Você está na página 1de 51

Guia SaaS:

uma nuvem de
oportunidades para
empreendedores
introdução 03
Dos mainframes à nuvem

seu negócio é realmente um saas? 07


2.1 - Várias provocações em uma
2.2 - As tábuas da lei da Bessemer Partners

fases de maturidade e seus principais desafios 20


3.1 Fase 1: entendimento do modelo de negócios de assinatura

sumário
3.2 Fase 2: construção da engrenagem de marketing e vendas
3.3 Fase 3: Customer Success
3.4 Fase 4: Cultura e Retribuição para a comunidade
3.5 Principais desafios durante o amadurecimento
Guia SaaS: uma nuvem
de oportunidades para Precificação e escalabilidade 30
empreendedores 4.1 - “Em SaaS, a precificação está fortemente atrelada ao produto em si”
4.2 - No começo, ninguém sabe de (quase) nada
4.3 Conhecer o mercado, entender o cliente: a regra de ouro para a precificação
4.4 O pulo do gato: entregar mais valor -- e cobrar mais por isso
4.5 - Per-seat VS pela entrega de valor
4.6 - Precificar de acordo com o perfil do cliente: um desafio a ser superado
4.7 - Testes para aumentar o tíquete médio

Glossário de métricas 43
01 dos
mainframes
à nuvem
04_guia saas CAPÍTULO 01 dos MAINFRAMES à nuvem

As empresas de SaaS, ou Sof- é um exemplo. O sistema de já que são realizados testes


tware as a Service, são uma re- SaaS oferece, a quem o utiliza, que permitem às empresas
alidade cada vez mais abran- a possibilidade de se come- do setor responder a uma de-
gente e influente. O surgimento çar pequeno e ir crescendo. manda imediata dos consu-
/ do modelo — que consiste no Em vez de investir fortunas midores.
SaaS é também mais uso de softwares que não de- em hardware e na construção
ágil. Comparada pendem da instalação física de de sistemas de integração, os Por tudo isso, o campo de SaaS
com o modelo um programa ou da compra de clientes de SaaS podem co- vem atraindo cada vez mais
tradicional, a uma licença — é a maior novi- meçar comprar soluções bem empreendedores — também
implementação das dade do segmento de tecnolo- menores e ir incrementando interessados na performance
soluções é muito gia em muito tempo. -as. E isso, como veremos, é de gigantes, como Salesfor-
mais rápida, já que muito atraente para empresas ce, LinkedIn e NetSuite, por
são realizados São vários os motivos que que adotam o modelo. exemplo.
testes que permitem vêm levando empresas a ado-
às empresas do setor tar esse modelo, substituin- SaaS é também mais ágil. Por outro lado, o modelo de
responder a uma do a forma tradicional de co- Comparada com o modelo tra- SaaS possui uma série de par-
demanda imediata mercialização de softwares. dicional, a implementação das ticularidades que o distinguem
dos consumidores. A flexibilidade das soluções soluções é muito mais rápida, de outros modelos tradicio-
05_GUIA SAAS CAPÍTULO 01 dos MAINFRAMES à nuvem

nais. É para auxiliar você a tra- Pois então: assim como a geo- então, na “era do mainframe”, uma estrutura distribui as tare-
fegar por esse território novo logia, a indústria de softwares com processadores do tama- fas e cargas de trabalho entre
e muito fértil que elaboramos também é composta por “eras”. nho de uma sala e suas famo- os fornecedores de um recurso
este ebook. E conhecê-las é indispensável sas “telas verdes”. A tecnolo- ou serviço — que são designa-
para que se possa entender me- gia passou rapidamente a ser dos como servidores — e os re-
Compreender como chegamos lhor como chegamos às empre- dominada pela IBM. Até então, querentes dos serviços, que são
a esse momento de SaaS não é sas de SaaS. Porque, da mesma os mainframes estavam ape- designados como clientes.
difícil. Para isso, podemos esta- forma como as eras geológicas nas à disposição de grandes
belecer um paralelo com as “eras se sucedem e se interdependem corporações. Mas, a partir dos Nesse momento, os clientes e
geológicas” das aulas de geogra- — cada uma só surgindo graças anos 1970, o tamanho de uma os servidores se comunicam
fia. Você se lembra delas? Arque- à anterior, carregando muitas de série das máquinas foi sendo por meio de uma rede de com-
ozoica, Proterozoica, Paleozoica, suas características — a época reduzido para chegar a clien- putadores distintos; mas tan-
Mesozoica e Cenozoica? Cada atual dos softwares é resulta- tes menores. to o cliente quanto o servidor
uma corresponde a um grande do de uma profunda e contínua podem residir em um mesmo
intervalo de tempo da formação evolução tecnológica. A era dos mainframes começa- computador. Estamos em finais
geológica do nosso planeta, divi- va a dar lugar à do “cliente-servi- dos anos 1980, e falamos, como
dido por períodos. E todas com- É uma evolução que tem iní- dor”. Chegam os tempos do PC, você já deve ter percebido, da
pondo a evolução da Terra. cio nos anos 1960. Estamos, ou Personal Computer, em que disseminação da internet.
06_GUIA SAAS CAPÍTULO 01 dos MAINFRAMES à nuvem

A era a seguir, conhecida por “Era feito por meio da Internet — daí de uma licença. Dessa maneira,
da Computação na Nuvem”, é a o termo “nuvem”. Essa configu- todos os programas e funções
nossa atual. O conceito refere-se ração muda tudo — desde como podem ser acessados por meio
à utilização da memória e da ca- nos relacionamos digitalmen- de um navegador com acesso à
pacidade de armazenamento e te até a forma como fazemos e internet.
cálculo de computadores e servi- gerenciamos negócios. O surgi-
dores compartilhados e interliga- mento das SaaS, empresas que E é das principais características,
dos por meio da Internet, seguin- operam no modelo de Softwares dos aprendizados de especialis-
do o princípio da computação em as a Service (ou Software como tas e das oportunidades ofereci-
/ grade. Serviço), é resultado disso. das por esse modelo que falare-
É um modelo mos a partir de agora.
chegou para ficar Com isso, os dados podem ser É um modelo chegou para ficar
— e que vem se acessados de qualquer lugar do — e que vem se expandindo de
expandindo de forma mundo, a qualquer hora, não ha- forma impressionante, uma vez
impressionante, uma vendo necessidade de instalação que cada vez mais pessoas ade-
vez que cada vez de programas ou de armazena- rem ao uso de softwares que não
mais pessoas aderem mento. O acesso a programas, dependem da instalação física
ao uso de softwares serviços e arquivos é remoto, de um programa ou da compra
02 Seu negócio
é realmente
um SaaS?
08_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

A emergência do modelo SaaS é, sem dú- Edson Rigonatti, sócio da Astella Investi-
vida, a tendência mais importante na in- mentos e mentor Endeavor. Grande co-
dústria de softwares em muito tempo. É nhecedor do segmento de SaaS, Rigonatti
uma “movimentação tectônica” que está foi convidado a dar sua visão sobre como
apenas começando; e que, como costuma se constitui uma empresa de SaaS de su-
acontecer em períodos de profunda trans- cesso.
formação, trazendo oportunidades extra-
ordinárias para empreendedores. Várias provocações
2.1
em uma Edson
No entanto, de modo a realmente aprovei- Rigonatti
tar essas oportunidades, será preciso dei- sócio da Astella
xar de lado certos paradigmas que regeram Rigonatti afirma que, hoje, muitas empre- Investimentos e
o segmento de softwares por muito tempo. sas se apresentam como SaaS, mas para mentor Endeavor.
É com base nesse pensamento que propo- verificar se isso é realmente verdade, o es- Grande conhecedor
mos uma primeira provocação: seu negó- pecialista utiliza um método muito simples: do segmento
cio é realmente o de SaaS? convida empreendedores a responderem de SaaSde alto
algumas perguntas fundamentais, pontu- impacto
Para responder à pergunta, contamos com ando as respostas de 1 a 5.
010_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

