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CAPA

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Editorial
Cláudio Nogueira

HISTÓRIA

05 - PÁG. 05
O Elixir da Longevidade dos Cavaleiros Templários
Harnoel Lier

SIMBOLOGIA
- PÁG. 09
09
A Abóbada Celeste no REAA e a Mitologia Greco-Romana– Parte 1
Cláudio Nogueira

FILOSOFIA - PÁG. 16

16
Os Saberes na Oficina
Gildeci Leite

- PÁG. 20
ESPIRITUALIDADE

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Os Fundamentos Atemporais da Franco-Maçonaria
Vítor Sousa
EDITORIAL

À Gl ∴ do G ∴ A ∴ D∴ U∴

É com grande entusiasmo que começamos essa nova empreitada Maçônica.


Surgida do esforço e da boa vontade de IIr ∴ Maçons, a REVISTA COMOTAL
nasce para somar a tantas outras mais umas laudas de conhecimento a Arte Real.
Temos o objetivo de através de textos curtos, diretos e de poucas matérias passar
um pouco do que burilamos sobre a Pedra Bruta. Aqui versaremos sobre história,
simbologia, filosofia, ritualistica, espiritualidade e demais intereses maçônicos.
Nessa tábua de traçar, também atuaremos engajados em campanhas de solidarie-
dades, causas tão comuns a nossa Ordem e cada vez mais necessárias, sobretudo
em tempos de setentrião.
Neste número inaugural contaremos com matérias de Irmão de Orientes e Potên-
cias diversas, mas todos com o espírito da busca do conhecimento e da solidarie-
dade de Pedreiro Livre. Na temática sobre história, o nosso Ir ∴ Harnoel, nos
traz curiosidades sobre o modo de vida dos enigmáticos monges guereiros em O
Elixir da Longevidade dos Cavaleiros Templários. Este que vos traças essas
linhas, também traz a primeira parte de um artigo sobre A Abóbada Celeste no
REAA e a Mitologia Greco-Romana, tema árduo em que tento trazer nuances
importantes para a visualização dessas alegorias tão caras para nós Obreiros. O Ir
∴ Gildeci nos brinda na sessão destinada à filosofia com uma peça de arquitetura
sobre Os Saberes na Oficina, tão importantes e pouco notados, essa re-
flexão nos traz a tona o quanto é significativo a valorização dos ecléticos campos
de saberes que existem em uma Loja. Sobre espiritualidade, o nosso Ir ∴ Vítor
Sousa nos traz no texto Os Fundamentos Atemporais da Franco-Maçonaria,
uma reflexão sobre a Submissão, Contrição e Gratidão, conceitos fundamentais
para a progressão de homens que buscam a edificação moral. Decorando as nos-
sas páginas, com a sua aquarela virtual, o nosso Ir ∴ Angeluz Corps, traz a magia
da sua arte gráfica reflexiva. E, como nós da REVISTA COMOTAL, imbuídos
do censo de Solidariedade que norteia todo Maçom, pretendemos todos os meses
abraçar uma campanha fraternal, e neste estaremos empenhados na campanha de
arrecadação através de uma Vakinha Virtual, encabeçada pela Loja 8 de Dezem-
bro nº 2669- GOB-BA e pela sua Fraternidade Feminina, com intuito de com-
prar uma máquina de fabricação de fraldas infantis e geriátricas para doações
em asilos e orfanatos. Divulgaremos para milhares de Irmãos essa oportunidade
de solidarizar com quem necessita.

Está lançada a pedra Fundamental! Que o G ∴ A ∴ D∴ U∴ abençoe a nossa Obra!


Um T∴F∴A∴

Ir ∴Cláudio Nogueira

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EDITORA RELIGARE REVISTA COMOTAL

O ELIXIR DA LONGEVIDADE DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

Muito já se falou sobre a origem e o fim dos Cavaleiros Templários, contudo pou-
co se sabe porque viviam acima da média da população. Pelos registros e materiais
encontrados nos Templos, acredita-se que pela forma como eles viveram.

