada in-situ à estrutura pré-
existente

Fig. 67 [12] - Ligação dos novos perfis metálicos à estrutura pré-existente

Em vez de se substituir toda a parede, um método de construção de novas paredes


exteriores resistentes pode ser a substituição da fiada mais exterior de tijolo por uma camada

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de betão armado e uma nova fiada de tijolo mantendo a aparência exterior (Fig. 73). A nova
parede funciona como uma parede de alvenaria resistente. A nova fiada de tijolo deve estar
firmemente ancorada no betão armado e na fiada interior pré-existente. Esta deve ser limpa
preferencialmente por jacto de areia para assegurar uma boa aderência com o betão [16].

Fig. 68 [12] - Ligação das faixas pré-fabricadas entre si e à estrutura pré-existente

Fig. 69 [12] - Ligação das faixas pré-fabricadas da nova parede resistente exterior à estrutura
existente

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Fig. 70 [2] - Tipos possíveis de novas paredes resistentes por recurso a treliças de perfis
metálicos

Fig. 71 [12] - Ligação dos perfis metálicos da treliça à estrutura pré-existente

A alvenaria não resistente (de pedra ou tijolo) pode ter uma influência marcada na
resposta da estrutura à acção do sismo podendo em alguns casos precipitar o seu colapso. No
entanto, em certas circunstâncias, a alvenaria não resistente pode conferir suficiente
resistência lateral a um edifício para resistir ao sismo [2]. Daí que a construção de novos
panos de alvenaria possa também ser encarada como uma forma de conferir maior
solidarização lateral à estrutura existente melhorando assim o seu comportamento a acções
horizontais (Fig. 74).

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Para redistribuir os esforços devidos a cargas verticais em lajes de vãos excessivos,


pode-se considerar a execução de compartimentação adicional criteriosamente disposta. Esta
pode ou não ser resistente. Com alvenaria de tijolo, pode-se conseguir o efeito desejado se
forem concebidas bandas rígidas quer no topo quer na base preenchidas com betão expansivo
para garantir uma transmissão eficaz das cargas [2]. Se houver necessidade de colocar estas
novas paredes a um determinado nível, elas devem ser prosseguidas até ao nível das
fundações. Em alternativa, deverão as lajes sobre as quais elas descarregam ser verificadas
para as cargas lineares por elas transmitidas não só à flexão mas também ao punçoamento [2].
Se a função destas paredes for apenas a de transmitir cargas verticais, não é tão importante a
sua solidarização entre troços embora seja aconselhável que, em paredes de betão armado, se
dê continuidade às armaduras verticais através das lajes.

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Fig. 72 [12] - Ligação dos tirantes pré-esforçados ou não à estrutura pré-existente

Fig. 73 [16] - Constituição de uma parede resistente por substituição de parte da espessura de
uma parede não resistente pré-existente

Fig. 74 [2] - Efeito da introdução de panos de alvenaria não resistente entre pilares

Umas das técnicas mais eficazes quer em edifícios quer em pontes é a redução dos vãos

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dos elementos resistentes horizontais através da introdução de novos elementos resistentes


verticais (Fig. 75, em cima) ou inclinados (Fig. 75, em baixo), podendo ser só em betão, em
betão e aço (Fig. 75, em cima) ou só metálicos (Fig. 75, em baixo). Esta solução, no entanto,
só se torna possível se existir ou for introduzida nos elementos horizontais existentes
armadura resistente superior sobre os novos apoios.

Fig. 75 [24] - Reforço de vigas por redução do seu vão através da introdução de novos apoios

Um outro tipo de reforço deste tipo é o que se faz por vezes em tabuleiros de pontes em
laje vigada. Consiste na introdução de carlingas a terços de vão quando estas não existem e
tem por função principal solidarizar transversalmente as vigas, permitindo assim um melhor
funcionamento em conjunto das mesmas. É particularmente útil na redistribuição transversal
dos esforços devidos ao veículo-tipo. A execução consiste na picagem superficial dos
intradorsos das vigas às quais a carlinga será ligada de forma a eliminar todas as substâncias
que possam interferir na boa aderência dos materiais novos com os pré-existentes. A armadura

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da carlinga deve ser chumbada na superfície lateral das vigas. Antes da betonagem, deve ser
aplicada resina epoxi nas superfícies de contacto da carlinga com as vigas. Para melhorar a
ligação, a carlinga deve ser pré-esforçada através de varões roscados ancorados nos
extradorsos das vigas [14] (Fig. 76).

Fig. 76 - Reforço de um tabuleiro de ponte por introdução de carlingas

5.5. Critérios de redimensionamento

O cálculo dos novos elementos estruturais que substituem elementos pré-existentes de


deficiente capacidade resistente não apresenta qualquer novidade em relação ao cálculo destes
últimos. Se houver mudança na rigidez das peças, há que tomá-la em conta no novo cálculo
automático da estrutura. Se houver razões para duvidar da capacidade das novas vigas ou lajes
para resistir a momentos negativos na ligação à estrutura pré-existente, é recomendável
assumir a existência de rótulas ou apoios sem continuidade nessas mesmas ligações. Todas
estas considerações só terão validade se for garantida uma ligação eficaz da nova peça à
restante estrutura.

