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Qual a importância da teologia e da apologética na vivência

cristã?

Há algumas semanas um leitor do blog me inquiriu sobre algo interessante: qual a


importância da teologia? Teologia é o estudo de Deus. Mas sabemos que ninguém é
salvo por ter muito estudo. A salvação é pela graça, mediante a fé, não pelo
conhecimento. Quem pregava a salvação mediante o conhecimento eram os antigos
gnósticos. Jesus chegou até a dizer que Deus “escondeu estas coisas dos sábios e
cultos, e as revelou aos pequeninos” (Mt.11:25). E na única vez em que a Bíblia usa o
termo “religião verdadeira”, não é para apontar a uma certa instituição religiosa ou a
um conjunto de doutrinas, mas à vivência prática da fé:

“Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião
não tem valor algum! A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar
dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tiago 1:26-27)

O leitor citou dois casos bastante curiosos e interessantes. Um foi o do ladrão da cruz, que recebeu
pouco ou nenhum conhecimento teológico. Muito provavelmente, ele era completamente analfabeto de
Bíblia, de Igreja, magistério, tradição ou teologia. Mas ele creu e foi salvo. O outro caso citado foi o de
Judas, que durante três anos inteiros foi doutrinado por ninguém menos que Jesus Cristo. E se
perdeu.

Se você parar para pensar, verá muitos exemplos de teólogos de renome que caíram em adultério, ou
que aderiram ao liberalismo, ou que apostataram completamente da fé, ou que não tem um pingo de
comunhão com Deus. Não oram, não louvam, não vão à igreja, não sacrificam nada por Cristo. Apenas
tem conhecimento, e um conhecimento bem profundo, é verdade. Por outro lado, não será difícil
trazer à mente exemplos de pessoas simples, incultas, humildes, muitas vezes até mesmo
analfabetas, mas que buscam a Deus com fervor e paixão, como sendo tudo o que elas querem na
vida. Vivem em Cristo, por Cristo e para Cristo, e nada mais importa além dEle. Não é difícil concluir
quem será salvo e quem será condenado entre ambos.

A conclusão é inevitável: a vivência prática da fé cristã é muito mais importante do que o


conhecimento recebido ou conquistado em vida. Muita gente adquire muito conhecimento e se perde
com ele. O orgulho sobe à cabeça, o desejo pelos estudos acabam suplantando o desejo por uma
comunhão mais íntima e profunda com Deus, e, consequentemente, se desviam do Caminho. Ninguém
na história recebeu mais sabedoria do que o rei Salomão, e, no entanto, basta folhear as Escrituras
para ver como ele terminou. Desviado dos caminhos do Senhor e imerso na idolatria, não há qualquer
registro de que tenha se arrependido nos momentos finais da vida. Davi, seu pai, muito menos sábio
que ele, se tornou o modelo de justiça e retidão em todo o Antigo Testamento.

Essa conclusão nos ajuda a evitar o fanatismo de certos indivíduos que pensam estar agradando a
Deus por passarem o dia inteiro “defendendo a Igreja” com xingamentos, palavrões e obscenidades.
Tiago é bem claro quando diz que a religião de tais pessoas não tem valor algum (Tg.1:26). Elas vão
chegar no dia do juízo, com carteirinha de igreja e tudo, tendo recebido os sacramentos, mantido as
aparências e “defendido a Igreja”, e Deus terá que jogar na cara delas que a religião que elas seguiam
não valia nada. Porque o que vai salvar no dia do juízo não é uma instituição religiosa ou quantos
debates venceu, mas se buscou a Deus com todo o coração, alma, força e entendimento, em espírito e
em verdade. Qualquer coisa fora disso é religião sem valor. É fé morta.