Com as respostas, você já terá uma documento considerado funda- gestores de SaaS”, afirma. Referem-
noção de quão SaaS sua empresa é. mental: “Top ten laws for being Sa- se a métricas, Customer Acquisition
A conclusão de Rigonatti é que, se aS-y”, ou, em tradução livre, “Dez Cost (CAC), Life Time Value (CLTV)
o somatório final ficar acima de 40, leis para uma empresa ser SaaS de e outros aspectos que vamos apro-
sua empresa está de vento em popa verdade”. fundar mais adiante.
no segmento das SaaS. Agora, se
for abaixo de 30, ele recomenda que Trata-se de uma lista criada em me- Em suma, as 10 leis (e uma de bônus)
você repense o negócio e foque no ados de 2008 pela Bessemer Ventu- da Bessemer Venture Capitals são a
desenvolvimento do produto. E, cla- re Partners, um dos maiores fundos pedra fundamental sobre a qual uma
ro, esse ebook foi criado para te aju- globais de investimento em startups empresa de SaaS deve ser construí-
dar nessa tarefa. e empresas de inovação da atuali- da. Você vai ver que elas contêm uma
dade. série de termos técnicos um tanto
As tábuas da lei
2.2 específicos, mas não se preocupe,
De acordo com Rigonatti, o documen- mais à frente vamos explicar melhor
da Bessemer Partners to constitui uma espécie de “tábuas cada um deles.
da lei” para o segmento. “São os ‘dez
Depois dessa provocação inicial, mandamentos’, pontos cujo conhe- Primeiramente, vamos conhecer as
Edson Rigonatti compartilha um cimento é obrigatório para qualquer leis de forma resumida:
12_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

/ Agora vamos analisar detalhadamente cada uma empresa de SaaS monitore alterações na receita
Lei bônus: Você dessas diretrizes: recorrente.
pode até ignorar
algumas dessas 1. Suas principais métricas de negócio Outra métrica-chave é o fluxo de caixa. A visibilida-
leis, mas jamais mensais são: CMRR (Committed Monthly de da posição atual de caixa e das alterações dessa
ignore mais do que Recurring Revenue, ou a Receita recorrente posição sempre foi importante para qualquer em-
duas. mensal), Churn e Fluxo de Caixa. presa de software; mas é ainda mais crítica para
negócios de SaaS, uma vez que os pré-requisitos
Para obter uma visibilidade mais ampla do negó- financeiros da operação costumam ser maiores do
cio, a maioria das empresas de SaaS foca no MRR que os de outros modelos, como veremos a seguir.
(monthly recurring revenue, ou receita recorrente
mensal) — que é a soma de todas as entradas re- 2. Customer Acquisition Cost (CAC) e
correntes advindas de assinaturas. Customer LifeTime Value (LTV) são os
melhores indicadores de que sua empresa
Já o “churn”, ou a taxa de cancelamento, é a per- vai criar valor no longo prazo.
da de receita recorrente esperada por parte de
clientes que cancelaram o uso do serviço. Essa Há quem diga que SaaS é um modelo complicado
métrica é das mais importantes para que uma porque o investimento inicial é alto e a receita vem
13_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

aos poucos, modestamente, em pagamentos mensais A resposta para a primeira é fornecida pelo CAC - a si-
ou anuais. No entanto, como observamos em outros gla para Customer Acquisition Cost, ou o Custo para a
mercados (como o do modelo de distribuição de con- Aquisição do Cliente. Esse número é a chave para de-
teúdo via streaming do Netflix, por exemplo), o negó- terminar o nível de investimento em força de vendas
cio da assinatura pode ser muito rentável ao longo do e marketing e seu cálculo é bem simples: você deverá
tempo. somar todos os custos de marketing e vendas e dividir
pela quantidade de novos clientes conquistados no pe-
A chave para preservar a saúde financeira ríodo determinado. Mais à frente, no capítulo 5, vamos
no longo prazo é manter os clientes felizes, entrar nos detalhes dessa métrica.
de modo que continuem pagando — e que
continuem chegando. Assim, com o tempo, Agora, quanto à segunda pergunta, sobre descobrir se
aquelas entradas modestas vão se soman- os investimentos fazem sentido e são rentáveis, a res-
do, atingindo valores cada vez maiores. posta será dada pela métrica Life Time Value (LTV).
O indicador é dado pelo valor da receita recorrente
Mas, nesse contexto, surgem duas perguntas espi- fornecida por um cliente menos o CAC. Assim, um
nhosas: como é que se calibra os investimentos em negócio rentável terá um LTV positivo. No último ca-
marketing e vendas? E como o empreendedor sabe se pítulo do ebook também veremos como calcular todos
as ações fazem sentido e são rentáveis? esses valores.
14_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

3. Acerte os pontos antes de Enquanto o CAC ajuda a gerenciar executivo, despesas em marketing,
crescer: para as SaaS, a curva os gastos em marketing e vendas, a e tudo o que for despendido na re-
de aprendizado de vendas é Curva de Aprendizado de Vendas é tenção de um cliente.
ainda mais crítica. uma ferramenta fundamental para
negócios em estágio inicial. 4. Separe os “caçadores” dos
Há um pensamento corrente se- “fazendeiros” de seu time
gundo o qual empresas de softwa- Você poderá investir nessa escala- de vendas e gratifique-os
re costumam falhar: os gestores da de forma rentável quando, por com o crescimento da receita
investem muito em vendas quando exemplo, um representante de ven- recorrente mensal.
o modelo ainda precisa ser refina- das atingir uma meta anual de con-
do. No caso das SaaS, essa ques- tratos que for igual ao dobro de todos Quando uma empresa de SaaS atinge
tão é ainda mais delicada, porque a os custos desse colaborador para a um ponto de inflexão das vendas, é
tentativa de alavancar vendas mui- empresa. fundamental manter os representan-
to rapidamente pode queimar um tes dedicados a novos clientes — os
capital que poderia ser investido Nesse caso, não se trata apenas de “caçadores” ali de cima — ocupados,
no desenvolvimento do produto. É salário, bônus e benefícios do repre- enquanto um time de “fazendeiros”
preciso atentar à Curva de Apren- sentante, mas também de alocações cuida dos — ou cultiva — clientes já
dizado de Vendas. para suporte de engenharia, suporte estabelecidos.
15_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

Ambos são criticamente importantes para Para os representantes de vendas, você deve
a saúde e o crescimento do negócio. Por prever sempre o compartilhamento no au-
isso, você deve buscar experts para cada mento da receita recorrente, com uma es-
um desses grupos assim que for financei- trutura standard (ex.: um acordo anual, com
ramente viável — primeiro, vá atrás dos pagamentos trimestrais), além de incentivos
“caçadores”, para montar a base. Depois, para um fluxo de caixa mais favorável.
busque os “fazendeiros”, que devem ser
focados em serviço ao cliente, renovações Mais adiante veremos de que forma esses
Se você quiser e up-sells. benefícios podem funcionar.
mais dicas sobre
essa divisão, o Como qualquer VP de vendas pode afirmar, 5. SaaS é um novo ecossistema
artigo “Vendas: ter um bom plano de compensação para o no qual canais tradicionais
dividir o time pode time de vendas é indispensável. Por isso, de Tecnologia da Informação
ser a base para você deve estruturar sua gestão de vendas não funcionam. Foque o
conquistar”pode de forma a alinhá-las com as métricas-cha- desenvolvimento do seu negócio em
ajudar. ve do seu negócio: receita recorrente men- canais de serviço próprios.
/ sal, o churn e o fluxo de caixa.
16_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