A introdução de novos elementos estruturais levanta problemas um pouco mais


complexos. Em alguns casos, o funcionamento pretendido desses elementos só será
assegurado se, para além de estarem fisicamente ligados à estrutura, interactuarem com esta de
tal forma que se possa garantir o monolitismo da estrutura reforçada [2]. Por isso, há que
redobrar as precauções nas ligações adaptando disposições construtivas adequadas. Se se tiver
a garantia da eficácia destas ligações, o cálculo da estrutura reforçada (por recurso a cálculo
automático) será um cálculo corrente em que se terá de ter em conta em especial os seguintes
pontos [2]:

 as propriedades geométricas a rigidezes dos novos elementos devem ser quantificados


correctamente e ser verificados os efeitos secundários que eles possam introduzir nos

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restantes elementos da estrutura, em particular se estes não tiverem sido reforçados; para
tal, deve-se fazer uma análise incremental de esforços do seguinte tipo: na estrutura
inicial, aplica-se as acções de carácter permanente que nela actuam antes da entrada em
serviço dos novos elementos incluindo o respectivo peso próprio; na estrutura reforçada,
aplica-se as acções variáveis (sobrecargas de utilização e acções horizontais) de cálculo;
aceitando o princípio da sobreposição de efeitos, os esforços finais nos elementos
resistentes da estrutura inicial são a soma dos esforços assim obtidos;
 as características dinâmicas da estrutura reforçada são em geral substancialmente
diferentes das da estrutura inicial; por isso, há que determinar novas rigidez global e
frequência própria de vibração da estrutura para se reformular o cálculo das acções
sísmicas.

A análise de estruturas em que foram introduzidos novos elementos resistentes (Fig. 77)
é difícil devido à natureza complexa das forças de interacção que se desenvolvem nas
superfícies de contacto dos novos elementos com a estrutura pré-existente. O comportamento
é ainda complicado pela ocorrência de deslocamentos relativos nessas mesmas superfícies e
pelo desenvolvimento de fendas nas ligações e nos novos elementos [2].

Fig. 77 [2] - Estudo comparativo de diversos tipos de reforço por introdução de paredes
resistentes

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As análises mais correntes até ao momento são baseadas na teoria da elasticidade (para
comportamento monolítico), o método da treliça equivalente (quando são utilizados
dispositivos especiais de resistência ao corte), o método das bielas equivalentes (quando não
são utilizados esses dispositivos) e o método dos elementos finitos [2].

No Quadro 1, apresenta-se os resultados de vários investigadores sobre a eficiência


deste tipo de reforço em edifícios de R/C e um único vão.

Quadro 1 [2] - Eficiência de diversas técnicas de reforço por introdução de novos elementos
resistentes
TÉCNICA DE REFORÇO RESISTÊNCIA RIGIDEZ DUCTILIDADE
____________________________________________
V´u V´u K´el K´el µ´ µ´
_____ _____ ______ _____ ____ ____
V´u,m V´u,f K´el,m K´el,f µ´,m µ´,f
enchimento paredes betonadas 0,50 a 3,50 a 0,75 a 12,50 a 0,85 a 0,90
de panos in-situ 1,00 5,50 1,00 25,50 0,95
de alvenaria _______________________________________________________________
entre painéis pré-fabricados0,20 a 1,20 a 0,15 a 3,50 a 0,70 a 0,70 a
pilares 0,80 4,20 0,85 20,50 3,95 3,80
_______________________________________________________________
alvenaria resistente 0,60 3,50 0,35 7,30 0,50
rigidificação bandas metálicas 0,35 a 1,70 a 0,05 a 1,60 a 0,50 a 1,45 a
e treliças 0,65 3,70 0,30 6,50 4,35 4,25

em que:
V´u - resistência real da estrutura após o reforço;

V´u,m - resistência da estrutura reforçada se esta funcionasse monoliticamente;

V´u,f - resistência da estrutura antes do reforço;

K´el - rigidez real da estrutura após o reforço;

K´el,m - rigidez da estrutura reforçada se esta funcionasse monoliticamente;

K´el,f - rigidez da estrutura antes do reforço;

µ´ - ductilidade real da estrutura após o reforço;


µ´,m - ductilidade da estrutura reforçada se esta funcionasse monoliticamente;

µ´,f - ductilidade da estrutura antes do reforço.