Alguns, no entanto, acabam caindo no extremo oposto, e desprezando completamente a teologia. Para
tais pessoas, basta fazer caridade e pronto. Não raras vezes recebo comentários em artigos aleatórios
deste blog de pessoas que, sem ler o artigo e nem refutar nada, dizem que tenho que parar de falar
de doutrina e de apontar os erros da Igreja Romana, deixar eles mentirem à vontade e espalharem o
engano, e que, de minha parte, tenho  apenas  que “fazer caridade” para ir pro céu. É o extremo do
“dane-se a doutrina”: qualquer coisa importa. Mas se a doutrina não fosse importante ou não
influenciasse na salvação de almas, Paulo não teria escrito treze epístolas cheias de doutrina. Muita
coisa ali eram prescrições morais, mas outras tantas eram especificamente doutrinárias.

Capítulos como 1ª Coríntios 14 (sobre o dom de línguas), 1ª Coríntios 15 (sobre a ressurreição), 2ª


Tessalonicenses 2 (sobre escatologia), toda a epístola aos Gálatas (contra os judaizantes) e o
Apocalipse inteiro seriam completamente descartáveis se a doutrina não fosse importante. Eles não
têm nada ou quase nada de prescrições morais, apenas teologia, doutrina pura. Mais ainda que isso:
os apóstolos escreviam rigorosamente contra os erros teológicos e doutrinários de oponentes da sã
doutrina. João disse que aqueles que negavam a encarnação de Cristo eram “anticristos” e sequer
deveriam ser saudados ou recebidos em casa (1Jo.4:3; 2Jo.10). Paulo expressou seu desejo de que os
judaizantes se castrassem (Gl.5:12) e até lançou maldições (1Co.16:22), da mesma forma que João
(Ap.22:18).

Judas insistiu que era preciso “batalhar pela fé uma vez por todas confiada aos santos” (Jd.3), porque
certos indivíduos estavam infiltrando doutrinas liberais na Igreja. Por causa de uma falsa teologia
relacionada ao dinheiro, a igreja de Laodiceia estava pobre, cega e nua (Ap.3:17). Os que caíam no
engano do nicolaísmo também eram severamente repreendidos (Ap.2:15). A mesma coisa se aplicava
aos que seguiam os “ensinos de Balaão” (Ap.2:14). Por causa de falsas tradições, Jesus disse que a
adoração dos fariseus era vã (Mc.7:7). Paulo mandou Tito repreender severamente os hereges
(Tt.1:13) e expressou seu medo de que os coríntios fossem enganados pela serpente e se desviassem
da devoção sincera e pura somente a Cristo:
“O zelo que tenho por vocês é um zelo que vem de Deus. Eu os prometi a um único marido, Cristo,
querendo apresentá-los a ele como uma virgem pura. O que receio, e quero evitar, é que assim como
a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e
pura devoção a Cristo” (2ª Coríntios 11:2-3)

A conclusão aqui também é inequívoca: a doutrina também é importante. Se o ensino doutrinário,


inclusive a apologética (o combate às heresias) não fosse importante, rasgue as páginas da Bíblia fora,
especialmente o Novo Testamento. Abra uma igreja ecumênica e comece a pregar que todos os
caminhos levam a Deus, que não faz diferença seguir a uma sã doutrina, que a heresia é bem-vinda
ou que ela não existe, que temos que nos unir no erro e tolerar a mentira, entrar pela porta larga e só
precisar “fazer caridade”. Muita gente já aderiu a este pensamento e nem percebe. Outros percebem,
e não tem vergonha disso. Geralmente, são os que nunca abriram a Bíblia na vida – ou que a deixam
sempre aberta, no Salmo 91, para espantar os males.

Temos aqui um impasse: a vivência da fé é mais importante e decisiva do que a doutrina em si, mas a
doutrina também é importante e necessária, e, com ela, a teologia e a apologética. Resolver qual é a
relação entre uma e outra é um dilema muito mal resolvido por aí. Há quem ensine que quem adere a
uma heresia qualquer, mesmo que por ignorância, já está perdido e seu destino é o inferno. Não
penso assim. O que eu penso é que a teologia interfere na vivência prática da fé, e é isso o que
explicarei nas linhas a seguir.

