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Tópicos de Matemática Financeira - para Aplicação em Gestão de Energia

Vladimiro Miranda
Professor Catedrático do DEEC, FEUP
Investigador do INESC Porto

Versão 2.1 − Março 2006 (vs. 2.0 – Junho 2005; 1.0 – Março 2004)
Este texto foi preparado para apoio aos cursos de Gestão de Energia do DEEC da FEUP.

1. INTRODUÇÃO
Uma das actividades essenciais do Gestor de Energia é a avaliação de alternativas de investimento para obter,
como contrapartida, ganhos em matéria de consumos de energia.
Isto corresponde à necessidade de equacionar economicamente cenários em que coexistem investimentos
pontuais (realizados numa data específica) com rendimentos periódicos estendidos por periodos mais ou menos
dilatados de tempo.
Este texto corresponde a uma introdução simples aos cálculos do valor económico comparativo de soluções, que
permita ao Gestor de Energia poder comparar alternativas numa base económica.

2. JUROS
O juro corresponde ao que se paga pelo direito de usar o capital de outrém (ou que se recebe como compensação
de ceder o nosso capital para uso de outrém).
O conceito de juro está associado ao de rendimento do capital. Com efeito, nos factores de produção da
economia moderna, podemos distinguir capital, trabalho e matérias primas. Cada um destes factores, pelo seu
uso, deve receber uma compensação - pelo uso do trabalho, paga-se salário; pelo uso das matérias primas, paga-
se o seu custo. Pelo uso do capital, paga-se então um juro.
Um juro é em geral calculado como uma percentagem do capital. A taxa que se aplica ao capital para determinar
o juro denomina-se taxa de juro, e em geral representa-se pela letra i.

2.1. Juro simples


Em geral, pelo direito do uso de um capital (vulgo, um empréstimo) é devida uma prestação periódica de juros,
sendo o período mais comum o ano.
Chama-se juro simples ao juro que resulta da adição simples de n prestações periódicas calculadas como uma
percentagem do capital inicial. Dessa forma, dado um capital inicial C0, o juro J resultante da aplicação de uma
taxa anual i, durante n anos, é
J simples = niC 0

2.2. Juro composto


Habitualmente, o juro devido anualmente é somado ao capital inicial, incrementando o capital em dívida e
passando a contar para o cálculo do juro dos períodos seguintes. Nesse caso, não se fala de juro simples mas sim
de juros compostos.
Vejamos o que acontece a partir de um capital inicial C0 que vence juro anual à taxa i. Ao fim do primeiro ano,
ao capital inicial em dívida adiciona-se o juro vencido, que passa a constituir dívida também. Nos anos
sucessivos, o processo repete-se:
C1 = C 0 + iC 0 = C 0 (1 + i)

C 2 = C1 + iC1 = C1 (1 + i) = C 0 (1 + i) 2

1
C 3 = C 2 + iC 2 = C 2 (1 + i) = C 0 (1 + i) 3
E, em geral,
C n = C n −1 (1 + i)
Facilmente se vê que um capital C0 em dívida, com juros compostos, equivale no ano n a um capital Cn que se
calcula por

C n = C 0 (1 + i) n
Cn é o valor devido no ano n por um capital que se usa no ano 0 (agora) e que está sujeito a juro composto à taxa
anual i – ou seja, quando não há pagamentos intermédios (amortizações parcelares) do capital.
Esta fórmula é importante, porque estabelece uma equivalência entre capitais em tempos distintos. Ou seja, se
pudermos esperar n anos, tanto faz possuir agora C0 como possuir Cn no ano n. Qual a lógica disso? Bom, é que
se tivermos agora C0, poderemos imaginar a sua aplicação com rendimento à taxa i e, quando chegar o ano n,
temos exactamente o capital Cn.
Por esta razão, à expressão acima se dá habitualmente um outro aspecto, que permite calcular a actualização de
um capital considerado no ano n:
Cn
C0 =
(1 + i) n
A aplicação desta fórmula permite reduzir para uma mesma data capitais referidos a anos diferentes. Isto é útil
no caso de comparação de diferentes planos de investimento com prestações de capital em datas distintas.