LONGEVIDADE

Diferentemente dos habitantes da Idade Média, os Cavaleiros Templários, quan-


do não morriam em batalhas, viviam em média de 65 a 68 anos de idade. O cidadão
comum naquela época vivia em torno de 30 a 40 anos, pois tinham muitas doenças,
lutas e guerras. A velhice parecia começar muito cedo, assim que se tornavam adul-
tos.
A higiene precária e desconhecida naquela época, contribuía para a mortandade,
principalmente das crianças. O Europeu comum não tinha o hábito de tomar banho
todos os dias, muito menos de lavar as mãos. Somente recentemente, por exem-
plo, descobriu-se que a falta de higienização das mãos poderia causar infecções aos
pacientes quando nos procedimentos cirúrgicos.
Os Cavaleiros Templários, por influência dos povos árabes que valorizavam a hi-
giene pessoal, aprenderam o ritual de lavar as mãos, os pés e o rosto antes de cada
uma das 5 orações diárias e o costume de escovar os dentes, usar desodorante, além
da higiene na preparação das refeições.
Os Templários, com a conquista da Palestina, geraram um fluxo muito grande de
Ocidentais para a peregrinação em Jerusalém. Esse intercâmbio de civilizações foi
importante para exportar os hábitos de higiene e os conhecimentos árabes para a
civilização europeia, pois eles ficaram surpreso com a limpeza e o calçamento das
cidades orientais, enquanto lá, as ruas ainda eram cheias de lama, sem iluminação,
sem esgoto e sem calçamento.

ELIXIR DE JERUSALÉM

Nas Terras Sagradas, eles provavelmente misturavam um potente coquetel de


aloe vera (antisséptico), cânhamo (cannabis sativa) e vinho de palma, conhecido
como O Elixir de Jerusalém, que provavelmente ajudava a acelerar a cura de feri-
mentos.
Com esse Elixir, tinham uma rápida recuperação dos ferimentos em batalhas,
além de se manter sempre saudável. Pode ser que esse Elixir em conjunto com os
hábitos alimentares contribuíram para a longevidade dos Cavaleiros Templários.

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REGRA LATINA

Os Templários tinham regras de convivência feitas por Bernardo de Claraval,


que posteriormente, passou a se chamar São Bernardo de Claraval.
Uma das regras obrigavam os Cavaleiros a beber e a comer em dupla, para que
um cuidasse com atenção do outro e não interfiram no modo de comer; também era
normatizado a forma de pedir na mesa. Os vinhos eram servidos igualmente aos
irmãos, tendo apenas uma taça por dia.

Devido as vasilhas em falta, os irmãos comerão aos pares, de modo a que um


possa estudar o outro mais proximamente, e para que nem a austeridade nem
abstinência secreta seja introduzida na refeição coletiva. Nos parece justo que
cada irmão deva ter a mesma porção de vinho em sua taça. FREITAS, Eduardo
Filipe.
A Regra primitiva da Ordem.1 ed. São Paulo: Independente, 2017

Haviam também as regras de vestimenta, do que comer (dieta) e do que fazer


quando não estivesse em batalha. Ao todo eram 72 regras.
A regra da dieta especificava os dias de comer carnes, peixes e legumes, sendo
que no Oriente havia uma abundância de frutas e verduras que eram desconheci-
das na Europa. Além da alimentação, as regras também geriam as vestimentas, a
recepção de um novo membro e todo o seu dia-a-dia.