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O problema dos dispositivos especiais de resistência ao corte foi estudado, tendo-se


chegado às seguintes conclusões [2]:

 mesmo paredes resistentes em que estes não são colocados, podem assegurar uma
resistência ao corte igual a cerca de 50% da de uma parede betonada monoliticamente
com a estrutura desde que se crie uma rugosidade nas superfícies interiores da estrutura
pré-existente e que o espaço horizontal por baixo da viga no topo superior do novo painel
seja preenchido com uma argamassa expansiva;
 a resistência e ductilidade das estruturas reforçadas por este método são maiores se estes
dispositivos forem utilizados (Fig. 78);
 a concentração de tensões nos cantos à compressão das novas paredes resistentes, assim
como os momentos flectores e esforços transversos que actuam na estrutura pré-existente,
diminuem quando os dispositivos são utilizados;
 o efeito das aberturas na resistência e rigidez das estruturas reforçadas por este método é
extremamente importante se não se utilizar estes dispositivos; no caso contrário, o
comportamento global da estrutura não é alterado e as reduções na resistência e rigidez
são relativamente moderadas.

Fig. 78 [2] - Curvas qualitativas resistência ao corte / deslocamento para estruturas reforçadas
por introdução de paredes resistentes

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6. OUTROS TIPOS DE REFORÇO

6.1. Introdução

São tratadas neste capítulo as soluções de reforço estrutural que não se podem englobar
directamente nos tipos atrás referidos. Têm como característica comum o facto de não
reforçarem directamente qualquer elemento estrutural na medida em que não fazem aumentar
a capacidade resistente da respectiva secção. Jogam antes na redistribuição de esforços dos
elementos estruturais mais fracos ou deficientes para os que dispõem ainda de alguma reserva
na respectiva capacidade resistente, ou seja, correspondem a modificações da concepção
estrutural. Correspondem portanto à manutenção das dimensões das peças pré-existentes sem
acrescento de qualquer camada extra de recobrimento. Podem, no entanto, ser
complementadas com medidas de reparação como a injecção de fendas e carecer de
escoramentos provisórios para atingir a sua máxima eficácia.

As principais características, problemas, vantagens e desvantagens e precauções na


execução a tomar em cada caso serão de seguida referidos separadamente em relação a cada
método.

6.2. Criação ou eliminação de ligações internas

Acontece por vezes que a deficiência de capacidade resistente de determinados


elementos está associada ao facto de estarem rigidamente ligados à restante estrutura ou a
peças muito mais rígidas e resistentes. Na primeira situação, tem-se os casos em que existem
grandes extensões em planta sem qualquer junta de dilatação, o que pode vir a representar a
introdução de esforços muito grandes nas extremidades da estrutura, devida aos grandes
deslocamentos que aí ocorrem associados a variações de temperatura. Noutros casos, tem-se
elementos horizontais (lintéis) de fraca resistência ligados rigidamente por encastramento a
outros elementos de grande rigidez (paredes resistentes) que absorvem grandes esforços
devidos a acções horizontais (sismos). Estes elementos transmitem uma pequena parte desses
esforços aos elementos mais fracos para os quais essa pequena parte representa um
incremento excessivo dos esforços actuantes.

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No primeiro caso, a solução passa pela criação de juntas de dilatação adicionais de forma a
dividir a estrutura em planta em troços que não ultrapassem os 30 m em qualquer das
direcções. Esta solução implica em geral a duplicação de pilares e vigas de cada lado da junta.
Uma via de execução possível, seria escorar as lajes de um dos lados das vigas que vão ficar
fronteiras à junta de dilatação e criar os novos pilares e vigas pelos métodos referidos em 4.4.
Estes ficarão praticamente encostados respectivamente aos pilares e vigas pré-existentes mas
separados deles fisicamente. Após os novos elementos terem adquirido resistência suficiente,
são cortadas as lajes através de serras circulares na futura junta de dilatação, ou seja, entre as
vigas pré-existentes e as novas e é convenientemente executada essa mesma junta com os
materiais habituais. Só depois são retirados os escoramentos (que devem de preferência ser
activos para descarregar ao máximo os elementos estruturais fronteiros à futura junta). Os
esforços introduzidos por esses mesmos escoramentos devem ser devidamente quantificados e
verificados os elementos sobre os quais eles apoiam para evitar problemas de flexão ou
punçoamento.

No segundo caso, a solução passa pela criação de ligações rotuladas entre as peças mais
fracas e as mais rígidas. No caso particular de lintéis ligados a paredes resistentes, uma
possível solução é cortar a armadura superior dos lintéis junto à ligação. É um processo
extremamente simples e eficaz na redução drástica dos esforços nos lintéis. Corresponde a um
pequeno aumento relativo dos esforços nas paredes que em geral poderá ser ignorado. Poderá
também acontecer o contrário, ou seja, uma viga de rigidez significativamente maior do que a
dos pilares sobre os quais apoia e que, devido a cargas ou vãos adjacentes muito desiguais,
introduz esforços de carácter mais ou menos permanente nos pilares, esforços estes excessivos
para os mesmos. A libertação da rotação junto ao apoio da viga no pilar permite resolver este
problema (Fig. 79).