3. RENDAS
Uma renda R é uma prestação periódica de valor nominal constante. O pagamento de uma renda ao longo de n
anos também permite acumular capital e a questão coloca-se: vale mais a pena deter um capital C0 e acumular
juros (compostos) ou recebe uma renda R periódica?
Vejamos como se processa a acumulação de capital no caso de uma renda R. Ao fim do primeiro ano, recebe-se
a renda R; ao fim do segundo ano, recebe-se nova renda R e acumulam-se juros da primeira, e assim
sucessivamente. Portanto
C1 = R

C 2 = R + R (1 + i)

C 3 = R + (R + R (1 + i))(1 + i) = R + R (1 + i) + R (1 + i) 2
Por esta progressão, é fácil de ver que, no ano n, se acumula um capital

C n = R + R (1 + i) + R (1 + i) 2 + ... + R (1 + i) n −1

n
ou seja Cn = R ∑ (1 + i) k −1
k =1

Reconhece-se nesta expressão uma série geométrica cujas propriedades permitem escrevê-la de outra forma 1 :

(1 + i) n − 1
Cn = R
i

n
(1 + i) − 1
∑ [(1 + i) k − (1 + i) k −1 ] cujo valor se
1 1
Multiplica-se o somatório pela fracção , o que dá a série telescópica
i i
k =1
resume à diferença entre o último e o primeiro termo.

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Portanto: se pudermos esperar n anos e a taxa de juro for i, tanto faz receber uma renda R como receber apenas,
no ano n, o capital Cn.
Mais interessante do que este resultado é saber qual o capital equivalente, hoje, de uma renda a receber durante n
anos. Conjugando a expressão do capital equivalente de uma renda no ano n com a expressão da actualização de
um capital para o ano zero, tem-se

(1 + i) n − 1
C0 = R
i(1 + i) n
Esta é a expressão que nos dá a capitalização de uma renda R (para n anos e taxa i), e nos permite converter um
pagamento periódico em n anos num capital único no instante inicial. O interesse é evidente: há muitos
problemas em que a dúvida se põe em investir um capital para poupar uma despesa periódica e a pergunta
coloca-se: vale mais pagar agora ou ir pagando em prestações?
O inverso desta fórmula corresponde à anualização de um capital, isto é, a encontrar a renda que equivale a um
capital dado.
Se a renda for perpétua, isto é, se n → ∞ , então o termo fraccionário tende para 1/i. Temos neste caso, que
R
C0 =
i
e que R = C 0 i . Por exemplo, uma renda perpétua de €100 valorizada à taxa de 10% equivale a um capital actual
de €1000. A aproximação de multiplicar o capital pela taxa para se encontrar a anualização do capital (por
exemplo, para combinar com outras rendas) só é válida, portanto, se o número de anos n for muito grande.

4. RESUMO
As fórmulas essenciais são

Para o ano 0 Para o ano n

Cn
Actualização de um capital C0 = C n = C 0 (1 + i) n
(1 + i) n

(1 + i) n − 1 (1 + i) n − 1
Capitalização de uma renda C0 = R Cn = R
i(1 + i) n i

i(1 + i) n i
Anualização de um capital R = C0 R = Cn
(1 + i) n − 1 (1 + i) n − 1

5. TAXAS NOMINAIS E REAIS


O valor do capital corresponde aos bens pelos quais ele pode ser trocado. Quando, com o decorrer do tempo,
vamos necessitando de mais capital para adquirir o mesmo bem, podemos dizer que o valor do capital se
deprecia e que o preço dos bens está sujeito a inflação. O capital tem o mesmo valor nominal, mas já não compra
a mesma quantidade de bens.
Esta necessidade de mais capital para comprar o mesmo bem pode ser representada por uma taxa de inflação t.
Assim, se precisarmos de um capital C0 no ano zero, num processo sujeito a inflação, esse capital só valerá, em
termos reais, no ano n,
C0
Cn =
(1 + t ) n