Harnoel Lier é contador, Especialista em Direito Tributário e Perícia Contábil. Pro-


prietário da Tract Contabilidade. É M ∴M ∴ e 1º Vigilante da A∴R∴L∴S∴ Tem-
plários da Paz, nº 251, G∴L∴E∴B∴; Grau 18 do R∴E∴A∴A∴; Cavaleiro Templário
e Cavaleiro de Malta.
Sigam no Youtube o Canal Cavaleiros Templários:
https://images.app.goo.gl/2Wzc3dRo5K2rG1gL7

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A ABÓBADA CELESTE do R ∴ E ∴ A ∴ A ∴ e a MITOLOGIA


GRECO-ROMANA

Alegoria pouco desbastada em Oficina, o teto da Loja, nos traz um complexo


mundo de conceitos profundos. Essa propulsão de beleza e Mistério sobre as nos-
sas cabeças é uma das contribuições da mitologia greco-romana guardadas pela
nossa Ordem e que nos serve de fonte de entusiasmo na busca das Virtudes e dos
caminhos da Sabedoria.
Representado por planetas, estrelas e constelações do mundo Antigo essa cúpula
nos remete, através de algumas narrativas, lições e análises comportamentais de
profunda reflexão. O mito, como uma narrativa simbólica, nos chama à percepção
experiências que o mundo objetivo não nos traz à tona. Toda simbologia em si é ar-
bitrária e permite vislumbres diferenciados e acesso a áreas reveladoras do incon-
sciente. Nessas laudas que seguem trago um resumo das características dos mitos,
suas ressignificações ao longo do tempo e, ora perceptíveis, ora veladas, afinidades
com a nossa Ordem.
As Virtudes tão caras e os ensinamentos que em séculos esses seres mitológicos
vem permeando o imaginário do mundo ocidental podem nos servir de inspiração
para o lapidar diário.

PARTE 1

SOL - APOLO/ FEBO

Filho dos deuses Zeus e Leto e irmão gêmeo de Ártemis. Era membro do Panteão
dos doze deuses do Olimpo. O sol era a sua carruagem e das Musas era o regen-
te. Os seus raios emanavam e regulavam o céu preservando a ordem do mundo.
Exprimia o caminho da Sabedoria humana através da harmonia da música. Tor-
nava os homens conscientes de seus erros. Deus da Beleza, Perfeição, Harmonia,
Equilíbrio e da Razão. O seu nome significava “manter uma assembleia sagrada”.
Muitos eram os deuses na Antiguidade que simbolizavam o sol ou era uma mani-
festação deste. Heródoto dizia que Apolo e Hórus eram o mesmo deus. Diferente
do deus Hélio que era a personificação do sol, Apolo era o Deus do Sol. Sete era
o seu número Sagrado e o filósofo/matemático Pitágoras o tinha como o inspira-
dor de suas teorias. Era ligado aos ritos Iniciáticos de Passagem da infância para
a idade adulta que objetivavam a Paidéia. Com o domínio romano teve o seu mito
sincretizado e ressignificado. O Imperador Augusto, colocou Roma sob a proteção
de Apolo com o nome de Febo. O culto sofreu a posteriori influência do Mitraís-
mo do Oriente e voltou-se mais para a simbologia do Sol do que para Apolo em si.
Apolo representava, sobretudo a Luz da Verdade.

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LUA - ÁRTEMIS/DIANA

É a deusa da lua, da caça, dos animais selvagens, do parto, da virgindade e pro-


tetora das meninas. Homero a descrevia como “ das terras selvagens”. Platão tradu-
zia o seu nome como “seguro”, “ileso”, “puro”, “a donzela inoxidável” e conforme
a grande mãe da natureza. Diferia-se de Selena, deusa primitiva que personificava
a lua. Filha do deus Zeus e da ninfa Leto, sua mãe quando grávida foi persegui-
da pela cobra Píton enviada pela esposa legítima de seu pai (Hera) que também
a proibiu de parir em terra firme. Feito que só consegue numa ilha flutuante. Ár-
temis nasce primeiro e miraculosamente faz o parto do seu irmão gêmeo Apolo.
Pediu ao seu pai arco e flechas e vestes menores para poder caçar. Também que o
diferenciasse do seu irmão gêmeo tornando-se os dois lumiares antagônicos. Teve
como companheiro de caça o gigante Órion ao qual desenvolveu um amor que não
chegou a se concretizar carnalmente devido a uma tragédia (ver parte 2). As suas
seguidoras faziam votos de castidade aos quais vigiava de perto. Por ter ajudado a
mãe no parto do seu irmão tornou-se a Portadora da Luz.