Naturalmente que este tópico não seria cabalmente tratado sem uma menção ao
isolamento dinâmico das fundações (Fig. 80) através de materiais que, por serem muito
deformáveis, têm dois efeitos sobre a superstrutura quando esta é actuada pelo sismo: tornam-
na mais deformável, baixando a sua frequência própria de vibração e as acelerações devidas às
forças de inércia; “filtram” determinadas frequências de vibração que poderiam, por serem
excessivamente aproximadas da frequência própria da estrutura, criar fenómenos de

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ressonância dinâmica.

Fig. 79 [24] - Libertação de momentos usada como técnica de “reforço” do pilar

Fig. 80 [24] - Execução de um sistema de isolamento dinâmico na base de um pilar

O principal problema deste tipo de actuação é a dificuldade em eliminar efectivamente


todos os vínculos novos sem pôr em risco a estabilidade do elemento. Isto consegue-se através
de algum controlo e cuidado na execução e através de um estudo da estabilidade quer dos
elementos afectados quer da estrutura como um todo.

Noutras circunstâncias, o problema é exactamente o inverso. Devido à criação de juntas

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de dilatação ou qualquer tipo de descontinuidade estrutural, existem elementos estruturais que


ficam de certa forma “isolados” e não solidarizados com a restante estrutura resistente. Pode
então acontecer que exista uma parte da estrutura excessivamente flexível e que tenha
problemas de estado limite de deformação associados quer a acções verticais quer a
horizontais. A solução pode então passar pela eliminação das juntas de dilatação (por
solidarização perfeita - Fig. 81 - ou mantendo graus de liberdade - Fig. 82) ou pela introdução
de capacidade resistente a momentos negativos onde esta não existe inicialmente. Em
qualquer dos casos, impõe-se uma nova análise estrutural prévia à execução das medidas que
tome em conta a história do carregamento (antes e depois do reforço) de forma a se conhecer
exactamente os efeitos da introdução de novas ligações em todos os elementos da estrutura.

Fig. 81 [2] - Eliminação de juntas de dilatação por solidarização perfeita

O fecho de uma junta de dilatação é uma operação relativamente simples. Implica o


descasque profundo de uma faixa de cerca de 1/4 do vão das lajes adjacentes a essa mesma
junta de cada lado da mesma. A superfície obtida deve ser tratada da forma habitual para
eliminar substâncias que possam diminuir a aderência entre o betão pré-existente e o novo. É
depois barrada com uma resina epoxi, são colocadas as armaduras superiores dadas pela
análise incremental atrás referida e faz-se a betonagem com betão não retráctil ou expansivo.
A cura da nova camada deve durar pelo menos 10 dias [22]. Não há em geral qualquer
vantagem ou necessidade em ligar as vigas e pilares que normalmente se duplicam junto às
juntas de dilatação. Em ensaios em estruturas reforçadas por esta técnica, verificou-se um
considerável aumento na resistência e ductilidade em particular às acções cíclicas sem

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qualquer aumento significativo na rigidez [2].

Fig. 82 [24] - Várias hipóteses de eliminação parcial de uma junta de dilatação entre dois

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troços de laje mantendo alguma liberdade de movimento entre os bordos

Para se conferir encastramento a uma laje ou viga existente, há que descascar


profundamente a zona na qual se vão colocar as armaduras suplementares e as respectivas
zonas de ancoragem (no caso de vigas, pode-se descascar um pequeno troço inferior do pilar
para se ancorar as novas armaduras ou, em alternativa preferível, realizar furos de lado a lado
do pilar para passagem da nova armadura). O processo de execução é semelhante ao atrás
descrito para fecho de juntas de dilatação.

O principal problema deste tipo de solução é garantir o funcionamento efectivo das


novas armaduras para o que é conveniente não só garantir a sua aderência perfeita e
funcionamento conjunto com a estrutura existente mas também descarregar ao máximo as
peças afectadas directamente pelo reforço.

As principais vantagens deste tipo de reforço são:

 permite na maioria dos casos manter a estrutura em serviço durante a sua execução;
 permite resolver problemas de má distribuição interna de esforços na estrutura;
 permite atenuar problemas de excessiva flexibilidade de alguns elementos ou partes da
estrutura;
 mantém o aspecto exterior da estrutura;
 é bastante económico na maioria dos casos;
 é de fácil execução;
 não obriga a mão-de-obra muito especializada.

As principais desvantagens são:

 pequeno grau de intervenção na medida em que a redistribuição de esforços é um pouco


limitada para resolver casos agudos de deficiência estrutural;
 obriga a um estudo adicional das consequências da modificação da concepção estrutural
em todos os elementos da estrutura independentemente de necessitarem ou não de ser
reforçados.

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6.3. Introdução de deslocamentos impostos

Pode-se então utilizar este método de redistribuição de esforços mesmo quando a causa
dos problemas não é o assentamento de apoios. Para tal, recorre-se a uma análise em cálculo
automático através da qual se estuda a melhor localização do deslocamento a impor e a
respectiva grandeza de forma a obter o melhor rendimento da técnica de reforço. Este será
tanto mais eficaz quanto maior for a reserva de resistência global da estrutura após a
intervenção. Esta é definida como o menor quociente entre o esforço resistente e o esforço de
cálculo de qualquer elemento da estrutura [2].