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porque o seu poder de aquisição se foi depreciando sucessivamente.
Vemos, então, que existe um valor nominal para o capital (habitualmente medido em termos de uma unidade
monetária, Euros, por exemplo) e um valor real que corresponde ao poder aquisitivo em cada instante. Num
processo decorrendo no tempo, os juros são pagos a uma taxa de juro nominal inom mas o seu valor deprecia-se à
taxa t. Ou seja, em termos de poder aquisitivo, um capital nominal C0 é equivalente a um capital Cn no ano n de
acordo com

(1 + i nom ) n
Cn = C0
(1 + t ) n
Se o processo decorresse sem inflação e o poder aquisitivo se mantivesse constante, a equivalência seria dada
pela expressão já apresentada,

C n = C 0 (1 + i) n
Igualando as duas expressões, extrai-se o conceito de taxa de juro real i, a partir de

(1 + i nom ) n
(1 + i) n =
(1 + t ) n
Ou seja, i é a taxa equivalente que seria aplicada num regime designado por “preços constantes” (sem inflação) e
refere-se ao que verdadeiramente interessa, que é o poder aquisitivo do capital. Por isso se chama “taxa de juro
real”.
Trabalhando esta expressão, vê-se que
(1 + i nom ) = (1 + i)(1 + t )
o que dá
i nom = i + t + it
Quando as taxas são pequenas (no valor das centésimas, que é o que ocorre quando falamos de taxas de 2%, por
exemplo), o produto it fica muito menor do que t ou i e pode, em primeira aproximação, desprezar-se. Isso
explica que se diga que a “taxa de juro real é igual à taxa nominal menos a inflação”
i ≈ i nom − t
Isto não é rigorosamente verdade mas é uma boa aproximação, quando as taxas são pequenas. Por exemplo com
inom = 3% e t = 2%, tem-se como valor aproximado para a taxa de juro real i = inom - t = 1% e como valor (mais)
exacto i = 0,98%.
A equivalência acima autoriza-nos a fazer os cálculos financeiros em termos de valores de poder aquisitivo do
capital em vez de valor nominal do capital, isto é, a trabalharmos com taxas de juro real em vez das taxas
nominais e assumir que o processo decorre sem inflação. É isso que se chama “cálculo a preços constantes”. No
restante texto, trabalharemos sempre a preços constantes e a juros reais, porque simplifica os cálculos sem
introduzir qualquer erro.
Porém, se os estudos se referirem a preços de bens atingidos por taxas de inflação diferenciadas, então ter-se-á
que fazer o cálculo a preços correntes (incluindo inflação) e não a preços constantes.

6. FLUXOS FINANCEIROS
Um diagrama de fluxo financeiro tem por objectivo simbolizar graficamente os movimentos de capital, positivos
e negativos. Por exemplo, admita-se que a aquisição de um determinado bem é feita nas seguintes condições:
uma entrada de €1000 seguida de 5 pagamentos anuais de €200. Esse fluxo financeiro seria representado como
na Figura 1.

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i = 5%

200 200 200 200 200

1000

Figura 1- Diagrama de fluxo financeiro. Considerando uma taxa de juro real de 5%, este fluxo equivale a um
pagamento único, no ano zero, de €1866.
Num diagrama destes, a linha horizontal corresponde a uma escala de tempo da esquerda para a direita e as setas
verticais, orientadas para baixo, correspondem a desembolso enquanto que, para cima, correspondem a encaixe
ou recebimento.
Considere-se então o fluxo financeiro representado na Figura 1. Ao pagamento periódico de €200 pode aplicar-
se a fórmula de capitalização de uma renda, dando aproximadamente €866. Esse valor pode então adicionar-se
aos €1000 iniciais para se obter um valor equivalente total no ano zero.
Este exemplo ilustra um princípio básico, a observar em qualquer circunstância: só se podem adicionar capitais
referidos à mesma data. Por isso, se tivermos capitais distribuídos por várias datas, há primeiro que os reduzir a
equivalentes na mesma data antes de poderem ser adicionados.
Eis um outro exemplo: um equipamento custa €1000 e permite uma economia de energia anual de €200 durante
6 anos, que é o seu tempo de vida. Este negócio é vantajoso ou não? O diagrama de fluxo financeiro deste
problema encontra-se na Figura 2.