Até hoje, ao refletir sobre os enganos teológicos que existem em diversas seitas (incluindo a romana,
evidentemente), eu nunca consegui descobrir alguma que não possa ter interferência na vida prática
do fiel. O engano é pregado por homens, mas sabemos que é semeado por Satanás. E ele é
estratégico e preciso. Sabemos que ele não vai inventar uma doutrina falsa apenas por inventar, e
muito menos inventaria uma heresia que levasse alguém para mais perto de Deus. Ele irá semear a
semente do engano no sentido de interferir negativamente na vida prática dos crentes em Deus, a fim
de tirá-los do caminho e conduzi-los ao abismo. É por isso que por detrás de toda falsa doutrina há
uma consequência cruel.

Aqui não citarei todas as heresias e as consequências práticas de cada uma delas, o que elevaria
imensuravelmente as páginas deste artigo. Me limitarei a citar alguns, mas que servem de referência
e padrão para os demais casos.

• Purgatório

Muitos católicos não se preocupam completamente em se santificar totalmente, porque pensam que
podem ser mornos na vida cristã e passar na "segunda chamada", ou seja, pelo purgatório. A Igreja
Romana ensina oficialmente que há certos pecados que a pessoa pode cometer o quanto quiser sem ir
para o inferno, ela só vai para o inferno se cometer os pecados mais graves. O problema é que a Bíblia
ensina expressamente o contrário. Paulo afirmou que quem pratica “as inimizades, as contendas, os
ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas
semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas
praticam não herdarão o reino de Deus” (Gl.5:20-21).

Ele afirma que as pessoas que cometem estes pecados – a maioria dos quais considerados “veniais”
pela Igreja Romana – não herdarão o reino de Deus. Ele não disse que tais pessoas herdarão após
passarem algum tempinho no purgatório, mas que NÃO herdarão. Consequentemente, a Igreja
Romana coloca no céu pessoas que, para Paulo, estarão no inferno. Pecados "menores", se praticados
deliberadamente e sem arrependimento, também levam à condenação. A Igreja Romana alivia a
consciência das pessoas, fazendo-as se conformar com o pecado, por pensarem que na pior das
hipóteses entrarão no céu do mesmo jeito, apenas passando pelo purgatório primeiro. Isso traz um
conformismo ao pecado na cabeça de milhões de pessoas. É por isso que a maioria dos católicos
sequer se preocupa em praticar sua religião.

• Confissão auricular

Há numerosos relatos de católicos devotos que pecam deliberadamente pensando que para serem
perdoados basta ir se confessar a um sacerdote em particular e pronto. Inclusive multidões de
católicos que pulam carnaval de propósito, mesmo sabendo que isso é pecado, já sabendo que depois
bastarão se confessar ao padre na "Quarta-feira de cinzas" e já está tudo certo. Qualquer pecado pode
ser praticado conscientemente, deliberadamente e propositalmente, até mesmo de forma planejada,
porque tudo será resolvido com a absolvição do padre que, na Igreja Romana, tem poder para tirar os
pecados literalmente.

Há inclusive testemunhos de ex-católicos que assumiram que, quando um mesmo padre se cansava
dos repetidos pecados confessados sem arrependimento sincero e decidia “reter” o perdão, bastava a
ele ir a uma outra paróquia e ali se confessar a um outro padre que não o conhecia, e que o perdoava
sem hesitação. Na prática, não havia como um pecado intencional não ser perdoado. Não havia
restrições à prática pecaminosa, porque tudo podia se resolver facilmente com uma rápida confissão
no domingo seguinte. Ele podia pecar o quanto quisesse, mesmo que deliberadamente e sem
arrependimento, que a confissão e o "perdão" do padre seriam o suficiente para ele se sentir de
consciência limpa.