Estabelecer canais de relacionamento constitui um gran- Você vende um produto que, para ser utilizado, requer co-
de desafio para qualquer empresa que esteja começando nexão com a internet e um navegador. Isso significa que
— mesmo quando interesses estão diretamente alinhados. seus potenciais clientes estão online, claro! Muitos estu-
Mas esse desafio se prova ainda mais difícil para a maioria dos mostram que, neste exato momento, seus consumi-
das empresas de SaaS. Isso ocorre devido ao fato de que dores estão realizando as primeiras pesquisas online — e
um SaaS não é tão atraente para canais tradicionais, como isso não pode ser uma surpresa para você.
vendedores independentes de software, por exemplo.
Como um consumidor, dificilmente você consegue ima-
Assim, uma organização de SaaS deve aceitar o fato de ginar a compra de um carro, a aquisição de um imóvel
que vai viver (ou morrer) por sua habilidade de vender ou o planejamento de uma viagem sem uma pesquisa
diretamente e que somente se for bem-sucedida conse- online, certo? O mesmo acontece com os gestores das
guirá construir canais de relacionamento significativos empresas que são seu alvo. A conclusão é óbvia: você
com as novas gerações de parceiros e revendedores. deve ser agressivo no seu marketing digital.

6. Por definição, sua prospecção de vendas deve Nesse assunto, aliás, o mercado de B2C tem muito a
ocorrer de forma online - o marketing digital ensinar ao de B2B, do qual grande parte das empresas
efetivo deve ser uma competência fundamental de SaaS fazem parte. O setor de business-to-consumer
(às vezes, a única) de toda empresa de SaaS. vem explorando o marketing online há muito tempo e
17_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

as companhias mais inovadoras são à globalização do que companhias 8. Mantenha um único CPD
máquinas de gerar leads, alavancar o de software tradicionais; porque não — e tenha apenas uma versão
search engine optimization, explorar podem simplesmente localizar a in- do código em produção. De
o marketing viral e outros aspectos terface do utilizador (UI) em algum verdade. Apenas diga “não”
desse campo — que analisaremos país remoto e enviar um CD para lá. para desdobramentos em um
mais adiante. mesmo local.
Devido à arquitetura diferente e ao
7. Seja “local” — valide seu alto nível de expectativa na indús- Se você quer alavancar a sua infraes-
negócio no seu país. Só depois tria SaaS, empresas têm de encarar trutura tecnológica ao máximo, pelo
de atingir um grande volume questões específicas sobre: acesso maior período possível, invista logo
de receita recorrente mensal de dados e segurança da informação, de início em sistemas de backup e
você deve considerar expandir suporte local ao consumidor, pacote recuperação de desastres, mas man-
para outros países. de integração com outros SaaS re- tenha apenas um Centro de Proces-
gionais, e por aí vai. Assim sendo, e samento de Dados, os CPDs, pelo
Quase todo negócio em crescimen- assumindo que o mercado de SaaS maior tempo possível.
to acaba por mirar a expansão in- no Brasil está começando a engati-
ternacional. Mas empresas de SaaS nhar, vale mais concentrar esforços Esse ponto costuma causar muita
acabam enfrentando mais barreiras no seu datacenter por aqui. polêmica entre os gestores de SaaS,
18_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

mas os fatos não mentem: a maioria das empresas do de uma SaaS estão os dados dos clientes. Por anos, de-
setor podem se virar com um único CPD. Um exemplo partamentos de marketing e desenvolvimento de pro-
disso é a gigante Salesforce, que, com mais de um bi- duto tentaram adivinhar os comportamentos de clien-
lhão de dólares de faturamento, só anunciou planos de tes. Entrevistas, pesquisas e até acompanhamento do
novos CPDs há pouco tempo. uso de produtos por parte dos clientes estavam entre
os esforços, mas era muito difícil realmente entender
CPDs são extremamente caros e respondem por uma como os consumidores usavam os produtos e incorpo-
complexidade organizacional considerável. Muitos dos rar esse feedback a outros lançamentos.
problemas históricos de armazenamento de dados e re-
cuperação de desastres que levaram empresas a mon- Em vez disso, empresas de SaaS deveriam aprender com
tarem um segundo CPD poderiam ter sido resolvidos alguns de seus pares da internet. Google, Apple, Yahoo,
de outra forma, que não essa. LinkedIn, Yelp e Facebook, entre outros, vêm usando
metodologias de interação de modo a tirar vantagens
9. A parte mais importante de Software como da arquitetura de seus aplicativos. Com isso, conse-
Serviço é o “Serviço”, e não o “Software”. guem analisar detalhadamente os comportamentos de
consumo de seus clientes, refinando constantemente
Entre os mais valiosos — e menos valorizados — ativos as ofertas que desenvolvem para eles.
19_GUIA SAAS CAPÍTULO 02 Seu negócio é realmente um saas?

10. Esteja preparado(a) para Por isso, você deve considerar um signi-
atravessar o deserto. SaaS costuma ficativo montante de capital investido no
exigir, no ato da abertura de uma negócio, e entender que a maioria das por Exemplo:
empresa, investimentos vultosos SaaS paradoxalmente consome mais di- De acordo com o documento
em pesquisa e desenvolvimento. E nheiro no curto prazo se começar a cres- da Bessemer Partners, foram
não é raro que os empreendedores cer rápido. necessários 126 milhões de
tenham de custear quatro anos ou dólares para que a empresa
mais de operação antes de receber Agora que mapeamos o território e você norte-americana de computação
retorno. conhece melhor os detalhes de uma SaaS, em nuvem NetSuite realizasse
vamos dar um passo adiante, literalmen- o IPO (Initial Public Offering
É inegável que, no longo prazo, o fluxo de te: vamos conhecer as diferentes fases de — quando uma empresa
caixa de uma empresa de SaaS possa ser uma empresa de Software as a Service, e vende ações ao público pela
maravilhoso. Mas, no curto, a história é os principais desafios relativos a cada uma primeira vez); e 66 milhões
bem outra. O investimento inicial em de- dessas etapas. de dólares para a DemandTec,
senvolvimento é altíssimo e, devido ao desenvolvedora de aplicativos
modelo de receita recorrente que já vimos, para o varejo do mesmo país.
o retorno pode demorar muito a chegar.
03 Fases de
maturidade e
seus principais
desafios
21_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