200 200 200 200 200 200

i = 5%

1000

Figura 2- Diagrama de fluxo financeiro para um investimento de €1000 que origina, em 6 anos, uma poupança
anual de €200.
A poupança periódica equivale a um capital, no ano zero, de €1015, o que se calcula aplicando a fórmula de
capitalização de uma renda para n = 6 e i = 5%. O negócio é, pois, marginalmente vantajoso, pois equivale a
gastar €1000 para receber, no mesmo instante, €1015, ou seja, proporciona um ganho equivalente a €15.
Uma outra forma de analisar o problema seria converter o capital numa renda e avaliar o balanço anual. Como a
renda não é perpétua e o número de anos é pequeno, temos que usar a fórmula exacta, o que nos dá que a renda,
em 6 anos e a 5%, equivalente a €1000, é de €197. Portanto, o balanço anual é o seguinte: uma despesa de €197
para uma poupança de €200 – marginalmente vantajoso, portanto.
Estas equivalências estão representadas na Figura 3.
Os fluxos financeiros são designados em inglês como “cash flow”. Na literatura em português encontra-se
também a designação de “fluxos de caixa”.

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1015 i = 5%

200 200 200 200 200 200

197 197 197 197 197 197

1000

Figura 3 – As setas a tracejado representam as equivalências aos fluxos representados a cheio. A renda de
€200 recebida equivale a um capital inicial recebido de €1015; e o capital dispendido de €1000 equivale a
pagar anualmente €197.

7. CUSTO DE OPORTUNIDADE
Certos problemas fixam-nos, no seu enunciado, o valor da taxa de juro a utilizar. Por exemplo, uma aplicação de
€1000 rende anualmente juro de 5% - qual o capital acumulado em 5 anos? Manifestamente, não há dúvidas
quanto à taxa de juro i a incluir nos cálculos.
Mas, noutros casos, não é assim tão simples. Imagine-se um industrial que pretende aplicar €1000 num
equipamento que lhe conduz a uma poupança energética de €200 durante 6 anos – que taxa de juro deve utilizar
para verificar se a opção é interessante?
A resposta é: deve utilizar a taxa correspondente à segunda alternativa mais interessante disponível para a
remuneração do capital. Esse juro alternativo é chamado muitas vezes “custo de oportunidade” – se o investidor
optar pelo investimento, ele perde essa segunda oportunidade. Se o negócio for vantajoso, o seu capital será
melhor remunerado investindo do que na segunda alternativa.
Por isso, a taxa de juro a usar em estúdios reais raramente será a taxa bancária – que é uma alternativa pouco
atractiva, em geral. Uma empresa privada com alguma dimensão tem em geral uma percepção do seu custo de
oportunidade, para avaliar o interesse de investimentos. Nos investimentos do Estado, pode usar-se como
indicador o valor da taxa de actualização definida pelo Banco de Portugal.
Na falta de uma indicação, pode adoptar-se como custo de oportunidade a taxa de 10%.
Sublinhe-se que a taxa de juro i pode ser interpretada como a exigência de remuneração do capital por parte do
investidor. Isto é: só investirá num determinado projecto se a remuneração do capital for superior a i ou, dito de
outra forma, se o projecto gerar remunerações do investimento que superem uma remuneração que seria
traduzida por uma taxa i.

8. EXEMPLO ILUSTRATIVO
Admita-se que um dado equipamento é necessário num processo fabril e que o seu custo é de €1000. O
equipamento tem uma vida útil de 5 anos após o que deve ser substituído por um igual. Qual o capital inicial que
é necessário deter, para garantir a renovação do equipamento a cada 5 anos, tomando como referência uma taxa
de juro de i = 10%?
A solução determina-se considerando que o capital inicial X tem que conter uma fracção A igual a €1000 e outra
fracção igual a (X-A) cuja capitalização em cinco anos à taxa de juro i deve repor o capital X. Assim sendo,

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(X − A)(1 + i) n = X
Substituindo os valores, chega-se a X = €2638.