Isso confronta diretamente Hebreus 10:26-27, que diz:

“Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não
resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso
que consumirá os inimigos de Deus” (Hebreus 10:26-27)
Além disso, a confissão auricular anula o verdadeiro arrependimento bíblico, que é aquela confissão
sincera onde um pecador perdido eleva suas preces diretamente a Deus, em arrependimento e
contrição, onde pode quebrantar seu coração e derramá-lo na presença daquele que conhece todas as
coisas e que tem poder para regenerar um pecador e lhe dar uma nova vida.

Este é o tipo verdadeiro de confissão de pecados presente em toda a Bíblia, como explanei neste
artigo sobre o tema com diversos textos bíblicos, uma confissão feita diretamente a Deus em
arrependimento e sinceridade. Ao dizer que é errado se confessar direto com Deus e forçar uma
confissão obrigatória a um sacerdote, a Igreja Romana anula consideravelmente as chances de um
arrependimento sincero, mudança e quebrantamento de coração que são frutos de uma confissão feita
diretamente a Deus, como a Bíblia ensina. O resultado disso é uma legião de pessoas sem
arrependimento e confissão verdadeiros, preenchendo as fileiras das igrejas.

• Dogmas marianos e intercessão dos santos

A Igreja Romana ensina dogmas relacionados à pessoa de Maria, tais como a imaculada conceição
(negada por absolutamente todos os Pais da Igreja), a assunção de Maria, a mediação e intercessão
de Maria no céu, a apresentam como “advogada”, “Rainha dos céus”, “onipotência suplicante” e muitos
apologistas católicos chegam até mesmo a considerá-la co-redentora, enquanto outros afirmam que é
melhor pedir à mãe do que pedir ao filho, que “Maria passa à frente” e que ela é esposa do Espírito
Santo e co-partícipe da Santíssima Trindade. Os marianos não apenas ensinam que tais doutrinas são
verdadeiras, mas também que somos obrigados a crer nelas para sermos considerados católicos, e,
portanto, para sermos salvos, já que supostamente fora da Igreja Romana não há salvação.

Não vou nem perder tempo comentando sobre as maluquices mais fortes, concentremo-nos apenas no
mais light, a simples intercessão de Maria no céu, uma crença absolutamente básica e essencial para
qualquer católico. Também não vou abordar aqui o fato de Maria não ser onisciente e de por isso,
mesmo se estivesse viva e no céu, não poderia saber o que todo mundo pede ao mesmo tempo em
todas as partes do planeta.

Só a afirmação de que é possível Maria ouvir e atender a todo mundo no céu, até mesmo enquanto faz
“aparições” na terra clamando por autopromoção e autoglorificação em detrimento de Cristo, e às
vezes até mesmo a orações em pensamento, já é elevá-la ao patamar de deusa, uma vez que só Deus
é capaz de ouvir e atender a todos ao mesmo tempo, em função de seu atributo da onisciência,
exclusivo da divindade tanto quanto a onipresença, a onipotência e a imortalidade incondicional.

Mas isso não vem ao caso, porque este não é um artigo sobre intercessão dos santos. Já há vários
sobre o tema, disponíveis nesta tag. Para o propósito deste texto, farei a concessão, para o bem do
argumento, de que Maria realmente tinha uma alma imortal que saiu voando para o céu na hora da
morte, que é onisciente e sabe o que todos rezam em todo lugar, e que, como Deus, tem poder para
atender a todos simultaneamente. Suponhamos que tudo isso seja verdade. Isso ainda levantaria a
grande questão que até hoje nenhum apologista católico jamais foi capaz de responder: o que
perderíamos se orássemos a Jesus em vez de Maria?

Suponhamos que um católico decida dedicar meia hora do seu dia apenas rezando a Maria. O que ele
perderia se, durante este mesmo período, estivesse elevando suas preces a Jesus? Por que um
evangélico teria que deixar de dedicar, digamos, uma hora de oração a Jesus por dia, para dedicar
metade deste tempo a Maria e somente a outra metade a Jesus? Ele não seria atendido se orasse
totalmente a Jesus? A oração a Jesus não surtiria efeito, mas se as mesmas coisas tivessem sido ditas
a Maria, então teria? Deus não atenderia se você dedicasse todo o seu tempo de oração a Jesus, mas
atenderia se dedicasse o mesmo tempo a Maria?

