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Introdução História da África.

O imaginário que o povo brasileiro formou acerca da África e dos africanos, é


resultado de um processo de apropriação cultural repleta de preconceitos e
desconhecimento acerca do continente africano e as variadas etnias de seu vasto
território.

A partir de uma iconografia apresentada pelos livros didáticos, aprendemos via


desconhecimento, conhecemos a África e seus povos a partir de uma série de leituras
depreciativas, que pouco traço de realidade nos trazem, que pouquíssimo ou nenhum
comprometimento com a apresentação da cultura africana de fato e sua importância para
a humanidade e para o Brasil.

A ideia de selvageria do africano e o mito de que a África fosse um local


basicamente tribal com pouca cultura, seu vasto território com etnias distintas e culturas
igualmente é resumido em africano, como se um único povo habitasse o continente
diferindo somente os egípcios dos demais habitantes, visto que na visão branca povos
avançados como os egípcios não poderiam ser negros, assim como raramente se
apresenta Machado de Assis como um escritor negro.

A teoria do pouco conhecimento e organização, foi praticada em nossas escolas


(ainda é em muitas), a formação de um imaginário onde o papel do africano na
formação do Brasil foi basicamente a de força de trabalho e mão de obra doméstica é
um crime atroz contra os povos africanos, que não somente tiveram importante papel
em todas as atividades do período colonial, como introduziram avançadas técnicas que o
colonizador europeu desconhecia em Casa Grande & Senzala, temos um importante
estudo a respeito das variadas etnias que os colonizadores trouxeram para o Brasil, além
de sua superioridade em alguns aspectos tanto em relação ao branco quanto ao indígena
nativo, com relação a Freyre com as devidas ressalvas e não perdendo de vista a
importância de se debater algumas ideias do filosofo e cientista de forma crítica,
especialmente no que se refere a hierarquização das raças, ideia muito inspirada em um
período marcado pela eugenia. Entretanto Freyre nos deixou um importante relato a
respeito da importância dos africanos para a formação do país, importância essa que está

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muito além de terem sido unicamente força motriz da economia. Os africanos trazidos
para o Brasil, tinham conhecimentos milenares sobre mineração por exemplo, afirmação
que a própria documentação material sobre a cultura Nok corrobora, além da criação de
gado entre outros conhecimentos que se destacavam em relação ao colonizador branco,
que em sua maioria sequer conseguia fazer cálculos matemáticos básicos, necessitando
de auxílio para tal tarefa. Segundo Freyre (1975, p 299) “A verdade é que importaram
para o Brasil, negros maometanos de cultura superior não só à dos indígenas como à da
grande maioria dos colonos brancos – portugueses e filhos de portugueses quase sem
instrução nenhuma, analfabetos uns, semianalfabetos na maior parte. Gente que quando
tinha que escrever ou fazer uma conta era pela mão do padre-mestre ou pela cabeça do
caixeiro (...).

É importante salientar que Freyre está se referindo a cultura formal, não fazendo
juízo neste caso de qual cultura estaria em patamar superior.

Atualmente estudos sobre a África pré-colonial e sobre a participação africana


na formação do Brasil, começam a avançar mesmo que demasiadamente devagar, cabe
ao historiador sempre o questionamento, sobre a quem interessa e interessou durante
tantos anos a manutenção do mito de que os africanos trazidos para as américas eram
selvagens?

Assim como a historiografia que é ensinada nas escolas é em sua maioria


oriunda de uma visão branca e muitas vezes racista, as elites brasileiras também brancas
e racistas se apropriam de diversos discursos produzidos ao longo do século XX que
depreciam culturas não europeias, ou que sequer fazem referência as mesmas. Sendo
assim dentro dessa lógica, nossas crianças têm acesso a África via imagens de açoite, de
africanos escravizados, de descendentes de africanos pobres e que estão à margem da
cultura formal devido as políticas racistas que o país empregou ao longo dos anos,
dificultando o acesso à educação.