9. INVESTIMENTOS EM UTILIZAÇÃO RACIONAL DE ENERGIA – MÉTODOS DE AVALIAÇÂO


Os estudos económicos de racionalização energética podem em geral reduzir-se conceptualmente ao seguinte
modelo: fazer investimentos (capital usado de forma pontual) e obter ganhos na forma de poupanças (ganhos
distribuídos ao longo do tempo). Os factores principais a ter em conta são:
• Os investimentos a realizar – e as datas respectivas
• As poupanças geradas, em regra de forma periódica
• O valor residual dos equipamentos, no final da sua vida útil
• Os custos de manutenção, acrescidos ou reduzidos
• O custo de oportunidade
As poupanças energéticas vêm reflectidas na factura de energia e são processos contínuos. Por uma questão de
simplicidade, é habitual condensarem-se os seus valores em resultados anuais. Isto permite organizar diagramas
de fluxos de caixa para os vários factores.
Com estes dados, é possível aplicar vários métodos para a avaliação económica da viabilidade dos investimentos
em racionalização energética. Vamos seguidamente descrever de forma sucinta esses métodos.
Tomaremos como exemplo um projecto de colocação de painéis solares passivos para pré-aquecer a água de um
balneário. Com isto consegue-se uma redução no consumo de gás numa caldeira já existente. Os estudos
preliminares conduziram às seguintes estimativas:
Aquisição e instalação: C = €10000
Economia anual no consumo de gás: G = €2500
Manutenção anual acrescida: M = €250
Instalação de filtro de 5 em 5 anos: F = €1000
Duração dos painéis: n = 10 anos
Valor residual dos painéis, no fim de 10 anos: V = €1500
Custo de oportunidade: i = 10%
Os fluxos financeiros ou de caixa podem ser representados
2500

1500

1000 250
1000

i = 10%

10000

Figura 4 – Fluxos financeiros do problema exemplo. Note-se que há fluxos que são pontuais no tempo e fluxos
que constituem rendas.

9.1. Valor Actual Líquido (VAL)


Este método transporta todos os fluxos de caixa anuais para uma data presente.

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Para o cálculo do VAL entram todos os investimentos, todas as rendas componentes de exploração (seja pagas
ou recebidas) e ainda a componente de desinvestimento (os valores residuais),
A expressão geral será:
n
∑ (1 + ik) k
FC
VAL =
k =0

em que FCk é o fluxo de caixa no instante k.


No instante k=0, por exemplo, FC0 corresponde ao investimento inicial e deve ser considerado com sinal
negativo, assim como todas as componentes de custo FC durante o período de vida, enquanto que as
componentes de benefício devem ter sinal positivo.
n n
− Investimento k
∑ ∑ (1 + ik) k +
FC Valor Residual
VAL = +
k =0 (1 + i) k
k =1 (1 + i) n

Como todos os fluxos são considerados, o VAL – Valor Actual Líquido, pode ter valor negativo ou positivo (ou
nulo). Se o valor for positivo (VAL > 0) o projecto será economicamente viável, porque permite cobrir o
investimento, gerar a remuneração exigida pelo investidor (o custo de oportunidade) e ainda excedentes
financeiros.
O caso em que VAL = 0 é um caso limite, em que o investidor ainda recebe a remuneração exigida. Quando
VAL < 0, o projecto é economicamente inviável.
Trabalhando o nosso exemplo, com base na taxa de remuneração desejada de i = 10%, temos

1000 1,110 − 1 1500


VAL = −10000 − 1000 − + (−250 + 2000) × +
1,1 5
0,1× 1,1 10
1,110
VAL = € 2783
O VAL é positivo.
Isto significa que o projecto produz excedentes financeiros para além do mínimo esperado.

