Foi promulgado no artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 a
cidadania como um dos fundamentos indissociáveis do Estado Democrático Brasileiro. Tal princípio atribui-se diretamente aos direitos políticos, visto que o exercício e a plena posse dessas faculdades, configuram um autêntico cidadão, detentor dos privilégios constitucionais e da proteção concedida pelo Governo. Contudo, a cidadania legítima dispõe também de incumbências para manter o equilíbrio em sociedade, uma vez que o indivíduo deveria abdicar da liberdade para dar plenos poderes ao Estado, cuja finalidade deste seria proteger a vida dos cidadãos em sua totalidade. Dessa maneira, entende-se que a efetivação das jurisdições públicas possibilitam ao ser humano usufruir de sua autonomia civil, política e social, alicerçando prerrogativas como o sufrágio universal, o voto direto e secreto e a participação em plebiscitos, referendos e iniciativas populares, além da soberania e da dignidade da pessoa humana, que são regalias básicas de todo o brasileiro, e se caso forem infringidas, devem ser reivindicadas. O Brasil é um país com a arbitrariedade instaurada, sendo excepcionalmente inserido em um contexto de desigualdade social, de forma que os direitos humanos são transgredidos todos os dias de diferentes formas. Nessa acepção, o exercício da cidadania é imprescindível para restituir a igualdade e o respeito, de tal forma que os atos de reivindicação dos direitos reputados aos cidadãos e as impugnações à postura do Governo Federal em relação ao descumprimento dos regulamentos legislativos, são manifestações essenciais para a sobrevivência da sociedade, pois objetificam mudar o cenário de injustiça estabelecido, desenvolvendo, assim, o progresso da sociedade. No artigo quinto da Constituição da República, são organizadas e sistematizadas as diretrizes fundamentais que sancionam o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança a todo indivíduo, independentemente de qualquer natureza, ligando-se diretamente, assim, aos princípios do respeito e da tolerância. Contrário a essas medidas, o Brasil possui índices deploráveis de intolerância e discriminação. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos divulgados em 2017, o balanço anual de denúncias sobre violações de direitos humanos contabilizou, naquele ano, cerca de 142.665 denúncias recebidas pelos canais administrados por esse Ministério, o que resulta em uma média de 390 por dia. Mediante a isso tudo, existem casos específicos de atitudes culturais enraizadas caracterizadas pela repugnância e pelo ódio, são elas: a misoginia e o feminicídio. A misoginia designa uma espécie de abominação ou repúdio às mulheres, ou seja, a figura feminina em si, resultando, na maioria das vezes, em casos de abuso, agressão, desrespeito e assédio nos espaços públicos contra as mulheres, passando também pelo baixo número destas ocupando cargos de poder, até ações de extrema violência psíquica, sexual e física, chegando ao feminicídio, que é o homicídio doloso de mulheres. Este crime, de acordo com o levantamento do G1, atingiu a marca de 3.739 no ano de 2019. Esses comportamentos violentos contra as mulheres foram naturalizados, pois estavam dentro da construção social advinda da ditadura do patriarcado, de forma que ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino foi instituída como padrão imutável.