Esse tipo de pergunta assusta e apavora qualquer apologista católico. Se você quer que ele te odeie
pelo resto da vida ou se quer vê-lo se enrolar todo, é só perguntar isso a ele. Um dos primeiros artigos
da história deste blog, escrito ainda em 2012, foi este aqui, que eu intitulei de “O Grande Desafio”. O
desafio era na verdade bastante simples, consistindo em perguntar ao católico:

– Em qual situação é melhor ou mais recomendável rezar a um santo do que orar direto a
Deus? Em que caso seria mais eficiente dirigir as suas rezas a um santo que já morreu e não
ao Criador dos céus e da terra? Em que circunstância, por exemplo, uma oração dirigida a
um santo é atendida, onde na mesma situação o milagre não aconteceria se a reza fosse
dirigida a Deus?

Apenas um católico topou o desafio, um fake com o nome de “Soldados de Maria” (no plural mesmo,
talvez eu estivesse debatendo com um exército inteiro e não com uma pessoa só). Mas sua resposta
foi tão risível que incentivo que todos vejam. Ele disse que se sentia “indigno” de ir direto a Deus,
então por isso ia a Maria. O comentário merece ser printado:

Recomendo que leiam a minha resposta mais completa a ele, mas aqui só preciso resumir com um
versículo de Hebreus preparado justamente para essa ocasião:

“Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus,
por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um
grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração
sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma
consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à
esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” (Hebreus 10:19-23)
O escritor inspirado não disse que somos indignos pecadores miseráveis e que por isso devemos ir a
Maria e a santos defuntos em vez de Deus. Ao contrário: disse que podemos nos aproximar de Deus
com plena confiança, porque Jesus nos abriu um novo e vivo caminho por meio do seu sangue.
Quem é justificado em Cristo tem confiança e segurança em ir direto a ele. Quem ainda se nega a
fazer isso mostra que não entendeu nada da expiação e justificação. Mostra que Cristo morreu em
vão. Ele morreu para limpar os nossos pecados e nos abrir acesso direto ao Pai, e eles ainda pensam e
vivem como se o sacrifício de Cristo tivesse sido inútil.

Mesmo na antiga aliança, quando Cristo sequer tinha vindo ao mundo, todos os salmistas e profetas
elevavam suas preces direto a Deus. Quanto mais agora que Jesus morreu em nosso lugar para nos
dar plena confiança em fazer isso! Quem usa a desculpa da “indignidade” para escolher Maria e os
santos em vez de Cristo está pisando na cruz do Calvário e negando o sangue que o redimiu. Ainda
está morto em seus pecados e delitos. Ainda não sabe que Cristo nos abriu um novo e vivo caminho
por meio do seu sangue (Hb.10:20). Ainda não crê que ele é o único caminho, e que ninguém vem ao
Pai senão por ele (Jo.14:6). Ainda não leu que por intermédio de Cristo temos livre acesso a Deus em
confiança (Ef.3:11-12). Ainda rejeita que tudo o que pedirmos em Seu nome, Ele nos dará (Jo.14:13).

De fato, não há escapatórias. A única saída do apologista católico será admitir o óbvio que suas
premissas exigem para sustentar que somos obrigados a pedir a intercessão de Maria: que por meio
dela alcançam-se coisas que não alcançaríamos se fôssemos direto a Deus por meio de Jesus. Por
incrível que pareça, é exatamente essa a conclusão que alguns santos e doutores da Igreja Romana
sustentaram. Um deles, bastante famoso, chamado Afonso de Ligório, escreveu um livro mariólatra
chamado “As Glórias de Maria”, onde sustenta isso explicitamente. Ele disse:

“Muitas coisas se pedem a Deus, e não se alcançam. Pedem-se a Maria, e conseguem-se” (p. 118)

O que foi que a Igreja Romana fez com um sujeito desses, que disse descaradamente que muitas
coisas pedem-se a Deus e não se alcançam, mas pedem-se a Maria e conseguem? Excomungou?
Queimou seus livros? Incluiu a obra no “Índice dos Livros Proibidos” pela Igreja? O puniu na “Santa
Inquisição”? Não. Em vez disso, o declarou como doutor e santo da Igreja, aclamado por todos, e
elevou seu livro ao patamar de obra oficial da Igreja e altamente recomendada aos fieis. Ou seja, as
heresias de Ligório apenas refletem o pensamento mariólatra da Igreja Romana.