Este tipo de intervenção é muito utilizado em pontes podendo, no entanto, ser estendido
a edifícios. Em pontes, o que se faz geralmente é impor um deslocamento nos apoios
existentes por intermédio de macacos hidráulicos após o que se coloca novos apoios
definitivos com as dimensões adequadas. Em edifícios, os deslocamentos são geralmente
impostos na base das sapatas por métodos idênticos o que implica quase sempre o seu
descalce [2].

Uma outra técnica de reforço associada a esta é a do realinhamento de elementos


deslocados da sua posição correcta, por exemplo, por colapso de elementos adjacentes.
Através de um sistema de um ou mais macacos ligados a uma consola central é possível
realinhar, com grande precisão, elementos deslocados sem a introdução de novas tensões
desfavoráveis [14]. Após o realinhamento, as peças deterioradas ou levadas à rotura podem
ser substituídas pelos métodos referidos em 4.4.

O principal problema destas técnicas é a efectivação dos deslocamentos pois nem


sempre é fácil dispor os dispositivos que os impõem. No entanto, com a variedade e
possibilidades dos equipamentos actuais, quase se pode dizer que não há problemas de
resolução impossível.

As principais vantagens deste tipo de reforço são:

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 permite resolver problemas de má distribuição interna de esforços na estrutura;


 mantém o aspecto exterior da estrutura;
 é bastante económico quando comparado com outros métodos;
 é de fácil execução.

As principais desvantagens são:

 na maioria dos casos, a estrutura tem de ser retirada de serviço durante a execução dos
trabalhos;
 obriga à utilização de mão-de-obra especializada e equipamento caro;
 não permite grandes aumentos da capacidade resistente da estrutura pelo que não serve
para resolver grandes deficiências estruturais;
 obriga a um estudo das suas consequências em toda a estrutura podendo obrigar a
reforços adicionais localizados.

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7. ANÁLISE DA ESTRUTURA APÓS A INTERVENÇÃO

7.1. Introdução

A acção do Engenheiro Projectista não se esgota na avaliação da estrutura existente e na


proposta de medidas de reabilitação. A análise da estrutura após a intervenção é fundamental
tanto mais que muitas vezes o seu comportamento já não é o mesmo da estrutura inicial.
Depois, há que verificar a eficácia das medidas tomadas para se ter garantias muito concretas
sobre a segurança da sua utilização. Finalmente, há ainda uma série de medidas e campos de
investigação necessária que importa implementar para que o cálculo de estruturas reparadas
e/ou reforçadas possa ser encarado com a mesma facilidade com que se encara o cálculo de
estruturas novas.

7.2. Análise estrutural

As acções de reabilitação nas estruturas de betão armado podem ou não alterar as suas
características de comportamento quer a acções verticais quer a acções horizontais.

No que se refere às acções verticais, essas alterações devem-se principalmente à


alteração das rigidezes de determinados elementos (em geral, um aumento), na introdução ou
eliminação de ligações internas e na fluência diferencial entre os materiais pré-existentes e os
adicionais [2]. Por outras palavras, elas estarão geralmente associadas a redistribuição de
esforços. Daí que algumas zonas da estrutura que não sofreram danos antes do reforço possam
precisar de ser reforçadas após a execução deste. [2] Por estas razões, é necessária uma nova
análise estrutural que tenha em conta [2]:

 a rigidez máxima dos elementos reforçados (na hipótese de estes serem monolíticos) para
determinação dos esforços nestes;
 uma rigidez reduzida desses mesmos elementos de acordo com critérios pré-definidos
para determinação dos esforços nos elementos não reforçados.

Esta análise deve também tomar em conta o faseamento de aplicação das cargas (antes e

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depois da reabilitação) de uma forma tão rigorosa quanto possível e com uma verificação
adequada da validade das hipóteses de sobreposição de efeitos.

Quanto às acções horizontais, as alterações no comportamento das estruturas após a


intervenção devem-se principalmente à alteração (aumento) das rigidezes de elementos
resistentes pré-existentes, à introdução de novos elementos estruturais de grande capacidade
resistente e à introdução ou eliminação de ligações internas. As alterações não se confinam à
rigidez da estrutura mas podem verificar-se inclusivamente nas suas características dinâmicas
e, nomeadamente, na frequência própria de vibração (que, em geral, aumenta) [2]. Daí que
algumas zonas da estrutura anteriormente não danificadas possam necessitar de ser reforçadas,
em particular se estiverem adjacentes a novos elementos de grande capacidade resistente às
acções horizontais. Por todas estas razões, é necessário fazer uma nova análise às acções
horizontais de acordo com os critérios atrás referidos para as acções verticais com as novas
características dinâmicas (maiores acções sísmicas) e todos os novos elementos introduzidos.