/
Da ideia inicial De forma geral, podemos dividir as “fases de Nível 1
do serviço até crescimento” das SaaS da seguinte maneira Caos administrado
o momento de (e de forma um tanto técnica):
implementação e de Nesta etapa, cada cliente utiliza a mesma versão
desenvolvimento, Nível 0 do software e qualquer customização é realizada
empresas de Caos por meio de configuração. No entanto, ainda exis-
SaaS passam por tem instâncias diferentes para cada usuário (eles
muitas fases. Neste É quando o software de uma empresa SaaS é alte- têm seus próprios websites, seus próprios servi-
capítulo, vamos rado a todo momento. Ou, pelo menos, toda vez dores etc)
entender melhor que um novo usuário é adicionado a ele, já que uma
cada uma delas e nova instância deve ser acrescentada à solução. Nível 2
como cada uma traz Se o cliente precisa de algo específico, você altera Multi-Tenant, ou multi-inquilino
desafios diferentes. essa instância. Ou seja, nesta etapa, cada consu-
midor está usando essencialmente a sua própria Antes de mais nada, uma definição do conceito
versão da solução oferecida. de “tenant” (“inquilino” em inglês): ele diz respei-
to à infraestrutura alocada em um servidor e que
é destinada a suprir a demanda de cada cliente
22_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

de um software. Assim, uma arquite- fato de que não é preciso escrever có- tante, porque não é mais a arquitetu-
tura “multi-inquilinos” é essencial para digos de customização para cada clien- ra que vai decidir quantos tenants, ou
um ambiente em nuvem, pois permite te — todos utilizam a mesma versão. locatários, a empresa de SaaS poderá
que múltiplos inquilinos (empresas e Mas ainda há um grande desafio: as ter; mas, sim, a economia.
clientes) compartilhem os mesmos re- despesas. A partir daqui, para crescer,
cursos físicos como um aplicativo, mas a empresa deverá aumentar sua infra- Nível 4
permanecendo logicamente isolados. estrutura tecnológica — e isso é bas- Utopia
tante dispendioso.
Então, nesta fase do negócio, uma em- É como o nível anterior, com a diferen-
presa SaaS tem todos os clientes utili- Nível 3 ça de que empresas nessa etapa des-
zando uma mesma versão da solução Multi-Tenant, expansão física cobriram uma forma eficiente de rodar
— e todos na mesma “instância”. A boa diferentes versões do software em di-
notícia é que organizações nessa fase É a fase em que uma empresa de sof- ferentes instâncias. Elas não fizeram
estão recebendo os benefícios da arqui- tware torna-se multi-inquilina e conse- isso porque estão escrevendo códigos
tetura multi-inquilino, como o compar- gue escalar fisicamente essa estrutura customizados para cada usuário, mas
tilhamento de recursos entre usuários. (acrescentar novos “edifícios” a essa porque querem escrever códigos dife-
arquitetura, para abrigar novos servi- rentes para clientes diferentes — para
Um dos grandes pontos positivos é o dores). É um momento muito impor- experimentar.
23_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

Um exemplo disso é ter uma instância “early Fase 1: entendimento do modelo


2.1
Produtos
adopter”, em que usuários que queiram utilizar
as últimas e principais inovações do software
de negócios de assinatura
Canais
possam fazê-lo. É útil para eles, é útil para todo
mundo. “SaaS é um modelo de assinatura”, resume o Clientes
(lançar o produto no
especialista. “A mentalidade de um empreen- mercado)
Para contar um pouco mais sobre os estágios de dedor costuma ser prioritariamente forjada por
maturidade de uma SaaS e abordar seus desafios modelos de negócios de produtos; mas, no caso
na prática, contamos com outro especialista: Da- da SaaS, é preciso mudar a mentalidade e com-
niel Hoe, Diretor de Marketing para a América La- preender os aspectos fundamentais de mode- Clientes
tina do Salesforce. los de assinatura”. Como exemplos, Daniel Hoe
cita os seguintes: Canais
Para Hoe e o Salesforce, são também quatro
estágios fundamentais no desenvolvimento de produtos
• É preciso se desligar da lógica “Produtos - (encontrar os clientes
um negócios de SaaS: Canais - Clientes (lançar o produto no mer- nos canais em que
eles estão para ofere-
*É importante frisar que as fases mencionadas não
cado)” para assumir a lógica “Cliente - Ca- cer uma experiência
incluem a etapa de desenvolvimento de produto. nais - Produtos (encontrar os clientes nos de serviço)
24_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

canais em que eles estão para 2.2Fase 2: construção da zes mais no futuro em função das
oferecer uma experiência de oportunidades de novas vendas
serviço)”.
engrenagem de marketing recorrentes. “Aqui, os empreen-
e vendas dedores devem focar em estudar
• Dominar a “contabilidade” de o seu funil de vendas e construir
assinatura, estruturada em Como vimos, um dos temperos se- uma máquina que possibilite re-
“Receita Recorrente Anual” cretos do modelo de assinatura é ceitas previsíveis”, conta ele.
(também conhecida no mer- a receita recorrente, que possibi-
cado como ARR, annual recur- lita o crescimento exponencial da Fase 3: Customer
2.3
ring revenue), Churn, Custos empresa. Para isso, é fundamental
Recorrentes e NPS (net pro- que se crie uma engrenagem de
Success
moter score). marketing e vendas que possibili-
te um fluxo previsível de receitas. “Quando conversarmos com star-
O assunto será abordado com mais tups e empreendedores, é comum
profundidade no capítulo seguinte, De acordo com Hoe, uma métri- que eles sejam obcecados pelo
sobre precificação e entendimento ca comum no mercado é avaliar desenvolvimento do produto. Nós
das complexidades de um cliente. que cada dólar que uma empresa entendemos isso. O problema é
de assinatura venda vale seis ve- que a empresa precisa de clientes.
25_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

Mais adiante, em uma fase mais madura, Por exemplo, certifique-se de que eles Neste artigo da For
em que os clientes já tenham sido conquis- continuam recebendo os benefícios pelos Enterpreneurs, você
tados, a empresa precisará encantá-los, quais escolheram sua empresa lá atrás. encontra outros ele-
oferecendo uma experiência excepcional Para algumas startups, isso significará en- mentos que contribuem
que possibilite baixas taxas de churn”. contrar uma forma muito simples de ex- para a felicidade de
seus clientes, como:
pressar a oferta de valor de seus produtos.
Os empreendedores devem criar áreas de • O retorno evidente de tem-
po e dinheiro investido no
“Customer Success — Sucesso do Clien- 2.4Fase 4: Cultura e Retribuição uso do seu produto;
te”, que monitoram a utilização do serviço
pelos clientes e desenhem ações de estí-
para a comunidade • O produto não frustra com
bugs, perda de dados, per-
mulo à adoção e prevenção de churn. formance lenta, interface
irritante etc;
Para Daniel Hoe, depois da etapa de Cus-
• Todas as features mais im-
Retomando: o churn ocorre quando os tomer Success, vem a de cultura e retribui- portantes estão lá, ou inte-
clientes não estão satisfeitos com o ser- ção para a comunidade. De acordo com o gradas a outros produtos
que seus clientes usam
viço. Assim, o foco de Customer Success gestor da Salesforce, este também é um
• Os clientes são bem aten-
é justamente buscar formas de manter a aspecto que muitos empreendedores dei- didos quando precisam de
felicidade dos assinantes que já estão em xam em segundo plano, o que acaba cons- suporte.
uma base. tituindo um importante desafio.
26_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

