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Desenvolvimento e Educação Mediúnica

Alguns anos atrás li um texto, psicografado por Rubens Saraceni, o qual afirmava que o desenvolvimento
mediúnico é o período mais delicado da vida de um médium, que este deveria ser bem recebido por um
grupo preparado para tal e qualquer conflito emocional mal resolvido durante este momento poderia
criar traumas e afastar o novo adepto da religião, de tal forma que poderia inclusive passar a ter
aversão por tudo o que se refira a trabalho mediúnico ou Umbanda em geral.
Quanto mais os anos passam, mais convicto vou me sentindo com relação a esta afirmação; mais e mais
vou verificando o quanto estamos, ainda, despreparados para receber, doutrinar e
desenvolver aqueles que desejam iniciar-se nos mistérios da Umbanda, conhecer melhor seus Guias
Espirituais e ter a oportunidade de trabalhar a mediunidade de incorporação.
Neste campo, é inevitável uma comparação com o espiritismo de Allan Kardec no Brasil, que, há
décadas, por meio de seus líderes, criou os tão conhecidos cursos de mediunidade, nos quais leva-se anos
estudando teoricamente antes de pensar em qualquer prática mediúnica. Enquanto em boa parte dos
terreiros de Umbanda, o novo médium, logo que é convidado ou aceito para desenvolver-se, já é colocado
para concentrar-se, ou girar, com o intuito de incorporar “de cara” seus Guias Espirituais, sem nenhum
preparo emocional ou embasamento teórico.
Para a religião de Umbanda, o ideal seria um meio termo entre estas duas realidades, nem oito nem
oitenta. Somos muitos que, há vários anos, estamos falando da necessidade de criar um ambiente
adequado para o bom desenvolvimento mediúnico, com atenção e disponibilidade de dar o devido amparo
aos novos adeptos que chegam à religião de Umbanda. Cada vez mais
vemos grupos de desenvolvimento se formando nos terreiros de Umbanda, dirigentes e sacerdotes se
preparando melhor para dar o devido amparo e suporte aos seus médiuns.
Ainda assim, nos deparamos com as limitações humanas que, por alguma razão, parecem impossibilitar
muitos templos de Umbanda de criar espaço e ambiente dedicado aos novos médiuns que gostariam de
adentrar na corrente espiritual. Por anos acompanhamos o trabalho de Rubens Saraceni incentivando a
criação de “Escolas de Desenvolvimento Mediúnico Umbandista”, para ajudar a tantos médiuns que
desejam conhecer melhor seus Guias, trabalhar com a espiritualidade e receber o amparo devido para um
desenvolvimento mediúnico tranquilo e o menos traumático possível.
Desenvolver a mediunidade sempre traz à tona conflitos emocionais e existenciais que podem
atravancar o desabrochar do dom mediúnico de incorporação. Participar de um grupo de desenvolvimento
em uma Escola ou Colégio de Umbanda é, antes de mais nada, chegar em um ambiente adequado e
propício para aflorar os dons mediúnicos em geral e a mediunidade de incorporação em especifico.
Antes mesmo que seja incentivada a prática de incorporação, o novo médium precisa receber uma carga
de informações que venham a ambientá-lo. É preciso saber como se comportar neste novo ambiente,
como reagir neste contexto, ter um preparo emocional para lidar com as dificuldades internas e externas
relacionadas a um dom de transcendência em que nos tornamos
meio de ligação entre dois mundos. É preciso, durante o processo, aprender a lidar não apenas com suas
emoções, mas também com as diversas energias que passamos a sentir, como se limpar, se
descarregar, se proteger e identificar o que vem de dentro e o que vem de fora e deve ser encaminhado a
quem de direito.
Não apenas eu, mas muitos de nós, há anos viemos nos empenhando para compreender as necessidades
da religião neste sentido. A espiritualidade sempre nos revela novos métodos e técnicas para o
aperfeiçoamento mediúnico e, em todos os sentidos, vemos que não basta apenas incorporar espíritos,
é necessário uma “educação mediúnica”. Aqueles que desejam trabalhar com Espíritos, com seus Guias e
Mentores necessitam de disciplina além de um ambiente saudável. A religião de Umbanda possui métodos
e regras bem delineadas por seu ritual, doutrina, teologia e liturgia; médiuns e Guias devem seguir o
mesmo direcionamento, cada tenda/centro/terreiro/templo possui também normas internas que devem
ser respeitadas por médiuns e Guias Espirituais.
Ao mesmo tempo em que cada grupo tem seus “fundamentos” particulares, os mesmos não devem
conflitar com os fundamentos maiores e básicos da religião de Umbanda. Para uma vida mediúnica
saudável, é fundamental quebrar certos dogmas, tabus, preconceitos e libertar-se da opressão de
certos paradigmas e conceitos que mais atrapalham e nada ajudam àqueles que querem saúde mediúnica.
O desenvolvimento mediúnico está diretamente relacionado à qualidade de vida. Trabalhar
mediunicamente de forma saudável deve, invariavelmente, tornar o médium uma pessoa melhor, mais
tranquila, ponderada e controlada sob o aspecto racional, emocional e, claro, mediúnico. Somos corpo,
mente, espírito e emoções, muitas emoções, e tudo isso junto e misturado com nossas expectativas
existenciais, crises, angústias e mais um campo aberto às
influências do mundo espiritual. Muitas vezes ficamos à mercê de situações e circunstâncias, sentimos
como se perdêssemos as rédeas de nossas vidas, ficamos desamparados, com o sentimento de solidão
existencial, sem saber que existe, sempre, uma família espiritual que nos ampara e que desenvolver a
mediunidade é, também, abrir um campo de comunicação com esta nossa família maior e eterna.
Há muitos anos, venho recebendo médiuns que desejam desenvolver sua mediunidade e os tenho
preparado em ambiente interno, como em muitos outros terreiros, formando grupos para os cursos de
“Educação e Desenvolvimento Mediúnico”. Em todos os grupos, para evitar conflitos, aceitava apenas
médiuns que não estivessem frequentando nenhum terreiro.
Conversando com meu amigo, mestre e Pai Rubens Saraceni, entendi a importância de receber no
desenvolvimento mediúnico, também, médiuns que já fazem parte de outras casas, pois existem várias
dificuldades que impedem alguns dirigentes de conseguir dedicar-se ou criar o ambiente para este mesmo
desenvolvimento mediúnico. Da mesma forma, veio do astral a ordem
para assim proceder, criando a possibilidade de ajudar muitos terreiros que podem encaminhar ou
recomendá-lo a seus médiuns.
Com este enfoque, podemos observar a importância de bons cursos de desenvolvimento mediúnico, que
venham a ajudar a sanar as necessidades mais urgentes dentro da religião de umbanda e que não
substituem os anos de aprendizado e dedicação que vão fazer ou já fazem parte da vida de todos
que pretendem trabalhar como médiuns de Umbanda.
Por algumas vezes, citei o Mestre Rubens Saraceni neste texto e agora lhe faço ainda um agradecimento,
que não é apenas meu e sim de milhares de médiuns que receberam sua orientação e direcionamento,
por sua incansável dedicação a esta religião, sua vontade inquebrantável de colaborar para que no futuro
a Umbanda seja uma religião melhor preparada e mais respeitada na matéria, assim como é no astral.

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