Na quantificação das acções que irão actuar a estrutura após a reabilitação, deve-se
tomar em conta que, se o tempo de vida útil residual esperado para a estrutura reabilitada é
inferior ao tempo de vida útil de uma estrutura nova em iguais circunstâncias, então há uma
menor probabilidade de se atingirem os valores mais elevados para essas acções [2]. No
entanto, pode não ser prático considerar uma redução correspondente nos coeficientes γ f de
majoração das acções devido a incertezas relacionadas com a redistribuição de esforços. Daí
que seja recomendado que, nos cálculos, se utilize os mesmos coeficientes γ f que em
construções novas excepto no que se refere às acções sísmicas [2]. Há que tomar em conta a
possibilidade de uma maior frequência própria de vibração e também de uma diminuição na
ductilidade. A relação entre a força sísmica a que a estrutura deve poder resistir após a
intervenção e a força sísmica a que teria de resistir se fosse calculada como nova deve ser
aproximadamente unitária para reparações e ser sempre maior que 0.5 para reforços
independentemente do período de vida útil residual previsto.

Na National Technical University de Atenas foi feito um estudo comparativo dos efeitos
das diversas técnicas de reforço e/ou reparação em edifícios de betão armado de 3 e 7 pisos.
As conclusões foram semelhantes e resumem-se da seguinte forma [2]:

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 para reforços locais por encamisamento ou em reparações por substituição do betão e aço
danificados, a redistribuição de esforços (momentos flectores, esforços transverso e
normal) em pilares e em vigas não tem significado no cálculo da estrutura após a

intervenção (redistribuições inferiores a aproximadamente +10%);


 para encamisamentos cobrindo toda a altura dos pisos mais baixos, a redistribuição de
esforços é importante apenas nos momentos flectores e esforços transversos dos pilares
reforçados (+10 a 20% nos edifícios de 7 pisos e até +75% nos de 3) e nos não reforçados
nos edifícios de 3 pisos (até -50%); em vigas, a redistribuição é desprezável;
 para novos elementos estruturais do tipo paredes resistentes, é de esperar uma grande
redistribuição de esforços em pilares (até -75%) assim como em vigas (até -25%), ainda
que esta redução seja menor em elementos adjacentes aos novos elementos.

7.3. Avaliação da eficácia da intervenção

Devido à originalidade de cada operação de reabilitação e à dificuldade na


normalização, vários problemas podem ocorrer durante a construção [2]:

 maior probabilidade de erros de execução;


 pequena acessibilidade, pequenas espessuras das camadas de betão adicional e
percentagens elevadas de armadura;
 dificuldades em implementar um controlo de qualidade em obra adequado.

Por estas e outras razões, há necessidade de implementar um sistema de avaliação da


eficácia das acções durante a construção e após esta.

Os materiais utilizados devem ser objecto de ensaios rigorosos assim como as suas
ligações. O pessoal deve ser examinado de forma a analisar da sua competência e experiência
nos trabalhos específicos em questão. Deve ser efectuado um controlo minucioso nas
operações de soldagem, colagem de resinas epoxi, gunitagem, injecções, pré-esforço, etc. [2].
Este controlo deve ser complementado com ensaios in-situ. Neste campo, têm especial
interesse os seguintes ensaios [2]:

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 para conectores ao corte, ensaios de arranque e carregamento transversal em


chumbadores;
 para betão projectado, testes de adesão por intermédio de sistemas mecânicos simples;
 para resinas, extracção de carotes para verificar a eficácia de injecções; ensaios de
arranque de pequenas faixas de chapa metálica coladas às peças existentes.

Na aplicação de métodos de cálculo em acções de reabilitação, um pré-requisito


fundamental é um controlo de qualidade extensivo e bem organizado.

A eficácia da intervenção pode também ser verificada à posteriori por ensaios globais
(Fig. 83). O ensaio de carga é o mais corrente devido à forma categórica como permite
comprovar essa eficácia. São também muito utilizados os ensaios dinâmicos para
determinação das características dinâmicas da estrutura reabilitada.

Fig. 83 [1] - Ensaio de carga de uma ponte através de camiões carregados com areia

A eficácia da intervenção pode ser quantificada através de um coeficiente do tipo


seguinte para a resistência [2]:

ν = (V´u / Vu,o) (µ´ / µo)

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em que:
Vu,o, V´u - resistência antes dos danos e após a reabilitação;

µo, µ´ - coeficiente de ductilidade antes dos danos e após a reabilitação.

Nesta expressão, o termo correctivo µ´ / µo pretende ter em conta o efeito indesejado de


comportamento frágil quando a intervenção envolve quantidades de armadura consideráveis
[2].

Um coeficiente semelhante poderia ser determinado para a rigidez.

7.4. Campos de investigação necessária

O conhecimento actual sobre a forma de actuar em estruturas deterioradas está ainda um


pouco incipiente sendo necessário muito trabalho experimental antes de se atingir níveis de
segurança semelhantes aos que se obtêm em estruturas novas. Por outro lado, por ignorância,
descuido ou razões económicas (provocadas pela rigidez dos actuais regulamentos), vai-se
deixando degradar as estruturas existentes sem se tomar quaisquer medidas de conservação e
reabilitação com os resultados desagradáveis de todos conhecidos [14].