Em suma, a resposta do apologista católico ao desafio pode ser:

• Nenhuma (ou fuga do tema, ou enrolações sem sentido).

• Dizer que nós temos que recorrer a Maria porque somos indignos de recorrer a Jesus (heresia já
refutada).
• Dizer que realmente há coisas que se pedem a Deus e não se alcançam, mas se pedem a Maria e
conseguem-se (blasfêmia total).

• Ou admitir o óbvio: que pedir a Maria em vez de Jesus não trará absolutamente vantagem
nenhuma, o que implica em dizer que a devoção mariana não deveria ser necessária e muito menos
obrigatória, e que todos aqueles que rezam a Maria estariam fazendo algo mais útil e confiável se
estivessem orando a Deus em nome de Jesus.

No fim das contas, até o mariano mais fanático terá que admitir que uma pessoa que passa duas
horas orando por dia a Jesus não estará perdendo em nada para uma outra que passa meia hora
orando a Jesus, uma hora orando a Maria e mais meia hora direcionada a qualquer um do panteão de
deuses santos do paganismo romano. A diferença é que o evangélico está orando para alguém que a
Bíblia garante que é onisciente, que ressuscitou e que está no céu, com numerosos exemplos bíblicos,
enquanto os papistas rezam a uma deusa-mãe sem nenhuma evidência de que tivesse uma alma
imortal que foi para o céu antes mesmo da ressurreição, ou que tenha sido assunta de corpo e alma
depois da morte, ou que tenha poderes de onisciência como Deus para atender todo mundo, ou que
Deus divida a sua glória com alguém.

Ou seja: eles preferem jogar na loteria com base em números aleatórios. Neste caso, com base em
uma fé cega. Isso tudo em vez de ir direto a Deus, como todos os personagens bíblicos do Antigo e do
Novo Testamento fizeram em absolutamente todas as ocasiões em que há alguma oração registrada
nas Escrituras. Isso é pedir para ser enganado. Para não dizer coisa pior.

Em síntese, se Maria está mesmo no céu e pode mesmo atender as orações de todo mundo ao mesmo
tempo, o protestante não perde nada direcionando as orações a alguém mais poderoso que ela
(Jesus). Mas em caso contrário (ou seja, se Maria está morta aguardando a ressurreição, ou se não
tem conhecimento do que acontece entre os viventes, ou se tem mas não é onisciente para ouvir as
rezas de todo mundo ao mesmo tempo), o papista está simplesmente perdido. Significaria que ele
passou horas e mais horas, dias e mais dias, meses e mais meses, rezando a alguém que
simplesmente não fazia a menor ideia de que ele estava rezando. Ou seja: um verdadeiro desperdício
de oração. Tempo jogado no lixo orando aos pés de uma estátua de gesso morta e sem vida, quando
poderia tê-lo utilizado utilmente dirigindo suas preces ao Criador dos céus e da terra.