“É preciso lembrar que uma assinatura é um ser- Hoe, o maior deles talvez seja a precificação.
viço. Portanto, o cliente está interessado na ex-
periência de uso desse serviço e, além disso, na De acordo com ele, a precificação está direta-
história por trás. Quem é esta empresa? Quais os mente relacionada ao segmento de mercado
valores dela? Crie desde o primeiro dia um arca- que é alvo da empresa de SaaS. E para prepa-
bouço de cultura corporativa e de retribuição para rar o território para uma reflexão mais profunda
a comunidade (filantropia). Várias empresas de sobre o assunto — que ocorrerá no próximo ca-
SaaS gostam do Pledge 1%, por exemplo”. pítulo — o gestor do Salesforce propõe algumas
perguntas que devem orientar empreendedores
O que é o nesse momento:
Pledge 1%? 2.6Principais desafios durante
É um movimento o amadurecimento “A empresa está mirando um mercado já exis-
de filantropia tente? Se sim, quais os níveis de preço já pratica-
corporativa. dos? O produto é superior em termos de funcio-
Conheça-o Como vimos, empresas de SaaS apresentam mui- nalidades? Quais os ‘versionamentos’ possíveis
clicando aqui. tas fases de desenvolvimento, que vão desde a do seu serviço?”
/ ideia inicial do serviço até a implementação e a
consolidação da oferta. Todas apresentam gran- Procuraremos responder essas perguntas no
des desafios; mas, no entendimento de Daniel capítulo a seguir.
“Pensávamos que a empresa ia quebrar”:

como a EZ descobriu seu


verdadeiro modelo de negócio
Quando se trata dos desafios de ama- O começo “tradicional”
durecimento de uma SaaS, os empre-
endedores da EZ Commerce podem “Nós montamos a EZ Commerce há
falar com propriedade. A empresa, 9, 10 anos. Na época, o SaaS ainda
que hoje oferece soluções para a ven- era uma tremenda novidade. As em-
da digital, foi criada dentro dos “mo- presas estavam aprendendo com a
delos clássicos” de venda de softwa- nuvem. Naquele momento, nem sa-
res e passou por poucas e boas antes bíamos direito o que era um SaaS.
que seus criadores entendessem qual Então, a nossa gestão era bem clás-
era o business. sica, dentro dos padrões tradicionais.
Olhávamos só para o caixa, o balan-
E, para contar essa história, ninguém me- ço, o DRE (Demonstração de Resul-
lhor do que um desses criadores: Henri- tados no Exercício), e por aí vai. Uma
Ez Commerce que Mengue, CEO da EZ Commerce: percepção ‘clássica’, mesmo. Pen-
28_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

sávamos: se está sobrando dinheiro, está mer acquisition cost), LTV (life-time value) sado, e o retorno é a prazo. Quando você
dando certo. E estava. Tivemos sucesso re- e churn da sua empresa?’, e percebemos cresce, o investimento é bem alto, e a base
pentino, a empresa cresceu rapidamente. que não entendíamos nada. Ele conversou de clientes não cresce na mesma propor-
Olhando por essa ótica, tava tudo certo”. com a gente e recomendou algumas leitu- ção. É preciso fôlego financeiro.
ras fundamentais.
Dúvidas e transição Então, quando descobrimos que a falta de

“A segunda fase da EZ começou a ir contra 2 fase: a descoberta das métricas dinheiro não era devido à má administração,
a
fomos atrás de fundo de investimento. De
essa visão clássica, porque começamos “Ali começamos começamos a entender uma visão pessimista, saímos para uma vi-
a questionar a gestão. Alguma coisa não como a nossa engrenagem funcionava são otimista. E aí a empresa passou a ser ad-
estava dando certo, porque o dinheiro co- de verdade. Foi o momento “A-HA!”, e a ministrada por orientação dessas métricas.
meçou a encurtar. Nesse momento, fomos mudança de perspectiva foi total. Até ali,
falar com alguns investidores, e acabamos achávamos que a empresa fosse quebrar;
conversando com o Edson Rigonatti. mas descobrimos que tínhamos métricas
3 a
fase: olhando para o que im-
boas, como LTV, churn e CAC. porta
Entramos nessa conversa achando que “Sabe aquele ditado: ‘quem nunca co-
sabíamos tudo da nossa empresa, mas o Olhando para elas, percebemos que a pres- meu manga, quando come se lambuza’?
Rigonatti fez uma ou duas perguntas, do são no fluxo de caixa era natural. Porque É mais ou menos o que acontece aqui.
tipo ‘Vocês sabem qual é o CAC (custo- SaaS é assim: o investimento à vista e pe- Nós quisemos controlar todas as mé-
29_GUIA SAAS CAPÍTULO 03 fases de maturidade e seus principais desafios

tricas, mas não dava. Existiam uma sé- Sai a noite intensa, entra o O grande aprendizado dessa história toda
rie de questões particulares relativas a foi a necessidade de olharmos a gestão sob
cada indicador, e percebemos que pre-
relacionamento duradouro uma perspectiva diferente. Às vezes você
cisávamos de tempo para entendê-los. não está olhando para o ângulo certo. Aí
A fase atual, em que estamos neste mo- “Hoje, a EZ respira esses indicadores. So- você entende porque o clássico está ruim
mento, é aquela pós-euforia. Começamos mos uma engrenagem complexa, que co- — e isso não necessariamente significa
a jogar fora alguns indicadores. A empresa mercializa relacionamento. Sabemos que que sua gestão o seja”.
tem três grandes processos, então nos de- vender é importante, mas é só uma das
dicamos às métricas relativas a esses pro- etapas. Na SaaS, você quer ter um rela-
cessos. Menos indicadores e mais quali- cionamento de longa data, você deve in-
dade. Passamos a tomar ações e ter um vestir em algo duradouro em detrimento
controle mais seguro de cada indicador. de algo intenso e rápido. Tem que enten-
der que os problemas do cliente são seus
Assim, quando desenvolvemos um projeto, problemas. Pensando nisso, começamos
pensamos: como isso pode melhorar nosso a botar muito mais energia em área em
CAC, reduzir o churn? Adotamos uma série que antes não botávamos. Começamos a
de iniciativas para que esses indicadores´- entender que trazer conteúdo e conheci-
chave melhorem. mento, por exemplo, é fundamental.
04 Precificação e
escalabilidade
31_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

Um dos grandes mitos sobre o segmento de Saas “Em SaaS, a precificação


4.2
é, sem dúvida, o de que qualquer empresa pode
ser escalável e ganhar tração com tranquilidade.
está fortemente atrelada ao
O crescimento de uma organização de SaaS de- produto em si”
pende de muitos fatores — até mais do que no
caso de uma empresa de software tradicional. Um
deles, como vimos, é a precificação dos produtos. Comecemos com esta afirmação do autor e espe-
cialista em Costumer Success norte-americano
Encontrar o preço exato para um SaaS constitui Lincoln Murphy. De acordo com ele, as estraté-
mesmo um tremendo desafio. É preciso lembrar gias de precificação em SaaS são diferentes das
que trata-se de propostas de valores intangíveis, de outros softwares e de itens não tecnológicos,
ou seja, fica ainda mais difícil encontrar um va- em que os preços costumam ser desvinculados
lor correto. E é necessário lembrar, também, que dos produtos.
a precificação determina, entre outros quesitos, a
posição de mercado de um produto ou de um ser- Mas o que significa esse raciocínio na prática? Que,
viço. É a estratégia de preço que vai situá-lo em nas empresas de SaaS, o problema de precifica-
relação à concorrência. ção tem menos a ver com o preço (os números, de
32_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

fato), do que com praticamente todo o resto: mo- pormos a aprender. E a aprender com os clientes
delo de receita, segmentação de clientes, oferta que estão pagando.
de valor, estratégia de marketing etc.
Pois, quando você está buscando entender sobre
No começo, ninguém sabe de
4.3 como cobrar seus usuários, as informações mais
relevantes vêm desses próprios usuários. E isso
(quase) nada implica compreender o cliente; compreender sua
complexidade, os resultados desejados por ele, e o
Isso é fato. Na fase de startup de uma empresa de valor que ele atribui à obtenção desses resultados.
SaaS, é normal que os gestores não façam a me-
nor ideia de muitas coisas — encontrar o preço
certo para o produto entre elas. Até porque tudo
vai mudar, sempre.