MERCÚRIO / HERMES

Era filho de Zeus e da Plêiade Maia, o mensageiro dos deuses, deus das estra-
das, viagens e encruzilhadas, da eloquência, persuasão e de algumas formas de Ini-
ciação, além de ser o guia das almas dos mortos para o reino de Hades. Em Roma
foi chamado de Mercúrio e sob influência egípcia mesclou-se ao deus Tot, surgindo
o Hermes Trismegisto. Seu nome deriva da ideia de discurso e de atividades ligadas
ao poder da fala, bem como de um antigo marco de estrada em formato falocêntri-
co de nome herma. Por ser o inventor do alfabeto, números, astronomia, medidas
e pesos dizia-se que “Aristóteles sistematizou o conceito da hermenêutica, a partir
dos atributos de Hermes.” Hermes-Mercúrio era a representação do orador perfeito
considerado imagem do Logos e mensageiro da vontade divina. Na alquimia seu
símbolo material era o metal mercúrio, já que este era a base de todos os metais”
... a ‘água permanente’, primordial da Criação, sobre a qual o espírito de Deus se
movia, o princípio por excelência de todas as transformações”. Hermes-Mercúrio
guiava as almas da escuridão material para à Luz final, sendo uma imagem da pe-
dra filosofal, que transmutava toda a impureza em ouro; a “carnalidade em espiri-
tualidade.”. Portava o caduceu, vara que separava duas serpentes belicosas, e que
representava o apaziguamento de conflitos. Era um dos Patronos dos ritos de Ini-
ciação chamados Mistérios de Elêusis e dos Mistérios da Samotrácia, ao qual fora
iniciado Heródoto. O seu caráter Iniciático aparece, sobretudo nos festivas Her-
maias, nos quais participavam jovens que ao vencerem os jogos voltavam para as
suas cidades como adultos e heróis.

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SATURNO/CRONOS

Filho de Urano e Gaia era titã do tempo e rei dos titãs. Representa a renovação
iminente e inevitável trazida pela nova geração e pelo tempo intrépido que a tudo
devora. Hesíodo em Teogonia nos diz que ” Cronos invejava o poder de seu pai,
o governante do universo. Urano conquistou a inimizade de Gaia, ao esconder os
gigantes filhos de Gaia no Tártaro. Então, Gaia construiu uma harpe e conven-
ceu Cronos e seus irmãos a usá-la para castrar Urano.” Ao assumir o poder como
Senhor dos Céus casa-se com a sua irmã Reia e governa constituindo a segunda
geração divina. Com ela teve três mulheres, Héstia, Deméter e Hera e três homens,
Hades, Poseidon e Zeus. Conduziu uma Era de ouro no princípio da humanidade,
mas com medo de ser destronado pela nova geração, Cronos engolia os seus filhos
ao nascerem. Dos cinco apenas Zeus consegui salvar-se devido a sagacidade de sua
mãe que deu ao pai uma pedra enrolada num pano simulando o bebê. Zeus foi cria-
do em segredo numa caverna e amamentado pela cabra Amaltéia. Quando cresceu
decide vingar-se e pede apoio a Métis (a Prudência, filha do titã Oceano) que lhe
cedeu uma poção mágica, cuja mesma deu ao seu pai e o fez vomitar aos filhos que
havia devorado. Após esse feito seguiu-se a guerra para tirar os titãs do poder (a
titanomaquia) que culminou com a vitória de Zeus e seus irmãos. Zeus assume o
Reino do Universo e aprisiona os titãs. Em Roma, Cronos é assimilado pelo deus
Saturno e ganha novos atributos como a abundância e a riqueza. Também explicam
o seu final como tendo sido libertado, se refugiado na região do Lácio e sendo um
dos responsáveis pela origem de Roma. Efetivamente o seu mito representa o ciclo
da renovação intermitente e indelével.