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Desertificação e migração

Cerca de dois mil antes de Cristo, a desertificação Saara se intensificou. Desta


forma, as populações que ali habitavam foram gradativamente se deslocando nas
direções do que hoje conhecemos como as margens do deserto, ou mantiveram-se em
áreas onde a agricultura resistia ao avanço natural da desertificação. Estas, entretanto,
não duraram muito; o clima e o uso indiscriminado da região (principalmente o corte de
árvores para lenha e o pastar de rebanhos preparados para o abate) acabou por torná-las
também inabitáveis. Com a diminuição dessas áreas, as únicas que permaneceram
razoavelmente habitadas foram as com um contínuo fluxo de águas, como, por exemplo,
os oásis.

O êxodo destas populações foi gradual, apenas sendo notado com o passar dos
séculos, e não foram feitas por todas as populações ao mesmo tempo. Quando o Saara
nada mais era que quilômetros sem fim de estepe árida, diversos grupos ainda não
haviam migrado e, com o passar do tempo, se viam cada vez mais obrigados a fazê-lo.
À medida que o ambiente mudava e, cada vez mais, a quantidade de água diminuía, os
lagos e rios desapareciam, e com eles os animais e as plantas. A pesca e a caça não eram
mais uma forma viável de viver a vida. Tampouco a agricultura. Desta forma, não havia
opção a não ser caminhar, para sul, norte, leste ou oeste, no desenrolar de gerações, a
procura de uma terra que lhes permitisse viver. Ao mesmo tempo, estas populações
tornavam-se mais receptíveis a novas técnicas, já que as antigas se demonstravam
falhas. Inovar seria a chave de sobrevivência nesses percursos.

Os saarianos que rumaram ao norte logo encontrariam os Berberes, que desciam


da costa mediterrânea, rumo ao deserto. Ambos os grupos acabaram por misturar-se
com o passar do tempo. Os que caminharam para o sul instalaram-se nas amplas
savanas que iam de onde hoje existe o Senegal até o que hoje é a República do Sudão.
Na curva do Rio Níger e no Lago Chade, especialmente, o cultivo e a abundância de
peixes devem ter sido um fator preponderante no crescimento populacional.

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Já que possuíam um ambiente favorável à sedentarizarão, é possível notar
populações que ali se instalaram, descendo o Níger e o Benué, mantendo-se em suas
margens ou não muito longe do curso de suas águas. Pequenas aldeias formaram-se em
toda a extensão do rio. Nelas, nota-se a habilidade de esculpir a pedra e barro, além do
utensílio da madeira. É possível então, pressupor, que possuíam o suficiente para o
surgimento inicial de organizações políticas.

O número de homens continuava a crescer. Muitas daquelas populações eram


oriundas das margens do Nilo, onde a terra fértil restringia-se às margens do rio. No
Níger, pelo contrário, o rio era cercado por campos arborizados por muitos quilômetros.
Desta forma, o assentamento de aldeias era significantemente mais simples e rápido.

Com o êxodo da região do Saara, estas populações tiveram contato umas com as
outras em diversos momentos. Desta forma, foi possível a troca de habilidades, mesmo
que não a sua aplicação naquelas terras áridas. No Níger, porém as que sobreviveram
podiam ser aplicadas. Via-se que os homens assentados nas savanas possuíam bagagens
tanto de culturas aquáticas quanto pastoris. Apesar de constituírem grupo étnicos
bastante distintos, por virem de lugares extremamente diferentes no continente, estas
populações possuíam, em sua maioria, algumas características em comum,
provavelmente pela área em que conviviam. Devido à questão climática da região e da
organização política que possuíam, em geral possuíam uma economia baseada na
subsistência, com plantação e pastoreio como maior atividade alimentícia. Sua
organização política era, naquele momento, embrionária; grupos de famílias ou clãs que
protegiam seu território, população e cultura. Entretanto, estas culturas não eram
totalmente fechadas entre si, havendo registros de uma maior abertura para outros
grupos, dependendo da necessidade. Aperfeiçoaram o cultivo e a domesticação de
novas técnicas agrícolas e agropecuárias. Utensílios e a construção de casas foram
melhorados ao passo que as sociedades deixaram de usar a cerâmica para cozer barro. E
por muito tempo continuaram a utilizar o barro cozido; os primeiros registros do uso do
ferro datam de aproximadamente 600 a.C.