Se os romanistas estão certos em sua devoção mariana, os protestantes não perdem nada ao orarem
a Jesus no lugar. Mas se os evangélicos estão certos em acreditar que só Deus deve receber as
orações e só Ele pode atendê-las, os católicos estão em verdadeiros apuros ao desperdiçarem tanto
tempo de oração inutilmente, rezando a alguém que não está lá para atendê-los. Pior ainda que isso:
estariam trocando o Criador pela criatura, o que Paulo condena com bastante veemência em Romanos
1:25.
Assim, podemos entender facilmente o porquê que o diabo semeou a semente do engano em relação à
intercessão dos defuntos: ele sabe que os mortos estão sem vida aguardando a ressurreição na
sepultura, como eu mostrei em meu livro de mais de 800 páginas sobre o tema ( veja aqui), e por isso
quer direcionar a ninguém as orações que, de outra maneira, seriam direcionadas a Deus, que é quem
realmente atende e responde as orações dos crentes. Ele conhece perfeitamente bem o poder que a
oração tem, e por isso não quer que a oração chegue a Deus. Quer que pensem que Deus não existe
(ateísmo), ou que existe, mas que você precisa passar por um panteão de santos primeiro, para só
depois eles entregarem a mensagem a Deus (catolicismo romano). Dá no mesmo. Em ambos os casos,
Deus não é o alvo das orações.

Os demais dogmas marianos servem apenas para acentuar a descentralização de Cristo. Paulo, o
apóstolo que tanto escreveu que nós temos “um só Senhor, Jesus Cristo” (1Co.8:6), sem jamais
mencionar as “Senhoras” que os romanistas buscam mais que a Cristo, estaria apavorado se visse
hoje uma legião de fieis que se dizem “cristãos” dizendo que somos filhos e escravos de Maria(!), que
Cristo não é o único redentor, que há um quarto participante na Trindade, que ressuscitaram a Rainha
dos céus de Jeremias 7:18 e 44:17-19 com uma “carinha cristã”, que nem “todos pecaram”
(Rm.3:23), que há mais mediadores além de Cristo (1Tm.2:5), que a porta do céu, a árvore da vida e
a arca da aliança são Maria, e que o Reino que virá é o “Reino de Maria”, como dizia São Luís de
Montfort.

Bem Paulo, que jamais mencionou Maria em qualquer uma de suas epístolas, nem mesmo quando
isso parecia necessário ou oportuno (cf. Gl.4:4). Bem ele, que insistia que não nos tornássemos
escravos de homens (Gl.4:8), mas que os apologistas católicos insistem que ele queria que fôssemos
escravos de Maria. Bem ele, que sempre fez questão de ressaltar que a nossa devoção deveria ser
sincera e pura somente a Cristo, e temia que esse evangelho Cristocêntrico fosse contaminado por
meio da devoção à criatura em lugar do Criador:

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens
feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e
répteis (...) Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e
seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém” (Romanos 1:22,23,25)

“O zelo que tenho por vocês é um zelo que vem de Deus. Eu os prometi a um único marido,
Cristo, querendo apresentá-los a ele como uma virgem pura. O que receio, e quero evitar, é
que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e
se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” (2ª Coríntios 11:2-3)

De fato, é isso o que o diabo vem fazendo cada vez mais ao longo do tempo, por meio da sua seita
preferida: incentivar a completa descentralização de Cristo, transformando o evangelho Cristocêntrico
em um pseudoevangelho fake mariocêntrico. Quanto mais o tempo passa, mais dogmas mariólatras
são adicionados. No século XIX veio a imaculada conceição, no século XX a assunção (em pleno ano de
1950, o do Maracanaço), e no século XXI há diversos apologistas católicos defendendo a co-redenção e
pedindo que a Santa Sé reconheça isso oficialmente. Não sabemos onde isso irá parar. Talvez só pare
quando eles admitirem abertamente que Maria é realmente uma deusa, com os mesmos poderes de
Cristo e de Deus.