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ZEUS/JÚPITER

É chamado de o pai dos deuses. Deus dos céus, raios, relâmpago autoridade que
mantêm a ordem e justiça. Afamado adúltero e exímio reprodutor é pai de uma
vasta descendência de deuses, semideuses e heróis. Destacam-se: Atena, Apolo e
Ártemis, Hermes, Perséfone (com Deméter), Dioniso, Perseu, Héracles, Helena de
Troia, Minos, e as Musas (de Mnemosine); com Hera, teria tido Ares, Ênio, Ilítia,
Éris, Hebe e Hefesto. Rei dos Deuses, supervisionava o universo. Mesmo os que
não eram seus filhos o tratava como pai e o reverenciava como o fundador da nova
geração de deuses. Derrotou a velha geração e iniciou uma nova Era. Funcionava
como o modelador de um princípio e organizador de uma realidade transformada
o “supremo artefato cultural era a encarnação das crenças religiosas gregas, e o ar-
quétipo da divindade grega.” Nas obras de Plotino, Enéadas, e na Teologia Platôni-
ca, de Proclo é associado a ideia do Demiurgo, ou Mente (nous). Na mitologia ro-
mana era chamado de Júpiter e é o pai do deus Marte. Assim, é o avô de Rómulo
e Remo, os lendários fundadores de Roma. Vários dos mitos sobre as constelações
são frutos da sua infidelidade marital e das vinganças de sua esposa Hera. (Ver par-
te 2). O deus dos deuses era a revelação da autoridade, domínio e da força pujante.

VÊNUS/AFRODITE

Era a deusa do amor, beleza, sexualidade, prazer, alegria e do perpetuar da vida.


É o ideal de beleza feminina grega encarnado. Sobre o seu nascimento conta-nos
Hesíodo, “ela nasceu quando Cronos cortou os órgãos genitais de Urano e arremes-
sou-os no mar; da espuma (aphros) surgida ergueu-se Afrodite.” Esse episódio, e
a própria representação da deusa, é a força da natureza manifestada no ato de fe-
cundar. É o poder de gerar que não se pode deter. Por isso, a mãe de todos os seres
vivos era representada muitas vezes escoltada por feras indóceis. Seu simbolismo
feminino não era da virginal Ártemis ou da maternal Hera, mas da fêmea cheia
de graça e beleza, eternamente livre, feliz e jovem. Afrodite nasceu adulta, nua e
resplandecendo beleza. Sua personalidade revelava uma amante arrebatadora que
ia até as últimas consequências. De vaidade descomedida e de sensualidade avas-
salante muitos foram os seus amores e filhos. Foi obrigada por Zeus a casar com
o feio e manco deus dos ferreiros Hefesto. Revoltada praticava infidelidade
constante, sobretudo com o deus da Guerra (Ares). Na sua versão romana é Vênus
que significa amor sexual ou desejo sexual. Era a expressão do amor carnal e da
paixão fatal pela beleza exterior, não obstante fosse igualmente a expressão do
nascimento espontâneo.