Estes grupos são de extrema importância para a formação dos futuros reinos que
se formaram no continente africano no decorrer de milênios, cujas raízes se mostram
presentes até os dias de hoje. A intensificação da desertificação do Saara se mostrou
fundamental para que estas populações se deslocassem de seus locais de origem e
habitassem novas regiões do continente.
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O Saara já havia feito com que populações se deslocassem antes. Estudos
sugerem que, há cerca de dez mil anos, uma mudança no eixo de rotação do planeta
gerou uma grande alteração climática que viria a formar o deserto. A formação deste fez
com que populações que já haviam desenvolvido formas de vida sedentárias, baseadas
na agricultura e pastoreio, a se deslocarem para o leito do Rio Nilo. Algumas destas
populações, portanto, viriam a constituir o Império Egípcio.

É possível notar, desta forma, que as populações africanas são extremamente


antigas e com uma rica história e cultura. Suas influências permanecem gravadas na
cultura mundial. Estas populações, que se deslocaram e reestabeleceram-se diversas
vezes no decorrer dos séculos, vieram a formar aglomerados, tribos, civilizações e
impérios. Entre eles, a civilização conhecida como Nok, que se desenvolveu na curva do
Níger, atual Nigéria, descendente destes homens que migraram do norte do continente e
que, com a necessidade e contato, aprenderam novas habilidades que lhes permitiram
sobreviver e dominar artes que outros povos do planeta levariam séculos apenas para
descobrir.

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África Antiga, o clima e os fluxos migratórios.

Com o a elevação das as temperaturas mundiais, e o nível do mar atingir a altura


de hoje, gerou fatores climáticos que, ocasionaram no dessecamento do Saara do Norte,
suas reservas aquáticas e vegetais foram suficientes para adiar o dessecamento final, que
acabou ocorrendo por volta de 3000 Ac. Quando a aridez se tornou intensa as
populações não tinham condições de viver no Saara, ocorreram migrações
populacionais para as regiões mais ao Sul.

Os saarianos que iam para direção Sul instalavam-se nas savanas sudanesas,
alguns contingentes populacionais começaram a descer o Rio Niger e Bonué e viver em
suas margens, com o tempo formaram-se aldeias com roçado e criação de gado, nelas já
se polia pedra, barro e o trabalho em madeira.

‘’No planalto de Jos e ao norte do mesmo, nas colinas de Lirue, descobriram-se


séries importantes de um material caracterizado por talões facetados, que foram
classificadas como pertencentes à Middle Stone Age; em Nok, essas séries estão em
estratigrafia entre os cascalhos de base contendo utensílios acheulenses e os depósitos.
mais recentes, que apresentam elementos da cultura Nok. Sem relação com o complexo
industrial lupembiense, tais séries teriam mais pontos em comum com as indústrias do
Paleolítico Médio do norte da África, do tipo geral “musteriense”, e provavelmente
refletem um modo de vida mais adaptado à savana.’’ (HISTÓRIA GERAL DA
ÁFRICA • I Metodologia e pré-história da África UNESCO J. Ki-Zerbo cap.Pré
-História do vale do Nilo.)