Por todas estas razões, há necessidade de estabelecer regras razoáveis (ou seja, não
excessivamente anti-económicas) para o reforço de estruturas existentes. Essas regras devem
relacionar o nível de melhoria necessário com a idade, tipo de ocupação e de utilização de
cada estrutura em particular [14]. Em muitos casos, uma melhoria bastante apreciável na
estabilidade global de uma estrutura pode ser conseguida através de um pequeno custo ainda
que a estrutura continue a não cumprir as limitações impostas para construções novas [14].
Em consonância, dever-se-ia implementar regulamentação modificada que encoraje os Donos
da Obra a reforçar os seus imóveis sem grandes custos. Deveriam ser propostos critérios
simples de aceitação e utilização de materiais e técnicas não cobertos pela regulamentação
actual. Em particular, seria necessário formular um guia de procedimentos adequados para a
reparação de estragos devidos a sismos. Este tipo de reparação envolve materiais e técnicas
que não são utilizados com muita frequência e que, por isso, não estão geralmente incluídos
nas regulamentações existentes. Devido à falta de conhecimento sobre estas técnicas

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especializadas e à necessidade de executar rapidamente grandes trabalhos deste teor após um


sismo, os engenheiros e construtores estão em geral inferiorizados na aplicação dos métodos
óptimos [14]. Um guia desse tipo com técnicas provadas e aceites pela experiência seria da
maior utilidade na assistência a esses técnicos e facilitaria muito a obtenção de reabilitações
de boa qualidade e simultaneamente económicas.

Para isso, são necessários estudos mais extensos e aprofundados sobre as várias técnicas
de reparação e/ou reforço (por exemplo, a introdução de elementos resistentes pré-fabricados
na estrutura existente) e em particular as mais recentes e menos comprovadas pela
experiência. Seria extremamente interessante um programa de ensaios de estruturas reais
reforçadas por vários métodos submetidas a sismos simulados [14]. Se tal fosse
economicamente viável, os edifícios deveriam preferencialmente levados à ruína [17]. É
fundamental conhecer o comportamento estático e dinâmico de estruturas, substruturas e
elementos individuais que tenham sido reparados e/ou reforçados com materiais de
propriedades físicas diferentes das dos materiais existentes.

Fig. 84 [1] - Ensaio ao fogo de uma estrutura à escala natural

Seria também bastante interessante realizar um programa de ensaios ao fogo de


estruturas à escala natural (Fig. 84). Isso permitiria verificar in-situ as capacidades resistentes
ao fogo que são atribuídas aos materiais de construção e aos elementos estruturais assim como

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implementar modelos de comportamento real das estruturas de betão armado submetidas a


temperaturas muito elevadas [14].

A conservação e manutenção das estruturas de betão armado e pré-esforçado deverão ser


consideradas pelo Dono da Obra nos custos globais do investimento. Quando necessárias, as
reparações deverão ser realizadas o mais cedo possível pois os custos efectivos da intervenção
aumentam no tempo.

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8. CONCLUSÕES

O reforço de estruturas está muito dependente do material estrutural principal: madeira,


pedra natural, ferro forjado, aço ou betão (armado ou pré-esforçado). Naturalmente, está
dependente também do tipo de estrutura a reparar: edifícios correntes ou industriais, pontes,
reservatórios, outras estruturas especiais, etc.. Finalmente, depende ainda bastante da
característica cuja deficiência provoca a necessidade de reforçar: resistência (flexão simples
ou composta, compressão, tracção, corte, aderência, etc.), deformabilidade, estética,
funcionalidade, impermeabilidade, etc.. Não se pretendeu por isso ser enciclopédico neste
documento, restringindo-se as técnicas de reforço às relativas às estruturas de betão em
edifícios correntes e em pontes. Para além disso, duas das técnicas mais correntes de reforço
(o encamisamento e a colagem de chapas metálicas) foram tratadas em documentos
independentes.

Assim, procurou-se neste documento mencionar de uma forma expedita as diversas


técnicas de reforço susceptíveis de serem utilizadas em estruturas de betão. Para cada técnica,
fez-se uma breve introdução em que se mencionaram, sempre que possível, as suas vantagens
e desvantagens, descreveram-se com detalhe o processo construtivo e os cuidados a ter
durante a execução e forneceram-se algumas indicações não exaustivas sobre os critérios de
redimensionamento (dimensionamento do reforço).