Hoje, basta ver um culto católico para observar o quão nítido é o fato de que eles dão muito mais
valor, atenção, importância e destaque a Maria do que a Jesus. Jesus é como se fosse até hoje um
bebezinho indefeso nas mãos da mãe protetora Maria, aquela que realmente é digna de louvor. Há
poucos dias um amigo meu de longa data, ex-católico, resolveu visitar uma igreja católica para ver
como as coisas estavam. O relato dele foi o seguinte:

http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2016/08/qual-importancia-da-teologia-e-
da.html

É por isso que precisamos estudar teologia, amigos. Sem um conhecimento sólido da Palavra, o
Inimigo se sentirá livre para conseguir enganar cada vez mais e mais facilmente os ingênuos. Com o
tempo, o pecado será relativizado, Cristo será deixado de lado e a criatura será posta no lugar do
Criador. Toda a adoração será vã: sua oração não será a Deus, seu louvor não será a Cristo, sua busca
não será pelo Espírito Santo, seus ensinamentos não passarão de tradições de homens (Mc.7:6-7).
Será o “outro evangelho”, do qual Paulo fala em Gálatas 1:8-9. Um evangelho com Jesus, mas onde
Jesus é só mais um no panteão de santos. Um evangelho com Deus, mas onde não se pode confessar
nem pedir direto a Ele. Um evangelho com oração, louvor, culto, doutrina... mas com uma finalidade
totalmente distinta da original. Um evangelho versão pirateada do Paraguai.

Mas tem um problema: para Paulo, não existem dois evangelhos. “Ainda que nós ou um anjo do céu
pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” (Gl.1:8). O
evangelho que traz vida é um só. Os outros podem ter Cristo em uma imagem pregado numa cruz,
mas só o evangelho verdadeiro prega o Cristo ressurreto e vivo para todo o sempre. Os outros podem
ter elementos ou aspectos cristãos, mas já perdeu completamente a essência do original.

É por isso que doutrina, teologia, apologética, enfim, este blog é importante. Sem isso, a imaginação
dos homens não tem limite. Paulo previu que chegaria o tempo “em que não suportarão a sã doutrina;
pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para
si mesmos” (2Tm.4:3). E o que esses mestres fariam? Paulo responde no versículo seguinte: “Eles se
recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2Tm.4:4).

Mitos, mitos e mais mitos. Mitos que não existem na Bíblia, mitos que não existem na patrística, mitos
que foram criados cinco, seis, sete, dez, quinze, vinte séculos depois de Cristo. Mitos aprovados por
papas que viveram na época em que o Brasil perdia a final no Maracanã para o Uruguai. Mitos
construídos em cima de mitos, apoiados por outros mitos e aglomerados por mais mitos. Mitos que já
surgiram, mitos que estão em construção e mitos que ainda surgirão. É por isso que precisamos de
teologia: uma boa teologia destrói os mitos, traz luz à razão e liberta as almas da prisão. Uma teologia
responsável e bem feita evita a escuridão, enfatiza a redenção e conduz à boa religião – aquela que
consiste em “cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo
mundo” (Tg.1:27).

Sim, precisamos de Cristo. Mas sem uma teologia séria, Cristo pode ser qualquer coisa: apenas um
grande mestre de moral (humanistas), apenas um grande profeta (islamismo), apenas um entre 330
milhões de divindades (hinduísmo), apenas um “espírito evoluído” (kardecismo), ou aquele que só
atende aquilo que a mãe pede (catolicismo). Só não vai ser aquilo que é: o Rei dos reis e Senhor dos
senhores, digno de toda a honra e toda a glória, que recebe e atende orações e diante de quem toda a
terra treme e todo o joelho – incluindo o de Maria – se dobra e proclama que Santo, Santo e Santo é o
Seu nome, e que toda a terra está cheia da sua glória.

A teologia bem feita nos apresenta a este Cristo verdadeiro. Ela evita que alguém se esforce por
alcançar um falso Cristo. Ela pode influenciar na vivência cristã ao nos mostrar o trilho certo a ser
seguido. Mas se depois disso o cristão decidirá andar por este caminho indicado, seguindo e servindo a
este Cristo, o procurando de todo o coração e o buscando com toda a alma, isso dependerá do quanto
estará disposto a negar a si mesmo e tomar a sua cruz, e não da própria teologia. Essa é a vivência
cristã – o ápice, o alvo e a consumação da verdadeira teologia.

http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2016/08/qual-importancia-da-teologia-e-
da.html

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