Com o crescimento do número de homens houve a necessidade da expansão dos


excedentes populacionais para os abundantes e férteis terrenos, que estavam em todas as
direções. E os excedentes foram se espalhando e multiplicando nos terrenos afora e

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formando novos grupos agrícolas. No Niger possuía amplos campos abertos que
facilitava a difusão humana e fragmentação dessas comunidades.

Aos poucos os homens que viviam ao sul foram somando da bagagem trazida
da indústria aquática pastoril, obtiveram aperfeiçoamento do cultivo da terra,
melhoraram seus utensílios de trabalho, e evoluíram sua cerâmica produzindo uma
técnica complexa obtida a alta temperatura, e cinco ou seis séculos antes de nossa era já
lidavam com o ferro e minério.

‘’A produção de alimentos era bastante para permitir razoável divisão do


trabalho e o surgimento embrionário de organizações políticas.’’

(A Enxada e a Lança - a África Antes Dos Portugueses - 5ª Ed 2011 cap.5 Nok)

Apesar das grandes discussões acerca do início da Idade do Ferro para essas
tribos e aldeias, a incorporação do ferro remonta a metade do primeiro milénio antes de
Cristo. A cultura Nok usava o ferro ferro para produção de utensílios como lâminas,
pontas para lanças, flechas, argolas para braços, pulsos e tornozeleiras. Pesquisadores
acreditam que a sociedade Nok tenha recebido de Méroe o uso do ferro, que teria
chegados pelas rotas que iam do Nilo até o lago Chade ou até a grande curva do Níger.
Contudo uma segunda vertente contesta com o fato de que a fundição de ferro mais
frequente em Méroe começa a partir dos séculos IV a.C., sendo então contemporâneo ao
início da metalurgia da sociedade Nok. Sendo impossível a difusão de uma técnica em
tão curto espaço de tempo pelas savanas e estepes, do Nilo até o Planalto de Jós.

Nós depósitos achados da cultura Nok localizaram-se também objetos feitos em


pedra como machados, o que se levou a errada impressão de que se estava debruçado
diante de uma cultura que sofria a transição entre o neolítico e a Idade do ferro. Porém
também pode ser considerada uma forma de arcaísmo certas formas de trabalho em
pedra em era dos metais como também foram encontradas escavações com vestígios
onde o uso do ferro não se mistura com utensílios de pedra.

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É importante mencionar que tais povos contavam um fator natural favorável: a
abundância de minério de ferro a céu aberto, minério encontrado no solo lateríticos da
região, com grande concentração de hidróxidos de ferro e alumínio, minério que não
necessitas de altíssimas temperaturas para fundir-se, trabalho que poderiam ser feitos
em fossas semelhantes às de cozimento de cerâmica, talvez tal fator natural tenha
contribuído para que tais povos tenham sido dominadas mesmo sem conhecimento
prévio de técnicas metalúrgicas mais simples como o cobre o Bronze.

[...]

‘’ Não se trata apenas da importação de, mas também do conhecimento da técnica de


transformação do metal, difícil de considerar como uma invenção autônoma, já que na
época não se conhecia nada sobre metalurgia. Em Taruga, na Nigéria central, estudou-se
um certo número de sítios de fundição de ferro; o radiocarbono indica datas que vão do
século V ao III antes da Era Cristã. As escavações feitas nos outeiros habitados do vale
do Níger também indicam a presença do ferro aproximadamente no século II antes da
Era Cristã. Parece quase certo que o conhecimento da técnica da metalurgia do ferro
tenha chegado à África ocidental vinda não de Meroé, como foi sugerido com
frequência, mas da região da África do norte então submetida à influência de Cartago’’
(HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA • I Metodologia e pré-história da África UNESCO J.
Ki-Zerbo cap.Descoberta e difusão dos metais e desenvolvimento dos sistemas sociais
até o século V antes da Era Cristã J. Vercoutter)

Localizado em Niger atual Nigéria a Civilização Nok apareceu entre 500 a.c. e
200 a.c. Apesar de ter esse nome, que só foi dado pelas esculturas terem sido
encontradas em um vilarejo chamado Nok, não sabemos o real nome da civilização.