Então, é um equívoco assumir que será possível de-


finir uma estratégia de precificação que, seis me-
ses depois, continuará relevante. A principal lição,
de acordo com Lincoln Murphy, é assumir que, no
começo, não sabemos quase nada — e nos dis-
Direct One:

quebrando paradigmas para


ir de startup a scale-up
A Direct One foi criada em 2012. An- software, 100% nova e voltada a tec-
tes disso, o empreendedor Fernando nologias de nuvem. E isso fez com
Wosniak Steler era executivo da Al- que pudéssemos escalar muito rapi-
phaGraphics, onde tocava a parte de damente, pois não tínhamos mais o
comunicações via multicanal. A em- foco em prestação de serviços como
presa surgiu de uma spin-off da AG, um dos negócios da empresa. E pas-
que se chamava AG Direct. Na prática, samos a vender a subscrição de nos-
era uma solução multicanal para sis- sa plataforma”.
temas de comunicação com o clien-
te, financiada por quatro franqueados
Escalaram de fato. De startup, a Di-
que apostaram na ideia e pelo próprio
rect One foi a scale-up, que é a em-
Fernando. Ele conta essa história:
presa que mais geram empregos e
riqueza para o país, crescendo ao me-
Fernando Steler, Empreendedor “Em 2012, criamos uma empresa de nos 20% ao ano. Como? Propondo a
Endeavor da Direct One
34_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

substituição de um velho modelo de A plataforma na nuvem integra, en- gem um outro nível de serviço, seguran-
relacionamento com os clientes. tão, três categorias de software: Ges- ça e atendimento.
tão de Comunicação com o Cliente, Quanto a dicas para que uma empresa
Imagine uma grande empresa que im- Automação de Marketing e Análise de SaaS consiga crescer e aumentar a
prima e envie pelo correio, todo mês, de módulos de Big Data. Como SaaS, qualidade de uma oferta sem perder
quatro documentos diferentes para a Direct One gera, envia, e coorde- velocidade, Steler afirma que:
seus clientes: contas, reembolsos, ex- na materiais personalizados para mi-
tratos e relatórios. Eles eram todos em lhões de clientes, em cada etapa do “Depende bastante da dificuldade de
preto e branco, com um design que relacionamento. implantação do SaaS. Por exemplo, im-
não representava uma estratégia de plantar um ERP (Enterprise Resource
marketing unificada. Quanto à precificação, o maior desa- Planning, um sistema de informação
fio da Direct One, de acordo com Ste- que integra todos os dados e processos
O que o produto da Direct One fez por ler, são as grandes corporações: de uma organização em uma única pla-
essa empresa foi combinar tudo em taforma) não é simples, pois mexe com
um documento só, organizado e visu- “Temos um desafio de precificação SaaS várias áreas da empresa. O desafio é
almente atraente. Incorporada a isso, voltado para grandes empresas. Existe automatizar ao máximo o processo de
há uma análise de dados e a criação muita experiência no mercado para pre- ‘on boarding’ das contas, bem como,
de pontos de contato personalizados cificar SaaS para empresas pequenas e tornar o acesso ao conhecimento algo
pelos canais mais efetivos para clien- médias. Porém, não existe conhecimen- extremamente simples, fazendo treina-
te, seja carta, e-mail, voz ou SMS. to para grandes corporações, que exi- mentos e materiais didáticos”.
35_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

Conhecer o mercado,
4.3 A respeito de conhecimento de mercado, o pensa-
mento de João Zaratine, diretor de Vendas do Con-
entender o cliente ideal: A regra taAzul, SaaS de gestão financeira online, acompa-
de ouro para a precificação nha o de Murphy. De acordo com ele, é preciso olhar
para a precificação “de alguns lados diferentes”.
Em seu artigo, Lincoln Murphy reflete sobre o O aspecto de mercado deve ser necessariamente
“cliente ideal”. De acordo com ele, ter uma defi- considerado, até para que se entenda em qual ca-
nição clara do cliente ideal é uma das principais tegoria a precificação estabelecerá o produto. “Por
iniciativas para um negócio de SaaS. exemplo: se tenho um produto premium, ele não
Para conhecer pode custar três vezes mais caro do que outro que
mais sobre o O perfil do cliente ideal deve ditar praticamente faz algo parecido”, afirma Zaratine.
conceito de tudo em uma operação — das features e funciona-
“cliente ideal”, lidades de um produto às palavras utilizadas para No entanto, o especialista considera que a tare-
leia este artigo de vendê-lo, bem como às emoções que você preten- fa mais desafiadora, neste primeiro momento, é
Lincoln Murphy. de associar à oferta nos esforços de marketing. No identificar qual o valor que o produto entrega para
/ item 4.4 deste capítulo, veremos como conhecer a o cliente — e precificar de acordo com esse valor.
fundo as necessidades de seu cliente pode alavan- “Quanto menos valor eu entrego, menor o preço;
car oportunidades extraordinárias. quanto mais valor, mais posso cobrar”.
36_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

A lógica é muito simples; mas a prática dela, nem tanto. De sal de R$ 10 mil. Agora, suponhemos que, ao longo do ano,
acordo com diretor de vendas da ContaAzul, essa estratégia o churn tenha sido de dez clientes, implicando uma perda
está relacionada ao churn negativo. Churn, você se lembra, de R$ 1000 mensais (10 x R$ 100 que a empresa deixou de
é a taxa de desistência entre os assinantes. Zaratine explica receber).
o conceito e sua importância:
Mas, também imaginemos que a solução tenha sido apri-
“O churn negativo é o Santo Graal de qualquer morada, e que os 90 restantes passaram a pagar R$ 200 por
SaaS. Significa que a receita que foi aumentada ela; ou seja, no fim do ano, mesmo com o churn, a receita
dos clientes que permaneceram em uma base su- recorrente subiu para R$ 18 mil. O churn negativo, aí, seria
pera a receita perdida resultante daqueles que de R$ 7 mil (R$ 8 mil de ganho menos R$ 1 mil perdidos).
saíram.”
O pulo do gato: entregar mais valor
4.4
Como exemplo, vejamos o caso de uma empresa de SaaS
que trabalhe no modelo de receita recorrente mensal (lem-
— e cobrar mais por isso
bra do CMRR lá de cima?). Vamos supor que, no começo
de um ano, a base de assinatura fosse composta por 100 Obter o churn negativo, segundo Zaratine, é talvez o maior
clientes, que pagavam R$ 100 mensais pela solução ofere- desafio de precificação que uma SaaS pode enfrentar, pois
cida. Ou seja, a empresa tinha uma receita recorrente men- o ganho está atrelado à entrega de valor.
37_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

“É preciso precificar de uma Per-seat VS pela


4.5 Ou seja, para a SaaS, quanto mais ven-
forma que, conforme o dedores dentro da empresa utilizarem
cliente vai evoluindo no uso
entrega de valor o software, maior o valor entregue — e
de um produto e vai recebendo a precificação segue esse pensamen-
cada vez mais valor, possa-se Para ilustrar melhor todo esse proces- to. É a precificação per-seat, ou “por
capturar mais dinheiro dele.” so, João Zaratine menciona modelos cadeira”.
possíveis de precificação para SaaS.
Tem a ver com upsell, afirma o dire- Cita, como exemplo, a estratégia do Mas, para outras empresas de SaaS,
tor da ContaAzul. Já mencionamos Salesforce, SaaS de CRM e gestão, esse modelo não funciona. É preciso
ele aqui, mas vale relembrar: o upsell que segue o princípio de land-and-ex- cobrar pelo valor que é entregue no
consiste em oferecer produtos/servi- pand — ou “aterrissar e expandir”: “A software, em vez de se cobrar por ca-
ços úteis ao consumidor logo após o ideia é entrar na empresa e depois ex- deira. É preciso entender de que forma
pagamento de um produto ou serviço, pandir, entregar mais valor e capturar o produto pode solucionar uma com-
geralmente complementares. No en- mais dinheiro”. plexidade, aprimorando esse produto
tanto, é preciso precisa oferecer algo de modo que ele entregue mais valor
que realmente entregue valor a esse De acordo com ele, as empresas que — e capturando mais dinheiro por isso.
consumidor — entendendo-se a com- utilizam o Salesforce pagam um valor
plexidade dele. específico pela solução por vendedor.
38_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

