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A LÓGICA do ABISMO

ANALISE de CONJUNTURA – GEPOPS*

1) A pandemia tem crescido e se espalhado pelo interior do país, o número


de mortos já passa de 80 mil (sem contar a subnotificação que multiplica esse
quadro por 7, ou seja, os casos de mortos está na casa dos 560 mil e os
contaminados na casa de 14 milhões— segundo projeções do Adolpho
Lutz/USP e FIOCRUZ), trata-se de um verdadeiro genocídio.

2) Uma das características dessa mortandade é a mudança do


comportamento nacional sobre a pandemia; enquanto essa esteve entre as
classes burguesas e classes médias influentes as denúncias eram constantes
e o desgaste do governo Bolsonaro real.

3) Como ela se deslocou paras as camadas médias — baixas, para o


proletariado e os setores pobres, as denúncias tornaram-se vazias e nem os
governos opositores liberais e de esquerda, nem as Centrais Sindicais e os
Partidos de oposição: de esquerdas ou populares, têm feito esforço real de
combate a pandemia.

4) As análises políticas desses partidos seguem centradas nas eleições e


nas possibilidades de bloquear as ações de desmontes de setores estratégicos
à grupos econômicos poderosos brasileiros e a setores remediados da
população. As classes populares estão no abandono de seu próprio – histórico
– destino.

5) Duas tendências se mostram firmes na conjuntura nacional e mundial: 1)


o crescimento das ações da bolsa no mundo e no Brasil, levam a uma imensa
liquidez de capitais e empresas. Essa tendência se expressa pela injeção de
capitais promovida pelos bancos centrais às grandes corporações econômicas.
As principais empresas beneficiadas são as de telemática e os conglomerados
químico-farmacêuticos. Salienta-se que esse crescimento de capitais — não
apresenta inflação —; ao contrário, temos um cenário de deflação e queda
acentuada de crescimento dos países, o que nos leva a crer que trata-se de
uma manifestação de capitais fictícios que estão ampliando a bolha econômica
e apontam para o aprofundamento da crise econômica e política. 2) na outra
ponta dessa realidade, encontra-se o assustador crescimento do desemprego e
a destruição de postos de trabalho, só no Brasil foram 8 milhões de novos
desempregados de março até junho, postos de trabalhos tendem a não mais a
existir após a pandemia. Nesse aspecto toma forma o trabalho remoto que se
apresenta de maneira assustadora, citamos como exemplo especial a
educação pública e particular, onde classes de aulas que antes eram de 30 ou
40 alunos passaram a um número bem superior a 150, o que nos lembra Marx :

A produção capitalista não é apenas produção de


mercadorias, mas essencialmente produção de mais-valor
[...]. Só é produtivo o trabalhador que produz mais-valor
para o capitalista ou serve à autovalorização do capital.
Se nos for permitido escolher um exemplo fora da esfera
da produção material, diremos que um mestre-escola é
um trabalhador produtivo se não se limita a trabalhar com
a cabeça das crianças, mas exige de si mesmo até o
esgotamento, a fim de enriquecer o patrão. Que este
último tenha investido seu capital numa fábrica de ensino,
em vez de numa fábrica de salsichas, é algo que não
altera em nada a relação. Assim, o conceito de
trabalhador produtivo não implica de modo nenhum
apenas uma relação entre atividade e efeito útil, entre
trabalhador e produto do trabalho, mas também uma
relação de produção especificamente social, surgida
historicamente e que cola no trabalhador o rótulo de meio
direto de valorização do capital. Ser trabalhador produtivo
não é, portanto, uma sorte, mas um azar. (K. Marx - O
Capital, livro 1. Cap. XIV, p 577/8)

6) Mas essa tendência não está restrita a educação, ela mostra-se ativa em
vários ramos da economia. Os estudos do IBGE mostravam que em abril/maio
apenas 17% das classes trabalhadoras não tinham perdidos direitos na
pandemia, (este número reduziu quase a metade), hoje apenas 9% das classes
trabalhadoras mantém— em nível nacional—, seus direitos, sendo que de maio
para cá, o setor de entregas e de telemáticas estão entre os que mais
perderam direitos. Hoje, para conseguir ser aceito como entregador (bico) num
aplicativo, o tempo de espera é superior a 90 dias. Segundo – sempre aos
dados empíricos do IBGE — O desemprego já é maior que o setor empregado
com carteira assinada e a tendência não apresenta panorama de mudança, a
curto prazo, já que as medidas tomadas pelo governo Bolsonaro apontam
para uma maior desregulamentação do trabalho e dos direitos, basta observar
as medidas como demissão e contratação com salário menor, legalização do
trabalho intermitente entre outras pautas.