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Há algumas teorias de como essa sociedade nasceu no oeste do território africano uma
delas esta no livro a seguir. O livro A Enxada e a Lança do autor Alberto da Costa e
Silva há a teoria de que com o ressecamento do deserto do Saara algumas populações
teriam se deslocado constantemente por conta do degaste do solo para pastagem, agua e
agricultura. Com esse deslocamento os viajantes tornavam-se cada vez mais habilidoso
em técnicas modernas de agricultura. Conforme as viagens constantes encontros com
outras culturas eram recorrente, e em um desses os saarianos se chocaram com os
Berberes e com isso os dois grupos acabaram por semear uma nova população.
População essa que se entranhou em Niger.

Os Noks eram especialistas na arte de configurar instrumentos de ferro como, facas,


pontas de lanças braceletes e etc, além de serem uma comunidade com técnicas
habilidosa de pasto, caça e etc como podemos ver na citação a seguir: “Nelas, polia-se
com habilidade a pedra, moldava-se e cozia-se o barro e provavelmente se esculpia a
madeira [...] Aperfeiçoaram o cultivo da terra e domesticaram novos vegetais.
Melhoraram os utensílios de trabalho. Tornaram mais sólidas as casas. A cerâmica
evoluiu e se enriqueceu até chegar à escultura em barro cozido. E, uns cinco ou seis
séculos antes de nossa era, o ferro começou a incorporar-se aos materiais com que
lidavam. ” (Alberto da Costa e Silva). O autor Gamal Mokhtar complementa dizendo
“Apesar de conhecerem a metalurgia de ferro, as populações de Nok ainda continuavam

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a usar utensílios de pedra nas atividades em que os consideravam mais eficientes. Entre
esses artefatos incluem-se mós. seixos trabalhados e machados talhados ou polidos.”

Apesar de terem sido uma das sociedades mais inteligentes em questão de tradição
artística pouco se sabe sobre a civilização norte africana que teve seu declínio por volta
de 200 A. C. Há muitas hipóteses de como o seu fim chegou algumas delas são a fome,
mudanças climáticas e sujeição aos recursos naturais.

O fato de haver muitos poucos trabalhos dificulta sabermos mais sobre essa cultura,
além de que o pouco que sabemos não é compartilhado nas escolas, por mais que tenha
uma Lei que faz com que o ensino da história africana tem que existir nas salas de aula.
Essa inexistência ou fragilidade quando o assunto é afrocentrismo faz com que
esqueçamos do nosso passado rico e influente com as outras culturas. A Sociedade Nok
nos deixou um grande legado que não nos é dito e por consequência pode ser esquecido.
“Encontram-se tantos traços da cultura Nok, principalmente de sua arte, nas culturas
posteriores de outros lugares da África ocidental que é difícil de deixar de acreditar que,
tal como a conhecemos, essa cultura representa o tronco ancestral do qual deriva o
essencial das tradições esculturais dessa parte da África.” (WILLETT.1967)

“Até agora, a mais conhecida das sociedades da Idade de Ferro Antiga é talvez a de
Nok, que parece ter sido uma das mais antigas e influentes.” (MOKHTAR. 2010)

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Arquelogia Nok

Os primeiros fragmentos da cultura Nok foram encontrados em 1928 em


uma mina na vila de Nok na Nigéria. Os mineradores encontraram cabeças humanas e
de animais feitas de terracota que foram armazenados no museu no planalto de Jos sem
muita importância.

Figura 1: Sitio arqueológico em Nok

Fonte: curionautas.com.br

Em 1932 foram encontradas mais de 11 estatuetas que passaram


despercebidas. Esses artefatos matérias só ficaram conhecidos a partir de 1943 quando o
gerente de uma mina viu uma das cabeças de terracota no corpo de um espantalho em
um campo de plantação de inhame e levou o artefato até o planalto de Jos onde o
arqueólogo inglês Bernard Fagg estava trabalhando.