Zaratine dá o exemplo Precificar de


4.6 4.7 Testes para

da próprio ContaAzul: acordo com o perfil aumentar o tíquete


“Trata-se de um sistema de ges-
do cliente: um desafio médio
tão financeira para micro e peque- a ser superado
nas empresas. Há vários tipos de
empresas que usam ContaAzul: No entanto, isso é quase “utópico”,
agências de publicidade, empre- Essa reflexão leva a outro dos gran- é algo a ser atingido após muito de-
sas de consultoria, distribuidora des desafios de precificação de SaaS senvolvimento. A propósito, Zara-
de medicamentos, e por aí vai. São — mas que deveria estar no radar tine dá um caminho possível: “Tes-
vários segmentos diferentes, com de gestores, de acordo com João tar o preço. O time de vendas deve
casos de usos diferentes. Partindo Zaratine: precificar de acordo com testar preço da mesma forma que
do pressuposto que o ContaAzul o segmento de um cliente. Para ele, o time de desenvolvimento deve
pode entregar valores diferentes esse deve ser o objetivo de qualquer testar o produto. Nós, por exemplo,
para perfis diferentes, a precifica- empresa de Software como Serviço testamos o aumento de preço, e fo-
ção também deve seguir esse ra- que se proponha a precificar pela mos testando quais segmentos, ou
ciocínio”. entrega de valor. quais regiões responderam melhor
ou pior a isso”.
39_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

Outro teste a que Zaratine se refere nes- Para concluir, o Diretor do ContaAzul solução ajudou um cliente a fechar um
se momento de precificação é a inser- é enfático: “No começo de um negó- negócio de R$ 500 mil. E quando per-
ção de add-ons ao produto. Ou seja, na cio de SaaS, na minha opinião, o em- guntado sobre quanto ele está cobran-
hora em que o cliente está comprando preendedor provavelmente vai botar do por ela, soltou: “R$ 200 por mês”.
o ContaAzul, pode incluir suporte pre- um preço qualquer (muitas vezes com Ou seja, é evidente que há um descom-
mium, ou qualquer outro adicional. base no que o mercado pratica); mas é passo entre o valor entregue e o valor
fundamental que ele descubra, apren- cobrado. E encontrar esse compasso,
“Tudo isso tem a ver com a da muita coisa pelo caminho — e que de acordo tanto com Lincoln Murphy
estrutura de preço”, afirma essas descobertas interfiram na preci- quanto com João Zaratine, é o ponto-
Zaratine, “e são formas de ficação”. chave da precificação em SaaS.
aumentar o tíquete médio”.
A principal dica do especialista, Ele encerra com um exemplo que ou-
para esse momento, é a de que viu certa vez, de uma empresa de SaaS
se tenha um time para testar e que ajuda organizações a gerarem lea-
pensar nisso o tempo todo, se ds de vendas. De acordo com Zaratine,
for preciso. um gestor da empresa afirmou que a
case

Resultados Digitais
e as métricas que
realmente importam
A Resultados Digitais foi criada No início: “tô nem aí”
para ajudar empresas de todos
os portes a elaborar e colher os De acordo com ele, foram qua-
frutos de uma boa estratégia de tro os estágios pelos quais a RD
Marketing Digital. Hoje é um passou. No primeiro, até mea-
dos maiores cases de software dos de 2011, não havia interesse
as a service no Brasil, mas em- pelas métricas, já que a empre-
presa passou por diferentes es- sa estava na fase “pré-product/
tágios de desenvolvimento, em market fit” (ou seja, uma fase
que a relação com as métricas de desenvolvimento). Naquele
foi mudando significativamen- momento, conta Eric, a preocu-
te.O empreendedor Eric Santos pação era “encontrar o modelo
Henrique Mengue,
compartilha os grandes apren- que tivesse demanda, com po-
CEO da EZ Commerce dizados desse processo. tencial de ser escalável”, encon-
41_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

trar um produto pelo qual o mercado pagasse início de 2013, nós queríamos saber tudo indicadores: “são eles que revelam se você
e que fechasse a conta. Assim, nem olháva- sobre o funil de vendas. Entender sobre le- tem um negócio de SaaS saudável ou não.
mos para as métricas”. ads, sobre as oportunidades que surgiam, Independentemente da taxa de crescimen-
o tíquete médio, a expectativa de retenção to, se vc não tiver certos índices dessas mé-
2 fase: cuidando do funil de
a do cliente e por aí vai.” tricas, o negócio não vai bem”.
vendas
3 fase: medindo a saúde da
a E dá o exemplo sobre como verificar essa saú-
A partir de 2012, com o modelo de negó- de: “é a receitinha de bolo das SaaS, a relação
cios definido, Eric conta que a RD “come-
SaaS com as unit economics de LTV sobre CAC. O resultado precisa ser
çou a esboçar um conjunto de métricas maior que 3 sempre. Se for maior, o negócio é
especialmente relacionadas à máquina de “A partir de 2013”, conta Eric, “com o funil saudável. Caso contrário, em tese, você pode
aquisição e retenção de clientes” — ao fu- ajustado e consolidado, começamos a olhar estar pagando para adquirir os clientes”.
nil de vendas. para as chamadas métricas de Unit Econo-
mics de SaaS”. Em 2013, assim, a RD começou a acompa-
“Esse conjunto tinha um viés uito mais nhar essas métricas. Mas, diante do núme-
relacionado a quantos clientes estávamos Unit economics são as métricas de SaaS ro da base, Eric conta que elas podem ter
adquirindo e à taxa de conversão do que que você já conhece: CAC, churn e LTV, por um comportamento meio errático, e da um
métricas como CAC, LTV, churn etc. Até o exemplo. Eric salienta a importância desses conselho importante:
42_GUIA SAAS CAPÍTULO 04 precificação e escalabilidade