7) Os setores da pequena burguesia e da burguesia ligados ao capital


circulatório estão passando por imensas dificuldades, pois o aporte financeiro
só alcançou cerca de 25% das pequenas e médias empresas e a abertura do
comércio não tem expressado melhorias econômicas, pois o consumidor de
baixa renda está ausente depreciando, concentrando renda e encolhendo
muito o mercado interno. De março a junho foram fechadas mais de 577 mil
micro e pequenas empresas. Ao mesmo tempo, as propostas de (contra)
reforma tributária apresentada pelo ministro Guedes aumenta a tributação dos
setores do proletariado remediado e dos setores médios da população. Trata-
se de um verdadeiro encolhimento das classes médias brasileiras. Enquanto há
um encolhimento da receita do Estado em mais de 10% e uma concentração
de renda assustadora nos grupos privilegiados.

8) Além disso tudo, os dados, e os estudos, apontam para um imenso


crescimento da pobreza e miserabilidade e a conseqüente fome a multidões,
em especial, quando terminar a PEC da ajuda emergencial !

OPOSIÇÃO em FRAGMENTOS

9) Se essas medidas de austeridade são postas em práticas desenha-se


ainda de forma desorganizada e com um comando ainda instáveis novas
formas de luta das classes trabalhadoras.
10) Os trabalhadores de telemarketing e de aplicativos estão realizando
diversas manifestações com uma pauta centrada em seu reconhecimento
como trabalhadores e reivindicam, com isso, direitos tais quais: aposentadoria,
férias e décimo terceiro. As primeiras manifestações mostraram capacidade de
crescimento e atraiu apoio de amplos setores da sociedade. Ainda não estão
definidas as formas de organização desses setores e estão realizando sua
experiência de organização e consciência, mostram-se arredios a política, a
partidos, a sindicatos, ou seja, estão imersos ainda na visão liberal e também,
expressam o ceticismos que muitos trabalhadores manifestam também pelo
distanciamento e privilégios que dirigentes partidários e sindicais realizam
frente a seus pares.

11) Pode se ver isso com clareza nas manifestações das torcidas
uniformizadas, muito ligadas as periferias das grandes cidades que deixaram
de se manifestar nas ruas após suas reuniões ficarem lotadas de setores dos
partidos tradicionais e de setores de classe média especialmente dos
movimentos estudantis de esquerda.

12) Os sindicatos, as centrais trabalhistas e os partidos populares só


conseguirão se aproximar desse jovem proletariado se estender sua
organização a eles, e ao mesmo tempo, manifestarem atitudes concretas como
a criação de cooperativas que combatam o desemprego, criação de aplicativos
alternativos, exigência de regulamentação do trabalho de apps urbanos, etc.

13) Os lobbys trabalhistas tradicionais têm conseguido lograr pequenas


vitórias, especialmente os trabalhadores de transporte urbano, petroleiros e
funcionalismo públicos, mas são insuficientes para reverter o quadro político e
social.

14) A mesma coisa tem acontecido por parte de movimentos de


trabalhadores sem terra, que tem conseguido angariar pequenos feitos. O MST
tem sido responsável pelo esforço de proteção ambiental, denúncias dos
constantes desmatamento e massacres as populações indígenas, quilombolas,
ribeirinhos, caiçaras etc. No entanto, o movimento metabólico do capital reduz
cada vez mais o espaço do campo à área de agronegócio e o peso do
movimento vem sendo reduzido ano a ano, o que dificulta a criação de uma
alternativa no campo frente ao capitalismo neoliberal.

15) Ao contrário do campo, a resistência nas cidades manifesta-se frente à


concentração de renda e de terras nas mãos de poucos proprietários, isso tem
criado uma massa imensa de sem tetos que habitam as periferias, gerando um
grande número de ocupações e de movimentos de sem teto, com destaque
nacional ao MTST. De igual sorte, esses movimentos são expressões de uma
nova divisão social da cidade com a construção de áreas integradas e áreas
partidas. Nas áreas integradas e ligadas ao capital financeirizados observamos
as estruturas modernas, com teia de equipamentos públicos e privados e
contando sempre com um amplo aparato de segurança que contrasta com as
áreas degradas onde a estrutura é feita por auto ajuda, mutirões e com os
poderes públicos ausentes, deixando esses espaços cada vez maiores as
mãos de grupos econômicos ligados as formas de acumulação ilícita como
narcotráfico, contrabando, roubo, milícias e a parte corrupta do aparato
armado do Estado. O fato é que o crescimento dessas áreas tem determinado
o crescimento desses grupos de poder que já alcançam fatias significativas da
economia e já ganham expressões políticas com forte representação dentro do
Estado e das forças de segurança, como é possível observar na composição
do condomínio de poder do governo Bolsonaro.