O arqueólogo percebendo a importância dos achados se dedicou em


comprar todos os artefatos materiais encontrados anteriormente por moradores da região
e em 1945 estabeleceu pesquisas arqueológicas na região para encontrar novos artefatos,
assim conseguindo totalizar 200 peças de terracota.

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Figura 2 : Sitio arqueológico em Nok

Fonte: curionautas.com.br

Através de análises do solo e das esculturas com a técnica de radiocarbono


foi possível descobri que as peças eram de 5000 a.c, dessa forma essa civilização seria a
mais antiga encontrada no território africano. Atualmente Angella Fagg continua as
pesquisas e escavações no território.

Essas peças chegam a Europa no inicio do século xx e tiveram sua primeira


exposição no museu Liebieghaus na Alemanha.

Figura 3: Primeira exposição da arte Nok

Fonte: liebieghaus.de/en

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Arte Nok.

As esculturas de terracota eram compostas por barro, cerâmica, bronze e


ferro fundido. O principal artefato produzido pela cultura Nok foi encontrado em 1942.
A cabeça de Jemaa consegue demonstra as principais características da arte dessa
sociedade.

Figura 1: Cabeça de Jemaa

Fonte: Armariumlibri.blogspot.com

Em suas características as peças têm grandes variedades geométricas já


foram encontrados artefatos com cabeças triangulares, cilíndricas, quadradas e diversos
outros formatos.

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Figura 2: Estatueta Nok

Fonte: Arquivosdoinsolito.blogspot.com

Segundo a professora de história antiga da USP, Marta Leuba Salum, A arte


africana busca uma síntese do objeto ou do tema construído materialmente, plena de
objetivo, inspiração e conteúdo.

Nessa passagem da professora fica explicito que arte africana e direta e tem
como foco passar completamente a mensagem do artista sem abrir espaços para
diferentes interpretações.

Essa civilização tinha preferência por representações humanas, porém não


as reproduziam fielmente, porém alguns historiadores acreditam que não era falta de
habilidade, mas sim medo de ficarem expostos a algum tipo de maldição. Já os animais
eram retratados fielmente nesses artefatos materiais.

Além disso as estatuetas eram marcadas por traços fortes, segundo alguns
especialistas eles retratavam a sociedade em que estavam inseridos. Não se sabe com
precisão para que eram usadas essas estatuetas alguns historiadores acreditam que
deveriam ser usadas em diferentes rituais religiosos.

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Quando as estatuetas da cultura nok chegaram na Europa somente no inicio
do século xx o que para muitos era arte primitiva teve grande importância para
expressando uma grande libertação para alguns artistas e influenciou grandes nomes
como Pablo Picasso.

Figura 3: Inspiração para Picasso

Fonte: Arquivosdoinsolito.blogspot.com

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Conclusão

Tendo em vista a dificuldade criada ao longo dos séculos para o ensino da África
nas escolas de educação básica compreendermos a cultura material das sociedades
africanas, a questão que se impõe é a imagem que até hoje perdura da África, como se
até sua "descoberta", fosse esse continente perdido na obscuridade dos primórdios da
civilização, em plena barbárie, numa luta entre Homem e Natureza.

A história dos povos africanos é a mesma de toda humanidade ela é busca pela
sobrevivência material, mas também espiritual, intelectual e artística, porém tal história
ficou à margem da compreensão nas bases do pensamento ocidental, como se a África
estivesse em uma linearidade paralela ao mundo ocidental, a Europa propriamente dita.

A arte africana, seus mitos, sua arquitetura, sua vasta e múltipla cultura oriunda
de uma grande diversidades étnica é relegada a escanteio, como sendo mera coadjuvante
da história da humanidade.