O churn, por exemplo, variava bastante. Por fim, um dos melhores indicadores da RD é sas profundas dos cancelamentos, em vez
Mas o que importava era a ordem de gran- o churn, que é muito baixo. E Eric compartilha de simplesmente apagar incêndios:
deza. Então, nesse momento, não se deve as boas práticas que podem levar a isso:
se preocupar muito com o unit economics. “Depois de passar um ano tomando inicia-
Se a coisa está razoavelmente dentro dos “Ter um produto que é responsivo, que per- tivas pontuais para atenuar os cancelamen-
parâmetros, é sinal de que vc pode seguir forma bem, ter um suporte que atenda bem e tos, passamos a prestar mais atenção aos
no caminho”. rápido, investir numa área de costumer suc- leading indicators. Percebemos que o churn
cess dedicada e pró-ativa, prestar atenção é um último sintoma de vários problemas
4 fase: aperfeiçoando as
a ao onboarding e entender o perfil do cliente que podem acontecer. E os leading indica-
que está colocando pra dentro são algumas tors são métricas intermediárias que têm re-
métricas das boas práticas”. lação com a taxa de cancelamento. Ao pres-
tar atenção a eles, pudemos realizar projetos
Uma vez tomada a consciência das métricas,
a RD passou à fase de aperfeiçoá-las. “Em Cuidar dos leading indicators: específicos para atacar essas métricas e es-
perar um efeito no churn final. “.
2015 e 2016, dirigimos um foco obsessivo na o grande aprendizado
melhora dessas métricas de unit economics.
No entanto, ele afirma que a principal lição Projetos que, a julgar pelos baixíssimos índi-
Aumentar LTV e margem, por exemplo”.
em relação ao churn foi a de atacar as cau- ces de churn da RD, vem sendo muito bem
sucedidos.
05 Glossário
de métricas
44_GUIA SAAS CAPÍTULO 05 glossário de métricas

/
Nos capítulos Para isso, montamos um glossário para No modelo de inscrição mensal, a RMR é sim-
anteriores, já ser consultado sempre que você tenha plesmente o preço pago todo mês pelo servi-
mencionamos as uma dúvida a respeito. Vamos lá: ço. Se os clientes estão pagando por mais de
principais métricas um mês (por exemplo, por 12 meses, como em
de Saas, agora vamos RMR - Receita Mensal alguns modelos), você simplesmente divide o
entender mais a fundo montante pago pela assinatura pelo número
Recorrente e ACV - Valor do de meses do período assinado.
cada uma delas,
compreender suas Contrato Anual
particularidades, Todos os meses, em um negócio SaaS,
São as métrica mais importante que um mo- há três elementos que contribuem para
de modo que você
delo de negócios que opera por assinaturas o quanto a RMR vai mudar em relação ao
consiga conduzir
precisa calcular. Retomando: a Receita Men- mês anterior:
seu negócio sempre
sal Recorrente é o cálculo amortizado de
da melhor forma
uma receita de assinaturas que sua empresa O que aconteceu com os novos clientes
possível, orientado
recebe todo mês. E as empresas com con- adicionados no mês:
pelos dados corretos.
tratos majoritariamente anuais têm o ACV
(Valor do Contrato Anual) como principal • RMR adicionado (ou ACV)
métrica.
45_GUIA SAAS CAPÍTULO 05 glossário de métricas

O que aconteceu na base instalada Churn de clientes estão causando isso antes de se preocupar
com outras partes do seu negócio. E mais:
de clientes:
quando calcular o churn, é fundamental
É a taxa que indica o quanto clien-
não misturar assinaturas de periodicidades
• RMR perdido (ou ACV) (a par- tes estão cancelando assinaturas. O diferentes, como, por exemplo, planos
tir de clientes existentes que cálculo é simples: anuais e mensais.
cancelaram sua assinatura. Este
será um número negativo.) Churn = número de clientes que can- Churn negativo
• RMR expandido (ou ACV) (a celaram no período / Número total Como nos explicou João Zaratine,
partir de clientes existentes que de clientes no começo do período do ContaAzul, é a taxa de cancela-
expandiram suas assinaturas) mento de clientes compensada pela
• A soma de todos os três com- Fique de olho: Se o seu churn efetivo receita obtida pela expansão das
põe seu RMR ou ACV. é alto (acima de 2% por mês), há algo contas remanescentes.
errado no seu negócio. A uma taxa mensal
de churn de 2%, você está perdendo por
Fique de olho: você deve excluir O cálculo também é simples:
volta de 22% da sua receita a cada ano.
pagamentos únicos. Além disso, deduza
É um claro indicador de que algo está Churn negativo = churn + contração
qualquer desconto antes do cálculo
errado com o seu negócio. À medida que da RMR - expansão + reativação da
e converta assinaturas em moedas
o negócio fica maior, isso se tornará um
estrangeiras à sua moeda corrente. RMR
enorme entrave ao crescimento. Procure
trabalhar na resolução dos problemas que
46_GUIA SAAS CAPÍTULO 05 glossário de métricas

Customer Lifetime Value Preço médio de venda


(LTV) É a média da Receita Recorrente
Mensal de novos clientes no mo-
É uma estimativa da média total mento em que há a conversão para
de valor atribuído a um cliente, da as- uma conta paga. A métrica é útil
sinatura ao churn. Costuma ser obti- para que se meça a efetividade de
do da seguinte forma: seus esforços comerciais.

LTV = Receita média por cliente x %


margem bruta / churn

Fique de olho: a margem bruta é a


diferença entre receita e o custo dos
bens vendidos. Em SaaS, costuma ser
extremamente alta (maior que 80%, por
exemplo). Receitas não recorrentes estão
excluídas.
47_GUIA SAAS CAPÍTULO 05 glossário de métricas

Taxa de Renovação Custo de Aquisição


do Cliente (ou Taxa do Cliente (CAC)
de Retenção) Uma estimativa de quanto custa para
conquistar um novo cliente. É obtido
A taxa na qual clientes renovam suas assim:
inscrições. É calculada da
seguinte forma: CAC = soma de todas as despesas de
Quer saber mais
vendas e marketing / número de novos
sobre as métricas
Taxa de Renovação = número de clien- clientes adicionados
fundamentais de
tes que renovaram seus contratos / nú- uma SaaS? Então
Fique de olho: calcular o CAC só faz sentido
mero total de clientes disponíveis para a leia este artigo
quando você já tiver atingido uma escala inicial
renovação de negócio. da For Enterpre-
neurs.
Fique de olho: a taxa de renovação pode ser /
uma métrica mais significativa que o churn em
empresas que têm um conjunto de dados limita-
dos para serem analisados.
GUIA SAAS

/
E é isso. De forma geral, estas foram
algumas informações, orientações e
histórias que valem a pena você conhecer
para conduzir melhor a sua empresa.
Esperamos que, com o conteúdo, você
possa olhar para os negócios e dizer, cheio
de confiança: “Estou pronto para evoluir e
superar os desafios da era do SaaS”.
Sobre a
A Endeavor é uma das principais organizações de fomento
ao empreendedorismo no mundo. Atua na mobilização de
organizações públicas e privadas e no compartilhamento de

endeavor
conhecimento prático e de exemplos de empreendedores de
alto impacto para fortalecer a cultura empreendedora do país.
No Brasil desde 2000, já ajudou a gerar mais de R$ 2 bilhões
em receitas anualmente e mais de 20.000 de empregos
diretos através de programas de apoio a empreendedores; e a
capacitar mais de quatro milhões de brasileiros com programas
educacionais presenciais e a distância.

Mais informações e conteúdos para


empreendedores em http://endeavor.org.br/
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) é uma entidade privada que promove a competitividade
e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de
micro e pequeno porte.

Sobre 0
Há mais de 40 anos, atua com foco no fortalecimento do
empreendedorismo e na aceleração do processo de formalização
da economia por meio de parcerias com os setores público

sebrae
e privado, programas de capacitação, acesso ao crédito e à
inovação, estímulo ao associativismo, feiras e rodadas de
negócios.

Para garantir o atendimento aos pequenos negócios, o Sebrae


atua em todo o território nacional. Além da sede nacional, em
Brasília, a instituição conta com pontos de atendimento nas 27
Unidades da Federação, onde são oferecidos cursos, seminários,
consultorias e orientação técnica para pequenos negócios de
todos os setores.

Mais informações: www.sebrae.com.br


Cursos Online: www.ead.sebrae.com.br

Você também pode gostar