9.2. Taxa interna de rendibilidade (TIR)


Este método calcula uma taxa de juro equivalente à remuneração do capital obtida. Não é mais do que a taxa de
rendibilidade que, no final dos n anos, iguala o VAL a zero.
Para se obter a TIR, é necessário resolver a equação seguinte em ordem a i:
n n
− Investimento k
∑ ∑ (1 + ik) k +
FC Valor Residual
0= +
k =0 (1 + i) k
k =1 (1 + i) n

A resolução é possível aplicando um algoritmo iterativo, por exemplo, com bissecções sucessivas,
experimentando-se com valores diferentes de i.
Descobertos dois valores i+ e i– da taxa que conduzam a VAL negativo e positivo, basta depois ir
experimentando o ponto médio do intervalo [i–, i+] e ir escolhendo novos sub-intervalos por forma a que i+ e i–
gerem sempre VAL de sinal contrário. A TIR é, assim, calculada com a precisão desejada.
No nosso exemplo, temos

1000 (1 + i)10 − 1 1500


0 = −10000 − 1000 − + (−250 + 2000) × +
(1 + i) 5
i × (1 + i) 10
(1 + i)10
Comecemos por experimentar com i = 10% e i = 20% , para determinarmos os limites do intervalo onde se
situará a solução, os quais têm que apresentar sinais algébricos opostos.
Depois, apliquemos o algoritmo. Os resultados estão resumidos na tabela seguinte.

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i- i+ (i-+i+)/2 VAL
10 2782,67
20 -1726,56
10 20 15 165,83
15 20 17,5 -853,42
15 17,5 16,25 -363,92
15 16,25 15,625 -104,34
15 15,625 15,3125 29,39
15,3125 15,625 15,46875 -37,81
15,3125 15,46875 15,39063 -4,29
15,3125 15,390625 15,35156 12,53
15,3515625 15,390625 15,37109 4,11
15,37109375 15,390625 15,38086 -0,09
15,381 -0,15
15,380 0,28

Chegámos a um resultado suficientemente perto de zero (na antepenúltima linha da tabela).


Aceitámo-lo, arredondando para i = 15,380%. Como se vê, verificamos o arredondamento para cima e para
baixo mas tomamos como resultado o valor mais conservador – aquele que corresponde a uma menor TIR.
O projecto funciona, portanto, como se os capitais investidos fossem remunerados à taxa interna de
rendibilidade TIR de 15,380%, o que é superior ao custo de oportunidade e indica que o projecto é
economicamente interessante e viável. A distância entre a TIR e o custo de oportunidade é um indicador da
robustez da solução face ao risco, isto é, de alguma segurança face à incerteza nos seus factores.
Este resultado é coerente com o que encontráramos para o VAL do projecto.

9.3. Período de recuperação do investimento (PRI)


Neste método o que se procura calcular é o número de anos necessário para que o capital inicial seja recuperado
a partir dos fluxos financeiros líquidos gerados. Dito de outra forma: quantos anos demora o projecto a pagar-se
e a começar a dar lucro para além da remuneração do custo de oportunidade.
Um processo matematicamente exacto de calcular este número seria reduzir os fluxos de caixa a uma renda
equivalente e, depois, verificar qual o n que conduz a que, à taxa do custo de oportunidade, a renda equilibre o
investimento.
No nosso caso, teremos:

1,110 − 1
Valor capitalizado da poupança: G 0 = 2500 × = 15361
0,1× 1,110

1,110 − 1
Valor capitalizado da manutenção: M 0 = 250 × = 1536
0,1× 1,110

1000
Valor actualizado dos filtros: F0 = 1000 + = 1621
1,15

1500
Valor residual actualizado: V0 = = 578
1,110
Capital inicial: C = 10000

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A expressão para cálculo da renda equivalente em 10 anos é

0,1× 1,110
R = (G 0 − M 0 − F0 + V0 ) = 2080
1,110 − 1
e o número de anos para recuperação do capital será então dado pela resolução para n da equação

