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O desenvolvimento musical segundo Swanwick

Todos nós, educadores musicais, nos deparamos no


dia-a-dia com o pouco material teórico a respeito de
como se dá o desenvolvimento musical no ser humano,
já que foram poucos os que elaboraram uma teoria a
esse respeito. Keith Swanwick é um educador musical
que se debruçou sobre esse tema, buscando solucionar
questões curriculares nos cursos oficiais de música
ingleses. Seu trabalho não é pioneiro, mas vem
acrescentar às teorias de desenvolvimento 'clássicas',
idéias originais, elaboradas a partir de constatações
fundamentadas em sua prática docente e em sua
pesquisa de campo. Toda a 'Teoria Espiral', criada por
ele, está baseada nas idéias de Piaget, ou seja, de que
o conhecimento se dá por etapas sucessivas e é
construído pelo indivíduo. Sendo assim, tentaremos
traduzir algumas dessas idéias, trazidas a nós através
de seu livro Musical Knowledge: Intuition, Analysis and
Music Education, de 1994.

A pesquisa de Swanwick e a elaboração de sua teoria

Tendo como premissa a convicção de que o aprendizado musical, assim como qualquer
outro ramo do conhecimento, deve obedecer etapas sucessivas, consoantes com o nível de
amadurecimento psicológico do indivíduo, Swanwick fez um mapeamento do progresso
desse conhecimento, estudando um grupo de estudantes na faixa entre os 3 e os 14 anos.
Essas crianças, todas alunas de três escolas em Londres, eram oriundas de diversos
grupos étnicos e culturais (crianças de origens asiáticas, antilhanas, africanas e sul e norte
européias). Durante quatro anos, Swanwick fez gravações de composições feitas por elas,
em um total de 745 composições de um universo de 48 estudantes. É importante frisar que
esse estudo foi feito dentro da ótica das 'oficinas de música', priorizando uma visão
chamada por seus defensores de linha 'criativa' do ensino musical. Dentro dessa ótica,
defendida por muitos educadores contemporâneos, tais como John Paynter e Murray
Schafer, o professor deve buscar desenvolver a criatividade e a improvisação, utilizando
para isso todo e qualquer material sonoro disponível.

A partir de seu estudo, Swanwick elaborou sua 'Teoria Espiral de Desenvolvimento


Musical'. Para representá-la, ele elaborou um gráfico em forma de espiral. Através dele,
Swanwick mostrou os níveis de desenvolvimento, relacionados com a idade das crianças
'compositoras' estudadas. O primeiro desses territórios, o material, ele dividiu em dois
níveis: o sensorial e o manipulativo e diz respeito às crianças de 0 a 4 anos. O segundo
desses territórios é o da expressão, que compreende crianças na faixa dos 5 aos 9 anos
mais ou menos. O terceiro, o da forma, ele dividiu em: especulativo e idiomático, e diz
respeito às crianças de 10 a 15 anos. O quarto e último desses territórios, o do valor, ele
dividiu em: simbólico e sistemático, e diz respeito às crianças de 15 anos ou mais.

A partir dessa teoria, Swanwick propôs um processo de aprendizagem baseado em um


modelo que ele batizou de 'C.L.A.S.P.', que em português foi traduzido para modelo
'T.E.C.L.A.'. O modelo consiste em trabalhar os conteúdos de maneira vinculada, para
justamente favorecer o desenvolvimento cognitivo de forma integral e não fragmentada.
Sua intenção é que as fases não estejam dissociadas, mas sim, mantenham um vai-e-vem
contínuo entre elas.

Dessa forma, para uma boa educação musical o professor deve, no entender de Swanwick,
estar atento para não priorizar e nem desprezar qualquer dos elementos abaixo, resumidos
na sigla 'T.E.C.L.A.':
T- Técnica (manipulação do instrumento, notação simbólica, audição)
E- Execução(tocar, cantar)
C- Composição (criação, improvisação)
L- Literatura (história da música)
A- Apreciação (reconhecimento de estilos/ forma/ tonalidade/ graus)

Apesar de trabalhar em uma linha conhecida como 'oficinas de música', que prioriza a livre
experimentação de materiais sonoros, Swanwick compreende a importância do universo
sociocultural e afetivo do educando, deixando claro que a criança deve ser estimulada com
músicas que estejam no seu dia-a-dia e dentro dos padrões musicais de sua cultura. Isso
não significa dizer que não devemos ampliar esse repertório, mostrando outros universos
sonoros.

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