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Por: Paulo Victor Feio Raiol

Foi promulgado no artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 a


cidadania como um dos fundamentos indissociáveis do Estado Democrático
Brasileiro. Tal princípio atribui-se diretamente aos direitos políticos, visto que o
exercício e a plena posse dessas faculdades, configuram um autêntico cidadão,
detentor dos privilégios constitucionais e da proteção concedida pelo Governo.
Contudo, a cidadania legítima dispõe também de incumbências para manter o
equilíbrio em sociedade, uma vez que o indivíduo deveria abdicar da liberdade para
dar plenos poderes ao Estado, cuja finalidade deste seria proteger a vida dos
cidadãos em sua totalidade. Dessa maneira, entende-se que a efetivação das
jurisdições públicas possibilitam ao ser humano usufruir de sua autonomia civil,
política e social, alicerçando prerrogativas como ​o ​sufrágio universal, o voto
direto e secreto e a participação em plebiscitos, referendos e iniciativas
populares, além da soberania e da dignidade da pessoa humana​, que são
regalias básicas de todo o brasileiro, e se caso forem infringidas, devem ser
reivindicadas.
O Brasil é um país com a arbitrariedade instaurada, sendo excepcionalmente
inserido em um contexto de desigualdade social, de forma que os direitos humanos
são transgredidos todos os dias de diferentes formas. Nessa acepção, o exercício
da cidadania é imprescindível para restituir a igualdade e o respeito, de tal forma
que os atos de reivindicação dos direitos reputados aos cidadãos e as impugnações
à postura do Governo Federal em relação ao ​descumprimento dos regulamentos
legislativos, são manifestações essenciais para a sobrevivência da sociedade, pois
objetificam mudar o cenário de injustiça estabelecido, desenvolvendo, assim, o
progresso da sociedade.
No artigo quinto da Constituição da República, são organizadas e
sistematizadas as diretrizes fundamentais que sancionam o direito à vida, à
liberdade, à igualdade e à segurança a todo indivíduo, independentemente de
qualquer natureza, ligando-se diretamente, assim, aos princípios do respeito e da
tolerância. Contrário a essas medidas, o Brasil possui índices deploráveis de
intolerância e discriminação. ​Segundo dados do Ministério dos Direitos
Humanos divulgados em 2017, o balanço anual de denúncias sobre violações
de direitos humanos contabilizou, naquele ano, cerca de ​142.665 denúncias
recebidas pelos canais administrados por esse Ministério, o que resulta em
uma média de 390 por dia​.
Mediante a isso tudo, existem casos específicos de atitudes culturais
enraizadas caracterizadas pela repugnância e pelo ódio, são elas: a misoginia e o
feminicídio. A misoginia designa uma espécie de abominação ou repúdio às
mulheres, ou seja, a figura feminina em si, resultando, na maioria das vezes, em
casos de abuso, agressão, desrespeito e assédio nos espaços públicos contra as
mulheres, passando também pelo baixo número destas ocupando cargos de poder,
até ações de extrema violência psíquica, sexual e física, chegando ao feminicídio,
que é o homicídio doloso de mulheres. Este crime, de acordo com o levantamento
do G1, atingiu a marca de 3.739 no ano de 2019. Esses comportamentos violentos
contra as mulheres foram naturalizados, pois estavam dentro da construção social
advinda da ditadura do patriarcado, de forma que ideologia da superioridade do
gênero masculino em detrimento do feminino foi instituída como padrão imutável.

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