1,1n − 1
10000 = 2080
0,1× 1,1n
o que dá n = 6,875, ou seja, PRI = 6,875 anos..
Em vez deste procedimento formalmente exacto, encontra-se por vezes um procedimento inexacto ou
aproximado, em que se reparte o valor capitalizado dos fluxos de caixa pelo número de anos do projecto. Isto
está ilustrado, por exemplo, pela expressão
n

Investimento k
k =0 (1 + i) k
PRI =
1 ⎛⎜ Valor Residual ⎞⎟
n

FC k
+
n⎜ ⎟
⎝ k =1 (1 + i) (1 + i) n
k

A aplicação desta expressão ao problema que vem servindo de ilustração daria PRI = 7,823 anos.
Como critério de risco, são em princípio mais atraentes os projectos que recuperam o capital mais rapidamente.
Porém, o índice PRI deve ser usado fundamentalmente como índice de risco, e não como comparador de
projectos, principalmente quando as alternativas têm tempos de vida diferentes. Pode ocorrer que um projecto
com melhor TIR (ou seja, melhor remuneração de capital) que a de outro ainda assim tenha um PRI maior, por
causa das durações diferentes.
Se as alternativas têm o mesmo tempo de vida, o uso das três critérios – VAL, TIR e PRI – conduz às mesmas
conclusões.

10. APLICAÇÕES À UTILIZAÇÃO RACIONAL DE ENERGIA


Como se falou no início, o estudo da viabilidade económica de projectos de racionalização energética depende
sempre, em última análise, da correcta avaliação, por um lado, dos investimentos e, por outro, de todos os custos
e benefícios de exploração.

10.1. Investimentos
Os investimentos a considerar devem incluir não só os custos dos equipamentos mas também os custos de
instalação, incluindo de construção civil, se for o caso.
Quando o projecto beneficia de subsídios a fundo perdido, devem ser descontados no capital inicial antes da
avaliação económica. Quando os subsídios são reembolsáveis, o projecto terá que gerar os fluxos financeiros
necessários para assegurar esse reembolso, para além de remunerar o capital.
O investimento pode provir de capitais próprios ou de empréstimo. Já compreendemos que, quando se usam
capitais próprios, a taxa de juro a ter em conta é a do custo de oportunidade. Isto é: se o projecto não gerar
melhor remuneração do que a melhor alternativa, então o que há a fazer é aplicar o capital nesta e abandonar o
projecto.
Quando se recorre a um empréstimo, há que pagar juros pelo uso desse capital. Porém, deve continuar a usar-se,
como taxa para avaliação do projecto, o custo de oportunidade e não a taxa bancária do empréstimo. A lógica é
sempre a mesma: se a oportunidade alternativa remunerar melhor o capital, então o melhor é não investir no
projecto mas sim usar o capital na alternativa.

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10.2. Exploração
A avaliação dos custos e benefícios de exploração deve ser cuidadosa, ainda que se reconheça que nem sempre é
fácil.
Os investimentos em utilização racional de energia conseguem, por regra, poupanças energéticas e a avaliação
do valor das poupanças depende do processo em causa. Se há um histórico de consumos registados, torna-se em
geral mais fácil fazer essa avaliação. Por exemplo, na instalação de um processo de cogeração industrial em
estabelecimento fabril que já dispõe de caldeira e que consome energia eléctrica, os consumos de fuel e de
electricidade dão uma indicação segura dos custos de operação correntes. A avaliação do projecto vai então
contabilizar especialmente a diminuição na factura de electricidade, ou mesmo a receita da venda de excedentes
de electricidade, para calcular os benefícios de exploração na nova situação. Porém, tal como sugerido no
exemplo atrás apresentado, há que não esquecer também as parcelas de custos de exploração, nomeadamente
respeitantes a custos de manutenção periódica.

10.3. Auditorias energéticas


A lei portuguesa fixa hoje as condições em que se devem efectuar auditorias energéticas nas empresas e
edifícios. Uma auditoria apropriada recolherá os indicadores necessários de custos de exploração para permitir,
posteriormente, a execução de estudos de avaliação económica de projectos de racionalização energética.

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