POLITICA

16) Passado o pior da pandemia junto as classes dominantes, Bolsonaro


passa a recuperar espaços junto as classes médias e ricas que se
desinteressaram da pandemia e da política: ameaça inclusive reciclar sua
base abocanhando parte da base lulista que depende de programas
assistenciais do Estado. Avaliamos que por hora, sai enfraquecido em seus
planos de constituir um governo ditatorial, de forma aberta através de um auto-
golpe; fortaleceu sua base com o setor fisiológico da política o que de um lado,
o afasta das tentativas golpistas, por outro, o fortalece e brinda de uma
possibilidade de impeachment.

17) A oposição liberal, com FHC, o PSDB e DEM à frente, apresenta a


necessidade de isolar Bolsonaro; desgastá-lo, mas não tirá-lo do governo, pois
o ônus de todo o desmonte do parco estado social brasileiro poderá ser
creditado a este. Ao mesmo tempo, mantém forte apoio a lógica privatista e anti
mundo do trabalho, na política desenhada por Paulo Guedes. No cálculo
liberal, é possível desmontar o esforço golpista de Bolsonaro através da ação
do STF/Congresso e realizar as contrarreformas e assim viabilizar o retorno da
coligação ao Planalto. Entretanto os escândalos e as investigações envolvendo
figuras importantes do tucanato devem cortar as principais lideranças nacionais
do PSDB, podendo chegar ao atual governador João Dória. O Nome
prestigiado nesse momento, é o do ex ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, representante do DEM/MS, que já sinalizou pretender candidatar-se
à presidência ou vice em 2022.

18) Se na oposição liberal temos esses tremores, o cenário na esquerda e


centro esquerda é mais complexo. O PT prossegue sendo o principal partido,
mas teve quase todos seus líderes condenados no questionável processo
lavajato. O desgaste da sigla junto ao eleitorado é alto, alcança uma rejeição
de 35% e segue sendo questionado pela ascensão do PDT de Ciro Gomes e
pelo crescimento do PSOL junto a setores identitários, deve-se salientar que
em São Paulo, que setores ligados ao proletário MTST tem expressão política
distinta do restante da sigla. A Rede tem muita dificuldade de esboçar um
projeto nacional e limita-se a um ecocapitalismo e o PSB está com dificuldade
de apresentar um perfil claro e definido a sociedade. O PCdoB tem um forte
nome, o do Governador Flávio Dino, mas uma pequena parcela de votos e
pode inclusive realizar uma fusão com o PSB para continuarem existindo como
sigla eleitoral. Todo esse debate apresenta se no cenário municipal. Pelo visto
nas principais capitais nacionais as legendas de esquerda e centro esquerda
seguem divididas facilitando ou a vitória de aliados de Bolsonaro, o que daria
base local à extrema direita ou o fortalecimento da oposição liberal .

19) O cenário exige duas medidas objetivas: a primeira que tem sido
encaminhada através do Congresso é de manter um acordo com os liberais,
através de uma Frente Ampla garantido assim o parco Estado de Direito e de
liberdades democráticas. O segundo, seria conseguir construir um plano
mínimo de acordo entre os partidos de centro esquerda e esquerda que
viabilizassem uma Frente de Esquerda com chapas comuns nos principais
municípios brasileiros o que daria conformidade e robustez a oposição à
Bolsonaro, isso mostra-se com muita dificuldade de prosperar, patriotismo de
sigla, sectarismo entre legendas etc.

20) Mantendo esse cenário, será difícil derrotar Jair Bolsonaro nas eleições
em 2022 .

Julho/2020

*Equipe do GEPOPS (grupo de Estudos e Pesquisas em Ontologia do


Pensamento Social)

 John Kennedy Ferreira (Prof de Sociologia/UFMA), Lierbth Rodrigues Pereira


(Graduando em Filosofia/UFMA), , Mikael Kenaz Silva Araújo (Graduando em
Sociologia/UFMA)  e Raimundo Campos (Doutorando em História/UFF),
Viviane Almeida (Graduanda em Economia /UFMA), Wenderson Carlos
(Graduando em https://www.noticiasaominuto.com.br/economia/1571128/fluxo-de-
clientes-tem-queda-de-75-em-shoppings-e-48-em-lojas-de-rua?
utm_source=notification&utm_medium=push&utm_campaign=1571128 Filosofia/UFMA)

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