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OS SABERES NA OFICINA

A maçonaria não é um organismo isolado e distante da sociedade. A ordem


maçônica não é imune aos erros e aos vícios demasiadamente humanos. Levan-
tar templos à virtude e cavar masmorras aos vícios é ideal de todos os homens de
bem, não apenas de pedreiros livres e de bons costumes, habituados a reuniões
e trabalhos de cidadania e de caridade. Entretanto, vez por outra algumas ações
protagonizadas deveriam distar das oficinais, apesar de todos os templos estarem
devidamente preparados para o exercício da medida justa, a gerir todas as ações
com amor e sabedoria, vontade e inteligência.
Ao levantar possíveis equívocos cometidos em oficinas maçônicas, incluo-me
entre aqueles que erram, mas também entre aqueles que procuram continuar no
árduo trabalho de desbastar a pedra bruta. Imagino, que a leitura deste texto em
quaisquer das numerosas oficinas pode gerar alegrias e descontentamentos, afinal
o leitor, assim como o autor, pode ser considerado alguém disposto ao debate e/
ou a criar confusões. Tais acontecimentos são sinais de que maçons são humanos.
Talvez a questão nevrálgica seja a forma de receber as reflexões. Todos estão im-
buídos de sabedoria, força, beleza, dos sinais, toques e palavras para o exercício
coletivo do polimento da pedra bruta com a maturidade intelectual imprescindível a
todo maçom? Faço menção, nesse momento, a uma maturidade intelectual mínima
necessária para o aperfeiçoamento humano, sem a obrigatoriedade de referência
aos que se dedicam cotidianamente ao exercício de atividades críticas, verticaliza-
das nas diversas áreas do saber.
As relações entre saber e poder são conhecidas, pois mesmo entre maçons há
quem evite socializar saberes, mantendo o controle do outro, ainda que alguns dos
saberes sejam pouco críticos, podem ser decisivos. Em todas as oficinas é fácil
perceber o quanto as atividades do mundo profano reduzem o tempo de estudos
maçônicos. Afinal, é ensinado na Ordem a priorizar a família, diante, inclusive, de
alguns compromissos da maçonaria. Daí é percebido, que de forma menos irma-
nada conhecimentos sobre legislação maçônica, por exemplo, podem ser utilizados
por alguns irmãos para conduzir de maneira menos fraterna os destinos das ofici-
nas, visto que nem todos estão dispostos, habituados e/ou com tempo para incorpo-
rar trechos e procedimentos decisivos das leis. Não é incomum, que esses conhe-
cimentos da vida e da legislação maçônicas apareçam desprovidos de uma melhor
e devida verticalização do pensamento, própria de intelectuais críticos. O domínio
baseado apenas no memorizar de trechos e de frases úteis ao exercício do poder,
não garante, por si só, atitudes propositivas. Os domínios dos rituais e da legislação
maçônica podem ser utilizados para capacitar os menos habilitados, menos dis-
postos ou pouco disponíveis à oportuna mnemônica, a exigir considerável tempo
diário.

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Assim, oficinas seguem valorizando alguns saberes com maiores potenciais pu-
nitivos e vigilantes em depreciação de verticalizações necessárias ao maçom para
uma fraterna proposição de mundo. Os saberes criticamente sistematizados, que
também podem servir como punitivos, nem sempre ocupam o devido lugar de im-
portância. Nessa quase sempre confusa relação entre saber e poder, deprecia-se o
valor de incômodos saberes advindos da filosofia, das ciências humanas e sociais,
da crítica da cultura, da literatura e demais artes, pois quase sempre aprecem desa-
companhados de capital financeiro. Às vezes, são ouvidos apenas aqueles que pos-
suem considerável posição social, visto que a sociedade prioriza o ter ao invés do
ser. É preciso afirmar a discordância do maniqueísmo sobre pobres serem sempre
os bons e os ricos seu inverso. A vida não é assim. A vida é muito mais complexa
que quaisquer maniqueísmos.
Valorizar somente o poder econômico ou correlato, nem sempre beneméritos, e
esquecer a gama de saberes, que pode contribuir com as oficinas desgastadas em
excessivas ritualísticas, ajuda pouco a tornar feliz a humanidade. Quais saberes
devem ser considerados para que a construção de uma humanidade mais feliz e
mais justa seja menos uma retórica e mais uma prática? Nas oficinas maçônicas há
muitos saberes, não raro, diversos deles sufocados pela velha compreensão de que
mais valem o poder econômico e/ou a legalidade reguladora. É necessário construir
a maturidade para sinceras e fraternas autocriticas, evitando generalizações pre-
cipitadas e dessabores pessoais. É preciso aproveitar todas as colunas e mosaicos
para qualificar o debate, atualizando a tríade liberdade, igualdade e fraternidade
com o peculiar pioneirismo maçônico.