Precisamente sobre a os achados da chamada cultura Nok, que se referem a uma


civilização da antiguidade que existiu no Norte do que atualmente chamamos de Nigéria
no século V a.c com evoluído domínio da metalurgia e com bela estética que chegou até
nossos dias através das estatuas de terracota e demais artefatos. Desenvolvida ao longo
da Idade do Ferro 500 d.C. e 200 d.C. a civilização Nok foi sucedida pela Iorubá por
razões que os pesquisadores desconhecem.

A cultura Nok é uma das mais cobiçadas no mercado ilegal de arte africana,
meus de Nova Iorque e da Europa possuem enormes coleções da arte milenar que tanto
tem a nos falar sobre as origens do homem e tão pouco foi pesquisado ainda.

Concluindo o nosso trabalho, salientamos a importância da cultura Nok na


formação cultural brasileira, uma vez que ao longo dos séculos a cultura Nok se
transforma no que hoje conhecemos como cultura Iorubá ou Nagô, que chegou ao Brasil
com os africanos que para cá foram trazidos ao serem sequestrados de sua terra natal.

O candomblé, diversas formas linguísticas, lendas e mitos são oriundos desses


homens e mulheres que sequestrados de sua pátria acabaram por trazer consigo suas
manifestações culturais e religiosas para o Novo Mundo.

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É importante que a nova geração possa ter acesso a vasta cultura africana, ao sua
mitologia que assim como a grega ou romana possui um rico panteão de deuses e
deusas, é importante que as crianças que tem como fé as religiões de matriz africana
como o candomblé oriundo da cultura Iorubá, tenham conhecimento de sua origem, das
origens de sua fé e da importância do culto aos seus antepassados tão presente nas
religiões de matrizes africanas, é importante que os cientistas, escritores, médicos e
diversos doutores negros que fazem parte da formação cultural do Brasil, lotem os livros
didáticos é importante que nossos jovens enxerguem em Machado de Assis um homem
negro que nos deixou de legado sua literatura, que enxergue em Milton Santos um dos
maiores geógrafos do mundo um espelho, saibam que ao cruzar o famoso túnel da
capital carioca André Rebouças, saibam que seu idealizador era um engenheiro negro.

Percebemos que mais importante que apresentar um trabalho sobre a África


Antiga é lançar luz ao passado e aos feitos desses diversos povos do continente para que
partindo desse passado se lance uma luz para o futuro para que a inviabilidade da
cultura africana e sua importância, estas de fato fiquem no passado sem necessidade de
releitura.

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Bibliografia

Brasil. Decreto n 10.639, 9 de janeiro de 2003. O ensino da História e Cultura Afro-


BrasileiraeAfricana, Brasília,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.html. Acesso em: 12 mar. 2018

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Frankfurt am Main, 2014

CARVAJAL – Guillermo - Misteriosa civilizacion africana Nok, los primeiros


constructores de figura de terracota em tamaño natural – 2016. Disponível em:
https://www.labrujulaverde.com/2016/07/la-misteriosa-civiizacion-africana-nok-los-
primeros-constructores-de-figuras-de-terracota-de-tamano-natural. Acesso em: 21
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LEUBA Salum - Maria Heloisa – Por dentro e ao redor da arte africana – 2004.
Disponível em:
http://www.arteafricana.usp.br/codigos/textos_didaticos/001/por_dentro_e_ao_redor.ht
ml . Acesso em: 20 jan.2018.

MOKHTAR, Gamal. História Geral da África, v.II África Antiga. Paris: Unesco 2010

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http://www.curionautas.com.br/2014/09/nok-misteriosas-esculturas-pre.html?m=1 .
Acesso em: 20 jan.2018

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SILVA, Alberto da Costa. A Enxada e a Lança, A África antes dos portugueses. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2009

WILLETT, F. 1967. Ife in the History of West African Sculpture. London, Thames &
Hudson.

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