Como conclusões gerais, podem-se referir as seguintes:

 para cada problema que suscita a necessidade de reforçar, existe geralmente uma panóplia
alargada de técnicas mais ou menos apropriadas; tratando-se de uma vantagem do ponto
de vista do Projectista e do Dono da Obra, representa também uma dificuldade acrescida
na concepção do reforço;
 em muitas situações, as técnicas, pela sua diversidade e complexidade de execução, não
estão validadas estatisticamente nem em termos de durabilidade; daí que se deva adoptar
uma filosofia conservativa na concepção do reforço;
 a qualidade da mão-de-obra e a garantia de determinados requisitos (funcionamento
conjunto dos novos materiais com os existentes, descarga da estrutura antes da execução

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do reforço, manutenção da segurança durante todo o processo, etc.) representam a


diferença entre o sucesso e o falhanço neste tipo de intervenção;
 há uma gritante falta de regulamentação sobre este assunto que prejudica os projectistas
conscienciosos mas não especialistas e favorece os incautos e os prevaricadores.

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9. REFERÊNCIAS

[1] M. Fernández Cánovàs, “Patología y Terapéutica del Hormigón Armado”, 2ª Edição,


Editorial Dossat, Madrid
[2] CEB Bulletin n.º 162, “Assessment of Concrete Structures and Design Procedures for
Upgrading (Redesign)”, Comité Européen du Béton, General Task Group n.º 12, Prague,
1983
[3] J. Appleton et al., “Reparação e Reforço de Estruturas de Betão Armado”, 1º Encontro
sobre Conservação e Reabilitação de Edifícios de Habitação, Lisboa, 1985
[4] M. G. Cachadinha, “Reforço e Reparação de Pontes”, Relatório Interno, Gapres, Lisboa,
1983
[5] M. Hirosawa, “Japanese Report on General Situation of Research on Method to
Strengthen Existing Reinforced Concrete Buildings in Japan”, Intergovernmental
Conference on the Assessment and Mitigation of Earthquake Risk, Paris, 1967
[6] J. L. Ramírez e J. M. Barcenas, “Refuerzo de Pilares de Hormigón Armado”, Informes
de la Construcción, n.º 272 e 290, Madrid, 1975 e 1977
[7] R. F. Warner, “Strengthening, Stiffening and Repair of Concrete Structures”, IABSE
Periodica 2/1981, Zurich, 1981
[8] N. Ignatiev, “Strengthening of Prefabricated Reinforced Concrete Structures and
Strengthening with Precast Elements”
[9] M. G. Cachadinha e V. Cóias e Silva, “Reforço e Reparação de Elementos de Betão
Armado - Concepção e Execução”, Revista Portuguesa de Engenharia de Estruturas, n.º
17, Lisboa, 1983
[10] J. Appleton, “Patologia de Construções Novas: O Caso do Bairro da Liberdade
(Setúbal)”, 1º Encontro sobre Conservação e Reabilitação de Edifícios de Habitação,
Lisboa, 1985
[11] J. Matos e Silva, “Tecnologias de Remodelação de Edifícios”, 1º Encontro sobre
Conservação e Reabilitação de Edifícios de Habitação, Lisboa, 1985
[12] N. Ignatiev, “Strengthening of Building Reinforced Concrete Structures through
Addition of New Bearing Components”
[13] A. Winand et al., “Réparation d’ un Pont Ferroviaire en Béton Précontraint à Trois
Travées Continues”, IABSE Periodica 1/1980, Zurich, 1980

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Técnicas de reforço menos correntes de estruturas de betão por Jorge de Brito

[14] J. Warner, “Methods for Repairing and Retrofitting (Strengthening) Existing Buildings”
[15] J. R. Janney, “Maintenance, Repair and Demolition of Concrete Structures”, Handbook
of Structural Concrete, Chapter 25, McGraw-Hill Book Company, London, 1983
[16] J. Lefter, “Methods and Costs of Reinforcing Veterans Administration Existing
Buildings”
[17] R. D. Hanson, “Repair and Strengthening of Reinforced Concrete Members and
Buildings”
[18] T. Ripper, “Historial da Tecnologia de Reforço com FRP, Caracterização de Materiais
Compósitos e Conceitos para Cálculo de Reforço”, Seminário sobre Reforço de
Estruturas com Fibras de Carbono, FEUP, Porto, 1999
[19] L. Juvandes e J. Figueiras, “Questões sobre Controlo e Garantia de Qualidade”,
Seminário sobre Reforço de Estruturas com Fibras de Carbono, FEUP, Porto, 1999
[20] Jorge de Brito, “Reabilitação de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado - Volume
3”, Relatório DEC. AI 13/88, CMEST, IST, Lisboa, 1988
[21] Jorge de Brito, “Reabilitação de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado - Volume
4”, Relatório DEC. AI 14/88, CMEST, IST, Lisboa, 1988
[22] Jorge de Brito, “Reabilitação de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado - Volume
2”, Relatório DEC. AI 12/88, CMEST, IST, Lisboa, 1988
[23] Jorge de Brito, “Reabilitação de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado - Volume
1”, Relatório DEC. AI 12/88, CMEST, IST, Lisboa, 1988
[24] Peter H. Emmons, “Concrete Repair and Maintenance”, R. S. Means Company,
Kingston, MA

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