Gildeci de Oliveira Leite é M∴ M∴ da A∴R∴L∴S∴ Acácia Diamantina nº 92,


G∴L∴E∴B∴/ Seabra-BA, prof. Dr. da UNEB, sócio do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, colaborador do Jornal A Tarde e colunista da revista Repare
Quilombo.

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Todos so sábados uma entrevista com uma


personalidade do mundo maçônico. Nas
principais plataformas de Podcasts.

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Os Fundamentos Atemporais da Franco-Maçonaria

Como Pedreiros Livres, ao adentramos à sublime Ordem, somos desafiados a


edificar “Templos à Virtude, e Masmorras ao Vício”. Frente a esse desafio constan-
te, é importante lembrar que toda edificação demanda grande empenho na escolha e
preparação do terreno onde serão erguidos os tijolos que vão compor a construção.
O risco mais evidente de um descuido nessa importante etapa da construção foi
eternizado nas palavras do Cristo. O sábio Mestre ensinou aos seus discípulos que
apenas os insensatos arriscariam construir uma casa sobre um terreno instável e
arenoso (Mateus 7.26-17).
Como sistema peculiar de moral que é, nossa Sublime Ordem provê aos seus
aprendizes um solo firme no qual possam apoiar suas ações para cumprir com êxito
a laboriosa tarefa da edificação. No início da Quarta Seção da Primeira Preleção, o
V.M. dialoga com os AAp. MM.:

V.M.: Onde repousam as nossas Lojas?


AP.M.: Em Solo Sagrado.
V.M.: Por que em Solo Sagrado?
AP.M.: Porque a primeira Loja foi consagrada.
V.M.: Por que foi consagrada?
AP.M.: Em razão de três grandes oferendas e que obtiveram a aprovação divina.
(Manual Ritualístico de Aprendiz - Ritual de Emulação.)

A instrução segue fazendo referência a três episódios distintos. Três relatos


registrados no Antigo Testamento que – ainda que separados pelo tempo em que
ocorrem – estão unidos em sua essência, a saber: a experiência humana com o Sa-
grado.
Embora o texto das instruções tome como modelo tais exemplos bíblicos, é im-
portante ressaltar nesse ponto que a experiência com o Sagrado perpassa a História
da Humanidade e está para além dos limites dessa ou daquela tradição religiosa.
Creio que a essência desses ensinamentos pode ser facilmente encontrada em mui-
tas histórias de muitas religiões. Portanto, me dedico aqui a extrair dessas alegorias
três fundamentos basilares sobre os quais, tal como nossos Antigos Irmãos, confio
serem “rochas seguras” onde alicerçamos nossa Grande Obra.
Quando relembram o momento em que Abraão é convidado a oferecer seu filho
único, Isaque, em sacrifício ao Eterno (Gênesis 22.7-13), nossos Irmãos ressaltam
seu gesto de confiante submissão ao Deus que lhe prometeu tudo prover. Ao desta-
car as preces e purificações realizadas pelo Rei Davi (1Crônicas 21.15-22), quando
diante das consequências trágicas de uma decisão tomada por ele, ali fica eviden-
ciado a contrição, sem a qual não é possível aplacar a ira divina. Por fim, quan-
do rememoram a inauguração do magnífico Templo dedicado ao Deus de Israel
(2Crônicas 5.1-6), o destaque fica por conta da abundante gratidão do Rei Salomão
por todos benefícios recebidos.

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